Aquela outra Vida: você sabe qual é e se está pronto para vivê-la?
Há uma vida em que o ser humano pode viver que ultrapassa os limites das possibilidades visíveis. Como Jacob Boehme a nomeou, “A vida superagradável aos seus sentidos”, que é a vida superior e isenta de sentidos. Os sentidos nos amarram e nos afastam de uma vida plena de grande felicidade e prazer e de conhecimentos tangíveis de um futuro sem limites. Alcançamos uma leve apreciação dessa vida em momentos quando nossas Mentes estão desocupadas com as demandas dos sentidos. No mundo selvagem da natureza, na vasta extensão do oceano, entre colinas e montanhas. Então, se começa a desenvolver a posse de uma paz maravilhosa que acalma a agitação da Mente. Os caprichos e as necessidades da existência nos impedem de desfrutar sempre dessa bela paz, no entanto, uma vez tomado consciência de sua mensagem e das coisas da vida, que são consideradas tão vitais para a felicidade real, assumem um aspecto diferente. Acabam se tornando várias conquistas em nosso caminho na vida, pelo qual medimos nosso progresso.
Percebemos que os negócios de cunho material não têm importância em si mesmos, porém, são valiosos como lições de onde se deve extrair a verdade. Se falhamos em um empreendimento, não é um momento de entrar em depressão. Há uma lição a ser aprendida pela experiência. Por causa de nossas próprias falhas, tornamo-nos solidários com outras pessoas, em particular, que falharam em determinada direção. Quem aprecia tão bem as esperanças humanas e pode prontamente dar ao coração cansado essa feliz palavra de conforto, como alguém que falhou com frequência e mesmo assim manteve o senso de magnitude entre o fracasso e o sentido interno da vida? Os tropeços nos ensinam muitas coisas. Eles nos tornam infinitamente mais compassivos. Todavia, acima de tudo, o conhecimento de que todas provas em nossas vidas têm um grande valor intrínseco, que nunca pode ser diminuído, nos torna determinados a obter o maior benefício de todas as ocorrências e vicissitudes materiais.
Aquelas pessoas que conhecem o grande trabalho que se desenvolve depois de termos passado por essa existência terrena (e são milhões de renascimentos) sabem que a vida após a morte do Corpo Denso é cheia de energia palpitante, de planejamento, correção das falhas, preparação e repleta de oportunidades para estudos. O verdadeiro significado da vida com suas tristezas, seus sucessos, fracassos, medos, suas esperanças, alegrias e assim sucessivamente serão mostrados de maneira abrangente. A obtenção do conhecimento sobre nós mesmos e sobre os problemas externos nos leva, finalmente, ao autocontrole e à capacidade criativa, fazendo disso uma lição externa.
O vasto Esquema de Evolução em que todos nós estamos intimamente inseridos está, gradualmente, sendo revelado ante a Mente do ser humano. Naturalmente, essa manifestação transcendental de poderes inteligentes só pode ser superficialmente concebida.
Alguns Seres elevados estão, presentemente, fornecendo à humanidade um esboço desse Esquema nos trabalhos da Fraternidade Rosacruz. Hoje, a vida superagradável aos seus sentidos é vivida por milhares de Estudantes Rosacruzes que perceberam as verdades eternas da vida, embora muitas vezes ocultas. Quão frequentemente uma verdade é percebida pela intuição!
Viver a vida adequada nos habilita a provar que tudo o que nos é ensinado ajuda a acelerar nossa evolução sob a orientação de Deus.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross – jul/1916, traduzido e atualizado pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
Dominando o Temor
O temor e a ansiedade são os maiores inimigos da felicidade humana. São a ferrugem moral e mental da personalidade. São os quinta-colunas na sabotagem de nossos melhores esforços. Debilitam a coragem e a iniciativa. São os cupins do caráter humano, pois corroem o próprio âmago da felicidade, ao mesmo tempo que destroem as possibilidades de uma vida exuberante.
Hoje, talvez mais que nunca, o coração dos seres humanos está cheio de temor. Muitas são as tempestades a soprar furiosamente a fim de desintegrar o caráter. Todos têm experimentado os efeitos desses terríveis ventos. Cristo, por Sua divina presciência, falou a respeito destes dias. Eis Suas palavras: “Homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo. Porquanto as virtudes do céu serão abaladas.” (Lc 21:26).
O ser humano, sem Deus, não tem sossego. Nunca encontramos descanso enquanto não achamos segurança em nosso Criador. Em nós não nos é possível encontrar calma, mas n’Ele a podemos achar. As alegrias do mundo são transitórias, fugazes; a paz de Cristo, porém, é duradoura, perpétua. Dentre as promessas das Escrituras, de nenhuma necessitamos mais, talvez, hoje em dia, que das palavras de Cristo Jesus: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração nem se atemorize.” (Jo 14:27).
Pesadas nuvens de incerteza pairam baixas e ameaçadoras. Os seres humanos se acham perplexos; falta-lhes estabilidade interior. Defrontados por esta situação, que melhor lhe poderia convir do que as graciosas palavras: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou?”
A paz de Deus sobrepuja o entendimento, pois o intelecto humano não pode compreender essa grande paz que Deus dá aos que Lhe entregam plenamente o coração.
Que é o temor? É o pessimismo e o descontentamento. Produz acabrunhamento, ódio, aflição nervosismo, melancolia, zanga e vacilação. O temor e a ansiedade envolvem aquelas destrutivas forças que extinguem a esperança e a confiança.
A despeito de o mundo viver de temor, e os nervos dos seres humanos se acharem retesados, temos, uma mensagem de ilimitada esperança, uma mensagem de alegria e felicidade, uma promessa de completa vitória sobre os temores que assediam a raça humana. No mesmo do Evangelho Segundo São Lucas que fala dos indivíduos desmaiando de terror, encontramos um quadro dos que estão fortes em Deus: “Quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima, e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima” (Lc 21:28). Aí está um grupo que não se acha cabisbaixo. Homens e mulheres que triunfam da perspectiva que os rodeia mediante o olhar para cima.
Na vida do verdadeiro cristão o poder do temor e da ansiedade deve ser completamente neutralizado. Viver no mundo e participar do mundo são duas coisas diversas. “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo. Eu venci o mundo” (Jo 16:33). Não precisamos ser participantes do temor, da perturbação, da melancolia e do pessimismo que esgotam as forças vitais. O temor não deve dominar o cristão. Cristo é o vencedor de todos os poderes das trevas. Recebendo Cristo, tornamo-nos também vitoriosos.
Hoje, como nunca antes, necessita o mundo de otimismo. Como Cristãos, podemos ser a força que atrai os seres humanos a renovada confiança em Deus e em seus semelhantes. Cabe-nos o privilégio de demonstrar o que Deus pode fazer mediante pessoas a Ele plenamente entregue: em dias trágicos assim como os que ora atravessamos. Quando os tempos vão pelo pior, devem os cristãos ir pelo melhor. O Cristão deve sentir-se cheio de segurança, de coragem, de esperança. Deve libertar-se da prisão das circunstâncias tomar-se livre mediante a verdade de Deus: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8:32). Libertará de quê? Dos elementos negativos que destroem as qualidades positivas da vida. Isto quer dizer libertar do temor, da ansiedade, do pessimismo, da perturbação interior. Sim, a verdade despedaçará as cadeias, permitindo-nos viver abundantemente em Cristo-Jesus. “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.” (Jo 10:10).
Que temem os seres humanos? Enumeremos alguns dos espectros que os perseguem.
Um dos inquietantes temores da humanidade é o temor do fracasso. Isto enfraquece de tal modo uma pessoa que ela se toma ineficiente em seu trabalho. Sois acaso acossado pelo temor do fracasso?
Cristo Jesus pouco se preocupava com o êxito ou o fracasso em termos de valor material. Se Cristo Jesus vivesse em nossos dias, seria considerado, pelas normas correntes, um verdadeiro fracasso. Sua vida é um registro de derrota aos olhos daqueles com quem vivia. Ele não foi reconhecido pelos intelectuais do Seu tempo. O escol da sociedade não O contou em seu número. Nas comissões dos financistas, não teve Ele assento. Não possuía domínio real nem tinha outros bens. Aos olhos dos indivíduos carnais, Cristo era um fracasso digno de compaixão. Foi rejeitado, como traidor, por Sua própria nação. Foi crucificado pelos romanos, e morreu da ignominiosa morte de cruz.
O tempo, entretanto, vindicou o Cristo. Sua vida ergue-se triunfante. Seu êxito baseava-se em valores espirituais. Da mesma maneira podemos ser um completo fracasso aos olhos do mundo, e ser, contudo, um êxito glorioso diante de Deus. Uma coisa unicamente requer Deus de nós – e esta é a LEALDADE. Somos chamados a viver em harmonia com Sua Lei. Nenhuma outra coisa importa afinal. Uni a Deus a vossa vida. Fazei com Ele inteira aliança.
Na parábola dos talentos lemos, que, quando o Senhor chegou para ajustar contas com os servos dos talentos que lhes tinham sido confiados, o homem que recebera apenas um, respondeu: “Atemorizado, escondi na terra o Teu talento.” (Mt 25-25). O temor lhe paralisara as forças criadoras. O temor da derrota roubou-lhe toda a iniciativa. Se tememos, teremos a mesma experiência, pois o temor do fracasso é o caminho seguro e certo para a derrota. O homem que recebera um só talento é condenado porque tinha os olhos no êxito em vez de os fixar no dever. Aos que temem, seja-me permitido dizer: Não vos cumpre ser bem-sucedidos. Tudo quanto Deus requer, é que façais o melhor que vos for possível. Os resultados, deixai-os com Deus.
O temor da morte está dominando a muitos. Quando uma pessoa vive temendo continuamente morrer, não pode viver bem. O Cristão não teme a morte, pois sabe que tem a vida eterna em Cristo, no porvir. Os Cristãos não são criaturas do tempo, mas da eternidade. Esta vida não é o fim, mas antes um preparo para o glorioso começo.
Para o Cristão, a morte não é uma derrota. Destemido, pode ele dizer com o salmista: “ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam” (Sl 23:4). Aqui há perfeito triunfo sobre o temor da morte.
Muitos existem que nunca vivem bem, porque estão sempre temendo que vão morrer. Como escreve bem conhecido médico a respeito do efeito da ansiedade: “Não sabemos porque é que os ansiosos morrem mais cedo do que os que não se afligem; mas isto é um fato. Os temerosos da morte, morrem por certo antes do tempo”.
Se quereis viver, bani o temor da morte. Vossa vida está em Deus. “Porque n’Ele vivemos, e nos movemos, e temos o nosso ser” (At 17:28).
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1978)
É fato que tanto o altruísmo impulsionado por Cristo, ano após ano, quanto a gradual expansão de consciência, promove alterações na dinâmica do funcionamento biológico de partes do Corpo Denso do ser humano. Tais mudanças são efeitos de alterações na composição de outros Corpos mais sutis e das alterações da composição atmosférica da Terra. O presente artigo busca descrever parte destas mudanças graduais, que está estreitamente relacionada à promoção de maior longevidade e até mesmo a tão mal compreendida vida eterna.
Para fins didáticos, o texto é divido em três partes:
Parte I – Recapitulação do modo como o ser humano tornou-se consciente no Mundo Físico
A recapitulação do modo pelo qual ser humano tornou-se consciente do Mundo Físico se faz necessária para traçar uma linha de referência de seu desenvolvimento. Conforme bem explorado pela Filosofia Rosacruz, o Espírito Virginal desceu dos mundos superiores na involução. Com o propósito de desenvolver os três princípios divinos (Espírito Divino, Espírito de Vida e Espírito Humano) que herdou de Deus (pois tal como Deus, quando se manifesta, o faz de forma tríplice – Pai, Filho, Espírito Santo), o ser humano, criado a Sua imagem e semelhança, por ação recíproca constituiu três Corpos compostos por materiais correspondentes aos Mundos pelos quais passava – o Corpo Denso, oitava inferior do Espírito Divino (Pai); o Corpo Vital, oitava inferior do Espírito de Vida (Filho); e o Corpo de Desejos, oitava inferior do Espírito Humano (Espírito Santo).
Mas para que houvesse união e comunicação entre os princípios herdados e seus instrumentos, um veículo mental teve de ser construído. A partir daqui o Espírito se torna um Ego: um Espírito Virginal manifestado em forma sétupla (Tríplice Espírito, Tríplice Corpo e a Mente). Neste ponto do desenvolvimento, a dual força criadora (pólo masculino ou vontade e pólo feminino ou imaginação) ainda era direcionada para baixo, isto é, ambos os pólos, fluíam para o mesmo sentido e conferia ao ser humano a capacidade de ser hermafrodita.
No entanto, para que as vivências exteriores pudessem ser capturadas e para que as ideias concebidas pela Mente pudessem ser transmitidas, adaptações nos Corpos deveriam ocorrer. Especialmente para o Corpo Denso e Vital, deveria ser construído um encéfalo que fosse capaz de processar as informações provenientes do meio e enviar tais códigos para que o Espírito trabalhe sobre as mesmas, e, por fim, transmitir estas conclusões de volta ao meio. Também uma laringe para facilitar a comunicação das conclusões que foram produzidas pelo processamento das informações provenientes do meio.
Concomitante a essas necessidades, a matéria que hoje constitui nosso planeta Terra foi arrojada do Sol e, posteriormente, a matéria que forma a Lua foi arrojada da Terra. Tais separações promoveram expressões separadas de forças (força do Sol e força da Lua). Deste modo, alguns Corpos passaram a serem melhores condutores das forças solares e outros lunares. Um dos pólos da dual força criadora foi internalizado e direcionado para cima, a fim de construir o cérebro e a laringe. No caso do Corpo masculino (condutor da influência do Sol), o pólo feminino foi internalizado para este fim. Já o Corpo feminino (condutor da influência da Lua), o oposto. A condição de ser hermafrodita cessou e a necessidade da cooperação do sexo oposto para procriar se fez necessária. Além disso, um meio físico que suportasse as altas vibrações do Espírito individualizado era necessário para sua manifestação no Mundo Físico e para governo de seus Corpos. O sangue vermelho e quente constitui tal veículo.
O metal marciano conhecido como ferro é o elemento essencial para a produção deste sangue vermelho e quente. Já é bem consolidado pela ciência atual que durante a realização de uma tarefa, grande quantidade de sangue é direcionada a determinadas regiões do Corpo Denso necessárias para realização da mesma. O ocultista sabe que tal fenômeno significa o Ego utilizando sua ferramenta corporal para governar o Corpo e adquirir experiências.
Foi somente na Época Lemúrica – uma das Épocas que atravessamos nesse Período Terrestre desse atual esquema de evolução – que o ferro pode ser livremente utilizado (após a eliminação da influência marciana sobre a Terra) e, assim, o sangue tornar-se mais quente no interior do Corpo Denso em relação à temperatura ambiente. Com o sangue quente e vermelho e com um cérebro e uma laringe bem formados, o ser humano pôde alcançar o estado de consciência de vigília, parecido com o que temos atualmente.
O plano inicial era o seguinte: quando o Ego renasce em um corpo feminino (mulher) era exposto a estímulos ambientais extremamente fortes* (tempestades gigantescas, ventos, explosões vulcânicas): o objetivo era despertar a consciência das mulheres para fora, e, por meio desta exposição a acontecimentos alheios, a atenção seria direcionada também para isso. Isto iniciou um processo de construção de representações mentais das coisas externas (criação de códigos para que o Espírito pudesse interpretar o meio externo). A neurociência atual comprovou este fenômeno, pois mostra que tudo aquilo que o cérebro interpreta é, em realidade, representações mentais subjetivas que servem como código ou referência. Não se enxerga as coisas como são, mas se enxerga as representações mentais que se criou para interpretar tais coisas. O meio pelo qual as representações foram criadas ocorreu pela imaginação (pólo feminino da força criadora).
Porém, quando o Ego renasce em um corpo masculino (homem), estímulos corporais de dor e de estados de prisões eram determinados. Os estados de prisões eram realizados de modo que o, então homem, pudesse, com um pouco de força de vontade, se libertar. Já a dor, fazia com que um movimento para que a mesma cessasse fosse realizado. Ambos tinham o objetivo de despertar a vontade (força masculina).
Vemos, deste modo, as duas polaridades sexuais agindo separadamente, e métodos de aprendizagem adaptados a cada um eram necessários. Juntamente com esses estímulos, os Arcanjos – seres que estão a dois graus de evolução acima dos seres humanos – neutralizavam o Corpo de Desejos do ser humano, e este só era libertado em épocas propícias para a procriação. A procriação era orientada pelos Anjos – seres que estão a um grau de evolução acima dos seres humanos.
Diferentemente dos Anjos, que direcionam toda sua energia criadora para fora de si e, em troca, recebem sabedoria, o ser humano internalizou metade de sua força criadora para construção de uma laringe e um cérebro. A internalização para autosserviço determina uma característica de individualismo genuíno para ele. Se o estudante meditar sobre este caminho, compreenderá que o processo era demasiadamente lento, mas garantia o despertar seguro da vontade e da imaginação humana. Isto é, naquela época, a Personalidade e o temperamento não agiam como um fator de dificuldade tal como ocorre nos dias de hoje. Pelo menos até o ponto em que este plano pôde perdurar.
Mesmo que a morte do Corpo Denso ocorresse naquela época, a longevidade era muito maior do que atualmente, pois não se conhecia o pecado (transgressões das leis). A mulher, pela imaginação, já conseguia identificar muitas coisas que ocorria fora de si mesma. Mas ela também conservava a visão etérica das coisas. Por isso, quando ela percebia a morte do Corpo Denso e, ao mesmo tempo, também percebia a permanência do Corpo Vital (isto é, a pessoa que morreu no Mundo Físico permanecia viva nos planos internos), esse fato a deixava extremamente confusa.
Para acelerar o processo de evolução, os Espíritos Lucíferos – uma parte da onda de vida Angélica que se atrasou – entraram em contato com a mulher pela coluna espinhal, relatando que poderia gerar um novo Corpo Físico que morria. Para isso, deveria realizar o ato sexual (“comer o fruto da Árvore do Conhecimento”) sem esperar o comando dos Anjos. Isso a tornaria, juntamente com o homem, semelhante aos deuses (com capacidade de “criar”). Esse ato também favoreceria a libertação do Corpo de Desejos, pois haveria motivação para procriação sem a presença dos Arcanjos.
Por isso a Bíblia relata que Lúcifer era uma serpente sábia (coluna espinhal) que apareceu para Eva em uma árvore. Lúcifer (portador da luz) tentou adiantar o processo, ensinando ao ser humano como se libertar da influência dos Anjos e dos Arcanjos, assumindo sua própria evolução e geração de novos Corpos. Isto é relatado na Bíblia como a expulsão da humanidade do Jardim do Éden, que a obrigou a “comer poeira todos os dias de tua vida” e “com o suor de teu rosto, comer teu pão, até que retornes ao solo” (Gn 3:14 e 19). O problema é que o Corpo de Desejos estava em situação muito rudimentar, composto, praticamente, apenas de materiais das regiões inferiores do Mundo do Desejo. A Mente também estava em situação similar, sendo muito fraca para refrear os desejos e direcioná-los para motivação de propósitos do Ego. Tal condição precária somada a genuína condição de individualismo, o egoísmo e as paixões predominaram e uma série de desequilíbrios deu início.
O ser humano deve, pois, a Lúcifer e a seus “Anjos caídos”, à capacidade de ser autômato e da possibilidade de se desenvolver ao ponto de se tornar semelhante aos deuses – por isso, a ideia de que Lúcifer é mau e que deve ser abominado está incutido no inconsciente humano, isto é, foi ele que ensinou a humanidade a desobedecer aos deuses e lhe abriu o caminho para ser semelhantes aos mesmos (superiores aos Anjos). Essa desobediência não deve ser confundida com emancipação de Deus, mas como um novo caminho autômato em Deus (pois nele vivemos, nos movemos e temos o nosso ser).
O problema é que tal estado só será alcançado quando a Personalidade for dominada (estado ainda sonhado pela maioria das pessoas que já despertaram para a vida espiritual). O individualismo genuíno, transformado agora em egoísmo e orgulho pela Personalidade, fez com que cada ato do ser humano fosse direcionado para benefício próprio e quase nenhuma cooperação era conseguida. A sabedoria divina incutindo determinadas motivações no âmago da Personalidade, fez com que a evolução não fosse totalmente frustrada. As motivações foram: Amor, Fortuna, Poder e Fama. O desejo de alguma ou várias destas coisas é o motivo pelo qual se faz ou deixa de fazer algo. Isso promove alguma experiência e aprendizado. O livro O Conceito Rosacruz do Cosmos já explorou todos os fatos mencionados até o momento com extraordinária maestria. Convidamos o leitor para estudar este livro, a fim de que tenha uma ideia melhor de tudo isso.
Parte II – Mudanças físicas que estão ocorrendo devido à correspondência ao altruísmo
Agora que foi recapitulado o processo de aquisição do estado de consciência vigília e esclarecido o modo pelo qual deixamos o plano inicial de evolução e iniciamos o processo de evolução “por nossa própria conta e risco”, o segundo objetivo do presente artigo pode ser trabalhado. Isto é, que mudanças físicas estão ocorrendo devido ao aumento da consciência e altruísmo no mundo?
O Corpo Denso é um instrumento que, atualmente, possui duração pré-determinada de utilidade para servir ao propósito do Ego que é: extrair a quintessência das experiências vividas. Com o passar do tempo, suas funções vão declinando (devido à incompetência do ser humano em não deixá-lo cristalizar), até que a morte (a incapacidade do ser humano em se manter encarnado nesse Corpo Denso) sobrevém.
Dois fatores importantes atrapalham o desenvolvimento dos poderes do Ego: 1) a busca da satisfação pessoal imposta pela Personalidade que inclui o gasto demasiado da força sexual, a gula, os vícios, os maus hábitos, as omissões, as preguiças e irresponsabilidades com a saúde, entre outros, todos constituem maiores prazeres físicos e encurtamento da vida; 2) a influência da Lei de Consequência, pois muitos desequilíbrios foram gerados a partir da falsa iluminação lucífera. As doenças limitam, consideravelmente, a qualidade da produção anímica pelo Ego.
Presença de doença não significa ausência de possibilidades para geração de produção anímica. A Graça Divina é tamanha que há espaço para o desenrolar concomitante de produção anímica e o reequilíbrio das Leis transgredidas. Esse plano só pôde ser concretizado a partir do trabalho misericordioso de Nosso Senhor (o Cristo), que anualmente “retira o pecado do mundo”, isto é, purifica o Mundo do Desejo da Terra com seu Altruísmo. Com isso, disponibiliza materiais para que a humanidade possa avançar no caminho, mesmo que ainda tenha muitos pecados.
O tema astrológico natal revela as tendências de pontos fracos, cuja ciência material compreende como de origem genética e ambiental. Tais tendências são determinadas a partir dos desequilíbrios praticados em vidas precedentes e de desequilíbrios que tenderemos a realizar na presente vida. Por meio da progressão pode-se saber o momento em que tais tendências estarão ativas e fortes.
Independente do tipo de doença e do tratamento que o doente e seus cuidadores devem buscar, duas são as fontes de energia que, se deficitárias, acelerarão o desenvolvimento de qualquer patologia: 1) a energia vital que vem diretamente do Sol e é absorvida através do baço; e 2) a energia proveniente dos alimentos físicos, produto da respiração celular realizada, principalmente, pelas mitocôndrias. “É a fusão dessas duas correntes que produz o poder latente que está armazenado em nosso Corpo Vital até converter-se em energia dinâmica pelo desejo marciano natural” (veja mais detalhes no livro O Mistério das Glândulas Endócrinas), e, assim, o ser humano pode utilizar essa energia para produzir crescimento anímico.
Com foco na corrente de energia proveniente do consumo de alimentos, Max Heindel descreve: “o sangue que entra em contato com o ar, todas as vezes que respiramos, passa pelos pulmões e, da mesma maneira que uma agulha é atraída para um imã, o oxigênio do ar inspirado se mistura com o ferro no sangue. Realiza-se, então, um processo de combustão que é semelhante à ferrugem ou oxidação que observamos no ferro exposto ao ar”. Continua: “a experiência ensinou-nos que o material combustível pode ser colocado em uma fornalha com todas as condições necessárias para a combustão, porém, até que se use o fósforo, os materiais não serão consumidos. Aqueles que estudaram as leis de combustão sabem que uma corrente de ar bem forte leva consigo grande quantidade de oxigênio, que é necessário para se obter calor do combustível que contém muito mineral”. Assim, oxigênio é o acelerador deste processo. “Um processo similar ocorre dentro do corpo, que é o templo do espírito” (veja mais detalhes no livro Maçonaria e Catolicismo).
O processo de combustão que ocorre dentro do Corpo é um pouco diferente da combustão verificada, por exemplo, quando se queima gasolina, madeira ou papel. Neste último, o processo de retirada de energia ocorre em grande quantidade e de uma única vez. Por outro lado, a respiração celular promove quebra das cadeias de carbono (processo químico necessário para a retirada de energia das moléculas) de modo gradativo e em pequenas parcelas. Isto é necessário para a preservação da estrutura das células, pois se a combustão ocorresse como no primeiro exemplo, as células pereceriam pelo excesso de energia. Além disso, a energia retirada pelas mitocôndrias não é consumida rapidamente, mas permanece dissolvida na célula e, gradativamente, é utilizada no metabolismo.
Um dos problemas é que durante a extração de energia, moléculas incompletas de oxigênio também são geradas: incompletas por conterem um número ímpar de elétrons em sua última camada eletrônica. Este elétron ímpar, que se estabelece após cada quebra das cadeias de carbono, pode não ser pareado com o restante dos elétrons do átomo em questão. Em outras palavras, sua órbita segue uma rota diferente da órbita dos demais elétrons. Tal característica confere-lhe grande capacidade de reagir com outras biomoléculas que existem na célula, contra as quais colidem. Essa reação forçará a retirada de elétrons de outras moléculas que já são completas e possuem função importante dentro do sistema biológico (principalmente lipídios e proteínas das membranas celulares e, até mesmo, o DNA). Essa retirada de elétrons modificará suas adequadas estruturas e funções. Os exemplos mais comuns de radicais de oxigênio altamente reativos são: radicais superóxido (O2-), hidroxila (OH-), peroxila (RO2), alkoxila (RO) e hidroperoxila (HO2). O óxido nítrico (NO) e o dióxido de nitrogênio (NO2) são espécies reativas de nitrogênio.
O organismo normalmente consegue equilibrar os efeitos desses radicais de oxigênio reativos (radicais livres). Porém, há casos em que ocorrem desequilíbrios a favor do sistema pró-oxidantes em detrimento do sistema antioxidantes. Isto é denominado estresse oxidativo. O acúmulo dos efeitos do estresse oxidativo promove danos nas células e acelera o surgimento de doenças e envelhecimento (principalmente se ocorrer em órgãos do corpo relacionados a vulnerabilidades que acumulamos em outras vidas), fatores estes que limitam as oportunidades do Ego de gerar experiências e crescimento anímico.
Dentre as doenças já comprovadas pela ciência física que estão relacionadas aos efeitos dos radicais livres, somados a outros fatores estão: demência de Alzheimer, doença de Parkinson, aterosclerose, complicações da diabetes mellitus, câncer, doenças cardiovasculares, catarata, declínio do sistema imunológico, disfunções cerebrais, o envelhecimento precoce, enfisema pulmonar, doenças inflamatórias, entre outras.
Sobre a respiração celular e oxigênio dentro do Corpo Denso, Max Heindel continua: “É a chama que acende o fogo interior e gera o produto espiritual que se exterioriza de todas as criaturas de sangue quente, da mesma maneira que o calor se irradia de uma estufa. Estas linhas radiantes de força que emanam de nossos Corpos Densos de maneira invisível à visão física, são nossa aura, como já foi dito, e, não obstante a cor da aura de cada indivíduo diferir da dos outros, existe uma cor básica ou fundamental que mostra sua posição na escala da evolução. Nas raças inferiores esta cor básica é um vermelho fraco, semelhante ao vermelho de um fogo que queima lentamente, que indica sua natureza passional e emocional (isso indica que a pessoa ainda responde a Lúcifer e a Jeová). Ao examinarmos as pessoas que estão em grau mais elevado na escala da evolução, a cor básica ou a vibração irradiada por elas parece ser de uma tonalidade alaranjada, que é o amarelo do intelecto misturado com o vermelho da paixão”.
O uso de antioxidantes, pela alimentação, naturalmente pode evitar os danos corrosivos dos radicais livres de oxigênio. O problema é que as transgressões das Leis Divinas e a natureza passional, em muitos casos, são tamanhas, que o uso de oxidantes nem sempre é suficiente, e os danos ainda permanecem. A produção de radicais livres constitui um fator natural do Corpo Físico e sempre foi programada por nós mesmos. Afinal, o propósito da existência física é o acúmulo de experiências e não devemos permanecer na Terra para “todo o sempre”. Naturalmente, processos que facilitam a morte e o desgaste do Corpo Físico devem ocorrer. O comer da árvore da vida, provavelmente, implicaria em também solucionar o problema dos efeitos dos radicais livres, dentre outros relacionados a doenças e morte do Corpo Físico.
“A auréola dourada ao redor dos santos, pintada por artistas dotados de visão espiritual, é a representação física de uma promessa espiritual que se aplica à humanidade como um todo, embora isto tenha sido compreendido apenas por alguns poucos, que são chamados Santos. Após vidas de luta com suas paixões, perseverança no fazer o bem, cultivando nobres aspirações e depois de aderir firmemente a propósitos superiores, estas pessoas elevaram-se acima do raio vermelho e estão agora totalmente imbuídas com o raio dourado de Cristo e sua vibração.” Max Heindel continua: “A cor dourada natural é o raio de Cristo, que encontra sua expressão química no oxigênio, um elemento solar”.
Naturalmente, o aspirante pode concluir que conforme a correspondência às vibrações Crísticas e o estabelecimento de uma vida com propósitos superiores, tanto a eficiência das mitocôndrias no processo de respiração celular quanto fatores que neutralizam os radicais livres aumentarão, promovendo menores danos às células e maior longevidade saudável. Porém, tal conclusão parece ser equivocada. Lembre-se: o propósito do Ego não é permanecer na Região Química do Mundo Físico, mas retornar ao Pai com sua herança divina despertada e totalmente desenvolvida (Parábola dos Talentos). A compreensão de como ocorre a longevidade é fator chave para a terceira etapa (conclusão) deste artigo.
Parte III – Que se deve fazer para acompanhar as mudanças que necessariamente devem ocorrer
Qual a diferença de desempenho de uma pessoa experiente e de outra iniciante, em uma dada tarefa em comum? A diferença básica é que a pessoa experiente já aprendeu todos os mecanismos e as técnicas necessárias para desempenhar, com segurança, cada etapa de uma tarefa. Por isso, aplica de modo direcionado, com paciência e observação, a quantidade ideal de energia (vontade) e estratégias para cumprir o propósito com eficiência. Já o inexperiente, por não conhecer os mecanismos e nem as técnicas, necessita muito tempo para aprender e tirar conclusões. Além disso, mesmo que realize todo este movimento, se realmente não se dedicar na extração da experiência, pouca memória formará. Isso significa que “viveu as cegas”, e continuará a gastar bastante energia todas as vezes que se deparar com a mesma situação, sendo um eterno aprendiz das mesmas coisas.
O acúmulo de experiência permite o menor gasto de energia e assim, menor necessidade das funções das mitocôndrias para gerar energia. Isso não significa que há menos atividades ou produção anímica. Inversamente, se faz muito mais com muito menos! Conforme a correspondência de vida vai gradativamente se afinando com as lições Cristãs, o uso dos Corpos pelo Ego ocorre mais adequadamente. Isto é, o Eu Superior domina a Personalidade e a espiritualiza. Este domínio pode ser ilustrado da seguinte maneira:
Vemos, pois, que uma vida bem vivida está pautada no acúmulo de sabedoria e firmada a propósitos superiores. Não há outro propósito maior do que estes. A fé, o amor universal, o propósito de contribuir com a evolução da humanidade e a convivência com verdades espirituais, revelam caminhos tão sublimes e infinitos que tornam cada ato da vida uma nota musical afinada à grande sinfonia divina. Não haverá mais espaços para desequilíbrios ou transgressões das leis, mas sim ações que nos aproximam de Deus.
A lógica do menor esforço e maior eficiência é o padrão de ouro para a vida espiritual, mas ela exige o emprego constante da observação e do aprendizado. Com o tempo, passaremos a evocar as experiências de modo tão eficiente que não mais necessitaremos dos arquivos do cérebro denso para nos fornecer referência de como agir, mas iremos acessar diretamente o éter refletor, não mais necessitando de energia física. Consequentemente haverá menos necessidade de mitocôndrias e menos radicais livres. Passaremos a utilizar o éter, um material com vibração superior aos elementos químicos do sangue, para manifestação do estado de vigília (já o fazemos atualmente, mas a quantidade será muito maior), pois o poder do Ego será tamanho que necessitará de materiais mais vibrantes para dar conta de sua expressão. Neste estado de Corpo de Vida, não mais conheceremos a morte e a vida eterna será, então, uma realidade.
Para finalizar, é importante considerar que um dos pólos da dual força criadora foi internalizada e direcionada para cima, a fim de construir um cérebro e uma laringe (mencionado na primeira parte deste artigo). Antes, ambas eram direcionadas para baixo com o propósito de gerar Corpos Físicos. Com o novo Corpo de Vida, não mais haverá mortes e desnecessária a geração de Corpos Densos, sendo o ser humano Cristificado isento da paixão lucífera.
O casamento místico, conforme bem expressado por Salomão em seu “Cântico dos Cânticos”, mostra a reunião dos polos da força criadora, mas agora com parte que permaneceu para baixo também direcionada para cima. “O homem deve se casar com a mulher que possui dentro de si mesmo, e a mulher com seu homem interno”. O mito denominava cada polo como Anima (feminino) e Animus (masculino). Com esta “re-união” dos polos criadores, mas direcionados para cima, a palavra fornecerá o molde (o verbo se fará carne) para gerar obras tão grandiosas como as obras dos deuses.
*note que as condições da Terra nesta época era bem diferentes das condições atuais.
Que as Rosas Floresçam em vossa cruz
Surge Um Mundo Novo
Um mundo novo está surgindo, como consequência do impulso originado de uma melhor compreensão da vida.
O ser humano já se apercebe de que com a decadência do já ultrapassado pensamento filosófico e religioso, a Divindade está preparando para si e para a humanidade, mudanças substanciais, capazes de ensejar uma concepção mais ampla sobre o significado da vida. A velha ordem de coisas está no fim e, simultaneamente, assistimos ao alvorecer de algo novo. Uma consciência que permaneceu adormecida durante Eras está despertando. Deus, que sempre trabalhou na essência mesma das coisas está desenvolvendo uma nova expressão da vida eterna que lhe é inerente.
A guerra e seus terríveis sofrimentos constituem as dores do parto. A seu devido tempo, o recém-nascido aportará a toda a humanidade, concedendo-lhe uma liberdade mais ampla, uma mentalidade mais forte e amor em maior profusão. A dor provocada por tão horrível carnificina trouxe triste pesar à nossa mãe-terra, mas sua convalescença já começou. No mundo inteiro está surgindo um ideal mais elevado que por séculos esperou o momento oportuno para manifestar-se.
No mundo trava-se uma luta da qual somos partícipes. Ela é parte da evolução que sempre se evidenciou através da submissão do inferior ao superior, do imperfeito ao perfeito. Esse conflito eterno e universal acompanha o ser humano desde as remotas épocas em que Deus o projetou como um pensamento no reino do Espírito. Passo a passo essa luta contínua e cruenta vai aperfeiçoando o espírito, até o estado atual.
Uma nova luz está projetando seus raios sobre a humanidade, luz de um conhecimento mais profundo. Os ensinamentos rosacruzes pretendem que o desenvolvimento da Mente se encontre em seu primeiro estágio, o mineral de sua evolução. O ser humano recebeu a Mente na Época Atlante para um propósito determinado. Mas como nessa época o Ego era excessivamente débil a seus desejos muito fortes, o nascente intelecto fracassou, unindo-se ao Corpo de Desejos. Daí originou-se a astúcia.
“Na Época Ária iniciou-se o desenvolvimento da Mente e da razão por intermédio do trabalho do Ego no sentido de dominar o Corpo de Desejos e conduzi-lo à realização da perfeição espiritual, que é o objetivo da evolução” (Conceito Rosacruz do Cosmos).
Na agonia da transição, muitas almas devotas assistem à derrota da religião, à eclipse da fé e ao desaparecimento das mais caras expectativas da humanidade. Porém, como a verdade é eterna não pode desaparecer. O conflito do ser humano com a realidade é parte essencial do progresso. Não estando preparado para receber a nova luz, a verdade a cega, o perturba e a dúvida atormenta.
Neste momento da vida é quando o ser humano mais necessita do auxílio de um mentor espiritual que o oriente, até que seja capaz de, por si mesmo, compreender a nova verdade que floresce. Chegou o momento em que ao estudante rosacruz se oferecem mil oportunidades de servir. “A seara é imensa, mas poucos são os trabalhadores”.
O século XX caracteriza-se por um grande despertar espiritual e filosófico. Desde o advento de Cristo-Jesus nunca se viu tantas igrejas, tantos novos cultos, nem tanto interesse renovado pela religião.
Quando faltavam uns 500 anos para o nascimento de Jesus, surgiram por todos os rincões da Terra novos instrutores e novas religiões. As mudanças que influenciaram o globo terrestre, por precessão dos equinócios, trouxeram muitas inquietudes à humanidade, pois essa se preparava para responder aos novos tempos. Foi assim que a Era de Áries, regida pelo belicoso Marte foi substituída pela influência jupteriana de Peixes.
Todas as decadentes filosofias devem ser substituídas por sistemas mais avançados. Novas religiões surgiram e se disseminaram pela Terra. Naqueles tempos o profeta e instrutor mais avançado, Isaias, assentava as bases daquilo que seria a religião cristã. A vida intelectual chegava ao seu ponto culminante.
Essas mudanças excitaram ao mesmo tempo os elementos inferiores, dando margem a guerras e crimes de toda espécie. É um fato bem conhecido dos esoteristas que quando um novo impulso ativo a religião, o mal e os elementos mais baixos são também postos em ação. A humanidade daquele tempo se dividiu, tal como predisse Cristo ao afirmar que “as ovelhas estão separadas das cabras”.
A Era Aquária, que se aproxima, é a Era do AR. Uma fase de características marcadamente intelectuais onde se produzirá o despertar intelectual da humanidade. Aquário é um Signo mental, cientifico e elétrico, capaz de despertar as multidões como nunca o fez Signo algum do zodíaco. Esse Signo representa o FILHO DO HOMEM.
Existem duas classes de pessoas capazes de responder às vibrações aquarianas: em primeiro lugar está o tipo saturnino, inflexível, duro, que se manifesta por atitudes cruéis; em segundo lugar encontra-se o tipo mais evoluído da humanidade, aquele que alcança as regiões do infinito, representado pelos seres de ciência, pelos pensadores avançados e os religiosos sensíveis às mais elevadas influências espirituais.
Como afirmou o casal Heindel no Livro A Mensagem das Estrelas: “Podemos dizer que o FILHO DO HOMEM é o “super-homem”; por tal motivo, quando o Sol transitar pelo Signo celeste de Aquário, entraremos (esotericamente) em uma nova fase da religião do Cordeiro, e o ideal para o qual haveremos tender é indicado por Leão, o Signo oposto”.
Todo exército tem sua vanguarda. A evolução também tem a sua. Existe sempre uma classe evoluída, destinada a preparar a humanidade para futuras transformações. De acordo com os ensinamentos rosacruzes, esses períodos evolucionários se estreitam à medida que nos elevamos no caminho. Conforme a Mente se organiza, alcança-se um estado de consciência mais elevado e com o tempo tomará uma forma semelhante à dos demais veículos superiores. A Mente do ser humano também se espiritualiza. Na Era de Aquário o veículo mental alcançará um grande desenvolvimento como consequência dos esforços científicos e espirituais do ser humano. Há um grande número de pessoas já conscientes da existência dos poderes internos, ansiosas por obter e aplicar os conhecimentos avançados.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 08/86)
Faz sentido ter Temor às Provas quando no grau do Probacionismo?
Há dias, encontrei-me com um amigo e perguntei-lhe: “Como vai você no caminho Rosacruz? ”. Respondeu-me: “Recusei o Probacionismo. Disseram-me que a vida da gente piora quando se entra nesse grau”.
Esclareci-o. Não o encontrei mais, depois daquele dia.
A conversa que tivemos e as meditações que ela suscitou, me fizeram pensar neste artigo. Creio ser útil a muita gente.
O Probacionismo, ou melhor, o PROBATÓRIO – como registra o dicionário – de fato concerne à prova: “é o grau que serve de prova; que contém prova”. Notem bem: Ele NÃO leva à prova; NÃO conduz à prova exterior; ele SERVE de prova; CONTÉM prova – porque traz à tona da consciência as falhas internas; porque convida à purificação dos próprios defeitos. Não se trata de nos expormos a uma série de provas que os Mestres programam e às quais nos submetemos. Não! É a nossa própria prova; é nos convidar a remover, a pouco e pouco, aquelas limitações de caráter que nos retardam a caminhada.
Assim como ajudamos o Corpo, com uma pomada especial, a amadurecer e soltar o carnegão de um furúnculo que nos incomoda; assim também temos de tomar consciência de nossas limitações, para não mais repeti-las. O alimento dos hábitos errôneos é a ignorância. Quando compreendemos que eles são prejudiciais à nossa caminhada e ficamos alertas para não cair na repetição mecânica a que o hábito induz – eles vão perdendo força e se dissipam. Por isso diz Max Heindel: “Todo esforço Iniciático começa pelo Corpo Vital”.
Mas é preciso ter cuidado. O Corpo Vital é um veículo de hábitos, formados pela repetição. Por falta de esclarecimento ou por fraqueza (condescendência ao vício dominador) podemos repetir hábitos inconvenientes e fortalecê-los desse modo – reforçando os grilhões que nos condicionam.
São Paulo apóstolo disse: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém; examinai de tudo e escolhei o melhor”. Temos livre arbítrio. Somos livres para morrer ou para viver; para descer ou para subir pela escada evolutiva. Mas um aspirante à espiritualidade tem um só propósito: SUBIR.
Pensar em espiritualidade é admitir, de início, a TRANSFORMAÇÃO, sem a qual é impossível atingi-la. Alcançar a Iniciação, continuando a ser o mesmo ser vicioso de hoje, é um absurdo. A “queda do homem” não foi geográfica: foi de consciência. Embrutecemo-nos; caímos de sensibilidade, de vibração, de sintonia com o Divino. Evoluir é conscientemente conquistar maior sensibilidade, pela remoção das escórias que nos pesam.
Para descer ao fundo do mar e vencer a resistência da água, o mergulhador leva pesado escafandro. Qualquer um de nós sabe que ao mergulharmos a certa profundidade para alcançar o fundo temos de vencer a pressão da água. Mas para voltar à superfície é muito fácil: a própria pressão da água nos impele de volta à superfície.
Assim também com nossa natureza espiritual. A tendência natural da Essência divina é buscar o alto. O que nos mantém nos baixos estados de consciência é a ignorância, a crença falsa de que não podemos viver sem certos vícios, vícios esses que podemos reunir em um único: o tirano apego! Como o macaco preso à cumbuca, de punhos fechados, agarrados às ilusões e hábitos daninhos, não podemos desprender-nos!
Além desse apego ignorante, há outro fator retardante: a COVARDIA. O ser humano de nível comum é medroso, é covarde, é comodista. Quer alcançar as coisas sem esforço e a curto prazo. Quer alcançar certas coisas sem pagar o preço correspondente – como os alunos que procuram escolas desonestas e pagam bem para obter um diploma que envergonha a classe, a profissão. De onde vem essa pretensão idiota? Da personalidade. Ela quer pegar sem pagar. Já viram um PEGUE sem PAGUE? Tudo, no mundo, é um balanceamento de direito e de dever. A cada direito há um dever.
Ainda mais: no desenvolvimento das faculdades, há sempre o sacrifício de uma para dar nascimento a outra. Por exemplo: sacrificou-se metade (ou um polo) da força criadora unitiva do ser hermafrodita de antanho, para com ela formar-se a laringe e o cérebro, que nos atendessem as funções superiores e criadoras da palavra e do pensamento.
Tal é o preço na transformação do ser interior. Os olhos estão se transformando para alcançar a visão etérica; o Corpo Denso está se eterizando, aos poucos, nos espiritualistas sinceros que seguem as normas do Probacionismo de: “uma Mente pura, um Coração amoroso e um Corpo são”.
Para a Mente ficar pura; para o Coração tornar-se nobre e amoroso; para o Corpo se tornar são é indispensável uma transformação de hábitos, uma purificação gradual e decidida.
Que pensaríamos de uma pessoa que se recusasse a entrar na escola e submeter-se à sua disciplina – para não ter o trabalho de estudar; para ficar livre de horários? É claro: permanece ignorante.
O mesmo se dá em relação ao probatório: por que vou recusá-lo?
Para não me livrar dos vícios e limitações ignorantes? Seria o mesmo que permanecer no fundo d’água; não querer sair dali – e ao mesmo desejar o ar e o céu. Para alcançar uma coisa é preciso deixar outra. TRANSFORMAÇÃO pressupõe movimento: transitar para além da forma atual de ser. Tirar o pé do degrau de baixo para pô-lo no degrau de cima. Do contrário, não posso subir a escada; fico onde estou. Querer subir, sem “desgrudar o pé de baixo”, é impossível.
É uma triste pretensão querer brilhar como um brilhante e ao mesmo tempo negar-se ao despojamento das escórias que enfeiam o diamante bruto. É uma má compreensão querer que a árvore dê belos e abundantes frutos, sem submetê-la à poda. Ora, a poda existe igualmente na espiritualidade. Temos energia potencial; se a utilizamos egoisticamente, apenas na promoção da personalidade, ficaremos uma árvore folhuda, bonita por fora, mas completamente inútil, estéril. Lá, diz o Evangelho: “a árvore que não dá frutos, será cortada e lançada ao fogo”. Mas se podamos, isto é, se reservamos uma parte da energia potencial aos propósitos fisiológicos do corpo e dirigimos a parte sobrante aos propósitos espirituais, seremos aquele ser equilibrado e produtivo; aquele que, na definição de Max Heindel: “Assume perante si mesmo a obrigação de servir, obedecer e amar ao Eu verdadeiro e superior. ”
Só há um Eu verdadeiro – que chamamos de EU real. Mas o dizemos verdadeiro e superior, para destacá-lo claramente de outro eu falso e inferior – formado pela ignorância. Esse “eu” falso, inferior, o ladrão de nossas energias – a grande prostituta referida na Bíblia, que prostitui ou desvirtua a pureza dos intentos espirituais.
Atualmente estamos decaídos e divididos. Pensamos no “eu” pessoal e no Eu espiritual – como se fôssemos dois. O Cristo interno, à parte e separado do “eu” humano – a natureza inferior. Mas não há essa divisão. Há um só EU – que é o VERDADEIRO E SUPERIOR…
Enquanto houver a dualidade ilusória, é sinal de que “a casa estará dividida contra si mesma, sem possibilidade de subsistir”. Enquanto houver a identificação com um “eu” inferior e falso – haverá uma válvula de escape – que desviará as energias do EU REAL para propósitos egoístas.
Ora, o que se propõe no probatório é o despojamento do “eu” inferior e falso – até certa medida que nos permita alcançar o portal da iniciação, onde contaremos com mais recursos para uma purificação mais intensa e esclarecida, mercê dos recursos extrassensoriais.
No probatório contamos com uma ajuda preciosa durante o sono, que nos esclarecerá, na medida de nossa consciência, sobre os pontos falhos e o despojamento deles. No probatório se amplia nossa possibilidade de servir, porque somos aproveitados para constituir equipes de auxílio e de cura no trabalho inconsciente durante o sono, após a restauração do corpo. E, com o tempo, segundo a sinceridade e esforço de cada Probacionista, ocorrem vislumbres para mostrar-lhe a seriedade do trabalho.
Sim: o probatório é um grau que serve de prova; que contém prova para aqueles que desejam entrar pela porta da escola, enfrentando lealmente as próprias limitações – não para os covardes, os desonestos, os comodistas que tiram os diplomas pelos fundos, a um preço “X”, iludindo-se a si mesmos e conservando-se na ignorância estagnadora.
A vida é um convite de subida, para descortinar horizontes mais largos, visões mais amplas. Mas cobra o preço do esforço da subida.
Quem não quer pagá-lo tem o direito de permanecer nas fraldas escuras da montanha, de mãos estendidas, a pedir luz, que ninguém lhe pode dar.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1976)
Como um Sistema Solar vem à existência?
Pergunta: Como o Sistema Solar vem à existência?
Resposta: Em harmonia com o axioma hermético “Como é o Macrocosmos, assim é o Microcosmos”, os sistemas solares nascem, morrem e renascem em ciclos de atividade e repouso, tal como acontece com o ser humano e com os seres de todos os reinos da natureza.
Pergunta: Como e por que um Sistema Solar é criado?
Resposta: No começo de um Grande Dia de Manifestação, um Grande Ser (designado no Mundo Ocidental pelo nome de Deus) limita-se a uma certa porção do espaço, objetivando criar um Sistema Solar para evoluir e expandir sua consciência.
Pergunta: O que se sabe a respeito da vida interna de Deus?
Resposta: Deus inclui dentro de Si hostes de gloriosas Hierarquias, de incomensuráveis poder e esplendor espirituais. Elas são o fruto de manifestações passadas desse mesmo Ser, que inclui em Si mesmo outras Inteligências em graus descendentes de evolução. Estas ainda não atingiram um estágio de consciência adiantado quanto o alcançado pela nossa humanidade. Dessa forma, aqueles não estarão em condições de completar sua evolução neste sistema.
Pergunta: Que trabalho específico executam esses seres?
Resposta: Aqueles que, em manifestações anteriores, adquiriram um mais elevado desenvolvimento operam sobre aqueles que ainda se encontram em graus de Consciência inferior. Induzem-lhes um estado de consciência, a partir do qual poderão, ao longo de um certo tempo, agir por conta própria.
Pergunta: Quando esses seres começam o seu trabalho?
Resposta: Todos esses diferentes seres não iniciam suas evoluções nos primeiros estágios de uma nova manifestação. Alguns aguardam o estabelecimento de condições favoráveis por parte daqueles que os precederam. Tudo se processa lenta, mas segura, correta e irreversivelmente.
Pergunta: Tomando como base o que já foi dito, como podemos comparar esse processo cíclico com a vida tal como a conhecemos?
Resposta: Assim como há estágios progressivos na vida humana — Infância, juventude, maturidade e velhice — assim o macrocosmos passa por fases cíclicas correspondentes aos vários períodos da vida microcósmica.
Pergunta: Quanto tempo esses Seres superiores trabalham sobre aqueles de consciência inferior?
Resposta: No princípio, os seres superiormente evoluídos trabalham sobre aqueles que possuem um maior grau de consciência. Depois voltam-se para as entidades menos desenvolvidas, porém em melhores condições. Por fim, a consciência própria é despertada e a vida evolucionante torna-se humana.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/73 – Fraternidade Rosacruz – SP)
As Verdades Espirituais nos Mitos Antigos
No Livro Mistérios das Grandes Óperas, de Max Heindel, lemos: “Temos dito frequentemente, em nossas publicações, que um mito é um símbolo velado, contendo uma grande verdade cósmica, um conceito que difere radicalmente daquele que é geralmente aceito. Tal como apresentamos às nossas crianças livros em quadrinhos para transmitir lições que estão além de seu entendimento intelectual, assim os grandes Mestres deram à humanidade em formação esses símbolos. Dessa forma, de uma maneira inconsciente, uma apreciação dos ideais apresentados tem se gravado em nossos veículos mais sutis.”
O desenvolvimento espiritual, o progresso e a evolução requerem um esforço constante na consecução de objetivos maiores e ideais mais elevados do que aqueles que já alcançamos. A complacência e a satisfação própria não devem ter guarida na vida do aspirante espiritual. Assim como a verdade espiritual é eterna, igualmente eterna deve ser a busca daquela verdade.
Na busca da verdade deve haver uma mudança contínua, ou, mais precisamente, uma transformação. Tais mudanças não podem, todavia, acontecer repentinamente, do nada. Deve haver sempre o tempo de preparação que precede a mudança em si. As mudanças das quais falamos não devem ser mentalizadas como meramente alterações nas condições exteriores e circunstâncias, mas também como modificações ocorrendo dentro do próprio ser humano: modificações em seu estado de consciência, em seu nível de percepção, em seu grau de entendimento e compreensão, em sua capacidade de dirigir e controlar certas forças, e assim por diante.
Uma das vias de preparação através das quais o ser humano é conduzido a reconhecer e participar das mudanças que marcam seu progresso evolucionário é a mitologia. A mitologia está para a verdade espiritual na mesma relação que o corpo está para o Espírito. Em cada caso o primeiro é o traje que reveste o último.
No passado, quando o ser humano estava mais relacionado aos mundos espirituais do que atualmente, era igualmente consciente das forças espirituais que criavam as realidades que experimentava. Porém, essa percepção devia-se ao que podemos chamar de “uma consciência automática” — uma percepção que era recebida sem qualquer entendimento de seu significado ou participação autoconsciente em seu propósito.
Naquela época, as forças que trabalhavam através da humanidade conduziam o ser humano mais e mais em contato com o Mundo Físico que hoje conhecemos e no qual presentemente nossa consciência de vigília está focalizada. Em consequência, as verdades espirituais começaram a se revelar à sua consciência numa forma mais definida, ou seja, sua percepção das verdades espirituais começou a tomar forma em termos do Mundo Físico no qual estava cada vez mais vinculado. E estas formas tornaram-se símbolos das verdades que ele anteriormente percebia mais diretamente.
O Mundo Físico é um mundo de formas definidas. E formas definidas implicam em separatividade. A primeira manifestação da descida do ser humano para o Mundo Físico — de separatividade — foi a formação das raças, na qual agrupamentos humanos vivendo sob condições diferentes de clima e solo começaram a desenvolver características diferentes. Cada grupo começou a perceber as verdades espirituais em termos das condições peculiares que o cercavam e separavam dos demais. Dessa forma vieram à existência as muito diferentes mitologias, oriundas dessas diferentes culturas.
Não obstante a percepção da verdade espiritual aparecesse em diferentes roupagens, era ainda a mesma verdade essencial que se encontrava por detrás de todas elas. Essas verdades, falando ao ser humano através de seu mito, pareciam a ele mui real e viva, por mais absurda que possa parecer à nossa consciência moderna.
A consciência do ser humano atual não pode aceitar uma interpretação literal dos mitos antigos, como queremos crer que seres humanos daqueles tempos antigos faziam. Pode ser ainda que nem o ser humano da antiguidade acreditava em seus mitos no sentido literal, como imaginamos que ele cria. No entanto, acreditava na realidade literal que animava aqueles mitos. Todavia, ele não admitia isso. Tal ocorria devido a que ele ainda vivia a maior parte do tempo num estado de consciência automática que lhe permitia perceber e participar de uma coisa sem ter um entendimento consciente próprio da mesma.
Os requisitos que se apresentam ao ser humano moderno são de ordem bem diferente. A consciência automática deve ser descartada em favor de uma consciência própria, plena, vigilante. Somente dessa maneira o ser humano se capacitará a compreender a verdade que percebe, e, por meio dessa compreensão, se colocar numa posição de adquirir domínio de si mesmo e se tornar o dono de seu destino.
Essa transição de estado de consciência não ocorre de uma vez, e, nesse entretempo é possível que muitas complicações se apresentem. Quando ocorre a perda da consciência automática, então, e somente então, surge o perigo de que o ser humano comece a acreditar numa interpretação literal de seus mitos. Nesse ponto podem acontecer duas coisas. Uma consciência que começa a demandar mais e mais entendimento e explicação daquilo que percebe pode rejeitar os mitos que uma vez lhe falaram por causa do agora aparente absurdo. Ou, tornando-se incapaz de distinguir entre a roupagem exterior de um mito e a verdade interna que ele contém, alguém pode também se tornar incapaz de distinguir entre símbolos e realidades.
A tarefa que, hoje em dia, o ser humano enfrenta é a de apanhar a verdade espiritual direta e conscientemente onde ele antes apanhava indireta e automaticamente. Um estudo da mitologia pode auxiliá-lo a fazer isso, se ele a encarar da maneira apropriada. Cabe-lhe deixar de pensar nos mitos como coisas de mera curiosidade ou encantadores pequenos exemplos da ignorância dos povos antigos e pré-históricos. Deve reconhecer que há uma verdade espiritual que permanece atrás e constitui a origem de um mito, da mesma forma como há um ser espiritual como origem do corpo físico. Então, plenamente consciente, deve-se esforçar para perceber o que é aquela verdade espiritual que em outras idades lhe falava automaticamente. Com essa convicção vem o conhecimento, e desse conhecimento pode se desenvolver uma força que é a alma daquele mito. De forma idêntica, a alma do ser humano é criada por seu Espírito, trabalhando através de seus três diferentes veículos: os Corpos Denso, Vital e de Desejos.
Quando efetivamente chegamos a um entendimento lúcido das verdades espirituais contidos em certos mitos, isso produz um efeito sobre nossa consciência, difícil de explicar. É semelhante ao que experimentamos quando encontramos novamente um ser querido ou um amigo chegado, para nós desaparecido por muitos e muitos anos. O processo de amadurecimento que ambos atravessaram torna o reatamento muito mais agradável e possibilita a cada um compartilhar com o outro de uma maneira mais completa do que antes. Em cada um uma apreciação mais profunda em relação ao outro é despertada.
Acontece o mesmo com o ser humano e seus mitos. Esses mitos têm estado perdidos para ele por um longo tempo. E ele agora readquire algumas de suas forças e beleza, como uma criança em sua fascinação com contos de fada. Mas quando alcança uma compreensão autoconsciente de seus significados, esses mitos lhe falarão novamente. Esse novo relacionamento não é meramente uma continuação da mesma coisa que experimentou no passado, mas é a complementação de alguma coisa que não havia se completado naquela ocasião. As impressões que a mitologia causou em nossas vidas há tempos ressuscitarão para uma nova vida, na qual o ser humano, o microcosmo, pode ser auxiliado a encontrar o seu caminho de volta ao macrocosmo, plenamente consciente.
Naturalmente, devemos reconhecer que muitos mitos, da forma em que nos chegam, são uma corrupção de sua verdade, causada pela interferência de nossa consciência automática. Isso, porém, não deveria fazer com que desprezássemos seu valor integral.
Na Mitologia Grega encontramos a estória de Prometeu e Hércules. Prometeu era filho dos parentes de Titã e ele próprio era considerado como um Titã. Era campeão do ser humano e antagonista de Zeus, o chefe dos deuses, a favor do ser humano. Falava-se que ele havia moldado o ser humano da argila e muitas das artes da civilização eram atribuídas a ele. A dádiva com ele sempre associada é o fogo, que roubou do céu numa haste de cânhamo e trouxe à terra. Prometeu também enganou a Zeus na aceitação da pior parte nos sacrifícios que o ser humano oferecia aos deuses. Em punição a tudo isso Zeus confinou Prometeu ao pico de uma montanha e mandou uma águia para devorar seu fígado. Depois de idades de sofrimento Prometeu foi finalmente libertado por Hércules.
Hércules era filho de Zeus e Alomena, um deus e uma mortal. Foi o mais renomado dos matadores de gigantes e monstros — um aventureiro e irrequieto batalhador, que realiza façanhas aparentemente impossíveis. Embora Hércules participasse praticamente de qualquer espécie de aventura concebível, as mais importantes, além de libertar Prometeu, foram seus doze trabalhos.
Os mitos relacionados com Prometeu e Hércules são de especial importância aos estudantes dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, pois falam do relacionamento de Lúcifer e Cristo com a evolução espiritual da humanidade.
A estória de Prometeu é a estória de Lúcifer, que, em desobediência ao mandamento de Jeová, despertou prematuramente no ser humano uma consciência de sua força criadora. Induziu o ser humano a se rebelar contra a diretriz de Jeová, impondo-se-lhe ser “como deuses, conhecendo o bem e o mal.” O elemento de ferro no sangue foi também introduzido por Lúcifer, capacitando o ser humano a produzir sangue quente no corpo, tornando-se um Espírito interno. Lúcifer trabalha no ser humano através de um dos três segmentos do cordão espinhal, representado pela haste de cânhamo, e incita suas intensas paixões, representadas pelo elemento “fogo”.
Dessa maneira, Lúcifer tem assumido um papel importante na criação do ser humano como ele hoje existe. Efetivamente, muitas de nossas mais valiosas posses devem-se à sua influência, seja em seu todo ou em parte. Entre elas incluem-se o cérebro e a laringe, a habilidade de pensar e adquirir conhecimento independentemente, a capacidade e a inspiração para conquistar o mundo material e a eventual habilidade de se tornar participante consciente nos mundos espirituais.
Em certo sentido, portanto, deve-se agradecer a Lúcifer pelo que tem feito por nós. A desobediência, todavia, tem seu preço, e, ambos, Lúcifer e o ser humano, têm tido o que pagar. O ser humano, através das penas e sofrimentos, da dor e das lutas, pelo mau uso de seu conhecimento e de sua força criadora, despertados e estimulados por Lúcifer. Lúcifer tem de pagar através da perda de sua liberdade e subsequente dependência do ser humano. Ele evolui através da intensidade de sentimento, que só pode provocar através do ser humano. Dessa maneira, tenta nos conduzir às profundezas de nossas emoções. E, se nos permitimos que estas vivifiquem nossos desejos e paixões inferiores, então ambos, ele e nós seremos arrastados para dentro da cova. Porém, se nos afirmamos e lhe permitimos somente intensificar nossas mais refinadas e edificantes emoções, então estaremos conquistando a redenção, tanto de Lúcifer como da humanidade.
A perda da liberdade de Lúcifer é simbolizada por Prometeu sendo acorrentado no pico da montanha. A águia, um símbolo do Signo zodiacal Escorpião, que rege a força criadora no ser humano, devora o fígado de Prometeu. O fígado é a raiz da ligação entre o Corpo Denso e o Corpo de Desejos. Assim indica-se que a redenção de Lúcifer e o fim de sua influência negativa sobre o ser humano só podem se efetivar mediante a purificação e o controle de nossas emoções.
Com sua própria força, todavia, a grande maioria da humanidade é incapaz de transformar a influência negativa de Lúcifer num fator para o bem. Portanto é necessário dar-lhe alguma espécie de auxílio. E esse auxílio veio com Jesus Cristo.
Recordamos que Hércules nasceu de seres divinos e mortais, indicando a natureza composta de Jesus Cristo. Cristo é o mais elevado Iniciado dos Arcanjos, o Espírito Solar, pela Palavra do Qual todas as coisas de nosso sistema solar foram criadas. Jesus foi o mais nobre e puro ser humano disponível na ocasião do advento de Cristo. Foi, portanto, escolhido como o veículo através do qual Cristo se manifestou na Terra durante Seus três anos de ministério como Jesus-Cristo, do batismo à crucificação.
Durante Sua curta permanência na Terra, usando um corpo humano, Cristo foi capaz de passar e sobrepujar todos os diferentes males e tentações aos quais o ser humano está sujeito. Isto é simbolizado pelos doze trabalhos de Hércules, que representa toda a variedade de experiências que sobrevêm ao ser humano através dos doze Signos do Zodíaco. Passando através do Mistério do Gólgota, Ele nos deu o poder de também ultrapassar todos esses males e tentações. Dessa maneira, através do poder de Cristo, podemos vencer o mal com o bem, para a redenção da humanidade e de Lúcifer. Assim é que Hércules finalmente consegue libertar Prometeu e terminar seu sofrimento.
Muitos mitos e lendas contam essa mesma estória. Portanto, há uma lista de muitos lideres e mestres espirituais que padronizaram suas vidas com base nessa estória. Se não aprendemos a distinguir o símbolo da realidade, é possível incorrermos em grande erro. Esse erro é acreditar em que a vida de Jesus Cristo é apenas uma outra vida padronizada nessa mesma arquetípica estória, nada tendo de peculiar que O distinguisse dos outros de uma categoria idêntica.
A verdade é que a vinda do Cristo se constituiu no único e maior evento na história espiritual da humanidade. Todos os mitos, lendas e vidas de seres humanos de poder espiritual que precederam a Cristo serviram para preparar a consciência humana para aquele evento; apenas anteciparam um vislumbre daquilo que viria. Em Cristo temos aquilo que foi enunciado; temos a realização daquilo que foi preparado. Em Jesus Cristo temos a verdadeira presença de Deus na Terra; a presença do Criador em Sua Criação. Todos os que vieram antes foram apenas Seus servidores. Todos os que vierem depois, seguirão Suas pegadas.
Portanto, se somos capazes de perceber corretamente isso dentro de nós mesmos, reconhecemos que certos mitos, lendas e vidas de seres humanos de poder espiritual prepararam o ser humano para entender essa verdade: “que ante o nome de Jesus Cristo todo joelho se dobra e toda boca deve confessar que Jesus Cristo é o Senhor, para a Glória de Deus Pai.”
(Traduzido da Revista Rays from The Rose Cross e Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977)
Descanso: o que é e o que não é
Muitas definições da palavra descanso se encontram nos dicionários. As duas mais comuns são: repouso ou refrigério do corpo devido ao sono, e parada ou interrupção do movimento do labor, quietude, tranquilidade. Outra definição que à primeira vista engloba as outras duas, mas que também pode ser entendido em um sentido de atividade é: liberdade de qualquer coisa que disturbe ou moleste a paz da mente ou do espírito.
O sono é essencial para todos, já que somente por meio do sono é que as substâncias do Corpo Denso são reconstituídas e recobram o ritmo. O sono, contrariamente à ciência popular, é um momento de intensa atividade. O Ego leva o veículo mental e o Corpo de Desejos ao Mundo do Desejo, deixando o Corpo Denso e Vital para trás. Como as vibrações harmoniosas do Mundo do Desejo fluem através da Mente e do Corpo de Desejos, o ritmo e a harmonia desses veículos são gradualmente restabelecidas. Os veículos superiores banham-se na essência de desejo e quando estão completamente fortalecidos começa o trabalho no Corpo Vital. Depois o Corpo Vital, usando a energia solar, remove todos os resíduos acumulados durante o dia no Corpo Denso e o reconstrói: como resultado, teremos um corpo fresco e vigoroso pela manhã quando o Ego entra nele no momento de despertar. Se essa atividade não tivesse acontecido, nos sentiríamos fatigados quando despertássemos, como quando no momento em que adormecemos, e nossos corpos físicos logo se inutilizariam.
Uma distinção entre descanso e sono é feita no Conceito Rosacruz do Cosmos, onde lemos: o descanso não é nada em comparação com o sono. É somente quando os veículos superiores estão no Mundo do Desejo que há uma total suspensão de desgaste e influxo de força regenerativa. É verdade que durante o descanso o Corpo Vital é obstruído em seu trabalho pelos tecidos que estão sendo danificados pelo movimento e os músculos tensos, mas, no entanto, deve lutar com o gasto de energia do pensamento e por isso recebe a energia recuperadora do exterior do Mundo do Desejo durante o sono.
Por isso vemos que o sono é absolutamente essencial para a supervivência de nossos Corpos Densos e que nenhuma quantidade de atividade calma, leitura ociosa é substituto adequado.
A atividade restabelecedora do sono tem lugar de uma maneira fácil e com êxito quando o Ego se comportou de uma maneira limpa e consciente durante o dia. Se obedeceu a lei natural e os ditados do sentido comum para cuidar de seu corpo físico, se seus pensamentos foram bons e amorosos e seus comportamentos altruístas, os veículos superiores, rapidamente restabelecidos, serão capazes de fazer seu trabalho sobre o Corpo Vital. Dessa maneira tampouco haverá problema em revitalizar o corpo físico.
Se, pelo contrário, o Ego caiu em comportamentos viciosos, ou excesso de alimento ou bebida, se teve sentimentos como o medo, ressentimentos e repugnância, a desarmonia em todos os veículos é tão grande que o restabelecimento, às vezes, não pode ser completo. Se caiu em emoções baixas, leva muito mais tempo retomar os veículos mentais e de desejo a um estado no qual possa trabalhar sobre o Corpo Vital. Dessa maneira, o trabalho no corpo físico também se atrasa e pode não estar terminado pela manhã.
Até se as aberrações fossem puramente físicas, os 4 veículos estariam em relação entre si, o que afeta a um, afeta a todos, e o restabelecimento não se faz.
É por isso que muitas vezes despertamos com certo mal-estar, envenenamos de tal forma todo o sistema que não é possível fazer o ajuste necessário.
Por razões puramente físicas, tanto como por razões espirituais, vemos quão importante é levar uma boa vida, moderada, dedicada aos demais. Com referência à segunda definição que tem a conotação de paralisação de movimento e o restabelecimento de tranquilidade e quietude, concluímos que certamente tem seu lugar em nossa rotina diária. O labor físico pode ser sustentado somente por um certo período, depois do qual o corpo deve ter um período de inatividade.
A quietude e a tranquilidade, entretanto, não são sinônimos. Todos conhecemos pessoas que desejam servir aos demais por causa da fadiga. Ao tratar de curar essa fadiga, no entanto, não tratam de dormir, o que lhes daria o restabelecimento que necessitam, mas gastam seu tempo em tarefas sem importância como assistir TV, beber coquetéis porque se estão relaxando ou a leitura de alguma publicação de mérito duvidoso, já que a cabeça não lhes dá para ler nada mais.
Essas atividades, no entanto, não lhes confere a tranquilidade desejada ainda que a pessoa possa pensar que o está fazendo.
Se a dor de cabeça resultante, a irritabilidade ou qualquer outra reação não agradável ao seu comportamento improdutivo servem ultimamente somente para fazer a pessoa se sentir pior do que estava antes geralmente a vemos no dilema de “Estou tão cansada, mas não fiz nada”.
Enquanto o corpo físico descansa, os demais veículos podem utilizar-se de algo produtivo. Às vezes, o pensamento é mais produtivo quando o corpo está inativo, depois de um período de movimento intenso.
Muitas espécies de serviços podem ser prestadas em uma posição sedentária. A boa literatura e a música clássica são boas alternativas para abandonar as revistas e a chamada “música popular”, pois têm um efeito mais desejável sobre o Ego e os veículos superiores.
Também a atividade mental intensa deve ser seguida por um período de relativa quietude para a Mente. Esse período também não necessita ser improdutivo. A Mente pode descansar enquanto o corpo se exercita nas tarefas da casa, no jardim, esportes ao ar livre. O que é descanso para um veículo geralmente significa necessidade de estimulação para outro.
Por isso, o pior que podemos fazer, depois de um dia sedentário de trabalho, é nos pormos a fazer algo similar ao chegarmos em casa.
Nossos veículos requerem uma mudança de ritmo periódica de modo que possam manter uma interação harmônica entre eles.
Para manter essa harmonia, a essência da terceira definição deve encontrar-se em tudo o que fazemos.
A paz mental é o ingrediente principal que deve encontrar-se como base de todas as atividades que fazemos se formos fazê-las o melhor possível. Esse estado do ser pode ser comparado com o equilíbrio que o estudante deve ter e cultivar. Se carecemos dessa quietude, a tranquilidade não pode penetrar totalmente em nenhum dos veículos.
Muitas pessoas se dedicam a atividades que ao contrário do que elas esperam, não as relaxam.
Uma tarde em um restaurante com amigos comendo alimentos saudáveis pode ser um momento de distração e um bom descanso depois de um dia de trabalho.
Uma tarde bebendo e dedicada a entretenimentos duvidosos que se continua até altas horas, com ideia que se trabalhamos muito, devemos nos divertir muito, leva a uma eficiência reduzida no dia seguinte e não a uma paz interior, não importa o quanto a pessoa esteja se divertindo. Essa espécie de relaxamento leva-o a uma desarmonia completa.
Paz mental não se consegue com a inatividade, na realidade essa produz o efeito contrário. Essa paz se consegue realizando atividades que estejam de acordo com a lei natural, benéfica aos demais e que desenvolvam nossas qualidades espirituais.
Se vivemos a vida recomendada na Filosofia Rosacruz, teremos paz mental, não importa o quão ocupado que estejamos.
O descanso será necessário, mas será de natureza produtiva e nunca deixaremos de crescer e aprender. Ademais, desenvolveremos uma força interior não conhecida até agora, que nos possibilita fazer uma obra maior sem a necessidade de descanso.
Se vivemos uma vida indulgente e egoísta, concentrando nossos esforços só no que nos agrada e depreciando a ética espiritual, nos encontraremos permanentemente em uma situação de discórdia interna na qual teremos altos e baixos de humor. Nenhuma quantidade de descanso concentrado em tarefas improdutivas nos curará disto.
O tipo de descanso que assegura a tranquilidade espiritual deve ser de natureza tão positiva como o trabalho que nos conduz a essa meta. Não podemos dividir nossas vidas de maneira que nosso trabalho e descanso não tenham nenhuma relação um com o outro. Tampouco podemos pretender que o que fazemos em nossos momentos de descanso não tenha nada a ver com nossa natureza total.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – jul/ago/87)
Pergunta: Quando oramos para o Cristo as nossas preces realmente o alcançam, ou são respondidas, ou recebidas por um ser menos elevado?
Resposta: Aprendemos nos Ensinamentos Rosacruzes que uma das funções do grande Ser ao qual conhecemos como Cristo – o maior de todos os Arcanjos, o mais elevado Iniciado do Período Solar, o Deus-Filho -, o Espírito Planetário da Terra, é de impregnar nosso Planeta com Sua vida e abastecer a atmosfera com Suas vibrações espirituais, para estimular a humanidade na sua evolução espiritual.
Há uma ligação direta entre cada indivíduo disposto a Viver uma Vida seguindo os Seus ditames e o Espírito de Cristo.
Essa ligação é mantida pela formação do Corpo-Alma, o veículo composto pelos dois Éteres Superiores do Corpo Vital (o Éter Luminoso e o Refletor).
O Corpo-Alma é o produto do altruísmo, do serviço, da pureza e da aspiração espiritual. Os Éteres que o compõem estão em correlação direta com o Mundo do Espírito de Vida, o lar espiritual do Cristo (onde ele trabalha e vive cotidianamente, como nós, quando renascidos aqui, vivemos cotidianamente no Mundo Físico).
Dessa forma o Ego que consegue constituir o seu Corpo-Alma liga-se em correlação direta com o Espírito de Cristo.
Quando oramos para o Cristo, oramos, na realidade, ao Espírito de Cristo dentro de nós, o segundo aspecto do Tríplice-Espírito, ou Ego Superior.
A oração evoca, às vezes, a ajuda de Seres Superiores, que vem auxiliar a pessoa suplicante.
Devemos lembrar, porém, que a oração científica consiste de glorificação e adoração.
Como disse Max Heindel: “Quando oferecemos orações de agradecimento e louvor, colocamo-nos numa posição favorável em relação à Lei de Atração, e estamos num estado de receptividade que permite que possamos receber uma maior dádiva do Espírito do Amor e da Luz”
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de Novembro/1974)
Não tem escapado à observação de Estudantes, simpatizantes e pessoas ligadas à Fraternidade Rosacruz a nossa despreocupação em arregimentar a qualquer custo grande número de prosélitos. Há quem diga que uma propaganda em massa faria, inevitavelmente, nossas salas de reuniões lotar, ensejando, além disso, um consumo sem precedentes de livros e publicações Rosacruzes.
Por uma questão de coerência com os nossos próprios Ensinamentos recusamo-nos terminante e conscientemente a lançar mão de propagandas que envolvam o espetacular e o emocional. Não utilizamos “iscas” na forma de psiquismo sensacionalista. Não prometemos mundos e fundos. Aos desejosos de filiar-se à Fraternidade, oferecemos apenas os Ensinamentos Rosacruzes, além da orientação e do ideário por eles encerrados. Todas as outras conquistas decorrem do mérito reunido pelo aspirante na superação do “eu inferior”.
É um problema individual e interno. Aos relutantes em admitir essa verdade, Max Heindel responde: “Só a persistente paciência em fazer o bem qualifica o Aspirante aos degraus da Iniciação”. E nós acrescentamos: esse “fazer o bem” tem um sentido bem amplo. Não implica somente beneficiar a outrem, mas também a si próprio pela autodisciplina, purificação dos sentimentos e pensamentos etc.
Francamente, considerando o estágio espiritual em que se encontra a humanidade, não acreditamos na possibilidade de, atualmente, a Filosofia Rosacruz atrair grandes multidões. Quem deseja melhorar-se interiormente? Quantos se acercam das Escolas Ocultistas com honestidade de propósito?
Só motivações de ordem externa empolgam as massas. Se acenássemos com fenômenos, enigmas envoltos no véu do mais profundo mistério, iniciações fáceis ou voos anímicos, atrações tão ao gosto da curiosidade popular, por certo atrairíamos muitas pessoas; todavia, quedariam, mais tempo, menos tempo, decepcionadas, porque suas pretensões ilusórias, somadas a uma visão caricata do verdadeiro espiritualismo, não resistiriam ao crivo austero do método Rosacruz de desenvolvimento.
A verdade nua e crua é que muitos seres se alentam ao aproximar-se das Escolas Filosóficas, e mesmo das religiões, com o intuito egoísta de resolver seus problemas mundanos relacionados, via de regra, ao amor, dinheiro e saúde; quando não, por mero diletantismo. Descuram-se de procurar em si mesmos a tão ansiada solução, configurada internamente como autorregeneração e observância às Leis Divinas.
Poucos se dispõem a assumir responsabilidades, tornando-se condutores de si próprios. É mais cômodo delegá-las a “mestres”, “guias”, “líderes”, eternas “muletas” de quem detesta um mínimo de esforço.
Essa posição de comodidade contraria frontalmente o método Rosacruz, basicamente aquariano, por almejar, desde o início, libertar o aspirante de toda e qualquer influência externa, tomando-o confiante em si mesmo, no mais alto grau.
As multidões, ainda nos dias de hoje, procuram ansiosamente por líderes, de preferência carismáticos, prontos a dirigi-las, comandá-las, determinar-lhes o caminho. Bebem e embriagam-se de palavras grandiloquentes. Arrebatam-se com frases de efeito, com o magnetismo derramado da retórica pomposa, do sofisma traiçoeiro e de elogios nem sempre sinceros. O líder diz exatamente aquilo que a multidão deseja ouvir.
Na Fraternidade Rosacruz não há líderes. Nem o seu fundador pretendeu essa investidura. Ele, um Iniciado de caráter nobre, forjado no sofrimento e na compaixão, foi apenas um orientador sábio e amoroso. Pautou sua conduta pelo respeito ao livre-arbítrio do seu semelhante. Jamais andou à cata de encômios e reconhecimentos. A dedicação e o sacrifício que o consumiram, a simplicidade que lhe era peculiar e seu exemplo edificante constituem uma inesgotável fonte de inspiração. Vislumbramos nosso roteiro e encontramos nossa vocação espiritual nestas suas lapidares palavras: “Cada um, movido pelo Espírito do Amor Interno, deve trabalhar sem lideranças pela elevação física, moral e espiritual da humanidade, à altura de Cristo, o Senhor e a Luz do Mundo”.
Todas as atividades desenvolvidas no seio da Fraternidade Rosacruz revestem-se de um sentido estritamente impessoal. O desejo de servir constitui o móvel de toda a ação, mantendo-se como ponto de honra a renúncia aos apelos da personalidade. A única recompensa aspirada é receber novas e maiores oportunidades de colaborar.
O exposto esclarece por que o número de Estudantes Rosacruzes ainda não é tão grande como muitos desejam que fosse. Mesmo que centenas ou milhares de pessoas acorram à Fraternidade, nela apenas a minoria permanecerá. E ainda assim, alguns desistem no meio do caminho. Nem todos estão amadurecidos para encarar a luz radiante do Cristianismo Esotérico.
Apesar das dificuldades, o número de Estudantes vem crescendo consideravelmente e o consumo de algumas obras está a exigir novas edições. Muitos jovens nos procuram. Grupos de Estudo estão se formando. Novos colaboradores estão engrossando nossas fileiras. Temos boas razões para confiar no futuro da Obra.
Consta de nossa programática difundir a Filosofia Rosacruz através dos modernos meios de comunicação. Aliás, já o fizemos algumas vezes. Porém, agora, como nas oportunidades anteriores, nosso procedimento assentar-se-á no critério de divulgar sem objetivar proselitismo. Além disso, nós, os Estudantes, poderemos nos tornar os maiores e mais eficientes divulgadores da Filosofia Rosacruz, por meio de uma vida exemplar cuja ressonância superará as mais comoventes e eruditas palavras.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1975)