Arquivo de categoria Método para Adquirir o Conhecimento Direto

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Senso de Valor: veja onde está o seu

Senso de Valor: veja onde está o seu

“Disse o Senhor a Samuel: não atentes para a aparência nem para a altura de sua estatura, pois o tenho rejeitado. O Senhor não vê como vê o homem; o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” (ISm 16:7)

A passagem citada, do Velho Testamento, foi extraída do trecho em que Jeová manda Samuel escolher seu sucessor entre os 7 filhos de Jessé. Samuel julgava que o eleito seria dos mais fortes e de mais belo parecer. No entanto, foi escolhido David, rapazito ainda, que logo depois prostrou o gigante Golias com uma pedra atirada por uma funda.

Eis um belo tema de meditação. Influenciados, a todo passo, pelas opiniões da sociedade materialista em que vivemos, somos levados a avaliar as coisas segundo suas aparências, quando Deus nos solicita buscar os valores internos.

Na antiga Grécia, o conceito de elite era mais correto. Os realmente mais sábios e virtuosos pontilhavam na vida política, científica, artística e social. Sabemos que Xantipa, esposa de Sócrates, tinha violentas discussões com o sábio, porque ele trazia fama e não dinheiro para casa. Ainda hoje existem pessoas de grande valor, em todos os campos, que mal ganham para suas necessidades. Poucos são os que se guindam na opinião pública, como Einstein e Schweitzer, ainda em vida.

Heróis anônimos, aos milhares, estão por aí, na classe média, participando da elite de Deus, mas não da dos seres humanos.

É muito comum ouvirmos falar: “minha filha casou muito bem. Seu marido é diretor de tal firma e ganha muito bem”. Casou com o conforto, com o dinheiro, que torna lindo o noivo. Todos os dias, vemos falsos destaques serem agraciados por falsas honrarias. E, como dizem os Evangelhos, “quem já recebeu seu galardão dos homens, nada tem a receber de Deus”.

Não podemos negar que o simples fato de um indivíduo se diplomar médico, engenheiro etc., pressupõe esforço e mérito individual, que para chegar a determinado posto deve ter provado o desenvolvimento de qualidades incomuns, a menos que se haja guindado por apadrinhamento.

Mas não basta isso. A conquista de maiores faculdades ou bens sejam quais forem suas naturezas, se de um lado acarreia mérito individual, de outro lado atrai maiores responsabilidades, porque “a quem muito foi dado, muito lhe será exigido”. O uso que fará então, das faculdades ou bens que conquistou é que provará seu verdadeiro valor perante Deus. “De que vale ganhar o mundo e perder sua alma?”

O abuso de autoridade, de faculdades e de propriedade tem trazido muito sofrimento aos seres humanos. Somos apenas despenseiros dos bens que o Senhor põe à nossa disposição. Veja-se na parábola dos Talentos que o Senhor “deu mais ao que multiplicou seus talentos e tirou o único que tinha dado ao que, por medo de perdê-lo, o havia enterrado”.

A Fama, o Poder, o Dinheiro e o Amor são os meios mais usados atualmente, pelos Senhores do Destino, para adiantar a evolução humana. Por um deles somos capazes dos maiores sacrifícios, vidas inteiras. Mas quem é capaz de renunciar a si mesmo e servir os demais com o mesmo entusiasmo?

Sem exigir tanto, quantas pessoas se dedicam diariamente à prática de virtudes cristãs, pelo menos duas horas? Ou quem ora sinceramente meia hora por dia?

— Não tenho tempo! — é o que ouvimos constantemente. E lembramo-nos daquela passagem: “onde está o teu tesouro, ali está o teu coração…”

Sabendo isso e não exigindo mais do que podem dar os seres humanos, os Senhores do Destino lhes apresentam os incentivos da Fama, do Poder, do Dinheiro e do Amor. Em sua conquista tudo fazem e nesse esforço, sem o saberem, vão desenvolvendo qualidades de confiança própria, de persistência, de luta, que mais tarde serão aproveitadas num sentido superior. Quanto ao mau uso que agora fazem disso tudo, sofrerão inevitavelmente as consequências e seu efeito saturnino far-lhes-á crescer a alma, pela dor.

Muito mais, contudo, farão os que com o mesmo empenho constroem o mundo para servir seus semelhantes dos mais variados modos, administrando os bens e faculdades com perfeita renúncia de si mesmos. Esses crescerão muito e depressa, recebendo, com toda certeza, progressivamente mais, para verter no mundo, os recursos de Deus, pela evolução de seus filhos menores.

Cuidemos, pois, de avaliar devidamente as coisas e as pessoas. Muitas vezes o vidro brilha mais do que um diamante bruto… Melhor é não nos iludirmos com as aparências e buscarmos em todos “a divina essência que existe em cada um, pois isso constitui a verdadeira fraternidade”. Melhor dizendo, encaremos cada semelhante como irmão espiritual, com suas virtudes e defeitos. Não sejamos servis com os poderosos e superiores nem déspotas e infraternais com os inferiores na escala social. Tratemos a todos com a mesma lhaneza, amor e prudência, cuidando de merecer, por nossa conduta equânime e coerente, a graça de nos tornarmos dignos de ser “fiéis administradores dos bens do Senhor”.

(Publicado na revista Serviço Rosacruz de maio/1966)

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A Ação e o Amor: total isenção de interesses. Consegue?

A Ação e o Amor: total isenção de interesses. Consegue?

Tagore, o grande poeta e filósofo, afirmou certa vez “que a ação e o amor são os únicos meios pelos quais se pode chegar ao conhecimento perfeito”. Em outra ocasião, acrescentou que “a ação só pode ser harmoniosa quando inspirada no amor”.

Esses pensamentos de Tagore vieram à nossa mente, bem a propósito de um fato atual: a grande procura de obras tratando de ocultismo, parapsicologia, controle mental, fenômenos paranormais, etc. nas livrarias. Alguns desses livros transformaram-se em autênticos “best-sellers”, com índices de vendagem superando a expectativa dos editores.

Analisado sob ângulos convencionais, o fato, em si mesmo, não tem porque surpreender. Afinal, a comercialização de livros, assim como a de qualquer outro produto, depende de uma série de fatores conjugados para alcançar êxito: competente trabalho de “marketing”, inteligente e criativa veiculação publicitária, entre outros.

Mas, em se tratando de obras versando sobre assuntos transcendentais, a questão demanda uma análise mais profunda. Um tratado de ocultismo, como o CONCEITO ROSACRUZ DO COSMOS, por exemplo, não é um bem de consumo na acepção clássica da palavra. Poucos sentem inclinação para o estudo dos mistérios da natureza. Há, isso, sim, uma preferência por amenidades ou leituras “sem compromisso”, tipo “readers digest”.

Contudo, dia a dia cresce o número de pessoas interessadas em pesquisar o campo do esoterismo. Daí aumentar, também, o interesse das editoras em lançar obras desse gênero no mercado livreiro.

Nota-se — e isso é motivo de regozijo — por detrás de toda essa busca, uma ânsia admirável de penetrar no desconhecido, rompendo as fronteiras do oculto. O homem quer desvendar mistérios. A ciência materialista, a despeito de seu notável progresso, não logrou adentrar outras dimensões. Os instrumentais de que dispõe para pesquisa são limitados, ainda limitados. Quando muito abordam os efeitos. Isso não basta. Não satisfaz a natureza do homem mais amadurecido para as verdades do espirito.

Por meticulosos que sejamos no estudo de um fato, vão será nosso esforço, se não acharmos e perscrutarmos suas causas, pois a verdade primordial que o caracteriza, encontra-se subjacente em sua origem.

Dessa maneira, só nos domínios espirituais podemos defrontar-nos, com as raízes de todos os fenômenos, causadores de tanta perplexidade nos conturbados dias em que vivemos.

Essa busca do conhecimento esotérico, todavia, deve encontrar pausas periódicas em seu desenrolar. Interregnos para meditação e avaliação de motivos. Afinal, o que nos move a estudar matérias tão profundas, de reconhecida aridez para o homem vulgar? Diletantismo? Mera curiosidade? Desejo de satisfazer interesses imediatistas? Ou propósitos elevados?

O que vai determinar nosso êxito é a finalidade com a qual nos propusemos a pesquisar. Se somos diletantes, curiosos ou utilitaristas, quando muito adquiriremos um conhecimento intelectual, livresco, superficial. Distante estaremos da verdadeira sabedoria. Só se pode garimpar o “campo do espírito” com total isenção de interesses.

Estudando com afinco, movidos por um sincero desejo de ajudar a humanidade, vibraremos em uníssono com o “campo do espírito”. Uma afinidade vibratória dessa natureza tornar-nos-á cada vez mais sensíveis e receptivos às verdades cósmicas. Esse amor ao próximo, convertido em ação, abrir-nos-á perspectivas inimagináveis de progresso anímico. Amando e colaborando ativamente no aperfeiçoamento de todas as coisas, gradativamente, nos acercaremos da Divina Fonte, onde nos será oferecido o conhecimento perfeito.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1978)

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“Estar no Mundo sem ser do Mundo” e as horas livres de compromisso

“Estar no Mundo sem ser do Mundo” e as horas livres de compromisso

“Vivemos numa época que exulta nos tempos livres da evasão que impede, quase sempre, os tempos livres do compromisso”. Essas palavras, pronunciadas recentemente, num contexto acadêmico, pela Presidente do colégio universitário de Mt. Holyoke, Elizabeth Topham Kennan, são de grande oportunidade para o aspirante espiritual.

A ideia de que o sentido do compromisso, ou da promessa, tem a ver com as horas livres, não deixa de causar certo espanto, dado que a maior parte das pessoas vê um abismo entre estes dois conceitos. Os tempos livres estão quase sempre ligados a um período de liberdade e repouso, em que nos deixamos levar por interesses meramente pessoais. Um compromisso, ou uma promessa, por outro lado, sugere uma certa sujeição a uma tarefa necessária, imposta pelo exterior, ou às necessidades de outra pessoa. Ociosidade implica indulgência conosco mesmos; compromisso implica sacrifício.

Outra maneira de exprimir a ideia de “horas livres do compromisso” seria, portanto, “ceder ao sacrifício”. Quando é que temos tempo para “cedermos” ao sacrifício de nos entregarmos e de nos sacrificarmos às necessidades das outras pessoas? Estamos tão ocupados com assuntos pessoais, desde o ganhar para viver, ao fazer compras, nos distrairmos, descansarmos — para não falar das atividades e agitação desnecessárias a que tantas vezes cedemos! “Para a semana já tenho mais tempo; conversamos nessa altura…” é uma maneira com que, vulgarmente, se despede alguém cujas necessidades imediatas são um fardo que não desejamos carregar. À pressão da falta de tempo em que vivemos constantemente, pode tornar-nos completamente avaros, se nos deixarmos levar por este fenômeno que tem a sua origem e existência, puramente, no plano físico. É necessário que haja um impulso generoso para irmos contra o relógio e nos entregarmos, sem egoísmo, a projetos de vida comunitária, às atividades de caridade, ou às necessidades que transcendem o nível meramente social das nossas amizades. De certa maneira, tem de haver coragem e muita fé para não dar ouvidos às nossas preocupações pessoais, de falta de tempo, e para nos entregarmos, altruisticamente, a atender assuntos que sabemos, de antemão, que não terão compensações óbvias.

Também é necessário sinceridade para reconhecer que muito daquilo a que chamamos pressão do tempo é ilusório e que se organizarmos o nosso horário com mais eficiência, deixando para trás desejos egoístas que consomem tantos momentos e eliminando os “prazeres” pouco práticos de sonhar acordados, da tagarelice, da leitura escapista ou dos programas de televisão que nos embrutecem e de tantas outras atividades que assumem proporções tão importantes na nossa vida, teremos mais tempo para nos dedicarmos aos outros.

O mundo material parece, realmente, não querer aceitar os “tempos livres” da entrega. No entanto, o aspirante espiritual sincero não conhece este impedimento! Enquanto for avançando, lutando por purificar os seus veículos e por se preocupar, exclusivamente, com a realização da obra de Deus no mundo, o sacrifício de si torna-se cada vez mais automático. O desejo de se dar aos outros passa a ser a sua única preocupação; pode-se dizer que ele “cede”, muito legitimamente, ao sacrifício de se entregar a um compromisso de serviço.

Quando aprendermos a exortação de São Paulo de “estar no mundo sem ser do mundo” deixaremos de sentir que esse impede que haja “horas livres” de entrega. Presentemente, há certas pessoas que vivem na Terra e que já atingiram essas alturas. Mas todos nós, um dia, teremos de lá chegar também!

(Publicado na revista Serviço Rosacruz de 01-02/87)

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Um dos mais Preciosos Frutos do Discernimento

Um dos mais Preciosos Frutos do Discernimento

Os modernos meios de comunicação, com sua ação muitas vezes massificante, podem induzir as pessoas a uma compreensão muito superficial dos fatos e coisas que as rodeiam. Condicionam o ser humano a pautar sua vida e definir metas e ideais calcados em valores discutíveis, face à sua transitoriedade.

Não constitui exagero, nem exacerbado criticismo, afirmarmos que o ser humano moderno aprendeu, inconscientemente, a conviver com o artificialismo, perigoso criador de rótulos. O tratamento superficial que se dá mesmo aos mais importantes aspectos da existência humana, permite grassar uma lamentável tendência de tudo rotular.

As pessoas comuns, cada vez mais influenciadas por telenovelas e contos folhetinescos, deixam-se levar por uma distorcida visão maniqueísta do mundo. Assim, habituam-se a dividir as pessoas e as coisas em rigorosamente boas e rigorosamente más. Essa rotulação, atitude precipitada e eivada de conceitos injustos, na maior parte das vezes, não dá margem a um meio-termo. Nem enseja uma acurada verificação de, até que ponto algo é inteiramente mau ou bom, ou se verdadeiramente apenas aparenta ser assim.

Tal maneira de encarar os fatos pode constituir-se na gênese de muitos preconceitos. As ideias preconcebidas, os juízos prematuros encontram sua origem nessa visão caricata e apressada das coisas.

Somente o desenvolvimento de uma segura capacidade de discernir pode evitar o cometimento de equívocos. A ação de discernir envolve análise profunda, conhecimento intuitivo, julgamento sereno, caso contrário não passará de mero exercício de ilação ou simples raciocínio.

Isenção de ânimo e independência interior são, entre outros, fatores decisivos a embasar nossa faculdade de discernimento. Discernir é um processo completo, simultaneamente objetivo e subjetivo, expectante e ativo. É o degrau que antecede a “sabedoria interna”,

Todo indivíduo dotado de “Mente aberta ou arejada” no sentido real da palavra, logrou desenvolver, em certa extensão, esse dom admirável. Soube, dessa forma, conquistar o privilégio de poder analisar os fatos, penetrando-lhes o âmago, conhecendo-lhes sua verdadeira natureza.

Diz Max Heindel no Conceito Rosacruz do Cosmos que “é evidente a grande vantagem dessa atitude mental quando se estuda um assunto, uma ideia ou um objeto determinado. Afirmações que pareciam positivamente contraditórias, e que determinaram intermináveis discussões entre os respectivos partidários, podem conciliar-se. Só a Mente aberta descobre a concordância”.

Não nos é difícil imaginar como uma visão periférica das coisas gera o oposto, isto é, o encontro da contradição, da discrepância, em pontos onde elas positivamente não existem. Além disso, corre-se o risco de consagrar “fatos definitivamente estabelecidos” pela conceituação puramente humana, como parâmetros para a avaliação de tudo. Essa atitude mental induz a erros, porque denota um flagrante desconhecimento de que todas as coisas podem apresentar facetas variadas em sua natureza, tornando-se suscetíveis de enfoques através de diversos ângulos.

Mais uma vez citamos Max Heindel: “Ainda que se lho afirme, não se pede ao discípulo que admita, a priori, ser negro um determinado objeto que observou ser branco, porém que cultive uma atitude mental suscetível de “admitir todas as coisas como possíveis”. Isto lhe permitirá deixar de lado, momentaneamente, até mesmo aquilo que geralmente se considera um fato estabelecido — a brancura do objeto — e verificar se há algum outro ponto de vista sob o qual o objeto em referência possa parecer negro. Certamente ele nada considerará como fato estabelecido porque compreende perfeitamente o quanto é importante manter a mente no estado fluídico de adaptabilidade, característico da criança. Compreenderá que, agora vê as coisas como por espelho, obscuramente, e como Ajax, permanecerá sempre alerta, aspirando ‘luz, mais luz’”.

Quem atingiu esse nível de entendimento sempre revelará uma atitude de compreensão para com os outros seres humanos. Nunca será exigente em relação ao comportamento alheio. Pelo contrário, manter-se-á vigilante quanto à sua própria postura moral. Afinal, cumpre-nos entender que todo ser humano é um diamante em lapidação. Cada um, na medida de suas experiências e evolução, brilha a seu modo e à intensidades diferentes.

Todos são animados por uma Essência Divina, procurando expressar o que de mais elevado possuem, não importando a diferença de níveis de desenvolvimento individual.

Procurar essa Divina Essência nos demais e sintonizar-se com sua bondade inata constitui um dos mais preciosos frutos do discernimento.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977)

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Errar é Humano

Errar é Humano

Na sua singeleza, um ditado popular encerra sempre ou quase sempre, uma verdade oculta. Tomemos, por exemplo, para assunto de meditação, uma frase corrente: ERRAR É HUMANO… perdoar é divino… e nos concentrando nela, acabaremos entrando em contato com a força do seu significado. Acabaremos compreendendo porque se diz comumente que a voz do povo é a voz de Deus. Verdade que as pessoas pouco avisadas, interessadas em espiritualismo, procuram encontrar a verdade fluindo em geral de grandes segredos ocultistas, quando a verdade é simples e pura e vive entre nós expressa singelamente. É só saber entrar em contato com ela. Continuemos a estudar aquela frase de início…. Errar é humano, perdoar é divino… O erro parte realmente da nossa parte humana. A nossa parte divina é pura e encerra em si o germe da verdade. Basta que saibamos cultivá-la para que brote e floresça em nossos corações. É essa parte, a divina, que nos conduz à correção de nossos erros e de onde se tira aquele PERDOAR É DIVINO.

A nossa parte divina nos perdoa a nós mesmos através de Deus, ou Deus nos perdoa através da nossa parte divina, sempre que desejamos sinceramente esse perdão. E, naturalmente, um desejo sincero de perdão só pode partir de um coração arrependido e desejoso de redimir-se. Caia ou não em erro novamente, aquele momento de perdão existiu com o arrependimento, e é uma sementinha de verdade que pode germinar devagarinho, constituindo com o tempo, uma força real que se sobrepõe aos nossos erros.

Teremos então canalizado a nossa parte divina sobre a humana. “Errar é humano” pode, à primeira vista, apresentar um aspecto de justificativa. Se erramos, é porque somos humanos, e, sendo humanos, temos esse direito de errar, portanto não seremos nós propriamente culpados de nossos erros, mas sim a nossa constituição material trazida desde os tempos de Adão e Eva.

Para o ser humano natural, esse modo de pensar será perfeitamente lógico.

Entretanto, para aquele que descobre em si algo maior do que a carne, algo superior a essa parte humana tão falha e cheia de fraquezas, para quem já tem um vislumbre de uma realidade mais elevada, para esse, já não é possível aceitar a justificativa do Errar é Humano. Ele pode compreender que seus erros provêm da sua parte humana, que é a parte inferior do seu eu; mas sabe perfeitamente que essa parte inferior pode ser elevada, transformada e adaptada à essência divina que a interpenetra.

Assim como os mundos etéricos interpenetram o Mundo Físico, assim a nossa parte divina está perfeitamente entrosada na humana. Portanto, não há justificativa para cruzarmos os braços e aceitarmos nossos erros como coisa natural e própria da nossa condição humana. A nossa divindade também está em nós, em cada átomo do nosso corpo, na força criadora de nossos órgãos, na perfeição de funcionamento da máquina de nosso organismo, no nosso cérebro, no nosso sangue, na nossa vida, enfim.

E é essa essência divina que faz o nosso coração pulsar, equilibra as trocas químicas do nosso organismo para que haja a continuidade de vida em nosso corpo.

Por que ignorá-la então, por que a colocar em segundo plano, afastada de nós, desprezada em suas reais possibilidades dentro de nós mesmos?

A nossa divindade vive em nós e, quanto mais próxima de nós a sentirmos, maior a possibilidade de irmos anulando a força negativa da nossa parte humana, transformando-a em energia positiva. A finalidade dos nossos estudos é realmente esta: estabelecer o contato do divino com o humano, através da linha mística, ao mesmo tempo que elevamos ao divino a nossa parte humana, através do ocultismo, que é a linha intelectual.

Se formos refletir um pouco, acabaremos percebendo que os nossos erros, as nossas fraquezas não passam de forças mal dirigidas, de energia extraviada da verdade.

Para orientarmos essa força, basta, portanto, que mudemos o eixo de direção na linha de nossos pensamentos negativos.

Isso porque despendemos a mesma força, a mesma energia, tanto para sermos maus, como para sermos bons. Corrigir falhas, portanto, nada mais é do que orientar para a verdade os nossos pensamentos extraviados, recusando-nos a pensar errado, o que já é meio caminho para o ato certo, para a ação reta que constitui a finalidade do nosso discipulado, e que, forçosamente, há de levar-nos ao dia de glória em que conseguiremos restabelecer a unidade perdida do nosso todo, numa restauração total dos nossos valores íntimos, e final elevação do humano ao divino.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1978)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Palavra Criadora: imaginação em alto grau, uma Mente lúcida e muita concentração

A Palavra Criadora: imaginação em alto grau, uma Mente lúcida e muita concentração

Será que temos dado suficiente consideração para as palavras que falamos? Essa pergunta deve ser feita por todos os Aspirantes espiritualistas sérios, porque com as palavras ditas estarão criando seus futuros destinos. Quando falamos, criamos imagens que frequentemente ativam emoções e estimulam pensamentos. A palavra-chave é criar.

Quando dizemos que o Aspirante está criando seu próprio futuro, entendemos que eles estabelecem condições básicas da vida futura, os Estudantes da Filosofia Rosacruz aceitam a ideia do Renascimento, mas nem sempre lembram que toda ação forma experiências para a próxima vida terrena.

Fazemos ideia de que a palavra cria condições para o ser humano, tanto para quem fala quanto para aquele que escuta. Palavras causam, muitas vezes, infelicidades na Mente ou no Coração dos outros, e podem mudar a própria vida daquele que falou. A palavra pronunciada, com intenção ou não, pode transformar completamente uma vida. Podem agitar emoções e fazer com que o ouvinte seja forçado a decisões que podem alterar seus desejos ou planos.

Em um momento emotivo, palavras despejadas podem embaraçar relações embora nos apressemos a dizer: “Não foi bem isso que queria dizer”. Então se não foi isso o nosso intento, as palavras não foram bem formadas.

Palavras usadas para degradar outros são ditas porque queremos alimentar nossa autoestima. A pergunta é: por que queremos magoar os outros?

Nós todos já encontramos pessoas que são tão interessadas em suas ideias que querem convencer os outros, privando-os de sua liberdade por forçá-los a ouvir e desenvolver resistência. É diferente quando as ideias são discutidas com o grupo, onde pode haver muitas opiniões sobre um assunto especial. Aí existe uma troca de ideias e a aceitação da razão dos outros quando cada um oferece seu ponto de vista.

A palavra tem o seu grau de vibração. A pessoa que fala, dota estas vibrações com a poderosa combinação de pensamento, desejo, vitalidade, dando-lhes substância (Vida) que afeta seus ouvintes.

Ocorre a nós que devemos aceitar a responsabilidade do resultado das nossas palavras? Não podemos esperar que criando desarmonia à vida de uma ou outra pessoa não tenhamos de pagar por ela. Nós construímos nosso próprio destino. Desse modo, falar uma palavra ofensiva é contrário a lei que Cristo Jesus estabeleceu: “Ama teu próximo como a ti mesmo”, e assim põe em ação a lei imutável. Caminhamos até a próxima vida e nos espantamos, porque as pessoas nos evitam e dificultam a nossa vida. Nós merecemos isso pelas nossas ações anteriores.

Para os Estudantes da Filosofia Rosacruz foi dada a razão para controlar as palavras e nos conscientizar do seu poder. Conhecemos a razão dessa disciplina, sabemos que nossa maneira de falar revela os nossos pensamentos e desejos, de maneira completa, conduzindo-nos a descobrir, discernir e perceber o seu significado. Somos bastante sensíveis para mudar nossa atitude para com os outros, para não tropeçarmos na tentação de falar a palavra má? Privamos as pessoas da sua liberdade de agir por causa da palavra impensada, ou mostramos nosso desejo de dominá-los insistindo revelar nossa própria infelicidade, confusão e decepção?

Se estamos interessados em controlar nossas palavras, podemos garantir reações harmoniosas, calma, paz e contentamento interior aos outros.

Palavras atraentes, usualmente possuem ritmo e as crianças são especialmente suscetíveis a isso. Seriam os jovens menos confusos se o som atualmente tão apreciado fosse eliminando? Tal desarmonia tem efeito devastador no Corpo de Desejos, despertando desejos mais inferiores.

A humanidade faz parte do divino criador e tem que se realizar criando harmonia por meio das palavras. Para conseguir, deve desenvolver imaginação em alto grau, possuindo uma Mente lúcida e muita concentração.

Todas as pessoas que possuem criatividade aprenderam a se disciplinar, para conseguir esse fim. A palavra é uma forma de criar.

Quando eventualmente alcançarmos a Iniciação vamos rever as nossas vidas passadas. Recriaremos, novamente, as cenas e nos conscientizaremos da importância da palavra dita, conhecendo enfim uma das qualidades que devemos cultivar antes de podermos alcançar a iluminação da INICIAÇÃO.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 11/86)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Quando somos o que somos

Quando somos o que somos

Nossa vida é feita de partes, nas quais atuamos com mais ou menos interesse e desempenho.

Estamos inseridos em contextos e nos defrontamos com situações que nem sempre nos alegram, mas que devemos vivenciar para conclusão do projeto pré-estabelecido.

Dentro deste contexto encarnamos papéis que devem ser cumpridos e metas que devem ser atingidas, porém, existirá sempre um papel no qual nos sentiremos mais ligados, com maior intensidade, pois a ele nos entregamos com prazer; a ele oferecemos nossas alegrias; com ele acreditamos num mundo melhor; encontramos através dele uma paz interior e forças para vivermos o que não somos e aceitarmos o que temos e não podemos usufruir.

Quando nos definimos e estamos nele, nada existe além dele. Com ele somos capazes de traduzir a harmonia e a beleza.

Nele o perfeito nos é ditado, o grandioso é compreendido. Existe apenas a realização.

Nele somos o tudo e o Todo, resumido, sintetizado, concluído.

Nele sabemos que somos nosso Espírito eterno. Somos nossos deuses.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/86)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um Malefício: por que as bebidas alcoólicas?

Nos Ensinamentos Rosacruzes, por vezes, encontramos observações contra a ingestão de bebidas alcoólicas.

A missão da Fraternidade Rosacruz é elevar a humanidade, e o uso do álcool provoca justamente o efeito contrário. A própria sociedade em que vivemos oferece inúmeros exemplos dessa verdade. Acreditamos mesmo que pouquíssimos estudantes não tenham no círculo familiar algum parente, próximo ou distante, vítima desse flagelo.

Degradação moral, incapacitação para o trabalho, destruição de lares, enfermidades e morte prematura são alguns dos males provocados por esse vício. São razões suficientemente fortes para justificar todas as campanhas educativas que visem a erradicação do alcoolismo do meio social, por mais onerosas que sejam.

É sempre oportuno abordar o assunto sob a ótica do esoterismo, justamente o que pretendemos fazer neste editorial.

Segundo a Bíblia, Noé fermentou o vinho pela primeira vez no início da Época Ária. A humanidade mais desenvolvida sobrevivera às inundações atlantes, fixando-se nas regiões mais elevadas da Terra.

As condições prevalecentes na Atlântida faziam parte do passado. Aquela névoa úmida não mais existia, dando lugar a uma atmosfera seca e clara.

O ser humano perdeu a visão dos planos internos, uma peculiaridade das épocas anteriores, passando a concentrar todas as suas energias no Mundo Físico. Para tanto, as Hierarquias lhe deram o vinho. Perder a visão espiritual era uma necessidade evolutiva nos primórdios da Época Ária.

Mas, com o advento do Cristianismo as coisas mudaram. Implantava-se uma nova ordem espiritual, e o uso do álcool não só já era dispensável, como impedia o crescimento anímico.

O primeiro milagre do Cristo foi transformar a água em vinho. Ele havia recebido o Espírito Universal por ocasião do Batismo, não necessitando, portanto, de estimulantes artificiais. Transformou a água em vinho para oferecê-lo aos menos avançados.

O bebedor de vinho, entretanto, não pode aspirar a degraus mais elevados na escala evolutiva. O uso do álcool produz alterações negativas na vibração de seus veículos.

Enquanto os Éteres inferiores vibram em função dos Átomos-semente localizados no Plexo Celíaco e no coração, os superiores vibram em função do Corpo Pituitário e da Glândula Pineal. O despertamento do Corpo Pituitário e da Glândula Pineal é muito importante no desenvolvimento da visão espiritual.

É lógico supor-se que o alcoolismo ao invés de sensibilizar venha provocar o efeito contrário. E mais: atua de maneira anormal sobre os veículos humanos, levando o alcoólatra a descortinar as Regiões inferiores do Mundo do Desejo com todas as suas mazelas. Isso ocorre principalmente nos casos de “delirium tremens”.

Uma coisa lastimável em nossos dias é constatar como as clínicas para doentes mentais estão repletos de alcoólatras e toxicômanos, porque o álcool também é um tóxico.

Esses vícios, além dos males físicos, psíquicos e emocionais, conduzem a uma inevitável degeneração de caráter.

Eis aí uma excelente oportunidade de servir à Humanidade: alertar e esclarecer quanto aos danos causados pelas bebidas alcoólicas.

(Publicada na ‘Revista Rosacruz’ – 10/86)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um Exemplo Notável: “por que não eu?”

Um Exemplo Notável: “por que não eu?”

Max Heindel costumava dizer: “Se há alguma coisa a ser feita, por que não eu?”.

O ser humano, com seu egoísmo e ignorância, vem cometendo muitos erros, comprometendo, não raro, os seus semelhantes. Mas isso, no curso da evolução, é compreensível: estamos aprendendo a usar as faculdades. Temos uma margem de livre arbítrio para isso. Pelas consequências vamos aprendendo a conhecer e a corrigir as causas.

A moderna ciência da ecologia vem demonstrando como o ser humano está provocando desequilíbrio na natureza, em seu próprio prejuízo. Isto é sinal de que já estão voltando os olhos às leis naturais e reconhecendo uma sabedoria superior a dirigir as coisas.

A respeito, queremos resumir um belo relato de Jean Giono, uma história verídica acerca de um homem que plantou esperança e criou felicidade.

“Há cerca de 40 anos fiz uma longa caminhada através de serras desconhecidas dos turistas, naquela antiga região onde os Alpes caem em direção à Provença no sul da França. Naquela época, tudo ali era terra estéril e incolor. Nenhuma vegetação, além da lavanda silvestre. Eu atravessei a região em sua parte mais ampla e, após caminhar três dias, encontrei-me em meio à mais completa desolação. Acampei perto dos vestígios de uma aldeia abandonada. A água que levava acabara na véspera, e precisava encontrar alguma. Aquelas casas agrupadas, apesar de serem apenas ruínas, semelhantes a um velho ninho de marimbondos, sugeriam que deveria haver ali uma fonte, ou um chafariz. Havia, de fato, uma fonte, mas estava seca. As cinco ou seis casas, destelhadas, roídas pelo vento e pela chuva, a pequena capela com sua torre desmoronada, se situavam como casas e capelas de uma aldeia abandonada.

Era um lindo dia de junho: brilhava o sol, mas sobre essa paisagem desprotegida, o vento soprava feroz, insuportável, rugindo entre as ruínas como um leão perturbado. Tive que mudar o acampamento.

“Após cinco horas de marcha ainda não encontrara água nem sinal algum que me fizesse esperar encontrá-la. A meu redor tudo era seca; por todo lado, o mesmo capim grosseiro. Pareceu-me ver ao longe uma pequena silhueta escura, ereta; tomei-a por um tronco de árvore isolada. De qualquer maneira dirigi-me em sua direção. Era um pastor. Trinta ovelhas estavam deitadas ao seu redor, sobre a terra quente e seca.

“Ofereceu-me um gole de seu cantil e, mais tarde, levou-me ao seu abrigo. Ele tirava sua água — excelente água — de um poço natural muito profundo, por cima do qual havia construído uma primitiva manivela.

“O homem falava pouco. É o hábito dos que vivem sós. Sentia-se que ele estava seguro de si, e confiante em sua segurança. Isto era surpreendente naquela terra estéril. Ele não vivia num barraco, mas em uma verdadeira casa de pedras, que revelava claramente os esforços que empenhara em recuperar a ruína que ali havia encontrado. O telhado era forte e sólido. O vento, soprando sobre as telhas, imitava o ruído do mar quebrando na praia.

“O lugar estava arrumado, a louça lavada, o chão varrido; a sopa fervia no caldeirão da lareira. Percebi, então, que ele estava de barba feita, que sua roupa tinha os botões bem presos e que estava remendada meticulosamente, a ponto de serem quase invisíveis os remendos. Repartiu comigo sua sopa e, quando lhe ofereci minha bolsa de fumo, respondeu que não fumava. Seu cão, silencioso como o dono, era amistoso sem ser, no entanto, servil.

“Ficou desde logo subentendido que eu pousaria ali naquela noite; a aldeia mais próxima ficava a mais de um dia e meio de viagem. Aliás, eu estava perfeitamente familiarizado com o tipo das raras aldeias daquela região. Eram quatro ou cinco aldeias bem afastadas entre si, nas encostas das montanhas, em meio a bosques de árvores, no final de estradas de carroças. As famílias, aglomeradas, vivendo em um clima excessivamente rude, tanto no inverno quanto no verão, não conseguiam escapar de constantes brigas entre si. Uma ambição irracional atingia proporções desordenadas sob o constante desejo de fuga. Os homens levavam à cidade suas cargas de carvão e regressavam. Mesmo os de mais firme caráter sucumbiam sob a rotina amordaçante. As mulheres cultivavam seus desgostos. Reinava rivalidade a qualquer propósito, sobre o preço do carvão, sobre o banco reservado na igreja, etc. E sobre tudo isso soprava o vento, incessante, a desgastar os nervos. Ocorriam epidemias de suicídio, e eram frequentes os casos de insanidade mental, geralmente levando a homicídios.

“O pastor foi buscar um pequeno saco e derramou sobre a mesa um punhado de sementes de carvalho. Começou a examiná-las, uma por uma, muito concentrado, separando as boas das más. Eu fumava meu cachimbo. Ofereci-lhe minha ajuda. Ele disse que era tarefa sua. E, realmente, vendo o cuidado que ele dedicava ao que fazia, não insisti.

“Nossa conversa limitou-se a isso. Após ter separado um monte de sementes aprovadas, ele as dividiu em montinhos de dez, eliminando ainda algumas pequenas ou ligeiramente machucadas, pois agora as examinava mais de perto.

“Tendo selecionado, assim, cem sementes perfeitas, parou sua tarefa e fomos dormir.

“Reinava a paz ao redor desse homem. No dia seguinte, perguntei- lhe se poderia descansar ali mais um dia. Ele achou o pedido natural, ou melhor, deu-me impressão de que nada poderia surpreendê-lo. Eu não precisava tanto de repouso, mas estava interessado, e desejava saber mais sobre ele. Ele abriu o cercado e levou suas ovelhas ao pasto. Antes de partir, mergulhou as sementes, cuidadosamente selecionadas e contadas, num balde com água.

“Notei que o bastão que levava era uma vara de ferro de espessura de um polegar e de um metro e pouco de comprimento. Eu descansava, caminhando por um trilho paralelo ao dele. O pasto ficava num vale. Ele deixou o pequeno rebanho aos cuidados do cão e subiu em direção ao lugar onde eu estava. Pensei que queria censurar minha indiscrição, mas estava enganado: era o caminho que ele queria trilhar e convidou-me a acompanhá-lo, caso não tivesse outra coisa a fazer. Galgou o topo da elevação, a cerca de 100 metros.

“Ali começou a furar a terra com seu bastão de ferro, abrindo um buraco no qual plantou uma semente; em seguida cobriu o buraco com terra.

“Estava plantando carvalhos. Perguntei-lhe se a terra lhe pertencia. Ele respondeu que não. Quem era o proprietário? Ele não sabia. Supunha que fosse propriedade do governo ou talvez pertencesse a pessoas desinteressadas. Ele não se preocupava em saber de quem era a terra. Plantou suas cem sementes com extremo cuidado. Depois do almoço, recomeçou a plantar. Acho que insisti bastante em minhas perguntas, pois ele me respondeu.

“Havia três anos que ele estava plantando árvores naquele deserto. Já plantara 100.000. Destas, 20.000 haviam brotado. Das 20.000, ele calculava que ainda perderia a metade por causa de animais roedores ou das intenções imprevisíveis do destino. Restariam 10.000 árvores a crescer onde nada crescera antes.

“Foi então que comecei a pensar sobre a idade que podia ter esse homem. Tinha mais que cinquenta e cinco, disse-me ele. Seu nome era Elzéard Bouffier. Possuíra uma fazenda na planície. Ali vivera sua vida. Perdera o filho único e depois, também a mulher. Retirara-se então para essa solidão, acompanhado de seu cão e de suas ovelhas. Achava que essa terra estava morrendo por falta de árvores. E, não tendo nada de urgente a fazer para si mesmo, resolvera remediar esta situação.

“Eu, apesar de jovem, levava naquela época uma vida solitária, e sabia, por isso lidar com gente solitária. Mas o fato mesmo de ser jovem, fazia-me encarar o futuro em relação a mim mesmo, e com uma certa procura da felicidade. Disse-lhe que seus 10.000 carvalhos estariam magníficos após trinta anos. Ele respondeu simplesmente, que, se Deus lhe concedesse vida, dentro de trinta anos ele teria plantado tantos carvalhos que esses 10.000 seriam como uma gota de água no oceano.

“Além disso, ele estava estudando a reprodução das faias (outro tipo de árvore daquela região) e já tinha um canteiro com mudas de faia ao lado de sua cabana. Essas mudas, protegidas das ovelhas por uma cerca de arame, estavam muito bonitas. Ele pensava ainda em plantar bétulas (outra árvore) nos vales onde, conforme disse, havia uma certa umidade, alguns metros abaixo do solo.

“No dia seguinte nos despedimos. Anos mais tarde tive desejo de rever o solitário pastor. Admirei-me com a transformação. As faias já estavam crescendo no vale, muito viçosas. Como supusera Bouffier, ali havia umidade quase à superfície do solo. As bétulas, delicadas como as mocinhas, estavam bem desenvolvidas.

“Parecia ter sido desencadeada uma criação em série. Ele não se importava; simplesmente prosseguia sua tarefa, com perseverança e determinação. Ao voltarmos em direção à aldeia, vi água correndo nos leitos de riachos secos desde tempos imemoriais. Foi esse o mais impressionante resultado de reação em série que eu já havia visto. Os riachos ressecados haviam carregado água, há muito tempo. Algumas das tristes aldeias que mencionei haviam sido construídas no local de antigos acampamentos romanos cujos vestígios ainda existiam; e os arqueólogos, pesquisando na região, tinham encontrado anzóis, num lugar onde, no século XX, era preciso cavar poços para obter um pouco de água.

“O vento também espalhava sementes. À medida que a água reaparecia, ressurgiam também salgueiros, junco, prados, jardins e flores e um certo sentido para a vida. Mas a transformação ocorria aos poucos, modificando o ambiente sem causar surpresa. É verdade que os caçadores, escalando os penhascos desertos à procura de lebres ou javalis, notavam o crescimento súbito de pequenas árvores, mas o atribuíram a algum capricho da terra. Eis porque ninguém interferiu no trabalho de Elzéard Bouffier. Se tivesse despertado a atenção, logo teria surgido uma oposição. Não o descobriram. Ninguém, nas aldeias ou na administração, poderia ter sonhado com tal perseverança nascida de tão magnífica generosidade.

“Para formar-se uma ideia aproximada daquele caráter excepcional, não deve ser esquecido o fato de ter ele trabalhado em solidão absoluta: tão absoluta que, na velhice, perdeu o hábito da fala. Ou talvez, não mais a achasse necessária.

“Em 1933, recebeu a visita de um guarda florestal que lhe transmitiu uma ordem: proibição de acender fogo ao ar livre, para proteger o crescimento daquela floresta “natural”. O homem disse ao guarda, inocentemente, que pela primeira vez ouvia falar em uma floresta que crescia por conta própria. Nessa época, Bouffier se estava preparando para plantar faias a cerca de 12 quilômetros de sua cabana. Para evitar constantes caminhadas — pois ele já contava 75 anos — planejou a construção de um abrigo de pedra no sítio da plantação. No ano seguinte, realizou esse plano.

“Em 1935, toda uma delegação do governo chegou para examinar a “floresta natural”. Havia um alto funcionário do Serviço Florestal, um deputado e técnicos. Houve muitas conversas ineficientes. Decidiu-se que algo tinha que ser feito e, felizmente, nada se fez além da única medida útil: toda a floresta foi colocada sob a proteção do governo e proibiu-se a carvoagem, pois era impossível não se ficar cativado pela beleza dessas jovens árvores em pleno desenvolvimento, cujo encanto envolveu até mesmo o deputado.

“Um amigo meu fazia parte daquela delegação. Expliquei-lhe o mistério. Um dia, na semana seguinte, fomos ambos visitar Elzéard Bouffier. Encontramo-lo arduamente trabalhando, a cerca de dez quilômetros do local onde havia sido feita a inspeção.

“Esse funcionário do Serviço Florestal sabia perceber a valor das coisas. E sabia manter silêncio. Entreguei a Bouffier os ovos que trouxera como presente. Almoçamos juntos, os três, e passamos várias horas a contemplar, em silêncio, a paisagem.

“Na direção de onde viéramos, as encostas estavam cobertas de árvores que mediam entre seis e oito metros. Lembrei-me do que ali havia em 1913: Um deserto… O trabalho regular e tranquilo, o vigoroso ar da montanha, a frugalidade e, sobretudo, o espírito sereno haviam dotado aquele velho com uma saúde que inspirava respeito. Ele era um dos atletas de Deus. Fiquei imaginando quantos acres ele ainda iria cobrir de árvores.

“Antes de partir, meu amigo simplesmente fez alguma sugestão quanto a certas espécies de árvores para as quais o solo parecia apropriado. Não insistiu. “Pela simples razão” disse-me ele mais tarde, “que Bouffier entende mais disto do que eu”. Após caminharmos mais de uma hora — e tendo meditado sobre aquilo — disse ainda: “Ele sabe muito mais do que qualquer outro. Ele descobriu um modo maravilhoso de ser feliz”.

“Foi graças a esse funcionário que ficou protegida a floresta. Designou para aquela região três guardas florestais nos quais incutiu tanto medo, que eles ficaram insubornáveis, por mais litros de vinho que lhes oferecessem os carvoeiros.

“A única vez em que o trabalho de Bouffier ficou seriamente ameaçado foi durante a guerra de 1939. Os carros eram movidos por gasogênio (geradores alimentados por lenha) e sempre faltava lenha. Começaram a derrubar os carvalhos de 1910, mas como a região era muito afastada de qualquer via férrea, o empreendimento se revelou financeiramente insustentável e foi abandonado. O pastor nada tinha visto. Estava a 30 quilômetros dali, trabalhando em paz, sem tomar conhecimento da guerra de 1939, como fizera também em 1914.

“Vi Elzéard Bouffier pela última vez, em junho de 1945. Ele completara 87 anos. Eu resolvera atravessar novamente o caminho daquelas terras áridas; mas, apesar da desordem deixada pela guerra, havia agora um ônibus que passava entre o vale da Durance e a montanha. Atribuí à relativa velocidade do transporte o fato de não reconhecer as paisagens de minhas viagens anteriores. Foi somente ao ver o nome de uma aldeia que me convenci de estar realmente naquela região, que fora só de ruínas e desolação.

“O ônibus me deixou em Vergons. Em 1913, essa aldeia, de dez ou doze casas, tinha três habitantes. Eram criaturas selvagens, odiavam-se mutuamente, viviam de caça por armadilhas e pouco se distanciavam, física e moralmente, das condições do homem pré-histórico. Os restos das casas abandonadas estavam cobertos de urtigas. A condição daquela gente não admitia qualquer esperança. Nada mais lhes restava senão esperar pela morte — situação que dificilmente podia predispô-los à virtude.

“Tudo agora estava mudado. Até mesmo o ar. Ao invés do vento seco e áspero que me atacara, soprava uma brisa suave carregada de perfume. Da montanha descia um som semelhante ao da água; era o vento na floresta; e, surpresa ainda maior, ouvi um ruído de água, de fato, caindo num tanque; vi que havia sido construído um chafariz, onde a água corria livremente e o que mais me emocionou — que alguém plantara, ao lado do chafariz, uma tília; a tília que devia ter uns quatro anos, coberta de folhas, era o símbolo incontestável da ressurreição.

“Além disso, a cidadezinha Vergons apresentava os sinais evidentes de trabalho que só empreende quem tem esperança. A esperança, portanto, havia voltado. As ruínas tinham sido afastadas e cinco casas estavam restauradas. Eram agora vinte e oito os habitantes, entre os quais quatro jovens casais. As casas novas, recém-rebocadas, estavam cercadas de jardins onde cresciam, em conjunto, verduras e flores, repolhos e rosas, alho-poró, funcho e anêmonas. Era agora uma aldeia onde se gostaria de viver.

“Desde então, em apenas oito anos, toda a região passou a irradiar saúde e prosperidade. No local das ruínas que eu vira em 1913 existem, agora, casas de lavradores, limpas e rebocadas, atestando uma vida feliz e confortável. Nos antigos leitos, alimentados pelas chuvas e pela neve que a floresta conserva, correm novamente os riachos. Águas foram canalizadas. Em cada propriedade rural, entre pequenos bosques, há fontes cujas águas transbordam sobre tapetes de hortelã. Aos poucos, as aldeias foram reconstruídas.

“Gente da planície, onde o terreno é caro, viera estabelecer-se aqui, trazendo juventude, movimento, evolução. Ao longo das estradas, encontram-se homens e mulheres sadios, meninos e meninas que sabem rir, e que redescobriram o sabor dos convescotes. Incluindo a população anterior, irreconhecível agora, a viver confortavelmente, mais de 10.000 pessoas devem a sua felicidade a Elzéard Bouffier (sem o saber).

“Quando penso que um homem, munido unicamente de seus próprios recursos físicos e morais, foi capaz de fazer nascer desse deserto uma tal Canaã, sinto a convicção de que, apesar de tudo, a humanidade é digna de admiração. Mas quando calculo a infalível grandeza de espírito e a tenacidade da benevolência necessária para alcançar esse resultado, sinto um respeito imenso pelo velho camponês sem instrução, que foi capaz de completar uma obra digna para Deus.

Elzéard Bouffier morreu em paz, em 1947, no asilo de Banon”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1976)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Novamente o Trabalho em Grupo

Novamente o Trabalho em Grupo

“Devemos aprender a trabalhar em conjunto ou nos desatualizaremos”.

Comovente ao proclamar: “A Fraternidade é a nova ordem da Era que se aproxima. Ou nos entendemos ou nos limitaremos cada vez mais.”

(De Elvin Joseph Noel no livreto “A Libertação através do Trabalho em Grupo traduzido da Revista “Rays from The Rose Cross” e publicado aqui: https://goo.gl/pbQfEv ).

Somos apologistas do trabalho de equipe. Observamo-lo portador de inúmeras vantagens, como, por exemplo, o alcance de um rendimento máximo em tempo mínimo, mediante o aproveitamento racional das qualidades e aptidões de cada um em função do todo. Além disso, sua ação faz-se sentir individualmente, revertendo em benefício de cada um, em forma de disciplina, solidariedades, harmonia, companheirismo e expansão natural das próprias qualidades.

Mas não se pense que o desenvolvimento do trabalho grupal depende, única e exclusivamente, da aglutinação de pessoas dotadas de capacidade para realizar a obra proposta. Não. Não é tão simples assim. Certas aptidões, conhecimentos e habilidades são importantes e desejáveis. Mas por si só não asseguram o êxito final de um trabalho coletivo. Há certos requisitos prioritários, tais como: boa vontade, sinceridade, desprendimentos, altruísmo, harmonia, ausência de personalismo e outros. São essas qualidades, de natureza moral, que possibilitam a um grupo relativamente heterogêneo empreender e concretizar obras de vulto, num sentido comum.

É importante, na quadra atual, cada um meditar sobre isso, e perguntar-se: estou preparado para trabalhar em equipe? Estão se formando novos Grupos Rosacruzes. E através deles os Estudantes têm a oportunidade de contribuir com sua parcela de esforço para a disseminação do Ideal Rosacruz.

O Método Rosacruz de Desenvolvimento oferece meios de realização estritamente individuais, objetivando o aprimoramento espiritual do aspirante, de modo a permitir-lhe transcender os entraves internos separatistas, integrando-o cada vez mais no puro sentido de equipe.

Decorridos onze anos de sua publicação, as ideias contidas no artigo de Elvin Joseph Noel mostram-se extraordinariamente mais atualizadas, mais vidente a realidade de seus conceitos, mais necessária a aplicação prática de seus princípios.

Sugerimos a todos, lerem e meditarem sobre ele. Mas, particularmente aos jovens, sequiosos de canalizar sua vibrante energia em uma obra edificante, recomendamos a atenta leitura do trabalho acima mencionado. Ele servirá de orientação, sem dúvida alguma.

Todos temos alguma coisa a realizar, pois o mundo necessita de pessoas responsáveis, decididas a arregaçar as mangas e trabalhar. Não fiquemos aguardando o surgimento de condições favoráveis. Não esperemos o emergir do amanhã acenando-nos com as oportunidades. Estas já estão por aí à espera da nossa decisão. Nos dias que correm o “futuro é hoje”. E o trabalho deve ser realizado “aqui e agora”.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977)

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