Arquivo de categoria Método para Adquirir o Conhecimento Direto

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Palavra Criadora: imaginação em alto grau, uma Mente lúcida e muita concentração

A Palavra Criadora: imaginação em alto grau, uma Mente lúcida e muita concentração

Será que temos dado suficiente consideração para as palavras que falamos? Essa pergunta deve ser feita por todos os Aspirantes espiritualistas sérios, porque com as palavras ditas estarão criando seus futuros destinos. Quando falamos, criamos imagens que frequentemente ativam emoções e estimulam pensamentos. A palavra-chave é criar.

Quando dizemos que o Aspirante está criando seu próprio futuro, entendemos que eles estabelecem condições básicas da vida futura, os Estudantes da Filosofia Rosacruz aceitam a ideia do Renascimento, mas nem sempre lembram que toda ação forma experiências para a próxima vida terrena.

Fazemos ideia de que a palavra cria condições para o ser humano, tanto para quem fala quanto para aquele que escuta. Palavras causam, muitas vezes, infelicidades na Mente ou no Coração dos outros, e podem mudar a própria vida daquele que falou. A palavra pronunciada, com intenção ou não, pode transformar completamente uma vida. Podem agitar emoções e fazer com que o ouvinte seja forçado a decisões que podem alterar seus desejos ou planos.

Em um momento emotivo, palavras despejadas podem embaraçar relações embora nos apressemos a dizer: “Não foi bem isso que queria dizer”. Então se não foi isso o nosso intento, as palavras não foram bem formadas.

Palavras usadas para degradar outros são ditas porque queremos alimentar nossa autoestima. A pergunta é: por que queremos magoar os outros?

Nós todos já encontramos pessoas que são tão interessadas em suas ideias que querem convencer os outros, privando-os de sua liberdade por forçá-los a ouvir e desenvolver resistência. É diferente quando as ideias são discutidas com o grupo, onde pode haver muitas opiniões sobre um assunto especial. Aí existe uma troca de ideias e a aceitação da razão dos outros quando cada um oferece seu ponto de vista.

A palavra tem o seu grau de vibração. A pessoa que fala, dota estas vibrações com a poderosa combinação de pensamento, desejo, vitalidade, dando-lhes substância (Vida) que afeta seus ouvintes.

Ocorre a nós que devemos aceitar a responsabilidade do resultado das nossas palavras? Não podemos esperar que criando desarmonia à vida de uma ou outra pessoa não tenhamos de pagar por ela. Nós construímos nosso próprio destino. Desse modo, falar uma palavra ofensiva é contrário a lei que Cristo Jesus estabeleceu: “Ama teu próximo como a ti mesmo”, e assim põe em ação a lei imutável. Caminhamos até a próxima vida e nos espantamos, porque as pessoas nos evitam e dificultam a nossa vida. Nós merecemos isso pelas nossas ações anteriores.

Para os Estudantes da Filosofia Rosacruz foi dada a razão para controlar as palavras e nos conscientizar do seu poder. Conhecemos a razão dessa disciplina, sabemos que nossa maneira de falar revela os nossos pensamentos e desejos, de maneira completa, conduzindo-nos a descobrir, discernir e perceber o seu significado. Somos bastante sensíveis para mudar nossa atitude para com os outros, para não tropeçarmos na tentação de falar a palavra má? Privamos as pessoas da sua liberdade de agir por causa da palavra impensada, ou mostramos nosso desejo de dominá-los insistindo revelar nossa própria infelicidade, confusão e decepção?

Se estamos interessados em controlar nossas palavras, podemos garantir reações harmoniosas, calma, paz e contentamento interior aos outros.

Palavras atraentes, usualmente possuem ritmo e as crianças são especialmente suscetíveis a isso. Seriam os jovens menos confusos se o som atualmente tão apreciado fosse eliminando? Tal desarmonia tem efeito devastador no Corpo de Desejos, despertando desejos mais inferiores.

A humanidade faz parte do divino criador e tem que se realizar criando harmonia por meio das palavras. Para conseguir, deve desenvolver imaginação em alto grau, possuindo uma Mente lúcida e muita concentração.

Todas as pessoas que possuem criatividade aprenderam a se disciplinar, para conseguir esse fim. A palavra é uma forma de criar.

Quando eventualmente alcançarmos a Iniciação vamos rever as nossas vidas passadas. Recriaremos, novamente, as cenas e nos conscientizaremos da importância da palavra dita, conhecendo enfim uma das qualidades que devemos cultivar antes de podermos alcançar a iluminação da INICIAÇÃO.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 11/86)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Quando somos o que somos

Quando somos o que somos

Nossa vida é feita de partes, nas quais atuamos com mais ou menos interesse e desempenho.

Estamos inseridos em contextos e nos defrontamos com situações que nem sempre nos alegram, mas que devemos vivenciar para conclusão do projeto pré-estabelecido.

Dentro deste contexto encarnamos papéis que devem ser cumpridos e metas que devem ser atingidas, porém, existirá sempre um papel no qual nos sentiremos mais ligados, com maior intensidade, pois a ele nos entregamos com prazer; a ele oferecemos nossas alegrias; com ele acreditamos num mundo melhor; encontramos através dele uma paz interior e forças para vivermos o que não somos e aceitarmos o que temos e não podemos usufruir.

Quando nos definimos e estamos nele, nada existe além dele. Com ele somos capazes de traduzir a harmonia e a beleza.

Nele o perfeito nos é ditado, o grandioso é compreendido. Existe apenas a realização.

Nele somos o tudo e o Todo, resumido, sintetizado, concluído.

Nele sabemos que somos nosso Espírito eterno. Somos nossos deuses.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/86)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um Malefício: por que as bebidas alcoólicas?

Nos Ensinamentos Rosacruzes, por vezes, encontramos observações contra a ingestão de bebidas alcoólicas.

A missão da Fraternidade Rosacruz é elevar a humanidade, e o uso do álcool provoca justamente o efeito contrário. A própria sociedade em que vivemos oferece inúmeros exemplos dessa verdade. Acreditamos mesmo que pouquíssimos estudantes não tenham no círculo familiar algum parente, próximo ou distante, vítima desse flagelo.

Degradação moral, incapacitação para o trabalho, destruição de lares, enfermidades e morte prematura são alguns dos males provocados por esse vício. São razões suficientemente fortes para justificar todas as campanhas educativas que visem a erradicação do alcoolismo do meio social, por mais onerosas que sejam.

É sempre oportuno abordar o assunto sob a ótica do esoterismo, justamente o que pretendemos fazer neste editorial.

Segundo a Bíblia, Noé fermentou o vinho pela primeira vez no início da Época Ária. A humanidade mais desenvolvida sobrevivera às inundações atlantes, fixando-se nas regiões mais elevadas da Terra.

As condições prevalecentes na Atlântida faziam parte do passado. Aquela névoa úmida não mais existia, dando lugar a uma atmosfera seca e clara.

O ser humano perdeu a visão dos planos internos, uma peculiaridade das épocas anteriores, passando a concentrar todas as suas energias no Mundo Físico. Para tanto, as Hierarquias lhe deram o vinho. Perder a visão espiritual era uma necessidade evolutiva nos primórdios da Época Ária.

Mas, com o advento do Cristianismo as coisas mudaram. Implantava-se uma nova ordem espiritual, e o uso do álcool não só já era dispensável, como impedia o crescimento anímico.

O primeiro milagre do Cristo foi transformar a água em vinho. Ele havia recebido o Espírito Universal por ocasião do Batismo, não necessitando, portanto, de estimulantes artificiais. Transformou a água em vinho para oferecê-lo aos menos avançados.

O bebedor de vinho, entretanto, não pode aspirar a degraus mais elevados na escala evolutiva. O uso do álcool produz alterações negativas na vibração de seus veículos.

Enquanto os Éteres inferiores vibram em função dos Átomos-semente localizados no Plexo Celíaco e no coração, os superiores vibram em função do Corpo Pituitário e da Glândula Pineal. O despertamento do Corpo Pituitário e da Glândula Pineal é muito importante no desenvolvimento da visão espiritual.

É lógico supor-se que o alcoolismo ao invés de sensibilizar venha provocar o efeito contrário. E mais: atua de maneira anormal sobre os veículos humanos, levando o alcoólatra a descortinar as Regiões inferiores do Mundo do Desejo com todas as suas mazelas. Isso ocorre principalmente nos casos de “delirium tremens”.

Uma coisa lastimável em nossos dias é constatar como as clínicas para doentes mentais estão repletos de alcoólatras e toxicômanos, porque o álcool também é um tóxico.

Esses vícios, além dos males físicos, psíquicos e emocionais, conduzem a uma inevitável degeneração de caráter.

Eis aí uma excelente oportunidade de servir à Humanidade: alertar e esclarecer quanto aos danos causados pelas bebidas alcoólicas.

(Publicada na ‘Revista Rosacruz’ – 10/86)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um Exemplo Notável: “por que não eu?”

Um Exemplo Notável: “por que não eu?”

Max Heindel costumava dizer: “Se há alguma coisa a ser feita, por que não eu?”.

O ser humano, com seu egoísmo e ignorância, vem cometendo muitos erros, comprometendo, não raro, os seus semelhantes. Mas isso, no curso da evolução, é compreensível: estamos aprendendo a usar as faculdades. Temos uma margem de livre arbítrio para isso. Pelas consequências vamos aprendendo a conhecer e a corrigir as causas.

A moderna ciência da ecologia vem demonstrando como o ser humano está provocando desequilíbrio na natureza, em seu próprio prejuízo. Isto é sinal de que já estão voltando os olhos às leis naturais e reconhecendo uma sabedoria superior a dirigir as coisas.

A respeito, queremos resumir um belo relato de Jean Giono, uma história verídica acerca de um homem que plantou esperança e criou felicidade.

“Há cerca de 40 anos fiz uma longa caminhada através de serras desconhecidas dos turistas, naquela antiga região onde os Alpes caem em direção à Provença no sul da França. Naquela época, tudo ali era terra estéril e incolor. Nenhuma vegetação, além da lavanda silvestre. Eu atravessei a região em sua parte mais ampla e, após caminhar três dias, encontrei-me em meio à mais completa desolação. Acampei perto dos vestígios de uma aldeia abandonada. A água que levava acabara na véspera, e precisava encontrar alguma. Aquelas casas agrupadas, apesar de serem apenas ruínas, semelhantes a um velho ninho de marimbondos, sugeriam que deveria haver ali uma fonte, ou um chafariz. Havia, de fato, uma fonte, mas estava seca. As cinco ou seis casas, destelhadas, roídas pelo vento e pela chuva, a pequena capela com sua torre desmoronada, se situavam como casas e capelas de uma aldeia abandonada.

Era um lindo dia de junho: brilhava o sol, mas sobre essa paisagem desprotegida, o vento soprava feroz, insuportável, rugindo entre as ruínas como um leão perturbado. Tive que mudar o acampamento.

“Após cinco horas de marcha ainda não encontrara água nem sinal algum que me fizesse esperar encontrá-la. A meu redor tudo era seca; por todo lado, o mesmo capim grosseiro. Pareceu-me ver ao longe uma pequena silhueta escura, ereta; tomei-a por um tronco de árvore isolada. De qualquer maneira dirigi-me em sua direção. Era um pastor. Trinta ovelhas estavam deitadas ao seu redor, sobre a terra quente e seca.

“Ofereceu-me um gole de seu cantil e, mais tarde, levou-me ao seu abrigo. Ele tirava sua água — excelente água — de um poço natural muito profundo, por cima do qual havia construído uma primitiva manivela.

“O homem falava pouco. É o hábito dos que vivem sós. Sentia-se que ele estava seguro de si, e confiante em sua segurança. Isto era surpreendente naquela terra estéril. Ele não vivia num barraco, mas em uma verdadeira casa de pedras, que revelava claramente os esforços que empenhara em recuperar a ruína que ali havia encontrado. O telhado era forte e sólido. O vento, soprando sobre as telhas, imitava o ruído do mar quebrando na praia.

“O lugar estava arrumado, a louça lavada, o chão varrido; a sopa fervia no caldeirão da lareira. Percebi, então, que ele estava de barba feita, que sua roupa tinha os botões bem presos e que estava remendada meticulosamente, a ponto de serem quase invisíveis os remendos. Repartiu comigo sua sopa e, quando lhe ofereci minha bolsa de fumo, respondeu que não fumava. Seu cão, silencioso como o dono, era amistoso sem ser, no entanto, servil.

“Ficou desde logo subentendido que eu pousaria ali naquela noite; a aldeia mais próxima ficava a mais de um dia e meio de viagem. Aliás, eu estava perfeitamente familiarizado com o tipo das raras aldeias daquela região. Eram quatro ou cinco aldeias bem afastadas entre si, nas encostas das montanhas, em meio a bosques de árvores, no final de estradas de carroças. As famílias, aglomeradas, vivendo em um clima excessivamente rude, tanto no inverno quanto no verão, não conseguiam escapar de constantes brigas entre si. Uma ambição irracional atingia proporções desordenadas sob o constante desejo de fuga. Os homens levavam à cidade suas cargas de carvão e regressavam. Mesmo os de mais firme caráter sucumbiam sob a rotina amordaçante. As mulheres cultivavam seus desgostos. Reinava rivalidade a qualquer propósito, sobre o preço do carvão, sobre o banco reservado na igreja, etc. E sobre tudo isso soprava o vento, incessante, a desgastar os nervos. Ocorriam epidemias de suicídio, e eram frequentes os casos de insanidade mental, geralmente levando a homicídios.

“O pastor foi buscar um pequeno saco e derramou sobre a mesa um punhado de sementes de carvalho. Começou a examiná-las, uma por uma, muito concentrado, separando as boas das más. Eu fumava meu cachimbo. Ofereci-lhe minha ajuda. Ele disse que era tarefa sua. E, realmente, vendo o cuidado que ele dedicava ao que fazia, não insisti.

“Nossa conversa limitou-se a isso. Após ter separado um monte de sementes aprovadas, ele as dividiu em montinhos de dez, eliminando ainda algumas pequenas ou ligeiramente machucadas, pois agora as examinava mais de perto.

“Tendo selecionado, assim, cem sementes perfeitas, parou sua tarefa e fomos dormir.

“Reinava a paz ao redor desse homem. No dia seguinte, perguntei- lhe se poderia descansar ali mais um dia. Ele achou o pedido natural, ou melhor, deu-me impressão de que nada poderia surpreendê-lo. Eu não precisava tanto de repouso, mas estava interessado, e desejava saber mais sobre ele. Ele abriu o cercado e levou suas ovelhas ao pasto. Antes de partir, mergulhou as sementes, cuidadosamente selecionadas e contadas, num balde com água.

“Notei que o bastão que levava era uma vara de ferro de espessura de um polegar e de um metro e pouco de comprimento. Eu descansava, caminhando por um trilho paralelo ao dele. O pasto ficava num vale. Ele deixou o pequeno rebanho aos cuidados do cão e subiu em direção ao lugar onde eu estava. Pensei que queria censurar minha indiscrição, mas estava enganado: era o caminho que ele queria trilhar e convidou-me a acompanhá-lo, caso não tivesse outra coisa a fazer. Galgou o topo da elevação, a cerca de 100 metros.

“Ali começou a furar a terra com seu bastão de ferro, abrindo um buraco no qual plantou uma semente; em seguida cobriu o buraco com terra.

“Estava plantando carvalhos. Perguntei-lhe se a terra lhe pertencia. Ele respondeu que não. Quem era o proprietário? Ele não sabia. Supunha que fosse propriedade do governo ou talvez pertencesse a pessoas desinteressadas. Ele não se preocupava em saber de quem era a terra. Plantou suas cem sementes com extremo cuidado. Depois do almoço, recomeçou a plantar. Acho que insisti bastante em minhas perguntas, pois ele me respondeu.

“Havia três anos que ele estava plantando árvores naquele deserto. Já plantara 100.000. Destas, 20.000 haviam brotado. Das 20.000, ele calculava que ainda perderia a metade por causa de animais roedores ou das intenções imprevisíveis do destino. Restariam 10.000 árvores a crescer onde nada crescera antes.

“Foi então que comecei a pensar sobre a idade que podia ter esse homem. Tinha mais que cinquenta e cinco, disse-me ele. Seu nome era Elzéard Bouffier. Possuíra uma fazenda na planície. Ali vivera sua vida. Perdera o filho único e depois, também a mulher. Retirara-se então para essa solidão, acompanhado de seu cão e de suas ovelhas. Achava que essa terra estava morrendo por falta de árvores. E, não tendo nada de urgente a fazer para si mesmo, resolvera remediar esta situação.

“Eu, apesar de jovem, levava naquela época uma vida solitária, e sabia, por isso lidar com gente solitária. Mas o fato mesmo de ser jovem, fazia-me encarar o futuro em relação a mim mesmo, e com uma certa procura da felicidade. Disse-lhe que seus 10.000 carvalhos estariam magníficos após trinta anos. Ele respondeu simplesmente, que, se Deus lhe concedesse vida, dentro de trinta anos ele teria plantado tantos carvalhos que esses 10.000 seriam como uma gota de água no oceano.

“Além disso, ele estava estudando a reprodução das faias (outro tipo de árvore daquela região) e já tinha um canteiro com mudas de faia ao lado de sua cabana. Essas mudas, protegidas das ovelhas por uma cerca de arame, estavam muito bonitas. Ele pensava ainda em plantar bétulas (outra árvore) nos vales onde, conforme disse, havia uma certa umidade, alguns metros abaixo do solo.

“No dia seguinte nos despedimos. Anos mais tarde tive desejo de rever o solitário pastor. Admirei-me com a transformação. As faias já estavam crescendo no vale, muito viçosas. Como supusera Bouffier, ali havia umidade quase à superfície do solo. As bétulas, delicadas como as mocinhas, estavam bem desenvolvidas.

“Parecia ter sido desencadeada uma criação em série. Ele não se importava; simplesmente prosseguia sua tarefa, com perseverança e determinação. Ao voltarmos em direção à aldeia, vi água correndo nos leitos de riachos secos desde tempos imemoriais. Foi esse o mais impressionante resultado de reação em série que eu já havia visto. Os riachos ressecados haviam carregado água, há muito tempo. Algumas das tristes aldeias que mencionei haviam sido construídas no local de antigos acampamentos romanos cujos vestígios ainda existiam; e os arqueólogos, pesquisando na região, tinham encontrado anzóis, num lugar onde, no século XX, era preciso cavar poços para obter um pouco de água.

“O vento também espalhava sementes. À medida que a água reaparecia, ressurgiam também salgueiros, junco, prados, jardins e flores e um certo sentido para a vida. Mas a transformação ocorria aos poucos, modificando o ambiente sem causar surpresa. É verdade que os caçadores, escalando os penhascos desertos à procura de lebres ou javalis, notavam o crescimento súbito de pequenas árvores, mas o atribuíram a algum capricho da terra. Eis porque ninguém interferiu no trabalho de Elzéard Bouffier. Se tivesse despertado a atenção, logo teria surgido uma oposição. Não o descobriram. Ninguém, nas aldeias ou na administração, poderia ter sonhado com tal perseverança nascida de tão magnífica generosidade.

“Para formar-se uma ideia aproximada daquele caráter excepcional, não deve ser esquecido o fato de ter ele trabalhado em solidão absoluta: tão absoluta que, na velhice, perdeu o hábito da fala. Ou talvez, não mais a achasse necessária.

“Em 1933, recebeu a visita de um guarda florestal que lhe transmitiu uma ordem: proibição de acender fogo ao ar livre, para proteger o crescimento daquela floresta “natural”. O homem disse ao guarda, inocentemente, que pela primeira vez ouvia falar em uma floresta que crescia por conta própria. Nessa época, Bouffier se estava preparando para plantar faias a cerca de 12 quilômetros de sua cabana. Para evitar constantes caminhadas — pois ele já contava 75 anos — planejou a construção de um abrigo de pedra no sítio da plantação. No ano seguinte, realizou esse plano.

“Em 1935, toda uma delegação do governo chegou para examinar a “floresta natural”. Havia um alto funcionário do Serviço Florestal, um deputado e técnicos. Houve muitas conversas ineficientes. Decidiu-se que algo tinha que ser feito e, felizmente, nada se fez além da única medida útil: toda a floresta foi colocada sob a proteção do governo e proibiu-se a carvoagem, pois era impossível não se ficar cativado pela beleza dessas jovens árvores em pleno desenvolvimento, cujo encanto envolveu até mesmo o deputado.

“Um amigo meu fazia parte daquela delegação. Expliquei-lhe o mistério. Um dia, na semana seguinte, fomos ambos visitar Elzéard Bouffier. Encontramo-lo arduamente trabalhando, a cerca de dez quilômetros do local onde havia sido feita a inspeção.

“Esse funcionário do Serviço Florestal sabia perceber a valor das coisas. E sabia manter silêncio. Entreguei a Bouffier os ovos que trouxera como presente. Almoçamos juntos, os três, e passamos várias horas a contemplar, em silêncio, a paisagem.

“Na direção de onde viéramos, as encostas estavam cobertas de árvores que mediam entre seis e oito metros. Lembrei-me do que ali havia em 1913: Um deserto… O trabalho regular e tranquilo, o vigoroso ar da montanha, a frugalidade e, sobretudo, o espírito sereno haviam dotado aquele velho com uma saúde que inspirava respeito. Ele era um dos atletas de Deus. Fiquei imaginando quantos acres ele ainda iria cobrir de árvores.

“Antes de partir, meu amigo simplesmente fez alguma sugestão quanto a certas espécies de árvores para as quais o solo parecia apropriado. Não insistiu. “Pela simples razão” disse-me ele mais tarde, “que Bouffier entende mais disto do que eu”. Após caminharmos mais de uma hora — e tendo meditado sobre aquilo — disse ainda: “Ele sabe muito mais do que qualquer outro. Ele descobriu um modo maravilhoso de ser feliz”.

“Foi graças a esse funcionário que ficou protegida a floresta. Designou para aquela região três guardas florestais nos quais incutiu tanto medo, que eles ficaram insubornáveis, por mais litros de vinho que lhes oferecessem os carvoeiros.

“A única vez em que o trabalho de Bouffier ficou seriamente ameaçado foi durante a guerra de 1939. Os carros eram movidos por gasogênio (geradores alimentados por lenha) e sempre faltava lenha. Começaram a derrubar os carvalhos de 1910, mas como a região era muito afastada de qualquer via férrea, o empreendimento se revelou financeiramente insustentável e foi abandonado. O pastor nada tinha visto. Estava a 30 quilômetros dali, trabalhando em paz, sem tomar conhecimento da guerra de 1939, como fizera também em 1914.

“Vi Elzéard Bouffier pela última vez, em junho de 1945. Ele completara 87 anos. Eu resolvera atravessar novamente o caminho daquelas terras áridas; mas, apesar da desordem deixada pela guerra, havia agora um ônibus que passava entre o vale da Durance e a montanha. Atribuí à relativa velocidade do transporte o fato de não reconhecer as paisagens de minhas viagens anteriores. Foi somente ao ver o nome de uma aldeia que me convenci de estar realmente naquela região, que fora só de ruínas e desolação.

“O ônibus me deixou em Vergons. Em 1913, essa aldeia, de dez ou doze casas, tinha três habitantes. Eram criaturas selvagens, odiavam-se mutuamente, viviam de caça por armadilhas e pouco se distanciavam, física e moralmente, das condições do homem pré-histórico. Os restos das casas abandonadas estavam cobertos de urtigas. A condição daquela gente não admitia qualquer esperança. Nada mais lhes restava senão esperar pela morte — situação que dificilmente podia predispô-los à virtude.

“Tudo agora estava mudado. Até mesmo o ar. Ao invés do vento seco e áspero que me atacara, soprava uma brisa suave carregada de perfume. Da montanha descia um som semelhante ao da água; era o vento na floresta; e, surpresa ainda maior, ouvi um ruído de água, de fato, caindo num tanque; vi que havia sido construído um chafariz, onde a água corria livremente e o que mais me emocionou — que alguém plantara, ao lado do chafariz, uma tília; a tília que devia ter uns quatro anos, coberta de folhas, era o símbolo incontestável da ressurreição.

“Além disso, a cidadezinha Vergons apresentava os sinais evidentes de trabalho que só empreende quem tem esperança. A esperança, portanto, havia voltado. As ruínas tinham sido afastadas e cinco casas estavam restauradas. Eram agora vinte e oito os habitantes, entre os quais quatro jovens casais. As casas novas, recém-rebocadas, estavam cercadas de jardins onde cresciam, em conjunto, verduras e flores, repolhos e rosas, alho-poró, funcho e anêmonas. Era agora uma aldeia onde se gostaria de viver.

“Desde então, em apenas oito anos, toda a região passou a irradiar saúde e prosperidade. No local das ruínas que eu vira em 1913 existem, agora, casas de lavradores, limpas e rebocadas, atestando uma vida feliz e confortável. Nos antigos leitos, alimentados pelas chuvas e pela neve que a floresta conserva, correm novamente os riachos. Águas foram canalizadas. Em cada propriedade rural, entre pequenos bosques, há fontes cujas águas transbordam sobre tapetes de hortelã. Aos poucos, as aldeias foram reconstruídas.

“Gente da planície, onde o terreno é caro, viera estabelecer-se aqui, trazendo juventude, movimento, evolução. Ao longo das estradas, encontram-se homens e mulheres sadios, meninos e meninas que sabem rir, e que redescobriram o sabor dos convescotes. Incluindo a população anterior, irreconhecível agora, a viver confortavelmente, mais de 10.000 pessoas devem a sua felicidade a Elzéard Bouffier (sem o saber).

“Quando penso que um homem, munido unicamente de seus próprios recursos físicos e morais, foi capaz de fazer nascer desse deserto uma tal Canaã, sinto a convicção de que, apesar de tudo, a humanidade é digna de admiração. Mas quando calculo a infalível grandeza de espírito e a tenacidade da benevolência necessária para alcançar esse resultado, sinto um respeito imenso pelo velho camponês sem instrução, que foi capaz de completar uma obra digna para Deus.

Elzéard Bouffier morreu em paz, em 1947, no asilo de Banon”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1976)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Novamente o Trabalho em Grupo

Novamente o Trabalho em Grupo

“Devemos aprender a trabalhar em conjunto ou nos desatualizaremos”.

Comovente ao proclamar: “A Fraternidade é a nova ordem da Era que se aproxima. Ou nos entendemos ou nos limitaremos cada vez mais.”

(De Elvin Joseph Noel no livreto “A Libertação através do Trabalho em Grupo traduzido da Revista “Rays from The Rose Cross” e publicado aqui: https://goo.gl/pbQfEv ).

Somos apologistas do trabalho de equipe. Observamo-lo portador de inúmeras vantagens, como, por exemplo, o alcance de um rendimento máximo em tempo mínimo, mediante o aproveitamento racional das qualidades e aptidões de cada um em função do todo. Além disso, sua ação faz-se sentir individualmente, revertendo em benefício de cada um, em forma de disciplina, solidariedades, harmonia, companheirismo e expansão natural das próprias qualidades.

Mas não se pense que o desenvolvimento do trabalho grupal depende, única e exclusivamente, da aglutinação de pessoas dotadas de capacidade para realizar a obra proposta. Não. Não é tão simples assim. Certas aptidões, conhecimentos e habilidades são importantes e desejáveis. Mas por si só não asseguram o êxito final de um trabalho coletivo. Há certos requisitos prioritários, tais como: boa vontade, sinceridade, desprendimentos, altruísmo, harmonia, ausência de personalismo e outros. São essas qualidades, de natureza moral, que possibilitam a um grupo relativamente heterogêneo empreender e concretizar obras de vulto, num sentido comum.

É importante, na quadra atual, cada um meditar sobre isso, e perguntar-se: estou preparado para trabalhar em equipe? Estão se formando novos Grupos Rosacruzes. E através deles os Estudantes têm a oportunidade de contribuir com sua parcela de esforço para a disseminação do Ideal Rosacruz.

O Método Rosacruz de Desenvolvimento oferece meios de realização estritamente individuais, objetivando o aprimoramento espiritual do aspirante, de modo a permitir-lhe transcender os entraves internos separatistas, integrando-o cada vez mais no puro sentido de equipe.

Decorridos onze anos de sua publicação, as ideias contidas no artigo de Elvin Joseph Noel mostram-se extraordinariamente mais atualizadas, mais vidente a realidade de seus conceitos, mais necessária a aplicação prática de seus princípios.

Sugerimos a todos, lerem e meditarem sobre ele. Mas, particularmente aos jovens, sequiosos de canalizar sua vibrante energia em uma obra edificante, recomendamos a atenta leitura do trabalho acima mencionado. Ele servirá de orientação, sem dúvida alguma.

Todos temos alguma coisa a realizar, pois o mundo necessita de pessoas responsáveis, decididas a arregaçar as mangas e trabalhar. Não fiquemos aguardando o surgimento de condições favoráveis. Não esperemos o emergir do amanhã acenando-nos com as oportunidades. Estas já estão por aí à espera da nossa decisão. Nos dias que correm o “futuro é hoje”. E o trabalho deve ser realizado “aqui e agora”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Aprendizagem Esotérica: você sabe o que dissipa a falácia dos métodos inconscientes e de pretensa liberdade

Aprendizagem Esotérica: você sabe o que dissipa a falácia dos métodos inconscientes e de pretensa liberdade

Ensinou Sócrates[1]: “O ser humano não procura o que sabe, porque já o sabe e, portanto, não tem nenhuma necessidade de o procurar. Também não procura o que não sabe, pois, se não sabe, ignora o que deve procurar”.

Essa afirmação parece desencorajar qualquer esforço de aprendizado. Mas no sentido profundo ela quer significar a necessidade de passar adiante do que já se sabe, predispondo-se a novas condições, desconhecidas, que a evolução colocará em nosso caminho. Ora, se por nós mesmos, como personas, não temos a possibilidade de saber o que nos convém, o Espírito em nós o sabe e nos leva fatalmente para aquilo que nossa necessidade interna reclama.

Foi assim que, sem o saber, encontrei a Fraternidade Rosacruz. No contato com ela, descobri em mim uma identidade nova e ignorada. Isso me levou a desejar atingir algo mais que na verdade sempre desejei.

Sócrates foi um parteiro de almas porque despertava nas pessoas o que nelas estava adormecido. Assim aconteceu comigo, ao confrontar-me com a sabedoria Rosacruz: o desconhecido se me tornou conhecido e me convidou ao desabrochamento.

Sócrates disse também o seguinte: “Ninguém pode ensinar nada a ninguém e nem aprender nada de ninguém”. Outra afirmação enigmática que se revela profunda à meditação. Ele sabia que o ser humano “é feito à Imagem e Semelhança de Deus”, trazendo em si, em potencial, todas as faculdades, bastando que elas sejam acordadas e cultivadas para que se tornem realidade como conquista anímica do indivíduo. A maioria das pessoas, embora tenha lido a Bíblia, não compreendeu possuir essa riqueza potencial interna. No entanto, a própria experiência da vida nos mostra que ela existe. Cada um de nós pode ser, ao devido tempo, tudo. Mais facilmente atingirá as faculdades que já tenha desenvolvido em parte; e a longo prazo, aquelas que ainda não foram despertadas.

Quem no-lo revelará? Uma orientação externa. Mas… não disse Sócrates que ninguém ensina nada a ninguém? No sentido comum de ensinar, de fato ninguém ensina, porque a verdade já está dentro de nós. O que o mestre grego quis significar é diferente: o orientador não cria nada nem dá nada a ninguém; apenas o ajuda a descobrir-se; apenas revela o que já existe — como ensina a “Oração Rosacruz”. A orientação externa não vai tirar algo do nada, nem pôr algo no nada. Apenas faz descobrir o que já existe, o que está subjacente e que deve vir à tona da consciência, pelo exercitamento adequado.

Tanto isso é verdade que o próprio Sócrates o demonstrou. Ele tomou um jovem escravo sem formação matemática e, traçando na areia algumas figuras, foi interrogando metodicamente o moço, levando-o a definir, sozinho, por dedução, verdades muito próximas do teorema de Pitágoras. Sua habilidade é tal que induz ao moço, de pergunta em resposta, verdades surpreendentes. O jovem escravo tira de dentro de si as conclusões, sem que ninguém as explique a ele diretamente. Daí a conclusão: nada veio de fora para enriquecer aquela inteligência, que descobriu por si mesma — se bem com ajuda indutiva — as relações constitutivas do mundo matemático que já estavam nele. Só aguardavam para se tornarem conscientes, a invocação do orientador.

Não houve ensino, no sentido atual do termo, se bem que a presença e habilidade do orientador, como meio indutivo, é indispensável. Este induz o que sabe, mas o aluno o realiza de modo próprio, pelo dom epigenético contribuindo, não raro, para o orientador descobrir aspectos que não conhecia. Por isso que o ensinar é também um aprendizado.

É claro, pois, que o intercessor é necessário. Ainda mais: ele só pode induzir o outro a relacionar e concluir o que é conhecido dele, orientador. Mas naquele encontro, celebrado pelo amor, porque marcado pelo desejo de ajudar, muitas vezes ocorre a presença de um terceiro fator, de inspiração interna, levando um dos dois a sacar deduções imprevistas.

Do ponto de vista esotérico, a pedagogia se torna uma atividade espiritual das mais expressivas porque pressupõe necessariamente o amor, que se anula sem desejo de mostrar o que se sabe, para desvelar o desconhecido, das potencialidades do aluno. Mostra que a alma não é importada do exterior, se bem que seja suscitada pelo exterior: daí a necessidade do renascimento neste plano que é uma oficina de aprendizagem.

O ensino se torna uma invocação à união de nossa voz indutiva com a voz interna do aluno, para libertar-lhe uma vocação adormecida, tal como o Príncipe encantado a despertar a Bela Adormecida com o apelo de um beijo. A voz que vem de fora, como um som mágico, desperta no íntimo, por ressonância, a verdade pré-existente. Mas cada um despertará de modo singular e próprio, segundo o como e o que já tenha realizado anteriormente.

Cada despertar de uma verdade é um nascimento. Cada nascimento é um mistério encantador e traz a individualidade de sua origem.

Muitas vezes é um livro o intercessor que nos leva a conclusões novas. De toda a forma, embora pareça imenso, na verdade o papel do orientador é limitado ao livre arbítrio e à epigênese do aluno. Ele é um meio e não um modelo e fim. Apesar de todo o seu amor e altruística dedicação, não deve exorbitar a função de um invocador da verdade. Ele não se limita a resolver tudo com afirmações nem dar lições para que o aluno memorize. Ao contrário, ele se torna um discípulo ante o discípulo, instalando-se naquilo que o discípulo compreendeu e na maneira como ele compreendeu. Ele realiza a empatia pedagógica, ao colocar-se no lugar do outro.

Sem esse laço não existe aprendizado. O aluno sente o interesse do Instrutor por sua edificação. Os dois se abrem e se encontram como duas mãos em prece. Só esta compreensão, no aluno, é que avalia e elege o Orientador.

“Não há grande ser humano para o criado de quarto” — diz o ditado. Referindo-se a isso, Goethe[2] esclarece bem: “Não porque o grande ser humano não seja um ‘grande homem’, mas porque o criado de quarto é um criado de quarto”. Isto nos leva a compreender que o aluno não pode amar o que não compreende… Quando ele encontra o Instrutor que busca compreendê-lo e lhe abre o íntimo para um autêntico diálogo, o amor realiza o milagre do despertar.

Mas a demasiada intimidade pode arruinar esse encontro. Daí que haja entre aluno e instrutor uma sutil dosagem de intimidade na distância, e uma distância na intimidade, uma espécie de respeito diferente, mas não menos completo. Cada um tem algo que não revela ao outro e que o outro pressente, como a Sherazade das “Mil e uma noites” a velar algo mais para o dia seguinte.

À medida que a harmonia se estabelece entre o professor e o aluno, quase desaparece o intervalo entre aquele perguntar e este despertar à compreensão, porque o Eu real responde imediatamente à ideia suscitada, com sua verdade própria. Assim vão caminhando os dois na mesma direção: o Orientador humildemente, cônscio de suas limitações ante a verdade inabarcável, na consciência do pouco que tem ante a infinitude divina que o convida. O aluno, inspirado no exemplo do Instrutor, desejoso de continuar-lhe a obra de transmissão a outros.

Hoje há mal-entendido sentido de liberdade e de universalidade, de um lado motivado pela indisciplina e impaciência; doutro lado, por autores, que estão cometendo o grande erro de querer demolir a personalidade sem que ela ainda tenha sido formada: matar o que ainda não nasceu.

A grande maioria é espiritualmente infantil, imatura e deve ser ajudada na própria realização, por um método gradativo e inteligente.

O autodidata, rebelde a toda orientação ou escola — conforme ensinam esses autores — fica girando em torno de si mesmo, num círculo vicioso, limitado às próprias incipientes possibilidades conscientes. Nada aceita de fora, mas não se dá conta das sutis influências externas que o condicionam. Ouve falar, e muito, desses condicionamentos, mas não desenvolve meios de libertar-se deles. Fecha medrosamente a janela do íntimo à “perigosa influência das escolas” e não percebe que, justamente por isso, fecha as possibilidades de receber ajuda na conscientização da verdade. É como fechar a janela ao mal, fechando-se também ao bem.

Outro tipo de autodidata, comum no espiritualismo — igualmente movido por mal-entendido universalismo e independência — é aquele que não assume compromisso com nenhuma escola e põe-se a, gulosamente. ingerir toda a literatura que sua falta de discernimento e preparo escolhe. Sem desenvolver um sentido global, um esquema geral da vida e do ser, vai colecionando retalhos e cosendo-os incoerentemente. Perde-se na literatura variada como uma pessoa entre as árvores da floresta. Isolando-se em sua pretensão, furta-se à riqueza do diálogo e compromete o íntimo, porque vai perdendo aquele estado de equilíbrio e receptividade necessário ao aprendizado imparcial. Preocupado mais com a quantidade do que com a qualidade e coerência do que lê, confunde memorização com formação e acaba sendo esmagado pelo peso desse enorme bloco que engoliu e não digeriu. Refugia-se num tolo orgulho intelectual, subestimando as organizações, para justificar sua desorganização. É um herói sem esperança, pelo menos nesta vida, ao mesmo tempo que está formando cristalizações intelectuais, obstaculizando sua libertação em futuras vidas.

Outra dificuldade insinuante e perigosa — porque atende à conveniência dos preguiçosos — são os métodos de ensino subconsciente. Compreendamos que, se se conseguisse estabelecer um método de aprendizagem que permitisse a cada um decorar sem esforço (por exemplo, durante o sono, como o recurso subliminar), uma matéria qualquer, um tal sistema jamais seria a perfeição educacional. Ao contrário, seria o seu malogro e fim. No desenvolvimento do ser humano, a conquista do sistema nervoso cérebro-espinhal, que nos permitiu o desenvolvimento da consciência, é algo precioso que reclama cultivo constante. O ser humano está destinado a ganhar consciência plena de si. Não há evolução sem consciência. Só o que assimilamos conscientemente podemos converter em alma. Só o que dinamizamos conscientemente de nossa bagagem anímica potencial pode servir-nos como recursos de ação.

Mais do que nunca a humanidade está hoje precisando de uma honesta orientação. O método ocidental, exposto nesta série de artigos, dissipa a falácia dos métodos inconscientes e de pretensa liberdade.

A Universalidade só existe dentro de nós mesmos, conscientemente exercida através de nosso Eu real. A liberdade também, como bem esclareceu São Paulo Apóstolo: “Lá onde habita o Espírito, lá é onde existe liberdade”. Não se trata de fato externo. Ninguém nos pode libertar ou limitar-nos a liberdade.

“Conheci e dou testemunho de que a verdadeira orientação nos liberta de nós mesmos (a única limitação) para o conhecimento de nós mesmos e o sentido de universalidade autêntica”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1976)

[1] N.R.: Sócrates foi um filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga. Creditado como um dos fundadores da filosofia ocidental, é até hoje uma figura enigmática, conhecida principalmente através dos relatos em obras de escritores que viveram mais tarde, especialmente dois de seus alunos, Platão e Xenofonte, bem como pelas peças teatrais de seu contemporâneo Aristófanes. Muitos defendem que os diálogos de Platão seriam o relato mais abrangente de Sócrates a ter perdurado da Antiguidade aos dias de hoje.

[2] N.R.: Johann Wolfgang von Goethe (1749 -1832) foi um autor e estadista alemão do Sacro Império Romano-Germânico que também fez incursões pelo campo da ciência natural. Como escritor, Goethe foi uma das mais importantes figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu, nos finais do século XVIII e inícios do século XIX.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pausa para Meditar

Pausa para Meditar

Desde os governantes até o mais modesto trabalhador, é hábito salutar um balanço anual de atividades, do que foi feito, do que não se cumpriu e dos planos para o ano vindouro, ou seja: meditar. Poucos avaliam como muitos problemas de saúde são decorrentes da falta desse levantamento, pois a ausência de uma perspectiva, da avaliação das nossas possibilidades reais pode gerar frustrações, depressões e angústias que fatalmente repercutirão sobre o funcionamento dos órgãos.

Um senhor de 60 anos, cabelos brancos, saúde abalada, em relativa dificuldade financeira, não se dispunha a vender um lote de terreno que resolveria seus problemas e dar-lhe-ia tranquilidade e meios para seus projetos, porque aguardava maior valorização depois que certa estrada projetada fosse construída. Jamais usufruirá desse bem e certamente morrerá infeliz e derrotado, sonhando com um futuro problemático. Neste final de ano, cada um deve parar, olhar para trás e encarar os fatos. Se eu morresse agora, perguntará o sexagenário, terei realizado o que planejei? Terei deixado aos meus, à minha obra, à minha coletividade algo a que me propus? Ter-me-ei empenhado a fundo nessa missão, ou, ao contrário, estarei dando voltas em torno de atividades supérfluas, desperdiçando inteligência e tempo em coisas sem nenhum valor para meus objetivos primordiais? É preciso coragem para nos desligarmos de tudo o que sinceramente consideramos desperdício e desvio da missão principal a que nos propomos neste mundo. Pouca gente avalia como somos diariamente despojados da mais preciosa de nossas riquezas: nosso cérebro e nossa atenção, pelos “batedores de carteiras” do nosso tempo. Eles nos minam a resistência, nos desviam do nosso trabalho e nada ficam devendo.

Ao jovem, o balanço servirá para avaliar quanto enriqueceu seu patrimônio cultural, quais foram as conquistas realizadas. Melhorou sua classificação no colégio? Aprendeu línguas? Leu quantos livros de boa literatura? Desenvolveu trabalhos de pesquisa? Aperfeiçoou seu português, aumentou seu vocabulário, aprofundou-se nos conhecimentos de sua futura profissão? Estabeleceu novas e valiosas relações sociais, fazendo conhecimentos com pessoas importantes que poderão servir-lhe futuramente? Não se esquecer de traçar a meta para o ano seguinte e procurar cumpri-la à risca. Jovem! O bem mais valioso que possui é o tempo! Não o desperdice! Cada minuto deve ser plenamente preenchido. Não só trabalho. Há hora para prazer e hora para pensar. Bem dividido, seu dia dará para tudo, até para ficar alguns momentos deitado, de papo para o ar, olhar distante e sonhador, para um futuro brilhante que nosso grande e inigualável país oferece aos que se preparam para vencer.

Quem aplica sua Mente a fundo em algum mister, quem mobiliza cérebro e pensamentos num objetivo determinado, disposto a superar e a vencer, terá mobilizado, sem saber, cada célula do seu corpo: jamais adoecerá. Grande parte das doenças físicas inicia-se com a ferrugem do espírito.

Pensar…

Para quem não sabe viver consigo mesmo, distrair-se é frequentemente mudar de tédio.

…e sorri.

Vendedor de uma loja, para conhecida freguesa: “A senhora quer que mande deixar em sua casa, ou prefere que eu envie logo para seção de reclamações?”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1978)

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O Natal e a Atualidade

O Natal e a Atualidade

O ano já está quase terminando, com tudo o que nos proporcionou em termos de venturas e tristezas, êxitos e malogros, e quase já faz parte do passado. É mister, entretanto, proceder-se a um inventário espiritual. O estudante Rosacruz sincero, por certo, analisará sua atuação durante o período que está se findando, objetivando verificar a extensão de seu progresso e a estatura de seu patrimônio moral. É uma autoanálise. Seguramente evidenciará as falhas de caráter e as virtudes já conquistadas. Fará vir à tona uma série de distorções subconscientes. Mostrará, enfim, as debilidades a serem substituídas gradativamente pelas qualidades opostas, e os pontos positivos que deverão ser fortalecidos. É um dever ao qual não podemos nos eximir.

Não olvidemos o trabalho empreendido pelo Espírito de Cristo, cujo clímax é atingido pelo Natal. Estejamos cientes de nossa responsabilidade perante essa ajuda. O refrão popular “Deus ajuda a quem se ajuda” tem sua razão de ser. Não poderemos usufruir dessa infusão de energia espiritual se nos mantivermos “impermeáveis” a ela. Nosso crescimento será maior e mais rápido na medida em que agirmos consoante a Lei Cósmica.

É lógico, o ser humano mundano também é envolvido pelo auxílio Crístico, porém em amplitude bem menor do que o espiritualista que se esforça por tornar-se não só um elemento receptivo, mas também um canal a espargir as mais elevadas bênçãos. Na proporção em que se aumenta a capacidade de dar, ampliam-se as possibilidades de receber. É uma Lei!

É importante conscientizarmo-nos de que somos canais. Mas só isso não basta. O canal necessariamente deverá estar limpo e desimpedido para que o fluxo através dele não perca sua pureza e fluidez. Aí encontramos o valor do inventário espiritual. Ele nos propicia o real vislumbre dos detritos a serem eliminados, dando-nos a dimensão exata do trabalho de purificação e regeneração a ser executado.

É louvável nosso desejo de ajudar a humanidade. É compreensível e confortadora nossa ânsia de trabalhar na Vinha do Senhor. Contudo, nós o faremos mais eficientemente se nos libertarmos pouco a pouco de nossas falhas.

Preparemo-nos convenientemente para a labuta do ano entrante, delineando alguns objetivos a serem colimados. E que um deles seja o aprimoramento de nosso caráter.

Nunca, em toda a sua história, a humanidade foi protagonista de mudanças tão acentuadas como agora. Em cada campo de atividade humana político, social, religioso, artístico, filosófico, científico – surgem novas descobertas num espaço de tempo assombrosamente curto. Valores até ontem considerados plenamente válidos, ou são reformulados ou anacronizam-se. Afirmações até há pouco admitidas como axiomáticas dão lugar a verdades mais profundas.

Paralelamente a essas transformações, a humanidade tem passado por uma fase de distúrbios e inquietações. Pessoas extremamente conservadoras atribuem às inovações todas as mazelas que afligem o mundo. Ora, isso seria uma explicação demasiadamente simplista. Incriminar o modernismo, colocando-o no banco dos réus, pura e simplesmente, sem uma análise mais acurada, é agir de forma irracional.

Nós, seres humanos somos os propulsores do progresso e os modificadores do panorama terrestre. A natureza nos oferece um manancial de elementos suscetíveis de serem utilizados. A forma como manipulá-los depende do caráter de cada um. O elemento em si é neutro. Com tijolos pode-se construir um templo ou um prostíbulo. Quando catástrofes se abatem sobre alguns países ou regiões, resultando em um número considerável de mortos, feridos e desabrigados, estes, geralmente recebem auxílios mediante os modernos meios de transporte. Dezenas de aviões rumam às áreas assoladas conduzindo equipes médicas e medicamentos. É o progresso salvando o ser humano! Paradoxalmente, aviões militares carregam bombas em seu bojo, semeando a morte e a destruição nas áreas oponentes. É o progresso aniquilando o ser humano!

Em 1939, Albert Einstein enviou carta ao Presidente Franklin D. Roosevelt, tecendo comentários sobre os benefícios que poderiam advir do sábio emprego da energia atômica. Porém, no final de sua missiva não conseguiu esconder sua preocupação, se ocorresse o contrário.

A força que impele o ser humano a novas conquistas “deve partir de dentro”. É, portanto, necessário educá-lo convenientemente, ensejando a que diferencie o ilusório do real, o relativo do absoluto, o sofisma da verdade. O justo emprego das coisas. A valorização das qualidades morais. O respeito a todos os seres da criação. O vislumbre da humanidade como um todo. Ou, a indissolubilidade de suas partes. Tudo isso merece um lugar de destaque na ação educadora dos pais, no labor doutrinário das igrejas e nos programas de educação estabelecidos pelos órgãos governamentais.

Mediante esse trabalho de base, colimar-se-á o objetivo de orientar as transformações e descobertas em benefício do gênero.

Quando isso se tornará realidade?

(Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross e Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 12/76)

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Procurando a Luz

Procurando a Luz

Uma recente visitante de Mount Ecclesia assistiu, pela primeira vez, a um serviço na Capela. Ficou muito impressionada com a legenda na parede: “DEUS É LUZ”. E também com o período de meditação. Ela observou que a luz enchia literalmente a Capela e que esse sentimento de “estar” na luz a acompanhou por muito tempo.

E não é verdade? Esta “é” uma capela de luz. Tem sido reverenciada ao longo dos anos pela prece, amor, pensamentos de cura, paz, adoração, e os anseios e as lutas daqueles que prestaram culto. Na verdade, o lugar em que prestamos culto é um local “sagrado”, e a ele vimos “procurar a luz”.

Max Heindel menciona nos seus escritos que o apóstolo inspirado, São João, fez uma esclarecedora descrição da luz quando escreveu: “Deus é luz”. E o Sr. Heindel continua dizendo: “Todo aquele que tomar essa passagem para meditação encontrará uma rica recompensa, pois não importa quantas vezes nos ocupamos desse assunto, o nosso próprio desenvolvimento durante os anos passados assegura-nos mais profunda e melhor compreensão. Toda as vezes que “mergulhamos nessas três palavras banhamo-nos numa fonte espiritual de inesgotável profundidade, e cada vez melhor sondamos as profundezas divinas e mais nos aproximamos do nosso Pai Celeste”.

Quando começamos a estudar este assunto, surge naturalmente a pergunta: “De onde vem a luz?”. No primeiro capítulo do livro do Gênesis dizem-nos que: “O Espírito de Deus movia-se sobre as águas”. E Deus disse: “Faça-se a luz”, e fez-se a luz. E Deus viu a luz, e viu que era boa: e Deus separou a luz da escuridão. E Deus chamou à luz dia, e à escuridão noite… Assim, Deus criou o “homem à sua própria imagem”; à imagem de Deus o criou a ele.

Dizem-nos os ensinamentos da Sabedoria Ocidental que a luz passou a existir no nosso esquema setenário da evolução no Período Segundo ou Solar, quando a nebulosa que contém o nosso Sol e os Planetas havia alcançado um estado de incandescência. Esse Período vem descrito no terceiro versículo do capítulo I do Gênesis: “Faça-se a luz”.

Mas o ser humano ainda não era um espírito ou Ego perfeitamente individualizado e para saber quando ele, como Ego, pela primeira vez teve contato com a luz, temos as palavras de Max Heindel: “A primeira vez que a nossa consciência foi dirigida para a luz foi pouco depois de termos sido dotado de inteligência e entrado definitivamente na evolução como seres humanos, na Atlântida, a terra da névoa situada profundamente nas bacias do globo terrestre, onde a tépida neblina desprendida da Terra em arrefecimento flutuava sobre esta como um denso nevoeiro. Nesse tempo nunca se observava as estreladas alturas do universo, nem podia a prateada luz da Lua penetrar a densa e nevoada “atmosfera que flutuava sobre essa antiga Terra. Mesmo o ardente esplendor do Sol quase desaparecia, pois quando pesquisamos na Memória da Natureza, aparece-nos ele aproximadamente com o aspecto de uma lâmpada de arco situada num alto poste, quando há nevoeiro. Era imensamente escuro e tinha uma aura de várias cores, muito similares àquelas que observamos à volta de uma lâmpada de arco”.

Mas essa luz exercia uma fascinação. Os antigos atlantes foram ensinados pelos divinos hierarcas, que andavam entre eles, a aspirar à luz. E como a vista espiritual estava já então em decadência, aspiravam o mais ardente possível à nova luz, pois temiam a escuridão, de que tinham tido consciência através da dádiva de inteligência.

“Veio então o inevitável dilúvio quando a umidade arrefeceu e se condensou”. O excesso de água inundou o continente, destruindo uma grande parte da população, mas muitas das pessoas escolhidas foram salvas, – aquelas que haviam trabalhado “dentro” de si próprias para construir os órgãos necessários à respiração em harmonia com a nova atmosfera. Durante esses tempos do Velho Testamento todo o gênero humano estava sob a direção dos Espíritos da Raça, cujo chefe era Jeová. Era um regime de “lei”, consubstanciado nos Dez Mandamentos, e a obediência a essas leis era assegurada através do medo ao castigo por desobediência e recompensas pelo bom procedimento.

Durante todo esse tempo o ser humano vinha andando à procura de uma luz fora de si. Tornar permanente essa condição de estar na luz foi o próximo passo de Deus na evolução do gênero humano.

Vemos, lendo o Velho Testamento, que o ser humano foi levado a temer a Deus. Sob o regime de Jeová, a cristalização era inevitável, mas a vinda de Cristo introduziu uma Nova Dispensação pela qual aprenderia a fazer despertar o Cristo dentro de si próprio.

Devemos, contudo, lembrar-nos de que ao deixar a Atlântida, os Grandes Mestres levaram consigo os ensinamentos esotéricos das antigas Escolas de Mistérios. Essas foram perpetuadas noutras terras pelos chefes e pelos sacerdotes: no Egito, China, Índia e Tibete. A sabedoria antiga nunca foi completamente esquecida pelo mundo. Ao passo que nem sempre esteve viva na consciência das raças como um todo sempre existiu entre alguns e encontrava-se em retiros seguros, onde os qualificados podiam encontrar “a luz” necessária para o seu caminho. Por conseguinte, o Tabernáculo no Deserto foi ensejado pelos sacerdotes aos antigos atlantes e a “luz de Deus desceu sobre o altar do Sacrifício”.

Isso foi de grande significação, pois indicou que o Ego havia descido até seu próprio Tabernáculo, o corpo.

Talvez nesta altura seja bom recordar que o século anterior ao nascimento de Jesus viu o mundo civilizado mergulhado numa orgia de imoralidade, traição e maldade. Roma, o maior poder desse tempo, era o centro do deboche e perversa intriga. Roma havia conquistado a Palestina no ano 63 A.C. Na década seguinte veio a rápida ascensão de Júlio César ao poder. A depravação e corrupção da corte e do governo eram disfarçadas sob a mais magnífica ostentação de fausto e opulência que o mundo jamais havia visto. Nesse tempo Herodes foi nomeado governador da Galileia e Jerusalém. Foi sucedido pelo seu filho, que continuou a sua perseguição ao povo e exterminou todas as coisas virtuosas e puras. A evolução humana havia quase chegado a um ponto morto. A vida espiritual do mundo estava em decadência. Foi esse reinado de perversidade que precedeu a vinda de Cristo.

Por conseguinte, o advento do Cristo assinala o mais importante acontecimento da evolução humana. A sua significação e objetivo formam o enigma dos Mistérios Cristãos, porque esta encarnação de um Raio do Cristo Cósmico na Terra tornou possível ao ser humano avançar na senda espiritual. O Corpo de Desejos da Terra foi purificado, e o Princípio de Cristo que se encontra dentro de todo o ser humano, foi consequentemente levado a expandir-se.

O Cristo Cósmico é representado no Evangelho de São João pela Palavra, o Verbo, sem o qual nada do que foi feito se fez. É esse Segundo Princípio do Deus trino e uno do nosso sistema solar. E uma vez que o ser humano foi feito à imagem do seu Criador, ele é também trino e uno e tem latente o Poder de Cristo dentro de si próprio. Nós somos todos Cristos em essência, e só podemos cumprir o nosso elevado destino mediante os novos ensinamentos de Cristo: o Evangelho do Amor.

Buscando a luz na Escola da Sabedoria Ocidental, sabemos que Amor e Serviço, como foi exemplificado por Jesus Cristo, devem ser o nosso lema. Amando e servindo aos outros, atraímos a nós os dois mais elevados éteres que formam o Corpo-Alma, o radioso traje de luz usado por toda pessoa verdadeiramente espiritual. Aprendemos algo sobre o que o poder da luz espiritual e amor podem nas nossas vidas. Alguns acariciaram vislumbres dessa luz, lampejos momentâneos de qualquer coisa dentro de si, deixando um brilho na sua consciência. Uma vez que somos abençoados com tal sensação, sabemos que temos tocado as orlas exteriores de algo que não é físico, emocional ou mesmo mental, mas sim qualquer coisa profunda, real e verdadeiramente espiritual. Experimentamos um sentimento nascente de companhia, talvez a razão pela qual algumas pessoas nunca se sentem sós, nunca necessitam de prazeres exteriores para se sentirem felizes.

Que devemos fazer para que a luz se manifeste através de nós em toda a sua glória? Amar e servir, sim – após haver erradicado da nossa Mente todos os pensamentos de medo, egoísmo, ódio e cobiça. Se usarmos nossa força de vontade para fazer isso repetidas vezes, uma modificação alquímica se realizará gradualmente. Certos átomos do nosso corpo transmutam-se, de forma a podermos ser sensíveis às vibrações mais elevadas de abnegação, paciência, tolerância e amor.

Morremos para a antiga vida porque estamos “caminhando na luz”.

(Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross e Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 12/76)

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O Subliminar ou Subconsciente

O Subliminar ou Subconsciente

Quando a pessoa assiste a um programa de TV ou cinema, ou ouve boa música, ou mesmo está guiando há muito tempo, fica num estado parecido com aquele entre a vigília e o sono chamado hipnogógico, em que “o sono vem vindo”.

Nesse estado, o subconsciente está mais acessível; as sugestões o alcançam melhor. Por isso, se essas sugestões forem bem-feitas, podem dar bons resultados.

Se a mãe murmurar para o filho que ele prefere não roer as unhas, isso pode bastar para livrá-lo da onicofagia. Na propaganda, isso é uma arma.

Conta-se que a BBC de Londres teria feito experiências assim.

Diz-se, também, que num cinema se teria projetado rapidamente propaganda e os espectadores, depois, esgotaram o estoque do produto anunciado.

Já pensou isso usado para instigar povos à guerra? Que desastre?

Evidentemente a sugestão deve ser usada para o bem, nada mais. As pessoas podem aprender a ficar nesse transe hipnótico, por si mesmas, dando-se então sugestões positivas, como a de que pode deixar de fumar, deixar de beber álcool, deixar de comer certos alimentos que não se coadunam com a sua dieta, deixar de comer certos alimentos que engordam e sugestões para outras finalidades, enfim.

Tais propósitos, bem formulados, dão bons resultados. É a auto-hipnose.

Há entre nós uma estação de rádio que transmite música. De quando em vez, dá mensagens positivas.

“Você está se sentindo melhor, mais disposto, está ouvindo música”, isso contribui para o bem-estar da população.

No trabalho pode haver música de fundo, em certos casos. No estudo isso pode ajudar ou não, conforme o caso.

Seria bom que no trabalho houvesse mensagens periódicas positivas, animadoras. Isso daria bons resultados. Nos intervalos, os empregados deveriam aproveitar o descanso com técnica, aprendendo o “relax” de Jacobson, a autossugestão de Coué.

Em outros países, já há preguiçosas em fábricas para o descanso racional. Isso é recomendável, para trabalhadores e empresários. Todavia, tais técnicas exigem orientação adequada pelo psicólogo competente.

O perigo é haver sugestões negativas. É o risco de certas campanhas. Agora, por exemplo, que se faz movimento contra o barulho, a poluição, os tóxicos, os acidentes, corre-se o risco de contribuir-se para o próprio mal que se combate, salientando-o demais, criando verdadeira neurose.

É claro que as cidades, os carros, as fábricas poluem. Mas, não podemos voltar-nos contra tais agentes, sonhar com a volta à natureza. Temos que apoiar a tecnologia, que é ela que nos ajudará a vencer a poluição.

Afinal, as cidades são meios de progresso, os carros meios úteis de transporte, as fábricas meios de trabalho e de riqueza. Temos de saber dos males que há, mas sem pânico. Combatê-los por meios adequados, não com atitudes emocionais. Daí o erro de certas campanhas que a título de conscientizar a população, causa-lhe mal maior ainda.

Se Saturno estiver no horóscopo na 3ª Casa aspectado adversamente (Quadraturas, Oposições e/ou algumas Conjunções) indica que o nativo é cheio de preconceitos, não sabe se relacionar, taciturno, devido às derrotas sofridas noutras vidas. Terá que se transformar, mudar a forma de caráter e para isso deverá fazer o exercício de Retrospecção, deve ver-se desde o momento em que faz o exercício, retrocedendo sempre até a sua infância, até onde possa alcançar. Noutras vidas não pode penetrar porque é posto um véu naquilo que fizemos de bom ou de mau, para não nos derrotar ainda mais nesta vida. Porém, devemos perdoar e amar sempre. Mesmo alguma recordação desta vida pode ser apagada, amando e perdoando. Imaginai-vos retrocedendo até ao ponto em que alguém vos fez sofrer muito. Então trazei à consciência de vigília o fato e pensando que foi talvez por imperfeição da outra parte, ou talvez mesmo por vossa culpa, perdoai a pessoa e no mesmo instante estareis livres, para sempre.

Assim, o vosso átomo-semente do coração ficará branco, sem mácula, como uma gema branca e assim evitareis o Purgatório, avançando no tempo que não precisais perder, progredindo animicamente.

Os psicólogos dividem o círculo da Mente em três partes para demonstrar a grandeza da manifestação, neste mundo, do consciente, do subconsciente e do superconsciente.

O ser humano usa apenas 17% do seu poder mental, falta-lhe usar 83%, porque é vítima da inércia, da preguiça mental.

O subconsciente é como um computador eletrônico; aquilo que nele for programado, invariavelmente ele manifestará.

Os obstáculos foram feitos para serem suplantados ou contornados. É preciso saber pensar, agir, discernir.

Enfrentar a vida real como ela é.

A paz de espírito se consegue com lutas.

Para se realizar alguma cousa útil, não basta afirmar positivamente, tão somente, é preciso ter motivação.

Aqueles que vencem pela fraude não têm fibra, não são um V E N C E D O R, é impotência psíquica.

Renúncia do que não presta, conquista do que queremos ser. É o Poder.

Conquista a tua vitória, ou o Ser Humano Superior.

Encara a realidade como ela é.

Deve-se refletir o poder do Pai dentro de si e vencer todos os obstáculos. É preciso enfrentar a neurose de frente e ela fenece, se extingue.

A Mente una com o Cristo Interno não se perturba com nada, não tem medo de seres desta ou de outra dimensão. Aquele que se julga incapaz para um trabalho é porque cresceu como um bebê. Acredite em si próprio, assim liberta o seu subconsciente e resolve o problema. O entrave é seu próprio, é poder mental enclausurado. Aprenda a condicionar-se permanentemente durante a vida, para saber vencer.

Derreta a forma indesejada que és;

e com o mesmo material deves fundir outra estátua ou forma perfeita e depois esfrie.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/78)

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