Você: um Vegetariano por Convicção ou Modismo?

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Você: um Vegetariano por Convicção ou Modismo?

Você: um Vegetariano por Convicção ou Modismo?

 O Livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” oferece-nos, em suas páginas, preciosos conhecimentos sobre a “Ciência da Nutrição” e “Lei da Assimilação”. Abordando esses temas de um ângulo eminentemente científico, Max Heindel demonstra como o corpo humano, habitualmente, passa por um processo de decaimento precoce. Esse processo tem como causa uma alimentação inadequada, incapaz de manter a boa qualidade do fluido sanguíneo, além da flexibilidade e desobstrução do sistema circulatório.

No tópico intitulado “Vivei e Deixai Viver”, o fundador da Fraternidade Rosacruz analisa o problema de um ponto-de-vista exclusivamente moral. É uma das mais belas páginas da literatura Rosacruz. Não há como duvidar de que a humanidade viveria em condições mais saudáveis e felizes se observasse estes princípios enunciados no Conceito: “A primeira lei da Ciência Oculta é ‘não matarás’. O Aspirante à vida superior deve ter isto muito em conta. Não podendo criar sequer uma partícula de barro, não temos o direito de destruir nem a forma mais insignificante. Todas as formas são expressões da Vida Una, da Vida de Deus. Não temos o direito de destruir a forma pela qual a Vida está adquirindo experiência, e obrigá-la a construir um novo veículo”.

Quando esses ensinamentos foram publicados, no início do século XX, pouco se conhecia a respeito da importância da alimentação como fator de equilíbrio físico-orgânico. A alimentação vegetariana era outra ilustre desconhecida. Só mesmo pessoas ligadas a escolas esotéricas é que a adotavam.

Com o decorrer do tempo, os seres humanos passaram a compreender que seus problemas de saúde são, na maioria das vezes, criados por vícios ou dieta alimentar errada. Compreendem, mas não se aprofundam na questão. E quando se aprofundam, quase sempre lhes falta coragem e determinação para mudar. Consequentemente, veem-se obrigados a carregar um rosário de enfermidades pela vida afora.

No que diz respeito ao ser humano comum, esse quadro não é de espantar. O que nos deixa pasmos é saber que espiritualistas, não obstante o conhecimento que têm, enfrentam esses problemas.

O Estudante da ciência esotérica sabe perfeitamente que o ser humano, essencialmente, é um Espírito. Que o seu veículo físico é um meio de expressar-se, aprender, adquirir experiências e expandir sua consciência. O corpo, portanto, é um templo divino e como tal deve ser preservado. A vida evolui através da forma. Quanto mais sensível a forma, maiores serão as possibilidades da vida expressar sua natureza divina.

É desejável, à luz dessa Verdade, viver o maior número de anos possível, com boa saúde, lucidez e disposição para trabalhar e aprender. É a única maneira de tornar uma encarnação proveitosa.

Certos conhecimentos básicos sobre alimentação são imprescindíveis, além de rudimentos de anatomia e fisiologia.

O organismo humano requer, para o seu perfeito desenvolvimento e funcionamento, uma variedade balanceada de alimentos, diariamente. Sua estrutura deve ser, por conseguinte, reparada constantemente.

Um automóvel, mesmo tendo o seu tanque cheio de combustível, não poderá percorrer grandes distâncias se faltar-lhe óleo. Mesmo que suficientemente abastecido de óleo, gasolina ou álcool, se o radiador não contiver água, o motorista poderá ter uma surpresa desagradável.

Podemos, por analogia, comparar o corpo humano a um automóvel. A máquina humana resistirá por algum tempo desprovida de vitaminas ou de sais minerais, mas essa carência não poderá manter-se indefinidamente. Cedo ou tarde os resultados de uma dieta insuficiente ou desequilibrada surgirão em forma de enfermidade. Não é de se estranhar, portanto, que o item “saúde” absorva dotações cada vez maiores nos orçamentos das nações.

O fator determinante de uma alimentação saudável é, sem dúvida alguma, seu teor qualitativo. O organismo não necessita de grandes quantidades de alimentos, mas de dietas balanceadas. Uma das causas da morte prematura é a alimentação irracional. Em geral, as pessoas que gozam de boa situação socioeconômica comem em demasia, mas não sabem escolher os alimentos. Acabam obesas e doentes.

Vivemos hoje em sociedades cada vez mais sofisticadas pelo aprimoramento tecnológico. Isso nos é benéfico à medida que nos traz conforto, racionalização de tempo, rapidez de comunicação e transporte, aquisição de conhecimentos, etc.; contudo, esse processo avassalador de modernização também pode gerar distorções se não for suficientemente compreendido. E essas distorções se evidenciam também na área alimentar.

Toda essa imensa gama de produtos alimentícios comercializados nos supermercados, geralmente representam danos à saúde humana. A despeito das reiteradas advertências feitas por médicos e nutricionistas conscienciosos, é alarmante o consumo de refrigerantes, carnes, alimentos enlatados (principalmente derivados de carne), refinados (açúcar, por exemplo), corantes, margarinas, alimentos ditos beneficiados (trigo e arroz brancos), estimulantes (chás, café), bebidas alcoólicas, etc. Tudo isso, em maior ou menor grau, é prejudicial à saúde, mas é importante destacar a nocividade da carne, tanto orgânica como espiritualmente.

O ser humano não é um ser naturalmente carnívoro, e isso já foi comprovado, anatômica e fisiologicamente. Não dispõe de garras e presas como alguns espécimes animais, para matar e esquartejar, nem seu aparelho digestivo permite digerir a carne com facilidade, eliminando rapidamente as toxinas.

Os animais que se alimentam de carne preferem-na ao natural, sem qualquer preocupação com seu sabor e odor. Já o ser humano procura dissimulá-la com temperos para evitar a repugnância que causa.

O fato da carne ser uma grande fonte de proteínas não quer dizer que seja imprescindível numa dieta alimentar. Há outras fontes mais puras e baratas, cujo valor proteico nada lhe fica a dever.

A carne é muito mais excitante do que nutritiva. Quem ingere carne diariamente, em quantidade não moderada, e suprimi-la bruscamente um dia, mesmo que a substitua por alimentos mais saudáveis, padecerá nesse dia de uma sensação profunda de debilidade, como se estivesse em jejum prolongado. Essa sensação de fraqueza, entretanto, não é provocada por insuficiência alimentar, mas pela supressão do excitante. Fenômeno idêntico ocorre com outros excitantes, tais como o fumo e o álcool.

A carne também é tóxica. Alguns venenos que ela contém são ensejados pela sua toxidez e outros porque são ácidos. E esse quadro se agrava quando a carne é obtida de animais doentes ou fatigados. E tem mais: No momento do abate quando o animal se desespera ao perceber seu fim, seu organismo segrega várias substâncias que impregnam a carne, conferindo-lhe nocividade.

Felizmente, os princípios da alimentação vegetariana, natural, encontram receptividade cada vez maior, principalmente entre os jovens. Cresce, notavelmente, o número de publicações defendendo essa dieta alimentar. Em qualquer cidade de porte médio é comum encontrarmos pelo menos um restaurante vegetariano. O vegetarianismo deixou de ser sinônimo de excentricidade. Os vegetarianos, hoje, são pessoas respeitadas e admiradas.

A alimentação vegetariana além de purificar e fortalecer o organismo, plasma um caráter mais elevado. Se tomarmos como amostragem um grupo de pessoas convictamente vegetarianas, verificaremos, com raríssimas exceções, que:

  1. Não são dominadas por vícios, isto é, não bebem, não fumam, não usam drogas. Algumas talvez ainda não tenham se libertado do café, outras tomam refrigerantes, mas estão conscientes de que isso é prejudicial à saúde;
  2. Raramente se enfermam. Conservam permanentemente boa disposição para o trabalho, para a prática de esportes e exercício de atividades intelectuais;
  3. São pessoas dotadas de grande acuidade mental. São muito sensíveis, apreciadoras de música erudita, de artes plásticas, de literatura, de poesia, de teatro e de outras formas elevadas de expressão do espírito;
  4. Entre os vegetarianos encontramos grande número de espiritualistas, das mais variadas correntes, todos preocupados com o autoaperfeiçoamento e com os destinos da humanidade;
  5. São pessoas calmas, equilibradas, pacíficas e pacifistas (Gandhi era vegetariano). Gostam da natureza e da vida ao ar livre. Quando os jornais noticiam a descoberta de pessoas extremamente longevas, centenárias, habitualmente evidenciam-se como causas dessa sobrevivência uma vida tranquila, alimentação natural, isenta de carnes.

Há alguns anos, uma entidade britânica, a London Vegetarian Association, realizou uma interessante experiência: submeteu 10.000 crianças ao regime vegetariano simultaneamente, outra organização, a London Country Council, manteve outras 10.000 crianças no carnivorismo, regime alimentar do qual a carne é um dos componentes. Decorridos seis meses as 20.000 crianças passaram por rigorosos exames médicos. Constatou-se que o estado geral de saúde dos vegetarianos era bem melhor. Adquiriram peso maior e músculos mais fortes.

London Vegetarian Association ficou incumbida, então, pelo Conselho Municipal de Londres, de alimentar igual número de crianças pobres daquela cidade, às expensas da Prefeitura.

Apesar de grandes avanços e mais amplas informações sobre a alimentação vegetariana, ainda predominam preconceitos intensamente arraigados numa sociedade tradicionalista como a nossa. Muita gente rejeita a alimentação vegetariana imputando-lhe falta de sabor. Outros afirmam que é “fraca”, desprovida de elementos nutritivos, tornando as pessoas igualmente “fracas” e desnutridas. Isso é puro preconceito e desinformação. Ora, todo alimento cárneo deve ser bem condimentado, pois na realidade o que não tem sabor algum é a carne em seu estado natural, ou seja, crua.

Para tornarmos um vegetal saboroso basta adicionarmos-lhe um tempero leve, isto quando se trata de legumes e verduras. Eis porque os carnívoros acham os vegetais insonsos. A diferença está na condimentação.

Quanto ao argumento de que o vegetarianismo enfraquece as pessoas, nada é mais irreal. São muitos os exemplos de esportistas consagrados, campeões, verdadeiros mitos que adotavam ou adotam uma dieta vegetariana. São igualmente numerosos os casos de pessoas longevas que atribuem seu excelente estado de saúde a uma dieta à base de vegetais.

Para ilustrar essas considerações, vamos a mais um exemplo concreto.

Numa daquelas regiões quase inacessíveis do Himalaia, vive um povo meio primitivo chamado hunza. Em 1947, um médico e fisiólogo inglês, Sir Robert McCarrison, esteve naquelas paragens, designado que foi pelo Serviço Sanitário da Índia Britânica, para verificar o estado geral de saúde daquela gente. Qual não foi seu espanto ao constatar a longevidade daquelas pessoas e a quase inexistência de enfermidades em seu meio.

Meticulosos estudos realizados pelo Dr. McCarrison, abrangendo condições climáticas, ambientais, hereditárias, culturais, alimentares, levaram-no a concluir que a dieta comum àquele povo continha o segredo da longevidade.

Os hunza alimentavam-se de cereais, frutas, legumes, leite, queijo e outros produtos naturais. Não conheciam as maravilhas da sociedade de consumo, tais como o açúcar refinado, o café, refrigerantes, bebidas alcoólicas, conservas e carne.

Além de todos esses dados registrados pelo Dr. McCarrison, algo mais despertou-lhe a atenção: a relação entre os hábitos alimentares, o caráter e a vida moral daquele povo. Os hunza são sóbrios em tudo, ativos, resistentes à fadiga, alegres, pacíficos, tolerantes e fraternais.

Poderíamos ainda enriquecer este nosso trabalho com grande e variado número de exemplos, capazes de comprovar as excelências da alimentação vegetariana. Preferimos, entretanto, não o fazer por razões de ordem prática, além do que outros aspectos da questão merecem ser abordados.

A Fraternidade Rosacruz, divulgadora autorizada dos ensinamentos Rosacruzes, afirma convictamente que o regime alimentar ideal é o vegetariano, sob todos os aspectos. Respaldando essas afirmações encontramos ensinamentos nas obras de Max Heindel, nas revistas Rays From The Rose Cross, Serviço Rosacruz e outras publicações editadas pelos Grupos e Centros Rosacruzes do mundo. Os Estudantes brasileiros, particularmente, foram beneficiados com o lançamento em português da obra “Cozinha Vegetariana”. Há, ainda a mencionar, a facilidade crescente na aquisição de produtos naturais, pois além das lojas especializadas na comercialização desses artigos, podemos encontrá-los também nos supermercados.

Há casos de Estudantes da ciência esotérica que, tendo adotado a dieta vegetariana, tempos após, retornam à dieta carnívora, alegando sentirem-se debilitados e enfermos. Dois aspectos na questão merecem uma análise acurada:

  1. O Estudante pode não ter efetuado a transição de uma dieta para outra de uma forma racional e equilibrada. Talvez tenha passado de uma forma repentina para o regime vegetariano, sem balancear devidamente sua ração alimentar diária. Não esqueçamos um ensinamento elementar: A natureza não dá saltos. Não admite processos repentinos. A carne deve ser abandonada aos poucos.

A afirmação, muito comum por sinal, de que a carne deve ser “substituída” encerra uma visão equivocada do problema. Para “substituir” a carne há quem ingira quantidades exageradas de alimentos ricos em proteínas, tais como soja, ovos, laticínios. O organismo humano requer uma certa quantidade diária de proteínas, mas não um superprovimento. O superprovimento gerará problemas, sem dúvida alguma.

A carne não deve ser “substituída”. Deve ser abolida gradativamente. O Estudante simplesmente deve adotar uma dieta equilibrada, provendo-se de dosagens corretas de sais minerais, vitaminas, hidratos de carbono, proteínas e calorias adequadas ao tipo de atividade que exerce;

  1. Este é o aspecto mais delicado do tema. De início queremos propor uma questão: Que razões devem realmente levar o Estudante a adotar a alimentação vegetariana?

Alguns o fazem pela necessidade de gozar boa saúde.

Outros inspiram-se em considerações de ordem ética ou princípios relativos ao respeito à vida.

Na realidade, as duas razões são importantes, mas a segunda é fundamental e mais relevante.

Devemos ser vegetarianos por amor, por respeito à vida de outros seres. Não temos o direito de contribuir, direta ou indiretamente, para a matança de indefesos animais.

A compaixão, acima de tudo, deve nortear nossos passos na decisão de mudar nosso regime alimentar.

Do Estudante da ciência esotérica não se pode esperar atitudes dúbias ou pusilânimes. A firmeza de convicções é fator importante no crescimento anímico.

Se esses argumentos ainda não são convincentes, que o Estudante tome a iniciativa de visitar um matadouro. Seguramente ficará estarrecido com o que lhe será dado a observar. As más vibrações, o odor nauseabundo, as cenas de horror que por certo notará naquela casa da morte deverão incomodá-lo bastante. Mas, se tudo isso ainda não for suficiente, então que assista ao abate. Impossível a uma pessoa dotada de um mínimo de sensibilidade não ficar chocada com o desespero, a dor e agonia do animal na hora da morte. Há quem diga que os olhos de um carneiro chegam a verter lágrimas ao perceber o que o aguarda.

Não! Absolutamente não! Não podemos concordar com essa violência. Essa agressão às leis da vida só pode implicar sofrimento para o ser humano.

A evolução é fundamentalmente uma questão de consciência. Nosso estado de consciência determina o que somos e manifestamos, nossa sensibilidade e pensamentos. Determina principalmente nosso estado de saúde.

Se, em nossa consciência, admitimos a necessidade de conservar limpos e puros nossos corpos; se, intransigentemente, defendemos o direito à vida e a não-violência, podemos estar certos de que tudo isso repercutirá positivamente no corpo físico. Nossa consciência projetará equilíbrio e harmonia sobre nosso organismo, em forma de boa saúde.

Portanto, se o Estudante se tornar vegetariano por convicção não haverá o que temer. E o que é mais importante: sua atitude constituirá um sólido exemplo para outros. A redenção da raça humana começa por aí.

(De Gilberto Silos, Publicado na revista Serviço Rosacruz – 09/88)

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