Onde Havemos de Nos Encontrar
(O Eu Superior falando para o Eu Inferior, dentro de nós)
Escuta-me! Por que havemos de continuar estranhos, um ao outro, por mais tempo? Por que duvidas de Mim, do Meu Amor e de Meu cuidado por Ti?
Aprende a ver-Me e ouvir-Me em tudo que te rodeia. Sente a Minha proximidade, cada vez que pulsa o teu coração! Vê! Estou em ti e desejo que Me conheças.
Desde longo passado tens vivido em obscuridade, separado de Mim em teus pensamentos conscientes. Não te condeno por isso; o que chamas de erros é para Mim o processo pedagógico empregado pela Vida para desenvolver-te e tornar-te consciente de Minha Vida, Sabedoria, Alegria e Paz.
Condenas-Me em muitas coisas porque não vês nem compreendes o objetivo com que tudo faço. Quando vires como vejo, não mais Me condenarás, pois todas as coisas agem conjuntamente com o bem consoante Minha vontade.
Se pudesses encontrar-Me agora, condenar-Me-ias severamente por muitas coisas. Mas quando puderes encontrar-Me já não o farás, porque tua Mente se iluminará. Por ora, procura não ofender-Me nem condenar-Me: é-te conveniente, para que não sejas medido com a medida que medires. Sê prudente, a fim de não prejudicares teu normal desenvolvimento anímico.
Sou Amor e te amo. Não compreendes porque deturpaste o sentido de amar. O porque é justo; não para punir-te, senão teu amor é egoísta; o meu é perfeito.
Vejo que sofres e não te livro disso porque é o único meio de desenvolver-te, por enquanto.
A ignorância não te permite concordar comigo: tuas blasfémias não me comovem. Não há outra forma, até que aprendas e te ilumines e te unas a Mim. Tu criaste as trevas dentro de Minha Luz: o desânimo dentro de minha Vontade; o sofrimento dentro de minha Harmonia. Permito isso para que aprendas a conquistar e a viver conscientemente na Luz. Sabes que em nenhum outro lugar tantos Me encontraram como na Câmara do sofrimento, no leito da aflição e numa profunda obscuridade? Assim, enquanto não estiveres preparado, terei de manter-te nesses lugares, para que neles Me encontres.
Não podes prescindir de Mim porque sou tua vida e meu reclamo é tal que não encontrarás sossego enquanto não me encontrares. Procuro-te porque te amo.
Marquei nosso encontro na tristeza, sofrimento e escuridão, embora fujas dele com desespero. E como não te manténs tranquilo ali, não Me podes encontrar, para liberar-te de vez. Como faremos então, se ainda os únicos lugares de encontro são os que consideras maus? Onde desejas encontrar-Me não posso estar, pois na prosperidade, na alegria, o teu “eu” ocupa o teu trono e não me dá oportunidade de manifestação. Vês como tenho razão?
Aceita, pois, voluntariamente, o lugar de encontro, até que tenhas condições de encontrar-Me e de entronizar-Me nos momentos felizes. Então, sim! Eu e tu nos tornaremos unos, poderemos encontrar-nos em todos os lugares e condições, pois deixarás de ser o “eu” para seres EU SOU. Passando para o lado real da Vida, teu “eu” perderá a realidade que possuía no lado oposto ao dos sentidos.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 5/72 – Fraternidade Rosacruz – SP)
“Por Seus Frutos os Conhecereis”
Nem sempre a criatura humana é realmente aquilo que pensa ser ou que deseja ser.
Há muito de engano ou de ingenuidade entre a verdade e as supostas verdades, com as quais nos revestimos.
Muitas vezes não é por maldade que uma pessoa procura aparentar o que não é, mas pelo desejo de parecer melhor aos olhos dos outros, porém isso não deixa já de ser um princípio de virtude, pelo menos uma tentativa de virtude, consciente ou não. Porque até o falso, aquele que finge e engana os incautos, ele está tangendo o bem ao procurar parecer um ser humano bom. Verdade que se o fizer em prejuízo alheio, a dívida que fará diante da verdade será bem grande e em encarnações futuras terá que resgatá-la, respondendo dolorosamente pelo seu procedimento de agora.
Entretanto, o fato de fingir-se melhor, se o indivíduo não é um degenerado, este fato vai estabelecer um contato da criatura de má-fé com a verdade, dando-lhe alguma possibilidade para o bem. Acontece, porém, que se aquela alma começa a perceber a luz, sua obrigação muda para com a vida. Uma vez compreendendo ou sentindo já seus erros, sua obrigação é deixar de errar. O destino do reincidente é muito doloroso quando erra conscientemente.
Quem persiste no erro, já tendo vislumbrado a verdade, quem se acomoda às circunstâncias porque já está acostumado a elas, quem não se «esforça para progredir quando já compreende um pouco o progresso, essa pessoa tira de si a oportunidade de progredir, cristalizando suas próprias possibilidades. Para quem já viu um pouco da Luz, é dever voltar-se para ela e esforçar-se para disciplinar seus negativismos, tornando-os em virtude.
E isso não é difícil. Muitas vezes mesmo, forçando um sorriso num momento amargo, o gesto de flexionar os lábios para disfarçar a mágoa, pode acabar exercendo influência na própria mágoa, desfazendo-a. Obrigue-se a sorrir que você acabará esquecendo seus dissabores e todos lhe sorrirão. No fim, acabamos sendo sinceros em nossa alegria e as tristezas se dissiparão.
O essencial em tudo é a sinceridade. Sinceridade de propósitos e de ações. Pode-se cair muitas vezes, mas se formos sinceros em nosso desejo de melhorar, levantaremos cada vez na certeza de que poderemos acertar sempre mais e mais. Principalmente se formos perseverantes. De nada nos adiantará nos enganarmos, porque cedo ou tarde cairemos em contradição e nossos atos falarão por si. Cristo Jesus disse: “Por seus frutos os conhecereis”. Se formos sinceros conosco mesmos, se nos dedicarmos a uma vida Superior, apesar de o nosso corpo de desejos muitas vezes tentar trair-nos, com o tempo aprenderemos a andar no mundo e a não ser mais do mundo. Assim, seremos conhecidos pelos nossos frutos, podendo ajudar aos nossos irmãos com mais eficiência e sabedoria. Pois só nos elevando poderemos ajudar a elevar os outros.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 5/72 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Eu Te Amo
(O Eu Superior falando para o Eu Inferior, dentro de nós)
Eu Sou a Fonte, o Manancial, a Origem, e tu és a corrente ou Eu mesmo em ação. Tanto precisas de Mim para existir, como Eu de ti, pois, do contrário Eu permaneceria não manifestado.
Não me conheces ainda, tal como Sou, dentro de ti. Ainda acreditas em algo fora de Mim. Ainda temes e duvidas, porque não Me recebes nem confias inteiramente em Mim. Daí que Eu não possa expressar-Me através de ti, tal como Sou.
E quando não Me é permitido expressar-Me, como Sou, deixo de ser o que sou e Me torno desvirtuado para tua consciência. Quando estiveres bem amadurecido para a Minha Sabedoria e Amor, verás somente a Mim, pois sou Universal e Me encontrarás em tudo. Por isso, quem Me conhece, conhecerá também o Pai. Então já não me chamarás de bem ou mal, nem me condenarás ou dividirás em partes, a Minha natureza. Abrir-Me-ás inteiramente o coração, receber-Me-ás como tua Fonte; dar-Me-ás completa expressão; consagrar-Me-ás todo o teu corpo, mente e tudo o que em ti exista! Eu serei tudo direito e teu bem: não terás outro Direito nem outro Bem que não seja Eu. Abandonarás tudo o que, fora de Mim, te ensinarem a obedecer e adorar como bem e somente a Mim escutarás, à medida que Eu brotar dentro de Teu ser.
Terás, então, cumprido o mandamento: “Não terás outros deuses perante Mim”.
Minha Sabedoria tornar-se-á tua própria inteligência; Meu Amor será a tua realização; Minha Fé, tua força interna; Minha Paz, tua permanente satisfação. Então entrarás em Minha Alegria e Me permitirás viver para Ti, sem jamais pensares em viver fora de Mim.
A vida que levaste e ainda em grande parte levas, não é a Minha Vida. Não estou nela, pois falas e ages de acordo com o que não te dei. Formaste hábitos e te conformaste com regras e leis externas, feitas por tuas conveniências e vícios ou por outros em quem não vivo.
Percebes muito bem que não és completo como ente separado: por isso procuras apoio em valores externos, no intuito de conservar teus vícios. Teu coração, porém, não está nisso, porque Eu não o estou. Estabeleces contratos e fazes promessas que não podes cumprir.
Apegas-te pelos afetos a outros, para prendê-los a ti. Não podes ser livre, de modo que Eu te faça uma expressão de Minha vida, porque segues as leis de outros deuses.
O caminho que segues, leva-te à obscuridade e sofrimento. Definhas em insatisfações, por falta daquele Amor que só Eu te posso dar. Distingues pessoas e coisas e as tomas, exigindo que te amem e respeitem. Mas nisso te frustras, porque só o Meu Amor pode satisfazer-te inteiro o coração! Não me entristeço em ver-te fraco, desanimado e na escuridão, pois nessas condições que criaste é que um dia Me deixarás entrar, para viver Minha Vida em Ti.
Enquanto encontrares prazer e satisfação nos valores externos, não te farei receptivo ao meu Amor, nem serás guiado por Minha Sabedoria. Sigo-te de perto, embora, penses encontrar-te a sós. Tens escuridão porque desviaste teus olhos da Luz em que resido. Encontras-te em tua própria sombra e olhas para o espaço vazio à tua frente, esperando um meio de obter do exterior aquilo que te satisfaça os desejos. Mas todas as tentativas, nessa direção, resultarão estéreis. Sou a fonte de tua vida: enquanto não te dirigires a Mim, que vivo em teu íntimo, e não receberes de Mim a Água Viva, deixando-a livremente correr de ti para os outros que se encontram em teu caminho, encontrarás um terrível vácuo, que todo o mundo e suas atrações jamais poderão preencher.
Sou a Fonte que te moverá em todos os atos; o Poder que em ti produzirá a espontânea atividade; sou o Amor que te motiva e impele ao Conhecimento da Vida total.
Na infância de tua compreensão comecei a apelar-te pela criação de coisas que te causassem prazer. Dei-te os sentidos para apreciares as cores, as formas, o gosto, perfumes e sensações. Em tudo isso despertei-te puros desejos, a fim de te capacitar a receber-Me, quando chegasse o tempo de Me insuflar em ti.
Penetro todas as coisas que Eu crio e nelas permaneço: sou a Beleza, a Vida e o Espírito delas. Sou a Estética que nelas se compraz, pois Eu, em ti, nos outros e em todas as coisas, encontro prazer com o encontro e diálogo da Essência.
Coloquei-Te num corpo constituído de tal forma que, por meio dele pudesses tornar-te consciente de todas as coisas que criei e habito. Esse encontro produz a consciência. Tua visão do mundo formal e as divisões que conheces, é que te fazem parecer ente separado. Enganas-te Filho: esses meios servem a Meu propósito de aumentar a tua apreciação do que EU SOU, até que nos tornemos UM.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 4/72 – Fraternidade Rosacruz – SP)
A Oração
O tema é tão amplo, que talvez nunca possamos encará-lo sob todos os aspectos. Tão profundo que a maioria de nós não o alcança em toda a sua profundidade. Assim, seguindo o que Cristo falou, “orai incessantemente” queremos fazer o possível para que possamos dar subsídios para que todos consideremos a prece em seus mais variados aspectos, para que possamos realmente orar e orar incessantemente.
São Lucas, ao descrever a Transfiguração nos diz “Estando Ele orando, transfigurou-Se diante deles”. Parece-nos, pois, que o primeiro passo para que possamos nos transfigurar é orar. A transfiguração que podemos chamar de reforma íntima, começa com a prece. Somente orando, seja em que forma for: pensamentos, palavras ou ações conseguiremos nos transformar em melhores seres humanos.
Não são as fórmulas decoradas e ditas apressadamente que nos conduzem a Deus. Nem devemos pensar que orar é sinônimo de pedir e que a única finalidade da prece é contar a Deus das nossas necessidades ou agradecer os benefícios recebidos. É claro que Cristo ao dizer: “Pedi e recebereis para que vossa alegria seja completa”, se referia aos pedidos que fazemos a Deus para podermos solucionar nossos problemas espirituais ou matérias. No Pai Nosso que Ele mesmo ensinou também pedimos pelas mossas necessidades. Mas se somente fizermos isso, a nossa comunhão com Deus que é realmente a finalidade da prece estará apenas iniciando.
Mesmo se dissermos “Obrigado Senhor” por um benefício recebido, e ficarmos somente no “faça o favor e muito obrigado” estaremos somente tendo um contato com Ele que, mesmo sendo muito útil para nós, não permite um maior desenvolvimento espiritual.
Sabemos também que muitas pessoas não conseguem orar como gostaria, porque “o pensamento voa” e não lhe permite a tão sonhada devoção. E isso é muito mais comum do que se imagina. O pensamento abstrato para a maioria de nós requer muito treino e talvez nem consigamos atingi-lo nesta vida.
Mas se não sabemos rezar como gostaríamos de fazê-lo, como agir? A nosso ver, se começarmos a sentir realmente o que dizemos nos nossos rituais e em outras orações que fazemos, mesmo em se tratando de ORAÇÕES QUE SE SABE DE COR, aos poucos conseguiremos orar como realmente deve ser ungida do sentimento e amor. Também se nossa imaginação não estiver constantemente em movimento, planejando ou fazendo contas, focalizando fatos muitas vezes desagradáveis e nos dispusemos a ficar em silêncio e disponibilidade para ouvir o que nosso Cristo Interno tem a dizer estaremos orando. Se nos compenetrarmos realmente de que “o serviço amoroso e desinteressado é o caminho mais curto, mais seguro e mais agradável que nos conduz a Deus” e realmente nos preocuparmos em Servir, também estaremos orando. Podemos orar com nosso trabalho, se este for feito, digo, oferecido a Deus e feito com amor, dedicação e alegria. Aos poucos, se começarmos com boa vontade iremos aprendendo a orar incessantemente, uma vez que sabemos que a chave do Corpo Vital é a repetição e que se repetirmos coisas boas, principalmente se o fizermos conscientes e conscienciosamente aos poucos iremos nos desenvolvendo espiritualmente.
Não importa quanto tempo ou quantas vidas levemos para isso. Em toda a caminhada, por mais longa que seja, há um primeiro passo. Compete a nós darmos esse passo. E Deus que nunca falha, nos ajudará a aprendermos a rezar e a fazê-lo cada vez melhor até que toda nossa vida seja uma oração.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 03/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Uma Virtude Espiritual
Em primeiro lugar, lembremo-nos da afirmação categórica de Max Heindel: “É parte de nosso trabalho pôr em prática nossas próprias linhas de esforço tanto como indivíduos como associação”. Max Heindel mesmo, mensageiro autorizado da Ordem Rosacruz, disse que depois de ter vivido um curto tempo na Alemanha, quando recebeu as instruções básicas expostas no “Conceito Rosacruz do Cosmos”, recebeu pouca instrução de seu Mestre. Em verdade ele constantemente se perguntava se seria correto chamar de “Mestre” ao irmão Maior, já que este dava unicamente uma palavra ocasional de conselho, e na maior parte das vezes deixava-o resolver seus próprios problemas e à sua maneira. Se aconteceu a Max Heindel, quanto mais então a todos os estudantes!
Ninguém tomará decisões por nós; devemos nós próprios tomá-las, em cada trecho do Caminho. Isto significa que os Irmãos Maiores da Rosacruz deixaram a Max Heindel e aos estudantes a liberdade de levar adiante o trabalho segundo seu melhor juízo e opinião. Mais tarde, na aurora da Era de Aquário, explicou o sr. Heindel: aparecerá publicamente um Mestre para dar um novo impulso à Obra.
Entretanto, nos aproximadamente seiscentos anos que medeiam entre nós e a Era de Aquário propriamente dita, o trabalho preparatório seguirá adiante com as linhas básicas assentadas na Filosofia Rosacruz. É supremamente importante compreender que o estudante Rosacruz não está “sob obediência”, no sentido em que estão os monges da igreja e a maioria dos cultos orientais. Os Irmãos não temem nem condenam a liberdade intelectual, nem os erros que resultam de seu exercício. Por suposto, todos cometemos erros e alguns até sérios. Mas, é muito melhor cometer erros no exercício da divina liberdade do que seguir cegamente os passos do Mestre, ou instrutor – ainda que o Mestre em questão fosse um Irmão Maior da Rosacruz e sublime Hierofante dos Mistérios.
Max Heindel disse que a Fraternidade Rosacruz é uma “escola preparatória”. Obviamente chegará o tempo em que o estudante da escola preparatória se graduará entrando para um colégio ou universidade para o qual esta escola o preparou. No caso, a “universidade” é a Ordem Rosacruz nos planos internos, onde o candidato “cola grau” como lrmão ou Irmã Leiga. O sr. Heindel escreveu que a meta e o propósito do método Rosacruz de desenvolvimento é emancipar o aspirante da dependência dos demais e fortalecê-lo de tal modo que possa confiar em si mesmo e permanecer só; de outra maneira o espírito se converte em presa dos demais tão logo quando entre nos mundo invisíveis e seja abandonado a seus próprios recursos. No processo de chegar a confiar em si mesmo, um grande obstáculo é removido do caminho do progresso, de modo que seja capaz de desenvolver a maior eficiência possível no serviço à humanidade, como colaborador consciente da Ordem Rosacruz, tanto exotérica como esotericamente.
Por que devemos considerar que temos que compartilhar com nossos amigos no Caminho esse fruto espiritual à medida que vá chegando a nós? Os mais fortes têm o dever de ajudar aos que sejam débeis. Os estudantes se convertem em Mestres. Os servidos se convertem em servidores. Note-se, particularmente que o estudante NÃO SE OBRIGA NEM AINDA COM OS IRMÃOS MAIORES DA ROSACRUZ. A razão pela qual não se deve obrigar a si mesmo é para que não reduza sua própria liberdade de pensamento e ação. Se a liberdade é preciosa aos olhos dos Irmãos da Rosacruz, obviamente eles não podem ser um partido para o zelo desviado e a devoção fanática do estudante ignorante que deseja “vender-se a si mesmo” como escravo. A tal estudante o Mestre poderá unicamente responder: “Desejas vender-te a mim como meu escravo? Talvez, mas eu não desejo comprar-te. Sou um objetante consciente de toda sorte de escravidão”.
Porque, pôr-se a si mesmo sob obrigação é, em verdade escravizar-se; e, portanto, os Irmãos da Rosacruz proíbem a qualquer estudante se obrigar com Eles ou qualquer outra pessoa. Nenhum estudante, nem Probacionista ou iniciado está sob obrigação com algum Irmão Maior da Rosacruz individualmente, e nem ainda à Ordem como um todo. Todos são agentes livres. Os Irmãos Maiores nos quereriam ver rebeldes e questionantes do que inquestionavelmente obedientes. Podemos rebelar-nos, questionar; podemos desafiar e acusar. Isto não nos fará perder o amor dos Irmãos Maiores da Rosacruz. Mas, o que com toda certeza nos cortará a linha espirituais de comunicação com a Ordem é a atitude de aderência infantil e submissão irracional à autoridade dogmática. Max Heindel expõe o assunto convincentemente: “Qual é o caminho para as alturas da realização religiosa e onde podemos encontrá-lo? A resposta é: QUE NÃO SE ENCONTRA EM LIVROS. Os livros são úteis na medida que nos subministrem pábulo para a meditação sobre os temas tratados. Podemos chegar ou não às mesmas conclusões que os autores dos livros, mas, contanto que levemos as ideias apresentadas a nosso ser interno e ali as consideremos cuidadosamente e com espírito de oração, o que resultar do processo será completamente nosso, e mais próximo da verdade que qualquer coisa que pudéssemos obter de alguém mais ou em quaisquer outras formas.
Portanto, o caminho para o estudante seria: não aceitar nem desprezar e nem obedecer cegamente a nenhuma autoridade, mas, esforçar-se por estabelecer o tribunal interno da verdade.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 7/72 – Fraternidade Rosacruz – SP)
A Paz de Deus
De tempos em tempos ouvimos falar muito de paz; todavia, se pedirmos que nos deem uma definição da palavra “paz”, arriscamo-nos a obter uma resposta muito incerta e vaga. De um modo geral, pensamos que a paz é a ausência de guerra, ou a ausência de disputas, de ruídos ou qualquer ideia do gênero.
Essas coisas são, de fato, aspectos da paz, mas são todas negativas. De forma que somos levados a indagar se não há também um aspecto positivo. Uma coisa que é inteiramente negativa, se é que alguma coisa o pode ser, é sem dúvida insatisfatória e incompleta. Vejamos, pois, se não existe também um lado positivo.
Numa grande galeria de arte existe um quadro representando uma impetuosa queda de água, junto à qual cresce uma árvore. Num ramo dessa árvore, que se debruça sobre a queda de água, encontra-se um passarinho cantando em louvor a Deus. O quadro intitula-se “Paz”. Pensemos por um momento, e prontamente compreenderemos o que estava na mente do artista. Ele viu claramente, e representou com muito êxito, a ideia do aspecto positivo da paz.
Durante a primeira guerra mundial, foi uma coisa notável que, exatamente na “terra de ninguém”, por entre as granadas e as balas, os pássaros continuavam a sua vida normal, sem sequer saberem que o ser humano, que se imagina tão superior, lutava contra a sua própria espécie. Em certa ocasião, num castelo arruinado que se encontrava na linha de combate, eu e meus companheiros observamos um casal de andorinhas. Desde a madrugada até ao crepúsculo, esses dois passarinhos andaram de cá para lá, nas proximidades do seu ninho, trazendo ambos o bico cheio de moscas para os seus esfomeados filhotes. Viram também uma paz ativa.
Outro exemplo: Ouçam um pouco da música dos mestres — o “Largo”, ou o “Coro da Aleluia”, de Haendel, a “Sonata Patética”, de Beethoven, o “Noturnos”, de Chopin — e verão que essa música é ativa, que algumas dessas obras manifestam mesmo grande atividade, e, contudo, quando as tocamos ou ouvimos, sentimos uma intensa vibração de paz e conforto.
Na vida quotidiana encontramos a mesma coisa. Coloquemo-nos num grande edifício onde se produz força motriz, defronte de um grande gerador de corrente para uma cidade; ouçamos o seu constante e tranquilo sussurro, e sem dúvida experimentaremos uma sensação de paz.
Ou pensemos então no motorista de um carro, que segue por uma estrada adiante, e ouve o constante sussurro de um motor bem afinado. Ele está bem alerta, contudo descontraído na presença de um poder ativo, concentrado, mas dirigido.
Não, a paz não é negativa, não é um estado de inércia, mas sim uma sensação de atividade harmoniosa, pela qual nos sintonizamos com Deus.
Pensemos no ruído da máquina de escrever, que tem o poder de nos acalmar ou de nos irritar. Por que?
Simplesmente devido a forma como as nossas forças e emoções a ele reagem. E é sem dúvida aqui que se encontra a chave do mistério.
Não é a atividade ou a sua ausência que constituem a paz. É antes essa sensação íntima de harmonia e tranquilidade.
Mas, até aqui, temos estado a falar de paz simplesmente em relação a nossa condição humana. Para que possamos compreender a paz de Deus, não teremos de olhar ainda mais para dentro?
Em nossa vida quotidiana, estamos constantemente a encontrar condições propensas a perturbar e nublar os nossos Corpos de Desejos. Sempre que permitimos tal condição, perdemos imediatamente a sensação de paz, não é verdade? De forma que depende de nós defendermo-nos, reprimir a irritação ou a crítica em relação às ações do próximo; habituarmo-nos a dizer: “não a minha vontade, mas a tua”; aprender a considerar o ponto de vista das outras pessoas e, se se nos tornar necessário, dar a conhecer o nosso desacordo, fazê-lo com o devido espírito de amor e bondade. Quando procedermos assim — e concordamos que é uma coisa muitíssimo difícil de fazer — começaremos então finalmente a sentir aquela paz mais profunda, mais íntima, uma antecipação da verdadeira paz de Deus. Devemos observar que não há necessidade de nos retirarmos do contato com o mundo.
Evidentemente que não, pois dessa forma não podemos esperar senão os mais negativos aspectos da paz — a inércia, a qual de fato não é paz de forma alguma.
Não, nós não precisamos procurar a paz, temos é que harmonizar os nossos corações com o que nos rodeia. Tantas vezes ouvimos dizer: “Oh, se eu pudesse viver em outro ambiente!” Para quê? Uma vez que nos encontramos no ambiente mais propício para nós, nas verdadeiras condições escolhidas por nós próprios, antes de renascermos? Tantas vezes ouvimos, na verdade, e talvez o digamos a nós próprios: “Oh, se eu pudesse vir trabalhar aqui na Sede, como tudo seria simples para mim! ” Vejo um pequeno sorriso nas faces de alguns dos nossos obreiros.
Eles sabem perfeitamente que não é tão fácil. Aqui, como talvez em parte alguma do mundo, onde são enviados ensinamentos elevados e sublimes, onde as forças do bem são poderosas, exatamente aqui encontramos as forças negras do mal, concentrando-se para tentar anular todo esse bem. Ao passo que trabalhar na sede pode dar muita alegria e satisfação. É isso, sob certos aspectos, o mais difícil. Esses queridos amigos necessitam de todo o auxílio que pudermos dar-lhes. São apenas seres humanos, como nós próprios; cometem os seus erros; têm os seus problemas; conseguem fazer muito bem. Necessitam de pensamentos amorosos.
Devemos sempre lembrar-nos de que a Fraternidade não é apenas constituída pela Sede, mas sim pela soma total de todos os estudantes e Probacionistas, onde quer que se encontrem no mundo.
Por conseguinte, torna-se absolutamente óbvio que, ao procurarmos manter os nossos corpos sob fiscalização, ao tentarmos aprender a fé que se recusa a ser perturbada, então não somente começaremos a experimentar essa espantosa paz interior, a paz de Deus, mas começaremos também a irradiá-la para o mundo.
Com tudo isto, não conseguimos realmente definir a paz de Deus, não é verdade? Pois isso é algo que não se pode expressar devidamente. É qualquer coisa que apenas podemos sentir, à medida que nós formos nos reconciliando com aquela palavra espiritual de harmoniosa criação.
Mesmo assim, apenas entrevemos um fragmento da sua divina glória, pois é maior do que tudo que possamos imaginar.
Temos assim o aspecto positivo ou ativo da paz, e esse também é incompleto.
Para conseguir descobrir a verdadeira paz, temos necessariamente que equilibrar os dois polos. Ao passo que, em nossos múltiplos deveres e atividades, lutarmos por esse sentimento íntimo de paz, que é a presença de Deus, não devemos, contudo, negligenciar os nossos períodos de tranquila meditação, o silêncio das concentrações nos nossos serviços, a descontração e repouso das ocasiões em que nos encontramos a sós com os nossos pensamentos. Sim, ambas as coisas são muito necessárias, e quando conseguirmos abrir os nossos corações a esses dois aspectos da paz, experimentaremos essa paz divina de que tanto necessitamos nestes conturbados tempos.
“Possa a paz de Deus, que ultrapassa todo o entendimento, manter o nosso coração e a nossa mente no conhecimento e amor Divinos”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de 02/72)
A Nossa “Bondade” tem que adquirir Força em Si Mesma
Durante a nossa jornada de purificação, quando nos esforçamos por mudar seriamente de vida e tornar-nos cada vez melhores corremos o risco de acabar parecendo tolos, dando ensejo a que pessoas mal informadas, interpretem nossa bondade baseadas em seus próprios padrões, como sinal de fraqueza. Daí podem surgir situações difíceis que vão exigir tremendos esforços de nossa parte, para que sejam corrigidos todos os enganos, e as coisas colocadas em seus lugares. Na verdade, leva um bom tempo até que nosso esforço para sermos melhores, apareça revestido de sua própria verdade, sob sua real aparência. Antes disso, há um longo incômodo interno até que se chegue a adquirir o aspecto de tranquilidade, paz e desprendimento real, que não poderá mais ser confundido com a aparência de uma pessoa tola e desavisada.
Para isso, nossa “bondade” deve adquirir força em si mesma, criada não só pelos nossos bons propósitos, mas principalmente pelas nossas boas realizações.
O exemplo máximo de força encontramos em Cristo Jesus, que era bom, justo, honesto e manifestava todas as qualidades superiores que eram raras na humanidade de seu tempo. Essas qualidades eram fortes e se sobrepunham às iniquidades e fraquezas dos que O cercavam, fazendo-O amado por uns e temido por outros. E foi por temor à força dessas qualidades que O crucificaram. Mas embora fosse Cristo um enviado do Pai para sacrificar-se por nós, redimindo nossos erros pelo seu sangue derramado na cruz, é seu exemplo que temos de seguir, para que seja possível despertar a força que existe em nós, e que é Deus em nosso próprio íntimo.
Porque, só quando pudermos nos apoiar nesta força, é que alguma coisa começará a dar frutos, no longo caminho de preparação que vimos trilhando. Esses frutos, porém, muitas vezes poderão parecer fugazes, como se a força conquistada em bem, nos esteja escapando, fazendo com que nos sintamos subitamente sós e desamparados. Mas, embora isso aconteça, não será prova de que Deus nos abandonou e retirou de nós a sua força.
Pelo contrário, vem provar que Ele está ainda mais próximo, a ponto de nos permitir experimentar nossa própria solidão, e nos fazer compreender e sentir que Ele é também esta solidão, que Ele também está no nosso desamparo.
Uma coisa é certa: nunca estamos sós. Deus está sempre presente, e é a nossa constância no Bem, nossa permanência na Verdade, que nos levará a sentir cada vez mais real a presença Divina. Mesmo que a impressão dessa Presença mude, que já não se manifeste como apoio, como graça, como auxílio, mas como percalço, como dura experiência, mesmo assim, ela, a Presença, está cada vez mais perto e mais sutil; não como uma força externa, mas como Poder dentro de nós mesmos, como aquisição conquistada pela nossa própria permanência na fé. E esta deve ser a nossa maior esperança quando tivermos que colocar à prova a nossa bondade, num mundo que nem sempre encontraremos preparado para recebê-la.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/73)
Pó de Diamante
Foi fascinante observar como um relojoeiro polia o delicado eixo de uma engrenagem de relógio. À medida que uma roda girava em minúsculo torno, o operário perito gentilmente comprimiu um pedaço de madeira macia contra a superfície estreita da espiga. Entremeio havia pó de diamante — o mais eficiente abrasivo conhecido na profissão.
“A espiga é a superfície externa da roda”, esclareceu-me ele. “Se esta peça não tem exatamente o formato que deve ter, é preciso poli-la de novo. O balancim é o coração do relógio, e se houver nele alguma dificuldade, qualquer coisa poderá acontecer depois”.
Aquela substância branca aparentemente inócua, aplicada com tanta suavidade pelo relojoeiro era que dava polimento a espiga e restituía ao balancim sua primitiva eficiência. O pó de diamante é o melhor dos abrasivos. O pó branco desfaz as asperezas e restitui as coisas a sua superfície lisa.
Muitas vezes na vida, nossa maquinaria mental e emocional deixa de funcionar com suavidade porque alguma coisa não está em perfeito estado. O balancim da vida faz atrito em muitos lugares porque a espiga está sulcada de deformidades desagradáveis, e crivada de depressões de pecado. Naturalmente, ficamos angustiados e ansiosos, porque não estamos com o nosso tique-taque correto.
Tudo parece andar errado quando alguma coisa no coração não funciona bem. O reconhecimento disto é o primeiro passo a tomar para prover uma solução para o problema. Portanto, certificai-vos de que o passo seguinte seja tão sábio quanto o anterior.
Ide ao Relojoeiro. Não vos desmontes sozinhos, e, por vós mesmos, remonteis. Evitai pensamento demasiado que reflita o próprio eu. Por que tentar por vós mesmos o conserto do balancim da vida? O Operário celestial consertá-lo-á. Sede pacientes e submissos ao trabalhar. Ele é seu torno, enchendo os vácuos do pecado e nivelando as detestáveis asperezas do egoísmo. Ele poderá usar um aparente abrasivo para polir a espiga, mas justamente isso é necessário para endireitar as coisas. Reponhamos, então, o balancim no relógio e observemos-lhe o funcionamento. Funciona suavemente de novo, não é verdade?
A Vida não é tão má quando aprendemos esse segredo, e buscamos de seu Autor, fortaleza e segurança. Teremos todos, alguma dificuldade com nosso balancim, cedo ou tarde; mas o Relojoeiro sabe solucionar a situação se Lhe concedermos a oportunidade de fazê-lo.
E os métodos que emprega para corrigir-nos são para o nosso bem. O pó de diamante é um aparente abrasivo, mas remove as asperezas e torna-nos de novo suave a vida.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de fev./69)
Um Desvirtuamento altamente perigoso
Quase todas as nações estão padecendo de um mal cada vez mais crônico: a utilização desvirtuada dos meios de comunicação. Para alguns, pode até parecer que temos algo contra a televisão, por exemplo. Mas isso não é verdade. Apenas lamentamos a destinação irresponsável desse abrangente veículo. Cremos ser possível fazer bons programas. Por que isso não acontece?
Sabemos quão negativo é criticar ou verberar em demasia. Porém, nossa consciência de estudantes rosacruzes não nos permite o comodismo da omissão. Sentimo-nos na obrigação de alertar para o perigo que constitui o emprego de um meio de comunicação – diariamente invadindo nossos lares – para uma finalidade nada construtiva.
Alguns programas são instrutivos e esclarecedores. Não nos iludamos, contudo.
São raros e de baixíssima audiência, pois as emissoras não lhes dão destaque nas “chamadas”. Parecem levá-los ao ar apenas por desencargo de consciência. Afinal, as massas apreciam viver ao sabor das ondas da emoção. Não lhes interessa pensar, porquanto julgam ser esse exercício enfadonho e incômodo, mormente após um estafante dia de trabalho. Nessa linha de raciocínio puramente útil esbarram os argumentos das pessoas bem intencionados. Como o objetivo final da televisão é lucro, não é difícil deduzir porque predominam os programas de auditório, os “enlatados” e as telenovelas.
Encontramo-nos numa fase de transição da Idade de Peixes para a de Aquário.
Todo período de transição caracteriza-se por transformações bruscas e uma generalizada sensação de insegurança. Os espíritos, principalmente os menos evoluídos, renascem em grande número. Sentem necessidade de passar pelo “tratamento de choque”, ou seja, pelas duras experiências, comuns a esse marcos evolutivos.
Como “semelhante atrai semelhante” é fácil imaginar porque os programas de baixo nível registram grande audiência. Eles “alimentam” o íntimo de um número espantoso de seres.
Agora, o leitor tenderá naturalmente, a perguntar: como o problema poderá ser resolvido?
Bem, uma solução que nos ocorre no momento seria uma tentativa dos seres humanos conscientizados do problema, em sensibilizar os empresários do ramo. Eles devem sentir a responsabilidade que lhes cabe quanto à formação do caráter das pessoas. Vale lembrar que o maior segmento da nossa população abrange crianças e adolescentes, justamente nas faixas etárias em que se plasmam os caracteres. Portanto, nossos líderes de televisão devem admitir que em suas mãos exista uma faca de dois gumes. Perante a Lei de Consequência responderão pelo uso que fizerem desse veículo de tão grande alcance.
Os malefícios da televisão, entretanto, não param por ai. Em outros aspectos esse poderoso meio de comunicação merece ser revisto, e até reformulado. E por que não? Outra das acusações que lhe pesam é a de isolar as pessoas, tornando-as pouco sociáveis. Se alguém duvida dessa afirmação, então procure visitar alguém durante o horário das novelas. Faça-o e depois confira. Ora, o ser humano é gregário por natureza. O relacionamento é parte indissociável de sua existência, por compreender um intercambio de sentimentos, ideias e aspirações. Quebrar essa reciprocidade significa violentar a própria natureza de cada um. Vocês notaram como o diálogo no lar torna-se cada vez mais raro?
Há quem diga, também, ser a televisão responsável pelo fato de nossos jovens quase não apreciarem a leitura. Por essa razão, muitos têm dificuldade em redigir corretamente até um simples bilhete. Os vestibulares a cada ano atestam isso. O audiovisual televisivo acomoda muito a capacidade intelectual das pessoas, roubando-lhes o estimulo para raciocinar e deduzir.
Mas não se julgue que tal problema ocorra apenas no Brasil. Um artigo publicado recentemente pela revista norte-americana “NEWSWEEK” revela a existência, nos Estados Unidos, de pelo menos 23 milhões de analfabetos. O problema agrava-se, a tal ponto, do governo americano estar elaborando, para os próximos anos, programas intensivos de alfabetização de adultos.
De acordo com os especialistas, três fatores estão concorrendo para a gradativa deseducação do povo norte-americano: o “bombardeio” ininterrupto de determinados programas de televisão, “que, decididamente, não melhoraram o nível cultural da população”; as estruturas educativas, que, atualmente, não correspondem mais as suas finalidades e, por último, o semanário menciona o tipo de vida predominante no país.
Esse último fator, acrescenta ”NEWSWEEK”, “isola pavorosamente o indivíduo em mini-comunidades, através de seus múltiplos jargões”. Prossegue a revista, ”com isso, cria-se uma condição de vida totalmente anômala, na qual não parecem ser necessários outros meios de comunicação, além daqueles proporcionados pela televisão”.
Vê-se, por conseguinte, um panorama não muito diferente daquele observado aqui no Brasil. Alguma coisa deve ser feita para, pelo menos, amenizar tal situação.
Nesta frase de Max Heindel consubstancia-se o ideal de cada aspirante: “Cada um guiado pelo Espírito do Amor Interno, deve trabalhar sem lideranças, pela elevação física, moral e espiritual da humanidade, à estatura de Cristo, o Senhor e a Luz do Mundo”. O estudante Rosacruz, ouvindo os apelos de sua consciência, deve contribuir da maneira que puder, para que os meios de comunicação atinjam uma finalidade cada vez mais construtiva. Pode parecer uma tarefa quixotesca. Mas a união de consciências, voltadas para o bem, é capaz de remover montanhas. Vale a pena tentar.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 02/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Chaves do Reto Pensar
O que, na ausência de melhor título, é chamado “Chaves do Reto Pensar” é baseado na antiga verdade de que existe uma harmonia e ordem interiores, que sempre estão presentes, constituindo uma eterna e imutável Realidade. Daí se conclui que as inarmonias da vida se devem ao distanciamento, por parte dos seres humanos, dessa harmonia e ordem inerentes. A vida é governada por certas leis que, se obedecidas, resultam em saúde, integralidade, júbilo e toda suficiência.
É natural que a vida seja harmoniosa, ordeira e bela. A criação desses estados não nos exige imensos esforços, porque eles são a ordem natural das coisas que se manifestarão, tão logo deixemos de deformar a vida, por assim dizer. Podemos deformar uma bola de tênis quando a apertamos, mas se deixamos de pressioná-la, retoma sua forma redonda original, simplesmente porque essa é sua forma natural. Não precisamos de tornar a bola redonda: simplesmente devemos deixar de comprimi-la. O mesmo se dá com a vida: logo deixemos de deformá-la, ela manifesta sua ordem natural de beleza e perfeição inerentes.
A ideia original de perfeição, ordem, beleza e harmonia, sublinham nossa vida. As discórdias da vida, por exemplo: a doença, a nostalgia, a pobreza e outros males, decorrem da dissociação da ordem e da harmonia inerentes e fundamentais, sempre atuantes. No mundo exterior dos sentidos vemos muitas imperfeições, mas há uma ordem e harmonia ocultas, sempiternas e onipresentes. Quando uma tempestade ruge sobre o oceano, imensas vagas se debatem em fúria. Todavia, alguns metros abaixo o oceano permanece perfeitamente calmo e imperturbado. O mesmo se dá com a vida. Se vamos além da superfície, encontramos uma tranquilidade interior e uma perfeita ordem e harmonia.
Os sábios sempre falaram de um Mundo de Realidade interior. De forma nenhuma é uma ideia nova, embora o possa parecer a quem nos lê. A elucidação desse assunto não nos vem enquanto não estejamos preparados para recebê-la. Contudo, uma coisa é ter conhecimento a respeito do Centro Interior de Harmonia e Ordem, e inteiramente outra é estabelecer contato e pôr a nossa vida em correspondência com ela. Mas os sábios nem sempre informaram que o Centro de Harmonia está em nosso íntimo. Nem sempre disseram que em nosso íntimo existe esse reino de harmonia e de perfeição. Mas veio Alguém, há quase dois mil anos que o declarou: o reino da ordem e da harmonia está em nosso íntimo. Quando contatamos o “Centro mais íntimo em todos nós, onde a Verdade habita em plenitude”, descobrimos também estar ligados a uma harmonia e ordem universais interiores, que sublinham o mundo da aparência.
Tudo em nossa vida é resultado do pensamento, seja ele consciente ou inconsciente. “A Mente é criativa – o pensamento governa o mundo”. Se o todo de nossa vida-pensamento correspondesse à Ordem Interior – ou Verdade como a chamamos – então nossa vida exterior, por consequência, seria ordeira, harmoniosa e perfeita. Assim, o que chamamos de “Chaves do Reto Pensar” ensina como pensar retamente, ou seja, em sintonia com a Verdade. É desígnio da vida que sejamos felizes, jubilosos, sadios, verdadeiramente prósperos e bem-sucedidos. Não nos referimos ao êxito mundano, que pressupõe a impiedosa desconsideração aos demais. Queremos significar uma vida cheia de bênçãos, de harmonia, de ordem e do mais alto bem. Aludimo-nos as coisas preciosas que nenhuma riqueza pode adquirir: a felicidade, a paz, a harmonia, o jubilo, a beleza, a ordem, o amor, enfim, tudo o que legitimamente podemos aspirar e possuir, para termos uma saúde integral. Basta vivermos e pensarmos em harmonia com as leis de nosso ser.
Uma das verdades mais difíceis para um principiante aceitar é esta: “a vida é amistosa para conosco”. Eles estão inclinados a supor que seja realmente muito bom fazermos essa afirmação, porque a vida que levamos é de fato harmoniosa, ordenada e cheia de todo o bem possível! Podem pensar que nos seja fácil falar dessa maneira, porque desfrutamos harmonia: mas se tivéssemos de viver a vida deles, haveríamos de cantar uma canção diferente. Poderão pensar e mesmo dizer que se fossemos arrastados do pelourinho ao tronco, como eles o são, ou se nossas vidas estivessem cheias de discórdias, desapontamentos, inimizades, fracassos, doenças e outros males, como eles, então seríamos forçados a confessar que a vida está mui longe de ser amistosa. Pelo contrário. Contudo, o que afirmamos é verdadeiro. A Vida deseja que sua vida seja harmoniosa e abençoada, como a daqueles que atingiram isso. É da intenção divina que sua vida seja repleta de harmonia, de ordem, de bênçãos e de todo o bem possível. Não queremos significar que a vida se torne insipidamente fácil, sem qualquer colorido, experiência ou desafio, senão que você deve triunfar sobre qualquer situação quando as dificuldades se apresentem. O objetivo dessas explanações não é prometer coisas fáceis, mas tornar as pessoas fortes. Para citar Phillips Brooks: “Não oramos por uma vida fácil, mas para sermos indivíduos fortes; não oramos por tarefas a altura de nossas forças, mas por forças a altura de nossas tarefas”. Ensinamos a viver uma vida de poder e de superação.
Coisas, tais como: complexo de inferioridade, só podem existir quando alimentadas. Em vez de olharmos para trás, caminhemos para a frente e para cima. Em vez de evitar a disciplina da vida, cooperamos com ela! Tudo isto poderá parecer impossível a muitas pessoas. Poderão alegar que sabem muito bem o que devem fazer, mas que acham impossível consegui-lo. “As Chaves do Reto Pensar” mostram que, por meio da aplicação do pensamento (poder do pensamento criativo), podemos atingir o que parece impossível. Issoporque passamos a controlar as emoções e nos fortificamos, mercê do Poder Infinito que mantém o Universo. Não divulgamos domínio egoístico de uns sobre os outros, senão uma amorosa cooperação com a vida e com o próximo. Pela mesma forma como superamos a natureza, pela obediência as suas leis, assim também podemos triunfar na vida mediante a cooperarão com suas experiências e pela aceitação de seus desafios.
As pessoas criam suas próprias dificuldades na vida porque ignoram as leis que governam seu Ser; porque usam erroneamente sua imaginação; porque não sabem pensar retamente; porque suas emoções e desejos são desordenados e mal dirigidos; porque focalizam seus poderes e atenção sobre assuntos inadequados. A harmonia passará a substituir a discórdia quando aprendermos a viver de acordo com as leis que regem nosso Ser e quando os nossos pensamentos e emoções sejam controlados e dirigidas a objetivos dignos. Isso poderá parecer excessivamente difícil à maioria das pessoas, mas em realidade não o é. E não o é porque podemos sempre apelar a um Infinito Poder e Infinita Inteligência, a vontade. Não somos nós (a personalidade) que produzimos essas coisas extraordinárias, mas o Infinito Poder (o Espírito) é uma Infinita inteligência operando em e através de nós e de nossas circunstâncias.
A média das pessoas isola-se de sua Fonte e torna-se qual uma bateria descarregada. Em decorrência, executam dificultosamente seu trabalho e ao fim do dia encontram-se fatigadas. Também não veem diante de si nenhum horizonte, além da monótona repetição dos afazeres e das circunstâncias. Aquele que conhece a Verdade e a vive, é como uma bateria diariamente recarregada. Executa seu trabalho sem esforço e no fim do dia não está cansado.
Também recebe ideias em seu consciente, as quais, quando seguidas, podem melhorar grandemente suas perspectivas. Além disso tudo, ele vai se tornando, a pouco e pouco, mais harmonioso e seguro. Em vez de assolado pela vida, do pelourinho ao tronco, permanece em estado de calma. Em lugar da desordem, sua vida passará a exprimir harmonia e plenitude.
“Pelo pensamento errado, o homem transforma as forças boas da vida em enfermidades, carências, ansiedades e todas as demais manifestações de desarmonias. Contrariamente, quando o ser humano pensa em Deus em vez de contra Ele (ou no Bem, em vez de contra Ele), seguramente manifestará a saúde, abundância, harmonia e as mais altas realizações. Pode, então, conhecer a paz; pode viver em superação e indescritível júbilo”.
Nossa vida precisa de ser transformada a semelhança e beleza do Divino. É necessário retornarmos ao nosso Centro, a unida Fonte de toda a vida, em nosso Ser. Em vez de procurarmos remendar os efeitos, devemos nos voltar para as causas. Se nossa vida está errada, é mister procurar a causa de nossa desarmonia, ou melhor, buscar a Fonte da vida em si mesma. Até agora, com poucas exceções, a humanidade concentra seus esforços no combate aos efeitos – com resultados desastrosos. Assim que um mal é aparentemente superado e suprimido, outro maior surge, em desafio. Realmente, quanto mais combatemos os males, mais difíceis eles se vão tornando, porque lhes acrescentamos poderes que, em si mesmos, não possuem. Vemos, então, que o combate aos chamados males, em nossa vida, jamais, poderá removê-los, senão apenas aumentá-los. Os principais “males” em nossa vida são: a penúria, as preocupações financeiras, os cuidados relativos a “suprimento”, as enfermidades físicas, morais e mentais, a fraqueza, as inarmonias, os vazios internos, as insatisfações, os recalques, etc. Todos eles provem da mesma causa: a falta de sintonia com nossa Fonte Divina e com as Leis da Vida e do Ser. Inútil, pois, remediar os problemas, combatendo-lhes os efeitos. Os males aparentes são meros efeitos. É necessário remover-lhes as causas. Então a harmonia interior retornará e a natureza divina brilhará novamente em nossos horizontes, tal como naturalmente é: saudável, alegre, otimista, inteligente, equilibrada, farta, amorosa, dadivosa, pois Deus é felicidade.
Desejamos ser mui claros: a causa de todos os fenômenos é o pensamento. Tudo o que nos sucede de bom ou de mau é resultado dos nossos pensamentos e das emoções e atos deles decorrentes. O pensamento é um poder espiritual muito mais poderoso que a forma material. O Universo Real e Perfeito, invisível aos nossos sentidos, é a expressão de uma ideia Divina, um pensamento feito forma, o Verbo feito carne, pela Mente de Deus. O universo que conhecemos através dos sentidos é apenas um reflexo material do universo espiritual; é apenas um aspecto vibratório inferior e diminuto de Algo muito mais amplo e elevado. Nosso Universo físico pode também ser descrito como a criação da Mente carnal, mencionada em “o Novo Testamento”. Nenhuma dessas descrições é inteiramente satisfatória, mas cada uma delas é parcialmente verdadeira e satisfaz o propósito destas explanações. As palavras limitam as profundas verdades espirituais, mesmo os termos metafísicos e as explicações cientificas. Além do mais, desejamos ser objetivos e simples. É suficiente reconhecermos este fato essencial: todo o pensamento que esteja em harmonia com a Eterna e Absoluta Verdade, atrai para nossas vidas as naturais condições de felicidade, pois somos filhos e herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo. Mas, se, ao contrário, nossos pensamentos estiverem em desacordo com as Leis de Harmonia mantenedoras do Universo, passaremos a expressar em nossa vida, ambiente e circunstâncias, os efeitos correspondentes do chamado “Mal”.
Nosso mundo mental é como um “iceberg”: uma pequena parte acima da superfície das águas e enorme proporção mergulhada no oceano. A parte visível se pode comparar à Mente consciente. A Mente subconsciente é uma vasta área, abaixo do consciente. Aí é que a maioria de nosso pensamento é levado a efeito para nós. Se na Mente subconsciente existe uma ideia dominante de fracasso, de medo ou de fraqueza, ela afastará as decisões do indivíduo, levando-o ao fracasso. Se essa ideia dominante na Mente subconsciente é de enfermidade, começará a manifestar-se como condição mórbida, baixando o teor do corpo e esgotando o sistema nervoso. É uma triste condição na vida dessa pessoa.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 02/73 – Fraternidade Rosacruz – SP)