Arquivo de categoria Treinamento Esotérico

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Boas Razões para Ser Vegetariano

Boas Razões para Ser Vegetariano

Muitas vezes me pedem para escrever algo sobre esse assunto. De fato, em uma ocasião recebi de nada menos que quarenta Oficiais Locais um pedido para que explicasse tudo o que eu quis dizer com o que chamei, ao falar em um dos Conselhos, de Evangelho de Mingau. Não creio que eu seja capaz de elucidar isso tudo, mas tentarei responder brevemente a uma pergunta que ouço com frequência: “Por que você recomenda o vegetarianismo?”.

Aqui estão, de qualquer forma, algumas das minhas razões para isso:

  1. Porque eu experimentei uma dieta vegetariana cheia de benefícios, tendo sido, ao mesmo tempo e por mais de dez anos, um vegetariano rigoroso.
  2. Porque, de acordo com a Bíblia, Deus originalmente pretendia que o alimento do ser humano fosse vegetariano: “Deus disse: Eu dei a vocês toda erva que dê semente e está sobre a face de toda a terra; e toda árvore em que há fruto que dê semente; isso será sua refeição” (Gn 1:29).
  3. Porque uma alimentação vegetariana é favorável à pureza, à castidade e ao perfeito controle dos apetites e paixões que costumam ser a fonte de grande tentação, especialmente para os jovens.
  4. Porque a dieta vegetariana é benéfica à força e à saúde robusta. Com pouquíssimas exceções, confirmadas apenas por inválidos, acredito que as pessoas seriam melhores em espírito, mais fortes em músculo e mais vigorosas em energia, caso se abstivessem totalmente do uso de alimentos de origem animal. Os espartanos, que ocupam o primeiro lugar entre todas as nações da história pela capacidade de suportar dificuldades, eram vegetarianos, assim como os exércitos de Roma, quando conquistavam o mundo.
  5. Porque dezenas de milhares de pessoas pobres, que agora têm muita dificuldade de sobreviver, após ter comprado alimentos à base de carne, poderiam, por sua substituição por frutas, legumes e outros alimentos baratos, conseguir conforto material, doar mais dinheiro aos pobres e à obra de Deus.
  6. Porque uma alimentação vegetariana baseada em trigo, aveia e outros grãos como lentilhas, ervilhas, feijões, nozes ou alimentos semelhantes é mais de 10 vezes superior economicamente à comida de origem animal. Metade do peso da carne se deve à água dentro dela, que precisa ser paga como se fosse carne! Uma refeição vegetariana, mesmo que permitamos queijo, manteiga e leite, custa, aproximadamente, só um quarto de uma que misture carne e legume.
  7. Porque a comida vegetariana impede o enorme desperdício de todos os tipos de alimentos de origem animal que são consumidos com quase nenhuma vantagem para quem os come.
  8. Porque a dieta vegetariana é uma proteção contra a bebida, já que o consumo de carne implica o aumento da embriaguez: um mau apetite produz outro.
  9. Porque o alimento vegetariano é oportuno à indústria e ao trabalho duro, enquanto a alimentação baseada em carne favorece a indolência, a sonolência, o aumento de gordura, a falta de energia, a indigestão, a prisão de ventre e outras aflições ou degradações.
  10. Porque está provado que a vida, a saúde e a felicidade são beneficiadas pelo prato vegetariano. Eu já conheci muitos exemplos disso. A maioria dos casos de longevidade pode ser encontrada entre aqueles que, desde a juventude, vivem principalmente, quando não inteiramente, de vegetais e frutas. Pensar em tudo isso é importante.
  11. Eu sou a favor da nutrição vegetariana porque os órgãos digestivos do ser humano não estão bem adaptados à ingestão da carne, a qual contém uma grande quantidade de matéria que, na época em que o animal foi morto, estava mudando e se preparando para ser expulsa do seu sistema. Essa matéria normalmente passa pelo estômago humano sem ser digerida e cai no sangue, causando várias doenças, especialmente reumatismo, gota, indigestão ou afins.
  12. Porque é muito difícil, sobretudo em climas quentes, manter frescos, pelo tempo suficiente para cozinhar e comer, os alimentos à base de carne; assim, uma grande quantidade de carne é consumida depois que começa a decair — ou seja, apodrecer. Esse apodrecimento geralmente começa muito antes que a carne dê qualquer sinal de sua condição real. Nem a aparência nem o cheiro dela são um guia seguro para saber se está saudável.
  13. Porque grande parte da carne que é empregada na alimentação humana já está doente e é quase impossível ter certeza de que qualquer pedaço de carne esteja completamente livre dos germes da doença. Sabe-se que muita carne comum, normalmente de animais velhos, é vendida aos açougueiros porque os animais estão doentes.
  14. Porque eu acredito que o grande aumento do consumo e a alta incidência do câncer nos últimos 100 anos foram causados pelo elevado incremento do uso de alimentos de origem animal e que uma dieta rigorosamente vegetariana muito ajude a afastar as doenças mais terríveis e incuráveis.
  15. Porque suponho que uma alimentação à base de carne provoque muitas doenças dolorosas que, embora possam não representar ameaças diretas à vida, causam bastante sofrimento e perda. Refiro-me às queixas como eczema, constipação, vermes, disenteria, severas dores de cabeça e coisas do gênero. A comida vegetariana ajudaria bastante no alívio ou até na cura dessas enfermidades.
  16. Por causa da terrível crueldade e do terror aos quais dezenas de milhões de animais assassinados em nome da alimentação humana são submetidos, ao viajar longas distâncias de navio, trem ou pela estrada até os matadouros. Deus desaprova qualquer tipo de crueldade — seja contra o ser humano ou os animais.
  17. Por causa das terríveis atrocidades praticadas pela matança de animais, em muitos matadouros. Todo esse comércio de carnificina é cruel, mesmo quando feito com cuidado e sabemos que no caso de milhões de criaturas isso seja feito com pouquíssimo critério. Dez mil porcos são assassinados para se tornar alimento a cada hora, somente na Europa.
  18. Porque o emprego de abate brutaliza quem é obrigado a fazer esse trabalho. “Os sentimentos mais elevados dos homens compassivos”, diz certo escritor, e concordo com ele, “revoltam-se com a crueldade, os pontos de vista degradantes, os gritos angustiantes, o perpétuo derramamento de sangue e todos os horrores que abrangem o massacre de criaturas sofredoras”.
  19. Porque a comida baseada em carne não é necessária para o trabalho duro. Grande parte do trabalho do mundo é feita por animais que sobrevivem de alimentos vegetais, tais como os cavalos, as mulas, camelos, bois e tantos outros.

Espero que este assunto seja digno da séria consideração de nossos Estudantes. Ele é importante não apenas para sua própria saúde e felicidade, mas para sua influência entre as pessoas, como homens e mulheres livres da escravidão dessa gratificação egoísta que frequentemente aflige os professos servos de Cristo. Lembremo-nos da direção do apóstolo: “Se você come ou bebe, ou o que quer que faça, faça para a glória de Deus”.

Pensem nessas coisas!

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross em 05/1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz – Campinas – SP – Brasil)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Princesa Sibele

A Princesa Sibele

Era uma vez uma solitária Fada princesinha que ansiava por alguém para brincar com ela. Morava no Reino do Faz de Conta e fiava completamente sozinha com seu pai, o Rei Amor, e sua mãe, a Rainha Beleza. Claro que haviam muitas pessoas no castelo onde ela morava e ela tinha muitas damas de companhia para servi-la. Mesmo assim, ficava sozinha, porque era a única criança no reino. As outras pessoas eram adultas e crianças não conseguem brincar muito bem com adultos, não é? Claro que se eles são apenas crianças grandes, é diferente.

Bem, ela estava cada dia mais triste por estar sozinha e finalmente foi até seu pai, o Rei Amor, e lamentou-se para ele:

— Oh, Majestade, meu Pai, eu não quero mais ser uma princesa Fada! Eu sou tão solitária e infeliz aqui nesse castelo enorme, sem ninguém para brincar comigo!

A Rainha Beleza, que estava sentada ao lado do Rei num trono dourado, pegou a princesa nos braços e tentou acalmá-la. O Rei Amor pensou um pouco e disse:

— Você sabe, Sibele querida, há uma lei que diz que ninguém pode ficar aqui se não estiver satisfeito e feliz, e eu não posso mudar essa lei, nem para minha própria filha princesa. Por isso, tente ficar contente ou terei que expulsá-la para o Mundo Terra, para viver como uma das crianças da Terra.

Ele disse isso com amargura, pois o deixava infeliz saber que sua única princesinha estava descontente no seu lindo reino. Ele sabia que seria melhor para ela ficar lá, onde estava protegida de qualquer perigo, mas por outro lado, ela ganharia muita experiência se saísse do seu lar.

A princesa pediu ansiosa:

— Oh, deixe-me ir, deixe-me ir. Eu imploro! Deixe-me ser uma menininha da Terra, ter irmãos e irmãs e brincar com outras crianças. Por favor, Majestade.

— Meu amor, o Rei respondeu tristemente. Você nem imagina que terá muitas mágoas e muitos problemas se for morar na Estrela Triste (Às vezes, no Reino do Faz de Conta, as pessoas chamavam a Terra assim).

— Mas vocês, Amor e Beleza, não podem ir comigo?, perguntou Sibele. Certamente vocês dois compensariam toda a infelicidade.

— Não, querida, nós devemos ficar aqui para governar este reino – Afirmou Amor.

— Mas, nós podemos mandar uma centelha de nossa varinha de condão para iluminar os lugares escuros de seu coração, se ela realmente quiser ir, disse a Rainha Beleza para o Rei Amor.

Então, eles enviaram à Terra a Princesa Sibele, que queria ir à busca da felicidade. Todos lhe disseram que ela esqueceria seus amigos Fadas quando se tornasse uma criança da Terra. Isso a preocupou, porque ela os amava e não queria esquecê-los, nem a seus pais. Por isso, ela procurou sua mãe, a Rainha, que lhe deu um conselho enquanto a abraçava docemente:

— Querida, ouça-nos na canção dos pequenos riachos que correm por entre as árvores. Procure-nos nas flores dos bosques. E sinta-nos nas suaves mantas de musgo verde.

Assim, Sibele tornou-se uma pequena criança da Terra, como todos nós.

* * * * * *

Alguns anos se passaram e ela já estava crescida o suficiente para correr, brincar e querer conhecer as coisas quando, um dia, enquanto colhia margaridas, encontrou uma minúscula criaturinha, cheia de brilho, de orvalho e de graça, dançando no centro amarelo da maior margarida que Sibele já havia visto. Dançando, cantando, e acenando uma varinha de condão, a pequena Fada cantou para Sibele, com exuberante alegria:

Deus me ama e a você eu tenho amor.

Oh, diga que me ama, por favor”.

Depois a Fada saltou da margarida, arrastou-se para dentro do ouvido de Sibele e sussurrou:

“Não se esqueça de nós, querida,

Nunca, nunca à esqueceremos.

Amor, Beleza e as Fadas também,

Nunca, nunca a deixaremos”.

Dessa forma, a faísca da varinha de condão que o Rei Amor e a Rainha Beleza haviam colocado dentro do coração de Sibele resplandeceu por um momento e a partir de então, a princesa na Terra sentia a presença deles para protegê-la e alegrá-la sempre que ficava sozinha; pois ela muitas vezes estava só, porque na Terra as crianças também ficam sozinhas. De vez em quando, Sibele sentia-se triste porque as crianças que brincavam com ela não acreditavam em Fadas. Ela sabia que as Fadas eram bem reais e ficava preocupada ao pensar na alegria e felicidade que estas crianças estavam perdendo.

Bem, todos os dias, Sibele encontrava uma mensagem do Rei Amor e da Rainha Beleza — sim, todos os dias. Um dia, ela viu uma pequena nuvem branca sendo lentamente perseguida por duas nuvens cor de rosa no céu azul; e ela riu docemente ao ver as nuvens brincando.

— Obrigada, Rainha Beleza, por me mostrar uma coisa tão bela hoje.

Um outro dia, ela estava passeando, um pouco cansada e descontente — era um dia escuro e abafado e todos pareciam estar muito ocupados para brincar com ela — quando viu uma mocinha passando. Tinha aproximadamente dezoito anos e havia um brilho de felicidade em seus olhos. Talvez alguém lhe tivesse dito alguma coisa agradável. Ela sorriu-lhe tão docemente, que Sibele sentiu um estranho arrepio por todo o corpo. Ninguém poderia sentir-se triste ao receber um tal sorriso, cheio de amor, felicidade e compreensão.

Então, Sibele sorriu também com toda a coragem que possuía. Ela gostaria de saber se aquela jovem sabia que estava sendo enviada pelo Rei para trazer-lhe uma mensagem de amor.

Amor e Beleza se comunicam conosco todos os dias e de várias maneiras. Se abrirmos os olhos e o coração e deixarmos que eles transmitam o que desejam, saberemos que existe um Deus maravilhoso que nos ama e que nos deu esse mundo para vivermos, para sermos felizes e para crescermos em sabedoria, que é o conhecimento com amor.

À medida que Sibele crescia, procurava cada vez mais ajudar as pessoas a perceberem que ninguém é esfarrapado, sujo ou feio demais para ser ajudado, pois não podemos avaliar, pela aparência de uma pessoa, que alma brilhante possa ter. Jesus Cristo disse que o que fizermos para os outros, estamos fazendo para Ele. Não é maravilhoso podermos servir a quem faz tanto por nós? A melhor maneira de demonstrarmos nosso amor por Ele é procurarmos ajudar e sermos bons para todos.

Sibele cresceu e tornou-se adulta. Todos que se aproximavam dela abençoavam-na por sua doçura, sabedoria e bondade. Quando chegou a hora de deixar a Terra, Sibele voltou para o Reino do Faz de Conta. Quanta alegria e felicidade houve quando a Princesa Sibele voltou; ela aprendera que a verdadeira felicidade está em servir os outros!

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. IV – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Mensagem das Fadas

A Mensagem das Fadas

Amélia C. Ellioti

Sob as árvores em um dia de verão ensolarado,

Uma criança estava a brincar alegremente

Por entre as flores, e então arrancou rapidamente

Um lírio de cálice dourado.

 

Nesse cálice uma fada estava sentada.

O que é isto? Diz a criança espantada.

Uma fada! Uma fada! Com alegria gritou,

Quando vindo de outra árvore, um outro vulto pulou.

O que veio da árvore era verde e marrom:

Não teria sido visto se não houvesse escorregado.

Tão pequenino era que se colocado em uma taça,

Uma folha da árvore tê-lo-ia ocultado.

 

Suas calças eram verdes e sua jaqueta marrom,

Suas asas coloridas; minúscula coroa usava.

Sua voz muito fininha, mas era clara como um sino,

Sua mensagem rapidamente ele a pronunciava.

 

“Menininha, menininha não fuja de nós, por favor,

Fique conosco e ouça o que lhe vamos dizer:

Nós chegamos de um vale, cheio de paz e de amor,

E uma mensagem de fadas e duendes nós viemos lhe trazer.

 

“Um dia, em um vale distante, você brincava,

E do fundo de um poço, ouviu uma voz que chamava;

Você correu, com o coração batendo apressado,

E salvou um gatinho que os cães haviam caçado.

 

“Viemos recompensá-la por sua tão boa ação,

Ao proteger um ser de Deus e todos os que são mudos, como esta criaturinha.

Vamos coroá-la com flores, que jamais perecerão;

Sempre a protegeremos, querida e bondosa amiguinha”.

 

“Vá dizer as criancinhas, onde quer que elas estejam,

Para serem sempre boas com os gatos e os cães que vejam.

Pois Deus manda minúsculas fadas para com elas brincarem

Para ouvirem suas vozes e assim as entenderem.

 

“Esta mensagem deixamos e nosso caminho seguimos:

O amor deve ser o lema, quando brincando estiverem,

Nunca, por palavras e ações, seus companheiros ofendam

E as fadas ajudarão vocês, quando delas precisarem”.

 

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. IV – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Fonte da Amizade

A Fonte da Amizade

Nuvens de poeira moviam-se pela ação das grandes rodas de ferro da diligência, enquanto os fatigados bois subiam a pequena montanha. Priscila correu pela areia quente, grata por uma pequena sombra proporcionada pela cobertura da diligência.

Seu irmão Herbert encorajou os bois, sua voz soando desafinada e baixa na quietude do deserto. No topo do morro, ele retirou à diligência da estrada e gritou:

— Pare!

Priscila saiu para ver se ele estava dando passagem a outras diligências. Seus olhos azuis atentos perceberam imediatamente a cena que estava à sua frente. O pico da montanha erguia-se sozinho na planície ressecada e marcava o ponto divisório de duas trilhas. Uma, ia para o sul através de um sulco branco e alcalino. A outra, abraçava uma cadeia de montanhas ao norte — montanhas vermelhas e amarelas que cintilavam nas dunas quentes.

Bem abaixo deles, uma cabeça inclinada subia a montanha em que eles estavam. Uma mulher envelhecida e uma garota de rosto redondo, de idade aproximada à de Priscila, caminhavam com dificuldade ao lado dos dois bois magros. A derrota estava escrita em cada linha dos dois estranhos que se aproximavam — nos seus ombros caídos, nos seus semblantes desanimados, nos seus passos lentos.

— Não vá começar um bate-papo, disse Herbert, não temos tempo a perder se pretendemos alcançar a caravana.

Priscila olhou para seu irmão com surpresa. O tom, as palavras, não eram suas. Somente um ano mais velho, ele parecia ter envelhecido anos nessas últimas semanas. Não é de admirar, pensou Priscila. Ele era muito novo para tal responsabilidade. Mas não foi o envelhecimento que preocupou Priscila. A face morena de Herbert tornara-se mais magra, seus olhos mais ansiosos e toda sua amabilidade desaparecera. De alguma forma, ele tinha endurecido e isso era o que preocupava sua irmã, mais do que tudo.

A medida que a diligência se aproximava, Priscila podia ouvir um som áspero e desagradável que, algumas vezes, parecia um grito estridente. Ela notou que a roda traseira direita da diligência que se aproximava, não girava totalmente. Se arrastava pela areia tornando mais difícil o trabalho dos bois.

A mulher e a menina não levantaram suas cabeças quando desviaram os bois para o lado, a fim de passar. O coração de Priscila sensibilizou-se pela indiferença delas, porque ela reconheceu que essa indiferença era devida ao completo cansaço que tinham.

— Perdão, disse Priscila, impulsivamente. Não seria mais fácil se essa roda fosse engraxada?

O chapéu levantou-se e Priscila viu os olhos da mulher brilharem.

— Como você é esperta! – disse ela asperamente.

— Sei que vocês não têm graxa, Priscila respondeu rapidamente, mas nós temos um pouco e tenho certeza que meu irmão teria prazer em ajudá-las.

A mulher encarou a face ansiosa e ruborizada de Priscila, e lágrimas rolaram por seu rosto moreno.

— Perdão, minha filha. Eu estou tão embrutecida que mal reconheço a gentileza. Eu agradecerei muito a seu irmão se ele fizesse isso para mim.

Priscila ficou contente ao ver que a mulher não percebeu o olhar amuado de Herbert. O tempo era tão precioso!

A mulher dirigiu-se à mãe de Priscila, que estava dirigindo os bois, pois estava muito cansada para andar. A garota aproximou-se de Priscila, levantando seus grandes olhos escuros.

— Deve desculpar mamãe, disse ela. Ela não é assim normalmente. Mas… perdemos papai. A garota acenou indefinidamente para as montanhas que estavam à oeste, bem distantes.

— Há muita cólera nos trens de imigrantes, disse Priscila com emoção. Meu pai também pegou cólera… e nada pudemos fazer…

— Eu entendo, disse à menina.

— Perdemos a caravana em que estávamos, Priscila explicou. Quebramos o balancim do carro e tivemos que parar enquanto Herbert fazia outro.

— Planejam pegar a bifurcação sul para Pinnacle Rock? – perguntou a garota.

Priscila concordou.

— Temos só um barril de água. Precisamos conseguir mais em Fonte Sultry.

A outra menina olhou rapidamente.

— Viemos de lá. A Fonte Sultry está seca, ela acrescentou num rouco sussurro. Talvez encontrem água na bifurcação do norte, não sei.

Herbert tinha acabado de engraxar a roda. Sorrindo, a mulher e a garota agradeceram.

— Vocês encontrarão aquela caravana em apenas um dia adiante, disse a menina.

A roda não mais emperrou ou se arrastou. Vendo seu progresso, Priscila observou que a mulher e a menina não mais fixavam o olhar no chão. Elas andavam eretas, olhando para a frente. Ela sentiu um ar de triunfo nelas e ficou contente, percebendo que ajudara a animá-las.

Quando ela voltou, viu Herbert olhando perturbadamente para uma mancha escura debaixo da diligência. De repente, ele correu para os fundos, subiu na diligência e quando Priscila o alcançou, Herbert estava sacudindo um barril, desesperado.

— Saiu a rolha de nosso último barril de água! Nenhuma gota sobrou! Enquanto nossos bois estão quase morrendo, você fica aí tagarelando.

— Devemos chegar a Fonte Sultry antes do anoitecer, vociferou Herbert.

— Aquela mulher e a garota vieram do sul, Herbert. A Fonte Sultry está seca.

Ele derrubou o barril, seus olhos em pânico.

— Seca?

— A garota acha que podemos encontrar água na bifurcação norte.

— Não, disse ele roucamente. Os guias dos imigrantes nada dizem sobre água ao norte. É isso que conseguimos porque você nos atrasa com cada estranho que encontramos.

Os olhos de Priscila entristeceram-se.

— Herbert, você está aborrecido. Além do mais, seguiríamos a bifurcação sul se eu não tivesse falado com aquela menina.

— Talvez seja verdade, disse ele, mas você não tem nenhuma desculpa por ter ficado tagarelando ontem, por meia hora, com aquele comerciante velho e grisalho.

— Mas ele estava ansioso para conversar com alguém, Herbert. Sua face iluminou-se quando parei para conversar com ele. E ele tinha tantas coisas para dizer sobre estas terras que estão adiante.

— Interessante, talvez, mas perda de tempo.

Ela o olhou fixamente quando ele pulou para o chão. Tocou-lhe o braço temerosamente. Ele virou-se, olhando-a carrancudo.

— Herbert, não seja insensível, por pior que estejam as coisas. Se você não pode perder tempo para uma palavra amiga ou um ato gentil durante a viagem, na verdade, você não está vivendo.

Ele olhou para ela, endurecido e imóvel.

— Você deve tomar conta de si mesma. Não pode ficar pegando para si os problemas dos outros.

Ele continuou a caminhar. Nada falou quando pegou a bifurcação norte em direção a Pinnacle Rock, ou durante as horas em que viajaram pela base dos penhascos. O calor que os penhascos refletiam ardia como se fosse um forno. Mais de uma vez, Priscila olhou para sua mãe ansiosamente, pois os lábios dela estavam bem apertados. Mas a garota nada disse. Ela sabia que sua mãe estava com sede, mas nada podia fazer.

Finalmente, Herbert parou os bois. Seus olhos estavam arregalados de medo. Priscila foi para a frente e um calafrio lhe percorreu a espinha. A língua dos bois estava de fora e eles estavam tremendo.

— Só um dia nos separa de nossa caravana, Herbert disse roucamente. Mas os bois não aguentarão se não beberem água.

Os olhos de Priscila passaram rapidamente pela planície e dirigiram-se depois para a colina acima. Viu desfiladeiros secos pela erosão, causada pelas tempestades de séculos, artemísias, cactos e grama queimados com exceção de um desfiladeiro onde havia uma única ponta de árvore verde.

— Desate um dos bois, disse Priscila rapidamente. Prenda um pote sobre seu dorso. Acho que sei onde há água.

Herbert protestou quando ela subiu em direção a um desfiladeiro seco. Duas voltas, três — sem nenhum sinal de água. Mesmo assim, Priscila insistiu em continuar, apesar de Herbert ter cada vez mais dificuldade em dirigir o boi pelas ásperas pedras. Meia hora mais tarde, eles chegaram a uma areia úmida onde a água havia corrido, não muitas horas antes; a uns metros daí havia um córrego de águas límpidas.

Eles beberam, deixaram o animal beber e encheram seu pote com água. Em uma das vezes que Priscila abaixou sua cabeça para beber, Herbert empurrou-a para a água. Com a cabeça toda molhada Priscila colocou sua mão no córrego para também jogar água em seu irmão. De repente, ela se endireitou, seus olhos estavam brilhantes.

— Ora, Herbert você está sorrindo! Há semanas que…

— Reconheço que tenho uma razão para sorrir! – Com exceção da magreza de sua face, ele parecia quase um menino outra vez – Nossos maiores problemas terminaram! Priscila, como você sabia que havia uma nascente aqui? Não há nenhum sinal de água lá embaixo.

Os olhos de Priscila estavam arregalados e brilhantes!

— Tinha que haver água aqui! Lembra-se daquele velho comerciante grisalho com quem eu conversei ontem? Ele me ensinou muitas coisas úteis. Entre elas, disse-me o seguinte: se você encontrar um grupo de arbustos ou árvores de verde mais escuro do que as da redondeza – como as que existem neste desfiladeiro – saiba que lá deve ter água.

— Oh! Disse Herbert. E eu disse que você perdia seu tempo sendo gentil com as pessoas.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. IV – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pequenas Práticas Cotidianas que interessam à sua Saúde

Ao acordar, depois da noite bem dormida, em quarto de janela aberta, é mau ficar na cama a espreguiçar-se, a dar asas à imaginação; é bom fixar rapidamente a atenção nos primeiros afazeres do dia, deixando o leito sem demora.

Uma vez por dia, sempre à mesma hora, é bom esvaziar o intestino; é bom lavar as mãos e o rosto com sabonete, gargarejar um pouco de água com dentifrício, usar o fio dental e escovar os dentes em movimento circular com escova pequena e dentifrício saponáceo; é mau escovar os dentes com escova grande e em movimento apenas lateral, o que não permite a conveniente limpeza dos espaços interdentários. É mau tomar logo o banho, ainda pior se for com água morna entorpecedora. O que é bom é fazer, primeiro, ao ar livre ou, ao menos, diante da janela aberta, de 15 a 30 minutos de exercícios físicos e só depois tomar o banho frio e rápido, de chuveiro.

Depois do banho, é bom vestir roupa que proteja e não seja apertada; é mau querer trajar-se com elegância e desconforto (vestimentas apertadas, cintos apertados, saltos altos, etc.).

Antes de sair para o trabalho, é bom que o café da manhã seja feito devagar… é mau comer lendo o jornal, engolindo sem mastigar, esquecendo verduras, leite e frutas.

Depois do almoço, é bom usar o fio dental, escovar os dentes e bochechar um pouco de água para limpeza da boca; é mau ficar esgaravatando os dentes com um palito de madeira frágil e mal polido, que fere as gengivas e às vezes se quebra, entupindo o espaço interdentário.

Na rua, é mau correr para tomar um veículo, pois a ginástica já foi feita e, fora de portas, a corrida dificulta o fixar a atenção em outro veículo que possa atropelar.

No ônibus, no trem, na lotação, é mau ler, pois a trepidação dificulta a acomodação visual, concorrendo para aumentar a miopia e astigmatismo (o jornal terá sido lido rapidamente enquanto se esperava o primeiro almoço).

No trabalho é bom ter iluminação e ventilação convenientes; é bom ser prudente em tarefas perigosas; é mau distrair a atenção para focar estranhas preocupações.

Na pausa das doze ou treze horas, é bom que a refeição a se fazer seja leve (leite, uma fruta, um sanduíche), tomada devagar; é mau fazer lanche farto, novo almoço que sobrecarregue o estômago e torne menos fácil o trabalho a prosseguir.

Ao voltar para casa, ao fim do labor cotidiano, é mau tomar aperitivos alcoólicos que nos fazem perder tempo, dinheiro e, sobretudo, saúde; é mau ler no veículo, onde, além da trepidação, a iluminação é inconveniente para a vista; é bom não perder a prudência à hora de buscar a condução.

Se possui automóvel, é mau o excesso de velocidade, por mais pressa que se tenha de voltar para casa (a velocidade excessiva é a grande causa dos desastres de trânsito).

Ao chegar em casa, é bom mudar de roupa; é bom tomar um banho; é mau continuar a se preocupar com o trabalho do dia.

O jantar, é bom que seja comparável ao primeiro almoço, de pratos bem combinados, devendo-se mastigar devagar e despreocupadamente. Depois do jantar é bom usar o fio dental, escovar os dentes e bochechar um pouco de água para limpeza da boca.

Depois do jantar, tanto é bom um breve passeio a pé quanto a reunião em casa amiga para a conversa. Nesta, é bom saber falar, mas também saber escutar; é mau discutir com veemência, coisa que nos faz perder a serenidade e causa irritação.

Depois, é bom lembrar que são necessárias de sete a oito horas de sono, em quarto bem arejado, tendo o corpo convenientemente agasalhado.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de fevereiro de 1968-Fraternidade Rosacruz-SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Valor de uma Peça do seu Vestuário feito de couro ou de pele

O Valor de uma Peça do seu Vestuário feito de couro ou de pele

Sempre no outono ou no inverno (e, atualmente, em alguns dias também do verão e da primavera) temos um clima mais frio e entre outros artigos que muitas pessoas utilizam nesses dias temos as jaquetas, os blusões, as calças, os casacos, os calçados, os cintos e outros acessórios de vestuário feitos de couro e de peles de animais e que são exibidos nas vitrines das várias lojas para chamar a atenção dos clientes e os instigar a compra-los.

Caro leitor, você já parou para pensar no custo de, por exemplo, um casaco de couro ou de pele de animal? Não queremos dizer em valor monetário, mas sim, em agonia e sofrimento dos animais, e na degradação daqueles que os caçam, especialmente no estado de selvageria insensível.

Já lhe ocorreu que, ao comprar uma peça de roupa feita de couro ou de peles, você é responsável pelas atrocidades cometidas ao despertar esse desejo desnecessário para tal elegância?

Quando o ser humano mata animais em matadouros ou em locais semelhantes, ele, utiliza métodos para reduzir ao mínimo de sofrimento possível do animal – ainda que, também, totalmente equivocado nessa sua ação de matar o que não pode criar -, mas, pior ainda é quando caça animais para obter sua pele ou couro, ou ainda, outra parte do corpo do animal. Aqui o ser humano mostra uma indiferença absoluta aos sentimentos e sofrimentos de suas vítimas. E, ainda mais, muitas vezes ele parece até se gloriar por isso.

Ficamos sabendo de uma história em que um número de homens e meninos perseguiram um animal por quatro horas e, depois que o animal deu à luz a dois filhotes, ainda foi perseguida por duas horas, antes que finalmente fosse morta.

Há muito couro e peles curtidos para fabricar jaquetas, os blusões, as calças, os casacos, os calçados, os cintos e outros acessórios de vestuário obtidos capturando animais em armadilhas, e a morte desses animais, geralmente, não ocorre imediatamente e, muitas vezes, leva vários dias de sofrimentos e dores muito intensas para que ele morra.

A armadilha de aço é a ferramenta mais utilizada pelos caçadores profissionais e o poder desse terrível instrumento é tão grande que, muitas vezes, amputa a perna da presa em um único golpe. De fato, é relatado pelos caçadores que muitos animais escapam, assim, por um tempo pelo menos, se diz que, em média, em cada cinco animais capturado um tem apenas três patas. Às vezes, eles têm apenas duas ou uma perna, e há registro de um caso de um rato-almiscarado[1] com apenas uma perna que foi pego pela cauda. Basta pensarmos o tamanho do sofrimento causado àquele pobre animal antes que, finalmente, sua pele caísse nas mãos do selvagem caçador humano. Os inventores modernos voltaram sua criatividade para a tarefa de impedir que os animais capturados escapassem do cativeiro, ou por amputação, ou roendo a perna presa ou torcendo-a para sair, como fazem alguns animais quando estão agonizando; fazendo armadilhas mais equipadas e com um dispositivo para que o membro do animal preso que está diretamente no centro da armadilha será agarrado perto do corpo. Quando isso acontece, nenhuma torção ou mordida libertará o cativo.

O “spring pole” é outro mecanismo que os caçadores usam para impedir a fuga de suas presas, uma vez que tenham caído na armadilha. Consiste em uma barra flexível fixada no chão próximo à armadilha, com a extremidade superior dobrada e presa de maneira que possa ser liberada por qualquer chave inglesa. A corrente da armadilha de aço é presa ao mastro, e quando o pobre animal é pego e luta para escapar, ele quebra o cordão que solta o mastro e a armadilha com sua vítima é empurrada para cima, onde a pobre vítima fica pendurada e morre de fome, ou congela, lutando e sofrendo até que a morte a liberta, ou o caçador cruel aparece e dá o último golpe que põe fim à sua miséria.

Porém, de todos os métodos atrozes usados ​​pelos caçadores para capturar suas presas, o empregado na caça do arminho[2] é talvez o grau mais cruel. Consiste em pegar um pedaço de ferro muito pesado, deve revesti-lo com graxa e colocá-lo onde o arminho o ache.

O arminho lambe a graxa, e o frio intenso do ferro faz com que a língua congele instantaneamente, como se tivesse sido colocada numa prensa. Não há possibilidade de escapar, a não ser arrancando fora a língua do animal; e as lutas frenéticas do pobre animal fazem com que uma área cada vez maior da língua se adere ao ferro e, assim, todo o interior da boca irá se congelar devido a exposição prolongada ao frio intenso do Ártico. Preferencialmente, se usa este método de armadilha ou a bala de espingarda para não danificar a pele, pois este será o casaco de uma personagem da alta sociedade. De fato, a pele do arminho é cara, não pelo valor monetário, mas, principalmente pelo uso da atrocidade empregada para garantir a pele daquele pobre animalzinho.

Nenhuma língua pode dizer ou retratar na escrita, nem podemos jamais compreender, o que as pobres vítimas da vaidade humana devem suportar durante as longas horas e dias de terríveis sofrimentos lá em cima no silêncio do grande Norte em neve. Apenas pensemos nisto!

Estima-se que trinta milhões de animais sejam mortos anualmente por causa de suas peles (veja mais detalhes no anexo abaixo). Se todos esses milhões de animais pudessem ser reunidos com seus corpos despedaçados e mutilados numa montanha de mortes; esta seria a prova da nossa brutalidade e crueldade contra eles!

E lembre-se, todo mundo que usa essa elegante roupagem de jaquetas, blusões, calças, casacos, calçados, cintos e outros acessórios de vestuário feitos de couro e de peles de animais é parcialmente responsável pela crueldade e pelo sofrimento causado a essas pobres vítimas da ganância (ou egoísmo) humana, pois se as pessoas se recusassem a usar esses objetos, a demanda cessaria e os pobres animais ficariam em paz para viver suas vidas da maneira adequada.

Às vezes, ou com frequência, as pessoas contestam que, se não matássemos esses animais ou mesmo o gado, os porcos, as galinhas, os peixes e outros animais “comestíveis” e os comêssemos, o Planeta Terra seria dominado por eles.

Porém, esse não é o caso! Não é usual comermos cães ou gatos, coiotes ou gambás, nem mesmo são caçados por sua pele, couro ou pela carne.

Por exemplo, os cavalos estão na mesma categoria, contudo, esses animais não se multiplicam além do limite, e o ocultismo nos ensina que cada espécie de animal é a expressão, no Mundo Físico, do Espírito-Grupo[3] deles que os dirige de fora, a partir do Mundo do Desejo. Daí o notável instinto com que são dotados. Quando esses animais são mortos, antes do tempo da sua morte por causa natural, o Átomo-semente, que forma o núcleo do Espírito-Grupo, é liberado do animal moribundo e usado pelo Espírito-Grupo para fertilizar rapidamente outro de sua espécie.

Assim, quanto mais matamos, dentro de certos limites, é claro que, mais rapidamente a espécie se multiplica, mas se abstermos de matar, não será necessário que o Espírito-Grupo fertilize os animais com tanta frequência. O nascimento diminuirá na mesma proporção que a morte.

Mas, voltando à questão das peles e do couro usados para vestuário, sustentamos que as peles são luxuosas, assim como muito tipo de couro, e não se pode dizer, na extenuação do crime envolvido e em torná-los essenciais à vida humana, que é a mesma reivindicação relativa à carne de mamíferos, aves, peixes e quaisquer outros animais “comestíveis” como alimento.

Aqueles que aspiram viver a vida superior e alcançar a ativação dos seus poderes anímicos não podem se dar ao luxo de usar essas coisas caras, nem se encher desse egoísmo, nem matar o que não pode criar, nem se ausentar de praticar a compaixão e a misericórdia com os nossos irmãos menores.

Algum tempo atrás, uma senhora chegou à Mount Ecclesia (sede mundial da Fraternidade Rosacruz) professando estar entediada e desgostosa pela sociedade, exceto tudo aquilo que se referia ao progresso espiritual; mas quando lhe foi dito que ninguém seguiria a Cristo em um casaco de pele, ela admitiu que tinha um casaco de pele de mil dólares e que não desistiria dele sob nenhuma consideração; se retirou de lá no dia seguinte, irritada com a ideia de que lhe havia exigido um sacrifício tão grande e que havia se colocado sob um professor que era mais complacente em seus pontos de vista sobre a vida e os luxos.

Todos sabemos que, de fato, é possível obter roupas totalmente quentes (por maior que seja o frio) que não são feitas com peles ou coro de animais. Max Heindel foi testemunha ocular desse fato, quando disse que ele mesmo, tendo viajado lugares de altas latitudes, tanto para o norte e como para o sul, mesmo na Sibéria e no Polo Ártico, onde as temperaturas eram extremamente baixas não utilizava nada de couro. E isso no início do século XX!

O que foi dito sobre as peles e o couro também se aplica às penas e outras partes do corpo de um animal, tanto no que diz respeito ao custo de crueldade quanto à falta de necessidade de uso. Roupas bonitas, artísticas e quentes podem ser feitas sem o uso de couro, peles ou penas, para o bem-estar econômico e espiritual de quem se abstém de usá-las.

Mesmo calçados, como sapatos, sandálias, chinelos e outros tipos já podemos obter no mercado atual a preços acessíveis para todas as camadas da sociedade. Com o advento da internet e de revistas especializadas para vegetarianos e veganos o acesso a informação é muito fácil. Basta querer!

Se você é um Estudante que já despertou para o Evangelho da Compaixão já compreendeu que deveria ser considerado um crime tirar a vida de um animal, assim como agora é considerado crime tirar a vida de um ser humano.

Temos certeza que com a aproximação da Era de Aquário essas peças de vestuário serão substituídas por outros produtos da indústria que servirão a esse propósito de maneira completa ou melhor.

É aqui que os Estudantes Rosacruzes podem ajudar a moldar os pensamentos do mundo, tanto por suas ações em se abster do uso de couro, peles, penas e outras partes dos animais, quanto por defender a ideia de que são desnecessários, chamando a atenção dos outros para as atrocidades cometidas para obter essas coisas. Assim, o Estudante Rosacruz pode ajudar a acelerar o dia de “paz na terra e boa vontade entre os homens” – e também os animais.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross – out/1917, traduzido e atualizado pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

Anexo sobre “animais ainda são usados para fazer casacos de pele”

Desde focas e chinchilas até raposas e linces, milhões de animais são mortos todos os anos para a confecção de casacos de pele no mundo. Só na França são abatidos 70 milhões de coelhos por ano para esse fim. Mas a indústria dos casacos de luxo é alvo de críticas. Para as organizações de defesa dos animais, mais do que injustificada – há tecidos sintéticos e naturais que cumprem a função -, a atividade é extremamente cruel. O sofrimento já começaria na captura do bicho, que pena nas mãos dos caçadores – as focas, por exemplo, são mortas a pauladas na cabeça, para não danificar a pele. Mesmo quando criados em cativeiro, os animais viveriam em condições degradantes e padeceriam horrores na hora de extrair a pele.

Os produtores, por sua vez, contestam o que chamam de sensacionalismo das entidades. “No caso da chinchila, a morte ocorre pelo destroncamento de uma das vértebras cervicais. É um processo indolor, sem sangue ou sofrimento”, diz Carlos Perez, presidente da Associação dos Criadores de Chinchila Lanífera (Achila). Para os defensores dos bichos, porém, a crueldade fica óbvia quando se leva em conta que, ao contrário do que rola com vacas e frangos – mortos para alimentar pessoas -, no caso da indústria da moda os animais são sacrificados apenas para alimentar a vaidade alheia.

As fases para se fazer as jaquetas, os blusões, as calças, os casacos, os calçados, os cintos e outros acessórios de vestuário:

  1. Os animais usados para fazer casacos de pele podem ser criados em cativeiro (como chinchilas, coelhos e martas) ou ser caçados em seu habitat (como focas, ursos e lontras). O abate rola quando o bicho atinge a maturidade e ocorre sempre no inverno, quando o pelo é mais longo, brilhante e abundante
  2. Há vários modos de abater o bicho. Eles podem ser mortos a pauladas, ser estrangulados – método indolor, segundo os produtores – ou, entre outras técnicas para resguardar a pele, ser eletrocutados com a introdução no ânus de ferramentas que fritam os órgãos internos.
  3. Depois que o animal é morto, é hora de extrair sua pele. Há várias formas de escalpelá-lo, algumas mais profissionais e outras rudimentares e violentas.

Escalpelamento profissional:

  1. Nas fazendas de criação de chinchilas, faz-se um pequeno corte no lábio inferior do animal e outro próximo ao órgão genital
  2. Em seguida, é introduzida uma vareta de ferro de um ponto a outro. Ela funciona como um suporte-guia para o corte
  3. Com um bisturi, se desprega a pele do animal, evitando danificá-la. Quanto mais intacto o couro, maior o seu valor de mercado

Escalpelamento amador:

  1. Nos modos mais cruéis, como rola em alguns locais da China, o animal é morto a pauladas e suas patas são decepadas
  2. O bicho então é dependurado pelo coto da pata, e seu couro é extraído a partir desse ponto com a ajuda de uma faca
  3. A pele é puxada com força, como se fosse tirada ao avesso. Em muitos casos, o animal ainda está vivo durante esse processo
  4. Uma vez retirada, a pele é presa com alfinetes ou pregos numa tábua, onde ficará por alguns dias no processo de secagem. Nessa etapa, ela ganha forma definitiva e não vai mais encolher nem sofrer deformações
  5. O passo seguinte é o curtimento da pele. Num curtume, ela passa por banhos químicos para retirada de sujeiras, cheiro e gordura, evitando que apodreça mais tarde. Ela também pode ser tingida
  6. Após o curtimento, as peles vão para as confecções, onde são costuradas umas nas outras até tomarem a forma de um casaco. No acabamento, é aplicado um forro, em geral de cetim, na parte interna.

(Artigo publicado na Revista Mundo Estranho, em 28 jul 2009)

[1] N.T.: O rato-almiscarado é a única espécie do gênero Ondatra, é um roedor semi-aquático de porte médio nativo da América do Norte.

[2] O arminho é um carnívoro mustelídeo de pequeno porte pertencente ao grupo das doninhas. A espécie ocupa todas as florestas temperadas, árticas e sub-árticas da Europa, Ásia e América do Norte.

[3] N.T.: Um Arcanjo, uma onda de vida muito superior a nossa e extremamente sábia. Lembrando: Cristo é um Arcanjo, o mais elevado entre eles.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Jonathan e o Anjo

Jonathan e o Anjo

Jonathan não era exatamente medroso, mas, por outro lado, não era muito corajoso. Estava profundamente adormecido quando, de repente, pareceu-lhe ouvir uma música. Sentou-se a tempo de ver seu irmão e os outros pastores descendo a montanha apressadamente em direção à pequena cidade de Belém. Por que estavam indo a Belém a essa hora da noite? — E, se ele tinha que ficar sozinho para vigiar as ovelhas, eles não deveriam tê-lo avisado?

Então, Jonathan percebeu que havia muitas luzes no céu e que a música, que ele pensava ter ouvido em sonho, ainda continuava. Uma música como ele jamais havia ouvido — parecia ser acompanhada de centenas de vozes e era ao mesmo tempo tão doce e suave, que teve vontade de chorar. Mas que tolice! Ele tinha sete anos e certamente não chorava mais.

Entretanto, alguma coisa estava acontecendo que ele não podia entender. Sabia que era noite, mas o que eram todas aquelas luzes vibrando em todos os lugares, principalmente bem em cima de Belém? E de onde vinha aquela música?

As ovelhas não estavam agitadas, mas elas também estavam acordadas. Elas estavam deitadas, de olhos abertos e pareciam escutar a música. Elas, entretanto, não ficariam em silêncio por muito tempo, não com todas aquelas coisas estranhas acontecendo. E quando começassem a perambular, o que ele faria? Por que, oh, por que ele tinha importunado tanto seu irmão para que o trouxesse para as montanhas com os outros pastores? Ele era muito novo para ser pastor. Seus pais haviam dito isso e eles tinham razão. Agora, seu irmão e os outros tinham ido embora para, provavelmente, dar-lhe uma lição.

De repente, Jonathan sentiu seu coração quase parar de bater. Bem na sua frente, surgindo do nada, estava…estava um Anjo! Ele nunca tinha visto um Anjo antes, mas sabia que aquilo era um Anjo. Era alto, vestido todo de branco, com uma linda luz cor de pêssego reluzindo ao seu redor. Seu rosto era sério, mas tão bondoso que imediatamente Jonathan teve vontade de contar-lhe seus problemas.

Então, o Anjo sorriu e pronunciou umas palavras com voz tão profunda e suave, que parecia estar cantando e não falando:

— Seu irmão e seus amigos foram a Belém para ver algo muito bonito. Você gostaria de ir também, Jonathan?

— Sim – sussurrou Jonathan – mas e as ovelhas — ele começou a falar.

— As ovelhas estarão seguras. Venha, meu filho.

E o Anjo desceu o atalho que levava até a vila. Jonathan correu atrás dele e o alcançou, e ficou olhando para Seu rosto. O Anjo não disse nada, mas sorriu para o menino carinhosamente, com tanta beleza e amor, que Jonathan sentiu como se quase pudesse voar, de tão feliz que estava.

Juntos, eles desceram a montanha e atravessaram as estreitas e curvas ruas da vila, passando pelas lojas dos tecelões, pelos lugares onde se vendiam ervas cheirosas, pelo lugar onde se guardavam os camelos, pela loja do homem que fazia tendas e pela árvore sob a qual o velho Malaxai, o escriba, sentava-se todos os dias lendo e escrevendo cartas para as pessoas da vila.

Finalmente, eles chegaram ao outro lado da vila e a luz que tremulava pareceu-lhes ainda mais brilhante. Ali existia uma gruta onde os estrangeiros que ficavam na hospedaria guardavam seus animais. A gruta estava iluminada como se o Sol estivesse brilhando dentro dela. Parecia haver algumas pessoas, mas estava muito silenciosa. Nada podia ser ouvido, exceto a música que não cessava.

Jonathan viu seu irmão e os outros pastores ajoelhados e silenciosos. Viu também pessoas desconhecidas ajoelhadas. E viu que havia algumas vacas, ovelhas e um enorme cachorro que pertencia ao dono da hospedaria. Os animais estavam deitados e eles também estavam muito quietos.

Então, Jonathan viu um homem em pé no meio da gruta. Ele era alto e distinto, tinha cabelos pretos e barba longa. Não era um homem grande, mas parecia muito forte. Tinha na mão um bastão, que geralmente as pessoas que costumavam andar muito, usavam, mas não parecia apoiar-se no bastão.

Perto dele estava sentada a senhora mais bonita que Jonathan já havia visto. Seu rosto era jovem e radiante, seus olhos brilhantes e ternos e a luz brilhava fortemente à sua volta.

Na frente deles, no chão, havia uma manjedoura onde usualmente a comida do gado era posta. Nessa manjedoura, num berço de palha, estava deitada uma criança. E, de repente, Jonathan percebeu que era por causa dessa criança que as luzes estavam brilhando, que a música estava tocando e o Anjo o havia levado lá.

O bebê estava acordado, deitado quietinho, com seus olhos abertos, sorrindo para sua mãe — pois aquela linda senhora certamente era sua mãe — estendendo sua mãozinha para ela que lhe deu o dedo para segurar.

Sem saber exatamente por quê, Jonathan ajoelhou-se no chão na frente da manjedoura. O Anjo veio, parou a seu lado e disse baixinho numa voz terna:

— Este é o Menino Jesus. Maria e José são seus pais. Um dia, quando o pequeno Jesus crescer e for adulto, o grande Espírito Cristo vindo do Sol descerá, entrará nele e ele se tornará o Salvador do Mundo.

O Anjo afastou-se, mas Jonathan continuou ajoelhado. Não estava certo de ter entendido exatamente o que o Anjo quis dizer. Mas entendeu que Deus havia enviado aquela criança como um presente para ele, para seu irmão, para as pessoas da vila — enfim, para todas as pessoas do mundo. E que, por causa daquela criança, o mundo seria um lugar melhor e mais feliz para todos morarem nele.

Então, o bebê virou a cabecinha olhou para Jonathan e sorriu. Jonathan também sorriu, estendeu a mão e tocou de leve a madeira da manjedoura. Em seguida, um pouco assustado com o que tinha feito, tirou rapidamente a mão e ficou em pé, olhando para a mãe da criança.

— Estou contente por você ter vindo – ela disse com amor, exatamente com a mesma expressão de ternura que sua mãe o olhava sempre.

— E eu estou contente por ser um pastor essa noite e ter visto o bebê – disse Jonathan.

Ele se virou e foi saindo lentamente da gruta. Quando ele voltou para a vila, o Anjo apareceu de repente a seu lado:

— Voltarei para a montanha com você. Assim poderá dormir em paz quando chegar lá. Nada acontecerá às ovelhas nessa noite.

Eles andaram silenciosamente pelas ruas de Belém e Jonathan começou a perceber que, ao passar pela casa de pessoas conhecidas, pensava nelas com amor. Ele amava de fato todas as pessoas da vila e não se importava mais por Levi ter-lhe jogado uma pedra no outro dia, nem por seu irmão, às vezes, puxar o seu cabelo ou xingá-lo. Essas coisas não eram importantes. O importante era que todos aprendessem a amar-se uns aos outros e assim não haveria mais sofrimento no mundo. E Aquela Criança tinha vindo para dizer isso a todos.

Quando alcançaram o topo da montanha, Jonathan estava com muito sono. Sabia que devia dizer algo gentil ao Anjo e agradecer-Lhe por tê-lo levado para ver a criança, mas antes que pudesse falar alguma coisa, o Anjo disse:

— Agora, deite-se e durma Jonathan. Pela manhã, haverá um lindo nascer do Sol.

Jonathan deitou e cobriu-se com o cobertor. Logo adormeceu, mas, durante toda a noite, ouviu a música divina e viu a luz abençoada brilhando sobre Belém. Ele e suas ovelhinhas estavam seguros na companhia dos Anjos.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. IV – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Eco que Filipe ouviu

O Eco que Filipe ouviu

Filipe ficou alegre quando seus pais se mudaram para a fazenda. Um belo dia, estando ali brincando no campo, exclamou com toda a força dos pulmões:

“Hurra! Hurra!” Ouviu em seguida, num mato próximo, uma voz exclamando também: “Hurra! Hurra!”.

O menino assustou-se muito. Gritou logo: “Quem é você?” A voz desconhecida replicou: “Quem é você?” Irritado, tornou: “Você é louco!” “Você é louco!”, ressoou o mato.

Então Filipe ficou mais zangado ainda, e com mais força começou a dirigir insultos ao mato, os quais foram todos fielmente repetidos pelo eco.

Afinal o homenzinho foi ao mato à procura do imaginado menino, mas naturalmente a ninguém pôde encontrar.

Enfurecido, Filipe correu para casa, e queixou-se à mamãe do menino malcriado, que se havia escondido no mato, dirigindo-lhe toda sorte de nomes feios, muito feios!

Respondeu-lhe a mãe: “Dessa vez, meu filho, você se enganou muito porque se acusou a si mesmo como menino tão mau. Você não ouviu nada mais que suas próprias palavras. Assim como tem visto muitas vezes o seu rosto refletido na água, também agora ouviu somente o eco de sua voz. Se tivesse falado de maneira agradável, filhinho querido, essas mesmas palavras lhe teriam sido repetidas.”

Filipe sentiu-se muito envergonhado por essas palavras de sua mãe, e saiu correndo de casa, até chegar perto ao mato. Começou logo a proferir palavras amáveis, as quais foram devolvidas fielmente pelo eco, como antes o foram os nomes feios. Convencido da verdade que lhe contara a mãe, o rapazinho pôs-se agora muito satisfeito.

É sempre o mesmo; o que nós pensamos ser mal no comportamento de outras pessoas é muitas vezes só o eco ou a repetição de nossas próprias ações.

Se tratarmos amavelmente a todas as pessoas (e também aos animais), seremos tratados de modo igual; mas se formos rudes e grosseiros, não poderemos esperar coisa melhor em troco, como recompensa de nosso comportamento reprovável.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1967)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Túlia de Pompeia

Túlia de Pompeia

— Tio Jack, conte-me uma história, pediu Maria Elizabeth.

Tio Jack havia acabado de chegar de uma cidade distante para visitar os pais de Maria Elizabeth. Ele tinha viajado por todo o mundo e conheceu coisas maravilhosas sobre lugares longínquos e exóticos. Maria Elizabeth tinha certeza de que ele poderia contar muitas histórias interessantes para ela.

— Mamãe diz que você conta histórias sobre meninos e meninas que viveram há centenas de anos; é verdade? Perguntou à menina.

— Possivelmente, disse Tio Jack. Talvez eu possa contar-lhe alguma coisa desse tipo.

— Como você faz isso? Perguntou Maria Elizabeth. Como você pode saber sobre meninos e meninas que viveram há tanto tempo atrás?

— Você já ouviu falar da Memória da Natureza? Perguntou Tio Jack. Pois ela existe e é dela que eu tiro o material para algumas de minhas histórias; isto é, eu leio na Memória da Natureza.

— É maravilhoso! Exclamou Maria Elizabeth. Como você faz isso?

— Bem, de certo modo é como olhar para cenas que se movem. É uma espécie de segunda visão que eu possuo. Me concentro de tal maneira que vejo cenas na Memória da Natureza, como um filme passando na frente dos meus olhos.

— Parece muito interessante, disse Maria Elizabeth. Você podia me contar uma história sobre alguns dos meninos e meninas que viveram a centenas de anos?

– Certamente, foi a resposta, aqui vai.

******

A longa rua de Pompeia, sulcada por charretes, que eram carros de duas rodas usados antigamente na guerra e nas corridas, estava cheia de vida. As vozes dos vendedores ambulantes e das flores eram claramente ouvidas. E, bem perto, podia-se ouvir também os sacerdotes no templo celebrando, em cânticos e em música, sua devoção a algum antigo deus ou deusa. De longe, ouviam-se vozes excitadas e o som metálico das rodas das charretes no pavimento de pedras.

As paredes brancas das casas brilhavam à luz do Sol, embora existisse um estranho tom avermelhado sobre tudo, mas isto era talvez causado pela nuvem escura que se espalhava vinda do topo da montanha e que se erguia bem acima da cidade. Essa montanha era o Vesúvio e o seu pico estava coberto de neve.

Era uma cidade quente, rica e resplandecente. Belas casas com suas portas abertas para a rua, grandes templos com suas altas e claras colunas à luz do Sol e, à distância, podia-se perceber o azul do mar.

Multidões de pessoas e charretes estavam passando pelas ruas, correndo para algum jogo no anfiteatro distante. Um escravo saiu para a rua pela larga porta de um palácio. Protegendo os olhos com a mão, ele olhou para a nuvem escura que pairava sobre a montanha. Finalmente, com um meneio ansioso, entrou pelo portão novamente.

Era um amplo e fresco átrio, em comparação com o calor da rua. Havia vasos de flores colocados em nichos nas paredes e, ao fundo, viam-se flores e árvores no peristilo[1], uma espécie de pátio interno. O velho escravo fechou a porta da rua, pisando com cuidado sobre um mosaico que mostrava a figura de um cachorro latindo, mosaico feito com pedras de cores vivas. Sob a figura do cachorro lia-se palavras de advertência: “Cave Canem”, que queria dizer “Cuidado com o cachorro”. Então, andando lenta e pensativamente, com a cabeça baixa mergulhado em pensamentos profundos, ele entrou no peristilo, uma parte do qual era ocupada por um pequeno jardim encantador, cheio de flores.

Árvores verdes lançavam sua sombra refrescante sobre bancos de mármore branco, a passagem estava coberta por tapetes de cores luminosas, estátuas brancas e brilhantes espiavam de seus recantos cheios de flores e de samambaias, e o esguicho fresco da água da fonte sustentada por um fauno branco, alimentava o chafariz onde nadavam peixes dourados. Perto do chafariz e sob a sombra de uma pequena figueira havia um divã e nele, entre montanhas de almofadas macias, recostava-se uma menina frágil e esbelta brincando com um macaquinho branco.

Vagarosamente, o escravo aproximou-se e sentou-se no chão de mármore.

— Por que você está tão intranquilo hoje, Nelo? Perguntou a doce voz infantil, enquanto a menina estendia a mão delgada tocando a face escura do escravo. Você queria ir aos jogos com os outros escravos?

— Não, não é isso, pequena Túlia. Você sabe que eu não gosto de ver homens e feras lutando. Além disso, seu pai pediu-me para tomar conta de você até que ele voltasse.

A menina riu.

— Então não fique tão ansioso. Você está quase tão intranquilo quanto meu pequenino Nito. Você acha que é este calor sufocante que o faz ficar assim?

Nelo olhou para o macaquinho que estava andando de um lado para outro, mexendo os olhinhos pretos, como se fosse incapaz de decidir qual o lugar melhor ou mais seguro.

— Ele está com medo de alguma coisa, pequena Túlia. Os deuses deram aos animais um senso de perigo mais aguçado do que o nosso.

O rosto da criança tornou-se sério. Ela ergueu-se um pouco nas almofadas e disse:

— Talvez seja por isso que as feras, nas covas do circo, estão rugindo tão alto. Você acha que elas também estão com medo de algo?

O velho Nelo, olhando rapidamente para a criança, sorriu e respondeu:

— Olhe, pequena Túlia, não fique com medo. Sem dúvida alguma, é por causa do calor que elas estão tão intranquilas e também por causa do terremoto que algumas noites atrás assustou-as.

Túlia sorriu e bateu levemente na mão do escravo:

— Claro que eu não sinto medo com você e Adriano tomando conta de mim. Mas gostaria que este calor e essa claridade terríveis cessassem.

O velho escravo levantou os olhos para um jovem alto que havia se aproximado e estava ali parado, ouvindo a conversa. Com uma troca de olhares, eles se afastaram para um canto do pátio.

— O que você acha, meu pai? Perguntou o mais jovem, em voz baixa. Você acha que é melhor deixar à cidade rapidamente levando a criança?

Passando a mão trêmula sobre os olhos, o velho respondeu:

— Eu gostaria que os deuses me dissessem o que fazer. O patrão ordenou que ficássemos aqui até que ele voltasse de Roma, mas ele não podia imaginar O perigo que nos ameaça. Muitas vezes vi montanhas esconderem seus topos em nuvens avermelhadas e não posso deixar de ter medo. Não gosto desta coisa no ar e do rugido dos leões — Oseias disse-me que desde ontem eles vêm recusando todo alimento, procurando fugir de qualquer jeito da sua cova.

Ele pensou mais um pouco e ordenou:

— Vá, meu filho. Junte alimentos e roupas, enquanto eu preparo a pequena Túlia para a viagem. Você tem certeza de que o barco está pronto?

— Aprontei tudo esta manhã como o senhor ordenou, respondeu Adriano, saindo apressadamente.

Nelo voltou para perto da menina, substituindo seu olhar preocupado por um sorriso calmo para evitar que ela ficasse assustada.

— Você gostaria de dar um passeio de barco esta tarde? Talvez esteja mais fresco no mar.

Túlia sorriu e bateu palmas alegremente:

— Claro que gostaria, Nelo. E talvez possamos encontrar papai e mamãe. Você sabe, está quase na hora deles voltarem.

Com movimentos rápidos e delicados, Nelo levantou nos braços o corpinho frágil, envolvendo-o num chalé de seda.

— Algum dia, Nelo, eu andarei como às outras crianças; você não acha? Perguntou Túlia, levantando a cabeça para observar o rosto do escravo.

Ele sorriu, enquanto ajeitou o xale nos pezinhos rosados da menina e disse:

— Com certeza você vai poder andar e correr como qualquer criança da rua se realmente quiser; não foi isso que os grandes médicos disseram a seu pai? E seus pais não oferecem diariamente orações e presentes nos templos, para que os deuses a curem?

Sentindo-se mais confortada, Túlia sorriu alegremente e aconchegou-se nos braços do escravo.

— O senhor está pronto, pai? Perguntou Adriano, parado na porta. Carregando Túlia cuidadosamente, Nelo saiu, seguindo o filho.

Na rua assustaram-se com a rápida mudança: a luminosidade era agora de um vermelho intenso e a nuvem escura tinha-se espalhado num formato de cogumelo sobre toda a cidade.

Nelo olhou para cima e cochichou para o filho:

— Vamos andar mais depressa, pois temo que já seja tarde demais.

De repente, Túlia gritou e agarrou o braço do escravo:

— Nelo, você esqueceu Nito! Eu não posso deixar meu macaquinho aqui. Por favor, Adriano, vá busca-lo.

Por um momento, Adriano hesitou, mas, deixando os alimentos e as roupas no chão, correu apressadamente para a casa. Pareceu a Nelo e a Túlia que ele e demorou muito tempo para voltar. A nuvem tinha-se tornado mais escura e mais pesada e relâmpagos enchiam-na de fogo, fazendo com que a pequena Túlia escondesse o rosto nos ombros de Nelo. Adriano voltou correndo, segurando o macaquinho e explicou:

— Ele estava assustado demais para reconhecer a minha voz e tinha se escondido, murmurou Adriano para o pai, ao mesmo tempo que pegava as coisas do chão.

Desceram a rua rapidamente.

A nuvem tornava-se cada vez mais negra e ruídos abafados e contínuos, como trovões, vinham do chão, sob seus pés, enquanto uma leve chuva de cinzas caía, cobrindo suas cabeças e suas vestes.

A rua que levava ao mar estava quase vazia, mas das outras ruas, das lojas e dos templos apinhados de gente, vinham gritos de pavor, à medida que as pessoas percebiam que corriam perigo.

Enquanto olhavam assustados para a nuvem escura, os dois escravos apressaram-se, levando sua carga preciosa em direção ao mar. Finalmente chegaram à praia. Nelo colocou Túlia cuidadosamente no barco, sobre uma pilha de cobertores. Ela abraçava seu minúsculo Nito, enquanto Nelo ajudava Adriano a empurrar a pequena embarcação mar adentro. Foi um trabalho rápido e logo eles se afastaram da cidade condenada.

A escuridão em breve apagou a cena e, apenas de vez em quando, os relâmpagos mostravam muitos outros barquinhos levando aqueles que tiveram a sorte de alcançar a praia.

Depois do que pareceu um longo tempo, começou a clarear de novo e o pequeno barco dirigiu-se para uma caverna pelas ondas, num alto penhasco. Adriano puxou o barco até a praia e, pegando a menina nos braços, levou-a até o refúgio e colocou-a com cuidado no chão.

— Olhe, pai, ela está dormindo. Coitadinha, está cansada. De fato, foi uma noite terrível para alguém tão frágil como ela. Aqui estará segura.

— Amanhã, nós a levaremos para a casa dos parentes, de onde poderemos mandar uma mensagem para nosso patrão. Ele ficará contente em saber que a filha está em segurança, pois ela é o tesouro de seu coração.

Nelo colocou gentilmente outro xale sobre a pequena Túlia adormecida e o macaquinho aconchegou-se mais nos braços da menina, pois ele também estava muito cansado.

*******

— Oh, que bom que eles escaparam! Suspirou Maria Elizabeth. Que bom você ser capaz de ler histórias tão maravilhosas assim na Memória da Natureza. Será que à Pequena Túlia cresceu saudável e forte?

Tio Jack beijou o rosto da sobrinha e sorrindo concluiu:

— Eu tenho a certeza que sim, querida, porque eu segui a história até o fim de sua vida.

Maria Elizabeth exclamou alegremente:

— Estou tão contente! Isto torna a história ainda mais maravilha.

[1] N.R.: Pátio rodeado por colunas.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. IV – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Vegetarianismo e a Lei do Amor

O Vegetarianismo e a Lei do Amor

O vegetarianismo é muitas vezes adotado por questões de saúde, como um regime alimentar mais saudável, mais higiênico e muito mais substancioso. Porém, o aspecto mais importante do mesmo é ser ele um modo de pensar e de sentir, visto estar profundamente ligado à ideia da Fraternidade Universal. Todos os reinos da natureza são partes de um Todo. A ciência e algumas religiões aceitam e explicam, de certo modo, a Lei da Evolução, a qual se processa através do desenvolvimento da consciência. Sendo o ser humano o ser dotado de maior consciência, é por isso mesmo de maior responsabilidade no mundo.

Por seu contínuo pensar, há de se aproximar cada vez mais das verdades proclamadas em todos os tempos por sábios, filósofos, santos e profetas. A base dessas verdades é, invariavelmente que a Lei do Amor é a única que conduzirá o ser humano a um estágio de real grandeza espiritual. Sem o amor, poderá conhecer grandes progressos materiais, mas somente com ele alcançará a verdadeira civilização, via do desenvolvimento espiritual. Ora, a Lei do Amor não pode admitir a cruel matança dos animais, como a que se executa, cada vez em maior escala.

Dizemos cruel e sobretudo inútil, porque, se é com fins de alimentação, milhões de vegetarianos em todo mundo provam que vivem em iguais ou melhores condições físicas e intelectuais que os não-vegetarianos. Se é com fins esportivos, nada pode ser mais vexatório para nosso orgulho de civilizados, de que ver alguém divertir-se matando friamente seres sensíveis. Se é com fins ornamentais, de produtos de beleza e de moda, como acontece com o uso de casacos de pele, artefatos de couro, enfeites de penas, cosméticos, xampus, etc., mais evidencia a inutilidade da matança, porque há atualmente outros tipos de produtos de beleza e higiene, vestuários, calçados, agasalhos e de enfeites, talvez mais duradouros e belos do que provenientes do sacrifício de animais.

Poucas pessoas comeriam carne se elas tivessem de matá-los, ou se assistissem aos processos clamorosamente cruéis de seu diário abate. Compreende-se que no passado o cultivo das terras era reduzido, difícil em muitas regiões, desconhecidos os grandes recursos agrícolas da atualidade, ignorado o valor alimentício de muitos produtos da terra.

Tenha-se em vista apenas os exemplos de soja e do amendoim. Hoje enriquecidos de tão grandes progressos, como explicar que ainda não tenhamos vencido essa superstição sobre o valor da carne como alimento?

Podemos cultivar o sentimento de Fraternidade Universal, aprovando, apoiando, participando da crueldade, indiferentes ao sacrifício diário de milhões desses seres?

Por outro lado, é uma incoerência comemorar datas dedicadas à seres que amaram a todos os seus irmãos, inclusive aos irracionais, como no NATAL, sacrificando em nossas mesas suas indefesas vidas.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – mar./abr./88)

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