O Pecado da Separatividade: você o está cometendo?

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Pecado da Separatividade: você o está cometendo?

O Pecado da Separatividade: você o está cometendo?

 

No texto do Ritual Rosacruz encontramos uma frase, de transcendental importância para aqueles que ingressaram no caminho místico: “O reconhecimento da unidade fundamental de cada um com todos, é a realização de Deus”. Porém, tal não poderá ser conseguido até que reconheçamos a unidade de toda a humanidade. Sendo assim, é mister que eliminemos de nossas vidas, tanto quanto seja possível, pensamentos e ideias que suscitem o sentimento de separatividade para com nossos semelhantes. Esse é o conteúdo da magnificente mensagem que o Cristo trouxe à humanidade, encerrando o reinado do Deus de Raça, Jeová, sob cuja influência e individualização do ser humano processou-se de um modo integral, e inaugurando a nova era durante a qual o ser humano deve realizar a sua unidade por meio do Espírito que existe em todos. Assim, examinemos o progresso já realizado nesse campo e os obstáculos que ainda deverão ser superados.

Quando os três homens sábios vindos do Leste, para ofertar dádivas e por prestar homenagens ao recém-nato Salvador, cumpriram sua missão na Palestina, ninguém sabia qual a distância que haviam percorrido, nem de quais longínquos países eram originários, países estes pertencentes aos três continentes conhecidos então. A locomoção naqueles tempos, via de regra, processava-se a cavalo ou então por via fluvial ou marítima, se bem que os homens do mar não se aventuravam longe de suas costas litorâneas.

 

Assim verificamos que o mundo conhecido ao tempo do nascimento do Salvador era assaz limitado. De certo modo é interessante conjecturar a esse respeito, porque Max Heindel expressou a sua desaprovação aos esforços missionários, afirmando que Cristo enviou seus discípulos para que pregassem o Seu Evangelho ao mundo conhecido de então, o que não queria dizer que ele fosse disseminado por toda a Terra, inclusive aos povos primitivos que não podiam compreender aqueles avançados conceitos de moral. O mundo conhecido naquela época compreendia a área adjacente ao Mediterrâneo ao Mar Vermelho, o sul da Europa, o norte da África e a Península Arábica, e alguns distantes trechos do interior da Ásia. A Inglaterra e a norte da Europa eram praticamente desconhecidos até muito tempo depois. Alexandre, o Grande, na tentativa de estender seu império até a Índia em 300 AC, demonstrou ser impossível manter o comércio e comunicações com esses longínquos países, o que tornou impraticável mantê-los sob seu governo.

A China e o Japão estiveram desconhecidos até 1275 DC (depois de Cristo), quando os irmãos Polo, em memorável jornada, atingiram a terra de Kublai Khan, a fabulosa Cathay. Em 1492, Cristovão Colombo, em seu esforço no sentido de encontrar um caminho mais curto para atingir a Índia, iniciou a sua épica viagem pelo Atlântico, descobrindo um novo continente e uma nova raça. Mais tarde, Fernão de Magalhães realizou a viagem de circunavegação, e muitos aventureiros começaram a velejar através do oceano, em busca de riquezas e de novas terras a fim de anexá-las a seus países, ao passo que a China e o Japão permaneceram praticamente afastados até o século passado.

Cristo veio inaugurar um novo conceito de fraternidade, introduzindo a doutrina do amor em substituição à da lei. A aplicação desse princípio de fraternidade e amor, atualmente, é indispensável, embora o problema para a sua realização tenha aumentado em complexidade.

A separatividade e a exclusividade das raças permaneceram durante muitos séculos, como um problema difícil de equacionar-se, pois as diferenças de cor, de aparência e de costumes criaram barreiras gigantescas ao propósito da unidade. À medida que foram descobertos e aperfeiçoados inúmeros meios de transportes, inúmeras viagens foram realizadas, muitas terras foram colonizadas, e para tanto muitos meios foram aplicados. Assim é que a raça negra foi utilizada no trabalho braçal através da escravatura, aceita como coisa comum durante muito tempo, tanto que ainda hoje não se encontra totalmente erradicada.

Um processo lento de amalgamação entre raças, do qual surgirá à raiz de uma nova raça, está sendo levado a efeito. Nesse ponto as guerras representam um favor importante de integração racial, compreendido pelo envio de jovens a terras estranhas, onde muitas vezes unem-se em matrimônio a mulheres desses países. Aqueles que assim procedem, encontram pela frente os obstáculos naturais impostos pela sociedade que não admite miscigenação, porém, gradualmente tais barreiras irão desaparecendo. Vemos ainda hoje as tensões raciais revelarem a trágica rigidez engendrada em inúmeras almas que ainda se encontram ligada ao Espírito de Raça. Entretanto, as raças estão também divididas em nações, que se diferenciam pelo desenvolvimento de um Espirito Nacional, de acordo com pensamentos, ações e costumes dos respectivos povos. As nações, como os indivíduos, buscam de um modo geral suas próprias vantagens, pouco se importando com a mal que possam causar ao bem estar alheio. Em geral, os crimes cometidos contra outras nações são registrados nos compêndios de história como atos de patriotismo, numa demonstração de amor e lealdade ao próprio país. Contudo, tempo virá no qual os povos de todas às nações compreenderão que o verdadeiro patriotismo se estabelece na aceitação da responsabilidade em relação às ações de seus próprios países, que o mundo deve tornar-se uma fraternidade e que o bem-estar de cada um diz respeito a todos. Isto já está se tornando evidente, pelo modo de proceder das nações mais adiantadas no que diz respeito à guerra, tanto que existe certa tendência à preservação da paz, o que não devemos considerar única e exclusivamente como temor aos efeitos da bomba atômica, tanto que tanto que esse sentimento vem se acentuando desde a Primeira Conflagração Mundial. O velho espírito marcial, que se revela nas guerras e nos triunfos, vai desaparecendo aos poucos, dando lugar ao sentimento de amizade e compaixão para com aqueles que sofrem.

Assim como o ser humano depende do funcionamento harmonioso dos órgãos de seu corpo, da mesma forma o planeta, para o seu bem-estar, depende da existência de harmonia entre nações. Todos os eventos concorrem para que as nações trabalhem em conjunto para o bem de todos ao invés de agirem em seu benefício próprio. Possuímos uma ONU, que embora não funcionando perfeitamente, tornou-se um fator da preservação da paz.

A religião não tem sido um meio eficaz como deveria ter sido na eliminação do pecado da separatividade. A doutrina da fraternidade entre os indivíduos é fundamentada em cada uma das religiões, porém isso não erradicou os antagonismos gerados pela divisão de credos. O Cristianismo tem sido tão exclusivista como qualquer outro credo, quase sempre devido à própria atitude de seus praticantes que por séculos vem mantendo a crença de que somente eles possuem o caminho do céu. Isto originou guerras trágicas, as Cruzadas, a Santa Inquisição, etc.

Contudo existem indícios de que as igrejas já estão começando a compreender que manter-se nessa atitude é ser incoerente com os próprios preceitos que apregoam, e já aceitam a necessidade do trabalho em conjunto, demonstrado pelo Concílio das Igrejas.

Apesar de alguns progressos animadores, outros problemas ainda suscitam a separatividade, como por exemplo, observamos o abismo entre o rico e o pobre. O fluxo do dinheiro pode ser comparado à circulação do sangue no corpo humano, mesmo porque o dinheiro supre as necessidades das várias partes da Terra, tal como faz o sangue ao corpo físico. A superabundância em determinada área terrestre poderá ser comparada a um congestionamento ou a uma inflamação no corpo, ao passo que a pobreza representa os males da desnutrição. A posse de grandes riquezas implica em grande responsabilidade, pois quando as mesmas são acumuladas e não utilizadas para o bem comum, constituem uma dívida espiritual a ser resgatada oportunamente. Porém, o conhecimento dessa responsabilidade está se fazendo sentir, haja vista as inúmeras fundações instituídas por seres humanos abastados, a fim de proporcionar maior assistência ao menos favorecidos. Os inúmeros serviços grupais que estão se formando em quase todas as comunidades, no sentido de solucionar problemas locais, também são elementos indicadores do sentimento de união e solidariedade entre os indivíduos.

Outro fator negativo na vida dos povos são as campanhas empreendidas pelos nossos partidos políticos cada quatro anos. As expressões extremas de sentimentos gerados por essas campanhas exercem uma influência muitas vezes nefasta sobre o equilíbrio emocional, indispensável para o desenvolvimento espiritual. Entretanto, podemos esperar confiantes, de que o tempo irá dignificando essas campanhas, para que sejam conduzidas dentro de um sistema mais honroso, substituindo a forma presente de vituperações e ataques pessoais.

O trabalho e a indústria estão se tornando cientes de sua dependência mútua pelo labor conjunto. Um grande e louvável passo para frente já se terá dado, se o propósito do capital e da indústria tornar-se meio de fornecer emprego e melhores condições de vida para muitas pessoas, do que ater-se ao único e egoísta objetivo de arrecadar dinheiro. Os detentores do capital não deixarão de ser beneficiados, mas o objetivo primeiro será sempre o bem estar de muitos em relação a poucos, pois onde a doutrina dos serviços encontra-se acima de todos os negócios, nada poderá ocasionar falhas na prosperidade.

Tempo virá em que uma vida bem sucedida não será avaliada em relação ao dinheiro depositado no banco ou à mercadoria estocada, mas pelas virtudes de amor e caridade que nela são expressas. Vivemos atualmente sob um sistema rígido de competição, mas é mister que essa competição se transmute em cooperação para o bem da humanidade. O nosso ineficiente método de distribuição dos produtos do trabalho, a capacidade de alguns poucos e a exploração de muitos, constituem verdadeiros crimes sociais que provocam a depressão industrial, os distúrbios trabalhistas, a destruição da paz interna etc.
Aqueles que como nós estudam a filosofia oculta e de alguma forma vivem diferentemente dos demais, deverão conservar certa vigilância para que essas diferenças não os isolem do resto da humanidade. Sejamos cuidadosos em relação a outros modos de vida, não criticando ou desaprovando-os intransigentemente, pois a autossatisfação ou o sentimento de superioridade não devem constituir-se num obstáculo ao avanço espiritual.

A unidade racional, tribal e familiar deverá ser rompida antes que a Fraternidade Universal possa tornar-se uma realidade. O paternalismo do grupo tem sido amplamente superado pelo reinado da individualidade. As nações estão atualmente trabalhando para a Fraternidade Universal, de acordo com o desejo dos nossos líderes invisíveis, os quais não são os menos potentes na modelação dos eventos por não estarem oficialmente ocupando cargos no governo das nações. Esses são os meios lentos pelos quais os corpos da humanidade vão sendo gradativamente purificados. Porém, o aspirante ao mais alto conhecimento trabalha conscientemente para atingir esses fins por meio dos métodos bem definidos e de acordo com a sua constituição.

(Revista Serviço Rosacruz – 07/67 – Fraternidade Rosacruz – SP)

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