A chave para o mais profundo significado da “Última Ceia” e do “Lavapés” – e o caminho do Cristão Místico – pode ser encontrada considerando o significado interno das duas coisas que Cristo Jesus serviu na Ceia: o “pão e o vinho”.
Isso é descrito nessas passagens bíblicas:
“Ao cair da tarde, ele pôs-se à mesa com os Doze e, enquanto comiam, disse-lhes: ‘Em verdade vos digo que um de vós me entregará’. Eles, muito entristecidos, puseram-se um por um — a perguntar-lhe: ‘Acaso sou eu, Senhor?’ Ele respondeu: ‘O que comigo põe a mão no prato, esse me entregará. Com efeito, o Filho do Homem vai, conforme está escrito a seu respeito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem for entregue! Melhor seria para aquele homem não ter nascido!’ Então Judas, seu traidor, perguntou: ‘Porventura sou eu, Rabi?’. Jesus respondeu-lhe: ‘Tu o dizes’. Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo-o abençoado, partiu-o e, distribuindo-o aos discípulos, disse: ‘Tomai e comei, isto é o meu corpo’. Depois, tomou um cálice e, dando graças, o ofereceu aos discípulos, dizendo: ‘Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados. Eu vos digo: desde agora não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que convosco beberei o vinho novo no Reino do meu Pai’” (Mt 26:20-29).
“Durante a ceia, quando já o diabo colocara no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o projeto de entregá-lo, sabendo que o Pai tudo colocara em suas mãos e que ele viera de Deus e a Deus voltava, levanta-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. Depois coloca água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido.” (Jo 13:2-5).
O “pão” é um produto da Imaculada Concepção da terra: o “trigo”, que é o símbolo do princípio feminino no ser humano – o polo negativo do Espírito. O “fruto da videira” é um produto da uva que nasce na terra e representa o princípio masculino – o polo positivo do Espírito. Ambos vieram ao mundo por meio da vida que irradia através de todas as partes da Terra, o Espírito Crístico, o Espírito Planetário morador interno e em verdade constituem “o corpo e o sangue” de nosso Salvador. Não são meras palavras de Cristo Jesus quando disse: “Tomai, comei, isto é meu corpo… isto é meu sangue da aliança.” (Mt 26:26-27).
Durante a cerimônia da Última Ceia, Cristo Jesus estava ensinando a seus Discípulos que o mistério da transmutação se achava encarnado no “trigo” e na “uva”. Repartir o “pão” e o “fruto da videira” significa o domínio dos poderes espirituais – a transmutação completa do “Eu inferior” nas transcendentes glórias do “Eu Superior”.
No laboratório de seu próprio Corpo, o alquimista espiritual trabalha a Pedra Filosofal; se converte nessa joia luminosa e resplandecente, à medida que purifica e espiritualiza suas faculdades e seus veículos por meio do “serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível), esquecendo os defeitos do irmão ou da irmã ao seu entorno, focado na divina essência oculta em cada um de nós, que é a base da Fraternidade”. Depois que Cristo Jesus terminou a cerimônia da Última Ceia, começou o ritual místico do Lavapés. Nesse ato de humilde gratidão, deu exemplo aos seguidores d’Ele da necessidade de possuir a grandiosa qualidade da humildade. Na evolução espiritual o Aspirante à vida superior, que é o Estudante Rosacruz, se eleva prestando justamente o serviço amoroso e desinteressado (portanto, o mais anônimo possível), esquecendo os defeitos do irmão ou da irmã ao seu entorno, focado na divina essência oculta em cada um de nós, que é a base da Fraternidade, e aqueles a quem serve e exalta são os degraus que formam a escada que ajuda o próprio Estudante Rosacruz a escalar as alturas. Eles se beneficiam pelos Ensinamentos Rosacruzes, mas ao mesmo tempo proveem as oportunidades benditas para o progresso por meio do serviço, e sem dúvida alguma, com eles contrai uma dívida de gratidão. Havendo subjugado todo orgulho e toda a hipocrisia, o Estudante Rosacruz tem uma consciência tão ampla que expressa de um modo natural, a Humanidade simbolizada pelo Lavapés.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – abril/1981 – Fraternidade Rosacruz-SP)
O Reino vegetal possui apenas o Corpo Denso e o Corpo Vital. Portanto, as plantas constroem caule e folha; depois outra pequena parte do caule e outra folha… A estrutura do ser humano construída durante o estágio vegetal também mostra um trabalho semelhante de repetição — vértebra após vértebra, até que a coluna esteja completa.
Assim, vemos que a base do Corpo Vital é a repetição e como ele é a contraparte material do Espírito de Vida ou Princípio Crístico no ser humano, é evidente que para alcançar o Espírito Crístico devemos trabalhar por meio do Corpo Vital, em harmonia com sua estrutura: a repetição. Isso se aplica a qualquer linha de estudo ou trabalho que empreendamos.
Portanto, ao iniciar um novo período de estudo, as mesmas linhas de pensamento que estabelecemos no início do período anterior devem ser enfatizadas. O primeiro e mais importante deles é este fato: estamos procurando trazer o Cristo de dentro de nós mesmos para que possamos fazer no mundo as coisas que Ele fez e está constantemente fazendo sem que possamos vê-lo, apressando assim o dia de Sua vinda.
Não devemos reconhecer outra liderança além do Cristo, nem mesmo a liderança dos Irmãos Maiores, pois eles não lideram ou guiam, mas vêm apenas como amigos para aconselhar; devemos ser particularmente cuidadosos para lembrar que todos estão na mesma base. Portanto, ninguém deve colocar Max Heindel e Augusta Foss Heindel em um pedestal; eles não pertencem a um e não têm preeminência sobre ninguém. Todos têm a mesma oportunidade de servir e servir é o único caminho verdadeiro para a grandeza. No entanto, não importa quão eficientemente possamos servir; se nos gloriarmos em nossos serviços, essa auto glória será nossa única recompensa.
Deve ser o nosso objetivo pensar pouco no que fazemos e nos considerarmos nada, pois por melhor que trabalhemos nenhum de nós é capaz de servir a Deus dignamente, mesmo por um único dia. Então a humildade no serviço deve ser o nosso principal objetivo e meta. Quanto mais profundamente pudermos atingir esse ideal, quanto menores formos aos nossos próprios olhos, tanto maior seremos aos olhos de Deus.
Outra coisa: se estamos dispostos a servir apenas no que gostamos, que mérito há nisso? Nenhum! Contudo, se fizermos o que estiver ao nosso alcance, se nos esforçarmos para realizar as tarefas desagradáveis da vida com equanimidade e nos encorajarmos para colocar zelo tanto no trabalho que não gostamos quanto naquele que amamos, se o fizermos para salvar alguém, então seremos dignos seguidores dos Irmãos Maiores e imitadores bem-sucedidos de Cristo, o nosso glorioso Ideal.
(por Max Heindel, publicado no Echoes nº 3 de Mount Ecclesia de 10 de agosto de 1913, traduzido pelos irmãos e pelas irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)