Temos inúmeras informações na Bíblia de que Jacó era um “homem de Deus”. Embora falhasse às vezes, seus esforços convergiam sempre para elevados ideais. Por causa de sua lealdade a tudo que era nobre e verdadeiro, foi bendito e sua história dá testemunho de que Jeová esteve “perto dele” em muitas ocasiões.
Quando era jovem, Jacó empreende uma viagem de sua terra Canaã até Padanarã, a pátria de seus ancestrais, para “tomar uma mulher”. Simbolicamente, isso se refere ao desenvolvimento do coração, do lado místico da natureza de Jacó. Jacó era um tipo positivo de homem e, como todo ocultista desenvolvido, precisava um dia de equilibrar-se, desenvolvendo também o outro lado, o místico. Jacó conquistou o desenvolvimento da natureza cardinal, que o completaria e suavizaria.
Em sua viagem chegou a um lugar denominado “Luz”, que significa a própria Luz, e nele Jacó deita-se para repousar, apoiando sua cabeça sobre uma pedra. Na maioria dos versículos da Bíblia em que se usa a palavra pedra, aplica-se ela no sentido de conhecimento, compreensão, sabedoria ou poder espiritual. Exemplos disso são: Moisés ferindo a rocha com sua vara, a fim de obter águas vivas para dar de beber aos filhos de Israel; o peitoral do sumo sacerdote com as doze pedras que representam os doze Signos do Zodíaco; Davi matando o gigante Golias com uma pedra; a tentação de Cristo no deserto, para transformar pedras em pão; o encargo dado por Cristo a S. Pedro: “Tu és Pedro (pedra) e sobre esta pedra edificarei minha igreja.” (Mt 16:18) e muitos outros.
Na história de Jacó, a “pedra de luz” se refere à compreensão, à sabedoria, à iluminação espiritual de Jacó. E, quando usou seu conhecimento (recostou a cabeça na pedra), viu uma longa escada (a famosa escada de Jacó) que “se apoiava na Terra e se elevava até tocar o Céu”. Em outras palavras, ele havia desenvolvido o poder de atingir os diversos Mundos espirituais (alcançou várias Iniciações) e seus vários habitantes. Isto foi, certamente, uma experiência maravilhosa e Jacó põe outro nome a este lugar chamando-o Bether ou Betel, que significa “Casa de Deus“.
Verdadeiramente, quando atingimos esse estado, somos transformados e o nosso corpo passa a ser de fato uma “Casa de Deus”: “Não sabeis que sois templos do Altíssimo e o Espírito Santo habita dentro de Vós?”. “Sois o templo de Deus.” (ICor3:16-17 e 19).
Jacó permaneceu vinte anos nessa Terra (a Luz) passando por sucessivas experiências espirituais. Seu contato consciente com Jeová (Jeová é o Regente das Religiões de Raça, de que trata o Antigo Testamento) permitiu-lhe vencer muitos obstáculos que encontrou em seu caminho (debilidade de caráter). Recebeu instruções diretas e seguiu-as implicitamente, recebendo a recompensa de sua obediência, que foi justamente o de ser ele constituído “a semente de uma nova Raça”. Um mais alto passo evolutivo estava sendo preparado e, através dele, de acordo com a história bíblica, nasceram as doze tribos de Judá. Ele estava destinado a cumprir elevada missão e sua habilidade provada para “caminhar com Deus” permitiu-lhe a formação de uma nova Raça.
Em sua viagem de regresso de Padanarã, Jacó teve outra experiência espiritual única, desta feita em Peniel (a face de Deus): Jacó foi separado de sua gente e durante toda uma noite lutou contra um “Ser espiritual”; Jacó não o deixava ir enquanto este não o abençoasse. Tal Ser espiritual é chamado “Anjo” na Bíblia e está registrado em Gênesis 32:22-32 que o Anjo o abençoou porque ele (Jacó) havia lutado “com Deus e com os homens” e havia vencido. Desde esse momento o nome de Jacó foi mudado para Israel, que significa: “o que luta com Deus”. Na Iniciação antiga o candidato era mergulhado em catalepsia (noite de inconsciência) e tinha visão dos Mundos espirituais; mas antes de conquistá-los tem de vencer o “fantasma do umbral”[1] (a natureza espiritual formada pelos erros passados, representado pela nossa, a do Aspirante à vida superior, própria figura com face do sexo oposto. Só depois de vencê-lo é que serão franqueados a nós os Mundos espirituais). Jacó havia conquistado o direito de ser “um homem de Deus” pelo desenvolvimento de suas faculdades espirituais e, como tal, tinha direitos superiores aos do “homem comum”. Tal fato está amplamente ilustrado quando ele abençoou os filhos de José e deu a profecia de seus próprios filhos, tal como se conta no capítulo 49 do Livro do Gênesis.
Essa passagem nos conta sobre a família de Jacó, com suas quatro esposas e seus doze filhos. É um Mito Solar em que Jacó representa o Sol, suas esposas, as quatro fases da Lua e seus filhos, os doze Signos do Zodíaco, a saber:
Aquário – Rubens, o princípio do vigor solar (Era de Aquário…), o primogênito de sua fortaleza. Mas também lemos que não haverá fortaleza e proeminência, enquanto não houver controle, o que está simbolizado pela corrente como as águas (versículo 4), isto é, o “homem controlando a saída da água de seu jarro”.
Peixes – Zabulão ou Zabulam ou, ainda, Zabulon, um porto de mar (versículo 13), o embarque, o início de religiosidade, da Religião Cristã.
Áries – Gad. Um exército o acometerá (versículo 19). O princípio de atividade, de dinamismo, confiança.
Touro – Issachar, Issacar ou Isacar. É forte e chegou a ser um Servo como recompensa (versículo 14 e 15). Signo Fixo, persistente, sentimental, que sempre alcança resultados em perseverança.
Gêmeos – Simeão e Levi. São Irmãos (versículo 5). Representação da Humanidade infantil de meados da Época Atlante e futura fraternidade, pelo entendimento.
Câncer – Benjamim. Lobo (versículo 27) – Constelação do Cão, em Câncer, com a grande estrela Sirius.
Leão – Judá. Encurvou-se como Leão (versículo 9). Fartas referências você encontra no Livro “Maçonaria e Catolicismo – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz”.
Virgem – Diná, filha única de Jacó (Gn 30:21). Signo feminino e intuitivo.
Libra – Aser ou Asher. O pão de Aser será grande (versículo 20). A ocasião da colheita no hemisfério norte – a massa.
Escorpião – Dan ou Dã “Serpente junto ao caminho” (versículo 17). Signo de espiritualidade, da serpente da sabedoria, do Aspirante à vida superior que busca o Caminho.
Sagitário – José “Seu arco ficou forte”, “Os arqueiros o aborreceram.” (versículo 23 e 24). Signo do idealista que anela algo de natureza tão elevada (arco apontando as estrelas) que não sabe definir.
Capricórnio – Nephtalí ou Naftali, o cervo perdido (versículo 21), a cabra do Signo que inicia o ano, que foge em corrida, dando início a novo ano.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de março/1962 – Fraternidade Rosacruz-SP)
[1] N.T.: o Guardião do Umbral
Naftali, um dos símbolos de Capricórnio, é o veado perdido, um dos filhos de Jacó, o Sol, que, de novo, dispara a fim de percorrer mais uma jornada anual. Começamos 2023.
Embora, aparentemente, todos os anos sejam iguais, porque são medidos pela marcha da Terra em torno do Sol, a translação, sabemos, à luz da Astrologia Rosacruz, que nada se repete. Espirais dentro de espirais, recapitulações sem conta, mas sempre sob novas condições. Na contínua e harmoniosa marcha dos Astros em suas respectivas órbitas, o quadro dos céus se renova constantemente, de minuto a minuto. Somente após 25.920 anos comuns, a contar de uma configuração determinada, a posição dos Astros, no céu, volta a formar o mesmo quadro. Contudo, mesmo assim esse quadro repetido nos céus realiza-se sob novas condições, em uma espiral acima. A humanidade e os demais Reinos se encontram então com novas condições internas e reagem diferentemente. Nada se repete, em realidade. A vida é movimento e renovação constantes, mesmo nos aparentes repousos.
Começa um ano novo exotérico, de fato. Começa pela experiência saturnina adquirida no passado. Renova-se pelo revolucionador Urano; reveste-se, racionalmente, de novas aspirações aquarianas; infunde-se da religiosidade de Peixes; galvaniza-se com a energia de Áries; firma-se na calma e persistência de Touro; empreende os voos inquiridores de Gêmeos; lança a semente germinadora e imaginativa de Câncer; acrescenta o calor e a coragem de Leão; concebe os grãos de realização de Virgem; dá o equilíbrio e a beleza de Libra; o dinamismo e a emoção de Escorpião; o idealismo e a bondade de Sagitário e, assim, termina mais uma obra anual. É uma escola admirável. Temos de frequentá-la dia após dia, ano após ano com as capacidades que trouxemos das vidas e anos anteriores, modificando sempre nossas reações às influências astrais. Enquanto houver dor, sofrimento, tristeza, angústia, neurose, ódio, violência é sinal seguro de que o “fermento” dentro de nós encontra matéria reativa de defeitos, de ignorância. Temos de chegar ao ponto em que nenhuma qualidade adversa dos Signos ou dos Astros encontrem reação e sintamos como o Cristo — “não resistir ao mal”.
Lenta e seguramente, o altruísmo ganha terreno e o ser humano interno se converte em um Hércules, o ousado filho dos deuses capaz de vencer as doze tarefas; isso é, capaz de formar em si, de forma alquímica, as qualidades positivas dos corpos macrocósmicos e se converter em uma réplica dos céus, um eco de Deus, uma partícula individualizada do Cosmos.
Desejamos que cada tropeço, dor ou alegria, no decorrer do ano que inicia, seja encarado pelo Estudante Rosacruz de forma segura, positiva e compreensiva, como correções e elogios que um professor põe nas provas de seus alunos. São 365 páginas em branco para preenchermos com nossos atos. Por eles é que será avaliado o nosso avanço. O Estudante Rosacruz sincero e humilde medita muito sobre cada correção e advertência, para que não a repita mais, porque sabe que mais profundamente aprende com os erros do que com os êxitos.
E persiste, cheio de esperança, no futuro, não apenas para passar pela vida ou “passar de ano”, mas para aprender o melhor possível aquilo que lhe é ensinado; persiste, não para obter um diploma, porém com o amoroso propósito de melhor servir a seu próximo, à semelhança dos invisíveis mestres que agora o ensinam.
Nessa ordem de ideias é que, muito sinceramente, desejamos a todos que renovem seu propósito para uma vida melhor e mais alta no decorrer do ano de 2023, perseguindo aquele ideal enunciado por nosso Sublime Mestre: “Que sejamos perfeitos como nosso Pai Celestial é perfeito”.
Que as rosas floresçam em vossa cruz