Pergunta: Estou me recuperando de uma doença e me sentindo ótima. Minha experiência tem sido atrair esses bons sentimentos, apoiar-me neles, tentando torná-los e tornar-me melhor. Estou tentando fazer com que as coisas aconteçam de acordo com minha vontade. Estou agora, rezando para que seja feita a vontade de Deus e parei de tentar fazer com que as coisas aconteçam por mim mesma. Isto é certo ou não?
Resposta: Estamos certos ao pedir que seja feita a vontade do Pai. Esse seria o ápice de todos os nossos pedidos, em todas as fases de nossas vidas. Não podemos cometer o erro, porém, de enervar nossa própria vontade, “programando-a” para se tornar passiva na subserviência à vontade de Deus. Foi-nos dada força de vontade para que nos tornemos ativos conforme as leis naturais e universais e isso é um dos aspectos mais importantes de nossa divindade latente. Naturalmente, a vontade de Deus deveria ter prioridade sobretudo, mas devemos estar também preocupados em inclinar nosso desejo, de acordo com o que acreditamos, seja Seu desejo.
É evidente que não estamos sempre certos de compreender Sua vontade, mas é exatamente aí que o processo educativo se torna mais poderoso. Os erros são, frequentemente, nossos melhores professores. Precisamos aprender a agir corretamente sozinhos, acrescentando e completando quando necessário, de modo que nossas vidas possam ser guiadas e dispostas em experiências e canais proporcionais ao progresso e à evolução contínua.
“Deus ajuda aqueles que se ajudam”, nos foi ensinado. Se simplesmente imploramos para que “seja feita Vossa vontade”, sem abrir nossos Corações e Mentes para a orientação sobre qual seria Sua vontade nesta determinada situação, e sem fazer o que podemos pelo uso de nossa própria livre vontade para aumentar a vontade divina, não estamos nos ajudando como deveríamos.
“Onde termina a Vontade de Deus e onde começa a minha?” é uma pergunta que todos devem fazer muitas vezes por dia. A resposta não é fácil de se encontrar. Difere em cada situação e não pode ser completamente esclarecida até que o individuo esteja bem treinado na autoanálise e na autocompreensão, que só acontece depois de um longo período de execução do Exercício de Retrospecção noturna.
Idealisticamente, é lógico que a vontade de Deus e a nossa deveriam estar sobrepostas. Se realmente estamos em dúvida se elas se sobrepõem ou não e se somos francos e honestos conosco, a intuição e o bom senso, muitas vezes, vêm ajudar-nos. Se nos perguntamos: “O que Cristo Jesus faria em uma situação como essa?” não iríamos saber, de imediato qual seria a atitude certa a tomar. Mas, se continuarmos nesse caminho e nesse propósito, podemos estar certos de que a vontade de Deus será feita. Portanto, não pare de tentar fazer as coisas acontecerem simplesmente porque estas coisas parecem emanar da sua vontade. Logicamente, se você acha que seus desejos estão em conflito com os Dele, pare imediatamente. Por outro lado, tentar aumentar o bem que vem de nós – seja na forma de bons sentimentos, boas amizades, as dádivas de um trabalho frutífero ou qualquer outro bem – não está, de maneira alguma, intrinsecamente errado. Tudo deve ser considerado: o efeito sobre as outras pessoas, o efeito sobre o nosso relacionamento com as outras pessoas, a experiência do aprendizado em geral, no qual estamos envolvidos, todo o meio ambiente, etc. Em geral, somos aconselhados a fazer o que está em nosso poder – sempre de acordo com as regras do viver corretamente – para aumentar o que é bom.
(Publicado no Ecos da Fraternidade Rosacruz em São Paulo-SP em julho e agosto/1993)
Faça-se a Tua Vontade
Em todos os tempos existiram pessoas que procuravam conseguir as suas coisas materiais através das religiões. Hoje em dia, ainda é grande o número delas que chega a se filiar a esta ou àquela entidade religiosa, com o principal objetivo de conseguir emprego, casamento, moradia, saúde e todas as demais necessidades, sem falar naquelas que usam a religião para fazer mal aos outros.
Toda oração bem-intencionada é válida. O abuso ou o pedido mal encaminhado é que constitui o grande perigo.
Porque, além da pessoa estar se expondo a tornar-se presa de forças que desconhece, seus pedidos mal feitos ou feitos com forçada intensidade, poderão trazer consequências desagradáveis e até funestas.
Não há nenhum exagero no que ensina a Filosofia Rosacruz, especialmente no Ritual de Cura, que todo o pedido encaminhado diretamente a Deus, deve ser enfeixado com estas palavras: “Mas faça-se, Senhor, a Tua Vontade e não a minha”.
Esta forma de pedir, aliás, não diminui o valor do pedido, como poderão pensar algumas pessoas. Pelo contrário, até orienta os resultados para que cheguem ao destino de maneira correta, sem nenhum prejuízo. E mesmo que as coisas não aconteçam exatamente como se pediu, podemos ficar tranquilos que o que vier, será a resposta certa do Pai. Mesmo porque, se não usarmos aquela afirmação no final da oração, a responsabilidade de atingir, bem ou mal, este ou aquele desejo, fica por nossa conta. Porque, às vezes, para que se cumpra com exatidão o nosso pedido, poderá haver alguma exigência, alguma necessidade de acomodação que, por seu turno, vai recair em algum sacrifício, a fim de que se chegue ao merecimento do que se quer. Daí, ao transferirmos ao Pai a responsabilidade total no atendimento dos nossos pedidos, ficarmos isentos de qualquer necessidade de acerto em nossos valores.
Às vezes, o pedido feito indiscriminadamente não leva a necessária preocupação em saber se temos, ou não, merecimento da dádiva de Deus. Se pensarmos, mesmo, só nos nossos desejos, talvez nem imaginamos se não será preciso, primeiro, fazer alguns ajustes em nós mesmos, em nosso temperamento, em nosso modo de vida, em nossos contatos com as outras pessoas, enfim, em muitos outros assuntos de vital importância para que Deus possa atender-nos conforme a nossa vontade.
Além do mais, passando para Deus a responsabilidade do acerto estamos cumprindo um ato de fé, pois confiando n’Ele e na Sua Sabedoria estamos acreditando que só Ele, que tudo vê, poderá dar-nos justamente aquilo que é para nós, que será melhor para a nossa vida e o nosso destino divino.
Então, mesmo que muitas vezes a solução pareça demorada e se passem semanas, meses e até anos para que se cumpra o pedido podemos estar seguros de que quando vier será exatamente aquilo que merecemos, além de ter chegado na hora exata, no momento adequado. Nós mesmos, alguma vez podemos ter comprovado que certas coisas que pedimos cegamente e não as conseguimos logo, não teriam dado certo se tivessem vindo antes da hora em que vieram, como aliás, pretendíamos que ocorresse. É que Deus, para tornar possível a nossa aquisição, esteve o tempo todo acertando os ponteiros do nosso relógio, acomodando certas coisas em torno de nós, inspirando-nos talvez a correção de alguns defeitos ou acertando outras coisas dependentes de nós mesmos para que o ambiente se ajustasse à realização perfeita do pedido, sem choques nem desarmonias.
E há, também, um particular nesta questão de pedidos: quando a pessoa vai ter necessidade de receber alguma coisa, ou melhor, quando vai chegar ao ponto de merecer alguma dádiva material ou espiritual, ela própria irá se condicionando a querer aquilo, mesmo que, talvez durante muito tempo antes, se tivesse negado, a si mesma, esse desejo, achando subconscientemente que não o merecia.
O próprio merecimento amadurece o momento, encaminhando as pessoas e preparando-as para receberem tudo aquilo que lhes está reservado pelo destino. Em suma: as pessoas, não raro, começam a querer aquilo que finalmente chegaram à condição de receber.
Por isso, jamais devemos fazer as nossas solicitações com data marcada nem com insistência. Sejamos humildes em nossos pedidos, entregando sempre diretamente a Deus a solução de todos os nossos problemas. Porque aqueles que forçam situações, muitas vezes até acendendo velas e impondo pedidos a entidades, sejam de terreiro ou mesmo dentro do catolicismo, para as almas do purgatório, por exemplo, estão se expondo a receber, no futuro, talvez até depois da morte – a cobrança das suas imposições. Porque as almas do purgatório nada mais são do que espíritos sofredores, atrasados que estão cumprindo pena de seus próprios erros, e que, na sua ignorância e limitações fazem qualquer negócio para saírem da situação em que se encontram, acreditando que as velas em sua intenção poderão abrir portas, cuja abertura, na verdade está dependendo da exposição dos erros de cada um.
Assim, antes de fazermos qualquer pedido por nós ou por outrem, abaixemos a cabeça com humildade, expondo a Deus os nossos problemas, dizendo-Lhe tudo o que desejaríamos, mas colocando, no fim, toda a solução em Suas Mãos. Porque, além d’Ele nos conhecer melhor do que nós mesmos, e só Ele saber das nossas reais necessidades, se assumirmos sozinhos toda a responsabilidade do pedido – como já foi dito – estaremos nos arriscando a sofrer, na pele, a falta dos ajustes necessários, provavelmente até sendo obrigados a passar algumas dificuldades, sofrer alguma perda, ou enfrentar desarmonias no lar, no trabalho ou seja onde for, para que a situação consiga equilibrar-se, colocando-nos à altura de receber o que tanto desejávamos antes sem estar preparados pelo merecimento.
Seja, pois, o nosso modo de orar, correto, finalizando sempre as nossas petições com a frase salvadora: “Apesar de tudo, Pai, faça-se a Tua vontade e não a minha”.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)