A CIÊNCIA DE MORRER
O Espírito é imortal
A expressão “morte” refere-se somente à forma. O espírito é imortal. Nascimento e morte são, também, termos relativos; o que chamamos morte é, realmente, um nascimento no mundo espiritual, e o que chamamos nascimento é, temporariamente, uma morte no mundo espiritual.
De que maneira acontece a ruptura da morte? Quando esgotamos as possibilidades de uma vida é necessário passar às esferas superiores pelo processo da morte, tão geralmente temida sem razão. O chamado Átomo-semente do Corpo Denso, o físico, está localizado no coração. Esse Átomo-Semente é chamado, na linguagem Rosacruz, “O Livro de Deus”, porque todas as experiências de nossas vidas passadas estão nele inscritas. Este Átomo especial é permanente e será levado conosco através de todas as existências futuras, formando a base da nossa individualidade por toda a eternidade. A morte é ocasionada pela ruptura da união entre o Átomo-Semente e o coração. Depois da morte as forças inerentes ao Átomo-Semente e aos veículos superiores, como o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente, abandonam o Corpo Denso pelo alto da cabeça. Contudo, o
Espírito e os veículos superiores permanecem em contato com o Corpo Denso, por meio do Cordão Prateado, durante uns três dias e meio, aproximadamente. O Cordão Prateado é tríplice: um segmento é constituído de Éter, outro de matéria de desejos e o outro de matéria mental. Esses segmentos estão ligados aos Átomos-sementes dos respectivos veículos. A ruptura entre o Átomo-semente do Corpo Denso e o coração ocasiona a sua paralisação (morte clínica), mas o corpo ainda não está morto: a morte sobrevirá depois da ruptura do Cordão Prateado.
Como é feita a retrospecção da última existência terrena? Neste lapso de tempo efetua-se um processo importante: a retrospecção do panorama da vida recém finda e a consequente gravação no Corpo de Desejos das imagens contidas nesse panorama. Durante a vida o Éter Refletor do Corpo Vital age como uma placa sensível em que são registrados todos os pensamentos, emoções, incidentes e circunstâncias da vida. O Éter inspirado na respiração leva consigo essas imagens que, por meio do sangue, se imprimem no Corpo Vital. Elas constituirão a base da experiência depois da morte. Durante um período de uns três dias e meio depois da
morte o Ego se concentra neste panorama que se desenrola perante ele, mas em ordem inversa, isto é, os incidentes da última parte da vida são os que aparecem primeiro no panorama. Se a concentração do Ego é profunda e não perturbada por ruídos, ou incômodos de nenhuma espécie, o registro é feito de modo profundo e claro e o Espírito estará em situação de assimilar a totalidade do valor espiritual da vida que acaba de terminar. Porém, se o Espírito é perturbado pelas emoções, prantos ou lamentações de parentes, ou pelo tumulto de um campo de batalha, sua concentração é perturbada e as experiências da vida gravam-se ligeiramente ou deixam mesmo de serem gravadas totalmente no Corpo de Desejos. Nesse caso, essa vida fica praticamente perdida, ou seja, perdem-se as experiências que, normalmente, teriam sido adquiridas. Devemos ter o máximo cuidado de cercar o recém desencarnado de um ambiente de tranquilidade, de maneira que não se perturbe essa retrospecção do panorama de sua vida, uma vez que dela dependerão o desenvolvimento da consciência e o incentivo para uma boa conduta nas vidas futuras.
A separação dos Éteres Superiores e Inferiores Outro processo que ocorre, simultaneamente, é a separação dos Éteres.
Os dois Éteres superiores, o Refletor e o de Luz, que formam o Corpo-Alma, como aprendemos na Fraternidade Rosacruz, separam-se dos inferiores, o Éter Químico e o de Vida. Ligam-se aos veículos superiores e atravessam com esses os Mundos mais elevados, atuando como base da consciência nesses Mundos, enquanto, os Éteres inferiores ficam com o Corpo Denso, desintegrando-se com ele. Quando há perturbação em volta do corpo, durante o período da retrospecção da vida, esta divisão dos Éteres não se efetua convenientemente. Não se deve dar estimulantes aos moribundos porque esses lhe causam sofrimentos. Os estimulantes fazem-no voltar violentamente para dentro do corpo os veículos superiores e mantém a agonia do indivíduo durante horas e dias, quando de outra maneira, podia deixar o corpo sem maior sofrimento. Nunca se deve empregar estimulantes nos casos em que se vê, claramente, que a vida não pode se prolongar mais que algumas horas, ou dias.
Os cuidados com o corpo após a morte Depois da morte, o corpo deveria ser colocado numa câmara frigorífica, durante três dias e meio. Deveria se evitar a embalsamação ou qualquer tipo de autopsia
porque perturba a retrospecção panorâmica. Igualmente, deveria se evitar a cremação nesse período, visto o Espírito estar, ainda, em contato com o corpo, por meio do Cordão Prateado e, assim até certo ponto, qualquer mutilação do corpo provoca dor. A cremação prematura dissipa os Éteres e destrói a recordação panorâmica que esses contêm. Contudo, depois de três dias e meio a cremação é aconselhável porque desintegra o Corpo Denso, e os dois Éteres inferiores, com seu magnetismo residual, deixando o Espírito totalmente liberto, para seguir para os Mundos suprafísicos.
No caso de sepultamento, o magnetismo do corpo e os Éteres inferiores ligam o Espírito à Terra, durante um tempo variável, geralmente até que a decomposição chegue a um estado avançado ou se complete. Isso retarda o progresso do Espírito por alguns anos.
Conhecendo os fatos que se referem à morte, segundo determina a Filosofia Rosacruz, e utilizando devidamente esse conhecimento, podemos prestar grande serviço aos amigos e conhecidos que presenciamos as suas mortes. Igualmente, podemos deixar instruções para que os outros nos prestem este mesmo serviço quando chegar a nossa hora de cortar as amarras que nos prendem à vida física.
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Método Rosacruz de Desenvolvimento
A Ordem Rosacruz possui um método de desenvolvimento espiritual científico comprovado por aqueles que se submeteram à prática de seus preceitos. Baseados em investigações espirituais profundas, realizadas pelo fundador da Ordem e seus doze discípulos, conhecidos por nós como Irmãos Maiores, esses sagrados seres não apenas alcançaram um consenso sobre as tendências pelas quais as Mentes da humanidade atual responderiam como estabeleceram um método que habilita o ser humano, enquanto renascido aqui, a: (1) quebrar o ciclo vicioso de produção de pecados (sofrimento e morte); (2) iniciar um processo de purificação pessoal; (3) tornar seus corpos ferramentas mais úteis para atividade do Ego; (4) antecipar aprendizados que estariam reservados somente a vidas futuras. Com efeito, o método Rosacruz de desenvolvimento permite intensificar o grau vibratório e a força espiritual de uma pessoa, capacitando-a a realizar importantes feitos na Grande Obra Divina. Talvez seja esse o motivo pelo qual Max Heindel, mensageiro direto da Ordem Rosacruz, considerou esse método como o ensinamento mais importante de obra descrita no livro O Conceito Rosacruz do Cosmos. Para encontrarmos sentido nos preceitos propostos pelo Método Rosacruz de Desenvolvimento, faz-se necessário recapitularmos todo o procedimento ordinário de produção anímica humana.
Durante toda a vida, o ser humano constrói e semeia até o momento de sua morte ou passagem para os planos internos. Então, o período de sementeira ou expressão objetiva da vida cessa, iniciando um novo período de colheita denominado pela Fraternidade Rosacruz de estado subjetivo da vida. Os fatores que constituem a base para o período de colheita são os registros de todos os acontecimentos da vida em questão. Esses registros não fazem parte da memória comum do ser humano, utilizada na vida cotidiana, mas estão armazenados em um átomo localizado no ventrículo esquerdo do coração. Tal átomo é conhecido pelas Escolas de Sabedoria Ocidental como Átomo-semente do Corpo Denso.
Também, como é sabido entre os Estudantes Rosacruz, o Corpo Denso do ser humano comum tolda a capacidade do Ego em acessar e utilizar um poder espiritual que acumulou desde sua criação. No entanto, quando ocorre sua morte, esse poder é livremente acessado, mesmo que o Ego não esteja consciente desse fato. Assim, a pessoa fica capacitada para ler os registros do Éter Refletor (Região Etérica do Mundo Físico) que estão gravados no Átomo-semente mencionado. Esse processo constitui na apresentação de toda a vida do indivíduo como um panorama, que desfila à frente do Ego, mas em ordem inversa.
É importante compreendermos que os registros dos acontecimentos da vida não são relevantes para o desenvolvimento espiritual, mas sim o resultado das ações que são os produtos da guerra entre as forças espiritual (vontade do Ego) e corporal (vontade do “eu inferior”) do ser humano. Além disso, todas as ações resultantes dessa guerra possuirão uma classificação moral e pessoal dada pelo próprio Ego. São exatamente esses dois registros (resultado da guerra entre o Espírito e seus Corpos; e julgamento moral desse resultado) que constituem a base de registro daquilo que será revivido em ordem inversa durante o panorama da vida, logo após a morte, e formarão as experiências da vida purgatorial e das atividades no céu.
Mas antes que o Ego se aproxime do momento de sua morte, registros de suas atividades diárias estão ocorrendo em todo o momento da vida. A pergunta que surge então é: Como os registros ocorrem? Nós, enquanto Egos, sempre que temos vontade de realizar algo (pensamento, sentimentos, desejos, emoções, palavras, atos, obras, ações, entre outros) imaginamos ou acessamos nosso repertório particular sobre tal assunto que está armazenado em nossa Memória Consciente. A partir desse acesso e imaginação, formamos uma ideia de execução de tal ação. A vontade inicial de execução é um atributo do veículo Espírito Divino do Ego; a imaginação é atributo do veículo Espírito de Vida e, por fim, a ideia fruto do veículo Espírito Humano. Perceba que o último produto desse processo (a ideia), que didaticamente atribuímos ao Espírito Humano, jamais existiria sem que houvesse trabalho prévio do Espírito de Vida (imaginação) e do Espírito Divino (vontade). Portanto, a ideia em si contém toda a atividade do Espírito Virginal manifestado, o Ego, que apesar de ser entidade única se manifesta de modo tríplice, como Deus que o criou.
Se aplicarmos a relação hermética nesse complexo procedimento, em que tudo que está embaixo está também em cima e vice-versa, Deus nosso criador, quando criou nosso Sistema Solar, também teve Vontade de criar (seu primeiro Aspecto que conhecemos como PAI). Essa vontade disparou o segundo aspecto Amor-Sabedoria (que conhecemos como FILHO ou CRISTO) no qual concebe os meios para que essa vontade possa ser expressa. Então, o segundo aspecto fornece o TOM ou Nota-Chave que emite vibrações que dão o molde para constituição de todas as coisas que deverão compor esse Sistema Solar. Finalmente, esse processo dispara o terceiro aspecto ou Atividade (que conhecemos como ESPÍRITO SANTO ou JEOVÁ) que atrai o material Divino (Substância Raiz-Cósmica) pondo-o em movimento para concretizar todas as coisas de acordo com a vontade do PAI e ditadas pelos moldes do FILHO. Assim, também, o VERBO é DEUS, estava no princípio com DEUS e se fez carne quando colocou todas as coisas em movimento para manifestar a vontade de DEUS. Uma vez que o VERBO fornece a Nota-Chave de tudo, nada do que tem sido feito foi feito sem ELE.
Voltando ao nível da ação humana, quando uma ideia é, então, concebida, necessita ser direcionada sobre os corpos ou instrumentos do Ego para poder ser manifestada. O instrumento que projeta essa ideia sobre os Corpos é o veículo Mente. Nesse ponto, uma das três direções de ação será necessariamente utilizada: (1) ação imediata; (2) ação postergada e (3) ação imediata, mas por processo positivo da telepatia, negativos da hipnose ou da obsessão. Aqui, vamos descrever apenas a ação imediata ou item (1).
Assim, quando uma ideia é concebida, deverá ser projetada sobre o Corpo de Desejos para poder ser expressa. Nesse ponto, um dos dois sentimentos, Interesse ou Indiferença, deverá ser despertado. O Interesse pode ativar tanto a Força de Atração quanto a de Repulsão, já a Indiferença não produzirá nenhuma barreira da personalidade, o que deixará a manifestação dependente da própria força espiritual da ideia para ser expressa ou não. No caso da ativação do sentimento de Interesse, a ideia será revestida de material de desejos semelhante à natureza da ideia. Após essa união entre ideia e desejos, poderá atuar sobre os centros nervosos voluntários, mas ainda em nível etérico. Somente após ser também revestido de Éter, poderá ativar a força física para que ocorra expressão na Região Química do Mundo Físico. Note que essa direção empregada é simplesmente a condição ideal para crescimento anímico do Ego. Sua vontade é respeitada e potencializada por seus instrumentos que lhe obedecem. O resultado dessa ação é o sucesso, bem como o sentimento positivo pessoal de concretização da ação serão registrados no Átomo-semente pelo Éter Refletor.
Por outro lado, quando uma ideia desperta a Força de Repulsão, toda a vontade de expressão do Ego pode ficar comprometida. Por exemplo, se uma pessoa alimentou por toda a sua vida o sensualismo, estabeleceu hábitos semelhantes em seu Corpo Vital e boa parte da densidade de matéria de desejos de seu Corpo de Desejos também será sensualista. Isso revela uma tendência a responder de modo sensualista a muitas situações do cotidiano. Se no decorrer de sua vida, o diapasão interno espiritual da pessoa for acionado, compreenderá que tal hábito não mais possui sentido e procurará não mais alimentá-lo. Assim, seu Ego irá conceber uma ideia de pureza e devoção e tentará projetá-la sobre sua Mente para que seus Corpos respondam a essa solicitação. No entanto, tal ideia, ao chegar dentro do Corpo de Desejos, se deparará com os antigos hábitos sensualistas que tentaram expulsar e aniquilar a ideia de retidão e pureza. Se a energia espiritual (do Ego) for forte, poderá romper caminhos por meio dos centros cerebrais e executar a ação reta. No entanto, se a força dos corpos for mais poderosa, a Força de Repulsão prevalecerá. Essa é a guerra entre a força espiritual e os corpos, entre a natureza superior e inferior.
Como já mencionado, o Átomo-semente registra o resultado das ações que são produtos da guerra entre as forças espiritual (vontade do Ego) e corporal (vontade do eu inferior) do ser humano. Também registra o resultado quando não há guerra, ou quando a Força de Atração foi disparada. Além disso, todas as ações resultantes dessa guerra terão uma classificação moral e pessoal dada pelo próprio Ego. O resultado de todo esse processo é que constituirá todo o panorama que formará a base de crescimento anímico (produção da Alma). Como descrito por Max Heindel, há casos extremos em que a produção anímica é praticamente anulada pela força dos corpos, ou seja, a vontade, a imaginação e a ideia do Ego, praticamente não conseguem espaço de expressão na vida do indivíduo, sendo esse a vítima de seu eu inferior o tempo todo. São as pessoas que possuem um Corpo Vital tão denso (preenchido mais com Éteres inferiores) e um Corpo de Desejos tão cheio de material das três regiões inferiores do Mundo do Desejo que impedem toda a ação do Ego.
Logo que a morte ocorre, os veículos superiores abandonam o Corpo Denso. Os primeiros ficam presos ao último por meio do Cordão Prateado. O tempo em que o Ego permanece nesse estado pode variar entre algumas horas e três dias e meio. É nessa condição que o panorama inverso mencionado anteriormente ocorre. Os arquivos que foram registrados no Átomo-semente iniciam um processo que constitui uma espécie de filme que se desenrola de trás para frente, revelando ao Ego, primeiramente, os efeitos e depois as causas de suas ações.
Como a vida purgatorial faz parte do Mundo do Desejo (ausente de memória da vida precedente) e não da Região Etérica, o Purgatório apenas exercerá benéficos sobre o Ego se ele for capaz de transferir as informações contidas nesse panorama para o Átomo-semente do Corpo de Desejos. A maneira pela qual essa transferência ocorre depende da atenção que o Ego despende sobre o filme que o panorama lhe revela. Quanto mais nítida for sua observação, maiores impressões serão formadas no Átomo-semente do Corpo de Desejos. Caso não preste a devida atenção, não ocorrerá à transferência mencionada – ou ela será gravada com baixa qualidade – e suas experiências serão perdidas ou não aproveitadas totalmente.
Observe, pois que se nesse importante momento da exibição do panorama houver eventos que favoreçam a distração do Ego, tais como lamentos ou teatros histéricos, ou se o Corpo Denso for submetido a procedimentos cirúrgicos ou de autópsia, perdas incalculáveis para seu desenvolvimento anímico poderão ocorrer. Conclui-se, portanto, que a oração, a serenidade e os desejos de incentivo para que a passagem do Ego aos Mundos internos seja tranquila constitui ambiente favorável para que o Ego cresça e evolua. Quanto mais conscientizarmos as pessoas sobre tais processos, mais serviços à evolução dos irmãos e irmãs prestaremos.
Após a contemplação do panorama da vida e a transferência das experiências ao Corpo de Desejos, inicia-se a vida purgatorial. Muitos Estudantes Rosacruzes acreditam que são apenas os maus hábitos ou pecados que constituem a permanência no Purgatório. De fato, são esses os motivos, mas uma análise mais profunda e psicológica revela que também existem outros fatores implícitos. Por exemplo, desejos de apego a objetos, vícios, dinheiro, pessoas e ilusões de assuntos não terminados constituem fatores determinantes para permanência do Ego no Purgatório. Esse apego promove um desejo intensíssimo de retornar e dar continuidade à vida mundana recém-finda. Assim, o desejo de retorno é também a origem e razão da permanência.
A purgação ocorre exatamente porque o Ego busca satisfazer seus desejos ou vícios antigos, ou de continuar os assuntos que julga inacabados. Torna-se, desse modo, vítima de seu próprio desejo. O dependente químico, o sensualista, o fumante, o avarento, o chefe de família apegado, entre outros, sofrem. Por estarem observando oportunidades para alimentar seus antigos hábitos, mas não conseguirem realizá-los, sofrem ardentemente. Por não terem outra escolha, aprenderão, com o tempo, a não mais alimentarem tais desejos antigos e essa atitude será a chave para abrir a porta da liberdade e deixar esse estado purgatorial.
Esse também é um dos motivos pelos quais as Escolas de Mistérios Orientais instruem seus adeptos a matarem o desejo. Se não tiverem apego algum, não passarão pelo Purgatório. Não percebem, no entanto, que ao matar o desejo, matam também a produção anímica e crescimento moral. É muito mais vantajoso dominar o desejo e direcioná-lo à produção de experiências positivas do que matá-lo e permanecer inerte. “Não se tira a têmpera do aço que forma uma espada ou faca”. Se assim o fizermos, apesar da espada ou faca não mais constituir uma arma que fere, não mais poderá cortar e ser útil para os propósitos nobres de quem os quer utilizar.
Toda a purificação feita no estado purgatorial gerará um agudo sentimento e noção daquilo que é correto e o que não deve ser feito em próximas oportunidades de vida (a voz interna discernimento). Mesmo que as experiências de vidas passadas sejam esquecidas em vidas futuras, o sentimento subsistirá e constituirá a “voz silenciosa” que nos adverte, ainda que não saibamos o porquê, mas quanto mais clara tenha sido a experiência purgatorial (dependente da contemplação do panorama), mais claramente ouviremos essa voz da consciência.
No Primeiro Céu, todas as ideias que não puderam ser concretizados em função das limitações da matéria o serão. Além disso, por ser a região onde há apenas sentimentos altruístas e sublimes, todas as boas ações ou motivos pelo qual o Ego buscou ser nobre na última vida serão revividos para servir de reforço para continuar. Esse reforço constitui um poder anímico que capacitará o Ego a aprimorar seus Corpos para vidas futuras, tornando-os mais sensíveis na capitalização e utilização de materiais mais sublimes e espirituais nas próximas existências objetivas. Mas a aplicação real desse crescimento anímico só ocorre no Segundo Céu.
A partir do estudo e da recapitulação ocorre todo o processo natural de desenvolvimento e crescimento anímico humano e é possível identificar elementos que podem ser otimizados ou potencializados para que ocorra um avanço ou adiantamento desse processo. O Estudante Rosacruz deve observar que não podemos compelir ou forçar elementos como nos convém, mas esses devem seguir as forças das leis naturais que operam suas manifestações.
A indagação que o Fundador da Ordem Rosacruz e seus doze discípulos provavelmente vivenciaram foi de como criar um método que respeitasse o curso das leis naturais e, ao mesmo tempo, propiciasse ao Aspirante à vida superior um seguro adiantamento de produção anímica, sem lhe gerar problemas de saúde ou desequilíbrios mentais e espirituais. Também para que não ficasse na dependência de aproveitar tudo o que vivenciou apenas com a chegada da morte, passagem pelo Purgatório e Primeiro Céu.
Seguindo a lógica, é possível obter maravilhosos resultados da natureza por meio da aplicação de métodos científicos que obedecem à harmonia e suas Leis. Por exemplo, é possível fazer brotar duzentos pés de uma planta onde antes, pelos antigos métodos rústicos, nenhum conseguia subsistir. A lógica é que se somos capazes de aplicar tais métodos para benefícios materiais, também seremos capazes de aplicá-los para obtermos benefícios espirituais.
Desse modo, os materiais e as leis naturais que dão base para todos os acontecimentos relativos ao panorama da vida, vida purgatorial e no Primeiro Céu são:
(1) um Átomo-semente capaz de registrar tudo o que ocorre no dia a dia da pessoa, independentemente de sua consciência desse fato;
(2) um Éter que permita tal registro;
(3) um estado ou condição em que o Ego está prestes a deixar o Corpo Denso e levar consigo seus veículos superiores;
(4) uma atenção e memória para registrar todos os fatos que são recapitulados;
(5) a situação que cada fato imprima sobre o Átomo-semente do Corpo de Desejos o resultado da guerra entre o Espírito e seus Corpos; e julgamento moral desse resultado;
(6) que todo esse processo ocorre de modo inverso ou de trás para frente;
(7) a presença da Lei de Consequência.
É sabido que o ar que respiramos está cheio de Éter e, por meio de cada inspiração que efetuamos, todo Éter contido nesse ar será transmitido ao sangue pelos pulmões e passará também pelo coração. Nessa passagem o Éter (agora no sangue) fará seu papel de transmitir ao Átomo-semente todos os quadros de ações vivenciados pelo Ego naquele momento. Assim, contemplamos os itens (1) e (2) em nosso processo de entender o Método Rosacruz de adiantamento espiritual.
A próxima pergunta é: será que não há oportunidades durante a vida objetiva, ou seja, antes da morte, que simule condições semelhantes ao estado que o Ego está prestes a deixar o Corpo Denso e levar consigo seus veículos superiores (3)? De fato, há! E elas ocorrem todos os dias. Tudo que está embaixo está também em cima e vice-versa. Se cada dia representa uma parcela de toda a vida do Ego e cada noite representa o trabalho interno do Ego realizado depois da morte, sempre haverá um momento em cada dia que simule a condição do item 3. É exatamente pouco antes de entrarmos efetivamente no sono, mas já repousando na cama, que o Corpo Denso relaxado, porém consciente, está prestes a entrar nos Planos internos. Pouco antes de atravessarmos essa fronteira, se formos capazes de direcionarmos nossa atenção e memória num processo que simule o panorama da vida que se desenrola no sentido inverso, verificando primeiramente os efeitos e depois as causas das ações (item 4), seremos capazes de reproduzir o panorama da vida. A vantagem é que somente os eventos daquele dia que acabamos de viver deverão ser relembrados.
Mas, lembre-se que as imagens produzidas devem ser transmitidas para o Corpo de Desejos (item 5). Caso contrário, apenas fortalecerá a memória dos fatos vividos e nenhum crescimento moral ocorrerá. Para que sejam transmitidos para o Corpo de Desejos, o Aspirante à vida superior deve, a cada vez que o resultado da guerra entre Espírito e seus Corpos seja reproduzido diante de seus “olhos mentais”, julgar moral e pessoalmente o resultado. Se ocorreu de acordo com suas aspirações espirituais ou não. Caso positivo deve se vangloriar e reviver o Primeiro Céu; caso negativo deve sinceramente se arrepender e fazer queimar sua personalidade no Altar do Sacrifício. Deve também prometer sacrificá-la, assim como os animais eram queimados e sacrificados nesse Altar, quando da época do Tabernáculo no Deserto, a primeira Igreja.
Note que o panorama foi seguido de maneira inversa obedecendo ao padrão natural da morte (item 6). Desse modo, os registros que estavam armazenados no Átomo-semente são revividos antecipadamente no final de cada dia. Consequentemente eles serão apagados, pois já cumpriram seu propósito de fazer o Ego crescer animicamente. Perceba o leitor que o Aspirante à vida superior antecipa o estabelecimento da harmonia que desequilibrou durante seu dia. Assim, a Lei de Consequência também desempenhará seu papel.
Se esse poderoso método for sistematicamente empregado diariamente sob as condições necessárias para tal, ao fim da vida poucos registros estarão impregnados no Átomo-semente. Assim, o panorama que deveria desenrolar para o Ego já terá cumprido seu propósito. Tanto o Purgatório quanto o Primeiro Céu poderão ser evitados e o tempo que deveria ser despendido para ocorrência desse processo de produção anímica poderá ser empregado em serviços ou aprimoramentos que fogem à nossa capacidade de imaginação. Além disso, antes que a morte ocorra, o Aspirante à vida superior estará apto a: (1) quebrar o ciclo vicioso de produção de pecados (sofrimento e morte); (2) a iniciar um processo de purificação pessoal; (3) tornar seus corpos ferramentas mais úteis para atividade do Ego; (4) a antecipar aprendizados que estariam reservados somente a vidas futuras. Conforme mencionado anteriormente, com esse método, o Aspirante à vida superior poderá intensificar o grau vibratório e sua força espiritual, capacitando-se a realizar importantes feitos na Grande Obra Divina, semelhantes àqueles desenvolvidos por pessoas consideradas santas. Esse é o motivo pelo qual Max Heindel, mensageiro direto da Ordem Rosacruz, considerou esse método como o ensinamento mais importante de todo O Conceito Rosacruz do Cosmos.
Que Deus lhe ajude a iniciar o processo de Retrospecção – o nome do Exercício Esotérico noturno descrito acima – o quanto antes, para que as maravilhas celestes possam ser concretizadas em sua vida e nas daqueles que estão entrelaçados em sua Teia do Destino.
Que as Rosas Floresçam em Vossa Cruz
Os Perigos no Caminho
“Somente uma coisa é necessária”[1], disse Cristo a Marta. Nessas palavras encontramos uma das grandes verdades fundamentais da vida e, embora a grande maioria não admita que haja apenas uma coisa necessária e que muitas pessoas concordarão que nossos desejos são numerosos, mas de fato nossas necessidades são muito poucas.
Não obstante esse grande fato, a complexidade de nossa atual vida civilizada, assim chamada, é tal que a maior parte da humanidade está se desgastando para multiplicar o que chamamos de confortos e luxos, que são apenas para o Corpo Denso, enquanto a alma está faminta. Tampouco esses chamados confortos e luxos satisfazem quando realmente estão em nossa posse. Os seres humanos abastados que conseguiram alcançar tal posição, se pudessem ser interrogados de forma confidencial, nos diriam que seu desfrute com a riqueza estava muito mais na expectativa, na busca pela conquista, do que na posse propriamente dita e, esse dinheiro é um remédio amargo na boca de quem o possui, isso se ele é um ser pensante. Da mesma forma ocorre com o prestígio social, o ser humano, dito “socialite” que conquistou seu caminho para a liderança nesse ambiente deslumbrante, assim chamado, e uma vez lá dentro, descobre que isso é um lugar-comum, um tédio e não vale o esforço. Mesmo assim, existem sempre aqueles que clamam por riquezas, por posição social, que buscam essas coisas tão avidamente e não se importam com o custo para o espírito, como as mariposas buscam a luz de uma lâmpada. Embora existam muitos lugares perigosos na vida social e civilizada para seduzir a mariposa descuidada, também existem iscas mais fatais no caminho do progresso espiritual.
A Parábola do Semeador[2], como todas as outras parábolas das quais o Cristo fez uso, era fácil de ser aprendida e aplicada em cada momento; alguns grãos caíram à beira do caminho, outros sobre o solo rochoso, entre espinhos e abrolhos etc., mas, apenas uma pequena parte caiu em solo fértil, onde deu frutos abundantes. Hoje em dia, as pessoas correm de um lado para o outro, e no mundo todo são movidas por esse desejo interior, um anseio por algo que não sabem definir. Contudo, embora procurem, são surdos e cegos, eles não podem ver a luz interior, não ouvem o chamado silencioso interior; a luxúria dos olhos e o orgulho da vida no mundo exterior são atrações muito fortes. Como toupeiras, refugiamo-nos nas trevas, numa existência que ficou órfã, longe da luz, longe do Pai da Luz, e mesmo assim Ele está presente em toda parte. É verdade, verdade literal, poeticamente expressa quando o salmista diz:
“Para onde ir, longe do teu sopro?
Para onde fugir, longe da tua presença?
Se subo aos céus, tu lá estás;
se me deito no Xeol, aí te encontro.
Se tomo as asas da alvorada para habitar nos limites do mar,
mesmo lá é tua mão que me conduz,
e tua mão direita me sustenta”. [3]
“Deus é Luz”[4], como disse o Apóstolo São João, com uma percepção mística, e a luz está em toda parte, só que não a vemos em nossa cegueira de coração.
Porém, em algum momento no curso de nossas vidas, a luz latente no interior de cada um será despertada, a centelha divina do nosso invisível Fogo do Pai começará a brilhar e lentamente despertamos para a percepção de que somos filhos da luz.
Essa é a grande crise, o ponto de inflexão na peregrinação do pródigo; quando percebe sua condição, quando vê claramente que toda a riqueza mundana, a condição social, o poder na sociedade são apenas “cascas”; que há apenas uma coisa necessária, apenas uma que vale a pena em todo o mundo que é encontrar, novamente, o seio do Pai.
Nesse momento de conversão, o Espírito expressa o intenso desejo que permeia cada fibra do seu ser naquela expressão concisa, forte e marcante do Espírito: “Eu me levantarei e irei para meu Pai”[5]. Essa é a senha para “O Caminho”; no outro extremo está a Cruz, onde a libertação o aguarda, e o Espírito santificado paira sobre as esferas mais sutis com o grito comovente do triunfo “Consummatum est”, foi concluído! Estou livre do grilhão da carne, um espírito livre, em união com meu Pai.
Contudo, ninguém imagina que possa estar seguro, quando entra no portal da aspiração; muitos se espreitam pelo caminho, procurando desviar a atenção do buscador da verdadeira luz, e nenhuma armadilha é mais sedutora nessa hora do que aquela que brinca com o ardente desejo da alma por uma conquista rápida.
São Paulo expressa esse grande anseio no quinto capítulo da Segunda Epístola de São Paulo aos Coríntios (1-9):
“Sabemos, com efeito, que, se a nossa morada terrestre, esta tenda, for destruída, teremos no céu um edifício, obra de Deus, morada eterna, não feita por mãos humanas. Tanto assim que gememos pelo desejo ardente de revestir por cima da nossa morada terrestre a nossa habitação celeste — o que será possível se formos encontrados vestidos, e não nus. Pois nós, que estamos nesta tenda, gememos acabrunhados, porque não queremos ser despojados da nossa veste, mas revestir a outra por cima desta, a fim de que o que é mortal seja absorvido pela vida. E quem nos dispôs a isto foi Deus, que nos deu o penhor do Espírito. Por conseguinte, estamos sempre confiantes, sabendo que, enquanto habitamos neste corpo, estamos fora da nossa mansão, longe do Senhor, pois caminhamos pela fé e não pela visão… Sim, estamos cheios de confiança, e preferimos deixar a mansão deste corpo para ir morar junto do Senhor. Por isto também nos esforçamos por agradar-lhe, quer permaneçamos em nossa mansão, quer a deixemos.”.
No entanto, observemos especialmente que São Paulo reconhece o perigo de ser encontrado nu, que insiste e não deseja ser despido, mas vestido, e que, portanto, trabalha para isso.
Impulsionados por esse desejo insano de desenvolvimento rápido, as almas são constantemente enlaçadas por constituídos pseudoinstrutores inescrupulosos que prometem resultados rápidos, geralmente exigindo uma taxa financeira (disfarçada de vários modos) inicial por seus serviços; contudo, o tolo rebanho se reúne em torno desse tal impostor como mariposas em torno de uma chama.
Na verdade, elas obtêm, muitas vezes, resultados sendo impelidas para os Mundos invisíveis. Contudo, tendo fracassado em “trabalhar na vinha”, como São Paulo assim trabalhou para ganhar a “veste nupcial” [6] ou o “paraíso”, elas não têm o veículo vital da consciência necessário para funcionar nas esferas superiores, de maneira consciente e inteligente, e também são incapazes de encontrar o caminho de volta ao Corpo Denso deixados por elas, e geralmente, se tem relatos nesses casos que a causa da morte foi “insuficiência cardíaca”.
Elas ficam, de fato, “nuas” e fadadas ao sofrimento até ficarem inconscientes no curso natural dos acontecimentos, porque na verdade cometeram suicídio e o arquétipo do Corpo Denso permanece intacto, constantemente, se esforçando por atrair para si substâncias físicas; porém, quando o Cordão Prateado é rompido, nada pode ser obtido, e a dor descrita pelos suicidas (seria como a dor da fome ou a dor de dente, na qual se parece com a dor muscular por todo o corpo) é experimentada, às vezes, por muitos anos. “Quem não entra pela porta é ladrão e assaltante” (Jo 10:1). É possível entrar furtivamente na casa terrena e fugir, mas quem procura enganar a Deus descobrirá que o caminho do transgressor é difícil, quando suas asas são chamuscadas na chama.
Não é estranho que seres humanos que compreendem a necessidade de passar anos para aprender uma determinada ciência, ofício ou profissão, trabalhando dia após dia, ano após ano, com incansável paciência e aplicação assídua, a fim de obter o domínio de qualquer ciência material que estejam estudando, ao mesmo tempo podem ficar iludidos ao pensar que, em pouco tempo, alguns dias, algumas semanas ou meses, talvez no máximo um ano ou dois, possam dominar a ciência da alma, simplesmente pensando por dez minutos por dia ou menos. Eles iriam rir e desprezar qualquer um que se oferecesse para iniciá-los nos mistérios da cirurgia ou da relojoaria em poucos dias; agora, quando se trata da ciência da alma, eles abandonam toda consideração do senso comum; o desejo por poderes ocultos é tão forte que ofusca a razão e, como as mariposas voam para a chama, também voam para um falso instrutor que lhes promete fenômenos em pouco tempo.
E, quando alguém que está tentando desse modo é queimado, os outros percebem o aviso? Infelizmente não!
Para cada mariposa que cai, outra ou mais dez estão prontas para tomar o seu lugar. Espelhos mágicos, bola de cristal, pêndulo, astrologia “adivinhatória”, barras de access, reiki, tabuleiro ouija, cura eletrônica, auriculoterapia, constelação familiar e empresarial, radiestesia, mesa radiônica quântica, apometria quântica, radiação atlante, cristais magnetizados, pedras mágicas, runas, búzios, borra de café, quiromancia e tantos outros instrumentos ou métodos encontram um mercado receptivo, enquanto a verdade segue implorando para ser vista e buscada. A fraude e o engano por pessoas inescrupulosas, que depredam essa intensa alma faminta de seus semelhantes, são mais numerosos do que aqueles que não estão familiarizados com o desejo oculto de milhares de pessoas que possam compreender. Geralmente, os ingênuos aceitam suas perdas financeiras, mas, às vezes, os processos nos tribunais públicos mostram que pessoas inteligentes deixam para trás somas consideráveis a pedido de falsos instrutores e alguns intitulados de pseudoespíritos, e ocasionalmente o cerco se fecha sobre um “vidente” bem-sucedido, que vai para a cadeia, ou então, é internado em manicômio.
Todavia, se a “mariposa humana” fosse passível em raciocinar e pudesse ouvir a voz da advertência, perguntaria: “então, como posso saber distinguir a verdadeira luz da falsa?”. Aqui podemos recorrer, com total confiança, às Escrituras para obter nossa resposta. Não há nenhuma incerteza quanto a isso, pois o Cristo deu aos Discípulos os poderes necessários para ajudar a humanidade, e Ele lhes disse: “dê de graça, aquilo que de graças recebestes” (Mt 10:8). Pedro também, quando foi abordado por Simão, o feiticeiro, que desejava comprar por dinheiro os poderes espirituais que o Apóstolo exercia, o amaldiçoou. Sempre que se doaram, o fizeram sem pedir valores financeiros (direta ou indiretamente). Da mesma forma, o verdadeiro instrutor não cobra por seus ensinamentos, mas procura imitar o exemplo da vida dos Apóstolos, recebendo contribuições voluntárias daqueles a quem eles ajudam. Tampouco é necessário para quem não busca o “ouro mundano” atrair outros com promessas de fenômenos ou poderes em pouquíssimo tempo. É fácil construir uma casa do tamanho desejado, desde que você tenha o material. E você pode aumentá-la acrescentando mais tijolos.
Contudo, nem a planta, nem o animal, nem o ser humano crescem dessa maneira; o crescimento deles é interior, e cada um deve fazer isso individualmente. Não podemos comer a comida de outra pessoa e dar a ele a devida força vinda do alimento; nem podemos passar pelas experiências de outrem, assimilá-las e dar a ele o crescimento anímico obtido dessa forma.
Então, fuja da chama dos falsos mestres; tenha paciência. Trabalhe, observe e aguarde. No devido tempo, a luz de Cristo brilhará dentro de sua própria alma, e você nunca precisará procurá-la em outro lugar.
(Publicado na: Rays From The Rose Cross – mar/1916 – Traduzido e atualizado pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
[1] N.T.: Lc 10:42
[2] N.T.: Mt 13:1-9, Mc 4:3-9 e Lc 8:4-8
[3] N.T.: Sl 139:7-10
[4] N.T.: IJo 1:5
[5] N.T.: Lc 15:18
[6] N.T.: o Corpo-Alma
A grande mudança normalmente designada como “morte” não faz distinção de pessoas.
Pode acontecer na juventude, na meia idade ou na melhor idade. Contudo, em algum momento da vida, todos são chamados a deixar suas vestes físicas de lado e se fixar, novamente, em reinos além da nossa esfera de conhecimento.
Sabendo que essa mudança é inevitável, certamente, é importantíssimo que aprendamos, o máximo possível, sobre a grande transição.
Há 3 meios de você acessar esse Livro:
1. Em formato PDF (para download):
2. Em forma audiobook ou audiolivro:
Audiobook – A Luz Além da Morte – Dos Escritos de Max Heindel – Fraternidade Rosacruz
3. Para estudar no próprio site (ou para fazer download ou imprimir):
A LUZ ALÉM DA MORTE
Dos Escritos de
Max Heindel
Fraternidade Rosacruz
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Traduzido e Revisado de acordo com:
1ª Edição em Inglês, 2001, The Light beyond Death, editada por The Rosicrucian Fellowship
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
contato@fraternidaderosacruz.com
fraternidade@fraternidaderosacruz.com
SUMÁRIO
CAPÍTULO I – PARA AQUELES QUE LAMENTAM… 7
CAPÍTULO II – A CIÊNCIA DA MORTE.. 13
CAPÍTULO III – O ENIGMA DA VIDA E DA MORTE.. 19
CAPÍTULO IV – ONDE ESTÃO OS MORTOS?. 36
Investigando os Mundos invisíveis 38
Provando Hipóteses Científicas 39
Por que Estudar os Mundos invisíveis?. 41
Testemunho de um Cientista. 49
CAPÍTULO V – NOSSA VIDA NO PURGATÓRIO.. 53
A Purgação dos Maus Hábitos 58
CAPÍTULO VI – VIDA E ATIVIDADE NOS CÉUS. 62
Por que as Crianças morrem e para Onde Elas vão?. 63
O Panorama como Juiz da Vida após a Morte. 65
A Experiência Pós-morte do Materialista. 66
Atividades na Região do Pensamento Concreto. 71
CAPÍTULO VII – O MÉTODO ROSACRUZ DE CUIDAR DOS MORTOS. 76
O Átomo-semente do Corpo Denso. 77
CAPÍTULO VIII – NO CASO DE SER LIBERADO DO CORPO DENSO.. 80
CAPÍTULO IX – EFEITOS DO SUICÍDIO.. 82
O Sentimento de estar “Vazio”. 82
Não se zomba da Lei Cósmica. 85
O Arquétipo do Corpo Denso. 85
Não importa que saibamos ser a morte uma benção e libertação, nem o quão preparados estamos, para nos alegrar pelo fato de aquele que se foi estar livre dos grilhões do Corpo Denso; isso tudo geralmente não ajuda, porém pode ser um recurso para nós quando uma pessoa querida passa para o além.
Sabemos que nosso amigo ou nossa amiga está bem e ficamos contentes com isso, mesmo que não possamos ajudá-lo ou ajudá-la e sentimos saudades dele ou dela. Deparamo-nos ouvindo os seus passos na escada ou a sua voz na porta e, como isso não se confirma, inevitável será que a nossa natureza egoísta vá se erguer até o ponto em que nos encontramos lutando contra a solidão. A menos que nos encontremos entre aqueles afortunados, os quais são relativamente poucos, que podem ver e se comunicar com os Egos do outro lado. Muitos de nós somos ainda humanos o suficiente para sentir saudade em certas circunstâncias, mesmo quando olhamos a morte de um ente querido com o positivismo implícito nos Ensinamentos Rosacruzes dados pelos Irmãos Maiores.
Então, é muito bom para cada um de nós saber como tudo isso funciona: vida aqui, morte lá; morte aqui, vida lá.
“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.” (Mt 5:4). Essas palavras do grande Consolador que visitou a Terra há mais de dois mil anos são relembradas durante a festa da Páscoa, que causa alegria a milhões, pois a Humanidade está agora despertando cada vez mais para seu verdadeiro significado.
A Páscoa, outrora celebrada por poucos Cristãos, já não é apenas uma festa Cristã. Já não está reservada para aqueles que aceitam o pão e o vinho sacramentais das mãos de seu ministro. Agora ela se tornou um grande dia de alegria para povos de todas as nações e seguidores de todas as Religiões, bem como para aqueles que nunca viram o interior de uma igreja.
Tornou-se um costume para as pessoas nos distritos rurais, e nas cidades, escolher uma colina na qual plantam uma cruz para, no feliz dia de Páscoa, se reunir em comunhão e adoração como uma comunidade, independentemente da raça, credo ou cor, em nome do maior Espírito que já habitou um Corpo Denso, e adorar o Espírito Universal, oferecendo louvor e graças pela vida e luz que eram Sua parte no grande esquema de Deus. Esse Espírito Universal de alegria se expressa em um dia que, na memória, traz a imagem de um homem pregado na cruz. Ele retrata para a Humanidade um rosto desenhado em dor, um corpo humano sofrendo na agonia da morte. Por que toda a Humanidade se regozijaria, em um dia que, na memória, está conectado àquele ato de brutalidade que ocorreu há dois mil anos?
O ser humano, em sua falta de conhecimento e vaga compreensão da justiça de um Pai amoroso, fez da sepultura um sepulcro escuro, uma coisa a ser temida e o fim de todas as suas aspirações e ambições. Por muito tempo ele temeu o fim da existência física e fez disso um período de luto intenso, um período repleto de lágrimas. Mas, esse grande Espírito que tinha poder sobre a vida e a morte Se permitiu ser crucificado. Ele veio à Terra com esse grande propósito. No entanto, a questão pode ser levantada: se afirmamos que Jesus, o Cristo, tinha o poder sobre Sua vida, então por que Ele permitiu as grandes indignidades e crueldades que foram perpetradas contra Ele e por que Ele não se salvou dessa morte cruel e indigna? Na parábola do aprisco de ovelhas, no Evangelho segundo São João, capítulo 10, Cristo-Jesus diz a Seus ouvintes: “Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a vida pelas ovelhas. Portanto, meu Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Nenhum homem tira isso de mim, mas eu a coloco de mim mesmo. Tenho poder para abandoná-la e tenho poder para tomá-la novamente. Este mandamento recebi do meu Pai”. Encontramos outra declaração dada pelo Cristo, após a crucificação, depois de ter sofrido a morte na cruz — quando Ele voltou do mundo espiritual para comungar com Seus Discípulos. No capítulo 28 do Evangelho segundo São Mateus, no versículo 18, Ele novamente reivindica o mesmo poder. “E Jesus veio e lhes falou, dizendo: ‘Todo o poder me é dado no Céu e na Terra’”.
O Cristo veio à Terra para ensinar à Humanidade uma lição particular; se Ele estava destinado a Se tornar o Salvador da Humanidade, então a maior lição que Ele poderia ter ensinado ao ser humano foi a fé; fé em Seu Deus e em uma vida após a morte. Por Sua própria morte, Cristo-Jesus deve trazer ao homem a fé e a crença em uma VIDA APÓS A MORTE.
Ele pregou a imortalidade e, para imprimir ainda mais esse fato na Humanidade, Ele teve que passar pelos estertores da morte a fim de voltar à vida e trazer ao homem a prova de uma vida após a morte. Para realizar isso, Ele apareceu a Seus amados Discípulos em Seu corpo espiritual. Na Primeira Epístola aos Coríntios 15:6, São Paulo diz: “Depois disso, Ele foi visto por mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte permanece até o presente, mas alguns já dormiram”. Ele caminhou e conversou com eles para acreditarem que o que Ele havia pregado, a imortalidade da alma, fosse um fato e que, depois que o homem deixa de lado seu Corpo Denso, ele continua a viver em um corpo mais sutil e etéreo.
São Paulo também traz ao ser humano muita esperança em uma vida após a morte no 5º capítulo da Segunda Epístola aos Coríntios, versículos 1:2: “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita com mãos, eternas nos Céus. Enquanto isso gememos, desejando seriamente ser vestidos com a nossa casa que é do Céu”. No 15º capítulo da Primeira Epístola aos Coríntios, no versículo 44, São Paulo novamente prega para aqueles que não têm fé na vida após a morte. Esse capítulo maravilhoso é usado pela maioria dos ministros para levar consolo e fé aos que estão enlutados pela perda de seus entes queridos. “É semeado um corpo natural; é ressuscitado um corpo espiritual. Há um corpo natural e há um corpo espiritual”.
Durante a velha dispensação e em todo o Antigo Testamento, o ser humano tinha bem pouca esperança de uma vida após a morte; para ele a sepultura acabava com tudo. Encontramos tal desânimo quando lemos o capítulo 9º do Livro do Eclesiastes, versículo 5º, em que a declaração é feita: “Porque os vivos sabem que morrerão; mas os mortos nada sabem, nem têm mais recompensa; a memória deles é esquecida”.
Os Ensinamentos Rosacruzes afirmam que o ser humano é um Espírito imortal, feito à imagem de Deus, já que nos é dito no versículo 26 do 1º capítulo do Livro do Gênesis: “Façamos o homem à nossa imagem”. Ora, se Deus é Espírito e o “homem” é feito à Sua imagem, podemos continuar afirmando que o ser humano possa morrer ou que, se ele pudesse morrer, uma parte de Deus morreria? Alguém pode imaginar que um grande Espírito criasse um ser igual ao ser humano, à Sua imagem, para, então, permitir que ele morresse?
Poderia tal ser tornar-se ele mesmo um criador como Deus o havia destinado a ser, caso uma única vida na Terra fosse tudo e, quando o ser humano tivesse vivido seus três pontos e dez anos, ele deixasse de existir, sem chance de se tornar como seu Pai do Céu, perfeito? Se nós apenas pararmos para raciocinar sobre isso, não poderemos deixar de nos convencer de que o ser humano também deva continuar evoluindo e aprendendo para se tornar todo-sábio como seu Pai celestial é sábio e que isso não pode ser realizado em poucos anos de uma vida curta. Para aprender essas lições na Terra, sobre a qual Deus deu o domínio ao ser humano, ele deve retornar repetidamente e, em cada renascimento, tomar sua cruz de matéria (seu Corpo Denso).
É por meio do veículo físico que o ser humano deve aprender a se tornar um criador semelhante a seu Pai do Céu; é o pedágio que ele usa em seus esforços para dominar as numerosas lições de vida para que ele possa ser reconhecido por seu Pai do Céu como um filho. Essa ferramenta (o Corpo Denso) se cansa e desgasta, sendo necessário que o Espírito tenha um tempo para assimilar e digerir toda a experiência adquirida na Terra. Portanto, Deus providenciou para que o Espírito saísse deste manto velho e gasto e funcionasse em seu corpo espiritual.
Quando isso ocorre, o ser humano, com sua visão limitada, lamenta essa mudança; para ele, ela aparece como a partida final de um ente querido, quando esta vestimenta desgastada se desintegra e o ser amado tem permissão para funcionar em uma túnica, ou corpo, mais fina e etérea em que o indivíduo não é limitado pela distância nem a matéria física pode obstruí-lo em seu progresso. Esse é o corpo espiritual de que São Paulo nos fala na Segunda Epístola aos Coríntios, um edifício não feito por mãos, eterno nos Céus.
Nesse veículo, nossos entes queridos podem nos visitar e, embora em nossa cegueira não tenhamos os olhos espirituais com os quais possamos vê-los, eles estão, no entanto, muito próximos de nós. Eles ainda estão interessados em nosso bem-estar e, quando precisamos deles, não nos decepcionam; eles nos encorajam e ajudam com mais frequência do que imaginamos, embora por nossa própria dor possamos impedir seu progresso na nova vida para a qual foram chamados.
Quando um ser humano entra em sono profundo e seu Corpo Denso está inerte na cama, ele está acordado e ativo no reino do Espírito. Ele não é mais prejudicado pelo Corpo Denso. No entanto, ele está amarrado a esse veículo pelo cordão de prata, que o leva de volta para o corpo, ao acordar. Durante a inconsciência do sono, ele está na terra dos mortos-vivos e, se quiser, pode comunicar-se com seus entes queridos que estão sempre perto dele.
O Estudante da Fraternidade Rosacruz tem a certeza de sua proximidade com aqueles que passaram pelo que é comumente chamado de morte e não sofre como outros, que não têm esperança. Ele sabe que seus entes queridos não foram embora, mas, como John McCreery diz em seu poema, “Não existem mortos”.
Eles não estão mortos. Eles apenas foram,
Além das brumas que nos cegam aqui,
Para uma vida nova e maior
Daquela esfera serena.
O conhecimento real que é adquirido pelos Estudantes, sobre tais ensinamentos avançados, removeu deles o aguilhão da morte e sabem que aqueles que abandonaram seus corpos mortais não estão mortos, mas agora desfrutam da liberdade de vida nos mundos espirituais. Eles estão convencidos de que Deus não construiu a casa da alma do ser humano e inspirou o Espírito humano com fé e amor para derrubá-lo com a morte, destruindo Sua própria obra. O ser humano é a obra-prima de Deus e, como tal, essa centelha de divindade, feita à Sua imagem, não pode morrer, do contrário uma parte de Deus seria destruída.
O Cristo veio voluntariamente à Terra para ser envolto em um Corpo Denso, sabendo que o resultado seria trazer esperança e fé à Humanidade. Ele devia morrer e ressuscitar, provando assim para o ser humano que a morte é apenas uma manifestação física, a libertação de um Espírito do seu Corpo Denso. Ele veio a uma Humanidade que estava cega pelo medo da sepultura, para quem a cova é um abismo para onde o Espírito era tragado e perdido.
Ele considerou a morte o maior dos terrores e sabia que somente Ele poderia restaurar a fé do ser humano em uma vida imortal e lhe dar a certeza de ser um Espírito glorificado. Ele deixou essas palavras de conforto, que devem trazer consolo e fé a todos os que acreditem n’Ele: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, credes também em mim. Na casa do meu Pai há muitas moradas: se não fosse assim, eu teria contado a vocês. E se eu for e preparar um lugar para vocês, voltarei e vos receberei para mim mesmo; para que onde eu estou, vós também estejais.” (Jo 14:1-3).
Quando esperam o nascimento de um filho, os pais se preparam para os próximos meses com antecedência, geralmente com a maior alegria. Às vezes, toda a família, especialmente a parte feminina, ajuda a preparar criações maravilhosas para o conforto do pequeno desconhecido que ainda não apareceu. Por alguns anos, essa pequena vida será protegida, se tiver a sorte de ser atraída por pais que foram abençoados com os bens deste mundo; no entanto, o maior número está entre as classes mais pobres, que são incapazes de fornecer à criança as necessidades materiais para o seu bem-estar. Embora possam recebê-la e amá-la, mesmo assim suas vidas estarão mais cheias ou menos de adversidades e tristezas; assim, a criança cresce em masculinidade ou feminilidade no meio de dificuldades e sofrimentos. No entanto, mesmo com todo esse sofrimento, que muitas vezes torna a vida do ser humano um fardo, nós nos apegamos à vida tenazmente e o pensamento da morte nos enche de horror.
Já visitei alguns idosos inválidos, desamparados e desesperados, em um dos grandes hospitais do condado. Descobri que vários deles encaravam a morte com medo. Alguns leram repetidamente a Bíblia, porém o medo da morte não pôde ser eliminado.
Encontramos idosos fracos e cambaleantes que estavam cercados por netos cujos modos modernos e desrespeitosos muitas vezes provocavam as críticas dos avós negligenciados e solitários. Esses costumam sentir que estejam a caminho da vida pós-morte; contudo, quando chega a hora de viajar para o Grande Além, geralmente encontram nesse momento o medo e o arrependimento. O médico é chamado, e os parentes, que antes sentiam que o avô estivesse a caminho do além, agora fazem o possível para impedir a saída desse Espírito do Corpo Denso para entrar no mundo desconhecido.
Por que o pensamento dessa jornada para a vida, que está além, deve ser preenchido com tanto horror, especialmente em uma nação Cristã que aceita os ensinamentos do Grande Mestre, o Cristo, cuja missão na Terra foi remover o aguilhão da morte?
A história antiga da Humanidade, conforme registrada na Bíblia desde os tempos de Adão e Eva, quando o Senhor os expulsou do Jardim do Éden, mostra que a morte sempre foi associada à ideia de punição. No Livro do Gênesis, capítulo 2, versículo 17, o Senhor ameaçou Adão com a morte, se ele comesse da Árvore do Conhecimento. Ao longo da história dos antigos israelitas, descobrimos que seu Senhor, Jeová, os ameaçava constantemente por seus pecados com o castigo da morte. Esse medo foi implantado nas Mentes das raças anteriores, cuja mentalidade infantil ainda não era capaz de raciocinar e só podia compreender mediante o medo. Eles não podiam imaginar um Deus de amor, respondendo apenas a uma Divindade irada que os lançaria nas trevas desconhecidas por seus pecados.
O povo antigo era muito supersticioso e usava muitas cerimônias para se libertar dos poderes das trevas. O medo da morte criou neles o desejo de preservar seus corpos, o que resultou em vários tipos de embalsamamento. Entre os antigos egípcios, isso tornou-se uma arte. Depois de ser submetido a um processo de preservação pelos sacerdotes, o corpo era colocado em uma caixa de sicômoro moldada na forma do corpo e, finalmente, devolvido aos parentes, que muitas vezes o mantinham em casa, às vezes dentro de um cofre ou sepulcro particular. Algumas dessas múmias podem ser encontradas em nossos museus.
As ideias da morte sofreram várias alterações de acordo com a evolução do ser humano; no entanto, o profundo mistério da vida pós-morte não foi explicado até o advento de Cristo que, por meio de Sua morte na Cruz, trouxe ao ser humano a esperança da salvação. Conforme o Evangelho Segundo São João, capítulo 5, versículo 24: “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve minhas palavras e crê Naquele que Me enviou tem vida eterna e não entrará em condenação, mas será passado da morte para a vida”. O apóstolo São Paulo declara na Segunda Epístola a Timóteo, no capítulo 1, versículos 9 e 10: “Deus nos salvou e nos chamou não de acordo com nossas obras, mas de acordo com Seu próprio propósito e graça, que nos foram dados em Cristo-Jesus, antes do mundo começar. Mas agora é manifesto pelo aparecimento de nosso Salvador, Jesus Cristo, que aboliu a morte e trouxe vida e imortalidade à luz através do evangelho”.
Como o mundo aproveitou a oportunidade do supremo sacrifício de Cristo para trazer ao mundo a esperança da imortalidade? O medo da morte diminuiu? O método de cuidar dos corpos dos mortos mudou em relação aos antigos judeus ou gregos? A ciência da morte acompanhou a evolução? Analisemos se alguma mudança é perceptível. Entre os mais avançados de nós, as roupas de luto estão desaparecendo lentamente. O método de embalsamamento foi alterado: as vísceras e o cérebro não são mais removidos como antigamente, mas um líquido é injetado nas artérias principais, o que impede temporariamente a putrefação do Corpo Denso. Porém o medo da morte e a grande tristeza ainda prevalecem. Quantias fabulosas são gastas em funerais caros e enfeites florais. Essa extravagância foi levada a extremos e tornou-se um costume que muitas vezes seja embaraçoso para os parentes, que podem não ter condições financeiras. Os parentes devem pagar pelo terreno, o coveiro é pago para fazer a cova e o agente funerário, pelo caixão, roupão e meios de transporte para levar os parentes ao funeral. Para aumentar a perda de seus entes queridos, as despesas com o funeral costumam ser um fardo para os enlutados. Também é habitual que muitos ministros ou padres prolonguem os serviços e, em seu grande zelo pelos convertidos, aproveitem a oportunidade para apelar às emoções dos presentes, aumentando assim a tristeza do enlutado e fortalecendo o medo da morte e da vida além dela.
Desde a Primeira Guerra Mundial, a Humanidade se interessou muito pela vida após a morte. O mundo foi então inundado com livros alegadamente ditados pelos supostos mortos, que usaram médiuns para transmitir a mensagem. As pessoas, por sua grande dor e desejo de se comunicar com os entes queridos, rasgaram o véu e puderam enxergar o além. Contudo, com o medo da morte removido, que é um grande passo à frente e um maravilhoso conforto para a Humanidade, o que está sendo feito para preparar o Espírito para a mudança chamada morte? São feitos tão cuidadosos preparativos para essa jornada como para a entrada do Espírito no Corpo Denso através do nascimento nesse Mundo Físico? Essa passagem da vida física à espiritual se torna agradável pelo amor e pelos bons desejos dos amigos? Aí, não. Essa jornada, a maior de todas ao lar do Espírito, ainda é acompanhada de pesar e o caminho, pavimentado com medo, lavado com lágrimas. O viajante não é ajudado com o amor ou a alegria que aguardavam sua entrada na vida terrena. O Espírito, frequentemente, entra nessa nova vida despreparado e infeliz por causa do sofrimento dos parentes.
A pergunta pode ser feita: qual é a ciência da morte? Responderemos isso do ponto de vista Rosacruz. A “morte” é apenas a passagem do Espírito para uma esfera maior — é um nascimento. Deve ser preparada, por isso, com o maior cuidado. O Corpo Denso é apenas um veículo que o Espírito usa para obter experiência neste dia da escola da vida. No final desta vida, o Ego deve assimilar o que experimentou e para extrair o melhor de suas experiências certas condições devem ser preparadas no momento do rompimento do Cordão Prateado. Isso costuma acontecer nos primeiros três dias e meio após a morte, aproximadamente. Agora, para explicar o porquê o período imediatamente após a saída do Espírito é de vital importância, devemos entender que os veículos do ser humano são quatro, consistindo em: um Corpo Denso – o físico –, um Corpo Vital, um Corpo de Desejos e uma Mente. No evento chamado de morte, o Espírito se retira com os dois veículos superiores, que estão conectados aos Corpos Vital e Denso por um cordão fino que, quando visto com os olhos do Espírito, tem um brilho prateado e a forma de dois números seis conectados pelas pontas dos dois ganchos; a extremidade superior é conectada aos dois veículos superiores, enquanto a inferior permanece em contato com o Corpo Denso.
Quando a morte ocorre, o Corpo de Desejos e a Mente deixam o veículo físico, levando consigo apenas um átomo permanente, o Átomo-semente, que durante a vida estava depositado na região referente ao ventrículo esquerdo do coração. Nesse Átomo-semente, como o filme negativo da câmera, foram gravadas todas as experiências da vida que acabou de terminar. Com a morte, a força desse Átomo-semente deixa o Corpo e todas essas gravações são transferidas do Corpo Vital, que é etérico, e o depósito dessas experiências, para o Corpo de Desejos, que então formam a base da vida do homem ou mulher no Purgatório e no Primeiro Céu. Essa transferência é feita pelo Espírito durante os primeiros três dias e meio após a ruptura da conexão entre o Átomo-semente e o coração, normalmente conhecido como morte. Assim, podemos ver que a morte não está completa até que essa transferência seja realizada. A sensação ainda está presente e o Espírito sofre com um ambiente desarmônico. Ele pode sentir qualquer coisa durante o exame post-mortem ou embalsamamento. Quando o Corpo é mutilado ou cremado antes que o Cordão Prateado seja cortado, o Espírito sofre as dores. Os médicos e agentes funerários, acreditando que a pessoa esteja “morta”, geralmente não lidam com o corpo com o mesmo cuidado que teriam, caso conhecessem esses fatos.
Foram relatados casos em que aqueles cujos corpos foram mutilados, imediatamente após a morte, conseguiram se comunicar e reclamaram que haviam sofrido. Em um desses casos, uma mulher declarou que eles a mataram e ela foi incapaz de fazer o agente funerário entender que pudesse sentir a faca. Se fosse sabido de maneira mais geral que nossos mortos podem sentir dores físicas por certo período, o embalsamamento do Corpo Denso, ou quaisquer outros procedimentos que o machuque, seria interrompido e, em vez disso, o Corpo seria mantido no gelo.
Quando o Panorama da Vida está totalmente gravado no Corpo de Desejos e o Cordão Prateado se rompe, os dois Éteres inferiores do Corpo Vital gravitam em volta ao Corpo Denso, deixando o Espírito livre para prosseguir nos reinos mais elevados. Os dois Éteres superiores se fundem com o Corpo de Desejos, então. Quando o Corpo Denso é enterrado, a parte do Corpo Vital que permanece se desintegra de forma síncrona com ele. Quando o corpo é cremado, o Espírito se torna livre muito mais rapidamente de todos os laços que o prendem ao desgastado manto físico.
À medida que o interesse e a crença na vida depois da morte se tornarem mais universais, a necessidade de um método científico para o cuidado daqueles que estão passando para a vida superior será impressa nas pessoas e, assim, teremos enfermeiros, médicos, padres e ministros que serão versados tanto na ciência da morte quanto na do nascimento. O Espírito será cercado não apenas com amor, mas paz e sossego, no momento da passagem. Ele também terá um registro mais profundo e claro com o qual pode iniciar seu trabalho de vida em seu novo estado.
Em cada nascimento vem ao mundo o que aparenta ser uma nova vida. Lentamente, a pequena forma cresce, vive e se move entre nós e torna-se um fator em nossas vidas; mas finalmente chega um momento em que a forma cessa o movimento e morre. A vida que veio; de onde não sabemos, volta ou passa para o invisível além. Então, com tristeza e perplexidade, nós fazemos as três grandes perguntas relativas à nossa existência: de onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos?
Através de cada limiar (ou princípio) o terrível espectro da morte lança sua sombra. E visita igualmente tanto o “palácio quanto o casebre”. Dela ninguém está a salvo: velhos ou jovem, doentes ou sãos, ricos ou pobres. Todos devem passar por este portal sombrio, e ao longo dos tempos soou o grito clamoroso por uma solução ao enigma da vida – ao enigma da morte.
Infelizmente, têm sido vagas as muitas especulações vindas de pessoas que pouco sabem e, portanto, tornou-se popularmente aceita a opinião de que nada em definitivo se pode conhecer acerca da mais importante da nossa existência: a Vida antes de manifestar-se pela porta do nascimento e além dos portais da morte.
Tal ideia é errônea. O conhecimento definido, de primeira mão, está ao alcance de todo aquele que queira se dedicar ao desenvolvimento do “sexto sentido”, latente em todos. Quando adquirimos, abre os nossos olhos espirituais, com os quais podemos perceber tanto os Espíritos próximos a entrar na vida física pelo nascimento, quanto àqueles que acabam de retornar ao além, após a morte. Nós os vemos tão claros e nitidamente como podemos ver os seres físicos com os nossos olhos físicos. Mas nem é necessária a investigação direta nos Mundos internos para satisfazer a Mente indagadora, do mesmo modo que não é necessário ir à China para conhecer as suas condições lá. Conhecemos as nações estrangeiras por meio de informações, de relatos de quem as visitou. E há tanta informação sobre os Mundos internos quanto há sobre o interior da África, da Austrália ou da China.
A solução do problema da Vida e do Ser indicada nas páginas seguintes, baseia-se no testemunho simultâneo de muitos que já desenvolveram a faculdade acima mencionada e que, por isso mesmo, tornaram-se aptos para investigar cientificamente os reinos suprafísicos. Isto está em harmonia com os fatos científicos, e é uma verdade eterna na Natureza, governando o progresso humano, quanto a Lei de Gravidade, também o é na manutenção dos Astros, dentro de suas próprias órbitas, em torno do Sol.
Três teorias foram formuladas para resolver o enigma da vida e da morte, parecendo ser crença universal que uma quarta concepção é impossível. Assim sendo, uma dessas três teorias deve ser a solução verdadeira ou de outro modo o problema permaneceria insolúvel; pelo menos para o ser humano.
O enigma da vida e da morte é um problema básico; todos devem resolvê-lo algum dia, e a aceitação de uma dessas três teorias torna-se, então, importantíssima para cada um dos seres humanos, já que a escolha determinará os rumos de suas vidas. Para que possamos fazer uma escolha inteligente necessitamos conhecê-las, analisá-las, compará-las e pesá-las, conservando a Mente aberta e livre do preconceito de ideias preconcebidas, pronto a aceitar ou rejeitar cada teoria segundo seus méritos. Citemos, primeiramente, essas três teorias e depois vejamos sua concordância com os fatos estabelecidos da vida e até que ponto eles se harmonizam com as outras Leis da Natureza, já conhecidas. Se verdadeiras, podemos racionalmente esperar que se harmonizem, pois a discordância não tem lugar na Natureza.
Comparando a Teoria Materialista com as conhecidas leis da Natureza, constatamos ser ela contrária a essas leis devidamente estabelecidas. De acordo com essas leis, a Mente não pode ser destruída pela morte, como afirma a teoria materialista, porque quando nada pode ser destruído, a Mente tampouco pode.
Além disso, está claro que a Mente é superior à matéria, pois modela a face de tal maneira que esta possa refleti-la; sabemos também que as partículas de nossos corpos estão constantemente sendo trocadas; e que uma mudança completa ocorre, no mínimo, a cada sete anos. Se a teoria materialista fosse verdadeira, nossa consciência também deveria passar por uma mudança completa a cada período desses, nada restando das recordações anteriores. Assim sendo, ninguém poderia relembrar qualquer acontecimento ocorrido há mais de sete anos.
Sabemos que não é esse o caso. Podemos nos recordar de toda a nossa vida; o mais insignificante incidente, embora esquecido na vida ordinária, é vividamente recordado por uma pessoa que se afoga, mesmo no estado do transe. O materialismo não leva em conta esses estados de subconsciência ou supraconsciência, e por não poder explicá-los, simplesmente os ignora, mas em face das investigações científicas que já estabeleceram a veracidade dos fenômenos psíquicos, a política de ignorar, em vez de refutar ou discutir essas afirmações da ciência, é imperdoável falha numa teoria que proclama ter resolvido o maior problema da vida: a própria Vida.
A teoria materialista tem ainda muitas outras falhas que impedem a nossa aceitação, mas já dissemos o bastante para justificar-nos e, deixando-a de lado, passaremos às outras duas teorias.
Uma das maiores dificuldades na doutrina dos teólogos consiste em ser ela total e reconhecidamente inadequada. De acordo com essa teoria, de que uma nova alma é criada a cada nascimento, miríades de almas têm sido criadas desde o princípio de nossa existência – mesmo supondo que esse começo se deu há apenas 6.000 anos. Segundo certas seitas, apenas 144.000 dessas almas serão salvos; as demais serão torturadas para sempre. E isso é chamado de “Plano de salvação de Deus” e exaltado como prova do maravilhoso amor de Deus.
Suponhamos que uma mensagem telegráfica seja recebida em Nova York informando que um enorme transatlântico está afundando em Sandy Hook[1]; e que 3.000 pessoas estão na iminência de morrer afogadas. Consideraríamos como um glorioso plano de salvação enviar em seu socorro um pequeno barco a motor que pudesse resgatar apenas dois ou três náufragos? Certamente que não. Somente quando algum outro meio mais adequado fosse providenciado para salvar pelo menos a grande maioria, é que poderíamos considerá-lo um bom “plano de salvação”.
O “plano de salvação” que os teólogos oferecem é ainda mais precário do que enviar um pequeno barco a motor para salvar as pessoas do transatlântico, pois dois ou três salvos para um total de 3.000 pessoas é uma proporção muito maior do que 144.000 de todas as miríades de almas criadas, segundo os próprios teólogos. Se Deus realmente tivesse elaborado esse plano, pareceria à mente lógica que Ele não seria bom. Se Ele não pode ajudar a si mesmo, Ele não é onipotente. Em nenhum dos casos, então, ele pode ser Deus. Tais suposições, no entanto, são absurdas como realidades, pois isso não pode ser o plano de Deus, e seria uma grande blasfêmia atribuir-Lhe tal coisa.
Se nos voltarmos para a doutrina da reencarnação (renascimento em corpos humanos), que postula um lento processo de desenvolvimento levado a efeito com inabalável persistência através de repetidos renascimentos em formas humanas de crescente eficiência, pelo que todos os seres alcançarão no devido tempo uma estatura espiritual inconcebível à nossa limitada compreensão atual, facilmente poderemos perceber sua harmonia com os métodos da Natureza. Em toda parte, encontramos na natureza essa lenta, mas persistente luta pela perfeição, e em nenhum lugar vemos um processo súbito quer de criação, quer de destruição análogo àquele que os teólogos e materialistas querem fazer-nos crer.
A ciência reconhece que o processo de evolução, como o método de desenvolvimento da natureza, é igual tanto para a estrela do céu quanto para a estrela do mar, para o micróbio como para o ser humano. É o progresso do Espírito no tempo e, à medida que observamos em volta e notamos a evolução em nosso universo tridimensional, não podemos nos furtar da evidência de que o seu caminho também é tridimensional, uma espiral. Cada espiral é um ciclo, e os ciclos seguem em ininterrupta progressão, à medida que as espirais se sucedem umas às outras, sendo que cada ciclo é o produto melhorado do precedente e a base do progresso dos ciclos subsequentes.
Uma linha reta nada mais é do que a extensão de um ponto, e assim também as teorias dos materialistas e dos teólogos. A linha materialista da existência vai do nascimento à morte; a linha do teólogo começa em um ponto imediatamente anterior ao nascimento e prolonga-se para o invisível além da morte. Não há retorno possível. A existência assim vivida extrairia um mínimo da experiência da Escola da Vida, como se o ser humano fora apenas um ser unidimensional incapaz de se expandir ou de alcançar as sublimes alturas da realização.
Um caminho de zigue-zague, de duas dimensões, para a vida evolucionante não seria o melhor, um círculo significaria voltar infindavelmente sobre as mesmas experiências. Tudo na natureza tem um propósito, inclusive a terceira dimensão. Para que possamos viver as oportunidades de um universo tridimensional, o caminho evolutivo deve ser em espiral. E assim é de fato. Em toda parte, quer no céu quer na terra, todas as coisas caminham para frente, para cima e para sempre.
A pequena planta no jardim e a sequoia[2] gigante da Califórnia, com seu tronco de 13 metros de diâmetro mostram a espiral na ordenação de seus ramos, talos e folhas. Se estudarmos a grande abóboda celeste e examinarmos a nebulosa espiralada, que são mundos em formação, ou os caminhos percorridos pelos Sistemas Solares, fica evidente que a espiral é o caminho do progresso.
Encontramos outra ilustração do progresso em espiral no curso anual de nosso Planeta. Na primavera, ela sai de seu período de repouso, desperta de seu sono hibernal. Então, vemos a vida brotando por toda parte. E a Natureza empregando todas as atividades para criar. O tempo passa; os cereais e a uva estão amadurecidos e sendo colhidos, e novamente o silêncio e a inatividade do inverno substituem a atividade do verão; e outra vez o manto de neve envolve a Terra. Mas ela não dormirá para sempre; e novamente despertará ao canto de uma nova primavera, e com isso terá progredido um pouco mais no caminho do tempo.
É possível que uma lei, sendo universal em todos os demais reinos da Natureza, seja revogada apenas no reino humano? Pode a Terra despertar todos os anos de seu sono hibernal; pode a árvore e a flor viver novamente e somente o ser humano morrer? Não, isto é impossível num universo governado por lei imutável. A mesma lei que desperta a vida na planta para um novo crescimento deve também despertar o ser humano para mais um passo rumo à perfeição. Portanto, a doutrina do renascimento, ou repetidas encarnações humanas em veículos de crescente perfeição, está em pleno acordo com a evolução e com os fenômenos da Natureza, quando se afirma que o nascimento e a morte seguem um ao outro em contínua sucessão. E isto se acha em plena harmonia com a lei dos Ciclos Alternantes que estabelece uma sequência ininterrupta, um após o outro: atividade e repouso, fluxo e refluxo, verão e inverno. Está também em perfeito acordo com a fase espiral da Lei de Evolução quando declara que toda vez que o Espírito retorna a um novo nascimento, assume um corpo mais perfeito e, à medida que o ser humano progride em conquistas mentais, morais e espirituais em consequência das experiências acumuladas de vidas passadas, alcança um melhor ambiente para viver.
Quando buscamos solucionar o enigma da vida e da morte; quando buscamos uma resposta que satisfaça tanto a Mente quanto ao Coração, sobre as diferenças nos dons ou condições dos seres humanos, buscando uma razão para a existência de tristeza e dor; quando indagamos por que um indivíduo é criado no regaço de luxo, enquanto outro tem de resignar-se com as miríades migalhas que lhe atiram; Por que um recebe uma educação moral, enquanto o outro é ensinado a roubar e a mentir; por que um nasce com uma feição e imagem venusiana, enquanto o outro nasce com a cabeça de Medusa[3]; por que um desfruta da mais perfeita saúde, enquanto outro jamais conhece um momento de alívio de suas dores; por que um tem o intelecto de Sócrates[4], enquanto outro mal sabe contar “um, dois ou muitos”; assim como os aborígenes Australianos, os materialistas ou teólogos nada podem esclarecer. O materialismo atribui às causas das enfermidades a Lei de Hereditariedade e, com relação às condições econômicas, Spencer[5]nos diz que, no mundo animal, a lei da Sobrevivência é “comer ou ser comido”; e na sociedade civilizada a Lei é “enganar ou ser enganado”.
A hereditariedade explica parcialmente a constituição física. Semelhante produz semelhante, pelo menos no que concerne à forma, mas a hereditariedade não explica as tendências morais e as inclinações mentais, as quais diferem em cada ser humano. A hereditariedade é um fato nos reinos inferiores, onde todos os animais de uma mesma espécie parecem ser iguais, comem o mesmo tipo de alimento e agem de maneira semelhante em idênticas circunstâncias, porque não têm somente vontade própria, mas são dominados por um Espírito-Grupo comum. No reino humano é diferente. Cada ser humano age à sua própria maneira. Cada um requer uma dieta própria. Conforme passam os anos de infância e adolescência o Ego vai moldando o seu instrumento de tal maneira que nele reflete as suas características. Assim, não existem duas pessoas exatamente iguais. Mesmo os gêmeos que não podem ser distinguidos na infância diferenciam-se gradativamente ao crescerem, pois, suas próprias características é que formalizarão o pensamento do Ego interno.
No plano moral prevalecem semelhantes condições. Os registros policiais demostram que os filhos de criminosos incorrigíveis, geralmente, não possuem tendências criminosas; eles quase sempre se conservam afastados dos tribunais, e nas “galerias de criminosos” da Europa e da América é impossível encontrar pai e filho ao mesmo tempo. Assim, os criminosos são filhos de pessoas honestas sendo, portanto, a hereditariedade incapaz de explicar as tendências morais.
Quando considerarmos as elevadas faculdades intelectuais e artísticas, descobrimos que os filhos de um gênio são, muitas vezes, pessoas medíocres e até mesmo idiotas. O cérebro de Cuvier[6] foi o maior, jamais pesado e analisado pela ciência. Seus cinco filhos morreram de paresia[7]. O irmão de Alexandre, o Grande[8], era um idiota, e como esse, muitos outros casos poderiam ser citados de improviso, para mostrar que a hereditariedade explica apenas parcialmente a similaridade da forma, e nada esclarece sobre as condições mentais e morais. A Lei da Atração, que faz com que os músicos se agrupem em salas de concertos e estimula reuniões de pessoas literárias em razão de suas semelhanças e gostos; é a Lei de Consequência, que leva aqueles que desenvolvem tendências criminosas a se associar com criminosos, a fim de que possam aprender a praticar o bem, sofrendo as consequências do mal praticado, explicam, mais logicamente do que a hereditariedade, os fatos de associações e de caráter.
Os teólogos explicam que todas as condições são criadas pela vontade de Deus, que em Sua insondável sabedoria houve por bem tornar alguns ricos e a maior parte pobres; alguns inteligentes e outros tolos etc.; que Ele proporciona dificuldades e provações a todos; sendo que a maioria terá maiores dificuldades e provações e uma minoria terá pouco, dizendo ainda que devemos aceitar nossa parte sem murmurar ou queixas. Mas é quase impossível olhar o céu com amor quando se pensa que de lá vem, por capricho divino, todas as nossas desgraças, sejam grandes ou pequenas. E a bondosa mente humana se revolta ao pensamento de um pai que esbanja amor, conforto e riqueza a uns poucos, e envia tristeza, sofrimento e miséria a milhões. Certamente deve haver outra solução, diferente dessa, para os problemas da vida. Não é mais razoável supor que os teólogos interpretam mal a Bíblia, do que atribuir tão monstruosa conduta a Deus?
A Lei de Renascimento oferece uma solução razoável a todas as desigualdades da vida, isto é, as tristezas e sofrimentos, quando se une à sua lei complementar, a Lei de Consequência mostrando o caminho da emancipação.
A Lei de Consequência é a Lei da Justiça da Natureza. Decreta que aquilo que o ser humano semear isso mesmo colherá. O que somos, o que temos, todas as nossas boas qualidades são resultado do nosso trabalho no passado, daí os nossos talentos. O que nos falta física, moral ou mentalmente é pelo fato de termos negligenciado certas oportunidades no passado, ou mesmo por não termos as tido, mas algum dia e em algum lugar teremos outras possibilidades e então, recuperaremos o que foi perdido. Quanto às nossas obrigações para com os demais e os débitos deles para conosco, a Lei de Consequência prevê isto. O que não pode ser liquidado em uma só vida será liquidado nas vidas futuras. A morte não cancela nossas obrigações, da mesma forma que mudando para outra cidade não liquidamos nossas dívidas contraídas aqui. A Lei do Renascimento provê-nos um novo ambiente, mas nele vamos encontrar nossos velhos amigos e nossos antigos inimigos. Nós os reconheceremos, pois quando encontramos com uma pessoa pela primeira vez e sentimos como se a conhecêssemos durante toda a nossa vida, isso não é mais do que um reconhecimento do Ego que atravessa o véu da carne e descobre o antigo amigo. Por outro lado, quando nos deparamos com uma pessoa que imediatamente nos inspira medo ou repulsa, novamente isso representa uma mensagem do Ego nos advertindo contra o nosso velho inimigo de vidas passadas.
O ensino oculto relativo à vida, que baseia sua solução nas Leis gêmeas de Consequência e Renascimento, diz simplesmente que o mundo que nos rodeia é uma escola de experiência; que assim como enviamos uma criança à escola dia após dia e ano após ano, para que aprenda mais e mais conforme avance através dos diversos graus, do jardim de infância à faculdade, assim também o Ego humano, como filho do Pai, vai à Escola da Vida, dia após dia. Só que nessa vida mais ampla do Ego, cada dia na escola é uma vida terrestre, e a noite que cai entre dois dias de aprendizado corresponde ao sono da morte numa vida mais ampla do Ego humano (o Espírito no ser humano).
Numa escola existem muitos graus. As crianças mais velhas que frequentaram as muitas aulas irão aprender lições muito diferentes daquelas que estão cursando o jardim de infância. Assim também, na Escola da Vida, aqueles que ocupam posições elevadas, dotados de grandes faculdades, são nossos Irmãos Maiores, enquanto as pessoas não civilizadas ainda estão ingressando nas classes mais primárias. O que eles são agora nós também já fomos, e todos alcançarão, no devido tempo um ponto em serão mais sábios, do que aqueles que agora têm o conhecimento. Nem deve surpreender ao filósofo que o poderoso oprima ao fraco; as crianças mais velhas são cruéis com seus companheiros mais jovens, em determinada fase de seu crescimento, porque elas ainda não desenvolveram o verdadeiro senso de justiça, mas, à medida que elas crescem, aprenderão a proteger os mais fracos. O mesmo acontece às crianças de maior idade. O altruísmo floresce mais e mais em toda parte, e dia virá em que todos os seres humanos serão tão bons e benevolentes quanto os maiores santos.
Só existe um pecado: a Ignorância; e apenas uma salvação: o Conhecimento Aplicado. Toda tristeza, sofrimento e dor provêm da ignorância de como agir, e a Escola da Vida é tão necessária para o desenvolvimento de nossas capacidades latentes quanto a escola diária o é para as crianças despertarem suas faculdades.
Quando nos dermos conta de que isso é assim, a vida logo tomará outro aspecto. Não importarão, então, as condições em que nos encontramos, o saber que nós as criamos, ajudar-nos-á a suportar com paciência; e, melhor que tudo, o glorioso sentimento de que somos senhores de nosso destino, e de que podemos fazer o nosso futuro como bem o desejamos, o que seria em si mesmo um poder. Resta-nos desenvolver o que nos falta. Naturalmente que temos que levar em conta nosso passado, e é possível que muitos infortúnios possam dele resultar em consequências de más ações. Mas se deixarmos de praticar o mal, podemos contemplar com alegria qualquer aflição, considerando que elas saldarão velhas dívidas e nos aproximando do dia em que delas teremos uma boa recordação. Não é válida a objeção de que frequentemente o mais correto é o que mais sofre. As grandes inteligências que dão a cada ser humano a soma de suas dívidas passada; as quais devem ser liquidadas em cada vida, sempre o ajudam a liquidá-las sem lhe acrescentar novas, mas apenas dando-lhe tanto quanto ele possa suportar para apressar o dia de sua emancipação; e, nesse sentido é estritamente verdadeiro que “O Senhor castiga a quem ama.”[9].
A doutrina do Renascimento muitas vezes é confundida com a teoria da transmigração, que ensina que o Espírito humano pode encarnar em um animal. Isso não tem fundamento na natureza. Cada espécie de animal é emanação de um Espírito-Grupo, o qual os governa DE FORA, por sugestão. O Espírito-Grupo funciona no Mundo do Desejo, onde a distância não existe; por isso ele pode influenciar qualquer membro da espécie que dirige e em qualquer lugar em que esse se encontre. Por outro lado, o Espírito humano, o Ego, penetra dentro de um Corpo Denso; assim, existe um Espírito individual em cada pessoa, habitando em seu instrumento particular e guiando-o de dentro. Esses dois estágios evolutivos são inteiramente diferentes, sendo tão impossível ao ser humano encarnar em um corpo animal quanto para um Espírito-Grupo tomar a forma humana.
A pergunta “Por que não recordamos das nossas existências passadas?” é outra aparente dificuldade. Mas se compreendermos que a cada nascimento temos um cérebro totalmente novo, e que o Espírito humano é fraco e se acha absorvido pelo seu novo ambiente, não nos deve surpreender afinal que ele não possa impressionar fortemente o cérebro nos dias da infância, quando ele é mais sensível. Algumas crianças recordam seu passado, especialmente nos primeiros anos, e é coisa das mais patéticas o fato de tais crianças serem totalmente incompreendidas nessas ocasiões pelas pessoas mais velhas. Quando falam da vida passada elas são ridicularizadas, e até punidas por serem “fantasiosas”. Se as crianças falam de seus companheiros invisíveis, e de que “veem coisas” – porque muitas crianças são clarividentes – acabam defrontando-se com o mesmo tratamento severo, e o inevitável resultado é que elas aprendem a calar-se até perderem por completo aquela faculdade. Acontece, porém, que algumas vezes, quando a afirmação da criança é ouvida, resultam em espantosas revelações. O escritor ouviu falar sobre esse caso há alguns anos na costa do Pacífico:
Certo dia, na cidade de Santa Bárbara, uma criança vendo um cavalheiro, chamado Roberts, que passava pela rua, pôs-se a correr na sua direção, gritando “Papai”, e insistindo em afirmar que ela vivera com ele e com a ‘outra mãe’ em uma casinha perto do riacho; e que certa manhã ele as deixara para não mais voltar. E que ela e sua mãe haviam morrido de fome e a pequena criança finalizou dizendo estranhamente: “Mas eu não morri, vim para cá”. A história não foi contada em um só fôlego, nem resumidamente, mas sim a intervalos, por uma tarde inteira e em respostas e perguntas intermitentes. A história do Sr. Roberts é a da precipitada fuga de dois jovens namorados; de seu casamento e migração da Inglaterra para a Austrália; da construção de uma casinha próxima a um riacho e num lugar ermo; de sua saída de casa certo dia deixando sua mulher e o bebê, e de sua prisão sem que lhe fosse concedida permissão para avisar a sua esposa – porque os agentes temiam a fuga do prisioneiro – de como foi levado sob a mira das armas até o litoral e embarcado para a Inglaterra, acusado de assalto a um banco na mesma noite em que viajara para a Austrália; de como, chegando à Inglaterra, conseguiu provar sua inocência, e de como só então, atendendo aos insistentes rogos sobre sua esposa e filha, que àquela altura deveriam estar morrendo de inanição, as autoridades concordaram em organizar e enviar um grupo de salvamento, e em resposta soube que o grupo encontrara apenas os ossos de uma mulher e de uma criança. Todas essas coisas corroboraram a história da menininha de três anos; e sendo-lhe mostradas algumas fotografias ao acaso, ela pôde apontar as do Sr. Roberts e as de sua esposa, embora o Sr. Roberts tivesse mudado bastante nos dezoito anos decorridos desde a tragédia até àquele incidente em Santa Bárbara.
Não se deve supor, contudo, que todos os que atravessam os portais da morte renasçam em tão pouco tempo, como aconteceu com a menina. Tão curto intervalo tiraria do Ego a oportunidade de realizar o importante trabalho de assimilar experiências e preparar-se para uma nova vida terrena. Mas uma criança de três anos não tem ainda experiências significativas, podendo, portanto, buscar logo a seguir um novo corpo físico para renascer, geralmente na mesma família. Muitas vezes uma criança morre porque algumas modificações nos hábitos dos pais frustra o cumprimento do destino resultante de seus atos passados. Então é necessário aguardar outra oportunidade, mas também elas podem nascer e morrer a seguir para ensinar aos pais uma lição de que eles precisem. Houve um caso em que um Ego encarnou oito vezes na mesma família com tal propósito, até que eles aprendessem a lição. Depois, renasceu em outro lugar. Era um amigo da família que adquiriu grande mérito, ajudando-os deste modo.
A Lei do Renascimento, quando não é alterada pela Lei da Consequência, em tão grande extensão como no caso acima mencionado, trabalha consoante ao movimento do Sol, conhecido por Precessão dos Equinócios, pelo qual o Sol retrocede através dos doze Signos do Zodíaco, assim chamado Ano Sideral ou Mundial que compreende 25.868 anos solares ordinários.
À medida que o movimento da Terra em sua órbita ao redor do Sol produz as mudanças climáticas conhecidas como estações, as quais por sua vez alteram as nossas condições e atividades, da mesma forma o movimento do Sol por precessão nos grandes anos siderais produz mudanças ainda maiores nas condições climáticas e topográficas, relacionadas com a civilização, sendo necessário que o Ego em seu aprendizado experimente a todas.
Portanto, o Ego renasce duas vezes durante o tempo em que o Sol percorre cada um dos Signos do Zodíaco, e que é aproximadamente 2.100 anos. Portanto, normalmente, transcorre cerca de 1.000 anos entre duas encarnações e, como as experiências de um homem diferem grandemente das de uma mulher – não se modificam materialmente em mil anos as condições terrestres – assim, o Espírito geralmente renasce alternadamente ora como homem e ora como mulher. Mas isto não significa ser a regra rígida e inflexível. Ela está sujeita a modificações sempre que a Lei de Consequência o exija.
Assim, pela experiência por parte do Ego, a ciência oculta soluciona o enigma da vida em todas as condições que se têm esse objetivo, sendo que todos são determinados automaticamente pelos méritos de cada um. Isto arranca da morte o seu aguilhão e o terror que o inspira, colocando-a no lugar que merece e considerando-a como um simples incidente numa que é mais ampla, analogamente ao fato de nos mudarmos para outra cidade por algum tempo; isto torna menos triste à partida daqueles a quem amamos, pois nos garante que o mesmo amor que lhes devotamos será o elemento que a eles nos unirá outra vez, e ainda nos proporciona esperança maior: a de que alcançaremos algum dia o conhecimento que solucionará todos os problemas; que ligará todas as nossas vidas; e melhor que tudo – conforme nos ensina a ciência oculta – que através de sua aplicação temos nela, o poder de apressar o glorioso dia em que a fé será absorvida pelo conhecimento. Então, poderemos compreender em seu sentido mais profundo a beleza do poético enunciado da doutrina do renascimento, de Edwin Arnold[10]:
O Espírito jamais nasceu!
E jamais deixará de existir!
Jamais houve tempo em que deixou de ser,
Princípio e fim são sonhos no sentir.
O Espírito permanece sempre sem nascer e sem morrer.
A Morte jamais o tocou,
Embora possa parecer.
Morta a casa em que habitou
Não! Simplesmente como alguém que tira
Uma roupa usada e a joga além
E ao vestir outra, diz;
Hoje, essa veste vou usar.
Assim também, o Espírito põe à margem
Uma transitória e carnal roupagem
E prossegue para, então, herdar
Outra morada, outro novo lar!
Um pouco de reflexão em breve tornará claro para qualquer investigador que vivemos em um mundo dos efeitos, que é o resultado de causas invisíveis. Nós vemos matéria e forma; mas a força que molda a matéria e a acelera é invisível para nós. A vida não pode ser percebida diretamente pelos sentidos; ela é invisível, autoexistente e independente das formas variadas que vemos como suas manifestações.
Eletricidade, magnetismo e vapor são nomes dados a forças nunca vistas com os olhos físicos; embora, em conformidade com certas leis descobertas por experimentos, nós as tornamos nossos servidores mais valiosos. Vemos suas manifestações movendo bondes, ferrovias e navios a vapor; elas iluminam nosso caminho à noite e transmitem nossa mensagem ao redor do mundo com uma velocidade que aniquila o espaço. Elas estão à nossa disposição a qualquer hora, incansáveis e fiéis no desempenho de inúmeras tarefas; contudo, como foi dito, nunca os vimos, nossos mais fiéis e valiosos servos.
Tais forças da natureza não são cegas nem desinteligentes, como pensamos erroneamente; existem muitas classes delas e trabalham ao longo de diferentes avenidas da vida. Talvez uma ilustração deixe claro seu status em relação a nós. Suponhamos que um carpinteiro esteja fazendo uma cerca e um cachorro esteja parado, observando. O cão vê o carpinteiro e seu trabalho, embora não compreenda o que ele esteja fazendo. Se o carpinteiro fosse invisível para o cão, este veria a cerca sendo construída lentamente e veria todos os pregos sendo usados; perceberia a manifestação, mas não a causa, e estaria, assim, em relação ao carpinteiro como nós estamos em relação às forças da Natureza que se manifestam sobre nós como gravidade, eletricidade ou magnetismo.
Nos últimos séculos e particularmente nos últimos sessenta anos, a ciência deu grandes passos na investigação do mundo em que vivemos e o resultado foi revelar em todas as direções um mundo até então invisível. Com telescópios de poder crescente, os astrônomos têm chegado ao espaço e descoberto cada vez mais mundos; com admirável engenhosidade, eles colocaram a câmera no telescópio e, assim, conseguiram fotografar sóis a distâncias tão enormes que seus raios não impressionam nossos olhos e só podem ser capturados por horas de exposição sobre uma sensível placa fotográfica.
Na direção do minúsculo, a crescente perfeição do microscópio alcançou resultados semelhantes; um mundo que até então era invisível para nós foi descoberto, contendo uma atividade excedente da vida e marcado por uma diversidade de formas dificilmente menos complexa que o mundo que contemplamos apenas com os cinco sentidos.
O esforço de fazer tais investigações através da lente ocular de um microscópio é severo e causa intensa pressão nos olhos; no entanto, também aqui a câmera presta sua ajuda ao ser humano. Com oportunos acessórios mecânicos e a velocidade da luz, ele pode registrar permanentemente os fenômenos microscópicos a uma taxa de, talvez, setenta negativos por segundo. Esses podem ser ampliados e projetados em uma tela como imagens em movimento; eles podem ser vistos por centenas de pessoas ao mesmo tempo, com conforto e facilidade.
Podemos ver como a seiva circula lentamente pelas veias de uma folha ou observar como o sangue corre, igual a um moinho, através das veias semitransparentes da perna de um sapo. As larvas no queijo parecem tão grandes quanto os caranguejos cinzentos que serpenteiam aqui e ali, em busca de presas. Uma gota de água contém muitas bolas escuras que crescem e explodem, lançando numerosos e minúsculos globos que, por sua vez, expandem-se e difundem seus rebentos. O Dr. Bastian, de Londres, viu inclusive como uma pequena mancha negra na espinha de um ciclope (e há muitos em uma gota de água) se transformou em um parasita que se alimentava do ciclope.
Por meio da radiografia, a ciência conseguiu invadir os interiores mais íntimos do Corpo Denso do ser humano, fotografando seu esqueleto e qualquer substância estranha que possa ser localizada ali.
Assim, em muitas direções, um mundo até então invisível se apresentou ao olhar de investigadores persistentes. Quem dirá que o fim foi atingido e que não haja outros mundos no espaço, além daqueles agora fotografados por astrônomos, ou que não haja qualquer vida habitando formas menores que as descobertas pelos melhores microscópios atuais? Amanhã, algum instrumento pode ser inventado e ir além de todos os dispositivos anteriores, mostrando muito do que, hoje, está oculto. A infinidade do espaço, do grande e do pequeno, parece estar além de qualquer dúvida e independe da nossa cognição.
Ao examinar as maravilhosas realizações da ciência física, há uma característica que vale a pena observar de maneira especial: cada nova descoberta foi feita mediante a invenção de dispositivos novos ou do aperfeiçoamento dos dispositivos existentes anteriormente para auxiliar os sentidos físicos; e, por esse motivo, as investigações da ciência foram limitadas ao mundo dos cinco sentidos — o denso Mundo Físico. Os cientistas lidaram com os elementos químicos: os sólidos, líquidos e gases; contudo, para além desse campo eles não têm instrumentos capazes de usar, embora sejam forçados a postular uma matéria ainda mais sutil a qual chamam de “Éter”, porque sem tal meio mais refinado eles deduzem ser impossível explicar a luz, a eletricidade e outros fenômenos. Consequentemente, vemos a ciência física indutivamente reconhecer a existência de Mundos invisíveis como uma necessidade na economia da Natureza.
Logo, tanto a ciência física quanto a ocultista concordam nesse ponto e ambas atingem os Mundos invisíveis na busca de soluções para os problemas. Elas diferem quanto ao método de investigação e à credibilidade a ser dada à evidência obtida. A ciência material tenta apenas explicar os problemas que sejam insolúveis em uma base puramente física, como a passagem das ondas de luz através do vácuo ou a semelhança das flores da estação atual com as dos verões passados. Em tais casos, a ciência postula prontamente algo invisível e intangível como o éter ou a hereditariedade, orgulhando-se da sua perspicácia e da engenhosidade de suas explicações.
A ciência oculta afirma que existe uma causa invisível na raiz de todos os fenômenos visíveis, causa que, quando conhecida, proporciona um conhecimento mais profundo sobre os eventos da vida do que um conceito mecânico possa proporcionar; também afirma que uma ideia mais abrangente sobre vida seja obtida pelo estudo de ambos os fenômenos, o visível e o dos números na filosofia kantiana, é a essência, a realidade, a coisa em si, as causas subjacentes do Mundos invisíveis. Investiga, portanto, os Mundos invisíveis, oferecendo uma solução mais completa e razoável para os problemas da vida do que os meros fatos científicos, derivados apenas da observação de fenômenos físicos.
A ciência material postula o éter e a hereditariedade como soluções para os problemas acima, embora seja incapaz de oferecer uma prova real sobre a verdade de suas hipóteses, exceto a aparente razoabilidade. No entanto, quando a ciência oculta emprega métodos semelhantes e declara a existência do Espírito, sua imortalidade, sua pré-existência ao nascimento e persistência após a morte, sua independência do corpo ou outras declarações desse tipo, a ciência física zomba dela e fala, inconsistentemente, de superstição e ignorância. Ela exige provas, embora a evidência oferecida seja pelo menos tão boa quanto a científica sobre a existência do éter, da hereditariedade ou de inúmeras outras ideias que foram promovidas e aceitas implicitamente pela multidão que, admiravelmente, inclina a cabeça diante de qualquer ditado que seja apoiado pela palavra mágica “Ciência”.
Ninguém pode demonstrar a verdade de uma proposição em geometria para uma pessoa não familiarizada com os princípios da matemática. Por razões semelhantes, os fatos dos mundos internos não podem ser provados ao cientista materialista. Se uma pessoa desprovida de conhecimento matemático estudar matemática, facilmente ficará satisfeita com a solução do problema. Quando o cientista físico se preparar para a compreensão de eventos que estejam além dos físicos, ele terá a prova e será obrigado a defender até mesmo as teorias que agora combate como superstição.
A ciência oculta inicia as investigações justamente no lugar onde a ciência material termina as suas: na porta dos reinos suprafísicos, equivocadamente chamados “sobrenaturais”. Não há algo “sobrenatural” ou “não-natural”; nada pode estar fora da Natureza, embora possa facilmente haver eventos que estejam além dos físicos, pois o mundo físico é a menor parte da Terra. Ao contrário do cientista da matéria, no entanto, o cientista do oculto não prossegue suas investigações por meio de instrumentos mecânicos, mas por melhorar a si mesmo, cultivando faculdades de percepção que estejam latentes em todo ser humano e são passíveis de ser despertadas pelo treinamento adequado. As palavras de Cristo, “procurai e encontrareis”, foram particularmente aplicadas às qualidades espirituais e direcionadas a “quem quiser”. Tudo depende de nós mesmos; não há nenhuma coisa atrapalhando e muitos estão ajudando o buscador sincero a achar o conhecimento. A discussão sobre os meios e maneiras de fazê-lo, no entanto, está fora do presente assunto e deve ser deixada para elucidação em ensaios futuros.
“Mas”, dirá alguém, “qual é a utilidade de perturbarmos os Mundos invisíveis? Nós fomos colocados aqui, neste mundo diariamente material; o que temos a fazer com os Mundos invisíveis? E mesmo que seja verdade que vamos para lá depois da morte, por que não aproveitar um mundo de cada vez? Já basta a cada dia o seu mal; por que pedir mais emprestado?”.
Certamente essa visão é a mais míope. Em primeiro lugar, o conhecimento do estado pós-morte eliminaria o medo da morte, que assombra tantas pessoas mesmo quando elas estão com a saúde mais vigorosa. Mesmo na vida mais descuidada, há momentos em que o pensamento deste salto no escuro, a morte, que em algum momento será dado por todos nós, diminui a sensação de alegria; assim, qualquer explicação que ofereça conhecimento definido e confiável sobre esse importante assunto certamente será bem-vinda.
Além disso, ao olharmos para nós, no mundo, vemos que haja uma lei que deve ser aparente até mesmo aos mais insensíveis: a lei da causalidade. Todos os dias nosso trabalho e nossa condição dependem do que fizemos, ou não, no dia anterior; é absolutamente impossível nos afastarmos do nosso passado ou “começar de novo”. Não podemos realizar um ato que não esteja conectado de alguma forma aos anteriores, estando limitado e restringido por condições prévias; e certamente deve parecer razoável imaginar que, qualquer que seja o modo de expressão da vida nos Mundos invisíveis, estará de algum modo determinado pela nossa vida atual. Também é lógico declarar que, se houvesse informações confiáveis sobre esses Mundos invisíveis, seria prudente que nos preparássemos com elas pelo mesmo motivo que, quando desejamos viajar para outro país, nós nos familiarizamos com sua geografia, leis, costumes, idioma ou outras informações adequadas. Fazemos isso porque sabemos que, quanto mais detalhadamente estivermos preparados com o conhecimento, tanto mais lucraremos com nossa viagem e menos serão os aborrecimentos devido às condições imprevistas. Logicamente, ele deve valer para o estado post-mortem.
Mais uma vez, algum opositor dirá: “Ah, mas esse é justamente o problema! Qualquer que seja a condição após a morte, ninguém sabe ao certo. Aqueles que professam conhecer diferem um do outro em suas histórias e muitas são irracionais, impossíveis”.
Em primeiro lugar, nenhum ser humano tem o direito moral de afirmar que ninguém saiba, exceto que ele próprio seja onisciente e conheça a extensão do conhecimento de todos aqueles que vivem; além disso, é o auge da arrogância tentar julgar a capacidade mental de outras pessoas baseando-se em ideias extremamente curtas, como as que os especialistas que fazem tais afirmações geralmente têm. O sábio sempre tem ouvidos abertos para evidências novas, estando disposto e ansioso para investigar; e mesmo que houvesse apenas uma pessoa professando ter conhecimento sobre os Mundos invisíveis, isso não provaria, de forma necessária, que estivesse enganada. Galileu não ficou sozinho, ao afirmar sua teoria a respeito do movimento dos corpos celestes, teoria à qual todo o mundo ocidental se converteu desde então?
Quanto à diferença nas histórias descritas por quem declara conhecer os Mundos invisíveis, isso não é apenas algo esperado, mas também uma característica valiosa, como nos mostra uma ilustração da vida cotidiana.
Suponhamos que São Francisco tivesse sido inteiramente reconstruída em uma escala imponente, com todas as mais recentes melhorias modernas, e decidisse comemorar a ocasião com um grande festival. Muitos milhares se reuniriam na ponte Golden Gate para se alegrar com a nova Fênix que surgira das cinzas da bela cidade, tão repentinamente varrida da face da terra por uma morte ardente. Entre outros, provavelmente viria um número considerável de jornalistas e repórteres de diferentes partes do país, com o objetivo de enviar relatórios para suas respectivas publicações. É uma conclusão precipitada a de que, embora os repórteres sejam observadores treinados, não haveria dois relatos iguais. Alguns poderiam ter certos pontos em comum. Mas alguns seriam diferentes dos outros em todos os aspectos pela simples razão de que todo repórter veria a cidade a partir do seu ponto de vista, que é particular, e notaria só o que lhe agradasse. Assim, em vez de a diversidade de relatórios ser um argumento contra sua precisão, será fácil perceber que todos eles seriam valiosos como partes diferentes de um todo; e é seguro afirmar que um indivíduo que leu todos os diferentes relatórios teria uma ideia bem mais abrangente de São Francisco do que se tivesse lido apenas um relatório assinado por todos os repórteres.
O mesmo princípio se aplica às diferentes histórias que descrevem os Mundos invisíveis; elas não são necessariamente falsas porque variam, mas formam coletivamente uma narrativa mais completa.
Quanto às histórias “impossíveis”, suponhamos que um de nossos repórteres de São Francisco, em vez de observar a cidade, tenha passado algum tempo se divertindo e tenham enviado um relatório imaginário; certamente isso não invalidaria os relatórios honestos. Ou suponhamos que alguém estivesse usando, sem perceber, um par de óculos amarelos e enviou um relatório sobre as casas e as ruas serem de ouro; isso apenas mostraria a ignorância dele por não saber que os óculos eram daquela cor, mas não a cidade; seu relatório não deve manchar a sanidade ou a veracidade dos outros. Por fim, lembremos que, embora algumas coisas estejam além do nosso poder de raciocínio, isso não prova que elas não sejam razoáveis. O fato de um bebê não entender raiz quadrada não constitui argumento válido contra a matemática. Em resumo, nenhum argumento razoável pode ser proposto pelo materialista para provar que os Mundos invisíveis não existam, assim como o cego não pode debater com sucesso contra a existência da luz e da cor no Mundo ao seu redor. Se a visão dele for obtida, ele as verá. Portanto, nenhum argumento daqueles que são cegos para o Mundos invisíveis pode convencer o vidente da inexistência do que ele vê e, se a percepção adequada for despertada nessas pessoas, elas também notarão um Mundo para o qual antes eram insensíveis, embora estivesse ao redor delas como a luz e a cor permeiam o mundo dos sentidos, sejam percebidas ou não.
Passando desse testemunho negativo para a existência dos reinos suprafísicos e evidências mais positivas, uma ilustração cotidiana mostrará como a matéria esteja constantemente mudando de estados mais densos para mais refinados, na Natureza. Se pegarmos um bloco de gelo, temos um “sólido”; aplicando-lhe calor, aumentamos as vibrações dos átomos que o compõem e ele se torna um “líquido” — “água”. Se aplicarmos mais calor, elevamos as vibrações dos átomos da água a um ritmo que a torna invisível aos olhos; então temos um “gás” que chamamos de “vapor”. A mesma matéria que era visível como gelo e água fugiu da nossa vista, mas não deixou de existir, porque com a aplicação do frio ela será condensada em forma de água e, depois, poderá novamente ser congelada em forma de gelo.
Embora a matéria possa ultrapassar o alcance da nossa percepção, ela ainda persiste. O mesmo acontece com a consciência, embora possa ser incapaz de nos dar qualquer sinal de existência. Isso foi comprovado nos casos em que uma pessoa, aparentemente, morreu e nem o mais fraco movimento do coração ou a menor oscilação respiratória pôde ser percebida. Assim, no último momento, antes do enterro, o “morto” voltou à vida, repetiu cada palavra e descreveu toda ação daqueles que estiveram ao seu redor, enquanto seu corpo físico estava inconsciente.
Portanto, sabendo que a matéria, que é indestrutível, exista em estados invisíveis, intangíveis e, sabendo que a consciência seja bastante alerta, e ainda mais intensa quando o Corpo Denso está inconsciente do que na vida normal de vigília, não é razoável supor que essa consciência possa moldar em corpos não-físicos a matéria que para nós é invisível e funcionar nela, quando estamos sem o corpo carnal, do mesmo jeito que ela dá forma, durante a vida terrena, à matéria deste Mundo, trazendo à existência outro Mundo de forma e consciência que é tão real ao Espírito não-carnal quanto este Mundo o é para os olhos que habitam corpos carnais?
Mesmo durante a vida no Corpo Denso, conhecemos e lidamos com os Mundos invisíveis em todos os momentos da nossa existência e a vida que vivemos lá é a parte mais importante do nosso ser — a base da nossa vida nessa Região Química do Mundo Físico.
Todos nós temos uma vida interior na qual vivemos em meio a nossos pensamentos e sentimentos, vivendo cenas e condições que sejam desconhecidas para o nosso ambiente externo. Lá, a Mente molda nossas ideias em figuras de pensamento que depois externalizamos. Tudo, tudo o que vemos ao nosso redor faz contato com nossos sentidos e o que chamamos de real é apenas a sombra evanescente de um Mundo intangível e invisível. O Mundo visível se consolidou a partir dos reinos invisíveis essencialmente da mesma maneira que a casa dura e insensível do caracol se cristalizou através dos sucos do seu corpo mole. Além disso, a casa do caracol é inerte e permaneceria imóvel, se ele não a movesse; do mesmo modo, os corpos das plantas, animais e humanos são apenas emanações inertes do Espírito que habita o Mundos invisíveis e, não fosse a vida interior estimular a forma e possibilitar sua ação, ela seria incapaz de se mover. Esses corpos são preservados apenas enquanto servem ao propósito do Espírito; quando ele sai deles, não há nada para manter a coesão da forma e, então, ela se deteriora.
Além disso, tudo o que vemos à nossa volta, as casas, bondes, barcos a vapor, telefones, enfim, todos os objetos que foram modelados pela mão do ser humano, é imaginação cristalizada que teve origem no Mundos invisíveis. Se Graham Bell não tivesse conseguido imaginar o telefone, ele nunca teria existido. Foi a “vida interior” de Fulton quem testemunhou o nascimento do barco a vapor muito antes que o visível “Clermont” surgisse.
Quanto à realidade e permanência dos objetos no Mundos invisíveis, são muito superiores às condições visíveis que acreditamos erroneamente ser o auge da “realidade”. Consideramos as imagens mentais e imaginações menos reais do que uma miragem e as menosprezamos como “mero pensamento” ou “apenas uma ideia”, quando, na verdade, elas são as realidades ocultas de tudo o que vemos no mundo à nossa volta. Uma ilustração realçará ainda mais este assunto.
Quando um arquiteto deseja construir uma casa, ele não pede que madeira e outros materiais sejam enviados para o canteiro de obras, nem contrata trabalhadores e manda que eles avancem para construir! Ele formula uma ideia e pensa nela, primeiro construindo a casa “em sua mente” com o máximo de detalhes possível para, a partir desse modelo mental, a casa poder ser construída, se puder ser vista pelos trabalhadores; mas antes de se tornar tangível ainda está nos Mundos invisíveis e, embora o arquiteto a perceba claramente, “o véu da carne” impede que outros a vejam. Assim, torna-se necessário trazê-la para o mundo dos sentidos e fazer um projeto visível que os trabalhadores possam seguir. Essa é a primeira consolidação da imagem mental do arquiteto e, quando a casa é construída, vemos em madeira e pedra o que era uma ideia na mente do arquiteto e invisível para nós.
Quanto à relativa estabilidade da ideia e da construção, é claro que a casa possa ser destruída por dinamite ou outro elemento poderoso de destruição; entretanto, a “ideia” na mente do arquiteto nem ele a pode destruir e, a partir dessa “ideia”, uma casa semelhante pode ser construída a qualquer momento, enquanto o arquiteto viver. Mesmo após sua morte, a ideia pode ser encontrada na Memória da Natureza, da qual mais será explicado no próximo ensaio, por qualquer pessoa qualificada para essa pesquisa, pois não importa há quanto tempo a impressão foi formada, ela nunca será perdida ou destruída.
Embora possamos, assim, deduzir de modo indutivo a existência dos Mundos invisíveis, esse não é o único meio de prova. Há uma abundância de testemunhos diretos para mostrar que esses Mundos existam; depoimentos de homens e mulheres de integridade inquestionável cuja verdade e exatidão nunca são questionadas em outros assuntos e que afirmam que os Mundos invisíveis sejam habitados por aqueles a quem chamamos de mortos; que esses vivem lá em plena posse de todas as suas faculdades mentais e emocionais, vivendo sob condições que tornam sua vida tão real e proveitosa quanto a nossa, talvez mais. Além disso, é passível de amostra que pelo menos alguns deles tenham interesse considerável nos assuntos do Mundo Físico. Basta analisar dois exemplos de fama mundial.
Primeiro, há o depoimento de Joana d’Arc, a “criada de Orleans”, que ouvia “vozes que falaram com ela e a dirigiram”. Vamos considerar a história da sua vida e ver se ela aguenta o selo da verdade. Aqui, temos uma camponesa simples, pura e pouco sofisticada, pouco mais que uma criança, que nunca havia saído de sua aldeia natal antes de seguir sua “missão”. Ela era extremamente tímida e tinha medo de desobedecer ao pai; mas as “vozes” imperiosas a levaram a enfrentar o descontentamento dele e ela partiu para encontrar o rei da França. Depois de muitos problemas, mas constantemente guiada pelas vozes, ela finalmente conseguiu uma audiência com o rei. Quando ela entrou onde o rei estava, ele estava no meio de seus cortesãos, um fantoche estava sentado no trono e todos esperavam vê-la desconcertada, pois nunca tinha visto o rei; contudo, guiada pelas vozes fiéis, Joana caminhou sem hesitar até ele e o saudou. Ela o convenceu da verdade de sua missão sussurrando em seu ouvido um segredo extremamente importante, conhecido apenas por ele.
Em consequência dessa prova, o comando do exército francês foi retirado das mãos de generais experientes, que haviam sido derrotados pelos ingleses em todas as batalhas, e colocado nas dessa criança, que não sabia coisa alguma sobre a arte da guerra; no entanto, ensinada pelos invisíveis que a estimulavam, levou as tropas francesas à vitória. Seu conhecimento de táticas militares era uma maravilha constante para seus acompanhantes e, por si só, uma amostra da orientação que ela alegava receber.
Em seguida, nós a vemos presa, sujeita a anos de ameaças ou persuasão para dizer o que seus perseguidores queriam, conforme o humor dos seus perseguidores cruéis tentava induzi-la a reconhecer que não houvesse vozes; entretanto, os registros dos procedimentos de seus diferentes julgamentos mostram em suas respostas uma singularidade de mente, inocência e franqueza inigualáveis nos anais da história, o que confundia seus juízes a todo momento. Nem mesmo a morte de estaca poderia fazê-la abjurar a verdade como a conhecia e até hoje seu testemunho das vozes orientadoras do Mundos invisíveis permanece inabalável, selado com o sangue da sua vida. Por fim, essa mártir da verdade foi canonizada como santa pela mesma igreja que a matou.
“No entanto”, alguém pode dizer, “embora ela fosse, sem dúvida, honesta era apenas uma simples camponesa que não sabia que estivesse sofrendo de alucinações!”. Alucinações estranhas, essas, que lhe permitiram reconhecer, sem hesitar, o rei que ela nunca havia visto; possibilitaram contar a ele um segredo desconhecido para qualquer outra pessoa; e viabilizaram descrever com precisão as batalhas que estivessem sendo travadas a muitos quilômetros de distância, como posteriormente verificado por seus participantes.
Contudo, passemos à nossa segunda testemunha, que não é de modo algum uma “Mente simples”. Nesse aspecto, Sócrates é um contraste absoluto com Joana d’Arc, porque foi o intelecto mais aguçado e a maior Mente que conhecemos, algo sem precedente até hoje. Ele também selou seu testemunho sobre a voz orientadora do Mundos invisíveis com o sangue de sua vida e podemos interpretar isso como evidência da inteligência da voz, porque não fosse assim jamais teria sido capaz de aconselhar tão bem um sábio como Sócrates.
Dizer que ele fosse louco ou sofresse de alucinações dificilmente ajudará neste caso, pois um homem que, como Sócrates, pesasse todos os outros assuntos com muita honestidade estaria acima de qualquer suspeita a esse respeito; o caminho mais razoável é reconhecer que “há mais coisas entre o céu e a terra” do que saibamos individualmente ou coletivamente para, depois, começar a investigar.
Isso é realmente o que as pessoas mais avançadas estão fazendo em nossos dias, percebendo que seja tão tolo ser cético demais para investigar quanto tornar-se muito crédulo e acreditar em tudo o que ouvimos como se fosse uma verdade bíblica. Somente nos informando adequadamente é possível chegar a uma conclusão digna de nossa masculinidade ou feminilidade, independentemente da decisão tomada.
Reconhecendo esse princípio e a relevante importância do assunto, a Sociedade de Pesquisa Psíquica foi formada há mais de um quarto de século e inclui entre seus membros algumas das mentes mais brilhantes do nosso tempo. Eles não pouparam esforços para separar a verdade do erro nos muitos milhares de casos trazidos à sua atenção e, como resultado, descobrimos que um dos cientistas mais valiosos de nosso tempo, Sir Oliver Lodge, como presidente da sociedade, ofereceu ao mundo, há vários anos, esta afirmação: “A existência de um Mundos invisíveis, habitado pelos chamados mortos, e seu poder de se comunicar com esse Mundo, foram confirmadas além de qualquer acaso em tantos casos que não deixam espaço para dúvida”.
Esse testemunho, de um dos maiores cientistas modernos, alguém que trouxe para seus estudos psíquicos a mente aguçada pela ciência e bem protegida contra qualquer forma de engano, deveria exigir o mais alto respeito por parte de todos os que estão buscando a verdade.
Tendo assim apresentado evidências indutivas, dedutivas e diretas, podemos acrescentar que a existência de outro Mundo, intangível para os cinco sentidos, mas prontamente investigado por meio de um “sexto sentido”, seja um fato da Natureza, quer o reconheçamos ou não, do mesmo jeito que a luz e a cor existem em torno do “cego” e do que “não é cego”. É prejuízo para o cego não poder enxergar a luz e cor ao seu redor. E nosso, se formos “cegos” para os reinos superfísicos; mas para todos os que se esforçam para despertar suas faculdades latentes, a abertura da percepção adequada é apenas uma questão de tempo. Quando chegar a hora, veremos que os chamados “mortos” estão todos ao nosso lado e que, de fato, “não existe morte”, como nos diz o belo poema de John McCreery, a seguir:
Não há morte. As estrelas caem
Para subir em outra margem,
E brilhantes na coroa de jóias do céu
Elas brilham para sempre.
Não há morte. As folhas da floresta
Convertem à vida o ar invisível;
As rochas se desorganizam para alimentar
O musgo faminto que elas nutrem.
Não há morte. O pó que pisamos
Deve se tornar sob os chuveiros de verão
Grãos dourados ou frutos maduros,
Ou flores pintadas de arco-íris.
Não há morte. As folhas podem cair,
As flores podem murchar e desaparecer —
Elas apenas aguardam as horas de inverno
O hálito doce e quente de maio.
Não há morte, embora lamentemos
Quando belas formas familiares
Que aprendemos a amar são arrancadas
Dos nossos braços que abraçam.
Embora com o coração curvado e quebrado.
Com traje de luto e passo silencioso
Nós carregamos seu pó sem sentido para descansar
E dizemos que eles estejam mortos —
Eles não estão mortos. Eles passaram para
Além das brumas que nos cegam aqui
À vida nova e maior
Daquela esfera serena.
Eles deixaram cair sua túnica de barro
Para colocar uma roupa brilhante;
Eles não vagaram para longe,
Eles não estão “perdidos” ou “desaparecidos”.
Embora invisível aos olhos dos mortais,
Eles ainda estão aqui e ainda nos amam;
Os queridos que deixaram para trás
Eles nunca esquecem.
Às vezes sobre nossa testa febril
Sentimos o toque deles, um sopro de bálsamo;
Nosso Espírito os vê e nossos corações
Ficam confortados e calmos.
Sim, sempre perto de nós, embora invisíveis,
Nossos queridos Espíritos imortais caminham —
Pois todo o universo ilimitado de Deus
É vida — não há mortos.
Quando o Ego se liberta do Corpo Vital, seu último vínculo com o Mundo Físico é rompido e ele entra no Mundo do Desejo. A forma ovoide do Corpo de Desejos então é modificada, assumindo a aparência do Corpo Denso, que foi descartado. Há, no entanto, um arranjo peculiar nos materiais dos quais é formado que tem grande significado em relação ao tipo de vida que aqueles que morreram terão lá.
O Corpo de Desejos do ser humano é composto de matéria de todas as sete Regiões do Mundo do Desejo, do mesmo jeito que o Corpo Denso é constituído pelos sólidos, líquidos e gases desse Mundo material. Contudo, a quantidade de matéria de cada região no Corpo de Desejos de uma pessoa depende da natureza dos desejos que ela aprecia. Desejos grosseiros são construídos com as substâncias mais grosseiras, que pertencem à Região mais inferior do Mundo do Desejo. Se a pessoa os tem, está construindo um Corpo de Desejos grosseiro no qual predomina a matéria das Regiões mais inferiores. Se ela, persistentemente, afastar desejos grosseiros de si mesmo, cedendo apenas ao puro e ao bem, seu Corpo de Desejos será formado pelos materiais das regiões superiores.
No momento, nenhum ser humano é totalmente mau e nenhum é totalmente bom; somos todos a mistura de ambos; contudo, pode haver e há uma diferença em nossa constituição. No Corpo de Desejos de alguns há preponderância de substâncias grosseiras e, no de outros, de substâncias sutis; isso faz toda a diferença no ambiente e no estado do ser humano, quando ele entra no Mundo do Desejo após a morte, porque a matéria do seu Corpo de Desejos, assumindo a aparência do Corpo Denso que foi descartado, se organiza ao mesmo tempo para que a substância mais sutil, que pertence às Regiões mais superiores do Mundo do Desejo, forme o centro do seu veículo e a matéria das três Regiões mais inferiores fique ao lado de fora, em sua periferia. Quando a vida terrestre do Ego termina, ele exerce a força centrífuga para se libertar de seus veículos. Seguindo a mesma lei que faz um Planeta jogar no espaço a sua parte mais densa e cristalizada, ele primeiro descarta seu Corpo Denso. Quando entra no Mundo do Desejo, essa força centrífuga também atua para lançar a matéria mais grosseira para fora do Corpo de Desejos e, assim, o ser humano é forçado a permanecer nas Regiões inferiores até que seja expurgado dos desejos mais grosseiros que foram incorporados à matéria de desejos mais densa. A matéria de desejo mais grosseira está, portanto, sempre na periferia do Corpo de Desejos, enquanto ele passa pelo Purgatório e é gradualmente eliminada pela força centrífuga de purgação; a força de Repulsão elimina o mal do ser humano e permite que ele vá para o Primeiro Céu, na parte superior do Mundo do Desejo, onde somente a Força de Atração domina e transforma o bem da vida que terminou em poder anímico para o Ego. A parte descartada do Corpo de Desejos é abandonada como uma “concha” vazia.
Quando o Ego deixa seu Corpo Denso, este morre rapidamente. A matéria física se torna inerte, quando é privada da energia aceleradora e vivificante; dissolve-se então como uma forma sem vida. Não é assim com a substância do Mundo do Desejo; uma vez que a vida lhe seja comunicada, essa energia subsistirá por um tempo considerável, depois que o fluxo de vida cessar, variando quanto à força do impulso. O resultado disso é que, depois que o Ego as abandona, essas “conchas” permanecem por um período maior ou menor. Elas vivem uma vida independente e se o Ego, ao qual pertenceram, esteve muito ligado a desejos mundanos, talvez interrompidos no auge da vida com ambições fortes e insatisfeitas, elas costumam fazer os esforços mais desesperados para voltar ao Mundo Físico. Muitos dos fenômenos das sessões onde se utilizam a evocação dos chamados mortos ou de outros Espíritos ocorrem devido às ações dessas conchas. O fato das comunicações recebidas, por parte de muitos dos chamados “Espíritos”, serem totalmente desprovidas de sentido é facilmente explicado, quando percebemos que, definitivamente, não são Espíritos, mas apenas uma parte sem alma da vestimenta do Espírito que partiu e, portanto, sem inteligência. Elas têm memória da vida passada da pessoa devido ao panorama gravado após a morte, o que muitas vezes lhes permite enganar os parentes do morto, informando incidentes desconhecidos por outras pessoas; entretanto, o fato é que elas não passam de uma peça de roupa, dotada de vida independente e temporária, que foi descartada pelo Ego.
Contudo, não é sempre que essas conchas permanecem sem alma, porque existem diferentes classes de seres no Mundo do Desejo, cuja evolução naturalmente pertence àquele lugar. Eles são bons ou ruins como os seres humanos. Geralmente, são classificados pelo título de “elementais”, embora diferindo muito em aparência, inteligência e características. Só falaremos sobre eles na medida em que sua influência se relacione ao estado post-mortem do ser humano.
Em algumas situações, esses seres tomam posse do Corpo Denso de uma pessoa e a tornam um médium irresponsável, especialmente quando ela tem o hábito de invocar Espíritos. Eles geralmente a atraem, no começo, com ensinamentos aparentemente elevados; porém aos poucos a levam à imoralidade grosseira e, o que é pior, eles podem se apossar do seu Corpo de Desejos, depois que ela o deixou e subiu ao Céu. Como os impulsos contidos no Corpo de Desejos são a base da vida no Céu e a fonte de ações que levam o ser humano a renascer para um crescimento renovado, isso é realmente um assunto muito sério, pois toda a evolução de um ser humano pode ser interrompida durante muitos e muitos anos, antes que o elemental libere seu Corpo de Desejos.
São esses elementos, os criadores de muitos dos fenômenos espiritualistas em que mais inteligência é exibida do que pode ser explicada pela ação de conchas sem alma, pelo menos em materializações. Embora as conchas possam participar, os fenômenos são sempre dirigidos por um ser com inteligência.
A diferença entre um médium materializante e uma pessoa comum é que a conexão entre o Corpo Denso e o Corpo Vital do médium pode ser retirada e alguns dos gases ou até líquidos do seu Corpo Denso podem ser usados para formar os corpos das aparições. Essa retirada e o processo de vestir as conchas geralmente são realizados pelo elemental, que extrai o Corpo Vital do médium através do baço. Como regra, o corpo do médium encolhe terrivelmente em consequência. Quando o Corpo Denso é privado do seu princípio vital, ele fica terrivelmente exausto e, infelizmente, o médium costuma restaurar o equilíbrio com bebidas fortes, tornando-se um autêntico alcóolatra.
Em uma palestra anterior foi mostrado o quão perigoso é permitir que um hipnotizador domine nossa vontade e nos prive da liberdade; contudo, nesse caso a vítima pode pelo menos ver e formar opinião sobre o hipnotizador que a controla. No caso do médium, o perigo é multiplicado por mil, pois a influência dominante não pode ser vista. A morte do hipnotizador liberta suas vítimas, mas o perigo mais grave para o médium surge após a morte. Portanto, um estado negativo (passivo) no qual todo o corpo, ou até a mão de uma pessoa, é usado de forma automática, sem considerar a vontade do indivíduo, é perigoso. Não é negado que, às vezes, haja comunicações genuínas de um Espírito que partiu ou que haja casos de comunicações benevolentes de seres que independem da nossa vontade para agir; no entanto, nosso objetivo é mostrar os perigos para aqueles que se intrometem com o que desconhecem. Os filantropos não crescem nos arbustos do Mundo do Desejo mais do que aqui. Com certeza, não são seres grandiosos e bons, como os Anjos, aqueles que gostam de bater no chapéu de um ser humano, derramar água em seu pescoço ou fazer qualquer outro truque tolo que é exibido na sessão espírita normal: são certamente as conchas sem alma deixadas por malandros ou elementais brincalhões.
Quando um ser humano acorda no Mundo do Desejo ele é, sem nenhuma exceção, o mesmo ser humano, em todos os aspectos, como antes da morte. Qualquer um que o visse lá o conheceria, se o conhecessem aqui. Não há poder transformador na morte e o caráter do ser humano não muda; o ser humano viciado continua viciado, o alcoólatra permanece alcoólatra, o avarento ainda é avarento e o ladrão é tão desonesto como sempre foi; entretanto, há uma grande e importante mudança em todos eles — todos perderam o Corpo Denso e isso faz toda a diferença em relação à gratificação dos vários desejos deles.
O alcóolatra não pode beber; ele não tem estômago e, embora ele possa, e a princípio o faça, entrar nos barris de uísque dos bares, não é uma satisfação para ele, pois o uísque dentro de um barril não exala gases, como ocorre durante a combustão química no canal alimentício. Ele então tenta entrar no Corpo Denso de outras pessoas que tomam bebidas alcoólicas. Ele consegue facilmente, pois o Corpo de Desejos é constituído de tal forma que não é inconveniente ocupar o mesmo espaço que outra pessoa ocupa. As pessoas “mortas”, a princípio, costumam ficar aborrecidas quando seus amigos se sentam na cadeira que ocupam, mas depois de um tempo descobrem que não é necessário sair correndo, porque um amigo ainda na vida terrestre está se aproximando para se sentar. “Sentar sobre” o Corpo de Desejos não o machuca; ambas as pessoas podem ocupar a mesma cadeira sem incomodar os movimentos uma da outra. Assim, o alcóolatra entra no Corpo Denso das pessoas que tomam bebidas alcóolicas, mas mesmo aí ele não recebe satisfação real e, em consequência, sofre as torturas de Tântalo, até que finalmente o desejo se esgota por falta de gratificação, como acontece com todos os desejos, mesmo na vida física.
Isso é o “Purgatório”, e observamos que não é uma divindade vingadora que mede o sofrimento, ou um demônio que executa o julgamento, mas os desejos inferiores cultivados na vida terrena, incapazes de gratificação no Mundo do Desejo, que causam o sofrimento, até que com o tempo eles se esgotem. Assim, o sofrimento é estritamente proporcional à força do mau hábito. Vejamos o caso do avarento; ele ama ouro tão ternamente após a morte como antes, mas não pode mais juntá-lo; ele não tem a mão física com a qual agarrar e, o pior de tudo, não pode proteger o que tinha. Ele pode ficar sentado em frente ao seu cofre observando, e os herdeiros podem vir e atravessá-lo com as mãos, tirar o seu ouro querido, talvez rindo do “velho avarento e idiota”, enquanto ele permanece quase tendo um espasmo de raiva e mortificação. Ele sofre terrivelmente porque não consegue vê-los. Por fim, ele aprende a se contentar e é automaticamente purgado do ato de acumular, como fica o alcóolatra livre da bebida alcoólica, pela Lei da Consequência, que erradica de cada pessoa seus vícios de maneira impessoal. Na verdade, não há punição, todo sofrimento existe inteiramente devido aos hábitos que adquirimos e é estritamente proporcional a eles. Felizmente, a purgação nos livra de nossas falhas de modo que, em consequência, nascemos inocentes e podemos adquirir mais facilmente a virtude, quando tentados de novo, ouvindo a voz que nos adverte. Assim, cada novo ato maligno será, pelo menos, uma ação do livre arbítrio.
Enquanto nossos maus hábitos são geralmente tratados dessa maneira, nossas más ações e específicas na vida passada são tratadas da mesma maneira automática por meio do Panorama da Vida que é gravado no Corpo de Desejos. Esse panorama começa a se desenrolar para trás, da morte ao nascimento, quando entramos no Mundo do Desejo. Ela se desdobra para trás, na velocidade de aproximadamente três vezes a velocidade da vida física, de modo que um ser humano com 60 anos de idade, no momento da morte, viva sua vida passada no Mundo do Desejo em cerca de vinte anos.
Lembramos que, ao ver esse panorama logo após a morte, não sentimos coisa alguma a respeito, permanecendo ali apenas como espectador, vendo as imagens, enquanto se desenrolavam. Não é assim quando elas aparecem em nossa consciência, no Purgatório. Lá, o bem não impressiona, mas todo o mal reage sobre nós de tal maneira que, nas cenas em que fizemos outra pessoa sofrer, nós próprios sentimos o que o ferido sentiu. Ele sofre toda a dor e angústia que sua vítima sentiu na vida e, à medida que a velocidade da vida é triplicada, o mesmo ocorre com o sofrimento. É ainda mais agudo, pois o Corpo Denso é tão lento de vibração que entorpece até o sofrimento, mas no Mundo do Desejo, onde não temos o veículo físico, o sofrimento é mais agudo, e quanto mais clara a impressão panorâmica da vida passada for gravada no corpo de desejos, no momento da morte, tanto mais o ser humano sofrerá e mais claramente sentirá em vidas futuras que a transgressão deva ser evitada.
Há algo característico nesse sofrimento que também aumenta seu caráter desagradável. Se, durante a vida, um ser humano machucou duas pessoas ao mesmo tempo e uma mora no Maine enquanto a outra, na Califórnia, quando o agressor esteja passando pela realização, no Purgatório, dos sofrimentos que ele causou, ele se sentirá presente para os dois ao mesmo tempo, como se uma parte sua estivesse no Maine e a outra, na Califórnia. Isso causa uma sensação particular, mas indescritível, de estar em pedaços.
Existem duas classes de pessoas para as quais o processo purgativo não começa imediatamente com a morte; a saber, o suicida e a vítima de assassinato. No caso do suicida, o sofrimento não começa até o momento em que o Corpo Denso tivesse morrido no decorrer dos eventos naturais; contudo, enquanto isso, ele sofre por seu ato de uma maneira que é tão terrível quanto específica. Ele tem a sensação de ter sido escavado, por assim dizer, e de habitar um vazio que dói, devido à atividade contínua do arquétipo de sua forma, na Região do Pensamento Concreto. No caso das pessoas, jovens ou velhas, que morrem naturalmente ou por acidente, a atividade arquetípica cessa e os veículos superiores sofrem modificação com a morte, de modo que a perda do Corpo Denso, em si mesma, não causa sensação de desconforto; no entanto, o suicida não experimenta essa mudança até que o arquétipo do seu Corpo deixe de funcionar, quando a morte teria ocorrido naturalmente. O espaço onde seu Corpo Denso deveria ficar está vazio, porque o arquétipo está oco e dói de maneira indescritível. Assim, ele também aprende que não é possível brincar de evasão na escola da vida, sem que isso traga consequências desagradáveis; em vidas posteriores, quando o caminho parecer difícil, sua alma lembrará que a tentativa covarde de escapar por suicídio só traz mais sofrimento.
Há pessoas que cometem suicídio por razões altruístas, para livrar outras de um fardo; elas obviamente têm uma recompensa, mas não escapam do sofrimento do suicídio, assim como o ser humano que entra em um prédio em chamas para salvar outros não está imune a queimaduras.
A vítima de assassinato escapa desse sofrimento porque, como regra, permanece em estado de uma inércia letárgica até o momento em que a morte natural deveria ter ocorrido e é, assim, auxiliada do mesmo modo que as vítimas dos chamados acidentes, mas essas sempre estão conscientes imediatamente a morte ou logo após. Se o assassino for executado entre o momento do assassinato e o instante em que sua vítima tivesse morrido naturalmente, o Corpo de Desejos, em uma inércia letárgica dessa última, flutua para o matador por atração magnética e o segue onde quer que vá, sem lhe dar um único momento de descanso. A imagem do assassinato está sempre à sua frente, fazendo com que ele sinta o sofrimento e a angústia que devem inevitavelmente acompanhar a incessante reconstituição do crime, em todos os horríveis detalhes. Isso se prolonga por um período correspondente ao tempo de vida que ele retirou da sua vítima. Se o assassino escapou da punição, de modo que sua vítima atravessou o Purgatório antes que ele morresse, a “concha” da vítima continua a desempenhar o papel de Nêmesis, no drama da encenação do crime.
Assim, o Ego é purgado de todo tipo de mal pela ação impessoal da Lei de Consequência, preparando-se para entrar no Céu e se fortalecer no bem, assim como no Purgatório foi desencorajado de praticar o mal.
Vimos em outra palestra como os maus atos da vida e nossos hábitos indesejáveis são tratados pela impessoal Lei da Consequência e contribuem para o bem, em vidas futuras; para ilustrar isso observamos sua operação em casos como os do assassino, do suicida, do bêbado e do avarento. Esses são casos extremos, no entanto, e há muitas pessoas que viveram boas vidas morais, mais contaminadas pelo egoísmo mesquinho, que é o pecado mais grave da nossa época, do que pelo verdadeiro mal pronunciado; para elas a permanência nas regiões do Purgatório do Mundo do Desejo é, óbvio, correspondentemente reduzida e o incidente do sofrimento, aliviado. Assim, com o tempo, todos vão para as regiões superiores do Mundo do Desejo, onde o Primeiro Céu está localizado.
Esta é a “Terra de verão” dos espíritas. Com a matéria dessa região os pensamentos e as fantasias das pessoas, durante sua vida, constroem as formas reais que elas veem em sua imaginação. É uma característica dos Mundos internos que a matéria neles seja prontamente moldada pelo pensamento e pela vontade. Todas as formas fantásticas que são criadas pelas pessoas se desenvolvem, animadas por elementais, e duram enquanto permanecer o pensamento ou o desejo que as criou. Na época do Natal, por exemplo, o “Papai Noel realmente vive e anda de trenó”. Há muitos tipos e variedades dele que permanecem em vigor por um mês ou mais, até que os desejos das crianças que o criaram deixem de fluir nessa direção; então ele desaparece até ser recriado no próximo ano. A Nova Jerusalém, com suas ruas peroladas, mar de vidro e todas as outras fantasias piedosas e morais do povo da igreja, também está lá. O Purgatório tem seu diabo em forma de pensamento, com chifres e casco fendido, criado pelo pensamento das pessoas; mas nessa parte superior do Mundo do Desejo, encontramos apenas o que é bom e desejável entre as aspirações humanas. Aqui, o aluno se regozija nas bibliotecas e é capaz de prosseguir seus estudos de modo bem mais eficaz do que quando confinado no Corpo Denso. Se ele deseja um livro, pronto, ele aparece. O artista, por sua imaginação, molda seus modelos perfeitamente, ele pinta com cores vivas e ardentes, em vez de usar os pigmentos mortos e sem brilho da Terra, que são o desespero do artista físico, porque aqui, na vida terrena, é impossível para ele reproduzir os tons que vê com sua visão interior, mas o Mundo do Desejo é o mundo da cor por excelência e, portanto, ele obtém o desejo do seu coração no Primeiro Céu, recebendo inspiração e poder para continuar seu trabalho em vidas futuras.
O escultor também considera esta parte do estado post-mortem uma alegria e uma elevação; ele molda com facilidade os materiais plásticos deste mundo nas estátuas com que ele sonhava quando vivia na Terra. O músico também é beneficiado, mas ainda não está no verdadeiro mundo do som: este oceano de harmonia onde a celestial “música das esferas” é ouvida está na parte da Região do Pensamento Concreto que, na Religião Cristã e esotérica, chamamos de Segundo Céu. Assim, o músico apenas ouve o eco dos sons celestiais; no entanto, são mais doces do que qualquer um que já ouviu na Terra e sua alma se deleita com sua harmonia requintada, a mais auspiciosa das melhores coisas que estão por vir.
Aqui também encontramos todas as crianças pequenas, que vão diretamente para este lugar depois de morrer; se seus amigos pudessem vê-las, não haveria luto, porque a vida delas é bastante invejável. Elas sempre são recebidas por algum parente ou amigo que já morreu e recebem todo tipo de cuidado. Há pessoas que constroem um grande tesouro para si mesmas, dedicando grande parte do seu tempo à invenção de jogos e brinquedos para esses pequenos e, assim, a vida neste Primeiro Céu é gasta da maneira mais bonita pelas crianças, sem que sua instrução seja negligenciada. Elas são reunidas em aulas não apenas de acordo com idade e capacidade, mas também temperamento e são particularmente instruídas sobre os efeitos dos desejos e emoções, o que pode ser feito com muita facilidade em um mundo onde essas coisas podem ser objetivamente demonstradas. Assim, elas aprendem, mediante lições objetivas, o benefício de cultivar desejos bons e altruístas; muitas almas que vivem uma vida altamente moral agora devem-na a uma causa como a morte na infância e quinze ou vinte anos no Primeiro Céu, antes do novo nascimento. Muitas vezes se pergunta por que as crianças morrem. Existem muitas causas. Uma é a morte, em vida anterior, sob a terrível tensão do acidente, pelo fogo ou no campo de batalha, porque nessas circunstâncias o Ego que morreu não pôde se concentrar adequadamente na vista panorâmica da sua vida passada. Esse também é o caso, quando os lamentos altos de parentes impedem a concentração. O resultado é, obviamente, uma impressão fraca das experiências de vida no Corpo de Desejos, o que leva a uma vida insípida no Purgatório e no Primeiro Céu.
Nesses casos, o Ego não colhe o que plantou e, portanto, pode cometer as mesmas loucuras ou pecados, vida após vida. Para evitar tal contingência, o novo Corpo de Desejos que o Ego reúne antes do seu próximo nascimento deve ser gravado com a lição necessária. O Ego está sempre inconsciente a caminho do renascimento, cego pela matéria que o envolve, do mesmo jeito que ficamos ofuscados quando entramos em uma casa, em um dia ensolarado. Somente após o nascimento a consciência retorna em alguma medida. Então, quando pela morte ele passa para o Primeiro Céu, é ensinado de maneira objetiva e diferente a lição que deveria ter aprendido em sua passagem externa ou física, na vida anterior. Quando essa lição é dominada e escrita no Corpo de Desejos que ainda não nasceu, o Ego renasce na Terra e prossegue da maneira comum.
As crianças que morrem antes do sétimo ano só nasceram no que diz respeito aos Corpos Denso e Vital e não são responsáveis sob a Lei da Consequência. Mesmo até os doze ou quatorze anos, o Corpo de Desejos está em processo de gestação, como será explicado mais detalhadamente em outra palestra e, como o que não foi vivificado não pode morrer, apenas os Corpos Denso e Vital decaem, quando uma criança morre. Ela mantém seu Corpo de Desejos e a Mente para o próximo nascimento. Portanto, não percorre todo o caminho que o Ego geralmente faz em um ciclo de vida, mas apenas sobe ao Primeiro Céu para aprender as lições necessárias e, após uma espera que varia de um a vinte anos, renasce, frequentemente na mesma família.
É um erro pensar que o Céu seja um lugar de felicidade pura para todos. Ninguém pode colher mais felicidade no Céu do que aquilo que plantou na Terra. A medida de nossa alegria lá serão as boas ações que fizemos aqui. O Panorama da Vida gravado em nossos Corpos de Desejos logo após a morte forma tanto a base da nossa alegria no Céu quanto o decreto do nosso sofrimento no Purgatório.
Lembramos que à medida que o Panorama da Vida passada se desenrolava no Purgatório, apenas as cenas em que havíamos ferido pessoas operavam para produzir sofrimento. No Primeiro Céu, só os bons desejos e ações altruístas produzem sentimento. Ao contemplarmos uma cena em que ajudamos alguém, acalmando sua tristeza e aliviando seu sofrimento, não só sentimos a mais intensa satisfação pessoal, como tudo que a pessoa favorecida pelo nosso favor sentiu, em forma de tranquilidade corporal, alívio mental e gratidão. Não importa se ele soube quem o ajudou, o sentimento que derramou sobre nós quando o ajudamos acontecerá ali, independentemente de outras circunstâncias. Por outro lado, se nós mesmos formos gratos aos nossos benfeitores, sentiremos o mesmo sentimento de alívio da angústia e de gratidão pela ajuda recebida. Como todos esses sentimentos e desejos são construídos no Ego pelas forças alquímicas e espirituais que são geradas quando eles estão sendo realizados e como sofrem uma transformação em faculdades utilizáveis em nascimentos futuros, é facilmente visto o quão importante é para o nosso próprio crescimento de alma que devamos sentir e expressar nossa gratidão pelos favores que recebemos, porque assim lançamos as bases para o recebimento de novos favores nesta vida e nas futuras. Diz-se que o Senhor ama quem dá com alegria; é igualmente verdade que a “Lei” (da Consequência) ama um coração que aprecia receber favores.
Quando “DAR” está em consideração, devemos ter cuidado com a ideia falaciosa de que somente o homem rico possa dar. Presentes indiscriminados em forma de dinheiro são uma maldição tanto para quem dá quanto para quem recebe. Somente quando o doador também dá seu pensamento e coração pode o ouro ter valor. Contudo, o que é o ouro dado descuidadamente, em comparação com a simpatia? A expressão de fé em um ser humano pode dar-lhe coragem para entrar em um desafio e vencer; estimulando sua vontade, nós o ajudamos a se ajudar, quando a ajuda financeira o tornaria impotente e dependente da nossa generosidade. Quando damos, devemos dar a NÓS MESMOS, primeiro.
Existem duas classes para as quais a existência pós-morte é particularmente vazia e monótona: o materialista e o ser humano que estava tão absorto em seus negócios materiais que nunca se importou com os Mundos espirituais. A razão não é difícil de encontrar. Eles geralmente tiveram uma vida boa, ética e não se entregaram a qualquer um dos vícios do Mundo do Desejo inferior, mas também não fizeram um bem que encontrasse seu fruto em forma de sentimentos de alegria, no Primeiro Céu. Dar inclusive grandes somas de dinheiro para a construção de igrejas, bibliotecas ou parques não ajudará de maneira alguma, a menos que o doador tenha interesse particular em sua doação e, assim, dê a si mesmo junto ao dinheiro. Fornecer apenas dinheiro trará riqueza em alguma vida futura, mas dar a si mesmo é mais valioso do que receber dinheiro, pois promove o crescimento da alma. O ser humano de negócios que é materialista, portanto, vai para a quarta região, uma espécie de fronteira entre o Purgatório e o Primeiro Céu. Ele é bom demais para sofrer no Purgatório, mas não é bom o suficiente para ter uma vida alegre no Primeiro Céu. Ele ainda tem um grande desejo por negócios. Sem interesses, exceto desejos que não possam ser satisfeitos ali, sua vida torna-se uma monotonia nada invejável, embora ele não sofra de outra maneira.
O materialista absoluto, que nega a Deus e tem a ideia de que a morte seja a aniquilação do nosso ser, está na pior das dificuldades. Ele vê seu erro, mas tendo se dissociado bastante das ideias espirituais, muitas vezes não consegue acreditar que isso seja mais do que um prelúdio para a aniquilação. O pavoroso suspense pesa terrivelmente sobre essas pessoas e não é incomum vê-las murmurando para si mesmas: “Não será logo o fim?”. E, o pior de tudo, se alguém instruído tentar informá-las, elas negarão a existência do Espírito ali tanto quanto o faziam na vida na Terra, chamando-o de excêntrico por pensar que exista algo além da matéria.
A tendência natural do Corpo de Desejos é endurecer e consolidar tudo aquilo com que entra em contato. O pensamento materialista acentua essa tendência a tal ponto que muitas vezes resulta, em vidas sucessivas, aquela terrível doença, a tuberculose, o endurecimento dos pulmões. Eles devem permanecer macios e elásticos. Às vezes também acontece que o Corpo de Desejos esmaga o Corpo Vital na próxima vida, de modo que ele falha completamente em neutralizar o processo de endurecimento, e então temos uma tuberculose rápida. Em alguns casos, o materialismo torna o Corpo de Desejos frágil, por assim dizer; então, ele não pode realizar seu trabalho de endurecimento adequado no Corpo Denso e, como resultado, temos “raquitismo”, que amolece os ossos. Logo, vemos os perigos que corremos ao abrigar tendências materialistas: ou endurecimento das partes moles do corpo, como no caso da tuberculose, ou amolecimento das duras partes ósseas, como no raquitismo. É claro que nem todos os casos de tuberculose mostram que o sofredor fosse um materialista em alguma vida anterior, mas a ciência oculta ensina que tal resultado frequentemente siga o materialismo. Há, porém, outra causa para a prevalência dessa terrível doença na Idade Média.
Com o passar do tempo, todo homem se prepara para ascender ao Segundo Céu, que está localizado na Região do Pensamento Concreto. Todas as boas aspirações e desejos da vida passada são gravados e marcados na mente, que então contém tudo o que é de valor permanente. O Ego se retira do Corpo de Desejos, que, assim, torna-se apenas uma concha vazia e, revestido apenas com a Mente, sobe ao Segundo Céu.
Lembramos que após o término do panorama, logo após a morte, quando o Ego se retirou do Corpo Vital, ele passou por um período de inconsciência antes de despertar no Mundo do Desejo. Também há um intervalo entre a retirada do Corpo de Desejos, no Primeiro Céu, e o despertar, no Segundo Céu. Entretanto, desta vez não há inconsciência; todas as faculdades estão em alerta agudo e existe um estado de hiperconsciência, à medida que o Espírito passa por esse intervalo, chamado de “O Grande Silêncio”. Não importa o quão materialista um ser humano possa ter sido na Terra, esse estado de Espírito desapareceu e, neste ponto, o ser humano SABE que seja inerentemente divino, ao alcançar o Grande Silêncio, o portal para seu lar celestial. É como quando alguém acorda após um sonho terrível e dá um profundo suspiro de alívio, ao descobrir que as ocorrências do sonho não eram realidades. Do mesmo jeito, o Ego, ao entrar neste Grande Silêncio, desperta dos delírios e ilusões da vida na Terra com uma sensação de alívio infinito, é preenchido com uma percepção de segurança inexpugnável e sente novamente o descanso pacífico por estar nos braços eternos do Grande Espírito Universal.
Em breve brotam no ouvido do Ego as indescritíveis harmonias da música celestial que enche esta Região, incessantemente. Não é fruto de fantasia, quando se fala em música celestial, embora não seja verdade que os mortos que tinham pouco ou nenhum sentido para música durante a vida na Terra de repente desenvolveram, por ocasião da morte, a paixão e a faculdade de expressar música. Fato é que o Mundo do Pensamento Concreto, onde o Segundo Céu está localizado, também seja o reino do som, assim como o Mundo do Desejo é o reino da luz e da cor e o Mundo Físico, o reino da forma. O artista obtém seus esquemas de cores e efeitos de luz do Mundo do Desejo, mas o músico deve recorrer ao Mundo do Pensamento, que é mais sutil, para suas inspirações, e neste fato temos a razão pela qual a música seja a arte mais elevada que possuímos. O pintor desenha um mundo mais próximo e disponível; portanto, é capaz de fixar sua criação de uma vez por todas na tela, para ser vista, a qualquer momento, por todos os que tenham olhos. A música não pode ser fixada desse modo; é mais elusiva, deve ser recriada toda vez que é ouvida e imediatamente desaparece no silêncio. Em troca, no entanto, ela tem muito mais poder de falar conosco do que até mesmo a maior pintura, pois vem diretamente do mundo do Céu, fresca e perfumada com os ecos da casa do Ego, despertando memórias e colocando-nos em contato com aquilo que tantas vezes esquecemos em nossa existência material. Portanto, a música, acima de todas as outras artes humanas, por si só, tem o poder de acalmar os sentimentos selvagens e nos afetar de uma forma que nada mais pode.
Goethe era um Iniciado e, em seu “Fausto”, enfatizou duas vezes o fato de que nos reinos celestiais todas as coisas sejam redutíveis a termos sonoros. A cena de abertura está situada no Céu e o Arcanjo Rafael é representado dizendo o seguinte.
“O Sol entoa sua antiga CANÇÃO,
Intermediando o CÂNTICO rival das esferas-irmãs.
Seu curso prescrito ele acelera então,
De forma estrondosa ao longo das manhãs”.
E de novo, na segunda parte:
“SOM para o Espírito escutar
Proclama que o dia vindouro perto está de chegar.
Portões rochosos estão rangendo, chacoalhando,
As rodas de Febo estão rolando, cantando —
Que SOM intenso está a luz causando”.
A “canção das esferas” de Pitágoras é um fato no Segundo Céu e para alguns músicos isso não é de forma alguma uma ideia rebuscada, porque sabem que cada cidade, lago ou floresta tenha seu próprio som peculiar. O riacho murmurante e o zéfiro de verão, que agita as folhas novas dentro da floresta, falam a língua da Alma Universal. O verdadeiro músico ouve Sua voz grandiosa e majestosa na torrente da montanha e na tempestade sobre o grande abismo. Não há concepção meramente intelectual de Deus, da vida ou das coisas metafísicas que possa alcançar as alturas sublimes que ele conseguiu, porque ele sabe.
No Purgatório, os maus hábitos e os atos ruins da vida produziram o sofrimento, que foi transmutado em sentimento correto no Primeiro Céu. O bem da vida passada foi extraído no Primeiro Céu e quando o Ego entra no Segundo Céu ele medita sobre o bem de forma a transmutá-lo em pensamento correto para que atue como um guia nas vidas futuras na Terra. Assim, a cada novo nascimento, o Ego traz consigo, como capital, a sabedoria acumulada que foi derivada das experiências de todas as suas vidas passadas, que é o seu capital ou estoque comercial. A experiência de cada nova vida são os juros que, no Segundo Céu, são adicionados ao capital.
O ser humano ali também está se preparando para o próximo mergulho na matéria, qualificando-se para a nova batalha contra a ignorância na próxima vida, dentro da grande escola de Deus. Se alguma ambição digna não foi realizada, ele vê em que ponto estava o defeito e aprende a realizar da próxima vez seus projetos, em linhas aprimoradas. O músico leva consigo melodias mais grandiosas quando retorna, para alegrar o coração do ser humano em seu exílio nas condições da Terra. O pintor traz novas aspirações, pois não se deve supor que o Segundo Céu seja desprovido de cor porque foi chamado de região do som. Tanto a cor quanto à forma existe lá, assim como no Mundo Físico, mas o som é a característica predominante do Mundo do Pensamento. A cor é mais acentuada no Mundo do Desejo e a forma, no Mundo Físico, embora também seja verdade que as cores e formas do Segundo Céu sejam muito mais bonitas do que em qualquer um dos outros dois Mundos.
Já falamos sobre esse processo de lamentação no Purgatório e assimilação da parte boa e duradoura extraída das experiências da vida passada como se fosse um processo negativo ou passivo e muitos Estudantes têm a ideia de que a existência no Segundo Céu seja uma experiência sonhadora e ilusória. Nada poderia ser mais errado, porque as atividades reais da vida, no Céu, são múltiplas. O ser humano não apenas revê ou vive seu passado, mas também prepara ativamente o seu futuro.
Costumamos falar sobre evolução, mas alguma vez analisamos o que é responsável pela evolução ou por que ela não para na estagnação? Se o fizermos, deveremos perceber que existam forças por trás do visível que sejam responsáveis pela alteração da flora e da fauna, das mudanças climáticas e topográficas que acontecem constantemente; surge então uma questão natural: o que ou quem são as forças ou agentes na evolução?
Claro, estamos bem cientes de que os cientistas dão certas explicações mecânicas. Eles merecem grande crédito; eles realizaram muito, quando levamos em consideração que a ciência seja apenas uma criança e tenha somente cinco sentidos e instrumentos engenhosos sob seu comando. Suas deduções são maravilhosamente verdadeiras, mas isso não quer dizer que não possa haver causas subjacentes que ela ainda não possa perceber e que dão uma compreensão mais completa do assunto do que a simples explicação mecânica permite. Uma ilustração irá elucidar este assunto.
Dois homens estão conversando quando, de repente, um derruba o outro. Aí temos uma ocorrência, um fato, e podemos explicá-lo mecanicamente dizendo: “Eu vi um homem contrair os músculos do braço, dirigir um golpe contra o outro e derrubá-lo”. Essa é uma versão verdadeira, até onde pode; no entanto, o cientista ocultista veria também o pensamento raivoso que inspirou o golpe e estaria oferecendo uma versão mais completa, caso dissesse que o homem foi derrubado por um pensamento, porque o punho fechado foi apenas o instrumento irresponsável da agressão. Sem a força impulsora do pensamento raivoso, a mão teria permanecido inerte e o golpe nunca teria sido desferido.
Portanto, o cientista ocultista liga todas as causas à Região do Pensamento Concreto e narra como são ali geradas por Espíritos humanos e sobre-humanos.
Lembrando que os arquétipos criadores de tudo o que vemos no Mundo visível estejam no Mundo do Pensamento, que é o reino do som, estamos preparados para entender que as forças arquetípicas estejam constantemente trabalhando por meio desses arquétipos que, então, emitem determinado som ou, onde vários deles se reúnem para criar uma espécie de planta, animal ou formas humanas, diferentes sons que se fundem em um grande acorde. Esse som ou acorde único, conforme o caso, é então a nota-chave da forma assim criada e, enquanto soar, a forma ou a espécie vai perdurar; quando cessa, a forma individual morre ou a espécie é extinta.
Uma confusão de som não é música mais do que palavras agrupadas ao acaso são uma frase; entretanto, o som ordenadamente rítmico é o construtor de tudo o que existe, como João diz nos primeiros versos do seu evangelho: “No princípio era a VERBO […] e sem ela nada foi feito”; também, “o Verbo se fez carne”.
Assim, vemos que o som seja o criador e sustentador de todas as formas e, no Segundo Céu, o Ego se torna uno com as forças da natureza. Com elas, ele trabalha sobre os arquétipos da terra e do mar, da flora e da fauna para provocar as mudanças que alteram gradualmente a aparência e as condições da Terra; assim, garante um novo ambiente feito por ele mesmo, onde poderá colher novas experiência.
Ele é dirigido em seu trabalho por grandes mestres pertencentes às Hierarquias Criadoras, que são chamados de Anjos, Arcanjos ou outros nomes, e são os ministros de Deus. Eles o instruem, então e conscientemente, na divina arte da criação, tanto no que se refere ao mundo quanto aos objetos nele. Eles o ensinam como construir uma forma para si mesmo, dando-lhe os chamados “Espíritos da Natureza” como auxiliares e, assim, o ser humano está trabalhando em seu aprendizado para se tornar um criador, toda vez que vai para o Segundo Céu. Lá, ele constrói o arquétipo da forma que posteriormente vai exteriorizar com o nascimento.
Em uma palestra anterior, falamos sobre os quatro Éteres e dissemos que as forças de assimilação atuam sobre o Éter Químico. Os Egos nos Mundos celestes são essas forças e, portanto, as próprias pessoas que chamamos de mortas são aquelas que constroem nossos corpos e ajudam a viver. Podemos também notar que ninguém possa ter um Corpo Denso melhor do que aquele que pode construir. Se cometemos erros no Céu, descobrimos quando usamos um corpo defeituoso na Terra e, dessa forma, aprendemos a corrigir a falha para não errar na próxima vez.
Isso traz à mente uma fase interessante da Lei de Consequência, como no caso dos Egos que requerem um corpo de construção peculiar, como os músicos, onde não só a mão, mas também os ouvidos têm que ser especialmente ajustados para que seus três canais semicirculares apontem com a maior precisão possível para as três dimensões do espaço e o órgão de Corti[11] devem ser excepcionalmente delicadas; tal instrumento não pode ser formado apenas da matéria-prima pertencente ao Ego; portanto, este deve nascer em uma família onde outros construíram em linhas semelhantes e isso nem sempre é encontrado.
Supondo, então, que uma ocasião ofereça essa chance 100 anos antes do momento em que tal Ego devesse renascer e os Anjos do Destino, os encarregados da administração da Lei de Consequência, vejam que outra oportunidade não ocorrerá por talvez 300 anos, o Ego poderá então nascer 100 anos antes do tempo programado e essa perda de tempo no Céu será compensada em outra ocasião. Assim, vemos que os vivos e os chamados mortos estejam constantemente agindo e reagindo uns aos outros, enquanto viajam ao longo do caminho da evolução.
Tendo assim progredido através do Segundo Céu, o Ego finalmente retira-se do seu invólucro mental, sua vestimenta lá, e, inteiramente livre, desimpedido, entra no Terceiro Céu, o ponto mais alto que possa ser atingido pelo ser humano em seu atual estágio de desenvolvimento.
Durante a vida no Mundo Físico, o Ego humano trabalha por meio de seus quatro veículos, ou seja: os Corpos Denso, Vital, de Desejos e a Mente, todos eles estando conectados um ao outro pelo Cordão Prateado. À noite, o Ego se retira para os Mundos internos, levando consigo a Mente e o Corpo de Desejos, deixando os Corpos Denso e Vital deitados sobre o leito. O Ego primeiro produz um ritmo harmonioso para a Mente e para o Corpo de Desejos. Eles então atuam sobre o Corpo Vital e esse começa a restaurar a saúde, a vitalidade dos átomos físicos, que estão cansados e gastos.
Essa restauração só pode ser feita durante o tempo em que o Corpo de Desejos e a Mente são removidos, porque são suas as atividades que usam a energia física durante o dia e para que o Corpo Vital possa ser liberado e reconstruir este veículo físico, exausto, o Ego e os dois veículos superiores (o Corpo de Desejos e a Mente) separam-se dos dois veículos inferiores, mas permanecem unidos a eles pelo Cordão Prateado. Na morte, quando o Corpo Denso não pode mais se manter em seus veículos superiores, quando a desintegração deve ocorrer, o Ego é forçado a desocupar a casa feita de barro que ele construiu e usou por um determinado período de tempo, na qual aprendeu muitas lições úteis e edificadoras para sua alma. Chegou agora a um período no caminho da evolução em que o Ego deve ter tempo para assimilar as lições que foram aprendidas enquanto funcionava no mundo da matéria. A morte é para a alma o que o sono é para o Corpo Denso: um tempo de descanso e recuperação para que o Ego extraia dessas experiências maior poder anímico.
Quando a morte ocorre, o Ego deixa o Corpo Denso por meio das suturas parietal-occipital, mas em vez de o Corpo Vital permanecer com o Corpo Denso, como é o caso durante o sono, ele também deixa o Corpo Denso, junto ao Corpo de Desejos e à Mente, pois o trabalho do Ego no Corpo Denso está concluído para esta vida na Terra. O Corpo Vital agora tem um trabalho diferente a fazer; não é mais necessário manter saudáveis os átomos físicos.
Na morte, os Corpos Vital, de Desejos e a Mente são vistos deixando o Corpo Denso pela cabeça. O Ego, que está deixando sua prisão terrestre para que ela apodreça, leva consigo seu mais querido pertence, o Átomo-semente, a única parte do Corpo Denso que não pode morrer e que ele traz de volta a cada vida na Terra. Durante uma vida na Terra, existe um minúsculo átomo no ápice do ventrículo esquerdo do coração que é chamado de Átomo-semente permanente. Esse Átomo-semente do veículo físico tem sido usado como o núcleo para o Corpo Denso, desde que o Ego adquiriu seu veículo físico. Quando falamos de um Átomo-semente permanente, não queremos dizer que o átomo físico seja usado, mas que as forças que fluem através dele são usadas. Essas forças permanecem com o Ego por meio dos renascimentos ou até que esse Ego em particular tenha concluído sua evolução no Mundo Físico e, assim, elas serão transferidas para o Átomo-semente do Corpo Vital, que se torna o Átomo-semente permanente da próxima vida.
Voltando à nossa discussão sobre o Ego, ao deixar seu Corpo Denso, no evento que é denominado “morte”, descobrimos que o Ego está passando por um período muito vital, extremamente importante. Amigos e parentes devem ter muito cuidado para que seu ente querido esteja livre de excitação, tristeza ou perturbações de qualquer tipo: o corpo não deve ser mutilado e fluidos de embalsamamento não devem ser usados até 84 horas (3 dias e meio) após o Ego ter deixado de funcionar no corpo. A razão para isso será esclarecida a seguir.
Quando a morte chega, há uma ruptura do Cordão Prateado do qual fala a Bíblia no capítulo 12 do Livro de Eclesiastes no versículo 6[12]. Esse Cordão mantém os veículos superiores e inferiores juntos; na morte, a ruptura ocorre no coração, o que faz com que esse órgão pare de bater. Quando isso ocorre, o Ego e seus três veículos, o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente são vistos pelo Clarividente flutuando sobre a cabeça do Corpo Denso por até três dias e meio. Durante tal período, o Ego está empenhado em revisar as cenas da vida que acabou e foram gravadas no Átomo-semente permanente do coração. Essas impressões foram deixadas no Átomo-semente pelo sangue. Também somos ensinados pela Bíblia que o Ego está no sangue. O sangue é o veículo direto do Ego.
O coração e os pulmões são os únicos órgãos pelos quais passa todo o sangue do corpo do ser humano em cada ciclo e o coração é a fortaleza do Ego humano. Enquanto o sangue corre pelo coração, as cenas de cada momento que passa são carregadas pelo sangue e gravadas no minúsculo Átomo-semente. Esse Átomo-semente também está impregnado com as experiências de todas as vidas passadas e dele muitas impressões vêm ao ser humano: elas lhe ensinam a diferença entre o bem e o mal e, assim, tornam-se sua consciência.
Agora, a razão pela qual afirmamos ser necessário que a quietude reine na casa onde a morte aconteceu é a seguinte. O Corpo Vital é o veículo usado imediatamente após a morte para transferir as impressões do Átomo-semente do coração para o Átomo-semente do Corpo de Desejos. Durante esse período de trabalho, o Cordão Prateado não está rompido. Por isso, o Ego ainda está consciente dos seus veículos, sentindo e sofrendo até certo ponto, quando o corpo é mutilado. Quando o Ego é perturbado durante essa transferência, as impressões são vagamente gravadas e ele, ao retornar à Terra pelo renascimento, na próxima encarnação, não traz consigo um senso de consciência tão aguçado como poderia ser, caso a gravação tivesse sido bem definida, porque no Mundo do Desejo não foi capaz de sentir remorso pelas más ações nem alegria pelos bons atos tão intensamente como sentiria, se não tivesse sido perturbado.
Quando o panorama é totalmente gravado no Corpo de Desejos, o Cordão Prateado se rompe e o Ego está livre da sua casa terrena. O Corpo Denso deve então ser cremado, pois a cremação libera o Ego rapidamente e oferece um método mais higiênico para a sua eliminação.
Esperamos que a Humanidade logo desperte para o cuidado adequado de seus mortos e tenhamos uma ciência da morte, assim como uma do nascimento. É importante que a pessoa que tem conhecimento dos danos decorrentes do manuseio incorreto do corpo, em caso de morte, tenha por escrito as instruções que ela própria deseja que sejam cumpridas.
Um formulário está disponível, explicando o método Rosacruz para o cuidado do Corpo Denso imediatamente após a morte. Eis o procedimento que o seguidor dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental aceita como necessário para a transição adequada rumo à vida após a morte. Veja abaixo:
EM CASO DE MORTE, eu, ___________________________________, CPF:___________________ residente no endereço:____________________
______________________________________________________________,
FAÇO MEU ÚLTIMO PEDIDO; que o procedimento da Fraternidade Rosacruz seja realizado na disposição do meu Corpo físico. Esse pedido é feito por causa da MINHA CRENÇA NOS ENSINAMENTOS ROSACRUZES. Se a morte ocorrer entre estranhos, eles irão gentilmente se comunicar imediatamente com as seguintes pessoas, que são solicitadas a seguir estas instruções, quanto ao método:
NOME: ______________________________________________________________
DADOS PARA CONTATO:______________________________________
NOME: ______________________________________________________________
DADOS PARA CONTATO:_______________________________________
NOME: ______________________________________________________________
DADOS PARA CONTATO:_______________________________________
Assinado:___________________________________
Atestado por:___________________________________________________________
Local e Data:___________________________________________________
MÉTODO:
O embalsamamento NÃO deve ser realizado de forma alguma durante esse período de 3 dias e meio.
O suicida, ao tentar fugir da vida, só descobre que está vivo como sempre, em uma situação das mais lamentáveis. Ele é capaz de observar aqueles a quem decepcionou, e talvez desonrou, com seu ato e, o que é o pior, ele tem uma sensação indescritível de estar “vazio”. A razão para isso é a seguinte.
Quando o Ego está descendo dos Elevados Planos espirituais para renascer, ele é ajudado pelas Hierarquias Criativas a construir o arquétipo do seu próximo corpo e infundir nesse arquétipo uma vida que durará o número de anos que a pessoa normalmente viveria. Esse arquétipo tem um movimento vibratório e musical ou cantante que atrai o material do mundo físico para dentro dele e faz com que todos os átomos do corpo vibrem em sintonia com um pequeno átomo do coração chamado de Átomo-semente, que, como um diapasão, fornece o tom para todo o resto do material no corpo. No momento em que a vida plena foi vivida na Terra, as vibrações do arquétipo cessam, o Átomo-semente é retirado, o Corpo Denso começa a se decompor e o Corpo de Desejos, onde o Ego funciona no Purgatório e no Primeiro Céu, assume a mesma forma do Corpo Denso. Então o ser humano começa seu trabalho de expiar os hábitos e atos negativos no Purgatório e assimilar o bem de sua vida no Primeiro Céu.
O que foi dito anteriormente descreve as condições normais, quando o curso da natureza não é perturbado; no entanto, o caso do suicídio é diferente. Ele tirou seu átomo-semente, mas o arquétipo ainda continua vibrando. Portanto, ele sente como se estivesse “oco” e experimenta uma sensação dolorosa por dentro, que pode ser comparada às pontadas da fome intensa ou a uma dor de dente por todo o corpo. Todo o material para a construção de um Corpo Denso está ao seu redor, mas faltando-lhe o átomo-semente, é impossível para ele assimilar essa matéria e construir um corpo. Essa terrível sensação de “vazio” dura tanto quanto sua vida normal deveria durar.
Assim, a Lei de Causa e Efeito lhe ensina que é errado faltar à Escola da vida e que isso não pode ser feito impunemente. Então, na próxima vida, quando as dificuldades assolarem seu caminho, os sofrimentos resultantes do suicídio anterior impedirão uma recorrência e permitirão que ele passe por experiências de vida que contribuem para o crescimento de sua alma.
À primeira vista e do ponto de vista das pessoas não versadas nos ensinamentos do ocultismo, a eutanásia parece merecer elogios. A maioria das pessoas, ao ver um animal sofrendo agonias, além da esperança de recuperação, sente-se impelida por instintos humanos a acabar com sua miséria e perguntas como estas surgem: “Por que não devemos fazer o mesmo por nossos semelhantes?”; “Por que devemos mantê-los vivos, sofrendo de forma excruciante talvez por meses ou anos, quando sabemos que não tenham chance de recuperar a saúde e que estejam procurando, ansiando pela morte para acabar com sua dor?”. Essas perguntas parecem, do ponto de vista comum, pedir aceitação. No entanto, quando temos conhecimento da Lei de Consequência e temos a certeza de que o que semearmos nós vamos colher, se não for nesta vida, então em alguma existência futura, a questão aparece sob uma luz diferente.
Não podemos escapar de nossas justas obrigações. O sofrimento que vem a nós é necessário para nos ensinar alguma lição ou suavizar nosso caráter. A única maneira de encurtar esse sofrimento é nos esforçarmos para entender por que estamos na condição que nos causa dor. Se for câncer de estômago, como abusamos desse órgão? Por excesso de comida de natureza inadequada ao nosso organismo? Temos “alimentado” nossa consciência com emoções egoístas ou pensamentos negativos? Nosso coração nos está causando problemas? Quantas vezes perdemos a paciência e nos enfurecemos como loucos, colocando uma tremenda pressão sobre essa parte do corpo? Ou outros órgãos do nosso sistema estão fracos e debilitados? Podemos ter certeza de que, nesta vida ou em anterior, vivemos de maneira que os efeitos encontraram manifestação em nossas doenças físicas particulares. Do contrário, não estaríamos sofrendo agora e quanto mais cedo levarmos a lição a sério, começando a viver uma vida melhor que esteja em harmonia com as leis da natureza que violamos, mais cedo nosso sofrimento cessará.
Está sempre ao nosso alcance alterar as condições da nossa vida, embora claramente não possamos consertar em um dia o que demoramos anos ou vidas para quebrar; contudo, certamente não há outra maneira pela qual uma cura permanente possa ser efetuada. Mesmo que agora, pela promulgação de uma lei que apoia a eutanásia (ou o que é erroneamente chamado de “morte por misericórdia”), o sofrimento seja reduzido, podemos ter a certeza de que, quando a pessoa assim libertada do seu corpo renascer, seu novo veículo terá a tendência de desenvolver a mesma doença da qual ela escapou de maneira tão inconveniente.
Além disso, como foi completamente explicado em “O Conceito Rosacruz do Cosmos”, nosso Corpo Denso é formado no Mundo do Pensamento como um molde ou padrão invisível que é chamado de arquétipo; enquanto esse arquétipo persistir, nosso Corpo Denso permanecerá vivo. Quando a morte ocorre por causas naturais, ou mesmo nos chamados acidentes (que geralmente não são acidentes, mas eventos usados para encerrar uma vida de acordo com o desígnio dos guardiões invisíveis dos assuntos humanos), o arquétipo é rompido e o Espírito é libertado. Um suicídio, entretanto, é diferente. Nesse caso, o arquétipo persiste após a morte por vários anos até que essa ocorresse de acordo com os eventos naturais; assim, incapaz de atrair para si os átomos físicos, ele transmite ao suicida durante aqueles anos de sua existência pós-morte um sentimento contínuo de dor, algo como uma fome torturante ou uma dor de dente incômoda, mas extremamente dolorosa, no corpo inteiro. Se a eutanásia se tornasse uma lei e as pessoas pudessem obter os serviços de outras para cometer suicídio (pois é isso que realmente significa), não haveria dúvida de que elas sofreriam em sua existência pós-morte da mesma maneira que o suicida que prescreveu seu próprio veneno ou cortou a própria garganta. A legalização da eutanásia também seria perigosa em outros aspectos e acreditamos que nenhuma prática assim será sancionada por lei.
FIM
[1] N.T.: é uma península barrier de aproximadamente 9,7 km por 800 m, em Middletown, Monmouth County, no leste do estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos.
[2] N.T.: A sequoia-gigante é a maior árvore do mundo em termos de volume. Ela atinge em média de 85 – 115 m de altura, e 8–13 m em diâmetro. A sequoia-gigante mais velha conhecida possui 4.650 anos de idade.
[3] N.T.: A Medusa, na mitologia grega, era um monstro ctônico do sexo feminino
[4] N.T.: Sócrates (c. 469 a.C.-399 a.C.) foi um filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga. Creditado como um dos fundadores da filosofia ocidental
[5] N.T.: Herbert Spencer (1820-1903) foi um filósofo inglês e um dos representantes do liberalismo clássico.
[6] N.T.: Georges Cuvier (1769-1832) foi um naturalista e zoologista francês da primeira metade do século XIX, é por vezes chamado de “Pai da Paleontologia”. Foi uma figura central na investigação em história natural na sua época, comparou fósseis com animais vivos criando assim a Anatomia Comparada.
[7] N.T.: A paresia é a disfunção ou interrupção dos movimentos de um ou mais membros: superiores, inferiores ou ambos e conforme o grau do comprometimento ou tipo de acometimento fala-se em paralisia ou paresia.
[8] N.T.: Alexandre III da Macedônia (português europeu) (356 a.C.-323 a.C.), comumente conhecido como Alexandre, o Grande ou Alexandre Magno foi rei (basileu) do reino grego antigo da Macedônia.
[9] N.T.: Hb 12:6
[10] N.T.: Edwin Arnold (1832-1904), foi um poeta e jornalista britânico.
[11] N.T.: ou “órgão espiral” é o órgão sensorioneural da cóclea, ou seja, é parte da cóclea, da orelha interna. É um composto de células sensoriais (células ciliadas) e fibras nervosas que fazem sinapse entre si, além de estruturas anexas e de suporte. O órgão foi nomeado em homenagem ao anatomista italiano Marquês Alfonso Giacomo Gaspare Corti (1822-1876), que conduziu a pesquisa microscópica do sistema auditivo dos mamíferos e o descobriu em 1850. Esse órgão é encontrado apenas em mamíferos. Nos humanos, o órgão de Corti se desenvolve da 9ª semana à 30ª semana de gestação. O órgão de Corti é a estrutura que transforma a energia mecânica, que chega da orelha média, para energia elétrica. As vibrações mecânicas se tornam ondas de pressão hidráulica que se propagam pela endolinfa, gerando um potencial de ação que é transmitido pela via auditiva para que se processe o som nos centros auditivos do tronco encefálico e do córtex cerebral.
[12] N.T.: “Antes que o fio de prata se rompa e o copo de ouro se parta…”
Pergunta: Alguns dias atrás, estava no escritório quando um dos nossos membros mais radicais recomendou com insistência a concessão de uma bolsa de estudos para um moço de poucos recursos que a tinha ganhado previamente, quando ainda era jovem demais para recebê-la legalmente e que, tendo ficado doente na época em que deveria submeter-se ao determinado exame, perdera a bolsa para outro. Contudo, a banca de examinadores da Inglaterra julgou que ele tinha direito moral a essa bolsa.
Ouvindo o debate, alguém sentado ao meu lado tocou-me de leve e disse: “Olhe o Sr. Mac!”. Olhei na direção apontada e lá estava o Sr. Mac, da Faculdade “Masters”, atrás do Secretário de Estado, ouvindo o debate atentamente. Disse à pessoa que o Sr. Mac e eu fôramos colegas na escola e que não o via há vários anos, embora ele não parecesse ter envelhecido.
Depois do Secretário de Estado ter-se pronunciado, o Sr. Mac saiu. Pensei que provavelmente esse moço fosse um de seus preferidos, já que se afastara das suas tarefas na Faculdade para acompanhar o debate.
Alguns dias mais tarde fui visitar uma amiga que morava fora da cidade e, durante a nossa conversa, contei-lhe a respeito do debate. Imaginem minha surpresa, quando ela me disse que o Sr. Mac estava morrendo quando eu pensara vê-lo! Disse-lhe que ela estava enganada, pois alguém o apontara para mim e eu o conhecia muito bem para ter-me confundido. “Bem”, disse ela, “entre no quarto ao lado e verá por si mesmo”. Fui e sobre a cama jazia o meu antigo colega de classe, o Sr. Mac, muito magro, esperando pelo fim. Ele ouvira a minha conversa e mostrou-se interessado, mas não achei que estivesse em condições de ouvir tudo outra vez. Isso foi em um sábado à tarde. Prometi voltar no dia seguinte, no domingo, e contar-lhe o que acontecera; porém essa oportunidade me foi negada. Ele morreu na segunda-feira.
Como um moribundo, igual ao deste caso, poderia surgir com a aparência de um homem em pleno vigor físico? Pode alguém ver fantasmas de pessoas vivas?
Resposta: Sim; realmente, há um número considerável de casos de fantasmas de pessoas vivas. A única condição necessária é que o corpo esteja em um estado de sono profundo ou inconsciência como ocorre, geralmente, quando a pessoa está à beira da morte. Isso pode suceder durante um afogamento, uma queda de cavalo, um acidente de carro ou outras situações similares, ao receber uma pancada na cabeça ou ainda no leito de morte, quando o Corpo Denso está definhando, tendo chegado a um estado extremo de fragilidade e fraqueza, a exemplo do fato mencionado pelo nosso correspondente. Nesse caso, a maior parte do Éter que constitui o Corpo Vital pode ser retirado do veículo físico, que se encontra em condição semelhante à do transe, que pode durar apenas alguns minutos. Entretanto, como o espaço não representa um obstáculo nos Mundos invisíveis, o desejo da pessoa, momentaneamente liberado, pode transportá-la até o fim do mundo e fazê-la aparecer diante de um ente querido a milhares de quilômetros do lugar onde está o seu Corpo Denso.
É bem mais fácil para esse Espírito se materializar do que para aqueles que já deixaram o Corpo Denso após a morte, porque esses fantasmas dos vivos têm o Cordão Prateado ainda intacto — a ligação com o Átomo-semente, no coração, não foi rompida. Assim, é bem possível que o jovem, cuja bolsa de estudos estivesse sendo discutida, fosse um favorito do Sr. Mac, como o supôs o nosso correspondente. Por isso, ao se sentir liberado por uma perda do sentido naquela tarde, seu desejo de se restabelecer e assumir suas atividades na Faculdade o levou a vagar pelos locais familiares e ouvir o debate a respeito do direito do rapaz de receber a bolsa de estudos.
Quanto à pergunta, “Como um homem que esteja claramente morrendo pode aparecer em pleno vigor físico?” podemos afirmar que há uma Lei no Mundo do Desejo que estabelece o seguinte: “O ser humano é aquilo que ele acredita ser” — literalmente, sem restrições. Se pensa ser idoso, acabado e decrépito, ele molda essas características ao seu veículo e aparece assim diante de todos os outros. Contudo, o cavalheiro em questão estava evidentemente planejando recuperar a saúde e o vigor para poder reassumir o seu trabalho. Consequentemente, apareceu perfeitamente saudável para quem o viu.
(Pergunta nº 16 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas” – Vol. II – Fraternidade Rosacruz – Max Heindel)
Pergunta: Admite-se, geralmente, que cada Alma individual teve um princípio, mas está de tal forma constituída que seja imperecível. Essa ideia foi questionada por alguém que acredita que a morte seja o fim de tudo. Gostaria de encontrar algum argumento ou passagem da Bíblia que possa convencê-lo do seu erro. Poderiam me ajudar?
Resposta: Embora haja várias maneiras possíveis de demonstrar que a morte não seja o fim de tudo, receamos que não existam argumentos que possam convencer alguém que não queira ser convencido. Recordam-se da parábola de Cristo a respeito do homem rico e de Lázaro? Quando o homem rico pediu que Lázaro retornasse dentre os mortos a fim de avisar os seus irmãos, Cristo disse: “Se eles não acreditam em Moisés e nos profetas, não acreditarão também que alguém ressuscite dentre os mortos.” (Lc 16:31). Esse é o problema. Ouvimos alguns “cientistas” dizerem que, mesmo que vissem um fantasma, não se convenceriam da existência de uma vida após a morte, pois tendo eles, baseados na razão e na lógica estabelecidas por eles próprios, chegado à conclusão de que não existam fantasmas, considerariam estar sendo vítimas de uma alucinação qualquer, se realmente chegassem a ver tal aparição.
Tampouco é possível indicar declarações tiradas da Bíblia. A palavra “imortal” não é encontrada no Antigo Testamento. Aqui lemos: “Morrendo, morrerás”; e uma longa vida era concedida como recompensa pela obediência. Essa palavra também não é encontrada nos quatro Evangelhos, mas nas Epístolas de São Paulo ela é citada seis vezes. Em uma passagem, ele fala que o Cristo trouxe à luz a questão da imortalidade através do Evangelho. Em outra, ele nos diz que: “Este corpo mortal deve ser revestido de imortalidade”. Na terceira passagem, ele torna claro que essa imortalidade seja conferida àqueles que a procuram. No quarto trecho, ele fala da nossa condição: “E quando este corpo mortal revestir-se de imortalidade”. No quinto, declara: “Somente Deus possui a imortalidade”. A sexta passagem é uma adoração ao Rei Eterno, Imortal e Invisível. Assim, a Bíblia não ensina que a Alma seja imortal; contudo, e por outro lado, ela diz enfaticamente: “A Alma que pecar deve morrer”.
Se a Alma fosse inerente e intrinsecamente imperecível, isto seria uma impossibilidade. Nem podemos provar a imortalidade baseados em passagens da Bíblia, como a de Jo 3:16, “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Se nos basearmos nessas palavras para provar que a Alma seja imortal, dotada de vida eterna, teremos que aceitar, também, as passagens que citam que as Almas estejam fadadas a um suplício eterno, como é afirmado por algumas das seitas ortodoxas. No entanto, na realidade, essas passagens não provam a existência de uma felicidade ou suplício eterno. Se recorrermos ao dicionário grego de Liddel e Scott e procurarmos o termo, veremos que foi traduzido por “eterno” na Bíblia a palavra grega “aionian”, que significa “algum tempo”, “uma era”, “um curto período”, “uma vida”. Vemos isso imediatamente na Carta de São Paulo a Filemon, quando lhe devolve o escravo Onésimus: “Talvez tenha sido bom que o perdesses por algum tempo, para que retornasse a ti para sempre”. Essas palavras, “para sempre”, só poderiam significar os breves anos que duraria a vida de Onésimus na Terra e não uma duração infinita.
Então, qual é a solução? A imortalidade é apenas uma utopia criada pela imaginação e incapaz de ser provada? De nenhuma forma. Entretanto, devemos diferenciar nitidamente entre a Alma e Espírito. Essas duas palavras são consideradas, na maioria das vezes, sinônimos; entretanto, não são. Temos na Bíblia a palavra hebraica ruach e a palavra grega pneuma, ambas significando Espírito, enquanto a palavra hebraica neshammah e a palavra grega psike significam Alma. Além disso, temos a palavra hebraica nephesh, que significa sopro; porém foi traduzida por vida em alguns trechos e por Alma em outros, conforme isso se adequava aos propósitos dos tradutores da Bíblia. É isso que cria a confusão. Por exemplo, é-nos dito no Gênesis que Jeová criou o homem a partir do pó da terra, soprou em suas narinas a vida (nephesh) e ele se tomou uma criatura vivente (nephes chayim), mas não uma Alma vivente.
A respeito da morte, diz o Ecl 3:19-20 e outros trechos que não há diferença entre o homem e o animal: “Do mesmo modo que morre o homem, assim morre também o outro o animal: todos respiram do mesmo sopro” (nephesh, novamente). Desse modo é mostrado que o “homem” não ocupa um lugar privilegiado em relação à fera e que todos caminham para o mesmo lugar. Mas há uma distinção bem definida entre o Espírito e o corpo, pois é dito que: “Quando o Cordão Prateado se rompe, o corpo volta para a terra, de onde veio, e o Espírito volta para Deus, que o deu”. A palavra morte em trecho nenhum está ligada ao Espírito e a doutrina da imortalidade do Espírito é ensinada de forma contundente pelo menos uma vez na Bíblia, em Mt 11:14, onde o Cristo disse a respeito de São João, o Batista: “Este é Elias”. O Espírito que animou o corpo de Elias renasceu como São João, o Batista. Ele deve ter sobrevivido à morte corporal e ter tido acesso à continuidade da vida, portanto.
Quanto a ensinamentos mais profundos e definidos a respeito desse assunto, precisamos recorrer ao místico. No Conceito Rosacruz do Cosmos aprendemos que os Espíritos Virginais, enviados para o deserto do mundo como chispas de luz da Chama Divina, que é o nosso Pai no Céu, primeiro se submeteram a um processo de involução na matéria, cada chispa se cristalizando em um Tríplice Corpo. Então, a Mente foi dada e se tornou o sustentáculo sobre o qual a involução passou para evolução. A Epigênese, habilidade criadora, divina e inerente ao Espírito interno, é a alavanca por meio da qual o Tríplice Corpo se espiritualiza, torna-se Tríplice Alma e é amalgamada com o Tríplice Espírito, constituindo-se a Alma o extrato da experiência por meio do qual o Espírito é alimentado, passando da ignorância para a onisciência, da impotência à onipotência, tornando-se, desse modo, finalmente, semelhante ao seu Pai Celestial.
É impossível, devido às nossas atuais capacidades limitadas, conceber a grandiosidade dessa missão, mas conseguimos entender que estejamos muito, muito longe da onisciência e da onopotência, de forma que isso deve requerer ainda muitas vidas. Por essa razão, frequentamos a escola da vida exatamente como a criança frequenta as nossas escolas. E, da mesma forma que noites de descanso se intercalam entre os dias escolares, noites de morte também se intercalam entre os dias, na Escola da Vida. A criança retoma os seus estudos a cada dia, a partir do ponto em que os deixou no dia anterior. E nós também, voltando a renascer, retomamos as lições de vida no ponto em que paramos na nossa existência prévia.
Se a pergunta fosse “por que não nos lembramos das nossas existências prévias, se é que as tivemos”, a resposta seria fácil. Não nos lembramos do que fizemos um mês atrás, um ano ou alguns anos. Como poderíamos lembrar coisas que remontam há tanto tempo? Tínhamos um cérebro diferente sintonizado com a consciência da vida anterior. Contudo, há pessoas que lembram de suas existências passadas e muitas outras estão cultivando essa faculdade a cada ano, pois ela está latente em cada ser humano.
Contudo, como São Paulo diz tão apropriadamente no décimo quinto capítulo da Primeira Epístola aos Coríntios: “Se os mortos não ressuscitam, é vã a nossa fé e somos nós os mais infelizes de todos os homens”. Por essa razão, o neófito que passou pela porta da Iniciação, adentrando os Mundos invisíveis, é sempre levado à cabeceira de uma criança que esteja prestes a morrer. Ele assiste à saída do Espírito e é solicitado a acompanhar esse Espírito nos Mundos invisíveis, até que procure um novo renascimento. Com esse propósito é que se escolhe, geralmente, uma criança destinada a procurar o renascimento dentro do período de um ano ou dois. Assim, em um período relativamente curto, o neófito verifica, por si mesmo, o modo pelo qual um Espírito passa através do portal da morte e retorna à vida física pelo útero. Então, ele tem a prova. A razão e a fé devem bastar àqueles que não estejam preparados a pagar o preço pelo conhecimento direto, que não pode ser comprado por ouro. Esse preço é pago com o esforço de uma vida.
(Pergunta nº 29 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas” – Vol. II – Max Heindel)
Pergunta: Como os chamados mortos se apresentam em relação às suas roupas externas? Seu pensamento molda a matéria etérica em roupas ou qualquer outra coisa que desejem? Essa conclusão baseia-se no que diz o livro O Conceito Rosacruz do Cosmos acerca do Mundo do Desejo. O Corpo de Desejos assume a forma do Corpo Denso imediatamente após o Cordão Prateado ser rompido?
Resposta: É possível para os chamados mortos moldar com os seus pensamentos qualquer peça de roupa que desejarem. Geralmente, lembram-se de estar vestidos com os trajes típicos do país onde viveram, antes de passarem para o Mundo do Desejo e aparecem assim trajados, sem um especial esforço de pensamento. Contudo, quando começam a desejar algo novo ou uma peça de roupa original, naturalmente têm de usar a força de vontade deles para dar existência a tal peça, que durará o tempo que se imaginar vestido com ela.
Contudo, tal sensibilidade da matéria de desejos referente à força do pensamento modelador é também usada em outras direções. De modo geral, quando uma pessoa abandona este mundo devido a um acidente, ela julga-se deformada, talvez sem uma perna, um braço ou com ferimento na cabeça. Isso não é um inconveniente, pois poderá movimentar-se lá tão facilmente sem braços ou pernas como se os tivesse. Contudo, isso mostra a tendência do pensamento de dar forma ao Corpo de Desejos. No início da guerra, quando um grande número de soldados passou para o Mundo do Desejo com as mais terríveis lesões, os Irmãos Maiores e seus discípulos ensinaram-lhes que, pelo simples fato de manter firme o pensamento, acreditando estar com os membros e o corpo totalmente perfeitos, eles se curariam instantaneamente de suas feridas deformantes. Foi o que fizeram. Atualmente, todos os recém-chegados capazes de entender os fatos lá existentes são logo curados de suas feridas e amputações de forma que, ao olhar para eles, ninguém diria que faleceram em consequência de um acidente no Mundo Físico.
Esse conhecimento propagou-se de tal forma que muitas pessoas que morreram desde então utilizaram-se dessa propriedade da matéria de desejos para, por meio do pensamento, mudar a sua aparência física. Às vezes, os que são muito corpulentos querem aparecer mais esbeltos ou os que são muito magros desejam aparecer mais robustos. Contudo, essa mudança ou transformação não é um sucesso permanente devido ao arquétipo. A carne extra colocada em uma pessoa magra ou a quantidade retirada de alguém corpulento não são permanentes; entretanto, após algum tempo o ser humano que era originalmente magro volta ao seu tamanho original, enquanto a pessoa que tenta perder peso sente recobrá-lo pouco a pouco e precisa passar novamente pelo processo. Acontece algo semelhante com aqueles que tentam moldar suas feições, dando-lhes uma aparência diferente que se harmonize mais com eles do que a que possuíam originalmente. Não obstante, as mudanças relativas às feições duram menos, pois a expressão facial, tanto lá como aqui, indica a natureza da alma; por conseguinte, o que tiver sido falsificado será rapidamente disperso pelo pensamento normal da pessoa.
Quanto à segunda parte da pergunta, podemos dizer que durante a vida física o Corpo de Desejos tem a forma aproximada de uma nuvem ovoide que circunda o Corpo Denso. No entanto, assim que a pessoa adquire consciência no Mundo do Desejo e começa a pensar em si mesma como tendo a forma do Corpo Denso, o Corpo de Desejos passa a assumir tal aparência. Essa transformação é facilitada pelo fato de os dois Éteres superiores do Corpo-Alma, o Luminoso e o Refletor, ainda não estarem com o ser humano, o Ego. Isso se tornará mais claro, se fizermos uma comparação. Lembremo-nos de que, quando o Ego está prestes a renascer, os dois Éteres inferiores, reunidos em volta do Átomo-semente do Corpo Vital, são moldados em uma matriz pelos Anjos do Destino e seus agentes. Essa matriz é colocada no útero da mãe, onde as partículas físicas são implantadas para que formem gradualmente o corpo da criança, que nasce em seguida. Nessa fase, a criança não tem o Corpo-Alma. O que pode existir dos dois Éteres superiores só será assimilado mais tarde na vida e será construído mediante ações boas e verdadeiras. Quando o Corpo-Alma alcança certa densidade, torna-se possível para a pessoa funcionar nele como Auxiliar Invisível e, durante os voos de alma, o Corpo de Desejos molda-se prontamente nessa matriz já preparada. Ao retornar ao Corpo Denso, o esforço de vontade com o qual a pessoa penetra nele dissolve automaticamente a ligação íntima entre o Corpo de Desejos e o Corpo-Alma. Mais tarde, quando a vida no Mundo Físico terminar e os dois Éteres inferiores tiverem sido descartados, juntamente do Corpo Denso, o luminoso Corpo-Alma ou “Dourado Manto Nupcial” permanecerá ainda com os veículos superiores. É nessa matriz que o Corpo de Desejos é moldado em seu nascimento nos Mundos invisíveis. Assim como o corpo da criança foi feito em conformidade com a matriz dos dois Éteres inferiores antes de nascer fisicamente, assim também o nascimento nos Mundos invisíveis, após a morte na Região Química do Mundo Físico, é realizado por uma impregnação com matéria de desejos da matriz formada pelos dois Éteres superiores para organizar o veículo a ser usado naquele mundo.
Todavia, os chamados mortos não são os únicos capazes de moldar assim a matéria de desejos, dando-lhe a forma que lhes agrade. Esse poder é compartilhado por todos os outros habitantes do Mundo do Desejo, incluindo os elementais que usam frequentemente essa faculdade de transformação para assustar ou enganar o recém-chegado, fato que muitos neófitos desoladamente descobriram ao penetrar nesse Reino pela primeira vez. Esses elementais detectam rapidamente quando a pessoa é estranha e ainda não está familiarizada com a natureza do que encontra lá. Regozijam-se em importuná-la, transformando-se nos monstros mais grotescos e aterrorizantes. Fingem atacá-la ferozmente e parecem deleitar-se quando conseguem encurralá-la em um canto, fazendo-a encolher-se de medo enquanto eles permanecem rangendo os dentes como se quisessem devorá-la. No entanto, a partir do momento que o neófito aprende que, na realidade, não há o que possa machucá-lo e que com seus veículos superiores ele esteja totalmente imune a qualquer dano e não possa ser dilacerado ou devorado, basta sorrir para essas inofensivas criaturas e dar-lhes uma ordem severa para que se retirem e dirijam a sua atenção para outro lugar. Agindo assim, elas prontamente o deixam em paz. Aprende a controlá-las segundo a sua vontade, porque nesse mundo todas as criaturas que ainda não estão individualizadas são compelidas a obedecer ao comando de inteligências superiores e o ser humano situa-se entre essas últimas.
Assim, um ser humano pode apossar-se de um elemental e dar-lhe a forma que desejar, fazendo-o cumprir suas ordens. Os seres assim criados por seu poder de vontade e que receberam certa missão obedecerão fielmente às ordens; de acordo com a intensidade aplicada nesse trabalho, a situação durará maior ou menor tempo. Dessa maneira, muitas das chamadas aparições foram criadas e receberam uma incumbência que pode durar séculos, mesmo após o autor ter ido para o superior Mundo Celestial. Essa é provavelmente a origem da “dama branca” que previne os Hohenzollerns (uma das mais importantes e nobres famílias alemãs da Europa) de morte iminente. Ela e outras aparições semelhantes, que causaram tanta especulação, foram criadas pela intensidade extrema do desejo de um ser humano, desejo lançado no Mundo do Desejo sob circunstâncias particularmente dolorosas ou penosas que produziram o feitiço mágico que foi requerido inconscientemente pela própria pessoa.
(Pergunta nº 2 do Livro “Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas” – Vol. II)
Imaginem um lugar bem antigo onde existia um moinho, pessoas que trabalhavam nele, os moeiros, onde existiam guardas que guardavam uma casa.
“Lembra-te do teu Criador, nos dias da juventude, antes que cheguem os dias nefastos e se aproximem os anos dos quais dirás: ‘Não gosto deles! ‘
Antes que se obscureçam a luz do sol, a lua e as estrelas, e voltem às nuvens depois da chuva!
– Naquele dia os guardas da casa começarão a tremer, e os homens robustos a se encurvar; os moleiros, por serem poucos, cessarão de moer, e ficarão embaciados os que olham pelas janelas; as portas sobre a rua se fecharão, e diminuirá o ruído do moinho até tornar-se como o pipiar de um pássaro e extinguir-se o som das canções; haverá medo das alturas e sobressaltos no caminho plano; a amendoeira há de florescer, o gafanhoto engordar, e a alcaparra estalar; então o homem seguirá para a morada eterna, e pelas ruas andarão os carpidores – antes que se solte o fio de prata e se despedace a taça de ouro, quebre-se o cântaro na fonte e se parta a roldana da cisterna; o pó volte a terra, onde estava, e o espírito volte para Deus, seu autor”.
Os parágrafos precedentes podem ser encontrados no capítulo 12 do Livro do Eclesiastes, também conhecido como o “Poema sobre a velhice”.
Ele descreve a simplicidade de sentimentos e apegos que deve envolver esse período de nossa peregrinação nesse Mundo Físico e o seu fim, com a morte, com o término de mais uma peregrinação. Percebam o que envolve o ser humano nesse período: declínio da vida física: “antes que obscureçam a luz do Sol, a Lua e as Estrelas e voltem as nuvens depois da chuva!”.
O Corpo Denso, o físico, começa a fraquejar: “naquele dia os guardas da casa começarão a tremer, e os homens robustos a se encurvar, os moleiros, por serem poucos, cessarão de moer (os sistemas e os órgãos do nosso Corpo Denso), e ficarão embaciados os que olham pelas janelas (os nossos olhos), as portas sobre a rua se fecharão (o nosso cérebro) e diminuirá o ruído do moinho até tornar-se como o pipiar de um pássaro e extinguir-se o som das canções (diminui a importância das coisas externas e que estão ao nosso redor)”.
E o medo que a muitos aparecem nesse período: “haverá medo das alturas e sobressaltos no caminho plano (…) então o homem seguirá para a morada eterna e pelas ruas andarão os carpidores (chega o momento no qual as experiências que o Espírito pode adquirir em seu ambiente atual ficam esgotadas)”.
E, finalmente, a morte como destino final de mais uma passagem por esse Mundo Físico: “antes que se solte o fio de prata (rompimento do Cordão Prateado) e se despedace a taça de ouro (morte do Corpo Denso) (…) o pó volte a terra, onde estava, e o espírito volte para Deus, seu autor”.
Está aí a única certeza dessa vida: a Morte.
Nesse exato momento revemos todos os acontecimentos que ocorreram nessa última peregrinação. É o panorama dessa última existência.
O objetivo desse panorama é a gravação, no Corpo de Desejos, de tudo que aqui fizemos.
E como é feita essa gravação? Durante a nossa existência nesse Mundo Físico, tudo que fazemos é gravado num átomo que permanece durante toda essa nossa existência no coração, mais precisamente próximo a uma região conhecida como ápice, no ventrículo esquerdo do coração. Ele é conhecido como: Átomo-semente do Corpo Denso.
Ao contrário de todos os outros átomos do nosso Corpo Denso que são todos substituídos de 7 em 7 anos, esse Átomo-semente nunca é substituído.
Cada um de nós o carrega o que hoje conhecemos como o Átomo-semente do Corpo Denso, que ganhamos de seres muitos avançados – conhecidos, na Bíblia, como os Tronos e, na terminologia Rosacruz como Senhores da Chama – num passado longínquo conhecido como Período de Saturno.
Esse Átomo-semente é também conhecido como o Livro dos Anjos do Destino, devido a possuir todos os registros dessa nossa existência aqui na Terra e que, devidamente gravados e assimilados, nos ajudarão, posteriormente, junto com os Anjos do Destino, a escolhermos o próximo destino que gostaríamos (e necessitaremos) de viver nas próximas vidas.
Esses registros compõem a Memória Supraconsciente de cada um de nós. Aquela Memória que se encarrega de gravar tudo aquilo que vemos e percebemos ou não. Aquela nossa Memória que parece com uma foto de uma máquina fotográfica. Não importa se na cena que estamos tirando tal foto observamos cada detalhe. A foto terá todos esses detalhes.
Portanto, essa Memória é muito mais completa do que aquela que costumeiramente utilizamos e que conhecemos como Memória Consciente, aquela que utilizamos para ver o que queremos ver e, portanto, lembrar daquilo que nós queremos lembrar.
Está aqui a importância do exercício da observação dado no Conceito Rosacruz do Cosmos. A sua prática melhora sensivelmente a Memória Consciente de modo que aprendemos a ver muito mais do que queremos ver e a lembrar muito mais do que queremos lembrar.
A assimilação da diferença desses dois tipos de Memória que cada um de nós temos, faz-nos entender porque Cristo disse que: “temos olhos, mas não vemos”.
Portanto, as cenas, com seus sentimentos, suas peculiaridades e todos os seus milhões de detalhes, chegam até a esse Átomo-semente por meio do ar, carregado de Éter, que respiramos e, após passar pelos pulmões, chega ao coração através do sangue.
Então, a qualquer momento, temos nesse Átomo-semente do Corpo Denso, todo o panorama dessa última existência até esse instante.
É a gravação desse panorama no Corpo de Desejos que nos dará material para assimilarmos, na nossa passagem nos Mundos Suprafísicos, tudo que aprendemos aqui nessa nossa peregrinação pelo Mundo Físico.
Este momento é de extrema importância para a nossa vida post-mortem. Desta revisão depende toda a nossa existência desde a morte até o nosso novo nascimento.
A duração desse panorama varia de pessoa para pessoa, ou melhor, varia de acordo com a saúde e a força do Corpo Vital. Por exemplo, se o Corpo Vital se encontrar extenuado devido a uma longa enfermidade antes da morte do Corpo Denso, então o panorama pode ter uma duração mais curta.
Outro exemplo de curta duração desse panorama é para aqueles aspirantes à vida superior que fazem sincera e diariamente o Exercício de Retrospecção, todas as noites como indicado no livro O Conceito Rosacruz do Cosmos, de Max Heindel.
Por isso que é importantíssimo durante até 3 dias e meio, após o falecimento, deixarmos a pessoa que acabou de morrer num ambiente sem nenhuma perturbação exterior, sem nenhuma comoção (como por exemplo: choro, lamentações, histerias), num ambiente onde reine a quietude, a paz e a oração.
A atitude correta e que muito ajudará o espírito que acaba de partir, deve ser animadora, esperançosa e encorajadora. O sentimento egoísta de perda deve ser controlado para que o Espírito que acaba de partir seja encorajado a seguir nessa nova jornada.
Ao invés de pensar nesse momento: “O que farei agora sem essa pessoa que perdi? Não sei viver sem ela”, devemos pensar assim: “Torço para que essa pessoa esteja ciente das novas condições que a cercam e consiga desprender-se de tudo isso que a rodeia, desse Corpo Denso que já não mais lhe serve, sem se preocupar por nos ter deixado”.
Afinal a morte não existe. Ou será que o que entendemos por morte não é um novo nascimento nos Mundos Suprafísicos? Como, do mesmo modo, o que entendemos por nascimento é uma nova morte nos Mundos Suprafísicos.
Porque no momento do desprendimento do Espírito de seu Corpo Denso e da revisão dessa sua última existência na Terra, ele está passando o seu Getsemani, que nos fala a Bíblia no Evangelho Segundo São Mateus 26:36-46, e aqui, nesse momento, cada um nós necessita de todo o auxílio que possam nos prestar.
Devemos entender que no momento da morte, a colheita está começando; semeamos a via inteira e colhemos o fruto ao chegar à morte.
O valor de toda essa existência que está prestes a terminar depende grandemente das condições que prevaleçam em torno do corpo.
Durante até os três dias e meio que compõe a passagem do panorama, o Ser Humano sentirá qualquer intervenção no seu Corpo Denso, além de atrapalhar a perfeita assimilação da contemplação desse panorama.
Assim, a cremação, as autópsias, o embalsamento ou qualquer outra intervenção no Corpo Denso durante esses até três dias e meio, não só perturbam mentalmente o espírito que se vai como podem até mesmo causar certa quantidade de dor, porque ainda existe uma ligeira conexão entre ele e o veículo físico abandonado.
Só após ocorrer a revisão desse panorama em sua totalidade é que se rompe o Cordão Prateado, aquele que liga o Átomo-semente do Corpo de Desejos, situado no grande vórtice na posição referida do fígado, ao Átomo-semente do Corpo Denso, situado na posição referida do coração, e que juntos se unem com o Átomo-semente do Corpo Vital, situado na posição referida do Plexo Celíaco.
Aquele que liga os nossos três Corpos e que serve de conexão entre eles durante toda a nossa vida.
Aquele que nos mantém conectados ao nosso Corpo Denso quando, à noite, saímos do nosso Corpo Denso, levando conosco nossos Corpos Suprafísicos.
Portanto, o Cordão Prateado só se rompe após a contemplação de todo o panorama. E isso pode durar até 3 dias e meio após o acontecimento que conhecemos por Morte.
Após o rompimento do Cordão Prateado deixamos o nosso Corpo Denso, levando conosco: o Átomo-semente desse Corpo Denso (ou seja, a quintessência de tudo que o Corpo Denso é), o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente.
A partir desse momento esse Corpo Denso começa a voltar de onde ele foi formado, ou seja, como diz no poema: o pó volte a terra, onde estava.
Portanto, o rompimento do Cordão Prateado determina o fim de mais uma existência no Mundo Físico. E não há nada que o possa restabelecer.
Este panorama é iniciado primeiro por aquilo que acabou de acontecer assim que demos o último alento e assim por diante até chegarmos ao primeiro alento, a primeira respiração que inalamos, quando nascemos nesse Mundo Físico mais uma vez.
Dessa forma gravamos primeiro os efeitos dos nossos atos e depois as causas. Desse modo fica mais fácil, num passo posterior da nossa existência nos Mundos Suprafísicos, entendermos porque cada efeito foi provocado por determinada causa.
Nesse panorama vão passando os acontecimentos e podemos perceber tudo o que fizemos, tudo aquilo que fizemos aos outros, todas as angústias, todas as gratidões, todas as alegrias, todas as tristezas, todas as maldades, todas as bondades, todas as ações, todas as omissões.
Aqui no momento desse panorama temos o primeiro vislumbre que nos dá a certeza de que a finalidade dessa vida é tão somente obter experiências, mostrando que cada vida tem algum fruto a ser colhido.
No momento desse panorama temos o primeiro vislumbre da dificuldade que tivemos ao educar nosso Corpo Denso durante os anos da infância com toda a falta de habilidade; da dificuldade em controlar o Corpo de Desejos no período ardente e impulsivo da juventude, até chegarmos a maturidade, quando então pudemos utilizar verdadeiramente esses veículos para o uso espiritual.
E ainda aqui na maturidade, quantos não percebem essa oportunidade, quantos não conseguem considerar o lado sério dessa existência, e quantos nem começam realmente aprender as lições que determinam o crescimento da nossa alma, quantos passam pela maturidade sem perceber a quantidade enorme de oportunidades que perdem.
E quando percebem é porque estão sofrendo fisicamente, porque seu Corpo Denso já não obedece mais, porque já está definhando, esperando a morte chegar.
Por isso que na nossa presente existência na Terra, devemos viver intensamente, dando-nos tempo de satisfazer todas as nossas ambições ou comprovar sua futilidade, de cumprir todos os nossos deveres, de aprendermos as lições que escolhemos aprender.
Por isso que é imprescindível tentarmos viver uma vida longa e da maneira mais intensa possível.
Cuidarmos muito bem do nosso Corpo Denso, instrumento maravilhoso de aprendizagem nesse Mundo Físico.
Que satisfação terminarmos mais uma existência nesse Mundo Físico com a certeza do dever cumprido!
QUE AS ROSAS FLORESÇAM EM VOSSA CRUZ
Nossa vida aqui, nossa vida lá, nossos poderes aqui, nossos poderes lá
Cedo ou tarde chegará um momento em que a consciência será forçada a reconhecer o fato de que a vida, como a conhecemos, seja passageira e que, em meio a todas as incertezas da nossa existência, haja apenas uma certeza — a Morte!
Quando a Mente é despertada pelo pensamento desse salto no escuro, que em algum momento deve ser tomado por todos, as grandes perguntas — De onde viemos? Por que estamos aqui? Para onde vamos? — devem inevitavelmente surgir. Esse é um problema fundamental com o qual todos devem, mais cedo ou mais tarde, lidar e é da maior importância como resolveremos isso, porque a opinião que adotarmos vai colorir toda a nossa vida.
Somente três teorias dignas de reconhecimento foram apresentadas para resolver esse problema. Para nos situarmos em um dos três grupos da humanidade que foram separados por sua aderência a uma dessas hipóteses é necessário conhecê-las, analisar calmamente, comparar umas às outras e a fatos estabelecidos. A palestra nº 1, publicada no Livro Cristianismo Rosacruz, faz exatamente isso e, concordando ou não com suas conclusões, certamente teremos uma compreensão mais abrangente dos vários pontos de vista envolvidos para podermos formar uma opinião inteligente, quando lermos O Enigma da Vida e da Morte.
Se chegarmos à conclusão de que a morte não acaba com a nossa existência, será muito natural perguntar: onde estão os mortos? Essa questão importante é tratada na palestra nº 2. A lei de conservação da matéria e energia impede a aniquilação, mas vemos que a matéria esteja constantemente mudando do estado visível para o invisível e vice-versa, como, por exemplo, no caso da água que é evaporada pelo sol, parcialmente condensada em forma de nuvem e depois cai de novo na terra, como chuva.
Também a consciência pode existir e não ser capaz de fornecer qualquer sinal disso, como nos casos onde as pessoas foram consideradas mortas, porém acordaram e disseram tudo o que foi falado e feito em sua presença.
Portanto, deve haver um Mundo invisível feito de força e matéria que seja tão independente da nossa cognição quanto a luz e a cor independem do fato de não serem percebidas pelos cegos.
Nesse Mundo invisível, os “mortos” vivem em plena posse de todas as faculdades mentais e emocionais. Vivem aí uma vida tão real quanto a existência aqui, no Mundo visível.
O Mundo invisível é conhecido por meio de um sexto sentido desenvolvido por alguns, mas latente na maioria das pessoas. Pode ser desenvolvido por todos; no entanto, métodos diferentes produzem resultados variados.
Essa faculdade compensa a distância de um modo bem superior aos melhores telescópios e a falta de tamanho é contrabalançada em um grau inacessível ao microscópio mais poderoso. Ela penetra onde o raio-X não pode. Uma parede ou uma dúzia de paredes não são mais densas para a visão espiritual do que o cristal é para a visão comum.
Na palestra nº 3, Visão Espiritual e os Mundos Espirituais, essa faculdade é descrita e a palestra nº 11, Visão e Intuição Espirituais, fornece um método seguro para o seu desenvolvimento.
O Mundo invisível é dividido em diferentes domínios: Região Etérica, Mundo do Desejo, Região do Pensamento Concreto e Região do Pensamento Abstrato.
Essas divisões não são arbitrárias, mas necessárias porque a substância de que são compostas obedece a leis diferentes. Por exemplo, a matéria física está sujeita à lei da gravidade; no Mundo do Desejo, porém, as formas levitam tão facilmente quanto gravitam.
O ser humano precisa de vários veículos para funcionar nos diferentes Mundos, do mesmo jeito que necessita de uma carruagem para andar sobre a terra, de um barco para o mar e uma aeronave para o ar.
Sabemos que ele precisa de um Corpo Denso para viver no Mundo visível. Ele também tem um Corpo Vital, composto de éter, que lhe permite sentir as coisas ao seu redor. Um Corpo de Desejos formado pelos materiais do Mundo do Desejo, o que lhe confere uma natureza apaixonada e o incita à ação. A Mente é formada pela substância da Região do Pensamento Concreto e atua como um freio por impulso: ela dá propósito à ação. O ser humano real, o Pensador ou Ego, age na Região do Pensamento Abstrato, operando sobre, e através de, seus vários instrumentos.
A palestra nº 4 trata das condições normais e anormais da vida como Sono, Sonhos, Transe, Hipnotismo, Mediunidade e Loucura. Os veículos mais refinados mencionados anteriormente são todos concêntricos ao Corpo Denso, no estado de vigília, quando estamos ativos em pensamentos, palavras e ações; contudo, as atividades do dia fazem com que o corpo fique cansado e com sono.
Quando o desgaste causado pelo uso de um edifício torna necessários reparos exaustivos, os inquilinos precisam sair para que os trabalhadores possam ter espaço total para a restauração. Portanto, quando o desgaste do dia esgota o corpo, é necessário que o Ego saia. Essa retirada torna o corpo inconsciente, sendo necessário um trabalho preciso para restaurar seu tom e ritmo. Durante a noite, o Ego paira ao lado de fora do Corpo Denso, envolto no Corpo de Desejos e na Mente. Às vezes, o Ego retira-se apenas parcialmente, tendo uma das metades dentro do corpo e a outra, fora; quando isso ocorre, ele vê o Mundo do Desejo e o Mundo Físico, mas de forma confusa como em um sonho.
O hipnotismo é um ataque mental. A vítima desavisada é expulsa do seu corpo e o hipnotizador obtém o controle. As vítimas do hipnotizador são libertadas com a morte dele, no entanto; mas o médium não tem tanta sorte. Os espíritos que o controlam são realmente hipnotizadores invisíveis. Essa invisibilidade oferece grandes possibilidades de enganar e após a morte eles podem tomar posse do Corpo de Desejos do médium e usá-lo por séculos, impedindo que sua infeliz vítima progrida no caminho da evolução. Essa última fase da mediunidade é elucidada na palestra nº 5, Morte e Vida no Purgatório.
O que chamamos de morte é, na realidade, apenas a mudança de consciência de um Mundo para outro. Temos uma ciência do nascimento com enfermeiras treinadas, obstetras, antissépticos e todos os outros meios de cuidar do Ego que chega; contudo, precisamos muito de uma ciência da morte, pois quando um amigo está saindo da existência concreta, permanecemos impotentes, ignorantes em relação a como ajudar; ou pior, fazemos coisas que tornam a passagem infinitamente mais difícil do que se estivéssemos apenas ociosos. Dar estimulantes é uma das piores ofensas contra os moribundos, porque atrai novamente o espírito ao Corpo Denso e o faz com a força de uma catapulta.
Depois que o coração parou, pela ruptura parcial do Cordão Prateado (que unia os veículos superiores do ser humano aos inferiores durante o sono e, após a morte, permanece indiferente por um tempo que varia de algumas horas a três dias e meio), o espírito ainda pode sentir o embalsamamento do corpo físico, sua abertura para exames post-mortem ou a cremação. Esse corpo não deve, portanto, ser incomodado, porque o Ego que passa de um Mundo ao outro está empenhado em revisar as imagens de sua vida passada (que são vistas em um lampejo por pessoas que se afogam). Essas imagens são impressas diariamente e a cada hora no éter do Corpo Vital, independentemente da nossa observação, assim como uma imagem detalhada é impressa na placa fotográfica pelo éter, ainda que o fotógrafo não tenha observado seus detalhes. Elas formam um registro absolutamente verdadeiro da nossa vida passada, que podemos chamar de Memória subconsciente (ou Mente subconsciente) e é muito superior à visão que armazenamos conscientemente em nossa memória (na Mente).
Sob a imutável Lei da Consequência, que decreta que aquilo que nós semearmos nós colheremos, os atos da vida são a base da nossa existência após a morte. O panorama de uma vida passada é o livro dos Anjos do Destino, os organizadores da partitura que fazemos junto à Lei da Consequência.
A revisão do panorama da vida logo após a morte registra as imagens no Corpo de Desejos, que é o nosso veículo normal no Mundo do Desejo, onde o Purgatório e o Primeiro Céu estão localizados.
Esse panorama é o fundamento da purificação do mal, no Purgatório, e da assimilação de boas ações, no Primeiro Céu. É da maior importância que ele seja profundamente gravado no Corpo de Desejos, porque se a gravação for profunda e clara, o Ego sofrerá mais acentuadamente no Purgatório, e experimentará alegrias mais intensas no Primeiro Céu. Tais sentimentos permanecerão como consciência nas vidas futuras, impulsionando as boas ações e desencorajando os maus atos.
Se deixarmos o espírito em paz, tranquilo, para se concentrar no panorama da vida, a gravação será clara e nítida; no entanto, se os parentes desviarem sua atenção com altas e histéricas lamentações durante os primeiros três dias e meio, período onde o Cordão Prateado ainda está intacto, uma impressão superficial ou borrada fará com que o espírito perca muitas das lições que deveriam ter sido aprendidas. Para corrigir essa anomalia, os Anjos do Destino são frequentemente forçados a terminar a próxima vida dele na Terra durante a primeira infância, antes que o Corpo de Desejos tenha nascido, conforme descrito em Nascimento, um Evento Quádruplo (palestra nº 7), pois o que não foi vivificado não pode morrer; assim, a criança entra no primeiro céu e aprende as lições que não aprendeu anteriormente, tornando-se dessa forma equipada a passar pela Escola da Vida.
Como tais Egos mantêm o Corpo de Desejos e a Mente que tinham na vida em que morreram quando crianças, é comum que se lembrem dessa existência, porque só permanecem fora da vida terrena de um a 20 anos.
O sofrimento no Purgatório surge por duas causas: os desejos que não possam ser satisfeitos e a reação às imagens do panorama da vida — o bêbado, por exemplo, sofre as torturas de Tântalo, porque não tem meios de obter ou reter a bebida. O avarento sofre porque lhe falta a mão para impedir que seus herdeiros dissipem seu estimado tesouro. Assim, a Lei da Consequência elimina os maus hábitos até que o desejo se esgote.
Se tivermos sido cruéis, o panorama da vida irradia sobre nós a imagem de nós mesmos e de nossas vítimas. As condições são revertidas no Purgatório: nós sofremos como eles sofreram. Assim, com o tempo, somos expurgados do pecado. A matéria grosseira do desejo que forma a personificação do mal é expelida pela força centrífuga da Repulsão, no Purgatório, e retemos unicamente o puro e o bem, que são corporificados em matéria de desejo mais sutil que é dominada pela força centrípeta — Atração, que no Primeiro Céu une o que é bom, quando o panorama retrata cenas de nossas vidas passadas em que ajudamos outras pessoas ou nos sentimos gratos pelos favores recebidos, conforme descrito na palestra nº 6, Vida no Céu, que também fala da estadia no Segundo Céu, localizado na Região do Pensamento Concreto.
Esse também é o reino do tom, como o Mundo do Desejo é da cor e o Mundo Físico, da forma. O tom, ou som, é o construtor de tudo o que existe na Terra, como João diz: “No princípio era o Verbo (o som), e o Verbo se fez carne.”, a carne de todas as coisas, “Sem Ele nada do que foi feito se fez”. A montanha, o musgo, o rato e o ser humano são encarnações dessa Grande Palavra Criadora que desceu do céu.
Lá, o ser humano se torna um com as forças da natureza; Anjos e Arcanjos o ensinam a construir um ambiente conforme o que mereceu sob a Lei da Consequência. Se ele gastou seu tempo na especulação metafísica, igual aos hindus, deixou de construir um bom ambiente material e renascerá em uma terra árida, onde inundações e fome o ensinarão a voltar sua atenção às coisas materiais. Quando ele focaliza sua Mente no Mundo Físico, aspirando à riqueza e ao conforto material, constrói no Céu um inigualável ambiente material, uma terra rica com instalações que lhe trarão facilidade e conforto, como o mundo ocidental tem feito. Mas, dado que sempre ansiamos pelo que nos falta, as posses que temos nos saciam para além do conforto e estamos começando a desejar novamente a vida espiritual, como os hindus, nossos irmãos mais novos, querem agora a prosperidade material que temos e estamos deixando para trás, o que é melhor explicado na palestra nº 19, A Força Futura — Vril?, que mostra por que as práticas de ioga hindu são prejudiciais aos ocidentais: eles estão atrás de nós na evolução.
Depois que o Ego ajuda a construir o arquétipo Criativo para o ambiente de sua próxima vida terrena, no Segundo Céu, ascende ao Terceiro Céu, localizado na Região do Pensamento Abstrato. Mas poucas pessoas aprenderam a pensar de forma abstrata como os matemáticos; portanto, a maioria está inconsciente, como no sono, aguardando o Relógio do Destino — as estrelas, para indicar a hora em que os efeitos gerados pela ação das vidas passadas possam ser calculados. Quando os responsáveis pelo tempo celestial, o Sol, a Lua e os Planetas, alcançam uma posição adequada, o Ego acorda com o desejo de um novo nascimento.
Os Anjos do Destino examinam o registro de todas as nossas vidas passadas, estampadas na Mente supraconsciente toda vez que o Ego vai para o Terceiro Céu, conforme descrito na palestra nº 7, Nascimento, um Evento Quádruplo. Quando não há uma razão específica para a tomada de um determinado ambiente, o Ego tem várias opções de encarnação. Elas são mostradas a ele em uma visão geral, exibindo o grande esboço de cada vida proposta, mas deixando espaço para o livre-arbítrio individual nos detalhes.
Depois que uma escolha é feita, o Ego deve liquidar as causas maduras que foram selecionadas pelos Anjos do Destino e qualquer tentativa de escapar será frustrada. Deve-se notar cuidadosamente que o mal seja erradicado no Purgatório. Somente as tendências restam para nos tentar, até que, de forma consciente, nós as vençamos. Assim, nascemos inocentes e pelo menos todo ato maligno é um ato de livre-arbítrio.
Quando o Ego desce em direção ao renascimento, reúne os materiais para seus novos corpos, mas eles não nascem ao mesmo tempo. O nascimento do Corpo Vital inaugura um rápido crescimento entre os sete anos e os 14, desenvolvendo também a faculdade de propagação. O nascimento do Corpo de Desejos, aos 14 anos, dá origem ao período impulsivo que vai dos 14 aos 21. Nessa idade, o nascimento da Mente fornece um freio ao impulso e concede a base para uma vida séria.
(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross em maio/1915 – traduzido pela Fraternidade Rosacruz – Campinas – SP – Brasil)
Milagres?
São Pedro não ressuscitou Dorcas, assim como O Cristo não ressuscitou Lázaro nem ninguém, o que aliás, Ele não pretendeu ter feito. Ele disse: “Lázaro não está morto: dorme”.
Para que essa asserção possa ser bem compreendida devemos explicar o que se passa por ocasião da morte e em que essa difere da letargia, pois as pessoas acima mencionadas estavam nesse estado na ocasião em que os supostos milagres foram executados.
Durante a vigília, enquanto o Ego age conscientemente no Mundo Físico seus diversos veículos estão concêntricos: ocupam o mesmo espaço. Contudo, à noite, durante o sono, ocorre uma separação: o Ego, revestido do Corpo de Desejos e da Mente, desliga-se dos Corpos Denso e Vital que ficam sobre o leito. Os veículos superiores flutuam próximo e acima deles. Estão ligados aos outros dois corpos pelo Cordão Prateado, um fio estreito e brilhante com três segmentos, onde dois deles tem a forma de dois seis invertidos e do qual uma das extremidades está ligada ao Átomo-semente no coração e a outra no Átomo-semente do Corpo de Desejos.
No momento da morte, esse fio desliga-se do coração. As forças do Átomo-semente passam pelo nervo pneumogástrico, pelo terceiro ventrículo do cérebro, através da sutura entre os ossos parietal e occipital, subindo aos veículos superiores que estão fora, por intermédio do Cordão Prateado. O Corpo Vital também se separa do Corpo Denso com essa ruptura (aliás é essa à única ocasião em que se dá essa separação) e junta-se aos veículos superiores que estão flutuando sobre o cadáver. Aí o Corpo Vital permanece cerca de três dias e meio. Depois desse tempo, os veículos superiores se desligam do Corpo Vital que começa a se desintegrar simultaneamente com o Corpo Denso, nos casos comuns.
No momento dessa última separação, o Cordão Prateado rompe-se pelo meio, no lugar da união dos dois seis, e o Ego encontra-se livre de qualquer contato com o mundo material (a Região Química do Mundo Físico).
Durante o sono, o Ego também se retira do Corpo Denso, mas o Corpo Vital continua interpenetrando esse último, e o Cordão Prateado permanece inteiro.
Acontece, às vezes, que o Ego não torna a entrar no corpo pela manhã, para despertá-lo como de hábito, porém fica fora durante algum tempo que varia. Nesse caso, porém, o Cordão Prateado não se rompeu. Quando ocorre essa ruptura, não será possível nenhuma restauração. O Cristo e os Apóstolos eram Clarividentes: sabiam que não tinha havido ruptura nos casos mencionados, e daí a afirmação: “Ele não está morto, dorme”. Eles possuíam o poder de obrigar o Ego a entrar no seu corpo e de restaurar as condições normais.
Assim foram feitos os supostos milagres.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – jul/ago/88)