Arquivo de categoria Método para Adquirir o Conhecimento Direto

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Otimismo é uma Atitude Positiva – o resultado final sempre será positivo

O Otimismo é uma Atitude Positiva – o resultado final sempre será positivo

A despeito das condições, muitas vezes, desalentadoras em que vive a humanidade, não podemos perder as esperanças de que tudo caminha para um bem final. Devemos confiar em que o ser humano sairá fortalecido dessa fase de transição. As circunstâncias podem ser encaradas como um desafio, uma oportunidade de progresso. É necessário cultivar uma fé em que o resultado final de nossos esforços só poderá ser positivo.

Max Heindel afirmou em uma de suas obras: “O Ego tem, diante de si, uma via eterna de progresso; as limitações são uma irrealidade, porque o Espírito humano é uma chispa do Infinito, capaz de desenvolver todas as suas potencialidades”. No livro Conceito Rosacruz do Cosmos também lemos: “Cumpre-nos buscar sempre o bem oculto em todas as coisas. O cultivo dessa atitude de discernimento é particularmente importante”.

O Espírito humano é uma chispa do Infinito, dotada de um potencial ilimitado. E se é correto que o “bem” pode ser encontrado em todas as coisas, não é difícil aceitar a ideia de que o ser humano é essencialmente bom.

Esta bondade inata do ser humano expressa-se sutilmente, sem realce mundano, sem foguetório, porquanto não pode ser percebida em meio ao clamor e agitação da vida moderna. Todos estão prontos e atentos a notar as falhas humanas, os fatos e circunstâncias desagradáveis como se tudo isso fosse autossustentável. Essas falhas e circunstâncias ocorrem porque o indivíduo as alimenta com seus pensamentos e sentimentos negativos. Na realidade não têm vida própria.

Os pequenos atos de bondade praticados diariamente por pessoas do nosso círculo de relacionamento, amiúde, passam despercebidos. Isso acontece porque valorizamos excessivamente as situações dramáticas, as atitudes pretensamente corajosas e grandiloquentes. Observemos ao nosso redor quantos heróis anônimos, dispostos a se sacrificar pelo bem-estar do seu semelhante sem nada esperar em troca. No entanto, ninguém lhes exalta a capacidade de fazer o bem, ninguém os homenageia ou concede honrarias.

A vida revela de maneira inequívoca que mesmo as crises mais graves ou situações trágicas são resolvidas mediante a intercessão de alguém ou algum grupo de pessoas de boa-vontade. Através do senso de justiça ou sentimento de compaixão conseguem restaurar o equilíbrio no ambiente em que vivem. Os quadros mais dramáticos são os mais favoráveis ao exercício do altruísmo. O despontar da aurora é antecedido pela fase mais escura da noite.

Quando os jornais e a televisão noticiam grandes desastres, isto significa que os envolvidos têm lições a aprender. A dor da tragédia muitas vezes serve para quebrar-lhes apatia, despertando-lhes a consciência de sua origem divina. E não raro recebem ajuda e consolo daqueles abnegados, cujos corações só irradiam bondade.

Por mais que se agravem os problemas devemos conservar nossa fé no bem final, pois a bondade inata do ser humano triunfará sobre tudo o que é negativo.

(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – mai/jun/88 –SP)

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Diálogo entre o Místico e o Cristo Interno

Diálogo entre o Místico e o Cristo Interno

Há dois caminhos: o ocultista (mental) e o místico (do coração). Cada pessoa tem predominância de uma dessas tendências. Contudo, no fim de um deles há de encontrar e desenvolver o outro. O místico chega a um ponto de iluminação quando está empenhado no labor espiritual. Ele se retira em meditação para inebriar-se nas vivências internas. Está vigilante quando sente internamente o Cristo se lhe manifestar:

Cristo Interno: “Dá-me de beber de teu amor, para que eu possa saciar minha sede”.

Místico (saindo de sua admiração): “Quem és tu?” (Pois até aquele momento não tivera experiência desse gênero).

Cristo Interno: “Sou aquele de quem estás separado há muito tempo. Se tivesses sabido quantas vezes te pedi amor, que me servisses. Então me poderias pedir da água viva que só eu te posso oferecer”.

Místico: “Podes, acaso, oferecer-me algo superior ao que tenho recebido?”

Cristo Interno: “Tua vivência é humana, incompleta e instável. Posso dar-te algo muito mais elevado, completo e permanente, que te levará à união comigo”.

Místico: “Sacia-me, então, de vez, para que eu não precise mais da penosa aprendizagem tradicional”.

Cristo Interno: “Não. Deves continuar no mundo, servindo e aprendendo. A intervalos deves voltar a mim”.

Místico: “Já não tenho apegos, nem ligações mundanas”.

Cristo Interno: “Sei de tua aprendizagem em vidas anteriores. Já ultrapassaste o estágio comum, mas ainda não estás preparado para o próximo”.

Místico: “Vejo que me penetras n’alma. Preparei-me pela senda mística e tu dizes que devo cultivar também a senda ocultista, para alcançar a paz (Jerusalém)”.

Cristo Interno: “Em verdade, esses dois caminhos apenas conduzem a uma meta maior. O místico sente a verdade, mas por falta de desenvolvimento da razão, está sujeito a enganos. Vim trazer a Luz da Verdade libertadora. Chegou a hora em que o ideal há de ser Amor-Sabedoria, unindo Coração e Mente, para amarmos e concebermos Deus como verdadeiro espírito. Procuro aqueles que possam adorar-me desse modo”.

Místico: “Sei que o Cristo (Cósmico) há de voltar e estabelecer esse ideal”.

Cristo Interno: “Pois sabe: esse ideal se realiza internamente em cada alma preparada. Para ti já voltei. Eu sou o Cristo: o que fala contigo”.

(Publicada na Revista Serviço Rosacruz – 02/1978)

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Quando a Letra Mata

Quando a Letra Mata

A responsabilidade inerente aos seres humanos que dirigem os meios de comunicação é muito maior que eles imaginam. Aqueles que, manipulando a imagem, a letra e a palavras, atingem as massas, diariamente, têm em suas mãos uma faca de dois gumes.

Talvez nem todos estejam conscientes disso. Basta que se dê uma olhada, por rápida que seja, na maneira distorcida, quando não pervertida, como tais veículos de comunicação são usados.

O uso da palavra, particularmente, não mereceu ainda uma profunda reflexão por parte da maioria das pessoas.

Não se atina com a sacralidade de sua natureza. Muito menos com o seu poder criador. De um modo geral, é empregada para comunicar sem construir, para informar sem formar. Vazias, destituídas de conteúdo, as palavras, hoje, pouco edificam. E dizer que na Época Lemúrica do Período Terrestre ela facultava ao ser humano o exercício de seu poder sobre as coisas! Acontece, porém, que o ser humano perdeu o contato consciente com os planos espirituais.

A estreita convivência com a materialidade roubou-lhe a noção de sua própria divindade.

Hoje, as religiões e as Escolas de Mistérios empenham-se em auxiliar a humanidade a retomar, desta vez conscientemente, o caminho outrora trilhado.

Procuram orientar o “filho pródigo” – cansado das mazelas deste mundo – no regresso à “casa paterna”.

O ser humano deve educar-se, principalmente no emprego da palavra, seja escrita ou oral. Através dela, ele há de erigir um mundo melhor, mais limpo, sobre as cinzas das presentes discórdias.

É um tema importante para meditação. Felizmente, várias pessoas já se conscientizaram dessa verdade e trabalham no sentido de transmiti-la.

Neste que se diz o século da comunicação, há um excesso de mensagens no ar, e muito pouco que valha a pena comunicar nelas. Falamos muito e dizemos pouco, esquecidos daquele antigo preceito segundo o qual a quantidade não altera a qualidade. O sentido da vida não pode ser percebido pela razão, e a voz desse sentido é ouvida dentro de cada ser humano, nos instantes em que ele está verdadeiramente vivo e alerta.

Essa atenção é impedida pelo burburinho — o interno e o externo — em que vivemos constantemente. Fala-se o tempo todo de todas as banalidades imagináveis, e por trás de todo esse murmúrio há um vazio assustador, uma carência espantosa de substância.

No Livro Admirável Mundo Novo, Huxley colocou as bubbling machines que murmuravam sem parar, dia e noite, repetindo aquilo que os donos do poder queriam inculcar nos seres humanos daquele futuro trágico. Nos dias atuais, somos nós as bubbling machines, neste culto da puerilidade em que se misturam propaganda de toda ordem, pregação messiânica, elogio e crítica incessantes. A aluvião de palavras que enchem nossa vida é fruto bem evidente da ansiedade e da insegurança existentes em toda parte. O silêncio foi rebaixado à condição de réu, e nivelado à estupidez e à ingenuidade, na melhor das hipóteses. Dado o prestígio da palavra – não importa se ela tem o mesmo conteúdo de um zumbido de colmeia – todo juízo precipitado é perdoável, desde que alguém esteja falando. O que precisa ser evitado a todo custo é o silêncio, ou mesmo a palavra ponderada, reduzida ao necessário e ao justo.

Num dos seus sermões, o padre Antonio Vieira disse: “Os falsos testemunhos formam-se na língua, os juízos temerários formam-se na imaginação; e como da imaginação à língua há tão pouca distância, para que não haja falsos testemunhos na língua, proíbe que não haja juízos temerários na imaginação”. O que diria o padre Vieira, dos nossos veículos de comunicação e dos decibéis que nossos ouvidos são obrigados a suportar em nome do progresso e da técnica?

A referência bíblica ao fato de que “a letra mata, mas o Espírito vivifica” é parte de uma tradição eterna, noção conhecida e esquecida, de tempo em tempo, pela humanidade. A compreensão desse preceito é hoje dificultada pelo dilúvio de palavras que envolve nossa vida, e nos compromete até o fundo da alma. Repetimos como papagaios, ou bubbling machines, que a comunicação é importante, que quem não se comunica está fadado ao desastre, ao isolamento, etc. Até mesmo para avaliar o significado da comunicação estamos envolvidos e condicionados pelo excesso de mensagens – e alheios ao vazio da maioria delas. A Mente humana não consegue absorver, filtrar e aproveitar nem sequer dez por cento do que lhe chega diariamente.

Empanturrados, continuamos a comer precipitadamente. Não admira que a ansiedade, a angústia e o desespero sejam os grandes flagelos da época.

Os fatos não são, infelizmente, tão simples e ordenados como gostaríamos que fossem. É difícil entender como se forma esse círculo aparentemente vicioso no qual a ansiedade e a insegurança produzem incessantes mensagens fúteis, e essas contribuam para aumentar aqueles males. Os furacões também são formados de pequenos ventos que agem, a certa altura, como causa e efeito ao mesmo tempo. Se “a letra mata”, ela tem também o seu justo lugar, inclusive um papel no trabalho para que “o espírito vivifique”. O excesso e a qualidade inferior da letra — da comunicação, da mensagem — é que fazem dela um imperceptível veneno. Não é difícil a cada ser humano observar em si mesmo como tudo isso acontece. Primeiro, é preciso deixar a enxurrada passar ao largo, com toda sua falsa e contraditória sabedoria. O que “os outros” dizem de tudo isso não deve importar, por instantes. Depois, é relativamente fácil: basta olhar, sem comparar. Podemos ver, então, como verbalizamos todas as tolices que criamos e recebemos de fora. Veremos também como pensamos com palavras, na maioria esmagadora das ocasiões em que pensamos.

Desconhecemos aquilo a que Santo Tomás de Aquino chamava de “ação pura” — a que só é, quando é verbalizada depois de ocorrida. Nesse painel se revela toda a enormidade de nossa tagarelice compulsiva, uma espessa cortina de palavras atrás da qual se esconde nossa verdade.

Se pensarmos em termos de cotidiano simples, há exagero na afirmação chinesa antiga de que “aquele que fala não sabe e aquele que sabe não fala”.

Lao-Tse, ou quem tenha sido o autor da frase, referia-se a uma sabedoria mais global, não ao conhecimento comum das coisas, no dia-a-dia. Apesar disso, a verdade se aplica também, sem exagero, aos pequeninos fatos que compõem nossa vida. Falamos muito quando não conhecemos muito. Quando conhecemos e queremos transmitir esse conhecimento, fazemos isso resumidamente, com simplicidade. Bernard Shaw estava bem desperto quando afirmou: “Quem sabe, sabe. Quem não sabe, ensina”. O dramaturgo irlandês era sensível aos pequenos e grandes ridículos de seu tempo. Esse excesso de mensagens no ar é evidente até mesmo para quem não se dá conta do mundo em que vive. O vazio da maior parte dessas mensagens é verificável por um grupo menor. A substituição da falta de conteúdo pela quantidade e pelo rumor é notada por alguns poucos. Esses, que estão acordados, podem sacudir os outros, mostrando, com suas respectivas habilidades, o absurdo de todo esse persistente barulho”.

 (Publicado na Revista Rosacruz de janeiro/1978)

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Uma Vivência Devocional

Uma Vivência Devocional

Nos Centros da Fraternidade Rosacruz espalhados pelo mundo se realiza as reuniões devocionais às 18h30, hora local, onde é oficiado o Ritual Devocional (do Templo ou de Cura, nas suas datas). Nessas reuniões, os presentes cantam os Hinos de Abertura, Astrológico do mês e de Encerramento.

Recomenda-se aos Estudantes que, na medida do possível, assistam a essas reuniões, se bem que nem todos possam fazê-lo dado a obrigações ou compromissos intransferíveis. Cabe-nos observar, também, o cumprimento de nossos deveres sociais.

Àqueles impossibilitados de frequência há outra alternativa, aliás, extensiva a todos: efetuar a prática devocional no recesso do próprio lar. Quando surge uma boa oportunidade de recolhimento, não devemos deixá-la escapulir. Retiremo-nos para um cômodo tranquilo, preferencialmente isolado. Ali podemos orar, entregar-nos à leitura de temas bíblicos, meditar aos acordes suaves de uma melodia sacra, etc. e oficiar os Rituais Devocionais. Enfim, cada um poderá, a seu talante, compor a sua própria prática devocional.

Todavia, é importante ressaltar: isso tudo é devoção, mas a devoção não é só isso. Para assumir sua integralidade e produzir frutos ela deve transpor os limites formais das práticas acima mencionadas, ganhando corpo como VIVÊNCIA DEVOCIONAL. Entremeada de altos e baixos, a caminhada do Aspirante não se fortalecerá e consolidará enquanto não se alicerçar em uma VIVÊNCIA DEVOCIONAL.

Alguns Estudantes às vezes se queixam — e isso acontece desde o tempo de Max Heindel — de que, apesar de estudarem com afinco a Filosofia Rosacruz, notam ser muito lento seu progresso.

Com o correr do tempo, passam até a achar as lições repetitivas e monótonas.

Um Estudante, certa vez, escreveu a Max Heindel, afirmando que, em sua opinião, as Cartas mensais dirigidas aos membros da Fraternidade, nada mais eram que “pequenos agradáveis sermões”. Na verdade, ele estava era sequioso de novidades e mistérios. Não lhe importava extrair, dos textos, uma lição de fundo moral.

Fatos como esse, ocorrem com quem julga ser a Filosofia Rosacruz, apenas e tão somente um conglomerado de conhecimentos, formando um sistema filosófico estruturado em bases coerentemente racionais e lógicas. Não conseguem transcender sua intelectualidade, penetrando naquilo que ela tem de mais grandioso: sua capacidade de transformar, para melhor, o íntimo do ser humano.

Admitindo como notável a sua racionalidade, não lhe atribuem, talvez, aquele essencial caráter de religiosidade, capaz de permitir ao Aspirante, o reencontro com sua real natureza, isto é, a religação com o Eu Superior. Conceituam a Rosacruz pela óptica unilateral do intelectualismo. Não se lhes avulta, portanto, a perspectiva daquele equilíbrio tão enfatizado em lições, cartas, palestras: a união da Mente com o Coração, do intelecto com a devoção.

Nossa carreira, como Estudantes Rosacruzes, depende, inicialmente, e em grande extensão, da aquisição de conhecimentos. Através dos cursos, livros, conferências, temos acesso ao chamado “conhecimento indireto”. As informações concernentes à origem, evolução e futuro desenvolvimento do ser humano e do Mundo abrem-nos horizontes mais amplos. Orientam-nos. Dão-nos mais segurança na escalada desse íngreme caminho evolutivo, pela certeza infundida de que leis sábias regem o Universo, de cujo contexto somos parte integrante.

Mas é importante não esquecermos: essa é a primeira fase. É o passo inicial. A compreensão das verdades conhecidas deve fazer soar a corda do amor no mais recôndito do nosso ser. Satisfeita a Mente com o logicismo Rosacruz, o Coração deve vibrar numa vivência superior de serviço amoroso ao próximo. Sem isso não há progresso espiritual.

Na Escola Rosacruz não podemos prescindir do conhecimento intelectual. Esse, todavia, deve ser assimilado, digerido, trabalhado pelo coração e transformado em sabedoria. A verdade não assimilada é inútil. Apenas acrescenta-se ao nosso cabedal de conhecimentos. Mas se vivida, sentida, intuída, esta sim nos transforma em novas criaturas. Torna-se parte de nossa própria natureza. Converte-nos em sal da terra e luz do mundo. É sabedoria no mais profundo sentido do termo.

O conhecimento intelectual puro e simples constitui meio e não um fim em si mesmo. É elemento valioso como orientação e esclarecimento. Mas não deixa de ser informação. Informação apenas. Um computador também pode acumular informações. Toneladas de informações. Tal, porém, não o transforma em sábio. Há pessoas dotadas de vastíssimos e detalhados conhecimentos. São verdadeiras enciclopédias ambulantes. Outras há que, superficialmente, só memorizam datas e frases feitas. São verdadeiros computadores ambulantes.

A aplicação do conhecimento na vida prática, sempre objetivando beneficiar o próximo e aperfeiçoar as coisas, configura, realmente, uma vivência devocional. Fazer tudo o melhor possível — seja lá o que for — para maior glória de Deus, sem preocupação com os resultados, é imprimir um cunho superior à vivência devocional. A menos que nos esforcemos desse modo, continuaremos sendo como “sinos que tinem”. Se não temos amor e não o empregamos a serviço dos demais, de nada nos valerá conhecer os “mistérios”.

Quem vive devocionalmente a Filosofia Rosacruz não a julga repetitiva.

O dia-a-dia sempre lhe oferece novas oportunidades de servir com amor, pela utilização dos ensinamentos recebidos. Não vive desesperadamente à cata de novidades. A novidade, ele a encontra na constante descoberta interna daquilo que vivencia. Mas isso requer penetração além do estudo superficial. Demanda uma disposição para descobrir a harmonia, a beleza, o DIVINO, enfim, nas pessoas e nas coisas. Quando nos sensibilizamos ao sorriso de uma criança, ou ao colorido delicado de uma flor, estamos vivendo devocionalmente. A emoção que nos desperta o som natural emitido por um regato em seu fluir preguiçoso… O sentimento de empatia que nos envolve à vista do sofrimento alheio, estimulando-nos a estender a mão ao nosso semelhante… Quando do sentimento, passamos à ação… O cultivo do bom, do belo, do verdadeiro. A tudo isso chamamos de vivência devocional.

Talvez, na compreensão dessas coisas, aparentemente simples, encontrem, os Estudantes, as respostas aos seus problemas. É um tema merecedor de apurado exame.

(De Gilberto A V Silos – Publicada na Revista Serviço Rosacruz – 01/1978)

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A Relação entre Conhecimento e Sabedoria: onde está o ponto de partida

A Relação entre Conhecimento e Sabedoria: onde está o ponto de partida

Como quase todos os problemas humanos são, atualmente, observados e pretensamente solucionados através de uma visão materialista. O Aspirante Rosacruz não duvida de que a prática da devoção é um meio de se restabelecer o equilíbrio na vida da humanidade. Nem sempre as soluções encontradas pelas vias convencionais são adequadas ou definitivas, porque não abordam os problemas pelas suas causas. Em tais circunstâncias a vida devocional oferece valiosas oportunidades de uma análise mais profunda. Se antes de tentarmos equacionar uma questão através de fórmulas convencionais ou materialistas, meditássemos ou orássemos, notaríamos como as respostas seriam encontradas mais facilmente. Na realidade a solução seria intuída. Muitos dos grandes cientistas afirmaram que na fase inicial de suas descobertas receberam como que uma “inspiração ou intuição”. Parece-nos que o resultado final é fruto de amálgama entre a intuição e a formação acadêmica. Ao corolário de todo esse processo podemos chamar de sabedoria.

O conhecimento é tão importante em nossa vida que seria um equívoco não reconhecê-lo como um poderoso fator em relação com a sabedoria. A aquisição do conhecimento em todos os níveis e campos de atividade humana tornou-se um fator de sobrevivência na complexa sociedade em que vivemos. Mas, como Max Heindel afirmou no “Conceito Rosacruz do Cosmos”: “Tão seguramente como o pensamento já existia antes do cérebro e o está aperfeiçoando para sua expressão; tão certo como a Mente vem abrindo horizontes mais amplos a desvendando os segredos da natureza pela força de sua ousadia, com igual fortaleza o coração encontrará um meio de romper os grilhões que o prendem e realizar suas aspirações. Atualmente o cérebro o domina. Algum dia manifestará toda sua força, libertar-se-á de sua prisão, se convertendo em um poder maior que a Mente”. Isso já ocorre com muitas pessoas no Ocidente.

Os Ensinamentos Rosacruzes servem de ajuda àqueles inclinados ao intelecto, podendo conduzi-los, pela via racional, ao desenvolvimento de sua religiosidade. Conhecimento é poder, e, em si mesmo não é bom nem mau. Depende do propósito para o qual é utilizado. Partindo desse princípio não é difícil imaginar a responsabilidade que o envolve.

O conhecimento oculto ou religioso em si mesmo não é sabedoria. Trata-se apenas de um conhecimento mais elevado. São Paulo nos ensinou no capítulo 13 de sua Primeira Epístola aos Coríntios: “Ainda que eu conheça todos os mistérios e toda ciência. . . se não tiver amor, nada serei”.

Não há contradições na natureza: o Coração e a Mente devem ser capazes de unir-se. A Mente, auxiliada pelo intuitivo Coração, podendo aprofundar-se nos mistérios do ser com crescente eficácia, o que não seria possível se agisse isoladamente.

Filosofia significa “amor e sabedoria”. A sabedoria é o segundo aspecto do Deus Trino, o princípio crístico que é a meta da humanidade. Assim, quando nosso conhecimento se amalgamar com o amor, surgirá a SABEDORIA — uma expressão do Espírito de Cristo.

(Publicada na revista “Serviço Rosacruz” – 07-08/87)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Senso de Valor: veja onde está o seu

Senso de Valor: veja onde está o seu

“Disse o Senhor a Samuel: não atentes para a aparência nem para a altura de sua estatura, pois o tenho rejeitado. O Senhor não vê como vê o homem; o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” (ISm 16:7)

A passagem citada, do Velho Testamento, foi extraída do trecho em que Jeová manda Samuel escolher seu sucessor entre os 7 filhos de Jessé. Samuel julgava que o eleito seria dos mais fortes e de mais belo parecer. No entanto, foi escolhido David, rapazito ainda, que logo depois prostrou o gigante Golias com uma pedra atirada por uma funda.

Eis um belo tema de meditação. Influenciados, a todo passo, pelas opiniões da sociedade materialista em que vivemos, somos levados a avaliar as coisas segundo suas aparências, quando Deus nos solicita buscar os valores internos.

Na antiga Grécia, o conceito de elite era mais correto. Os realmente mais sábios e virtuosos pontilhavam na vida política, científica, artística e social. Sabemos que Xantipa, esposa de Sócrates, tinha violentas discussões com o sábio, porque ele trazia fama e não dinheiro para casa. Ainda hoje existem pessoas de grande valor, em todos os campos, que mal ganham para suas necessidades. Poucos são os que se guindam na opinião pública, como Einstein e Schweitzer, ainda em vida.

Heróis anônimos, aos milhares, estão por aí, na classe média, participando da elite de Deus, mas não da dos seres humanos.

É muito comum ouvirmos falar: “minha filha casou muito bem. Seu marido é diretor de tal firma e ganha muito bem”. Casou com o conforto, com o dinheiro, que torna lindo o noivo. Todos os dias, vemos falsos destaques serem agraciados por falsas honrarias. E, como dizem os Evangelhos, “quem já recebeu seu galardão dos homens, nada tem a receber de Deus”.

Não podemos negar que o simples fato de um indivíduo se diplomar médico, engenheiro etc., pressupõe esforço e mérito individual, que para chegar a determinado posto deve ter provado o desenvolvimento de qualidades incomuns, a menos que se haja guindado por apadrinhamento.

Mas não basta isso. A conquista de maiores faculdades ou bens sejam quais forem suas naturezas, se de um lado acarreia mérito individual, de outro lado atrai maiores responsabilidades, porque “a quem muito foi dado, muito lhe será exigido”. O uso que fará então, das faculdades ou bens que conquistou é que provará seu verdadeiro valor perante Deus. “De que vale ganhar o mundo e perder sua alma?”

O abuso de autoridade, de faculdades e de propriedade tem trazido muito sofrimento aos seres humanos. Somos apenas despenseiros dos bens que o Senhor põe à nossa disposição. Veja-se na parábola dos Talentos que o Senhor “deu mais ao que multiplicou seus talentos e tirou o único que tinha dado ao que, por medo de perdê-lo, o havia enterrado”.

A Fama, o Poder, o Dinheiro e o Amor são os meios mais usados atualmente, pelos Senhores do Destino, para adiantar a evolução humana. Por um deles somos capazes dos maiores sacrifícios, vidas inteiras. Mas quem é capaz de renunciar a si mesmo e servir os demais com o mesmo entusiasmo?

Sem exigir tanto, quantas pessoas se dedicam diariamente à prática de virtudes cristãs, pelo menos duas horas? Ou quem ora sinceramente meia hora por dia?

— Não tenho tempo! — é o que ouvimos constantemente. E lembramo-nos daquela passagem: “onde está o teu tesouro, ali está o teu coração…”

Sabendo isso e não exigindo mais do que podem dar os seres humanos, os Senhores do Destino lhes apresentam os incentivos da Fama, do Poder, do Dinheiro e do Amor. Em sua conquista tudo fazem e nesse esforço, sem o saberem, vão desenvolvendo qualidades de confiança própria, de persistência, de luta, que mais tarde serão aproveitadas num sentido superior. Quanto ao mau uso que agora fazem disso tudo, sofrerão inevitavelmente as consequências e seu efeito saturnino far-lhes-á crescer a alma, pela dor.

Muito mais, contudo, farão os que com o mesmo empenho constroem o mundo para servir seus semelhantes dos mais variados modos, administrando os bens e faculdades com perfeita renúncia de si mesmos. Esses crescerão muito e depressa, recebendo, com toda certeza, progressivamente mais, para verter no mundo, os recursos de Deus, pela evolução de seus filhos menores.

Cuidemos, pois, de avaliar devidamente as coisas e as pessoas. Muitas vezes o vidro brilha mais do que um diamante bruto… Melhor é não nos iludirmos com as aparências e buscarmos em todos “a divina essência que existe em cada um, pois isso constitui a verdadeira fraternidade”. Melhor dizendo, encaremos cada semelhante como irmão espiritual, com suas virtudes e defeitos. Não sejamos servis com os poderosos e superiores nem déspotas e infraternais com os inferiores na escala social. Tratemos a todos com a mesma lhaneza, amor e prudência, cuidando de merecer, por nossa conduta equânime e coerente, a graça de nos tornarmos dignos de ser “fiéis administradores dos bens do Senhor”.

(Publicado na revista Serviço Rosacruz de maio/1966)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Ação e o Amor: total isenção de interesses. Consegue?

A Ação e o Amor: total isenção de interesses. Consegue?

Tagore, o grande poeta e filósofo, afirmou certa vez “que a ação e o amor são os únicos meios pelos quais se pode chegar ao conhecimento perfeito”. Em outra ocasião, acrescentou que “a ação só pode ser harmoniosa quando inspirada no amor”.

Esses pensamentos de Tagore vieram à nossa mente, bem a propósito de um fato atual: a grande procura de obras tratando de ocultismo, parapsicologia, controle mental, fenômenos paranormais, etc. nas livrarias. Alguns desses livros transformaram-se em autênticos “best-sellers”, com índices de vendagem superando a expectativa dos editores.

Analisado sob ângulos convencionais, o fato, em si mesmo, não tem porque surpreender. Afinal, a comercialização de livros, assim como a de qualquer outro produto, depende de uma série de fatores conjugados para alcançar êxito: competente trabalho de “marketing”, inteligente e criativa veiculação publicitária, entre outros.

Mas, em se tratando de obras versando sobre assuntos transcendentais, a questão demanda uma análise mais profunda. Um tratado de ocultismo, como o CONCEITO ROSACRUZ DO COSMOS, por exemplo, não é um bem de consumo na acepção clássica da palavra. Poucos sentem inclinação para o estudo dos mistérios da natureza. Há, isso, sim, uma preferência por amenidades ou leituras “sem compromisso”, tipo “readers digest”.

Contudo, dia a dia cresce o número de pessoas interessadas em pesquisar o campo do esoterismo. Daí aumentar, também, o interesse das editoras em lançar obras desse gênero no mercado livreiro.

Nota-se — e isso é motivo de regozijo — por detrás de toda essa busca, uma ânsia admirável de penetrar no desconhecido, rompendo as fronteiras do oculto. O homem quer desvendar mistérios. A ciência materialista, a despeito de seu notável progresso, não logrou adentrar outras dimensões. Os instrumentais de que dispõe para pesquisa são limitados, ainda limitados. Quando muito abordam os efeitos. Isso não basta. Não satisfaz a natureza do homem mais amadurecido para as verdades do espirito.

Por meticulosos que sejamos no estudo de um fato, vão será nosso esforço, se não acharmos e perscrutarmos suas causas, pois a verdade primordial que o caracteriza, encontra-se subjacente em sua origem.

Dessa maneira, só nos domínios espirituais podemos defrontar-nos, com as raízes de todos os fenômenos, causadores de tanta perplexidade nos conturbados dias em que vivemos.

Essa busca do conhecimento esotérico, todavia, deve encontrar pausas periódicas em seu desenrolar. Interregnos para meditação e avaliação de motivos. Afinal, o que nos move a estudar matérias tão profundas, de reconhecida aridez para o homem vulgar? Diletantismo? Mera curiosidade? Desejo de satisfazer interesses imediatistas? Ou propósitos elevados?

O que vai determinar nosso êxito é a finalidade com a qual nos propusemos a pesquisar. Se somos diletantes, curiosos ou utilitaristas, quando muito adquiriremos um conhecimento intelectual, livresco, superficial. Distante estaremos da verdadeira sabedoria. Só se pode garimpar o “campo do espírito” com total isenção de interesses.

Estudando com afinco, movidos por um sincero desejo de ajudar a humanidade, vibraremos em uníssono com o “campo do espírito”. Uma afinidade vibratória dessa natureza tornar-nos-á cada vez mais sensíveis e receptivos às verdades cósmicas. Esse amor ao próximo, convertido em ação, abrir-nos-á perspectivas inimagináveis de progresso anímico. Amando e colaborando ativamente no aperfeiçoamento de todas as coisas, gradativamente, nos acercaremos da Divina Fonte, onde nos será oferecido o conhecimento perfeito.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1978)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

“Estar no Mundo sem ser do Mundo” e as horas livres de compromisso

“Estar no Mundo sem ser do Mundo” e as horas livres de compromisso

“Vivemos numa época que exulta nos tempos livres da evasão que impede, quase sempre, os tempos livres do compromisso”. Essas palavras, pronunciadas recentemente, num contexto acadêmico, pela Presidente do colégio universitário de Mt. Holyoke, Elizabeth Topham Kennan, são de grande oportunidade para o aspirante espiritual.

A ideia de que o sentido do compromisso, ou da promessa, tem a ver com as horas livres, não deixa de causar certo espanto, dado que a maior parte das pessoas vê um abismo entre estes dois conceitos. Os tempos livres estão quase sempre ligados a um período de liberdade e repouso, em que nos deixamos levar por interesses meramente pessoais. Um compromisso, ou uma promessa, por outro lado, sugere uma certa sujeição a uma tarefa necessária, imposta pelo exterior, ou às necessidades de outra pessoa. Ociosidade implica indulgência conosco mesmos; compromisso implica sacrifício.

Outra maneira de exprimir a ideia de “horas livres do compromisso” seria, portanto, “ceder ao sacrifício”. Quando é que temos tempo para “cedermos” ao sacrifício de nos entregarmos e de nos sacrificarmos às necessidades das outras pessoas? Estamos tão ocupados com assuntos pessoais, desde o ganhar para viver, ao fazer compras, nos distrairmos, descansarmos — para não falar das atividades e agitação desnecessárias a que tantas vezes cedemos! “Para a semana já tenho mais tempo; conversamos nessa altura…” é uma maneira com que, vulgarmente, se despede alguém cujas necessidades imediatas são um fardo que não desejamos carregar. À pressão da falta de tempo em que vivemos constantemente, pode tornar-nos completamente avaros, se nos deixarmos levar por este fenômeno que tem a sua origem e existência, puramente, no plano físico. É necessário que haja um impulso generoso para irmos contra o relógio e nos entregarmos, sem egoísmo, a projetos de vida comunitária, às atividades de caridade, ou às necessidades que transcendem o nível meramente social das nossas amizades. De certa maneira, tem de haver coragem e muita fé para não dar ouvidos às nossas preocupações pessoais, de falta de tempo, e para nos entregarmos, altruisticamente, a atender assuntos que sabemos, de antemão, que não terão compensações óbvias.

Também é necessário sinceridade para reconhecer que muito daquilo a que chamamos pressão do tempo é ilusório e que se organizarmos o nosso horário com mais eficiência, deixando para trás desejos egoístas que consomem tantos momentos e eliminando os “prazeres” pouco práticos de sonhar acordados, da tagarelice, da leitura escapista ou dos programas de televisão que nos embrutecem e de tantas outras atividades que assumem proporções tão importantes na nossa vida, teremos mais tempo para nos dedicarmos aos outros.

O mundo material parece, realmente, não querer aceitar os “tempos livres” da entrega. No entanto, o aspirante espiritual sincero não conhece este impedimento! Enquanto for avançando, lutando por purificar os seus veículos e por se preocupar, exclusivamente, com a realização da obra de Deus no mundo, o sacrifício de si torna-se cada vez mais automático. O desejo de se dar aos outros passa a ser a sua única preocupação; pode-se dizer que ele “cede”, muito legitimamente, ao sacrifício de se entregar a um compromisso de serviço.

Quando aprendermos a exortação de São Paulo de “estar no mundo sem ser do mundo” deixaremos de sentir que esse impede que haja “horas livres” de entrega. Presentemente, há certas pessoas que vivem na Terra e que já atingiram essas alturas. Mas todos nós, um dia, teremos de lá chegar também!

(Publicado na revista Serviço Rosacruz de 01-02/87)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um dos mais Preciosos Frutos do Discernimento

Um dos mais Preciosos Frutos do Discernimento

Os modernos meios de comunicação, com sua ação muitas vezes massificante, podem induzir as pessoas a uma compreensão muito superficial dos fatos e coisas que as rodeiam. Condicionam o ser humano a pautar sua vida e definir metas e ideais calcados em valores discutíveis, face à sua transitoriedade.

Não constitui exagero, nem exacerbado criticismo, afirmarmos que o ser humano moderno aprendeu, inconscientemente, a conviver com o artificialismo, perigoso criador de rótulos. O tratamento superficial que se dá mesmo aos mais importantes aspectos da existência humana, permite grassar uma lamentável tendência de tudo rotular.

As pessoas comuns, cada vez mais influenciadas por telenovelas e contos folhetinescos, deixam-se levar por uma distorcida visão maniqueísta do mundo. Assim, habituam-se a dividir as pessoas e as coisas em rigorosamente boas e rigorosamente más. Essa rotulação, atitude precipitada e eivada de conceitos injustos, na maior parte das vezes, não dá margem a um meio-termo. Nem enseja uma acurada verificação de, até que ponto algo é inteiramente mau ou bom, ou se verdadeiramente apenas aparenta ser assim.

Tal maneira de encarar os fatos pode constituir-se na gênese de muitos preconceitos. As ideias preconcebidas, os juízos prematuros encontram sua origem nessa visão caricata e apressada das coisas.

Somente o desenvolvimento de uma segura capacidade de discernir pode evitar o cometimento de equívocos. A ação de discernir envolve análise profunda, conhecimento intuitivo, julgamento sereno, caso contrário não passará de mero exercício de ilação ou simples raciocínio.

Isenção de ânimo e independência interior são, entre outros, fatores decisivos a embasar nossa faculdade de discernimento. Discernir é um processo completo, simultaneamente objetivo e subjetivo, expectante e ativo. É o degrau que antecede a “sabedoria interna”,

Todo indivíduo dotado de “Mente aberta ou arejada” no sentido real da palavra, logrou desenvolver, em certa extensão, esse dom admirável. Soube, dessa forma, conquistar o privilégio de poder analisar os fatos, penetrando-lhes o âmago, conhecendo-lhes sua verdadeira natureza.

Diz Max Heindel no Conceito Rosacruz do Cosmos que “é evidente a grande vantagem dessa atitude mental quando se estuda um assunto, uma ideia ou um objeto determinado. Afirmações que pareciam positivamente contraditórias, e que determinaram intermináveis discussões entre os respectivos partidários, podem conciliar-se. Só a Mente aberta descobre a concordância”.

Não nos é difícil imaginar como uma visão periférica das coisas gera o oposto, isto é, o encontro da contradição, da discrepância, em pontos onde elas positivamente não existem. Além disso, corre-se o risco de consagrar “fatos definitivamente estabelecidos” pela conceituação puramente humana, como parâmetros para a avaliação de tudo. Essa atitude mental induz a erros, porque denota um flagrante desconhecimento de que todas as coisas podem apresentar facetas variadas em sua natureza, tornando-se suscetíveis de enfoques através de diversos ângulos.

Mais uma vez citamos Max Heindel: “Ainda que se lho afirme, não se pede ao discípulo que admita, a priori, ser negro um determinado objeto que observou ser branco, porém que cultive uma atitude mental suscetível de “admitir todas as coisas como possíveis”. Isto lhe permitirá deixar de lado, momentaneamente, até mesmo aquilo que geralmente se considera um fato estabelecido — a brancura do objeto — e verificar se há algum outro ponto de vista sob o qual o objeto em referência possa parecer negro. Certamente ele nada considerará como fato estabelecido porque compreende perfeitamente o quanto é importante manter a mente no estado fluídico de adaptabilidade, característico da criança. Compreenderá que, agora vê as coisas como por espelho, obscuramente, e como Ajax, permanecerá sempre alerta, aspirando ‘luz, mais luz’”.

Quem atingiu esse nível de entendimento sempre revelará uma atitude de compreensão para com os outros seres humanos. Nunca será exigente em relação ao comportamento alheio. Pelo contrário, manter-se-á vigilante quanto à sua própria postura moral. Afinal, cumpre-nos entender que todo ser humano é um diamante em lapidação. Cada um, na medida de suas experiências e evolução, brilha a seu modo e à intensidades diferentes.

Todos são animados por uma Essência Divina, procurando expressar o que de mais elevado possuem, não importando a diferença de níveis de desenvolvimento individual.

Procurar essa Divina Essência nos demais e sintonizar-se com sua bondade inata constitui um dos mais preciosos frutos do discernimento.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Errar é Humano

Errar é Humano

Na sua singeleza, um ditado popular encerra sempre ou quase sempre, uma verdade oculta. Tomemos, por exemplo, para assunto de meditação, uma frase corrente: ERRAR É HUMANO… perdoar é divino… e nos concentrando nela, acabaremos entrando em contato com a força do seu significado. Acabaremos compreendendo porque se diz comumente que a voz do povo é a voz de Deus. Verdade que as pessoas pouco avisadas, interessadas em espiritualismo, procuram encontrar a verdade fluindo em geral de grandes segredos ocultistas, quando a verdade é simples e pura e vive entre nós expressa singelamente. É só saber entrar em contato com ela. Continuemos a estudar aquela frase de início…. Errar é humano, perdoar é divino… O erro parte realmente da nossa parte humana. A nossa parte divina é pura e encerra em si o germe da verdade. Basta que saibamos cultivá-la para que brote e floresça em nossos corações. É essa parte, a divina, que nos conduz à correção de nossos erros e de onde se tira aquele PERDOAR É DIVINO.

A nossa parte divina nos perdoa a nós mesmos através de Deus, ou Deus nos perdoa através da nossa parte divina, sempre que desejamos sinceramente esse perdão. E, naturalmente, um desejo sincero de perdão só pode partir de um coração arrependido e desejoso de redimir-se. Caia ou não em erro novamente, aquele momento de perdão existiu com o arrependimento, e é uma sementinha de verdade que pode germinar devagarinho, constituindo com o tempo, uma força real que se sobrepõe aos nossos erros.

Teremos então canalizado a nossa parte divina sobre a humana. “Errar é humano” pode, à primeira vista, apresentar um aspecto de justificativa. Se erramos, é porque somos humanos, e, sendo humanos, temos esse direito de errar, portanto não seremos nós propriamente culpados de nossos erros, mas sim a nossa constituição material trazida desde os tempos de Adão e Eva.

Para o ser humano natural, esse modo de pensar será perfeitamente lógico.

Entretanto, para aquele que descobre em si algo maior do que a carne, algo superior a essa parte humana tão falha e cheia de fraquezas, para quem já tem um vislumbre de uma realidade mais elevada, para esse, já não é possível aceitar a justificativa do Errar é Humano. Ele pode compreender que seus erros provêm da sua parte humana, que é a parte inferior do seu eu; mas sabe perfeitamente que essa parte inferior pode ser elevada, transformada e adaptada à essência divina que a interpenetra.

Assim como os mundos etéricos interpenetram o Mundo Físico, assim a nossa parte divina está perfeitamente entrosada na humana. Portanto, não há justificativa para cruzarmos os braços e aceitarmos nossos erros como coisa natural e própria da nossa condição humana. A nossa divindade também está em nós, em cada átomo do nosso corpo, na força criadora de nossos órgãos, na perfeição de funcionamento da máquina de nosso organismo, no nosso cérebro, no nosso sangue, na nossa vida, enfim.

E é essa essência divina que faz o nosso coração pulsar, equilibra as trocas químicas do nosso organismo para que haja a continuidade de vida em nosso corpo.

Por que ignorá-la então, por que a colocar em segundo plano, afastada de nós, desprezada em suas reais possibilidades dentro de nós mesmos?

A nossa divindade vive em nós e, quanto mais próxima de nós a sentirmos, maior a possibilidade de irmos anulando a força negativa da nossa parte humana, transformando-a em energia positiva. A finalidade dos nossos estudos é realmente esta: estabelecer o contato do divino com o humano, através da linha mística, ao mesmo tempo que elevamos ao divino a nossa parte humana, através do ocultismo, que é a linha intelectual.

Se formos refletir um pouco, acabaremos percebendo que os nossos erros, as nossas fraquezas não passam de forças mal dirigidas, de energia extraviada da verdade.

Para orientarmos essa força, basta, portanto, que mudemos o eixo de direção na linha de nossos pensamentos negativos.

Isso porque despendemos a mesma força, a mesma energia, tanto para sermos maus, como para sermos bons. Corrigir falhas, portanto, nada mais é do que orientar para a verdade os nossos pensamentos extraviados, recusando-nos a pensar errado, o que já é meio caminho para o ato certo, para a ação reta que constitui a finalidade do nosso discipulado, e que, forçosamente, há de levar-nos ao dia de glória em que conseguiremos restabelecer a unidade perdida do nosso todo, numa restauração total dos nossos valores íntimos, e final elevação do humano ao divino.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1978)

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