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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Responsabilidade e a Fraternidade

Responsabilidade e a Fraternidade

A Fraternidade Rosacruz é uma Associação Internacional de Cristãos Místicos. Isso significa que a dimensão religiosa e espiritual do nosso movimento é de capital importância. Mas, da mesma forma como o espírito requer um corpo para adquirir experiência, com vista ao crescimento anímico, assim também o caminho espiritual necessita do ambiente material para que possamos desenvolver nosso potencial divino. Entenda-se que, quando nos referimos à Fraternidade Rosacruz, devemos fazer uma distinção entre o “corpo”, isto é, a Sede Mundial, os centros, os edifícios, os livros, e as “unidades viventes”. Estas são representadas pelos estudantes, probacionistas e discípulos, que fazem o possível para ajudar os Irmãos Maiores em seu benéfico trabalho em prol da humanidade. São pessoas que se esforçam por “viver a vida” e percorrer o caminho da espiritualidade.

“Viver a vida” não consiste em sonhos nem meditações, ou ainda em procurar visões místicas que nos alienem da realidade terrena e de suas responsabilidades. O “viver a vida” produz crescimento anímico, que não é produto de especulações, mas o resultado de trabalho duro, de esforços levados a cabo durante o dia quando cumprimos todas nossas obrigações e deveres com o melhor de nossas capacidades. O antigo alquimista afirmava: “Ora et labora”, cuja tradução é: ora e trabalha. Isto significa que nossas orações devem ser nosso trabalho e nosso trabalho deve ser como uma oração a Deus.

Tudo o que fazemos deve ser o melhor, durante todo o tempo. Deve ser um cântico de gratidão e louvor a nosso Senhor e Libertador. Devemos trabalhar, comer, dormir, orar e fazer todas as coisas para a glória de Deus. Agindo dessa forma viveríamos, realmente, uma vida espiritual durante as 24 horas do dia e não unicamente ao deitarmos ou levantarmos.

É mister que nossa vida inteira se revista de espiritualidade. É preciso lutar por unir todas as partes do nosso ser, num todo harmonioso, antes de que se nos permita explorar os reinos superiores do espírito.

Se vivemos separando o Criador de Sua Criação, não nos espantemos se o mundo parece estar despencando para um abismo! É tempo de compreendermos que a separatividade a nada conduz porque contraria o espírito de amor e fraternidade. Deus é uno e, ao mesmo tempo, é tudo que é Bom, Belo e Verdadeiro. Ele se encontra sempre presente, em toda parte de Sua Creação[1]. Através d’Ele verdadeiramente vivemos, nos movemos e temos nossa existência. Por nosso intermédio Ele evolui, porque Ele e nós somos UM.

Portanto, cada vez que expressamos a Bondade, a Beleza e a Verdade que possuímos, demonstramos Sua Presença e fortalecemos Seu Divino Poder em nós. Este Poder irradia-se, então, em forma de luz, dentro e ao redor de nós. Quando despontamos como sendo um bom exemplo, nós o colocamos em manifestação, outros o percebem e são estimulados a imitá-lo. São inspirados a viver uma vida mais espiritual, guiada pelo espírito e irradiadora de suas qualidades.

Devemos pensar, também, no fato de não estarmos associados simplesmente com a Fraternidade – a estrutura – mas verdadeiramente em Fraternidade, a fraternidade do espírito. Essa fraternidade espiritual, ou sagrada união com todos os nossos Eus Superiores, une milhares de almas cristãs em todo o mundo, com um vínculo de amor e compreensão. Representa um poder que traz cura e esperança a um mundo sofrido.

Compreendemos plenamente que força é estar ao lado do Cristo? Consideremos, ainda, o fato de que esta forma permanece latente, até que decidamos viver conforme nossos princípios, consagrando-nos e oferecendo-nos como um sacrifício vivente sobre o altar do Serviço.

A ideia do serviço prestado aos demais, amiúde, nos traz à mente façanhas missionárias heroicas, a serem realizadas com muito exibicionismo, ou uma grande demonstração de generosidade. Porém, isso não é assim. A verdade e a sabedoria divina encontram-se na simplicidade. O Mestre repete constantemente que devemos começar pelas coisas pequenas, demonstrando nossa fidelidade em nossas mais insignificantes responsabilidades. Isso tudo deve ocorrer antes de que nos sejam oferecidas oportunidades mais significativas. Quando caminhamos pela senda espiritual, estamo-nos esforçando por nos convertermos em colaboradores dos Irmãos Maiores, com a finalidade de curar os enfermos e elevar nosso semelhante à estatura de Cristo, Luz e Salvador do Mundo.

Mas, agora, consideremos isto: estamos sendo fiéis cumprindo todas as obrigações e responsabilidades básicas que assumimos, pelo fato de sermos Estudantes, Probacionistas e Discípulos? As responsabilidades que assumimos como estudantes não se encerram, subitamente, quando nos convertemos em Probacionistas! Cada vez que nos movemos no caminho, maiores responsabilidades recaem sobre nossos ombros. Não existe retorno à categoria anterior. Não podemos anular as habilidades e os conhecimento adquiridos. Regressar às formas de conduta inferiores, seria muito mais destrutivo para a alma.

Max Heindel faz a analogia entre o caminho e um canal em que a alma, como um barco, se eleva mediante o sistema de eclusas e comportas. Uma vez que o barco tenha passado a eclusa, e essa se fecha atrás dele e a água é vertida dentro, de maneira a elevá-lo a um nível mais alto, para dar prosseguimento à sua jornada. Abrir as comportas para retornar ao nível anterior seria puro suicídio.

Como não vemos, nem vivemos, conscientemente nos mundos superiores, nossas experiências ocorrem no plano físico, onde devemos habilitar-nos cumprindo, tão bem como seja possível, nossos deveres temporais.

Os Irmãos Maiores da Rosacruz sabem onde nos encontramos, no que tange ao desenvolvimento espiritual. Devemos usar nossas mentes e corações para nos valorizarmos. Mediante a ação e a retrospecção podemos determinar onde estamos fracassando em nossos deveres e responsabilidades.

Como unidades que somos da nossa Fraternidade, muito podemos fazer para demonstrar nosso mérito e capacitar-nos para a última etapa ou meta final do verdadeiro Discipulado e Iniciação; temos recebido estes admiráveis ensinamentos dados pelos Irmãos Maiores e obtido meio para alcançar a paz da mente que, debaixo da Lei de Causa e Efeito, deveremos compartilhar essas bênçãos com aqueles que sofrem.

Perguntemo-nos, cada um a si mesmo, o seguinte: estou fazendo tudo ao meu alcance para divulgar estes maravilhosos ensinamentos e para promover o benéfico trabalho da Ordem Rosacruz como gratidão, ou simplesmente recebo, sem retribuir, tudo aquilo que me tem sido proporcionado?

Vivo em harmonia com o que professo, de maneira que outros sejam inspirados por meu exemplo a “viver a vida”? Desejo unir-me em fraternidade com os obreiros da Sede Mundial no trabalho de disseminação desta bela filosofia?

Ofereço minha contribuição financeira mensalmente, segundo os ditames do meu coração e minhas posses o permitam, para ajudar a cobrir as despesas com remessa de correspondência e impressão de livros e lições, para que outros possam ter acesso à Luz?

Ajo com seriedade, devolvendo pontualmente meu cartão mensal de estudante Regular ou meu informe de probacionista, como é solicitado pelos Irmãos Maiores, para demonstrar minha fidelidade e sentido de disciplina?

Primo pela exatidão e clareza na correspondência que envio à Sede Mundial? Preocupo-me em enviar informações adequadamente redigidas ou datilografadas, de maneira a facilitar o trabalho daqueles que as recebem na identificação de meu nome, endereço e código?

Há muitas perguntas simples como essas que deveríamos fazer a nós mesmos, não só quando estamos tratando de assuntos relacionados à Fraternidade, mas especificamente, quando tratamos com outras pessoas, no trabalho, na família ou na comunidade.

Se desejamos ser considerados dignos de colaboradores, conscientemente, num plano superior melhor, revisemos nossas vidas e indaguemos como temos assumido nossas responsabilidades em todos os níveis. Somos as mãos privilegiadas que servem a Ordem Rosacruz e devemos apreciar o tesouro que estamos recebendo. Devemos fazer tudo o que for possível para nos assegurar de que muitas outras pessoas recebam, livremente, estes ensinamentos. À medida que percorrermos nosso mérito, tornamo-nos responsáveis por nossas vidas e fazemos o melhor possível em nossas atividades diárias.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/86)

[1] Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a transição de uma existência para outra existência.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Trabalhemos…não nos preocupemos!

Trabalhemos…não nos preocupemos!

Há quem diga que o mundo não necessita de seres humanos preocupados, mas sim de ocupados. Há um fundo de verdade nisso. Só a atividade abre canais de solução.

A vida tornou-se complexa, exigindo ação enérgica para a suplantação dos obstáculos. Os desafios do quotidiano encontram os seres humanos, em sua grande maioria, despreparados para enfrentá-los. Assim, não raro, estampam no rosto a marca do desespero, da ansiedade, do ceticismo. Carecem de uma estrutura espiritual capaz de sobrepô-los aos problemas existenciais.

Faz-se muito alarde de crises nos dias atuais, a ponto de imaginarmos que a convivência com elas representa a normalidade da vida. Crises econômicas. Crises políticas. Crises morais. As manchetes dos jornais não cansam de proclamá-las.

Analisado, o problema, sob o prisma essencialmente materialista, não nos deixa conclusões alentadoras.

Mas, à luz do espiritualismo, as coisas se apresentam de outra maneira. O que corrói a humanidade, realmente, é uma crise de FÉ. Esta é a verdadeira crise. O ser humano vive preso de temores, quase sempre infundados. Por descrer na ação equilibradora de Forças Superiores, acaba sofrendo contínuos abalos em sua existência.

Ora, se “em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser” – e isso os ocultistas admitem como uma verdade axiomática – não podemos nos conceber dissociados do TODO. Somos células vivas do Grande Corpo Divino. Além disso, estamos sujeitos a leis imutáveis, cuja ação promove a harmonia universal. Então, porque imaginarmo-nos apartados desse processo? Deus está em nós, e a recíproca é verdadeira. Max Heindel vai mais longe ainda, quando afirma “que Deus evolui por nosso intermédio”.

Diante disso, não é sensato duvidar da Divina Presença em todos os seres da criação.

Deus mora, vibra, palpita em todas as pessoas. Se elas não O manifestam em suas vidas, é porque se fecharam à Sua ação. E se se mantiverem refratárias ao fluxo de Sua “seiva”, por certo provocaria um desequilíbrio e o consequente sofrimento.

Eis uma verdade fundamental: Deus encontra-se presente em cada um de Seus filhos, como atuante e poderoso auxílio. Foi-nos destinado um caminho luminoso, ascensional, transbordante de plenitude. Nossa meta é a perfeição. Os fatos que nos envolvem, nossos êxitos e fracassos, alegrias e tristezas, lutas e desafios, constituem eterno convite para a PERFEIÇÃO. Dão sabor à nossa vida. Porém, quantos já se sensibilizaram a essa realidade?

A consciência da Divina Presença em nós afasta a possibilidade de qualquer preocupação, porque esta resulta de um temor, de uma dúvida, de uma hesitação. A certeza de Deus em nós elimina qualquer sentimento negativo. São Paulo apóstolo dizia: “Se Cristo é por nós, quem será contra nós?”

O temor contrapõe-se à fé. E a sua negação. Devemos, portanto, substituí-lo por sentimentos positivos, conservando uma inabalável confiança na Providência Divina.

É possível que, às vezes, deixemo-nos desgastar com preocupações, por causa de problemas financeiros, de saúde, etc. É importante libertarmo-nos desses cuidados.

Cabe-nos o empenho em resolvê-los, sem, contudo, deixarmo-nos envolver pela ansiedade.

É necessário ver a mão de Deus em todos os acontecimentos e circunstâncias, sempre laborando por tudo aperfeiçoar. Onde a maioria só encontra dúvida e confusão devemos perceber a força da Divina Sabedoria. Onde os problemas e o sofrimento parecem dominar, devemos vislumbrar o poder de Deus em ação. Onde antigamente só lamentávamos a enfermidade, hoje procuremos ver as leis naturais agindo para restabelecer o equilíbrio rompido pela ignorância humana. Em tudo devemos ver a Divindade.

Às vezes é necessária uma fé inquebrantável para acreditar que todas as coisas estejam contribuindo para o nosso bem. São momentos decisivos, a provar nossa convicção. E quando tomamos a consciência de que não devemos apenas aguardar confiantemente as leis operarem, senão que é necessário colaborarmos com elas através da sabedoria e do poder do Espírito em nós. Devemos agir serenamente, seguros de que nossa cooperação produzirá um BEM final.

Portanto, a atitude assumida nunca deve ser de passividade. Cumpre conservar-nos sempre ativos e atentos, trabalhando incansavelmente na Seara do Cristo. Isso só é possível quando nos elevamos acima da humana conceituação das coisas, aprofundando nossa visão a respeito de tudo que nos rodeia.

Há um propósito superior na vida de cada ser: o constante aprimoramento de suas potencialidades. Todas as coisas tendem a melhorar, a encontrar a sua exaltação. Donde infere-se que o pecado e o sofrimento são anomalias na natureza. Libertemo-nos deles, assumindo nossa verdadeira identidade, espiritual por excelência.

Não nos preocupemos. Trabalhemos.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/1978)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Pureza e Força Criadora

A Pureza e Força Criadora

A pureza e um dos caminhos conducentes a Deus. Relacionada com o uso da força criadora pode tornar-se um problema capaz de afligir o aspirante. Isso ocorre quando o estudo e compreensão superficiais dos ensinamentos da Sabedoria Ocidental geram um conflito entre uma convicção moral interna e a realidade do cotidiano.

Meditando sobre vários temas do Conceito alusivos à natureza da força criadora chega-se à conclusão de que esse conhecimento implica em grande responsabilidade. Responsabilidade inquestionável, porquanto essa força não diz respeito exclusivamente ao ser humano. Pertence à toda a humanidade. Uma parte é utilizada na perpetuação da espécie, e sua fonte, em última análise, é o próprio Deus, por tratar-se; essencialmente da mesma energia usada no processo da Criação. É, portanto, espiritual e sagrada.

Através do sexo, no propósito da procriação, a força criadora encontra um canal de expressão. Mas, infelizmente o sentido dessa atividade foi distorcido e o seu emprego na gratificação dos sentidos generalizou-se para desgraça do gênero humano.

Devemos manter uma atitude objetiva em relação ao sexo, livres de temor, puritanismo ou autocondenação. Mas não basta apenas ser objetiva. Há que ser objetiva e espiritual porque assim teremos condições de dirigir, controlar e transmutar essa energia em algo superior. Quando agirmos dessa forma, notaremos um crescimento admirável de nossa energia, vigor e criatividade, bem como desenvolveremos uma mais elevada consciência de Deus.

É necessário transmutar, e disso não temos dúvida. Mesmo querendo tornarmos a decisão consciente de transformar a energia, seremos atormentados pelos impulsos inconscientes que são parte de nossa formação não regenerada. Essa energia pode ser redirigida, mas isso demanda tempo e esforço sistemático.

Uma das formas que se nos apresentam de realizar essa transmutação consiste em canalizarmos ativamente nossos interesses, aspirações e entusiasmo e alguma atividade criativa, tal como pintura, dança, escultura, literatura, artesanato, etc. A princípio teremos de aprender a criar em nosso campo de atividade sem atentar para a qualidade final do produto. Com o tempo nos surpreenderemos com o fato de que poderemos criar e criar bem.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 06/86)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Porque a Reforma do Caráter

Caráter é destino. Nunca será demais repetir essa verdade. Afinal, ela diz respeito aos nossos interesses mais íntimos.

Todo ser humano alimenta o desejo de construir para si um destino harmonioso e equilibrado. Não vamos falar em “destino feliz”, porque o conceito de felicidade é muito relativo, variando até, sem exagero nenhum, de pessoa para pessoa. Cremos, portanto, na harmonia e no equilíbrio como o binômio ideal na constituição de um destino.

Esse binômio é atingível? Afirmamos que sim, embora poucos o tenham conseguido.

Todo ser humano anseia por um porvir agradável, sem, contudo, imaginar que ele se condiciona a um caráter bem formado. Ora, somente pelo manejamento adequado das causas, pode-se alterar os efeitos. Todo destino é, em última análise, uma gama de efeitos. Daí ser fácil concluir-se: se almejamos um futuro equilibrado, cuidemos, antes de mais nada, do nosso caráter.

Mas como fazê-lo? Em primeiro lugar, analisando-o.

E como analisá-lo? Max Heindel indica-nos um meio seguro de fazê-lo: o exercício noturno de Retrospecção. É uma forma prática de autoconhecimento.

Conhecidos nossos traços de caráter, em suas profundezas, é bom ressaltar, cabe-nos o segundo e mais importante passo: a reforma.

Não se julgue, todavia, que a correção requer luta tenaz contra o mal. Nada disso.

Resistindo-se-lhe só lograremos, para nosso desespero, reforçá-lo ainda mais. É um erro lamentável julgar que todo malefício provém do exterior. Se não há mal em nosso interior, não atrairemos males de fora.

Tudo, portanto, encontra-se em nosso mundo interno: o bem ou o mal. E o que se pode fazer no sentido de vencer o mal interno, sem luta?

A Filosofia Rosacruz enseja-nos a resposta: através do Corpo Vital, o veículo dos hábitos. Estes se formam pela repetição. O hábito reclama, insistentemente, a repetição.

Ela é o seu alimento, a chave para a gestação de um destino harmonioso ou perturbador.

Eis porque a reforma interna é de suma importância.

Muitos podem objetar essa argumentação alegando ser essa tarefa muito difícil, quase impossível.

Concordamos em que não seja fácil levá-la adiante. Mas não a reputamos impossível, não a configuramos como utópica. É uma questão de esforço e de vontade.

Ocorre que nosso caráter constitui na mescla de tendências antigas e influências novas desta existência. E como o ser humano não se dispõe com facilidade a mudanças radicais em sua vida, qualquer reforma interna encontra muitos obstáculos à sua frente.

A transmutação do “homem velho em homem novo” requer muita dedicação e coragem. Não se deve objetivar outra meta a não ser a realização do BEM. A única recompensa digna é a paz nascida do dever cumprido. O desinteresse deve revelar-se como uma norma fundamental. Fazer concessões ao interesse próprio é compactuar com as antigas e retardatárias mazelas.

Em Atenas, prometiam-se belas estátuas de mármore branco de Paros. Em Roma, belas coroas de oliveira. Maomé oferecia doces carícias de fadas amorosas. Odin, os encantos das louras Valquírias.

Em toda parte e em todos os tempos, se ofereceram recompensas a quem praticasse ou vivesse no Bem. Entretanto, uma cidade nada oferecia aos seus heróis. Era Esparta. Os defensores das Termópilas receberam apenas uma simples inscrição:

“Cumpriram o seu dever”.

O espiritualista sincero conscientiza-se de que promovendo a reforma de seu caráter está apenas cumprindo um dever. Nada reivindica para si mesmo.

Certamente terá de enfrentar momentos difíceis. Em algumas circunstâncias poderá até amargar a tentação de desistir. Fará, no entanto, da coragem a sua bandeira, não se deixando envolver pelos reclamos da personalidade. Esses heróis da alma serão as pilastras da Casa do Pai.

 (Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 11/1978)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Autossuficiência: aprender a cultivar é imprescindível

A Autossuficiência: aprender a cultivar é imprescindível

A autossuficiência é a virtude cardinal que o aspirante da Escola Esotérica Ocidental deve aprender a cultivar. Logo de início, encorajam-se os estudantes a dependerem de si próprios e a desenvolverem o raciocínio e o sentido correto do discernimento, com o auxílio da meditação e da oração, pois esses são indispensáveis ao seu avanço e evolução espirituais.

No Livro ”Mistérios das Grandes Óperas”, Max Heindel resume nessas palavras a importância que tem a AUTOSSUFICIÊNCIA para o Espírito inquiridor que adere à Fraternidade Rosacruz: “Não se permite que ninguém se apoie em Mestres ou que siga líderes, cegamente. A ambição dos Irmãos Maiores da Rosacruz é emancipar as almas que se lhes dirigem; é educá-las, dar-lhes força e torná-las seus colaboradores (. . .) Os Instrutores não podem, de forma nenhuma, fazer por nós as obras positivas em que se baseia o crescimento da alma, nem assimilá-la por nós, ou dar-nos o poder anímico consequente e utilizável – da mesma maneira que não comem o nosso alimento para nos dar forças físicas”.

No nível presente da nossa evolução, só podemos avançar se formos autossuficientes. Já deixamos para trás os dias em que éramos guiados por grandes Seres que determinavam cada um dos nossos atos. Agora, quanto mais dependermos da consciência, do raciocínio, do juízo, da sabedoria, ou da força de vontade de outra pessoa – seja ela um Instrutor espiritual ou um ser humano – mais tempo será necessário para atingirmos o grau de responsabilidade que nos emancipará completamente de influências exteriores. Só agiremos totalmente, segundo os preceitos fundamentais da evolução da alma, quando formos completamente livres!

A autossuficiência é indispensável, tanto nas mínimas coisas como nas de maior importância. É efetivamente com as pequeninas coisas rotineiras que temos de começar; se não formos capazes de tomar decisões aparentemente insignificantes, como podemos esperar tomá-las em coisas de maior valor? Há estudantes principiantes, e até membros há muito ligados à Fraternidade Rosacruz, que escrevem para a Sede a pedir conselhos referentes a problemas pessoais ou domésticos, dos mais diminutos aos mais graves. Há tendência para considerar a Sede uma fonte donde brota facilmente auxílio em momentos de crise. “A lição que temos de aprender é a de trabalhar para um objetivo comum; sem líderes, cada um igualmente inspirado, interiormente, pelo Espírito do Amor, lutando para elevar o mundo inteiro, física, moral e espiritualmente à estatura e grandeza de Cristo” (do Livro Cartas aos Estudantes nº 20 – Max Heindel).

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 02/86)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Palavra: qual é a qualidade do que você fala?

A Palavra: qual é a qualidade do que você fala?

Mesmo ante os impropérios, mesmo sofrendo ante a incompreensão humana; faze bom uso da palavra, a qual tem o poder de criar, por originar-se da força criadora. Portanto, pondera sobre o que disseres, porque algo estarás gerando benéfico ou maléfico, corres pendendo ao emprego que fizeres desse dom maravilhoso.

“Não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que dela sai”, afirmou a Cristo. Que estas palavras do Mestre permaneçam gravadas com letras de fogo em teu coração, para que venhas a compreender que tudo aquilo que de ti emana deve sempre expressar Harmonia e Amor. Expressando a Harmonia, sintonizar-te-ás com as Leis Divinas, cooperando eficazmente com os Irmãos Maiores na grande obra de regeneração humana. O Amor faz florescer o sentimento de fraternidade o qual integra o homem a Deus. “Deus é Luz, e se andamos na Luz, como Ele na Luz está, seremos fraternais uns com os outros”.

Seja a palavra que sai de tua boca, a decisão sabia dos três ministros que regem teu mundo interno: o discernimento, a consciência e a serenidade. Confia-lhes a administração dessa riqueza extraordinária, cujos frutos reverterão a favor do Espírito, o supremo mandatário.

Faze de tua palavra uma semente pujante, germinando no solo árido dos corações entenebrecidos pela ignorância e pelo ódio. E então te regozijarás vendo tantos torturados pela angústia. Que a tua palavra tenha força suficiente!

Para suavizar tanta amargura. Nunca seja ela portadora do veneno da crítica, nem do fel da injúria, pois fatalmente acabarás também sucumbindo, agitado por estas distorções do sentimento.

Se as circunstâncias te obrigam a falar energicamente, em repreensão a alguma falta cometida, faze-o em tom respeitoso, jamais com a intransigência de uma censura, porém, demonstrando com sapiência e bom senso, não a ignomínia do erro, mas a nobreza da virtude. Procura vislumbrar o Bem em todas as coisas e poderás constatar a mudança que se operará em torno de ti.

Não te iludas com o falar garboso, coordenado com gestos pré-estudados. Isso é carência de sinceridade. São os guizos falsos da personalidade procurando centralizar atenções, ofuscando a gloriosa Essência que em ti reside.

Não te esqueças do antigo, mas sempre atual adágio: “Se o falar é prata, o calar e ouro”. Portanto, se tuas palavras são meros invólucros sem conteúdo, não exprimindo o que em ti há de mais elevado, então é melhor que te cales.

Seja tua palavra o apêlo que exorta alguém a procurar a Luz interna, cujo brilho é ofuscado pelo sentido irrealista da vida restrita únicamente ao plano material, onde a ambição desmedida gera o egoísmo, o interesse e a hipocrisia, masmorras sombrias, onde o próprio homem permanece agrilhoado.

Vê na palavra algo de grandioso, de belo, de sublime. Não a limites ao sentido caricato que lhe empresta o homem comum, tornando-a meio de exteriorização de sentimentos mesquinhos. Dá-lhe uma função correspondente à sua origem sacrossanta. Faze com que ela seja um instrumento adequado ao mister de elevar o gênero humano. Seja ela a expressão viva do teu crescimento interno. Usa-a sempre com sabedoria.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/1967)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Gratidão onde, muitas vezes, esquecemos

A Gratidão onde, muitas vezes, esquecemos

Durante o mês de novembro do segundo ano da grande Guerra de Secessão, renhida entre os estados do sul e os do norte dos Estados Unidos, com vistas à abolição da escravatura, encontrava-se certo jovem médico afeto a um hospital de sangue próximo da capital do país, Washington. Certa manhã chuvosa, ao dirigir-se à cama de um ferido, aproximou-se dele uma ordenança e o deteve.

– O senhor é o Dr. Jason Wilkins? – Perguntou-lhe.

– Sim, senhor.

– Lamento, doutor, mas tenho que prendê-lo e levá-lo a Washington.

Jason olhou para a ordenança com ar de desprezo, e lhe disse:

– O senhor está equivocado, amigo.

O soldado puxou do bolso de sua farda um envelope pesado e o entregou a Jason. Este o abriu com certo temor, e leu:

“Mostre isto ao médico Jason Wilkins do regimento N.º… . Prenda-o, e o traga a minha presença imediatamente – A. Lincoln.”

Jason empalideceu.

– Que está acontecendo? – Perguntou ao ordenança.

– Não perguntei ao presidente, respondeu o soldado secamente. Sigamos imediatamente, por favor, doutor.

Assustado, Jason seguiu para Washington. Recapitulou todas as pequeninas contravenções que havia cometido.

Ao chegar ao destino, foi encerrado numa pensão por uma noite.

No dia seguinte, às doze horas, a ordenança o levou à Casa Branca.

Depois de uma hora de espera, apareceu um homem por uma das portas da audiência do presidente, e chamou:

– Dr. Jason Wilkins!

– Presente, respondeu Wilkins.

– Por aqui!

E Wilkins, após segui-lo, encontrou-se em uma sala cuja porta se fechou atrás dele. Não havia na sala senão um homem: era Lincoln.

Sentado diante de sua escrivaninha, fixou os escuros olhos no rosto de Wilkins – um rosto belo e jovem, apesar do tremor dos joelhos.

– É você Jason Wilkins?

– Sim, Excelência, respondeu o jovem médico.

– De onde é você?

– De High Hill, Estado de Ohio.

– Tem parentes?

– Somente a minha mãe é viva.

– Sim, somente sua mãe! Bem, jovem, como está sua mãe?

– Bem. .. bem. .. Não sei – balbuciou Wilkins.

– Não sabe! – Repetiu Lincoln – E por que não sabe? Está morta ou viva?

– Não sei, disse o médico. Para dizer a verdade, faz tempo que não lhe escrevo, e creio que ela não saiba onde estou.

O Sr. Lincoln esmurrou com seus grandes punhos a escrivaninha e seus olhos dardejaram sobre Jason Wilkins.

– Recebi uma carta dela. Supõe que você já morreu, e me pede que faça investigação quanto a sua sepultura. Ela não presta? É de má origem? Responda-me cavalheiro!

O médico endireitou-se um pouco e disse.

– É a melhor mulher que já viveu até agora, Excelência.

– Não obstante, você não tem motivos para gratidão! Como conseguiu você estudar para médico? Quem lhe pagou as despesas? Seu pai?

– Não, Excelência, respondeu Wilkins enrubescido; meu pai era pregador metodista pobre. Minha mãe conseguiu o dinheiro, embora eu trabalhasse para pagar quase todas as minhas despesas com pensão.

– Bem, e como conseguiu ela o dinheiro?

Os lábios de Wilkins se enrijeceram.

– Vendendo seus objetos, Excelência.

– Que objetos?

– Principalmente coisas antigas; sem valor a não ser para os museus.

– Pobre louco! – Disse Lincoln – Os tesouros de seu lar… vendidos um após outro… para você.

De repente, o presidente levantou-se e apontando com o grande indicador para a escrivaninha, disse:

– Venha cá; sente-se e escreva uma carta a sua mãe.

Wilkins aproximou-se em obediência e sentou-se na cadeira do presidente. Tomou de uma pena e escreveu uma pequena carta a sua mãe.

– Coloque-lhe endereço e me dê, disse-lhe o presidente; e acrescentou, levantando um pouco a voz: – E agora Wilkins, enquanto estiver no exército, escreva a sua mãe uma vez por semana. Se tiver que o repreender novamente por causa deste assunto, fá-lo-ei comparecer perante uma corte marcial.

Wilkins levantou-se, entregou a carta ao presidente e ficou aguardando ordens, Finalmente Lincoln se voltou para ele.

– Meu filho – disse-lhe amavelmente – não há no mundo qualidade melhor do que a gratidão. Não pode um homem encerrar em seu coração nada mais desagradável e degradante do que a ingratidão. Mesmo o cão aprecia a bondade, e nunca esquece a palavra amável ou o osso que se lhe atira.

Lincoln fez novamente uma pausa e, em seguida, disse:

– Pode ir embora, meu filho.

É desnecessário dizer que o médico reconheceu a justiça das severas palavras do presidente e em seguida começou a corrigir, para com sua mãe, o aparente esquecimento em que a tivera antes.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/1967)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Encarnação do Verbo: para isso não dissimule a sua deidade

A Encarnação do Verbo: para isso não dissimule a sua deidade

Deus, o Grande Mestre, nos ensina de muitos modos e com pedagogia inigualável. Um deles é a encarnação do Espírito numa forma, forma como a que estou usando ou as que vocês estão usando, pelas quais nos vemos e nos reconhecemos. As formas fazem parecer que somos “eu” separados. As crianças e os jovens se apaixonam e se apegam à forma. Contudo, o Espírito “adulto” vê além da forma e descobre uma natureza em comum em todas as formas. Em todos os contatos e diálogos há uma referência tácita, como que a uma terceira pessoa, a uma natureza impessoal, que é Deus em todos, irmanando-nos essencialmente.

Essa essência é que dá sentido de unidade a um grupo de pessoas que se empenham na busca da verdade (como fazemos aqui na Fraternidade Rosacruz). Essa essência é que comunica a todos o pensamento e sentimento do orador e de cada presente, permitindo a todos, na proporção em que se lhes afina, assenhorear-se à verdade e internamente crescer. Independentemente da cultura, tal essência confere sabedoria a todos. Infelizmente, a educação tradicional, materializada, busca silenciar e obstruir a expressão nessa sabedoria, considerando como mais importante as experiências sensoriais. Mas, quem aspira à verdade, atrai-a de sua fonte espiritual ou da conjugação de forças espirituais (numa reunião como a nossa), e dela se apropria sem preocupação de a rotular com AUTORIAS. A verdade é eterna e a todos pertence. Uns são melhores canais dessa fonte que a todos deseja abrir-se, mas sem compromisso de pertencer-lhes, porque é universal. Assim, aprendemos pelas circunstâncias, pelas experiências próprias e alheias. Muito se aprende de pessoas simples e intuitivas.

Na sociedade, no trabalho, na família, muitas vezes descemos da nobre condição de seres espirituais para a de seres comuns, quando dissimulamos nossa deidade e nos misturamos aos hábitos comuns que acabam por delongar nossa ascenção. Tal se dá pela falta de convicção: medo de expressar o que essencialmente somos, conveniência de tirarmos proveito econômico, agradando aos demais, o tremendo impacto das opiniões contrárias, etc. Mais sábia é a discrição convicta de quem “vive no mundo e não lhe pertence” e diz as cousas quando, como e a quem seu íntimo o revela, sem trair sua identidade espiritual.

É o Espírito quem percebe e revela-nos a verdade. Ele está presente em todos e em todas as idades. Em minhas relações com meu filho, erijo o Espírito como árbitro entre nós: nos seus olhos jovens assoma o mesmo Espírito como árbitro entre nós: nos seus olhos jovens assoma a mesma essência que ele e eu amamos e reverenciamos, acima de tudo! O entendimento não existe independentemente do Espírito: a característica da inteligência é a de discernir entre o certo e o errado, através do Espírito. Somos muito mais sábios do que supomos.

Se não interferíssemos na ação do pensamento e o deixássemos fluir integramente, então poderíamos aprender muito mais de nosso íntimo, vendo o pensamento e a ação do Espírito sem entraves, em todas as pessoas como em nós mesmos. A comunicação que o Espírito faz da verdade ao coração é o mais sublime acontecimento da natureza, pois a verdade não apenas dá de si, senão que se dá inteira e se converte no próprio indivíduo a quem ilumina. Esse o mecanismo da intuição, o verbo que faz carne, na ação humana, quando o entendimento não o desvirtua ou intercepta.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1971)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Como se deve orar

Como se deve orar

Como se deve orar? Aprendemos a técnica da oração com os místicos cristãos, desde São Paulo até São Bento, e até essa multidão de apóstolos anônimos que durante vinte séculos iniciaram os povos do Ocidente na vida religiosa. O Deus de Platão era inaccessível na sua grandeza; o de Epíteto confundia-se com a alma das coisas e Jeová era um déspota oriental que inspirava terror e não amor. O cristianismo, pelo contrário, colocou Deus ao alcance do ser humano. Deu-lhe uma face; fê-lo nosso Pai, nosso Irmão e nosso Salvador. Para atingir Deus, já não há, necessidade de um cerimonial complexo nem de sacrifícios sangrentos. A oração tornou-se assim fácil, e sua técnica simples.

Para orar, basta somente o esforço de nos elevarmos até Deus; tal esforço, porém, deve ser efetivo e não intelectual. Uma meditação sobre a grandeza de Deus, por exemplo, não é uma oração, a não ser que seja, ao mesmo tempo, uma expressão de amor e fé. E assim a oração, segundo o processo de La Salle, parte de uma consideração intelectual para logo tornar-se efetiva. Seja curta ou longa, seja vocal ou apenas mental, a prece deve ser semelhante à conversa que a criança tem com o seu pai. “Cada um apresenta-se conforme é”, dizia um dia uma pobre irmã de caridade que há trinta anos queimava a sua vida ao serviço dos pobres. Em suma: ora-se como se ama todo o nosso ser.

Quanto à forma, a oração varia desde a curta elevação a Deus até à contemplação; desde as simples palavras pronunciadas pela camponesa que se ajoelha perante a cruz na encruzilhada dos caminhos até a magnificência do canto gregoriano sob as abóbadas de uma catedral.

A solenidade, a grandeza e a beleza, não são necessárias para a eficácia da oração. Poucos homens têm sabido orar como São João da Cruz ou como São Bernardo de Clairvaux, não havendo necessidade de ser-se eloquente para ser atendido; quando se aprecia o valor da oração por seus resultados, nossas mais humildes palavras de súplica e de louvor são tão aceitáveis ao Senhor de todos os seres como as mais belas invocações. Fórmulas, recitadas maquinalmente são, também, de qualquer forma, uma oração. Sucede o mesmo que acontece com a chama de um círio. Basta, para isso, que essas fórmulas inertes e essa chama material simbolizem arroubo de um ser humano para Deus. E também se ora por meio da ação, pois já S. Luís Gonzaga dizia que o cumprimento do dever é equivalente à oração. A melhor maneira de comunicar-se com Deus é, incontestavelmente, cumprir integralmente a Sua vontade.

Pai Nosso, venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como nos céus”. Fazer a vontade de Deus consiste, evidentemente, em obedecer às leis da vida, tais como elas se encontram gravadas nos nossos tecidos, no nosso sangue e no nosso espírito.

As orações que se elevam como “uma pesada nuvem da superfície da Terra” diferem tanto umas das ou outras como diferem as personalidades daqueles que rezam; contudo, consistem em variações sobre estes dois mesmos temas – amargura e amor. É inteiramente justo implorar o auxílio de Deus para obter-se aquilo de que temos necessidade; no entanto, seria absurdo pedir a realização de um capricho ou solicitar aquilo que devemos procurar por nosso esforço.

O pedido importuno, obstinado e agressivo é bem-sucedido. Um cego, sentado à beira do caminho, lançava as suas súplicas cada vez mais alto, apesar das pessoas que o queriam mandar calar. “A sua fé curou-te”, disse Jesus que passava. Na sua forma mais elevada, a oração deixa de ser uma petição. O homem declara ao Senhor de todas as coisas que O ama, que Lhe agradece as dádivas e está pronto a realizar a Sua vontade, seja ela qual for.

A oração torna-se contemplação. Um velho camponês estava sentado sozinho no último banco da igreja vazia, “Que esperais?”, perguntaram-lhe. “Olho para Ele”, respondeu o homem, “e Ele olha para mim”. O valor de uma técnica avalia-se por seus resultados. Toda a técnica da oração é boa, quando põe o ser humano em contato com Deus.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1971)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Impaciência diante dos Grandes Alvos

A Impaciência diante dos Grandes Alvos

Escreveu Max Heindel: “Um dos maiores erros de nossa época é a impaciência contra as restrições”. “Herói verdadeiro não é o que num impulso denodado pratica um ato incomum, senão o que, paciente e perseverantemente vai buscando, dentro de suas possibilidades, dia após dia, alcançar o alvo”.

Isto se aplica a tudo: quer aos assuntos materiais, quer aos espirituais. Mas damos ênfase ao lado espiritual porque muitos estudantes supõem que a meta iniciática seja coisa fácil. E, após um ou vários anos de estudos e esforços comuns, acabam desanimando, porque os resultados não correspondem à sua expectativa. Como esclarece Heindel: “ora, se para chegar a se diplomar médico, leva-se quase vinte anos de estudos, e assim mesmo sem prática, requerendo muito tempo chegar à proficiência, como podemos pretender grandes progressos espirituais após alguns meses ou anos de estudo, se os assuntos da alma são muito mais delicados e complexos”?

Em seu livro “Nossos Conflitos Interiores”, a Dra. Karen Herney salienta que o mais potente fator de frustração e desânimo reside na tentativa de querermos viver a altura de uma imagem irreal visionária de nós mesmos. Cada dia, psiquiatras e conselheiros deparam com milhares de homens e mulheres, cujos problemas emocionais provêm de lacunas intransponíveis, entre sua condição real e a que pretendem ser.

Como disse Shakespeare, o iluminado: “antes de tudo, sejamos honestos conosco mesmos”. Sejamos honestos sim, enfrentando nossa imagem real, com suas virtudes e limitações e buscando alcançar os alvos, dentro das reais possibilidades.

Alguém pode objetar que a insatisfação e a base do progresso humano, e que isto será uma pregação de conformismo. Mas não é o caso. Desejamos fazer entender que, na ascensão do homem velho para o homem novo, todos os dias, devemos escalar os degraus intermediários dos alvos menores, até atingir o alvo maior.
Todos sabem que seria pretensão qualquer novato querer atingir, de início, as marcas de um atleta já treinado: isso requer exercício diário. A mesma regra se aplica a qualquer assunto ou atividade.

Não faz muito tempo, dois médicos de Nova Iorque mencionaram os resultados de seus estudos referentes a jovens empregados de uma indústria, onde constataram futuros distúrbios cardíacos em dois moços que atravessavam tensões emocionais, em razão de trabalhos além de suas possibilidades, para alcançar a curto prazo aspirações muito altas. Há uns quarenta anos, o psicanalista Dr. Alfredo Adler descreveu acuradamente a situação dessas pessoas, dizendo: “esforçar-se para atingir um alvo além dos limites realistas das possibilidades pessoais, resulta em inferioridade e desajustamento”.

Muitos de nós, sem o perceber, vitimamo-nos com idênticos conflitos, olvidando que os alvos da vida se compõem de outros menores. Não nos tornamos virtuosos nem profissionais competentes, de um dia para o outro.

Se alguém nasceu com aptidões invulgares e sobe adiante de nós, não o invejemos: é certo que ele trabalhou em vidas anteriores para conquistar essas capacidades. Sem olhar para os demais, façamos AQUI e AGORA o que nos compete, na medida de nossas forças. O imediatismo e impaciência ante os grandes alvos, prejudicam a segura ascensão pelos degraus que eles conduzem, exaurindo-nos desnecessariamente as energias morais e físicas e produzindo-nos a pior das fadigas: a psicológica, acompanhada de insatisfação, depressão, frustração, desânimo.

A melhor receita é “fazer todas as coisas como se fossem para Deus (dentro de nós), desapegando-nos dos resultados”. Se, nesse espirito, diligenciamos no cumprimento das tarefas ou das etapas de um Ideal QUE PODEM SER REALIZADAS AQUI E AGORA, com o esforço normal, com o equilíbrio e eficiência normais, então obteremos a satisfação que advém de um trabalho DEVIDAMENTE CONCLUÍDO.

“A aceitação de si mesmo – escreveu a psicanalista Antônia Wenkert – abre caminho para o espírito de iniciativa e criatividade”. Pena é que essa aceitação não se verifica facilmente neste século XX de competição e materialismo, no qual, o símbolo peculiar de coragem e. êxito é o anseio de grandes realizações, conquistadas ainda que a expensas da saúde e de princípios cristãos.

Não nos deixemos iludir por falsos conceitos. Um dos segredos da felicidade humana reside na aptidão de dar flexibilidade à imagem que fazemos de nós mesmos, realizando TODOS OS DIAS, DA MELHOR FORMA QUE PUDERMOS, NOSSO TRABALHO DE ADMINISTRAÇÃO DOS TALENTOS DE DEUS, sem olhar para os resultados nem para a apreciação que os outros possam de nós fazer.

Então verificaremos, surpresos, que esse desapego aos resultados e méritos, essa dedicação ao Eu superior, vão nos tornando, gradativamente, em canais de inspiração e direção divinas, capazes de realizar, naturalmente, tarefas que humanamente nos seriam impossíveis. E diremos humildemente: «não sou eu quem faz as obras (a natureza humana, com sua mente, emoções e capacidades físicas), senão o Pai em mim (o Infinito tornado finito em nós, o Cristo interior). E quando menos esperamos, surge o alvorecer.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de 11/1971)

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