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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

“Paz na Terra entre os Homens”

“Paz na Terra entre os homens”! Essas palavras mágicas vem ecoando pelos dos séculos. Em plena era da tecnologia constituem-se na maior, na mais angustiante aspiração humana.

Não podemos afirmar que haja paz no mundo. Em algum momento e em algum lugar, um conflito separa irracionalmente, os seres humanos. Os momentos de trégua, fugazes interlúdios, quantas e sofridas vezes prenunciam o recrudescimento da porfia…

Há mais dois mil anos a humanidade também ansiava pela paz. O advento do Messias representava a redenção. Ele fora proclamado, séculos antes, o Príncipe da Paz, por Isaías. Mas o Cristo, utilizando os dois veículos inferiores de Jesus, pode conhecer a natureza humana: “Não vim trazer-vos a paz, mas uma espada“. A dissenção medraria entre seus próprios seguidores. E estes negariam os princípios do Mestre nas lutas movidas contra os não-cristãos.

“A Religião impropriamente chamada Cristã”, diz Max Heindel, foi responsável por ignominiosos derramamentos de sangue. “Nos campos de batalha e durante a vigência da Inquisição cometeram-se atrocidades inqualificáveis em nome do doce e meigo Nazareno. A ‘espada e o vinho’, isto é, a cruz e o cálice pervertidos, foram os meios de que se valeram as poderosas nações chamadas Cristãs, para dominar os povos pagãos e as nações mais fracas, embora professando a mesma fé de seus conquistadores”.

A humanidade ainda não logrou a paz. Ainda vive em meio a conflitos armados. Permanece confusa ante o choque de ideias. Mas esse estado de coisas há de ensinar-lhe algo proveitoso e capaz de mudar seu caminho. Há algum meio mais eficaz para demonstrar a beleza do entendimento e a necessidade de união, do que compará-los com o panorama de guerras, egoísmo e ódio dominante?

“Quanto mais forte é a luz, tanto mais profunda e a sombra que projeta”. Assim, quanto mais elevados nossos ideais, mais claramente percebemos nossas debilidades.

Lamentavelmente, nas condições atuais de desenvolvimento, a maioria de nós só pode aprender por meio de duríssimas experiências: é mister sofrer a enfermidade ou a doença para se reconhecer as excelências da saúde.

Nenhuma lição encerra valor real como princípio ativo de vida, caso sua verdade seja assimilada apenas superficialmente. Deverá ser assimilada pelo coração, pela aspiração e pela amargura. A lição mais importante, que, deste modo, o ser humano deve aprender é: “o que não beneficia a todos, não beneficia realmente a ninguém”.

Estamos vivendo a atmosfera do Natal! Mais uma vez encontramo-nos com o Cristo, quer estejamos conscientes ou não dessa realidade. Possa Seu estímulo espiritual sensibilizar o coração humano para os aspectos positivos da existência. Cultivemos as virtudes essenciais do cristianismo. Aperfeiçoemos nossa capacidade de dar e amar. Só o altruísmo conseguirá reunir os seres humanos em uma Fraternidade Universal. Para tanto, procuremos nos tornar universais em nossas simpatias, cultivando, também, o sentimento de empatia: é o mesmo que viver a chamada “regra de ouro”.

Aproveitemos a santidade da época para uma reavaliação de nossas vidas. E, principalmente, levemos a paz conosco, desejando e orando para que gradativamente, o mundo possa conquistá-la em caráter permanente. Que a influência unificadora do Cristo encontre, dia a dia, corações mais receptivos. Caminhemos sempre com renovadas esperanças em um mundo melhor. Aprendamos a conhecer, como Whitman, “a amplitude do tempo”[1] e a olhar além das passadas e presentes crueldades, o caminho da Fraternidade Universal. Esta marcará o grande novo passo do progresso humano em sua larga e gloriosa jornada desde o ser mais desprovido de grandeza até Deus, desde o protoplasma até a consciência una com o Pai, esse… “distante e divino acontecimento para o qual se move a criação inteira”.

 (por Gilberto A. V. Silos – Editorial da Revista Serviço Rosacruz – dezembro/1975 – Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP)


[1] N.R.: Quem vai ali? Cheio de realizações, tosco místico, nu;

Como extraio energia da carne que consumo?

O que é um homem afinal? O que sou eu? O que és tu?

Tudo o que marco como sendo meu tu deves compensar

com o que é teu.

De outro modo seria perda de tempo me ouvir.

Não lanço a lamúria da minha lamúria pelo mundo inteiro,

De que os meses são vazios e o chão é lamaçal e sujeira.

Choradeira e servilismo são encontrados junto com os

remédios para inválidos, a conformidade polariza-se

no ordinário mais remoto.

Uso meu chapéu como bem entender dentro ou fora de casa.

Por que eu deveria orar? Por que deveria venerar e ser cerimonioso?

Tendo inquirido todas as camadas, analisado as minúcias,

consultado os doutores e calculado com perícia,

Não encontro gordura mais doce do que aquela que se prende aos meus próprios ossos.

Em todas as pessoas enxergo a mim mesmo, em nenhuma vejo mais do que eu sou, ou um grão de cevada a menos.

E o bem e o mal que falo de mim mesmo eu falo delas.

Sei que sou sólido e sadio.

Para mim os objetos convergentes do universo

perpetuamente fluem,

Todos são escritos para mim, e eu devo entender o que a escrita significa.

Sei que sou imortal,

Sei que a órbita do meu eu não pode ser varrida pelo

compasso de um carpinteiro,

Sei que não passarei como os círculos luminosos que as crianças fazem à noite, com gravetos em brasa.

Sei que sou augusto.

Não perturbo meu próprio espírito para que se defenda ou seja compreendido,

Vejo que as leis elementares nunca pedem desculpas,

(Reconheço que me comporto com um orgulho tão alto quanto o do nível com que assento a minha casa, afinal).

Existo como sou, isso me basta,

Se ninguém mais no mundo está ciente, fico satisfeito.

E se cada um e todos estiverem cientes, satisfeito fico.

Um mundo está ciente e esse é incomparavelmente o maior de todos para mim, e esse mundo sou eu mesmo,

E se venho para o que é meu, ainda hoje ou dentro de dez mil anos, ou dez milhões de anos,

Posso alegremente recebê-lo agora, ou esperá-lo com alegria igual.

Meus pés estão espigados e encaixados no granito,

Debocho daquilo que chamas de dissolução,

E conheço a amplitude do tempo.

Song of Myself – Walt Whitman

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Como é Importante Expressarmos a Gratidão

Como é Importante Expressarmos a Gratidão

A gratidão produz crescimento anímico. Devemos ser gratos por tudo que recebemos. Já ouvimos Estudantes argumentarem que os Aspirantes Rosacruzes estão na fase do dever e, portanto, não cabem em nossas mútuas ações e serviços o reconhecimento e a gratidão: não há sacrifício, pois fazemos prazerosamente.

É certo que agimos por dever e por amor desinteressado; mas que devamos dispensar a gratidão, isso não. Apenas não devemos exigir reconhecimento dos outros. Há de ser espontâneo. Contudo, que devemos aprender a ser gratos, isto é inegável e há razões ocultas para justificá-lo.

Vemos em “O Conceito Rosacruz do Cosmos” que a força mental pode ser dirigida a três direções. Tanto age dentro, como fora de nós. Quando age fora, pode ser para dar informações, como no caso da telepatia, ou para incentivar alguém, quando se quer fazer o bem.

No trabalho de Cura da Fraternidade Rosacruz fazemos uma ideia bem definida de ajuda e a vivificamos com um forte sentimento, um desejo de servir, de transmitir nossa vitalidade, decisão, otimismo, fé; enfim, todas as qualidades positivas de que precisam os doentes para vencer suas próprias limitações e ajudar-se na recuperação da saúde física e psíquica. Esse pensamento, sem o sentimento, seria vazio, fraco, frio, estéril.

Assim também, quando somos gratos a alguém, envolvemos o pensamento de gratidão com o sentimento correspondente e o enviamos ao nosso benfeitor, fazendo espontaneamente uma imagem mental dessa pessoa. Essa força vai até ele, lhe circunda a aura e a penetra, gravando-se em seu átomo-semente através do éter do ar que lhe penetra os pulmões e dali passa ao coração. Esse é o processo oculto-científico.

Após a morte do corpo, havendo passado pela purgação dos maus atos nas regiões inferiores do Mundo do Desejo, penetramos no Primeiro Céu e os acontecimentos bons da nossa passada existência começam a desfilar em ordem inversa. Ali, não só o que fizemos de bem, como o que recebemos de bem, voltam a ser sentidos. Numa cena em que ajudamos alguém, revivemos gostosamente o bem-estar que, em nós, o ato produziu, acrescido pelo sentimento de gratidão que o outro emitiu a nosso favor. Inversamente, todo sentimento de gratidão que tenhamos gerado pelos outros que nos ajudaram e favoreceram em diversas circunstâncias, tornamos a experimentar no estágio do Primeiro Céu.

Em decorrência, vemos que a gratidão, seja a nossa relação com os outros ou a dos outros em relação a nós, produz crescimento anímico. É desse modo que se vai alimentando o altruísmo, a filantropia e todos os sentimentos da vida superior da alma, para formação da vida, da luz e do poder anímicos. Primeiro é preciso vivermos nobremente, a fim de gerarmos a luz da alma e, por corolário, o poder da alma. É uma ordem lógica de desenvolvimento interno. A luz só pode nascer do bem. O lírio que nasce do lodo é símbolo da pureza que se extrai do sofrimento que passamos, por haver condescendido com as práticas inferiores de vida, e concluirmos que o “caminho do transgressor é muito duro”. Melhor é o caminho da virtude, que se alcança pela observação e equilíbrio, sem necessidade de passarmos pela experiência do mal.

Voltando à gratidão, observemos ainda que nos é recomendado, no exercício de retrospecção feito ao nos deitarmos para dormir, à noite, que devemos sentir fortemente o bem praticado ou recebido para imprimi-lo consciente e fortemente em nós. A razão é a que expusemos.

Em nossa oração diária, de íntima conversa com o Cristo interno e deste com o Pai, costumamos agradecer por tudo que recebemos. Isso aprendemos quando, mocinhos ainda, lemos sobre a vida extraordinária de Hellen Keller, que nasceu privada de visão, de audição e de fala e mesmo com essas limitações, ajudada por uma amiga, certamente uma companheira de outras vidas, aprendeu, tateando os lábios e a laringe de sua professora, várias línguas. Depois, ela se exprimia com o tato na mão da amiga e dirigia ao mundo mensagens de incentivo e de fé que abalaram vários continentes.

E nós? Temos tudo. Que fazemos como administradores dessas bênçãos de Deus? Por que não as usar adequadamente, agora e aqui, o melhor possível? Por isso agradecemos a Deus pelos olhos que nos permitem ver as belezas de sua criação, a luz, as cores, as mensagens evolutivas nos rostos das criaturas, os contrastes da natureza, as experiências legadas nos livros pelas gerações que se foram, poder ler a Filosofia Rosacruz.

Somos gratos pelos ouvidos que nos permitem ouvir o riso das crianças, o cantar dos passarinhos, a divina música, o modo de expressar dos seres humanos e dos animais, as vozes dos elementos da natureza.

Somos gratos pelo olfato que nos permite sentir o odor das flores e dos alimentos. Somos gratos pelo tato que nos permite sentir a aragem dos campos, a brisa do mar, a carícia de meus filhos, o conjunto de tudo que me rodeia, a percepção da densidade.

Somos gratos pelo paladar, que nos permite discernir entre o agradável e o desagradável, entre o sadio e o estragado, que nos permite incentivar as glândulas salivares e iniciar uma boa digestão.

Somos gratos pela saúde do corpo e pela enfermidade, que nos adverte, pela alegria e pela tristeza, pela sombra e pela luz, pelo feio e pelo bonito, esses contrastes que nós mesmos criamos, esse quadro que nós mesmos pintamos para aprender a apreciar a unidade branca, a pedra filosofal, e vender tudo o que temos para possuí-la. Aprender quando nos damos.

Disse Whitman: “Vede! Não me limito a dar. Ser grato é avaliar o que se recebe e o que se dá. Só o amor não basta. É preciso o entendimento. Os dois, mutuamente se ajudando, produzem o Amor-Sabedoria, a tônica do Filho, do Cristo, em nós. Isso, sem esmolas ou conferências. Dou-me a mim mesmo!”.

E quando aprendemos a ser gratos, aprendemos a amar também, com sabedoria e discernimento. E vemos que nos libertamos de nós mesmos, porque em nós estavam os bloqueios, os diques que impediam o livre fluxo do amor divino, de nós para os outros.

Tínhamos um propósito definido, ao falar-lhes de gratidão.

Vejamos a vida de Max Heindel: toda sua vida, como exemplo vivo, foi de ajuda à humanidade; ele era grato por tudo que o Senhor lhe dera e empregava seus dons físicos, psíquicos e espirituais como um administrador zeloso e fiel. Multiplicou seus talentos de forma admirável. Não pensava em sua própria evolução, mas apenas em servir. Com tais singulares virtudes e desenvolvimento interno, foi o escolhido pelos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz. Eles, que veem nosso interno amadurecimento na cor e expansão da aura individual, sabiam-no preparado. Todavia, submeteram-no a uma prova. Sem ele saber, ele venceu. Depois disso Max Heindel foi Iniciado e conscientemente pôde investigar nos mundos invisíveis todas as verdades transmitidas pelo “Conceito Rosacruz do Cosmos”. Além desse livro básico de nossa Fraternidade, deixou-nos inúmeras outras obras, complementos valiosos daquela, condensados de suas observações e experiências, que constituem um patrimônio inestimável de orientação à posteridade, um guia seguríssimo de desenvolvimento, de preparação para o mundo de Aquário, normas lógicas e objetivas de como devemos vencer a transição que nos anunciam os Evangelhos: “Assim como nos dias de Noé será no dia do Senhor”; em que a religião do Filho, a religião Cristã, brilhará em sua mais pura expressão, escoimada dos vícios e egoísmos gerados pelas religiões de raça que ainda nos maculam as formas religiosas.

A grande mensagem dos Irmãos Maiores, através de Max Heindel, foi apresentar o Cristianismo, em sua prístina pureza, como um sublime ideal que devemos atingir. E deu-nos os meios, o método para alcançar esse fim glorioso do desenvolvimento humano; ele deu a maior ajuda, a de preparar cada ser de modo a emancipar-se de todas as dependências, de erguer-se e caminhar com suas próprias pernas, de ser autossuficiente, uma lei em si mesmo, à luz dos conhecimentos das Leis divinas que regem a Criação, particularmente o ser humano. Como disse o Iniciado Goethe: “O ser humano se liberta de todas as forças que encadeiam o mundo quando alcança o domínio de si mesmo”.

Na época áurea da Grécia antiga já ensinou Sócrates o “conhece-te a ti mesmo” e seu iniciado discípulo, Platão, completou-o, descrevendo o ideal de “ser atleta, santo e sábio”. Hoje, a Fraternidade Rosacruz realiza publicamente esse Ideal, que naquela época estava limitado a poucos escolhidos, mediante o lema deixado por Max Heindel: “Corpo são, Coração nobre, Mente pura”.

Max Heindel deu-se a si mesmo, inteiro, e hoje trabalha nos planos internos, em seu Corpo-Alma, realizando, pelo serviço, uma colheita que um ser humano comum levaria muitas vidas para ceifar. Ser-lhe grato é fácil para nós, que sentimos os benefícios dessa Filosofia Rosacruz em nossas vidas. Mais fácil ainda para os que, mais desenvolvidos e havendo penetrado mais profundamente em sua obra e sua mensagem, avaliam-lhe melhor pelo que deu ao mundo.

E somos gratos também à sra. Augusta Foss Heindel, sua companheira de lutas e de realizações, profunda em Astrologia oculta e continuou a obra da Fraternidade até 1949.

Ao relembrar, nesta descolorida síntese, o valor da gratidão e a oportunidade de expressá-la a esse casal admirável, lembremo-nos de um irmão Probacionista que sempre dizia: “Há coisas que não se pode expressar com palavras. Somente a alma pode senti-las integralmente”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1965)

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