Primeira Bem-Aventurança: “Felizes os mendigos de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”
Mateus, 5:3 – “Felizes os mendigos de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”.
Lucas, 6:20 – “Felizes os pobres, porque vosso é o Reino de Deus”.
Lucas, 6:24 – “Mas ai de vós que sois ricos, porque já recebestes vossa recompensa”.
Jerônimo fez constar na “Vulgata”: “pobres PELO espírito” ou “pobres SEGUNDO o espírito”. Talvez desejasse evitar a palavra “mendigos”, mas com isso induziu a um afastamento maior do sentido real, pois as versões atuais ao português registram: “Bem-aventurados os pobres DE espírito”.
Na linguagem corrente, “pobre de espírito” é um indivíduo tolo. Ninguém poderá supor que seja esse o sentido.
Todavia, na melhor das hipóteses, nas mãos de pessoas simples, a leitura dessa bem-aventurança poderá sugerir que a pobreza é uma virtude e a riqueza um pecado. Não é de admirar que, ante essas traduções, os comunistas acusem os cristãos de estarem disseminando o conformismo à miséria, para servirem aos poderosos.
Nada mais errado. A tradução exata do texto original grego do primeiro século é: “mendigos de espírito” (ptôchoi tôi pnêumati), como fizemos constar acima. “Ptôchoi” quer dizer: “aquele que caminha a mendigar”. É o mesmo que dizer: “O indivíduo internamente aberto para receber de seu Espírito interno o de que necessita para sua evolução diária”. O Cristo não se refere, pois, a pobrezas ou riquezas materiais, senão, à necessidade de a pessoa se abrir à Fonte interna para dela receber mais amplos e justos recursos. Se Ele ensinou isto é porque NOS fechamos.
Vejamos como e porque acontece isto, a fim de tomarmos consciência e buscarmos a solução indicada nesta bem-aventurança.
O ser humano é uma Centelha Divina em evolução, ou, como disse São Paulo, um “Cristo em formação”. O Gênesis ensina que “fomos feitos a Imagem e Semelhança de Deus” – o que levou os esoteristas a compreenderem que o ser humano é um microcosmo, tendo em si, em potencial, tudo o que tem o Macrocosmo. A evolução consiste em dinamizar ou transformar em consciência, as faculdades que se acham adormecidas no íntimo. Todos receberam igual herança divina, inesgotável, infinita. Mas a quantidade maior ou menor que cada um de nós dinamiza em seu íntimo, dessas faculdades divinas, é o que determina o grau de evolução. Ainda mais: cada qual desperta e utiliza esses talentos de um modo próprio, original. A isto os Rosacruzes chamam individualidade, consequência da Epigênese.
Acontece que o ser humano foi induzido a transgredir as leis da Natureza. Influenciado pela “falsa luz”, se tornou egoísta e pretensioso. Caiu (vibracionalmente) e perdeu contato com sua Essência. Assim viciado, uniu a Mente Concreta ao Corpo de Desejos e formou uma espécie de “alma animal”, uma personalidade que, embora dependendo do Espírito para viver e atuar neste plano tem a ilusão de ser Algo à parte, separada e independente do Espírito.
Nesta ilusão condicionadora, toma os recursos evolutivos já dinamizados (Alma) como seus (da persona) e os usa segundo seus interesses deturpados.
Fá-lo por ignorância – o único pecado. Simplesmente não percebe que o Espírito é a CAUSA e os seus veículos (a Mente, o Corpo de Desejos, o Corpo Vital e o Corpo Denso) são MEIOS de expressão. Julga-se a persona (a máscara) e se arroga o DONO, com o direito de conceder ou negar, de dar ou reter, de reclamar honrarias e retribuições. Sua consciência comprometida, instintivamente, teme a morte. Ouve falar de um céu e procura fazer caridades que, ao mesmo tempo, promovam sua “fama de bom”. A estas pessoas – uma grande maioria, infelizmente – são bem oportunos e atuais os símbolos evangélicos: “tendes olhos e não vedes” (cegos que não veem as realidades suprafísicas circundantes); “tendes ouvidos e não ouvis” (surdos que não ouvem as verdades a respeito de seu próprio ser). Daí que sejam também “coxos” (vacilantes), “paralíticos” (que não caminham pela reta senda), “leprosos” (moralmente impuros), obsessionados (condicionados pelos vícios) etc.
Ora, se todos têm uma Alma – que é a soma das faculdades despertadas, do “tesouro desenterrado”, que convertemos em consciência, para uso do Espírito – todos podemos e devemos SERVIR. SERVIR é verter os recursos internos, para edificação dos outros e, em última análise, para nossa evolução.
É verdade que estamos em níveis evolutivos diferentes e variados; é verdade que, os que mais têm deveriam dar mais, como foi dito: “Ao que mais é dado (o que mais evoluiu) mais lhe será exigido” (tem maior responsabilidade no uso de seus talentos). Mas não temos nada com a vida dos outros; cada qual responde por seus atos e não pelos dos outros. Em vez de estarmos de mãos vergonhosamente estendidas, sempre a pedir aos mais aquinhoados, sempre a depender de sua proteção e ajuda, façamos nossa parte e recebamos por nossos esforços o que nos é devido, pois “digno é o trabalhador de seu salário”.
Se nos colocamos na consciência da verdadeira identidade, isto é, UM ESPÍRITO, AGINDO COMO UMA PESSOA – e não uma pessoa a depender de seu espírito (muito menos uma pessoa a depender de outras pessoas), NÃO PRECISAMOS DESTA BEM-AVENTURANÇA. Cristo endereçou este ensino àqueles que se situam na persona, que pensam ser uma pessoa a depender de um Divino separado e distante, para mostrar-lhes que eles SÃO UM COM O DIVINO, QUE AGE COMO OU SENDO ELES. Portanto, é apenas questão de romper a ilusão da separatividade. Este esforço, para a religação exige persistência, anelo, ardente aspiração, esforço metódico. A isto é que se chama MENDIGAR O ESPÍRITO, expressão forte para esclarecer que nessa busca devemos ter consciência de que, como pessoa, não somos nada e que dependemos inteiramente d’Ele, que não é Ele, mas é EU, verdadeiro e superior, único.
A propósito, lembramos que há muito espiritualista sincero que tropeçando nesta e noutras bem-aventuranças, como o mancebo rico, cumprem a Lei, mas não querem deixar suas riquezas. Estão ricos de verdades espirituais, de idealismo, de boa vontade e até de desprendimento material; mas, por falta de um paralelo cultivo interno caíram na vaidade intelectual e outras manhas da personalidade. O Cristo os ama, porque realizam bom serviço; mas lamenta que se afastem, com seus muitos bens, da verdadeira realização.
Este ponto nos lembra de um formoso relato Rosacruz: um ser realizado, iluminado, chegou ao cimo da montanha e bateu à porta do “Castelo”, o “Guardião” apareceu, levou-o para dentro, mostrou-lhe as acomodações vazias.
– Vai ficar?
– Não. Quero voltar para encaminhar os que veem atrás.
– Compreendo Irmão. Quando se alcança a realização, não se quer usufruí-la. Esta renúncia é superior à renúncia do sentido humano.
É preciso meditar nisto todos os dias, até que uma nova consciência nos torne administradores fiéis, isto é, sabendo que todos têm, podem e devem DAR: amor altruísta, experiência, conhecimento, dons, habilidades várias e até recursos materiais, de modo JUSTO, AMOROSO, DESPRENDIDO, DISCRETO – reservando para nossa manutenção o que as justas necessidades reclamam. Entendamos bem: isto não é indiferença para as coisas do mundo nem omissão nas atividades. Ao contrário, é trabalhar como um ambicioso, mas estar desapegado dos resultados; administrar seriamente, de modo competente e equilibrado, corrigindo falhas, aprimorando normas, sem nos considerarmos DONOS, mas simplesmente administradores, com responsabilidade proporcional ao que recebemos, de fazer fluir os recursos na edificação de todos.
Já imaginaram um mundo assim? Já viram pessoas agirem assim? Houve e há muitos servos e amorosos; firmes e serviçais; justos e nobres. São pobres porque se sentem desapegados, isentos do sentido de POSSE. Não buscam glorificação por meio das realizações e se a fama os distingue, não se deixam corromper por ela. Fazem o melhor que podem e se o poder os bafeja, não o usam para beneficio próprio ou de seus apadrinhados. Ao contrário, usam a fama e o poder para promover o progresso coletivo, sofrendo coações dos que se sentem prejudicados por sua atuação honesta. Estes “acumulam tesouros no céu” (Alma), mas “não entesouram na Terra (personalidade), que o ladrão rouba, a ferrugem corrói e a traça destrói”. Eles têm a serena convicção de que, o que é plantado na persona, com ela morre e nada acrescenta a sua evolução. Não se apoiam no externo, mas permanecem internamente abertos ao fluxo interno da única Fonte. Isto é ser autossuficiente, apoiado em SI (no Eu real e não na persona). Se algumas coisas recebem de fora, é aparente: receberam realmente de dentro, indiretamente, como resposta de sua atuação correta: “O que dá, recebe”.
Guardemos bem: não há virtude na pobreza nem pecado na riqueza. Os valores materiais, morais, mentais, etc., em si mesmos não são bons nem maus; são apenas MEIOS evolutivos: dependem do USO que deles se faça. O dinheiro pode ser maldito ou abençoado; a inteligência pode ser maquiavélica ou serviçal. A pobreza pode ser sinônimo de preguiça, de um mal entendido desapego, de indiferença, de omissão de responsabilidade ou omissão de esforço ante as inúmeras possibilidades do mundo moderno. As restrições mentais, morais e físicas são meros efeitos de abusos anteriores e reclamam ainda mais um esforço de recuperação. Neste sentido é que devemos ajudar os carentes: a não precisarem dos outros; a servirem, em vez de serem servidos; a carregarem, em vez de serem carregados. Se desvirtuarmos o uso de nossos recursos diversos, eles se tornam um entrave e um prejuízo para nós e, às vezes, para os outros também, a quem eventualmente prejudicarmos. Se omitirmos a aplicação de nossos talentos, deixamos de evoluir, cristalizamo-nos e cortamo-nos da “videira” interna: deixamos de receber-lhe a seiva renovadora do progresso.
Um rico pode ser muito virtuoso, quando vence a tentação da POSSE egoísta e bem emprega o que o Divino lhe deu para administrar. Neste caso será um rico na Terra e um rico no céu. Inversamente, um pobre pode ser mesquinho e mau, invejoso e desonesto, avaro e egoísta. Em tal hipótese, será um pobre na Terra e um pobre no céu.
Grande é a tentação dos quatro gigantes do mundo: o Poder, a Fama, o Dinheiro e o Amor.
Daí que o Cristo tenha dito: “Quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no Reino de Deus”. Ele se referia genericamente ao sentido de apego e de posse (minhas ideias, meu prestígio, minha inteligência, meus bens, etc.) em relação ao que o Espírito põe como meios evolutivos. Não quis dizer que devamos fugir a essas tentações. Isto seria covardia, omissão comodista. É preferível cair em tentação a omitir-se. A omissão não faz evoluir; ao contrário, anestesia e cristaliza. O erro ensina profundamente, pela dor. Marca mais a consciência do que os êxitos. No entanto, o normal é evoluir sem dor. E há mais mérito no que tem e usa bem.
De toda maneira, independentemente das riquezas morais, mentais e materiais que estejamos a gerenciar (por mérito, é lógico, mas não da persona), é importante compreendermos que TUDO nos vem do Divino interno, que somos NÓS, num correto sentido. Se agirmos como Espíritos, SOMOS POBRES (referidos por São Lucas). Mas se humanamente nos apegamos e nos arrogamos os possuidores, somos ricos, sofrendo (“ai de vós .. ,”) as consequências de seu uso egoísta e prejudicial. O dinamismo, a confiança em si, deve estar firmemente alicerçado nesta compreensão.
A virtude não está só no fazer grandes bens; o crime não está só no praticar grandes males. Além do fator quantidade, pesa muito a intenção. Os Evangelhos ensinam que o óbolo da viúva foi mais valioso do que as vultosas ofertas dos ricos, porque estes, além de darem do que sobrava, fizeram-no com ostentação; já a viúva deu com amor o pouco que tinha e lhe fazia falta. O dar de si, com sacrifício e amor, valoriza os pequenos atos. O bom observador, pelas pequenas coisas conhece as pessoas. A sabedoria popular o comprova: “ladrão de tostão; ladrão de milhão”. Não que “a ocasião faça o ladrão”, mas, sim, que a oportunidade enseja os pendores (bons e maus).
Há pessoas que trazem grandes conquistas espirituais de outras vidas ou já alcançaram o contato com o Eu real ou falta pouco. Com pequeno esforço o conseguem. Outras, que se empenharam menos no cultivo interno, têm maior caminho a percorrer se bem que isto dependa, também, da proporção do empenho, na intensidade da busca, até que se torne, no dizer de São Francisco de Assis: “um instrumento do Espírito”.
A parábola do fariseu e do publicano ilustra bem que o reconhecimento dos erros, o sincero propósito de emenda, a conscientização dos limites e funções da persona, face ao Espírito, ajudam a alcançar o contato e o influxo do Divino. O fariseu, de pé no templo, proclamava suas condições de bom religioso e a contrastava com o publicano, que considerava indigno. O publicano se ajoelhou e rogou misericórdia reconhecendo suas faltas. Com a pretensão e a crítica o fariseu se fechou internamente à graça. Pela humildade e sincero reconhecimento, o publicano esvaziou sua personalidade, formando um vácuo de aspiração que o Divino preencheu de luz. A genuflexão é interna: não importa o lugar nem a postura o essencial é que a personalidade se torne passiva, fiel, obediente, amorosa para reconhecer e honrar o “Único”.
Somos sementes divinas. Trazemos no íntimo as potencialidades divinas, cujo despertar far-nos-á “perfeitos como o nosso Pai celestial”, conforme o convite evangélico. Assim como a semente tem em si a árvore mãe em potencial, mas precisa mergulhar na terra e nela transformar-se, para converter-se, no devido tempo, numa árvore igual, assim também somos nós em relação ao Criador. Devemos igualmente deixar-nos transformar pelo Divino interno para alcançar essa gloriosa meta evolutiva. Identificar-se com a personalidade; julgar-se algo à parte e separado de Deus; condescender com a personalidade nos abusos, vícios e auto endeusamento é negar-se a transformação e retardar a evolução. Corresponde ao fato da semente permanecer na superfície; procurando ser ela, para não ser árvore, acaba se ressecando e nada produzindo. Felizmente, a dor nos protege da própria ignorância e seus prejuízos. A vida se incumbe de nos fazer evoluir contra vontade, embora lentamente. Felizes os que SE AJUDAM pela compreensão, ou melhor: “felizes os que mendigam o espírito”.
Se vocês meditarem seriamente sobre “Os dez mandamentos” e o magnífico resumo que deles fez o Cristo em Mt 22:37-40, poderão tomar consciência de como ainda vivemos a incensar nossa persona, julgando-nos bons e virtuosos; arrepiando-nos com os elogios, em verdade estamos morrendo em idolatria, adorando um falso deus e pondo-o acima de nosso Eu verdadeiro e superior.
Observemos como vive o mundo e quais as consequências: conflitos, doenças, preocupações, ansiedades, dores, etc.
Não nos deixemos condicionar pelos métodos comuns de vida. Os erros dos outros não justificam o nosso.
Tenhamos a coragem de ser autênticos; de viver em coerência e harmonia com o Cristo Interno.
Certa vez uma pessoa me disse: “há muita gente que goza a vida toda, explora, prejudica os outros e depois morre feliz”. Engano! São Paulo diz claramente na Epístola aos Gálatas 6:7: “Não se deixem enganar; de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá”. Em algum tempo, em algum lugar, colheremos os frutos de nossas ações, boas e más. Se não nesta vida, nas vindouras. A morte não cancela dívidas. Isso explica porque nascem crianças com restrições físicas, morais ou mentais. Deus não castiga. Se for verdade que a ciência explica as anomalias e tendências buscando suas razões nos “gens”, a ciência oculta acrescenta: MAS NÃO POR ACASO…
Ninguém pode fugir de seu próprio bem. Ninguém pode escapar a Deus, pois “n’Ele vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”. É mais fácil conhecermos a natureza e buscarmos trabalhar em harmonia com ela, para que ela trabalhe a nosso favor, do que a desafiarmos. Ninguém jamais levou qualquer vantagem nisso. É teimosia estúpida.
Cumpre-nos, pois, conhecer a verdade a respeito de nosso ser, nossa relação com Deus e empreender decididamente a regeneração. Feliz de quem chegou a esse ponto, como diz este passo: “Bem-aventurados os mendigos de espírito!” Não que precisamos mendigar ao Eu superior a religação consciente conosco.
Ao contrário: ele a deseja ardentemente. A personalidade é que, ignorantemente, se esquiva, vencida pelos condicionamentos; ela é que SE nega à religação. Por isso que o encontro se protela. Ele respeita nosso livre arbítrio. Como no famoso quadro de Sulivan: “Ele está sempre à porta de nossa consciência e bate. SE… ouvirmos; SE… abrir-lhe-emos a porta, Ele entra e se une conosco (vislumbres) e até pode ficar morando conosco (contato permanente)”. A relutância é nossa. Por fraqueza, Lhe fazemos ouvidos moucos. Só quando as coisas apertam é que nos lembramos dele. Então, supondo que esteja fora de nós olhamos para cima e rezamos, fazendo pedidos egoístas. E os Evangelhos explicam: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal”. “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus…”. “Ele está dentro de vós”. Ora existe algo que o Divino interno não esteja fazendo, aqui e agora mesmo?
Se não faz mais é porque não Lho permitimos, com nossa resistência, com nossos bloqueios, com nossos desvirtuamentos e egoísmos! Basta desejar Deus e buscá-Lo dentro de nós, pelo prazer de sentir-Lhe a Presença.
Existe Algo maior que possamos desejar?
Tudo depende da regeneração e aspiração do encontro. O Cristo jamais falha. Ele está buscando sempre a manifestação em e através de nós, ou melhor, COMO ou SENDO realmente nós, UNO. O galho e a videira são um, a menos que o galho se negue e se feche ao fluxo da seiva: então seca e é cortado. Mas o galho que se abre internamente recebe na proporção de sua abertura. Recebe amor para compreender e aceitar tudo como é, sem mágoas nem ressentimentos; amor para fazer sua parte independentemente da conduta dos demais; intuição para agir cada vez mais corretamente, segundo a circunstância; desapego para não atribuir a personalidade a que pertence ao Divino em cada um; etc. Por isso é que foi dito: “Ele sabe o que melhor lhe convém, antes mesmo de pedir-lhe”.
Busquemos equilíbrio de ação, sem cair nos extremos de omissão e de comissão viciosa; façamos fluir os recursos de nossa ação como um rio que se une a outros, para dessedentar, fertilizar, produzir, no curso que nos leva ao grande mar. Saibamos: tudo o que oferecemos aos demais e deles recebemos é mútua edificação e trabalho do Divino. É sempre o Divino quem dá e quem recebe, no intercâmbio de recursos individuais, para que se cumpra a divina lei de DAR e RECEBER. É claro que devemos ser gratos à pessoa que serviu de Canal ao divino suprimento. A gratidão se torna virtude quando o Divino em nós rende reconhecimento ao Divino de nosso irmão. Não se trata de enaltecer a personalidade de quem ajudou, mas ao Divino que dá e que recebe em cada um, realizando a ética do DAR.
Finalizando: a mensagem desta bem-aventurança define o conceito de SER e de TER, reiteradamente debatido pelo professor Rohden: aquele que julga TER situa-se na personalidade transitória e separatista; atrai para a persona todo o mérito e nada mais tem a receber como acréscimo d’alma. Mas aquele que sabe SER identifica-se como Eu espiritual. Sua persona é canal, serva obediente e humilde que se abre aos propósitos e intuição internos, agindo impessoalmente, como ensinou Cristo: “Eu, de mim mesmo, nada posso; mas tudo posso n’Aquele que me fortalece; não sou eu quem faz as obras, mas o Pai que habita em mim”.
O que julga TER é o que deseja “ser visto pelos homens”. Mas o que sabe SER é mendigo de espírito; anseia LUZ, almeja e busca o influxo da Graça. O que TEM sacia-se no que acumulou e se fecha ao Cristo interno vindo a sofrer insatisfação, que lhe advém da mais atroz das fomes: a fome d’alma. Mas o que é, deixa de sê-lo humanamente, sendo e tendo para o seu Senhor.
Termino contando uma pergunta que um garoto de oito anos me fez há alguns anos:
– De quem são as casas e terras desta cidade?
– São da Prefeitura, dos moradores da cidade.
– E daqui a mil anos, de quem serão?
Lembrei-me de um passo bíblico: “A Terra é do Senhor e sua plenitude também”.
E respondi-lhe:
– Tudo, sempre, é do Pai do céu.
Esperamos que até lá as pessoas já tenham entendimento para tudo atribuir ao Divino.
Pergunta: Qual o significado das palavras de Jesus quando disse à sua mãe Maria: “Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora” (Jo 2:4).
Resposta: Este é mais um caso em que os tradutores da Bíblia traduziram incorretamente o texto grego de uma maneira injustificável. A observação foi feita na ocasião das Bodas de Caná, onde Maria, a mãe de Jesus, segundo a Bíblia, veio a ele dizendo que não havia mais vinho. Jesus respondeu-lhe, então, com as seguintes palavras em grego: “Ti emoi kai soi gunai”. Traduzido literalmente, temos: “O que (é isso) para mim e para ti, mulher? Ainda não é chegada a minha hora“. Mesmo se não levarmos em consideração o sentido esotérico dessa observação, isso parece bem mais agradável que a resposta áspera atribuída a Jesus na versão popular da Bíblia do Rei James.
Devemos também lembrar que o Cristo não era o filho de Maria no mesmo sentido em que o era Jesus, pois, embora Ele usasse o corpo de Jesus, Ele não reconhecia qualquer parentesco físico com Maria, portanto, o dirigir-se a ela chamando-a “mulher”, estava perfeitamente justificado.
Contudo, há outro significado mais profundo em todo o relato das bodas de Caná. Ensinou-se na literatura Rosacruz que os Evangelhos não são histórias sobre a vida de um indivíduo chamado Jesus, que foi uma figura única na humanidade. Embora o Jesus dos Evangelhos tenha existido realmente, os Evangelhos em si são histórias ou fórmulas de iniciação, e as bodas de Caná, onde Cristo realizou o Seu primeiro grande milagre, foi algo bem maior do que uma simples cerimônia de casamento entre um homem e uma mulher na vida comum. Foi, na realidade, um casamento místico do “Eu superior” com o “Eu inferior” sob a nova ordem do Serviço do Templo inaugurado, então, por Cristo. Na Época Atlante a água foi usada nos templos, mas na Época Ária o vinho era essencial.
Raças diferentes viveram sobre a Terra em várias Épocas, e elas eram constituídas diferentemente do que nós o somos hoje. A primeira raça humana é simbolizada na Bíblia pelo nome de Adão. Os seres eram da terra, terrenos, isto é, tinham somente um corpo mineral – um Corpo Denso -, pois eram formados dos minerais da Terra. A segunda raça é simbolizada pelo nome de Caim. Eles tinham um Corpo Denso mineral e, também, um Corpo Vital, formado de Éteres. Eram semelhantes às plantas e alimentavam-se de vegetais. Por isso, ouvimos dizer que Caim cultivava o solo e plantava sementes. A terceira raça desenvolveu um Corpo de Desejos e devido a sua natureza emocional e passional os seres humanos tornaram-se semelhantes ao animal. Assim, foi-lhes dado alimento animal ou carne para comer, e lemos na Bíblia que Nimrod foi um poderoso caçador. Por último, a Mente foi-lhes acrescentada formando um elo entre o Tríplice Corpo e o Tríplice Espírito. O Espírito introduziu-se então no corpo, tornando-se um morador, um Ego.
Para que esse Ego pudesse aprender a lição na Terra, ele deveria esquecer, durante algum tempo, sua origem espiritual celeste. Para esse fim, um novo alimento foi-lhe dado, e o vinho, um espírito fermentado fora do corpo, foi usado pela primeira vez por Noé, o Hierarca Atlante, para amortecer o verdadeiro Espírito que habitava o corpo.
Sob a influência intoxicante desse pseudo-espírito, o ser humano esqueceu gradualmente sua origem divina e focalizou toda a sua atenção nas lições que deveriam ser aprendidas neste Mundo. Embora a humanidade se tenha entregado a este novo gênero de nutrição, o vinho, a despeito até das orgias realizadas em cerimônias exotéricas, nos santuários de todas as antigas dispensações só era utilizado água, e os santos e sumos sacerdotes nunca permitiam que o vinho tocasse seus lábios.
Consequentemente, eles não eram líderes cegos conduzindo outros cegos, mas viam claramente os Mundo invisíveis e conheciam o sagrado mistério da vida.
Durante as Épocas primitivas da evolução o ser humano foi guiado por mensageiros visíveis das Hierarquias Divinas que ele reverenciava como Deus, e mesmo depois que eles o deixaram, os profetas e os videntes continuaram a aparecer entre os seres humanos para testemunhar a realidade de Deus e dos Mundos invisíveis. As antigas Religiões ensinaram também a doutrina do Renascimento e, assim, o ser humano soube que progredia por meio da experiência adquirida utilizando uma série de corpos terrenos de textura cada vez mais aprimorada. É por essa razão que muitos hindus, que acreditam no Renascimento, acham que não há necessidade de pressa em termos de evolução. Contudo, para que o ser humano do Mundo ocidental, onde habitam os seres humanos pioneiros, pudesse se aplicar com toda a sua alma e sua Mente no domínio dos segredos da vida terrena, foi determinado privá-lo totalmente desse ensinamento. Os próprios conselheiros espirituais ficaram, por algum tempo, cegos quanto ao conhecimento consciente de Deus e da visão dos Mundos internos, para que dessa forma, toda a humanidade pudesse se tornar autossuficiente durante a Nova Dispensação, se aplicando inteiramente à evolução material que lhe estava reservada. O vinho teve, desde o início, essa contribuição em termos exotéricos, e o seu uso foi sancionado no templo pelo primeiro milagre.
Sob a Antiga Dispensação, somente a água era usada no Serviço do Templo, mas, com o decorrer do tempo, o vinho se tornou um fator na evolução humana. Um deus do vinho, Baco, foi adorado e as orgias desregradas se realizavam a fim de abafar as aspirações do Espírito, para que este pudesse se entregar inteiramente à conquista do Mundo Físico. Sob a Dispensação Mosaica (Antiga Dispensação) os sacerdotes eram estritamente proibidos de usar vinho ao oficiar no templo, mas Cristo, em Sua primeira aparição pública, transformou a água em vinho, aprovando seu uso na ordem das coisas então existentes. Notemos que isto foi efetuado publicamente, e este foi o Seu primeiro ato de ministério público. Contudo, na última sessão esotérica do Cristo com Seus Discípulos, no qual foi celebrada a Nova Aliança, não havia carne de cordeiro (Áries), como exigia a Lei Mosaica. Tampouco havia vinho, mas apenas pão – um produto vegetal – e o cálice do qual falaremos a seguir. Baseados em Suas palavras proferidas naquele momento: “Em verdade vos digo, já não beberei do fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo do Reino de Deus”.” (Mc 14:25), o suco recém extraído da uva não contém um espírito proveniente da fermentação e decomposição, mas é um alimento vegetal puro e nutritivo. Assim, os seguidores da doutrina esotérica foram instruídos, por Cristo, a adotarem uma dieta que não incluísse nem a carne animal, nem bebidas alcóolicas.
Supõe-se, geralmente, que o cálice usado por Cristo na Última Ceia continha vinho, no entanto, não há fundamento na Bíblia para essa suposição. Foram dados três relatos sobre a preparação desta Páscoa. Enquanto São Marcos e São Lucas declaram que os mensageiros foram enviados a uma determinada cidade para procurar um homem transportando um cântaro de água, nenhum dos Evangelistas disse que o cálice continha vinho. Além disso, pesquisas na Memória da Natureza mostram que a água era a bebida usada, pois o vinho, sob o ponto de vista esotérico, já tinha cumprido sua função. Com esse ato se iniciou o movimento da temperança, pois essas mudanças cósmicas envolvem uma longa preparação nos mundos internos antes que possam manifestar-se externamente na sociedade. Milhares de anos nada representam em tais processos.
O uso da água na Última Ceia também se harmoniza com os requisitos astrológicos e éticos. O Sol estava deixando Áries, o Signo do Cordeiro, entrando em Peixes, o Signo dos Peixes, um Signo aquático (tudo isso pelo movimento da Precessão dos Equinócios). Uma nova nota de aspiração iria soar, uma nova fase de elevação humana devia ser introduzida durante a Era Pisciana que se aproximava. A autoindulgência iria ser superada pelo espírito da renúncia. O pão, sustento da vida, feito da semente imaculadamente gerada, não alimenta as paixões como a carne; também o nosso sangue, quando diluído na água, não se altera tão bruscamente como quando está saturado de vinho. Portanto, o pão e a água são alimentos adequados e símbolos de ideais durante a Era Peixes-Virgem. Eles representam a pureza, e a Igreja Católica deu aos seus seguidores a água pisciana colocada à porta de seus templos e o pão virginiano no altar, recusando-lhes o cálice de vinho durante o Ofício.
Não obstante, mesmo o que foi exposto acima não nos leva ao cerne do mistério culto no “Cálice da Nova Aliança”. A antiga taça de vinho que nos foi dada quando entramos em na Época Ária, a terra da geração, era portadora de destruição, da morte e do veneno, e a palavra que, então, aprendemos a proferir estava morta e impotente.
A nova taça de vinho mencionada, como a representação do ideal da futura época, a Nova Galileia (que não deve ser confundida com a Era de Aquário), é um órgão etérico formado dentro da cabeça e da garganta pela força sexual não gasta que, à visão espiritual, se assemelha à haste de uma flor, elevando-se da parte inferior do tronco. Este cálice, ou cálice-semente, é realmente um órgão criador, capaz de enunciar a palavra de vida e de poder.
Atualmente, a palavra é articulada por movimentos musculares desajeitados que regulam a laringe, a língua e os lábios para que o ar, proveniente dos pulmões, emita determinados sons, mas o ar é um meio pesado, quando comparado às forças mais sutis da Natureza, como a eletricidade que se move no Éter. Quando este novo órgão tiver evoluído, terá o poder de pronunciar a palavra de vida, de infundir vitalidade em substâncias até hoje inertes. Este órgão está sendo hoje formado por nós, por meio do serviço prestado amorosa e desinteressadamente.
Lembremo-nos que Cristo não deu o cálice à multidão, mas aos Seus Discípulos, que eram os Seus mensageiros e servidores da Cruz. Atualmente, aqueles que bebem da taça do autossacrifício, os que colocam sua força criadora ao serviço amoroso e desinteressado dos outros, estão construindo esse órgão juntamente com o Corpo-Alma, o “Dourado Manto Nupcial”. Eles estão aprendendo a usá-lo, em pequena escala, como Auxiliares Invisíveis, quando deixam seus corpos à noite e é nessas circunstâncias que aprendem a proferir a palavra de poder que remove a doença e cria tecidos sadios.
Quando a Época Atlante se aproximava do fim e a humanidade abandonou seu lar da infância, onde estivera sob a tutela direta dos Mestres divinos, fez-se a Antiga Aliança, e foi-lhes concedido a carne animal e o vinho, sendo que estes elementos, aliados ao uso irrestrito da força sexual, transformaram a Época Ária numa era de morte e destruição. Estamos chegando, agora, ao término dela.
A Era Pisciana, ou o período em que o Sol, pelo movimento de precessão, passa pelo Signo de Peixes, os peixes, está chegando ao fim. Durante esse período, o Signo oposto a Peixes, Virgem, representou o ideal humano. Ela foi venerada por um sacerdócio celibatário que recomendava aos fiéis o uso do “peixe” como alimento em certos dias da semana e do ano. No Zodíaco ilustrado, o Signo de Virgem tem uma espiga de trigo na mão. Tanto a semente como a uva são produtos do reino vegetal, e a Imaculada Virgem Celestial incorporou, portanto, o primeiro princípio da Imaculada Concepção, o sangue (vinho) e o corpo (pão) do Cristo. O clero celibatário, orientando o culto, ressaltou a importância desses elementos durante a Era de Peixes que terminará em breve, portanto, o vinho está sendo rapidamente abolido nos ofícios do templo e entre as massas, e isso está gerando um grau maior de sensibilidade que estamos experimentando hoje. O Espírito Divino, oculto dentro de cada ser humano, está despertando do seu sono tóxico produzido pelo espírito do vinho, e está começando a se recordar de sua origem divina e de sua herança da vida, à qual não tem início nem fim.
Vale a pena notar que, tanto o clero dos diversos países do Velho Mundo quanto os padres católicos das Américas ainda continuam a incluir o vinho e as bebidas alcoólicas diariamente, e é bem significativo que quando o Parlamento da Inglaterra, o Rei e os nobres, que representam o poder político, tentaram aprovar leis que proibissem a venda de bebidas alcoólicas no país, a medida fracassou devido à determinada oposição dos mais altos dignitários da Igreja.
Esta atitude do clero europeu não implica, de modo algum, numa degradação por parte deles, nem que devam ser censurados. A humanidade tem ainda muitas lições para aprender, e estas só podem ser proporcionadas durante a “era do vinho”. Quando cessar a necessidade do espírito falso, este cairá em desuso sem que seja necessário recorrer a medidas legislativas, que geralmente não são eficientes, pois é totalmente impossível legislar a moralidade num povo. Até que uma lei seja aprovada internamente, a pessoa a infringirá para garantir a satisfação de seus desejos, independente de quaisquer medidas restritivas.
(Pergunta nº 90 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
Pergunta: Qual o significado das letras I.N.R.I. colocadas, às vezes, no topo da cruz?
Resposta: Segundo a narração tirada do Evangelho, Pilatos colocou um letreiro na cruz de Cristo com as palavras “Jesus Nazarenus Rex Judaeorem” e isto é traduzido, normalmente, como “Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus”.
Mas, as iniciais I.N.R.I colocadas sobre a cruz representam os nomes em hebraico de quatro elementos: Iam, água; Nour, fogo; Ruach, espírito ou ar vital; e Iabeshah, terra. Esta é a chave oculta do mistério da crucificação, pois ela simboliza, em primeiro lugar, o sal, enxofre, mercúrio e azoto, que foram utilizados pelos antigos alquimistas para fazer a Pedra Filosofal, o solvente universal, o “elixir-vitae”. Os dois primeiros (Iam e Iabeshah), representam a água salina lunar: a – em um estado fluídico que contém sal em solução; b – o extrato coagulado desta água: o “sal da terra”; em outras palavras, os sutis veículos fluídicos do ser humano e seu Corpo Denso. N (nour) representa o fogo em hebraico, e os elementos combustíveis, entre os principais o enxofre e o fósforo, são muito necessários à oxidação, sem os quais o sangue quente seria impossível. O Ego, sem esta condição de calor no sangue, não poderia funcionar no corpo, nem conseguiria uma forma de expressão material. R (Ruach) é o equivalente a espírito em hebraico, isto é, o Azoth que funciona na Mente mercurial. Assim, as quatro letras: I.N.R.I. colocadas sobre a cruz de Cristo, de acordo com o relato dos Evangelhos, representam o ser humano composto, o Pensador, no momento de seu desenvolvimento espiritual, quando começa a se libertar da cruz de seu veículo denso.
Ampliando mais a elucidação deste ponto, notamos que I.N.R.I. é o símbolo do candidato crucificado pelas razões seguintes:
Iam, a palavra hebraica para água, o fluido ou elemento lunar, que constitui a maior parte do corpo humano (cerca de 87%). Esta palavra é também o símbolo dos mais sutis veículos fluídicos do desejo e da emoção.
Nour, a palavra hebraica para fogo, é a representação simbólica do calor produtor do sangue vermelho que está carregado de ferro, fogo e energia do marcial Marte, e esse sangue é visto pelo ocultista como um gás circulando pelas veias e artérias do corpo humano infundindo-lhe energia e ambição, sem as quais não haveria progresso espiritual nem material. Também representa o enxofre e fósforo necessários para a manifestação material do pensamento, como já anteriormente mencionado.
Ruach, a palavra hebraica para indicar o espírito ou ar vital, é um símbolo excelente do Ego envolvido pela Mente mercurial, que torna Espírito Virgem manifestado um ser humano, capacitando-o a controlar e dirigir seus veículos corporais e suas atividades de uma forma racional.
Iabeshah, a palavra hebraica para terra, representando a parte sólida, a carne do ser humano, e forma o corpo terrestre cruciforme cristalizado dentro dos veículos mais sutis ao nascer e separado deles ao morrer no curso normal das coisas, ou em um acontecimento extraordinário pelo qual aprendemos a morrer misticamente e ascender as gloriosas esferas superiores por uns tempos.
Este estágio do desenvolvimento espiritual do Místico Cristão requer uma reversão da força criadora de seu curso normal, de onde normalmente desperdiça energia para satisfazer suas paixões, uma corrente dirigida para baixo através do tríplice cordão espinhal, cujos três segmentos são regidos, respectivamente, pela Lua, Marte e Mercúrio, e de onde os raios de Netuno acendem o Fogo Regenerador Espiritual da Espinha Dorsal. Esta consciente elevação coloca em vibração o Corpo Pituitário e a Glândula Pineal, abrindo a visão espiritual. Isto golpeia o sinus frontal, o que dá início aos efeitos da coroa de espinhos; o latejar da dor, à medida que a ligação com o corpo físico é consumida pelo sagrado Fogo Espiritual, que desperta este centro de sua milenar letargia começando a vibrar em direção a outros centros na estrela estigmatizada de cinco pontas. Elas também são vitalizadas e todos os veículos iluminam-se com o “Dourado Manto Nupcial”, o Corpo-Alma. Então, num arranco final, o grande vórtice do Corpo de Desejos, localizado no fígado, fica livre e a energia marciana, contida nesse veículo, impulsiona para cima o veículo sideral (assim chamado devido aos estigmas da cabeça, mãos e pés que estão situados na mesma posição dos da estrela de cinco pontas), o qual ascende através da caveira (Gólgota) enquanto o Cristão crucificado lança o grito triunfante: “Consummatum est” (está consumado), e começa a elevar-se as sublimes esferas siderais ao encontro de Jesus, cuja vida ele imitou com pleno êxito e de quem, desde então, é companheiro inseparável. Jesus é seu Mestre e seu guia para o reino de Cristo, onde todos estaremos unidos num só corpo para aprender e praticar a Religião do Pai, e onde no reino Ele possa ser tudo em Todos.
(Do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Perg. Nº 78 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Felicidade é SER.
Ser o que?
Ser o que essencialmente somos, mas sem condicionamentos da persona; uma Centelha Divina sem deturpações da natureza inferior.
Quando conseguirmos SER, nossa evolução decorrerá sem dores e muito mais rapidamente.
No entanto, estamos fascinados pelo materialismo; condicionados pelos conceitos falsos de que somos uma personalidade à parte e separada de Deus, dependentes de nossos recursos pessoais e externos.
Isso nos vem desviando e retardando a evolução. Urgente se faz retornar ao próprio íntimo, e lá encontrar e desenterrar o “tesouro escondido”, que dissolverá o sentido humano e nos devolverá a verdadeira identidade, na unidade do Espírito.
Mas há um caminho a percorrer; há uma verdade a realizar acerca de nós mesmos, como já enunciada naquela antiga frase (a um tempo convite e desafio), inscrita na fachada do templo de Delfos: “Homem, conhece-te a ti mesmo”.
Os enganos e a astúcia estão no labirinto da personalidade falsa. O “fio de Ariadne” que nos orientara nesse labirinto, para descobrirmos a ilusão e retornar à liberdade é o “Sermão da Montanha”, notadamente as “bem-aventuranças”, que são como “setas nas encruzilhadas” do Peregrino, em busca do próprio SER.
Neste amoroso desejo de SERVIR, o CRISTIANISMO ESOTÉRICO, exposto pela Fraternidade Rosacruz, fundada por Max Heindel, lhe oferece este trabalho.
Nota: não leia de um fôlego só. Medite uma por uma das exposições e acrescente sua própria experiência e sentir, valorizando-as com seu dom epigenético; pois, são temas inesgotáveis.
Oração do Estudante Rosacruz
Aumenta o meu amor por Ti, Senhor,
Para que eu possa servir-Te melhor
A cada dia que passa!
Faze que as palavras de meus lábios
E as meditações de meu coração
Sejam agradáveis a Teus olhos,
O Senhor, minha Força e meu Redentor!
INTRODUÇÃO
O “Sermão da Montanha” é um dos mais importantes trechos da mensagem cristã; um código universal de conduta, cabível a qualquer religião ou credo.
Mahatma Gandhi o considerou “o documento máximo da espiritualidade”. Outros seres humanos ilustres são de opinião que ele unirá, futuramente, todas as religiões e filosofias, concretizando o ideal do Cristo: “Um só rebanho e um só Pastor”. Disseram mais: se se perdessem todos os documentos do mundo e apenas se salvasse o “Sermão da Montanha”, a humanidade não ficaria prejudicada, porque ele constitui, por si só, um completo método de orientação espiritual.
De fato: qual a solução para a paz mundial? Qual o modo de restabelecer a harmonia entre os seres humanos? Só mesmo levando cada indivíduo a conhecer-se, reconduzindo-o ao próprio íntimo, para retomar contato com sua Divina Essência, e entrar na posse de sua herança de Filho de Deus. Mas isto pressupõe – como sugerem as bem-aventuranças – que sejamos:
– desprendidos e servidores;
– puros de coração;
– coerentes na reta justiça, apesar de perseguições;
– mansos, pacificadores e misericordiosos;
– amorosos com os que nos odeiam sem razão; e
– retribuidores de bem, mesmo aos que nos fazem mal.
Segundo as normas atuais de conduta, isto parece impossível de ser praticado. Pedimos que o leitor conserve a mente livre e caminhe conosco através desta análise. Depois, meditando, certamente concordará conosco, dispondo-se a praticar também, com nova compreensão, estes maravilhosos princípios.
Notem que, ao contrário das diversas religiões e correntes espiritualistas, Cristo não dá instruções pormenorizadas acerca do que devemos ou não fazer. Ele foi antiritualístico e antidogmático. Rebatia severamente os fariseus, esclarecendo que as normas externas de nada valem. Sua mensagem se constitui de princípios gerais, para educar nosso estado mental. Ele mostrou que a causa da ação humana está na Mente: se o pensamento (a causa) é puro, logicamente os atos (os efeitos) serão corretos e edificantes.
Cabe a cada um de nós, segundo o nível de compreensão, extrair desses princípios gerais as consequências práticas.
Dos quatro Evangelistas que recolheram material para instituir seus métodos de Iniciação, foi São Mateus quem nos deu a versão mais completa do “Sermão da Montanha”, iniciando pelas bem-aventuranças.
Segundo São Mateus, as bem-aventuranças se constituem de nove passos. Nove é um número cabalístico, representativo do gênero humano, do que se deduz tratar-se de uma síntese para a libertação humana. Por seu profundo sentido, é compreensível que a maioria não a possa penetrar inteiramente. É um desafio, mesmo aos mais preparados internamente, porque sua prática prevê o despojamento do sentido humano vicioso.
As bem-aventuranças são uma síntese do espírito cristão e não meramente da letra. É uma sinopse espiritual e não literária. Uma súmula geral, semelhante àquelas que, na velha maneira oriental, sintetizavam os ensinamentos religiosos e filosóficos, tais como: os oito caminhos de Buda; os dez mandamentos de Moisés, etc.
Em comparação a São Mateus, São Lucas omite a 3ª, 5ª, 6ª e 7ª bem-aventuranças. Só apresenta as demais, com as respectivas condenações: “ai de vós…”.
Salmo da Segurança pela União com o Cristo Interno
Aquele que habita no esconderijo secreto do Altíssimo,
à sombra do Onipotente descansará.
Direi ao meu Senhor: És o meu Deus, meu refúgio,
minha fortaleza; em ti confiarei!
Tu me livras do laço do passarinheiro
e da peste perniciosa.
Tu me cobrirás com tuas penas!
Debaixo de tuas asas estarei seguro:
tua verdade é escudo e broquel!
Não temerei espanto noturno,
nem seta que voe de dia;
nem peste que ande na escuridão;
nem mortandade que assole ao meio-dia.
Mil cairão ao meu lado
e dez mil à minha direita,
mas nunca serei atingido!
Somente com meus olhos olharei,
e verei a consequência dos ímpios.
Porque Tu, ó meu Deus, és meu refúgio
E o Altíssimo é Tua habitação.
Nenhum mal me sucederá,
nem praga alguma chegará à minha tenda.
Porque aos Anjos darás ordem a meu respeito,
para me guardarem em todos os meus caminhos.
Eles me sustentarão nas suas mãos,
para que eu não tropece em pedra alguma.
Pisarei o leão e o áspide;
calçarei aos pés o filho do leão e a serpente.
Pois tão encarecidamente Te amei
Também Tu me livrarás!
Pôr-me-ás num alto retiro
porque conheci o Teu Nome!
Eu Te invocarei e Tu me responderás.
Estarás comigo na angústia;
livrar-me-ás e glorificar-me-ás;
dar-me-ás abundância de dias
e mostrar-me-ás a Tua salvação!
(Livreto editado pela Fraternidade Rosacruz em São José dos Campos – SP)
Os dez mandamentos são indicações conducentes à consciência crística – Quinto Mandamento
5º Mandamento
“Honra teu pai e tua mãe”
Os ensinamentos de Cristo parecem contradizer este mandamento. Disse Ele: “Não chameis a ninguém de Pai sobre a Terra, pois um só é vosso Pai, a saber: o vosso Pai Celestial”. E mais: “Aquele que não deixar pai, mãe e irmãos, não pode ser meu Discípulo”.
Em verdade não há contradição. Cristo vem ampliar e definir o real sentido do mandamento. Ele, a personificação do Amor, jamais iria recomendar que descuidássemos, ingratamente, dos nossos deveres filiais. Referia-se aqui como em outros passos evangélicos, ao amor e dever desapegados.
A paternidade e a maternidade são funções divinas: transcendem o humano. A mãe durante o aleitamento é uma pessoa diferente, mais estreitamente ligada ao Divino. Há algo de transcendental na maternidade. Mesmo entre os animais há o chamado “pudor orgânico”, pelo qual a mãe e os filhotes não são atacados nesse período.
O pai e a mãe, meramente como seres humanos nada são, porque não podem manipular a vida. Lembremos que no “Paraíso” comemos da “Árvore do Conhecimento, do bem e do mal”, mas não da “Árvore da Vida”. Por isso não podemos vivificar nada. É função dos Anjos a vida, porque são hábeis manipuladores da força vital.
Que sabe um animalzinho da maravilhosa criaturinha que o gerou? Vemos graciosos gatinhos buscando andar, procurando mamar, manifestando vida e instintos, e isso nos ressalta a manifestação de um Criador que labora através de suas Hierarquias. Mesmo o ser humano, que sabe a mãe da complexidade do ser que gera? Meditem nisso.
Existe apenas um princípio criador, que é o PAI-MÃE – seja para judeus, para gentios, brancos, negros ou índios, feras, animais ou plantas. Max Heindel trata muito bem dessa dual força criadora – os dois polos referidos pelo primeiro versículo do Gênesis. Essa dupla energia manifestada sabiamente por Deus em tudo, é que reverenciamos, sabendo que nada somos de nós mesmos como pessoas, como pais ou mães. O que nos enobrece como canais dessa manifestação criadora é a Vida Divina:
“Eu, de mim mesmo, nada posso; o Pai em Mim é quem faz as obras”.
Portanto, não vamos subestimar nossa mãe e pai carnais, aqueles que amorosamente serviram de canais para o suprimento de material físico em nosso renascimento na Terra. O Esoterismo é claro: “assumimos um dever de gratidão por tudo que recebemos de nossos semelhantes e um dia, nesta ou em outras vidas na Terra, teremos ensejo de lhes retribuir para que se cumpra a lei: dar e receber”.
Mas, a grandiosidade de um pai ou mãe humano está, indubitavelmente, na compreensão de que eles, por si, nada são – predispondo-se a servir ao Divino Universal e ao Divino que deseja renascer – fazendo tudo o que possam no cumprimento de seu trabalho evolutivo.
Para honrar este causal princípio Pai-Mãe, devemos aprender a vê-lo e reverenciá-lo em todas as coisas e pessoas.
Os dez mandamentos são indicações conducentes à consciência crística – Quarto Mandamento
4º Mandamento
“Guarda o sábado, pois é a Dia do teu Senhor”
Eis outro ponto de muitas controvérsias e discussões. Exceto os sabatistas, os cristãos adotaram a o Domingo para dia de descanso e adoração.
Antes de Cristo, a evolução humana era regida pela Lua. O Calendário e as festas religiosas se baseavam nos movimentos lunares. Os povos árabes ainda conservam símbolos lunares. A Lua está associada à Saturno (ambos regem a Corpo Denso e se caracterizam pela tendência cristalizante), Regente do Sábado (Saturday).
A dispensação cristã, ao contrário, está relacionada com o Sol. Todas as religiões falavam de alguém “que havia de vir,.. do Sol”. O Sol é a morada dos Arcanjos, dos quais o Cristo é o maior Iniciado. Ele é o Leão de Judá, o Cristo Solar, ligado à positiva Luz que veio conquistar a Terra por dentro.
Sábado quer dizer “descanso”; por extensão: “Dia de descanso”. Foi instituído na lei mosaica com finalidade bem definida: obrigar o povo a deixar seus negócios e atividades e, um dia por semana, ir à Sinagoga ouvir as leituras de textos sagrados. Só por obrigatoriedade da Lei a o povo, eminentemente materialista, iria à sinagoga assimilar as verdades adequadas ao seu nível (o nível da pedra, da letra, da Lei).
Domingo significa “Dia do Sol” (Sunday). Etimologicamente, a palavra “Sol” está ligada aos sentidos de “Deus, Júpiter, Luz e Dia”. Perto do fim do primeiro século, a igreja cristã primitiva transferiu para o domingo o dia semanal de descanso e adoração, preceituado no quarto mandamento, por ser o dia da Ressurreição de Cristo Jesus e, por isso, denominado “o Dia do Senhor” (Ap 1:10). Assim como fez Deus no trabalho criador, também nós trabalhamos seis dias e no sétimo devemos descansar no Senhor, aquietando-nos, ouvindo, lendo coisas sagradas, para nutrir e desenvolver o nosso íntimo, pois tudo depende de exercício e de alimento. Tudo se desenvolve em períodos setenários: seis dias criamos e evoluímos na atividade externa, e um dia dedicamos para entregar a essência dessa Obra à Deus em nós, em comunhão, saindo fortalecidos para uma semana ainda melhor que a anterior.
Note-se que Cristo costumava curar nos sábados. Os fariseus, ignorantes do interno sentido do sábado, atacavam-no por isso. Mas disse o Mestre: “Eu sou o Senhor do sábado”; “O sábado foi feito para o ser humano e não o ser humano para o sábado”. Ele quis que isso significasse que nesse dia o ser humano abdicasse de si mesmo, de sua parte humana, e deixasse que Deus laborasse em e através de si, no restabelecimento de suas forças internas, na definição de sua natureza divina, no entendimento das coisas sagradas. Portanto, nenhum dia seria mais indicado para a Cura. Curar e pregar a boa nova são a mesma coisa, pois, ambas restituem a integralidade do Ser. Sabemos que a palavra “são” quer dizer sadio e santo: ambas são expressões de integralidade, e de harmonia global do ser.
Assim; não importa o dia e lugar, sempre que nos dedicamos às coisas sagradas, estamos realizando essa finalidade (prevista na lei mosaica aos sábados, e pela igreja cristã aos domingos – para disciplina dos rebeldes que não compreendem e nem avaliam a graça dessa comunhão interna).
Os dez mandamentos são indicações conducentes à consciência crística – Terceiro Mandamento
“Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão”
Cristo confirmou no “Pai Nosso” ou “Oração do Senhor” esse mandamento de forma positiva, ao ensinar: “santificado seja o teu Nome”.
Para o povo hebreu, o “nome” (shem) tinha significação mais ampla e profunda do que a que lhe atribuímos hoje para identificar uma pessoa ou coisa. Embora se fale de “bom nome”, referindo-nos à reputação ou ao caráter de uma pessoa, a palavra “shem” dá a entender a natureza, a essência ou a honra do indivíduo.
A locução “em vão” significa, basicamente “de forma inútil” ou “por nada, por vaidade, por falsidade, por leviandade”.
“Tomar” era usado no sentido de “elevar, carregar, proferir ou aceitar”.
Assim, o “proferir ou aceitar o nome ou a natureza de Deus” é, ao mesmo tempo, uma honra e um desafio que não devem ser tomados levianamente.
O uso da palavra era, é e será algo sagrado. Empregada conscientemente e de forma ajustada, a vibração de uma palavra tem poder. Hoje, infelizmente, é deplorável o abuso nesse campo.
Deus é inominado. Quando Moisés recebeu a revelação e a missão na “montanha”, sabendo que tinha de enfrentar pessoas comuns que só conheciam a forma e o nome, perguntou: “Senhor, se me perguntarem quem foi que me enviou que direi?” E o Senhor respondeu-lhe: “Dize que foi o “EU SOU”.
Basta ser. Eis a mais expressiva conjugação: “eu sou, tu és, nós somos . . . espíritos. Simplesmente.
Mas o mundo precisa de identificação. Quem nomeou as coisas foi Adão. É um esforço de isolar o que parece isolado.
Não devemos confundir a realidade espiritual com um conceito mortal. Dizemos: raios de Sol, porque sabemos que eles continuam unidos a sua Fonte, apesar de haverem caminhado 149 milhões e 400 mil quilômetros em 8 minutos, quando chegam à Terra. E nós, não somos também, por acaso, centelhas divinas, uma vez que “em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”?
Não tomemos, pois, levianamente, os nomes pelas coisas que representam, principalmente em relação à verdadeira identidade de semelhante. Em que ele é semelhante a ti? Senão pelo Espírito?
Ainda mais quando nos referimos a Deus: se a palavra Deus foi tomada para representá-lo (e a palavra “Deus” está ligada a ideia de Luz e Dia: “Deus é Luz” – Jo), usemo-la de forma sagrada, erguendo nossa mente ao Inominado, ao Imanente e Transcendente, ao Onisciente, Onipotente e Onipresente Criador.
A essência desse mandamento nos exorta a não tomar a aparência pela realidade. Ainda que surjam as pessoas, coisas e lugares, por meio do testemunho dos cinco sentidos, saibamos que são expressões provisórias do real e divinamente infinito.
Os dez mandamentos são indicações conducentes à consciência crística – Segundo Mandamento
“Não farás para ti imagem de escultura nem alguma semelhança do que tenho criado. Não te encurvarás a elas nem as servirás”.
Os protestantes acusam ferozmente os católicos de usarem imagens e esculturas em seus templos; algumas, por sinal, maravilhosas, verdadeiras obras-primas concebidas por artistas notáveis como Raphael, Michelangelo, Rubens, etc.
A nosso ver, não reside aí a mensagem principal deste mandamento. A pedagogia e a psicologia educacional afirmam que “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Modernamente exploram as ilustrações e com elas enriquecem os planos de aula, a fim de que o aprendizado se torne mais completo: áudio visual.
Nossa Mente ainda está num estágio mineral. Só as pessoas mais elevadas podem conceber ideias abstratas e atingir outra esfera ou cosmos da verdade essencial das coisas. Daí a necessidade dos símbolos, desde que bem escolhidos. O mal não está nos símbolos, mas no tomar os símbolos pela realidade que transmitem. Se conhecemos a essência de uma verdade e, no esforço de transmiti-la buscamos as representações mais fieis estamos prestando uma ajuda a outros menos aquinhoados.
Quando o iniciado atinge o conhecimento direto das realidades espirituais, nos planos supra físicos verifica a dificuldade de transmiti-las. Max Heindel observa, por exemplo: “Quando falo dos mundos em que o Universo se divide e os represento num diagrama, uns acima dos outros, não quero dizer que se achem assim nos planos espirituais. Em verdade eles se compenetram em graus diferentes de densidade e vibração”. E deu o exemplo da esponja, da água e da areia. Depois acrescenta: “Os diagramas podem ser uma ajuda e um entrave ao mesmo tempo, porque involuntariamente podemos induzir uma ideia falsa da realidade”.
Isto nos leva a meditação das palavras. Vivemos num universo de palavras e, neste século de comunicação entendemo-nos através de palavras e de símbolos. Você já pensou que representam as palavras? Já observou como os seres humanos discutem e pelejam em torno de palavras? Às vezes discutem por usarem palavras diferentes para a mesma coisa; outras vezes divergem pela mesma palavra, com a qual pensam em coisas diferentes. Ora as palavras não são as coisas: constituem apenas um esforço de representação e devemos ter muito cuidado com elas, porque podem ser uma ajuda e um entrave na comunicação. Melhor ainda, as palavras são a nossa interpretação das coisas e não as coisas mesmas. Tanto é assim que, à medida que nossa compreensão vai melhorando, nossa representação por palavras também muda. A evolução em tudo, é uma gradativa transformação das definições anteriores.
No futuro Período de Júpiter será diferente. A mentira será impossível, pois teremos a capacidade de materializar a ideia em nossa aura mental, sem necessidade de palavras. Os Mestres espirituais possuem por conquista antecipada, de sua evolução, esta capacidade: projetam com as palavras a imagem do que falam. Essa capacidade é uma das provas de um verdadeiro Mestre.
Já que entramos na meditação sobre as palavras, consideremos outro ponto: a “onda portadora”. Além das palavras que pronunciamos, comunicamos a outra pessoa algo mais: a intenção como uma “onda portadora” que muitas vezes o interlocutor capta. E, como vivemos num mundo hipócrita, é comum que a pessoa diga uma coisa e pense outra. Ouvimos as palavras e sentimos uma indefinível divergência, uma estranha incoerência. Além disso notamos sinais externos confirmadores da hipocrisia, na mudança do tom de voz, no evitar nosso olhar, etc.
Mas, que relação tem tudo isto com o segundo mandamento?
É que este mandamento trata da idolatria, em muitos sentidos. De maneira geral, sabemos que a idolatria consiste em tomar uma forma em lugar da realidade que ela representa; e considerar a letra e não a ideia essencial que ela busca expressar; é tomar o corpo pelo ser humano integral, como fazem os materialistas.
O fato de os nossos sentidos estarem limitados à forma, não justifica nossa ignorância das verdades essenciais, numa época de tão rica literatura a respeito. A evidência lógica tem levado eminentes cientistas a reverenciar o Divino Arquiteto, cuja Presença é indiscutível em toda a Criação. Anteriormente as Sociedades de Pesquisas Psíquicas; agora a Parapsicologia; demonstram à sociedade revelações confirmadas por meios científicos, de realidades além da capacidade sensorial. Na Suécia e na Alemanha, principalmente, se estabelecem ligações com os planos espirituais com auxílio de aparelhos eletrônicos sensíveis. Hoje não é mais uma questão de crença, mas de atualização, o conhecimento dos planos espirituais, causais, que sustentam este plano visível.
Mas; se não temos possibilidades de conhecer a realidade última das coisas, somos todos idólatras? Não, este mandamento não refere ao esforço louvável de buscarmos entender as verdades divinas, embora estejamos sempre aquém delas. Não há como evitá-lo no desenvolvimento da consciência. Tudo evolui assim. A ciência foi deixando os conceitos ultrapassados, com sua verdade relativa, substituindo-os por outros mais corretos e atualizados. Mas foram as verdades relativas que serviram de degraus nesta escala evolutiva de aprimoramento.
Isto se dá em todos os assuntos, se bem que nas questões espirituais temos o testemunho avançado de altos Iniciados que podem ver as realidades supra físicas com muita amplitude. Esse testemunho serve de orientação segura, não excluindo, no entanto, o esforço de cada Aspirante e a liberdade de cada um ir confirmando o que recebeu.
As teologias e doutrinas várias andaram antropomorfizando Deus. Na impossibilidade de subir a Ele, forçaram-no a descer à sua limitada concepção. Isto é idolatria.
Cristo ensinou à mulher samaritana: “Deus é Espírito e Verdade e cumpre adorá-lo em Espírito e Verdade”. O espírito é intangível. E que é a verdade? Cristo respondeu a Pilatos? Não. Porque todos nós estamos limitados a nosso nível de evolução e não podemos admitir a Realidade total e absoluta.
Idolatria é o pecado do materialismo, que toma a manifestação pela Essência que a vivifica. Por isso, o primeiro passo no Ocultismo é o estudo dos Mundos Invisíveis.
Querem um exemplo simples para destacar o corpo do ser humano?
Observem uma pessoa dormindo; ela não pensa, não vê, não age, não ama, não tem consciência de si nem dos outros; apenas as funções vitais, involuntárias estão mantendo o corpo que respira, digerem e fazem circular o sangue ritmicamente, etc. Depois ela acorda, abre os olhos e algo estranho ocorre: toma consciência de si, vê-nos, reconhece-nos, abraça-nos, ama-nos, fala-nos. Que aconteceu? ALGO que não estava no corpo enquanto ela dormia; voltou e o despertou dando-lhe todas as capacidades que antes não manifestava. Esse algo é o ser humano REAL que anima o corpo que construiu. Tanto assim que, ao abandoná-lo definitivamente, o corpo se decompõe.
O Espirito é a causa; a matéria e é a consequência. Primeiramente existiu a luz; depois a luz criou o olho que a pudesse ver. O poder está no Espírito criador e sustentador da forma e não nesta. O galho que se destaca da árvore, seca-se. A matéria é mutável e transitória; mas o Espírito é eterno, manifestando-se gradativamente melhor, à medida do crescimento de consciência (alma) e originalmente, segundo seus pendores epigenéticos.
Assim, não devemos adorar nem temer nem odiar o externo, a forma.
Vemos uma cobra e a associamos com a ideia de perigo, sentimos repulsa e violência e vamos matá-la. Podemos vê-la como ela é, sem preconceitos, com toda a sua beleza e respeitando-lhe o instinto de defesa?
Vemos a figura de Sócrates e a imagem nos suscita, no íntimo, tudo o que dele sabemos. Vêm-nos sentimentos de admiração, de reverência, de gratidão. Podemos vê-lo como ele é, apenas gratos pela mensagem que ele trouxe, e não pela pessoa em si? O mesmo deverá sentir em relação a Jesus; o Buda, a Einstein: não o canal, mas a Essência que através deles fluiu de forma diferente, para alimentar a Humanidade.
É a essência que valoriza a forma e não a forma que valoriza a essência. “A letra mata, mas o Espírito vivifica”. Devemos ir além da forma limitadora e sentir a amplitude da Essência Universal.
A infinitude de Deus está oculta em cada coisa criada, mas nossos sentidos não na percebem. As realidades objetivas se tornam em realidades subjetivas, por causa de nosso conceito finito delas. Estamos condicionados pelos preconceitos e por nosso nível de consciência. A melhor atitude mental é admitir todas as coisas como possíveis. Embora firmados no sentir e saber internos, mantenhamos a humilde atitude de nossa limitação.
O 1º e 2º mandamentos abordam, pois, a única realidade, o único poder essencial. Mas o primeiro mandamento nos adverte a não nos apoiarmos nas realidades evanescentes deste mundo; a não dependermos delas, não as temer nem as odiar: o único valor ou poder que elas têm são os que nós mesmos lhes atribuímos por nossas crenças.
Já o segundo mandamento se refere especificamente as representações e seus perigos para que não nos detenhamos nelas, mas busquemos a essência que desejam comunicar, como diziam os autores do Torah – o livro sagrado: “Ai daquele que toma as vestes do Torah pelo próprio Torah! Os mais simples só notam os ornamentos e versos do Torah, mas os esclarecidos não prestam atenção alguma ao exterior, senão à essência que ele encerra”.
Pergunta: O que significa, no Credo dos Apóstolos e na Bíblia, a ressurreição do Corpo?
Resposta: A Doutrina dos Apóstolos só foi composta séculos depois dos Apóstolos terem falecido, e foi concebida de forma a englobar o que eles acreditavam. Nem eles nem a Bíblia ensinam a ressurreição do Corpo. Essa frase nunca é encontrada na Bíblia. Na versão do Rei James, lemos (Jó 19:26), “E serei novamente revestido da minha pele e na minha própria carne verei o meu Deus”; e esta passagem é o principal fundamento dos que se esforçam para estabelecer esta doutrina absurda. No entanto, os tradutores indicados pelo Rei James eram pobres estudantes hebreus, e muitos deles morreram antes da tradução estar completa. Em sua versão revisada, encontraremos outra interpretação, que diz: “E depois da minha pele, mesmo que meu corpo seja destruído, então, sem a minha carne verei a Deus”. A carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus; portanto, qual seria a utilidade de ter um corpo tal como o que temos agora? Além disso, este corpo deve perpetuar-se atualmente, e aprendemos que na ressurreição não haverá casamentos – outro argumento que mostra que será usado um veículo diferente do carnal. Por outro lado, é um fato científico conhecido e já estabelecido, que os átomos de nossos corpos estão constantemente em movimento. Assim, se houver uma ressurreição do corpo, quais seriam os átomos que apareceriam no corpo ressuscitado? Caso todos os átomos que passaram por nosso corpo, desde o nascimento até a morte, devessem ressuscitar, não haveria uma enorme aglomeração, visto que teríamos então corpos imensos compostos de várias camadas? Seria, de fato, um enigma científico. Como diz São Paulo, a semente é lançada ao solo cada vez para formar um novo corpo (ICor 1:15).
(Do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Pergunta Nº 75 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Os dez mandamentos são indicações conducentes à consciência crística – Primeiro Mandamento
O povo judeu esperava o Messias e não o reconheceram em Cristo; ainda o esperam e nisso mostram a carência e o desamparo deles.
Os cristãos populares aceitam que o Cristo veio e cumpriu Seu Plano Salvador num ministério de três anos entre nós. Depois nos deixou como paráclito, como consolador, o Espírito Santo, que nos preparará para a segunda Vinda, “nas nuvens”. Como não entendem o sentido profundo dessas afirmações, revelam também sua carência.
A realização cristã é interna, pessoal, intransferível. Enquanto encararmos a Bíblia (particularmente o Novo Testamento) como algo externo, estaremos protelando nossa realização. Paulo foi bem claro: “Deveis inscrever as Leis na tábua de carne de vosso coração”. É um convite para que cada ser humano seja uma lei em si mesmo.
Cristo não veio revogar a Lei e os profetas, senão complementá-los com a nova lei do Amor (ou da Graça), que Ele exprimiu em Mateus 22:37-40: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a esse, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. “Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”. E em João, 1:17, lemos: “A lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”.
João Batista veio como precursor, pregar a metanoia (mal traduzida por “arrependimento dos pecados”). Metanoia significa transcender o intelecto, ou melhor, ir além da Mente concreta e vivenciar a Mente abstrata. Por quê? A Mente concreta está comprometida, desde que se uniu ao Corpo de Desejos, em meados da Época Atlante, formando uma espécie de “alma animal”, que nos dá a ilusão de vivermos separados e à parte do Espírito. Embora não possamos viver sem Ele, essa ligação com a natureza de desejos nos concentra na persona e desvirtua os intentos do Cristo interno.
A Mente Abstrata é a fonte da ideia pura do Espírito Humano; e o plano em que funciona o paráclito, o consolador prometido. Devemos aprender a funcionar plenamente nesse plano mental abstrato – o mais elevado de nosso atual campo evolutivo – antes de podermos reencontrar o Cristo Interno – que funciona no Espírito de Vida, além da Mente Abstrata. Lembremos que o Cristo disse: “para onde vou não podeis seguir-me agora, seguir-me-eis depois” (Jo 13:36).
A maioria da humanidade é incapaz de abstrair-se porque não formou a Mente Abstrata. A Filosofia Rosacruz indica aos estudantes, como eficazes meios: a meditação em assuntos elevados, a música pura, a matemática, a astrologia espiritual – no desenvolvimento da Mente Abstrata, impessoal e verdadeira, que nos põe acima dos condicionamentos da personalidade. Nela podemos compreender e viver a lei espiritual. Dela podemos acompanhar as manhas da natureza inferior, aprendendo a ser mais alertas, compreensivos, prudentes e não resistentes conosco mesmos, no trabalho de uma inteligente transfiguração. Só então, podemos “inscrever a Lei na tábua de carne de nosso coração”, ou seja, praticá-la espontaneamente, por meio do serviço amoroso altruísta, que por si constitui a síntese ensinada por Cristo.
Até lá estaremos sob o efeito doloroso da Lei e não podemos nos considerar autênticos cristãos, pois ainda não vivemos esses princípios. O sofrimento e as limitações do mundo aí estão a testemunhar eloquentemente que ainda não aprendemos a viver em harmonia com as Leis do Universo. Há muita gente que se denomina cristã. Mas não se trata de uma aceitação superficial. Gandhi aceitava e reverenciava o Cristo dos Evangelhos, mas recusava o Cristo ensinado pelas Igrejas. São bem distintos. Sabemos que mal estamos engatinhando no Cristianismo, cuja expressão mais pura e formosa nos virá na Época de Aquário, a iniciar-se daqui uns 600 anos. A Fraternidade Rosacruz promulga esse Cristianismo Esotérico às almas atualmente preparadas. Ele nos leva à busca e ao consciente encontro do Cristo interno, por meio do “Corpo-Alma” (que Paulo chamou “soma psuchicon” numa de suas Epístolas). Esse novo veículo de expressão é a chave de entrada na “Nova Época” evolutiva que nos espera e se forma por um método definido de espiritualização da criatura. Constitui-se dos dois Éteres Superiores , quando estes estejam devidamente desenvolvidos e possam se desligar dos dois Éteres inferiores, para cumprir sua função sensorial nos voos da alma.
Até agora estivemos peregrinando no deserto evolutivo (aridez interna da condição humana comum, carente), armando e desarmando as tendas de nossos corpos (renascimentos) nesta escalada pela imensa “escada de Jacó”, numa abertura gradual de consciência, como bem exprimiu São Paulo: “Morro todos os dias; Despojai-vos do velho ser com seus vícios e revesti-vos do novo ser, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem d’Aquele que vos criou; Em Cristo só há virtude o que importa é ser uma nova criatura” (ICo 15:31; Col 3:10; Gl 6:15).
Cristo não veio – como se supõe para salvar a humanidade. Ele purificou nosso Globo conspurcado pelas transgressões humanas, possibilitando-nos material mais elevado, mental, emocional e físico, que assegure a evolução nos renascimentos. Desse modo indireto é que Ele nos ajudou; além do impulso altruístico que Ele comunica aos que Lhe estejam afins nos períodos do Natal à Páscoa. A rigor, a tarefa de cristificação é individual e interna.
Há uma razão profunda para que a Bíblia enfeixe o Velho e o Novo Testamento: sem superarmos conscientemente a velha dispensação, não podemos atuar dinamicamente na nova.
Max Heindel descreve os passos da evolução religiosa, através da qual se foi aprimorando nossa concepção de Deus e descortinando-se nosso entendimento da verdade universal.
Primeiramente concebemos um Deus terrível, vingativo, cruel, ciumento, cuja ira aplacava com sacrifícios sangrentos. Só tal Deidade imporia respeito à incipiente humanidade. Depois nosso conceito de Deus se ampliou um pouco e concebeu-se o Deus dos Exércitos que impunha derrotas e propiciava vitórias sobre o inimigo; que punia, arrasando rebanhos e plantações e premiava, multiplicando-os. Daí que se Lhe oferecessem sacrifícios no templo, com objetivos egoístas. Era o Deus de Israel. Mais tarde veio o Deus dos católicos populares, que pela primeira vez promete um céu após a morte, aos bons, mas continua ameaçando com castigos na terra e tormentos no inferno, os transgressores. Agora já estamos concebendo um Deus que se manifesta por Leis justas, não interferindo diretamente no livre arbítrio humano; o ser humano, por seus atos, é que suscita consequências boas ou más, em virtude da ação das Leis Divinas. Vamos tomando consciência de nossa natureza e da natureza de Deus, agindo por dever, até que possamos fazê-lo espontaneamente, por Amor.
Esses passos da evolução religiosa estão descritos simbolicamente na Bíblia e correspondem à história humana até nossos dias:
1. Perdemos a condição inocente e protetora do Paraíso. Fomos embrutecendo pelo materialismo até que perdemos a consciência interna e sentíamos saudades de Deus, um vácuo indefinível, uma falta daquela antiga ligação com as Hierarquias. O íntimo nos acusava de faltas. As condições evolutivas eram mui adversas e a consciência mui obscura.
2. Passamos ao jugo do Faraó do Egito (escravos de nossa personalidade egoísta e viciosa). Sofríamos as limitações de uma vida material duríssima (quando o Sol, por Precessão dos Equinócios, transitava pelo Signo Zodiacal de Touro). Só mesmo o caráter e resistência passiva de Touro (boi Ápis) nos possibilitava suportar as vicissitudes dessa época de violência e egoísmo.
3. Aí fomos libertados por Moisés e passamos a peregrinar no deserto, durante os simbólicos quarenta anos (período indeterminado de tempo) rumo à Terra Prometida de leite e mel. Moisés é o impulso evolutivo que nos leva a algo mais. No deserto, muitas vezes nos sentíamos inclinados a retornar ao passado, que se nos afigurava mais seguro do que a livre aventura de um porvir incerto, fundia com o ouro de nossas possibilidades internas o bezerro de ouro já ultrapassado. Mas o irresistível impulso interno (Moisés) nos renascia, mostrando-nos que a nova dispensação de Áries (o Cordeiro) nos esperava. E contava como a vara de Arão transformada em serpente (sabedoria de Áries) havia devorado as serpentes dos sábios do Faraó (dispensação de Touro), revelando, assim, sua superioridade. Com muita dificuldade chegamos à Terra Prometida e, fato expressivo, Moisés não pôde entrar nela com seu povo, porque atribuiu a si os méritos de seus prodígios e liderança, em vez de atribui-los ao Divino; condescendendo com a personalidade, foi castigado. É um bom símbolo: a Lei que Moisés havia recebido na Montanha para orientação de seu povo, não pode, por si mesma, levar à realização espiritual. É preciso ser complementada pelo Amor. Sua missão terminava ali. Assim, com nosso desenvolvimento interno, a Mente, sozinha, inclina à vaidade, à pretensão, à ambição. Mas unida ao coração, gera a Sabedoria.
4. Entramos na Terra Prometida e, com o Advento da Dispensação de Pisciana chegou o Cristianismo, cujo precursor – João Batista (reencarnação do mesmo espírito que havia animado Moisés e Elias) veio pregar a metanoia (já mencionada atrás), de modo a alcançarmos a verdade interna (Mente Abstrata) e compreensivamente corrigirmos a intenção causal, para que nossos pensamentos, sentimentos, palavras e atos sejam conforme a Lei. E, quanto aos hábitos, “com paciência ganharemos nossas almas”, compreendendo os vícios gravados e persistindo no Bem, pouco a pouco as trevas da noite ir-se-ão dissipando, para que surja a alva. Por enquanto estamos sofrendo as justas e automáticas reações da Lei. Mas, na medida de nossa espiritualização, a Lei se vai convertendo em colaboradora nossa, como bem observou Max Heindel: “antes era o Espírito Santo como Lei corretiva, um Deus terrível e implacável; no futuro o Consolador prometido, que revela as bênçãos dos céus àqueles que vivem em harmonia com o Universo”.
É importante, pois, conhecermos a Lei conducente à Graça. Se a conhecemos bem e a vivemos, ela nos será o Paráclito. Lembremos que o moço rico (internamente prendado) foi interrogado por Cristo se cumpria a Lei. Ele disse que sim, mas em realidade só a cumpria no aspecto literal, como veremos pelo sentido esotérico do Decálogo. Se a compreendemos e vivemos realmente, estaremos aptos a nos consagrarmos com segurança ao “serviço amoroso e altruísta”, sem os vícios de seu mau entendimento.
O DECÁLOGO
Eis o Decálogo dado a Moisés na “montanha”:
1. Não terás outros deuses diante de mim;
2. Não farás para ti imagem de escultura nem alguma semelhança do que tenho criado. Não te encurvarás a elas nem as servirás;
3. Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.
4. Lembra-te do dia do sábado e santifica-o, porque é o dia do Senhor teu Deus;
5. Honra teu pai e tua mãe para que se prolonguem os dias na terra que o Senhor teu Deus te deu;
6. Não matarás;
7. Não adulterarás;
8. Não furtarás;
9. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo; e
10. Não cobiçarás coisa alguma de teu próximo: nem a casa, nem a mulher, nem o servo ou a serva, nem o boi ou jumento.
Esse decálogo figura em Êxodo 20:3-17, quer na Bíblia traduzida por João Ferreira de Almeida (usada pelas igrejas evangélicas), quer na vulgata, anotada pelo padre Matos Soares (adotada pelos católicos) .
1º Mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim”
Notem que não só a Lei, mas também as normas dos seres humanos, em sua maioria constituem-se de proibições.
Por quê? Porque a Lei é uma súmula do que devemos observar obrigatoriamente. O resto fica por conta do livre arbítrio de cada indivíduo e seu modo de ser.
O primeiro mandamento é básico. Deixa subentender a onipresença de Deus. De fato, Ele está infuso em toda a Sua Criação e, além dela, no misterioso Caos. Manifesta-se de forma diferente, conforme o grau de consciência do reino ou do indivíduo em evolução.
Quanto a nós, a Bíblia é claríssima: “Não sabeis que sois o santuário de Deus que em vós habita?” (ICor 3:16). “O Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17:21).
Apesar dessas e outras afirmações da Bíblia, a humanidade o tem buscado fora de si, num céu distante e inacessível, à semelhança de “Sir Launfal” em busca do Graal. Se o tivesse buscado no único lugar em que pode e deve ser encontrado, por certo já o teria realizado nesses vinte séculos. Mas a evolução é lenta mesmo. Estamos num progressivo acordar e ressuscitar para a realidade de nós mesmos e de Deus: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo resplandecerá sobre ti” (Ef 5:14).
Eis a mensagem do primeiro mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim”; nem riquezas, nem poder, nem amor, nem fama. Ninguém pode servir a dois senhores: ou servimos a Deus ou a Mamom – o deus da cobiça. E isso não quer significar que devemos ser materialmente pobres, que recusemos cargos influentes, que fujamos da fama, que nos afastemos do amor. Busquemos o sentido na intenção, no íntimo estarmos desapegados.
Exercermos a administração dos talentos que Deus nos põe à disposição, como meios evolutivos que não nos pertencem, mas que devemos gerenciar zelosamente. A pobreza material não é virtude; antes, na maior parte das vezes é sinal de omissão, irresponsabilidade ou má fé em vidas anteriores. Virtude é ter e não possuir, é trabalhar como um ambicioso e manter-se desapegado dos frutos, não obstante administrar o melhor possível para o Senhor, a quem tudo atribui.
A ausência de poder ou de fama pode ser sinônimo de egoísmo, de comodismo, de restrição de destino, etc., no exercício do poder e da fama em vidas anteriores.
A carência de amor é quase sempre uma resposta do desamor.
Mas é feliz quem vê em tudo o provimento de Deus no atendimento perfeito à necessidade interna e coletiva. E, sabendo que nada nos pertence, buscar devolver os bens, acrescidos de nossa administração, à Fonte que os jorrou. Tal é o sentido da evolução na Terra. De fato, não há mal em nada, mas no mau uso que fazemos de tudo.
Max Heindel diz que os Probacionistas são os que “tomaram consigo mesmos uma obrigação definida, pela qual o eu pessoal (personalidade) compromete-se a amar, honrar e obedecer ao EU verdadeiro e Superior, dedicando-se a uma vida de serviço, como meio de se aproximarem do véu e atingirem a realização consciente do Deus interior”.
Notem que esse compromisso se refere diretamente ao primeiro mandamento: “não terás outros deuses (personalidade) além do Eu verdadeiro e Superior o mesmo que foi dito em Mateus 6:33: “Busca em primeiro lugar o Reino de Deus (que está dentro de ti) e teu ajustamento a Ele, pois tudo o mais te virá por acréscimo”. Buscar o Reino interno e o conhecer a si mesmo, ajustar-se a Ele é o compromisso de viver segundo as Leis do Ser (reto pensar, reto sentir e reto agir) – o correto modo de amar, honrar e obedecer ao Eu verdadeiro e Superior, manifestado pelo mesmo amar, honrar e obedecer ao divino de cada irmão, cujos defeitos devemos esquecer, buscando-lhe a Divina Essência – pois isto constitui a verdadeira fraternidade.
A personalidade está atualmente ativa, comandando nossa vida de forma egoísta e contraditória. Deve tornar-se passiva, serva fiel do Espírito. Para chegarmos a esse ponto é mister exercitar paciente e perseverantemente a observação de si, praticarmos o discernimento, aprendermos a não nos identificarmos com as manobras sutis da natureza inferior em seus constantes esforços de justificação. Sobretudo, a prática da meditação ficando como testemunha da atividade interior. Ainda não sabemos silenciar. Podemos estar calados e, ao mesmo tempo, numa intensa atividade interior. Silenciar é aquietar internamente para que “a pequenina e silenciosa voz” se faça ouvir e nos intua. É a promessa do Salmo 91: “Aquele que habita o esconderijo secreto (interno) do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará”. É o convite do Salmo 46:10: “Aquieta-te e sabe: eu sou Deus”.
Atentemos à exortação do primeiro mandamento e busquemos a única fonte de nosso bem: o EU SOU em nós.
O método Rosacruz procura desenvolver no Aspirante, desde o princípio: a confiança em si (no Eu superior); o domínio próprio (pela não identificação com a natureza inferior); o esclarecimento a respeito de sua própria natureza intrínseca e de Deus que o criou, – para que cada um se torne um pilar no templo universal de Deus e se coloque em condições de servir de forma esclarecida, amorosa e altruísta o seu próximo, ajudando-o a atingir as mesmas desejáveis condições.
Somos o Melquisedeque, sem genealogia, a quem a personalidade (Abraão) deve render seu tributo e despojos a luta diária para que se cumpra mais rapidamente nossa realização evolutiva. Essa soberania do Eu verdadeiro e superior se exerce pela união da Mente e do Coração, que geram a Sabedoria. E se não nos devemos submeter aos desmandos da natureza inferior, igualmente não devemos ensejar qualquer domínio externo pela mediunidade, hipnose ou outra qualquer forma de alienação, pois seria contrário ao primeiro mandamento.
A personalidade não ama. Ela se caracteriza pela busca de retribuição: ama para ser amada; ama quando é amada. Não compreende que o amor é a própria recompensa; o dar gera o receber, mas não depende do receber para viver no amor, porque é Deus quem ama através de nós. Buscar a retribuição do amor é um reclamo da personalidade por aquilo que lhe não pertence. À medida que nos fundimos ao Eu superior vamos desenvolvendo um autêntico sentido de fraternidade, porque Ele é amor e quem vive em amor vive n’Ele e Ele nos leva a perceber e Amar o Divino em cada semelhante.
A verdadeira liberdade pressupõe a vivência no Espírito. Enquanto não alcançamos essa liberdade, ficamos condicionados pela falsa segurança que nos leva ao apoio nas coisas externas. Ora, ter outros deuses significa também acreditarmos nos falsos valores e deixar que eles nos possuam, em vez de os possuirmos.
Se usarmos todos os valores externos e internos como meios evolutivos provisórios a serviço do Eu superior, tornamos impossível qualquer interferência negativa em nossa harmonia básica ou no justo usufruto de uma vida plena, harmoniosa, aqui e agora mesmo.
Isto requer preparo interno, por meio de método adequado. A raiz de todo o mal está na identificação com a personalidade; está no ignorante modo de conduzir nossas faculdades. A chave da libertação está no conhecimento de si e no retorno da Presença e do Poder internos, esse espírito da verdade que o Cristo nos prometeu.
Não há, pois, nenhuma outra presença ou poder além da Consciência Universal que se expressa individualmente como uma consciência individual. Cada um de nós existe como um Infinito dentro de outros Infinitos. Funcionamos como Consciência Espiritual individualizada. Não somos o corpo, nem as emoções, nem os hábitos, nem a Mente. Somos o criador e dono deles. Por isso dizemos: meu corpo, minhas emoções, meus hábitos, minha Mente. A posse não pode ser maior que o possuidor.
A posse não pode dominar o possuidor. Eis o significado do primeiro mandamento: há somente um poder. Temer o que? “Se Deus é por mim, quem é contra mim?”. Odiar por quê? Quem odeia é a personalidade e não o Eu divino, que é amor. Quem ama ao Divino ama também a seu irmão. Temer, odiar, é negação do único poder. Se aprofundarmos esse sentido pela meditação, veremos que o bem e o mal existem apenas no campo da personalidade, como um nível provisório de consciência, que pode e deve ser transcendido. Aí chegaremos a um ponto em que não haverá um bem superando o mal – porque simplesmente existe um único Poder. O que parece mal é um esforço do Bem para devolver a harmonia. Portanto, é um convite de regeneração, uma advertência amorosa e sábia do que devemos corrigir.
Toda a grandiosidade do Cristo estava em Sua excelsa condição de Servo perfeito: “Eu de mim mesmo nada posso, mas tudo posso n’Aquele que me fortalece; o Pai em mim é Quem faz as obras”. Quando os discípulos Lhe perguntaram do Pai, Ele esclareceu: “Quem vê a Mim, vê ao Pai que me enviou”. Sua personalidade era um canal perfeito.
São Paulo compreendeu e aproveitou essa lição. Ele disse: “Quando sou fraco, quando sou nada, aí é que sou forte e sou tudo”. Ele sabia que a personalidade deveria tornar-se passiva e fiel serva do Eu superior.
Quando Cristo foi a Nazaré não pôde curar muitas pessoas porque se detiveram na pessoa d’Ele: “Não é este o filho de José, o carpinteiro? “. Mas Pedro, iluminado pelo Espírito Santo (Mente Abstrata) disse-Lhe: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, ao que o Mestre lhe responde: “Bem-aventurado és tu, Simão Bar-Jonas, porque não foram os olhos que te revelaram”. Essa é, também, a verdadeira identidade do ser humano, que chamamos homem ou mulher.
É certo que devemos ser prudentes, porque a maioria das pessoas vive condicionada à falsa personalidade com sua violência e egoísmo. Mas isso não nos deve distanciar da realidade essencial das criaturas, confiando no bem imanente.
Ao mesmo tempo, a conscientização da verdadeira identidade, ou seja, do Deus individualizado como eu ou como tu, não nos dissolve o sentido de individualidade nem exige que matemos nossa personalidade, como sugerem algumas filosofias. Ao contrário, a personalidade, – constituída pela Mente Concreta, Corpo de Desejos e Corpo Físico (Etérico e Denso) -, é indispensável à nossa evolução. Por meio dela é que haurimos experiências e dinamizamos as faculdades latentes, convertendo-as em Alma ou Consciência Espiritual. A conscientização da verdadeira identidade consiste numa inversão do atual materialismo, situando o ser humano como um Eu divino a manipular uma personalidade – e não uma personalidade à parte e independente de Deus. Não imaginemos que ocorra um vácuo; ao contrário, há aumento de consciência própria nessa transição gradativa da persona ao Eu real. Não se trata de nós perdermos no Todo o que nos confundimos. Éramos inconscientes de nós mesmos, como Centelhas, quando iniciamos a evolução no estado de consciência mineral. Depois disso, fomos desenvolvendo a consciência até o estado de vigília consciente atual, rumo à oniconsciência que nos espera. Deus se exprime como individualidades n’Ele separadas, cujas consciências se formam pela dinamização das faculdades divinas herdadas.
Pela eternidade afora seremos mantidos na própria individualidade pelo exercício da Epigênese. Somos notas próprias na sinfonia universal. Importante é que estejamos afinados ao Divino Concerto.
Afirmar a Deidade interna é definir sua identidade espiritual pela união ao Eu superior. Não deve ser confundida com a afirmação da personalidade que a maioria busca para o êxito mundano, em apoio na persona ativa. O verdadeiro êxito parte de dentro. Não há outra autoridade, senão aquela que nos vem de dentro e de cima.
O único modo de vivenciarmos essa profunda verdade é o estudo das verdades espirituais, a prática dos exercícios recomendados e sua expressão em nossa vida diária. Eles nos guindarão a níveis gradativamente mais elevados e claros. Então compreenderemos a afirmação do Batista (persona) referindo-se ao Cristo (Eu superior): “É preciso que eu diminua e Ele cresça”. Só assim nos converteremos em valioso e fiel precursor do Eu real neste mundo, tendo-o como Único Deus, em nós e nos outros.