A Força do Seu Pensamento
O Pensamento é uma força ARQUIPOTENTE.
LIVRA-TE, LIBERTA-TE de sentimentos sombrios.
DEUS, o Supremo Bem, está presente em cada partícula do teu sentimento-pensamento.
Ora sempre com o pensamento aberto, fluindo indistintamente, atingindo o Universo e a todas as criaturas do PAI.
O pensamento é vibração super-etérica, e que pode atingir distâncias sem fim, dependendo tudo, unicamente de ti.
Em ti, está a Força, o Poder e a razão de todas as coisas. Consubstanciado, o PENSAMENTO-FORÇA dirige teus passos, ora certos, ora incertos, de acordo com o que sejas: firme ou tíbio.
“PENSA GRANDE e teus pensamentos levar-te-ão às ALTURAS. PENSA PEQUENO e teus pensamentos levar-te-ão retumbantemente ao chão”.
Necessário se torna que aprendas a pensar: com firmeza, na direção certa, tendo sempre presente o bem, só o bem, o eterno bem.
A DIREÇÃO É INTERNA. A ordem é interna. Do INTERIOR de cada TEMPLO-VIVO, a voz sutil dá a direção, indica a senda. Não penses que é fácil! Três são as exigências: CAPACIDADE, FIRMEZA E CORAGEM. Capacidade adquirida na vivência, no estudo, na meditação e no discernimento. Capacidade adquirida em vidas vividas e na honestidade de propósito na procura.
Viver a verdade, proceder na verdade, desejar acima de tudo a verdade.
“Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida”! Eu Sou!!! Retumba vibrantemente no Universo!
É uma Canção de Força, Poder Arquipotente, Pensamento concentrado em tudo o que há de Bom, Belo, Nobre, Altruístico, Realização do SUBLIME! O pensamento, unicamente, torna-nos capazes, pois é nossa única arma, que devemos aprender a manejar com sabedoria e capacidade. O sofrimento é a Grande Chave. Ele vai nos conscientizando e quando isto acontecer, ele deixa de ser sofrimento e se transforma em EXPERIÊNCIA-GUIA. Não desesperes no sofrimento: faze dele uma Dádiva Sagrada e vai capacitando tua vida para os grandes embates. Eis o Canto do poeta:
“Sonha, mocidade, forte e viril;
Sonha, que teus sonhos são profetas”.
O Pensador não sonha! Pensa! Mas, necessário se torna, que vigies teus pensamentos, porque eles poderão causar grandes males. No meio ambiente, no seio da família, no local de trabalho, no Universo, enfim. Tudo se resume em capacidade. Capacidade de bem pensar. Capacidade de bem vigiar, capacidade de bem concentrar e conscientizar. Firme, encara o Céu e a Terra, e, com limpidez no olhar, observa todas as coisas. A luz que vem de dentro desvenda todos os mistérios, e a prática te exercita a tal ponto que não há matéria densa que teus pensamentos não penetrem. Pensar retamente, orientado pelo PENSADOR INTERNO, transforma rapidamente as condições de qualquer que assim o tente. Tuas vistas tornar-se-ão mais límpidas, penetrantes e firmes. O Sol brilhará com mais fulgor, teus sentimentos para com as criaturas do Pai serão mais harmoniosos, confiantes, amáveis; o trato será mais sincero, e, num átimo, desaparecerão todas as canseiras físicas. O repouso do teu Corpo Denso será mais perfeito, sem necessidade de muitas horas de sono para a reparação. Serão outros os sentimentos para com os teus familiares e o mundo que te rodeia. Tudo é muito sutil! O Espírito da Música perpassa num átimo de segundo, e se estiveres capacitado, sua melodia permanecerá e abençoará tua existência com o glorioso bálsamo da vida, tornando-te capaz de transmitir alegria e bem-estar ao teu redor.
Oh! Quão bela, nobre, digna, venturosa e divina será tua existência. Compartilhando, servindo, dando de ti mesmo, quanta felicidade espalharás, como dádivas dos Céus! Não é fácil viver nesse estado de eterna bem-aventurança.
É uma experiência suprema! É um estado de serenidade superior, que inspira todas as atividades da vida.
O outro atributo é a firmeza. Delinear a direção e dela não se afastar em momento algum. Firmeza e Coragem.
Enfrentar todas as coisas que a vida te impõe, com atitude equânime, confiança plena, só próprio das almas de escol. Não há nisto nenhuma Proteção Divina, nem escolha arbitrária. É um mérito hierárquico, é prática dos conhecimentos adquiridos, é a filosofia aplicada num crescendo infindo, de acordo com a Luz que se vai descortinando. Não esqueças, porém, que a quem muito é dado, muito será exigido. Não podemos esconder nossa agulha no palheiro. Nossa vida precisa ser de ações claras, exemplos edificantes. O que importa tudo o mais se nada te falta? Viver assim, é viver no Eterno Agora, fruindo da Eterna Fonte de todas as coisas e não das migalhas atiradas da “MESA DOS FESTINS”. Senhor e não escravo, não importa a posição que ocupes aos olhos dos demais. Quando compreenderes claramente a Parábola do Cristo: “Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”, saberás que as coisas Divinas não se podem confundir com as coisas mundanas. É necessário que tenhas bem presente esta distinção. Não podes fugir do mundo, mas precisas te desfazer em definitivo das coisas pegajosas. Toma cuidado: o orgulho e a vaidade acompanham o santo, bem como ao ser humano comum. Estes dois impostores transmutam, quando estiveres nas alturas, aparentando virtudes e purezas. É necessário o coração puro de uma criança. “Deixai vir a mim os pequeninos…” O Modelo é o Cristo. Ele, tão e só, no seu Sublime Amor e edificante sacrifício, te serve de modelo. Não podes fugir! Não podes recuar ou estagnar. É preciso caminhar sempre, confiante no destino superior, certo de que, “Na Casa do Pai há muitas moradas” e a todas devemos ir conhecendo paulatinamente. É uma dinâmica, é uma constante, é uma batalha sem quartel. O Poder Criador deve ser exercido com a consciência clara, o conhecimento pleno, a majestade do sereno vencedor!!! No silêncio extraordinário da tua alma, Ele está Ali, no lugar recôndito, Silente, Certo, Inconfundível, Único e Absoluto.
É necessário que haja plena, completa, absoluta firmeza, porque a responsabilidade é só tua, e responderás por todo e qualquer deslize.
Que extraordinário, que estupendo! A ninguém devemos dar contas a não ser ao SILENTE INTERNO e OBSERVADOR! Ao Poder Crístico, ao Pai, enfim.
Caminha, passos firmes, cabeça ereta, despido do mesquinho, cônscio da tua única responsabilidade ante a LUZ INTERNA!
Que a areia do tempo não detenha teus passos, deixando apenas em ti, a consciência, a certeza, da grande escola que é a vida.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – Fraternidade Rosacruz – jan. /76)
O Diálogo e a Evolução
Toda coexistência é, necessariamente, uma forma de diálogo; de evocação e invocação do íntimo; de recurso ao outro e a si próprio.
É contraditório que, numa época em que os meios de comunicação se aprimoram, aproximando os seres humanos pela eliminação das distâncias – estejamos tão carentes de um autêntico diálogo, que consiste em nos comunicarmos essencialmente, íntimo a íntimo.
A maioria considera que uma pessoa civilizada é a que adquire a habilidade de viver com todos, sem chocar-se com ninguém. Chamam, a isso, a virtude da diplomacia, tacto, “savoir-vivre”, prudência, etc. Examinemos melhor esta atitude.
A experiência da vida nos vai revelando que é perigoso entrar na intimidade de uma pessoa; é delicado tocar numa existência. Uma palavra a mais, uma palavra ocasional mal colocada e sem intenção, basta para desencadear reações surpreendentes, desproporcionadas. Sabemos porquê. O ser vai gravando experiências e cada uma delas constitui uma “máscara” ou um “eu”. Esse “eu” reage sempre, de forma positiva ou negativa, quando ocorre algo semelhante ao fato que ele guarda. É uma associação. Uma interferência do passado.
Contra essa ameaça, a tradição de “bem viver em sociedade” foi catalogando normas para as pessoas “bem-educadas”. São fórmulas pré-fabricadas e temas de conversa sem perigo para ninguém, fala-se do tempo, fatos do dia etc., tal como na peça crítica “Pigmaleão” de Bernard Show, em que se provou que podiam transformar uma moça de baixo nível social numa perfeita “mademoiselle”, mediante a observação cuidadosa de certo verniz convencional.
É corrente que devemos manter a discrição reticente, que permita a cada indivíduo escapar, tanto quanto possível, ao perigo dos outros. E nisto as pessoas estão fugindo também de si mesmas, para evitar a reação de seus “eu’s”, quando se expõem a certas experiências e ultrapassam os limites de seu modo de ser.
Do ponto de vista esotérico, isto é um extremismo inconveniente, que anestesia o desenvolvimento interno.
A fuga à experiência, para assegurar uma vida tranquila e descuidada é, no fundo, acomodação à personalidade viciosa que não quer mudar. O desafio é inevitável, apesar da reação dos “eu’s”, convidando o indivíduo ao mais alto nível de consciência. Toda transformação é uma revolução que instala insegurança no antigo e sua resistência ao novo, que a evolução solicita. O processo de evolução se desenvolve mais rapidamente quando nos abrimos às contribuições dos outros, com seus diferentes e novos ângulos de visão.
Permanecer em torno de suas próprias possibilidades é entrar num círculo vicioso, onde nos cansamos de andar, na ilusão de ir em direção à meta.
Quando um camponês vem à cidade grande, choca-se facilmente na rua com os transeuntes; porque está habituado a muito espaço e não desenvolveu a habilidade de caminhar entre multidões. Já o que mora na cidade, por força do hábito, tem grande maleabilidade e sabe manter distância com os outros, apesar da proximidade e promiscuidade.
É interessante estabelecermos correlação psicológica. O camponês é simples e usa de uma franqueza rude ao morador da cidade. Este, num outro extremo, usa de uma insinceridade falsa, como num esforço de definir uma zona de segurança contra a ameaçada e constante usurpação dos outros.
Para este é uma virtude social a arte da reticência, que permite continuar mascarado e cruzar com os outros, sem pensar em ver neles alguma coisa mais que a máscara.
Assim, torna-se inevitável o choque, antes de haver o autêntico diálogo.
Pela experiência social, ocorre o encontro entre duas existências que se revelam, uma à outra e cada uma a si própria, pelo choque da presença que nos obriga a nos descobrirmos tal como somos – e não como pensamos que somos.
Feliz de quem pode se conhecer, através do diálogo e confronto com outro estado de consciência afim. O destino está sempre atuando pela lei de “atração de semelhantes”, pondo face-a-face dois caracteres afins para que ambos se descubram, através dos defeitos do outro, que são os defeitos de si mesmo – e que por isso mesmo inconscientemente detesta.
Se chegam à essa experiência e sem despertar, têm possibilidades de manter relativa harmonia matrimonial e nos relacionamentos em geral, “conservando a prudência nos justos limites”. Só através de uma vida de atenta auto-observação é que vamos aprendendo a definir os limites da prudência de trato, que varia segundo o meio, a educação, etc.
Regra geral, porém, as pessoas fogem de si mesmas; negam-se ao diálogo e quando a vida as lança numa intimidade obrigatória, os choques culminam em separação, porque dificilmente chegam a admitir suas próprias falhas, para poderem encontrar-se num espaço de harmonia, cada um compreendendo e aceitando a si mesmo e ao outro, tal como é.
No estágio atual, o amor, a amizade, provocam esse desvelar-se e revelar-se, para que cada um chegue à uma consciência de si próprio, que lhe faltava antes. A cada desdobramento o indivíduo se abre e se afirma, dinamizando potencialidades latentes. Mas nesse revelar-se, nesse abrir do íntimo, surgem também à tona da consciência, o melhor e o pior de cada um de nós, num antagonismo chocante, o que faz com que o eu e o tu se liguem e se desliguem, na procura de uma unidade que os englobe, conciliando seu egoísmo maior ou menor. Só a compreensão e aceitação de si mesmo pode fazer nascer o terceiro elemento que concilie os opostos, internamente e na relação com o outro.
O relacionamento social é marcado por um constante religar-se e desligar-se dos outros. Um aborda o outro e se deixa abordar, ensejando uma experiência sempre nova, de tristeza ou de alegria, convidando-nos a atingir mais altos níveis de evolução e de compreensão, no fluxo e refluxo das vicissitudes cotidianas.
Observem a dificuldade que a maioria tem, de participar de um debate que resulte em mútuo proveito e edificação. No debate, cada um se expõe ao perigo do outro, cada um levando seus condicionamentos e complexos, comprometendo a universalidade do tema, a impessoalidade da verdade. Ninguém pode dizer antecipadamente como irá terminar a aventura, de finalidade comum. Raros são os indivíduos que se situam, um e outro, em relação a uma mesma verdade, manifestando fidelidade aos mesmos valores que lhes motiva o trabalho de equipe.
Muita gente, tida por instruída, incorre nessa falha de equipe. É um contrassenso porque o sentido etimológico de instruir (do latim) é construir, edificar. A mesma deficiência ocorre nos meios profanos e religiosos, quando seria de desejar, que os verdadeiramente religiosos (ligados ao Divino interno) estivessem mais vigilantes com sua natureza inferior.
Só o que sinceramente busca a verdade impessoal está preparado para o diálogo. O que justifica o diálogo é a vocação comum que incita duas pessoas a transcenderem a si mesmas. A verdade constitui o terceiro elemento que enseja o diálogo e o converte numa relação a três termos.
Na obra “Timon de Atenas”, Shakespeare desmascara a falácia da usual generosidade. Timon gasta sua fortuna em banquetes com falsos amigos e quando chega à falência, recorre a eles e ninguém o ajuda. Sensibilizado e com mágoas incuráveis contra os homens, condena-se a um exílio voluntário entre animais, como sinal de alienação e confissão de fracasso no diálogo da vida. Ora, a verdadeira generosidade guarda os limites da prudência e discernimento. Sobretudo, compreende e aceita cada qual como ele é sem permitir que o relacionamento exorbite sua integralidade.
Mais que generosidade, o que suscita, justifica e valoriza o diálogo é o AMOR. O amor, com seu impulso de coalizão e no sentido lato, é, no fundo uma forma de pedagogia; e toda pedagogia é uma forma de amor. Sem este fator essencial, qualquer expositor não atinge seu fim.
A educação não tem sentido se não há convergência de vontade de todos os participantes, a um fim mais alto, em que suas intenções se juntam. A despeito das diferenças de níveis, há uma confraternização de almas.
Diz Saint Exupéry que “o diálogo, com amor, em vez de fazer um olhar para o outro, leva os dois a buscarem um ideal comum”. De fato, amar é ajudar-nos mutuamente a alcançar o objetivo comum, razão de nossa existência. Ninguém pode furtar-se a esse dever, uma vez que o sente. Eis a regra de moral kantiana: “Deves, logo, podes”. O sentido amoroso de dever já traz consigo as condições e possibilidades de realização. Ora, onde melhor se pode realizar esse ideal, senão na Fraternidade? Nela, todos devem empenhar-se, através de um diálogo baseado no amor, no desejo de servir, inspirado na verdade que recebemos, para a missão educativa conducente à Universalidade.
O diálogo é o princípio do aprendizado. Ele defronta duas pessoas num propósito definido para que deem mútuo testemunho de suas possibilidades internas.
Pode parecer que o diálogo limite a verdade a um mecanismo de debate entre duas inteligências. Se forem duas personalidades auto afirmativas com pseudo-sentido de superioridade, essa limitação existirá. Mas se for a sinceridade e o amor que motivam o encontro, o diálogo, ao contrário, abre caminho à verdade, pelo circuito da pluralidade de pontos de vista que buscam conciliar-se, alargando os horizontes.
Cada um se ajuda, aceitando provisoriamente não ter razão e ser ignorante nas coisas que o outro expõe. Aceitando todas as coisas como possíveis, pondo de lado conceitos preconcebidos, o diálogo transpõe o monólogo, o monopólio da palavra, dando começo a um processo em que a verdade se expressa, não pela pessoa mesma, senão pela atmosfera indefinível de elevação, na qual é possível cumprir-se a promessa do Cristo: “Onde dois ou três se reunirem em Meu nome, ali estarei neles”. Em tal circunstância, a luz far-se-á, com toda a segurança.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/76 – Fraternidade Rosacruz – SP)
O Aspecto Cósmico da Páscoa
As quatro estações do ano determinam, desde os mais remotos tempos, os mistérios da relação do ser humano com a Terra (Planeta-mãe) e de ambos com o Sol. Constituem o importante Mistério da Nona Iniciação Menor.
Ademais das influências zodiacais, que levaram os Guias-Iniciados a estabelecer as formas religiosas (religião do Touro, do Cordeiro (judaica), dos Peixes (cristã), etc.), houve, desde recuados tempos, uma tradição esotérica ligada aos equinócios e solstícios. Encontramos essa tradição, velada por mitos, nas várias civilizações que nos precederam.
A passagem pelo Mar Vermelho e a travessia de quarenta anos pelo deserto, na história dos hebreus, relatada na Bíblia, é um simbolismo da evolução através do Signo de Áries, cuja cor é o vermelho e cujo Signo é o Cordeiro, tomado por adoração em lugar do bezerro.
Quando Moisés negociava com o Faraó a libertação de seu povo, este lhe resistiu, e o Senhor fez cair sobre o Egito as famosas pragas, que culminaram na matança dos primogênitos. Para preservar seus lares, os israelitas sacrificaram o Cordeiro e pintaram com sangue as ombreiras das portas. Por essas casas a morte não passou. É um símbolo de que, na transição evolutiva de uma para outra Era, aqueles que resistem acabam se cristalizando e ficando para trás. O cordeiro é o emblema da Dispensação que deveria suceder à do boi Ápis. Na pressa de deixar suas casas, quando o Faraó finalmente cedeu, os israelitas esqueceram o fermento em casa e tiveram que fazer seus pães sem fermento. Daí se originam os pães ázimos, lembrança da libertação do Egito.
Como símbolos, o sangue derramado do cordeiro representa a expiação; e os pães sem fermento, a pureza decorrente dela.
De toda a maneira, antes do êxodo, os solstícios e equinócios já haviam influído na determinação dos principais festejos, em todos os povos. A libertação do Egito ocorreu na Páscoa e a ela está associada, pela razão esotérica já exposta, a transição evolutiva para a Era de Áries. Mais tarde, o sacrifício do Cristo ocorreu na mesma Era, para designar a transição para a Era de Peixes.
Herdeira dos mistérios astrológicos ocultos, a tradição cristã-esotérica nos conserva o Cristo Solar, com seus doze Apóstolos, substituindo a epopeia de Sansão e a história de Jacó e seus filhos.
Desde Seu sacrifício, pelo qual o Cristo se crucificou à cruz da Terra, para redimi-la dos registros negativos dos pecados dos seres humanos. Ele desenvolve uma sublime e penosa missão, em ciclos correspondentes aos equinócios e solstícios.
No cristianismo popular este mistério remanesce como tradição, nos festivais cristãos (Natal, Páscoa, Festas juninas de São João, São Paulo e São Pedro e Imaculada Conceição).
Hoje a Igreja católica volta a considerar, com razão, a Páscoa, como o mais importante acontecimento do ano cristão. Nela o Senhor demonstrou o triunfo do Espírito imortal, levantando-se do túmulo, ressurgindo dos mortos e dando o modelo do que todos nós, ao devido tempo, devemos individualmente alcançar. O fato é relacionado com o dia de Pentecostes, o batismo de fogo prometido, que o Messias interno há de nos dar, para abertura interna e comunhão com todos os seres, além de todas as línguas, limitações e preconceitos.
Os cristãos-esoteristas (Estudantes Rosacruzes) comemoram a Páscoa na entrada no Equinócio de Março, com um ritual adequado que nos relembra a missão do Salvador, e a tarefa individual de libertação, de si e da Terra, em colaboração com o Cristo. Adverte, mais, que Ele, na Páscoa, uma vez mais deixa a cruz do Planeta, onde voluntariamente se cravou, desde o último Natal, a fim de insuflar um renovado impulso de Sua Luz e Amor, que eleve vibracionalmente a Terra em seus nove estratos, além de suscitar o altruísmo de todos os homens e mulheres, na medida da receptividade deles.
Recomendamos aos estudantes estudar e meditar profundamente sobre os mistérios dos Solstícios e Equinócios, em ligação com a missão do Cristo. Por eles, poderão compreender como, desde o dilúvio que abriu os portais do Arco-Íris para a Era Ariana, as estações do ano constituíram os ciclos alternados, em graus maiores e menores, de todos os fatos evolutivos, começando com a festa das primícias (os primeiros frutos), início do ano solar.
Ao conscientizarmos, ainda que em pequeno grau, os ciclos da vida do Cristo, assumimos um dever inegável, prazeroso e caloroso, de colaborar no plano de Salvação do Mundo, começando conosco mesmos – que é de nosso exclusivo interesse, – pois não temos feito tudo o que poderíamos fazer em prol de nossa libertação.
Ao começarmos uma vida nova, o ano também se torna novo para nós – um convite desdobrado em quatro etapas de realização trimestral, nas quais somos desafiados a tomar a nossa cruz, a assumir conscientemente nosso destino e caminhar para a libertação, seguindo a meta do Cristo. Então estaremos atuando em ritmo e harmonia com o Universo. Deixaremos de ser um peso a mais para o Cristo. Ao contrário, converter-nos-emos em Simão Cireneu – aquele que ajudou a carregar a cruz do Senhor. Com isso estaremos abreviando o tempo para nosso interno Pentecostes, cuja abertura e despertar nos traçarão o umbral para uma vida mais ampla. Será o cumprimento: “rasgou-se o véu do Templo de alto abaixo”. Será o romper do ovo da páscoa individual, para que o “novo nascido”, havendo cumprido o período de amadurecimento interno (3×7); havendo realizado o trabalho de dentro para fora, pode nascer como pintinho. Mas será ainda um pintinho, convidado a tornar-se um galo – símbolo da vigilância, do ser realizado – pelas Iniciações que o esperam.
O pintinho não pode abreviar sua gestação de 21 dias, porque está inteiramente sujeito a um trabalho externo. Mas o ser humano pode abreviar seu amadurecimento interno, porque atua de dentro – quando assume
conscientemente a tarefa evolutiva. O tempo de romper o ovo depende de cada um.
Você, agora, está dentro do ovo de seus corpos. Esperamos que aproveite a oportunidade que está recebendo e se esforce devidamente, para abreviar o tempo de maturação e possa romper a casca de seu ovo, nascendo para uma vida nova.
Cada iniciado e mesmo cada estudante sincero que trabalha conscientemente na Missão do Cristo, é um carvão a mais, para aumentar em progressão geométrica, o fogo e a Luz redentora – até que um número suficiente de seres humanos possa manter a Terra na própria levitação.
Será, então, a última Páscoa do Cristo; a consumação dos séculos (tempos profanos); e o definitivo
“CONSUMATUM EST”!
(E ao subir, Ele a todos nos elevará também)
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/76 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Na densa obscuridade da noite cósmica, relampejava o primeiro estremecimento da vida que, ao despertar, convertia as trevas da negativação em um vago crepúsculo do SER EM DESENVOLVIMENTO.
Vacilantes raios caíam sobre uma estranha forma, que se mantinha solitária entre a nebulosidade das substâncias em turbilhão.
Entre vapores trêmulos de mistérios e com a cabeça aureolada por uma dourada coroa de luz esplendente, ali se encontrava um estranho místico, cuja divina forma apenas se destacava em relevo, contra o fundo sombrio e tenebroso das portas da eternidade, enquanto as trevas fugiam ante os raios que brotavam dessa mística forma, gigantesca e vaporosa…
Esse místico visitante vinha de um Cosmos muitíssimo maior que o nosso, como respondendo a um chamado da Divindade. Havia viajado de estrela em estrela, de um Mundo a outro, de Universo a Universo e em todas as partes Ele era bem conhecido, ainda que sempre permanecesse oculto sob a vestimenta da noite cósmica.
Subitamente as nuvens se abriram e uma torrente de luz desceu por entre as ferventes ondas de energia, banhando esta forma solitária com uma irradiação celestial, que fazia brilhar cada cristal de vapor, como um diamante refletindo o vivente fogo da Divindade.
Duas grandes formas resplandecentes surgiram logo entre as chamas da Luz Cósmica, ladeadas pelas nuvens do Não-Ser. E uma Voz poderosa ressoou pela Eternidade, fazendo vibrar todos os átomos com o Poder do Verbo Criador, enquanto a gigantesca forma vestida de azul se inclinava reverentemente, ante os pés do seu Criador e uma enorme mão surgindo dos Céus deitava esta bênção:
“Dentre toda Criação Eu te escolhi e em ti imprimi o meu brasão; tu és o instrumento escolhido por minhas mãos, eleito para que sejas o Construtor do meu Templo; tu levantarás suas colunas e ladrilharás seus pavimentos, ornamentando-o com metais e serás o Senhor e Mestre dos meus trabalhadores; em tuas mãos colocarei meu planos e aqui, na prancha de traçar, de substância vivente, imprimirei o plano que deves seguir, traçando todas as suas letras e seus ângulos com as ígneas linhas que meu dedo descreverá.
Hiram Abiff, construtor eleito para levantar a casa de teu Pai, vamos: Mãos à Obra! Lá estão as escuras nuvens, a grisalha neblina da aurora que começa, os tênues raios de luz celestial e a densa obscuridade do sono da Criação.
Constrói com todos esses materiais, sem o ressoar de martelos e sem o vozerio dos trabalhadores, o Templo do Teu Deus Eterno nos Céus.
Encadeia o movimento incessante e turbilhonante da negação, para que assim possas polir as tuas pedras.
Entre esses espíritos do “Não-Ser”, esfregarás as tuas limas e estabelecerás os fundamentos; pois, tenho-te observado durante os dias da tua juventude e te guiei nos dias da tua virilidade.
Pesei-te na balança e nada faltava; portanto, dou-te a glória da obra e do trabalho e te ordeno ser construtor de minha casa e dou-te ainda a palavra do Mestre Construtor, entregando-te as ferramentas do ofício.
Dou-te também meu Poder. Sede fiel com todas as coisas e a trazei-me de volta, quando houverdes terminado e te darei o Nome, que somente Deus conhece. Amém. Que assim seja”.
E a grande Luz desapareceu dos Céus enquanto os dedos de Luz Vivente se desvaneciam no crepúsculo tênue e vaporoso, que novamente cobria o “Não-Ser”, com o seu manto de sable.
Hiram, novamente encontrou-se só, contemplando o infinito oceano do esquecimento.
Nada, senão fervente matéria, em toda a extensão que era possível abarcar.
E então, endireitando-se, tomou a prancha de traçar em suas mãos e encerrando em seu coração a Palavra do Mestre, que ainda brilhava e reluzia na obscuridade da noite, Hiram Abiff marchou sobre as nuvens e se desvaneceu nas trevas que absorveram até o último resplendor da Palavra do Mestre.
Como poderia o homem medir a eternidade?
Idades e idades se passaram e o solitário construtor trabalhou somente com o amor e a humildade do seu coração.
As suas mãos iam modelando a obscuridade que abençoava, enquanto seus olhos se elevavam para onde certa vez havia brilhado a Grande Luz.
E nessa divina solidão trabalhou, sem ouvir qualquer voz que o animasse, sem ter nenhum espírito que condenar; só, em meio do Infinito! – Com o rocio da manhã a lhe gelar a fronte, mas com o coração ainda cálido pela Divina Luz da Palavra do Mestre.
Parecia impossível a tarefa: um par de mãos jamais poderia modelar tão profundas trevas. Nenhum coração, por fiel que fosse, poderia ser bastante grande para enviar o vibrante amor cósmico, através da fria neblina do olvido.
A obscuridade cingia-o, cercando-o cada vez mais, e os tenebrosos dedos da negação ameaçavam todo o seu ser e sem embargo, com divina confiança, o construtor prosseguia trabalhando. Com divina confiança estabeleceu os fundamentos e com a ilimitada argila fez os moldes para construir os sagrados ornamentos.
Pouco a pouco foi o edifício crescendo e formas vagas, modeladas pelas mãos do Mestre, se agruparam em seu redor.
O Mestre havia dado forma a três imensas criaturas “sem alma”, seres gigantescos que, na semiobscuridade, pareciam como torvos espectros. Eram três construtores a quem havia abençoado e que agora desfilavam ante Ele.
Hiram, estendendo os braços para sua criação, disse:
“Meus irmãos, fi-los para a nossa obra; formei-os para que trabalheis comigo na construção da casa do Mestre. Sois os filhos do meu ser, tenho trabalhado para vós, trabalhai agora comigo, para a glória do nosso Deus”.
Mas, os espectros riram e voltando-se contra o seu criador golpearam-no com as suas próprias ferramentas, aquelas mesmas ferramentas que lhe foram dadas por Deus nos Céus, e abandonaram o seu grande Mestre agonizante, no meio das suas obras. E a proporção que sangrava ao pé da obra feita por suas mãos, o mártir ergueu os olhos para as ferventes nuvens e, enquanto orava ao Mestre que o tinha enviado, a sua face resplandecia de divino amor e entendimento:
“Ó Mestre e Senhor dos trabalhadores. Grande Arquiteto do Universo. Minhas obras ainda não terminaram. Por que devem ficar sempre sem acabar?
Não completei aquilo que me ordenastes, porque as minhas próprias criações se revoltaram contra mim e as ferramentas que Tu me destes serviram só para destruir-me!
Os filhos que eu formei com tanto amor, em sua ignorância me assassinaram!
Aqui está – Ó, meu Pai! A Palavra que Tu me destes tingida ainda com o meu próprio sangue!
Ó Mestre! Eu T’a devolvo porque a tinha conservado sagrada em meu coração.
Aqui estão as ferramentas, prancha de traçar e os vasos que fundem meu redor estão as ruínas do Templo que tenho de deixar.
A Ti – Ó Deus! Que conheces todas as coisas, eu devolvo tudo, compreendo que no seu devido tempo está o cumprimento de todas as coisas.
Tu Senhor! Que sabes das nossas quedas e soerguimentos; Tu, Senhor, que conheces os nossos pensamentos; Em Teu Nome tenho trabalhado, e por Tua Causa – Ó meu Pai morro, como Teu construtor leal e fiel”. E o Mestre caiu com a face dirigida para o céu, na qual a morte deixou estampada uma suave expressão de doçura, enquanto a luz que brotava do seu rosto se extinguia lentamente.
Nuvens cinzentas se amontoaram em seu redor, como se pretendessem envolver por completo e para sempre, o Mestre assassinado.
Subitamente, os Céus se abriram outra vez, e um grande resplendor, descendo, rodeou a forma de Hiram, banhando-a agora, com uma luz celestial, enquanto novamente a Voz assim falou, desde onde o Grande Rei estava sentado sobre as nuvens de saudação:
“Não está morto; está somente adormecido.
Quem o despertará?
Suas obras ainda não estão terminadas, mas na morte ele guarda as sagradas relíquias, com mais zelo que antes; a Palavra e a Prancha de traçar são suas, porque Eu as lhe dei.
Deve ele assim permanecer adormecido até que esses três que o assassinaram, façam-no tornar novamente à vida, porque todo erro deve ser corrigido, e os destruidores de minha casa terão que trabalhar em lugar do seu construtor, “até levantar o Mestre de entre os mortos”.
Os três assassinos caíram de joelhos e elevaram suas mãos para os Céus, como para ocultar a Luz que punha o seu crime a descoberto, exclamando:
“Ó Senhor! Grande é o nosso pecado, porque assassinamos o nosso Grande Mestre Construtor Hiram. Abiff!
Justo é o Teu castigo e já que o assassinamos, dedicaremos agora nossas vidas para a sua ressurreição.
O primeiro ato foi a nossa debilidade, o segundo será nosso sagrado dever”.
“Assim seja” – respondeu a Voz do Céu. E a grande Luz desvaneceu-se. As trevas e as nuvens ocultaram o corpo do Mestre assassinado que foi absorvido pela absoluta obscuridade, não deixando nenhum vestígio do local onde jazia o Construtor.
“Ó Deus! ” – gritaram então, os três assassinos: “onde encontramos agora o nosso Mestre?”
E a grande Mão surgiu novamente do Infinito Invisível e lhes foi dado uma lamparina de azeite, cuja chamazinha ardia silenciosa e claramente, na densa obscuridade circundante.
“Com esta luzinha que agora vos dou, buscai aquele a quem assassinastes”.
E as três formas rodearam a luz e se inclinaram em fervorosa oração de gratidão, por essa dádiva, que os iluminaria pela densa obscuridade do seu caminhar imenso.
Em alguma parte, nas regiões do “Não-Ser”, a Grande Luz falou uma voz como de trovão, cujo som enchia o caos: “Saiu como flor e foi cortada Fugiu como uma sombra e não continuou.
Assim como as águas desapareceram do mar e a inundação desceu e tudo secou. Assim o homem caiu e não mais se levantou”.
“Mas tenho compaixão pelos filhos da minha criação, e por isso, os consolarei nos tempos de tribulação e salvá-los-ei com a salvação eterna”.
“Buscai onde está o raminho quebrado e onde apodrece a vara seca; onde as nuvens se aglomeram e onde as pedras se acumulam nas faldas das colinas, porque todas essas coisas assinalam o túmulo de Hiram, que levou minha vontade até o túmulo”.
“Esta Eterna busca será a vossa, até que tenhais encontrado o Construtor, até que o cálice dê o seu segredo, até que o túmulo dê seus fantasmas”.
“Não vos falarei mais, até que tenhais encontrado e erguido o meu amado filho; até que tenhais escutado as palavras do MEU MENSAGEIRO e, com ELE como guia, houverdes terminado a construção do Templo, que então será habitado por Mim. – Assim seja”.
A aurora ainda dormia nos braços da obscuridade, e no grande mistério do “Não-Ser” tudo era silêncio absoluto. E nessa tênue aurora, como estranhos fantasmas de um pesadelo, três figuras continuavam a vagar sobre o grande DESCONHECIDO, conduzindo, em suas mãos, a lamparina que lhes havia dado o Pai do seu construtor.
E assim, eternamente, vagam em busca de um silencioso túmulo, sobre uma raminha e uma pedra, sobre uma nuvem e uma estrela, parando de vez em quando para explorar as profundidades de algum místico recesso, rogando para serem liberados de sua infindável busca, ainda que vinculados ao seu eterno voto de levantar o Construtor, que tinham assassinado, cujo túmulo devia estar marcado pela raminha quebrada e cujo corpo havia sido colocado provavelmente, em algum canto, envolto no alvo sudário da morte, sobre a eterna colina.
Ouço uma voz que me grita desde toda flora e fauna, desde todas as pedras, desde todas as nuvens, desde o próprio Céu.
Cada ígneo átomo que vibra no Cosmos grita-me com a voz do meu Mestre.
Posso ouvir a Hiram Abiff, meu grande Mestre, chamando-me em agonia, na agonia da vida que se oculta dentro da obscuridade dos muros da sua prisão, lutando por essa expressão que eu mesmo lhe tenho negado, lutando e trabalhando para abreviar o dia de sua liberação. E agora aprendi a conhecer que eu sou o criador daqueles muros, com minhas ações diárias que são as coisas com que os malvados e os traidores estão assassinando o meu Deus.”
Os três assassinos de Hiram que o golpearam com as ferramentas do seu próprio ofício, até que o mataram destruindo o Templo sobre suas próprias cabeças, simbolizam as três expressões de nossas naturezas inferiores que em verdade, são os assassinos de tudo que de bom existe em nós, pervertendo-o tão depressa como tratamos de manifestá-lo.
Estes três assassinos são: “o pensamento, o desejo e a ação”. Uma vez purificados e transmutados, se convertem nos três gloriosos canais através dos quais se podem manifestar a “vida” e o poder” dos três reis, os resplandecentes construtores da GRANDE LOJA CÓSMICA, que se manifestam neste mundo como “pensamento espiritual, emoção construtiva e diária atividade”, úteis nos diversos lugares e posições em que nos encontrarmos enquanto levamos a cabo a obra do Mestre.
Quando o ser humano puder modelar seus pensamentos, emoções e ações como fiéis expressões dos seus mais elevados ideais, então terá conquistado a liberação, PORQUE A IGNORÂNCIA É A OBSCURIDADE DO CAOS E O CONHECIMENTO É A LUZ DO COSMOS.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 03/73 – Fraternidade Rosacruz – SP)
A Pureza em pensamentos e sentimentos: será que sempre acompanham os nossos atos aparentemente bons?
A palavra “Pureza” tem tido, através dos tempos, quase que um significado próprio para cada pessoa. Muitos a concebem somente relacionada ao sexo e assim ela somente existe em relação ao 6º Mandamento.
Contudo uma pureza apenas periférica não nos faz evoluir. Se esta não for consequência de uma pureza interna; quase podemos dizer que será apenas questão de costumes e não de princípios.
Cristo, no Sermão da Montanha disse taxativamente: “Bem-aventurados os puros de coração porque eles verão a Deus”.
Ensinamentos esotéricos nos dizem ser a pureza “a única chave com a qual o aspirante à vida superior pode abrir a porta que conduz a Deus”.
Para os que desejam realmente seguir o Cristo, a Pureza não pode ser somente “para uso externo”. Em Mc 6:18-23, encontramos, entre outras coisas o seguinte: “O que mancha o homem, não é o que entra pela boa, mas o que sai do coração”. A nosso ver, o “entrar pela boca”, engloba todo o exterior porque o que vem de fora somente nos prejudica ao alcançar o interior. A mesma coisa vista ou ouvida por várias pessoas perturba ou edifica apenas as que internamente respondem ao estímulo, quer positiva, quer negativamente.
Meditando sobre a bem-aventurança já citada, verificaremos que é a impureza, em suas diferentes formas, que nos impede de vermos a Deus, ou melhor, de chegarmos ao Deus que está em cada um de nós. Interpondo-se entre Deus e nós, é a única responsável pela nossa lentidão no caminho da perfeição.
Assim como antes de arrumar uma sala temos de limpá-la totalmente, antes de começar a escalada do progresso temos de procurar deixar de falhar. Num ambiente impuro, dificilmente conseguiremos progredir, pois essa impureza nos impedirá de fazê-lo. Mas não nos esqueçamos de que esse ambiente de pureza tem de ser mais interior que exterior e que, se quisermos modificar o que nos rodeia,temos que primeiramente modificar a nós mesmos.
Essa mudança interior somente nos vem através de uma vigilância contínua. Agir com retidão aparentemente é o mais fácil. Como nossas ações geralmente envolvem os outros, somos praticamente policiados pelos demais, em nossos atos, e recebemos as reações que os mesmos provocam. Mas, e os pensamentos e sentimentos? Será que sempre acompanham os nossos atos aparentemente bons? E é isso que também conta no caminho da perfeição que começamos a trilhar. Cristo falava constantemente da impureza interna, inclusive com bastante indignação como foi no episódio no qual chamou os fariseus de “sepulcros caiados”.
Realmente não é fácil nos tornarmos verdadeiramente puros de coração. O nosso eu inferior volta e meia leva vantagem e, quando acordamos, já falamos, pensamos e sentimos maldosamente.
Se nos propusermos a levar a sério a parte espiritual é porque realmente queremos ver e conviver com o Deus interno que está dentro de cada um de nós. Mesmo não sendo nada fácil, poderemos, com sua ajuda e através de meditação e oração, nos libertarmos cada vez mais das impurezas de pensamentos, sentimentos, palavras e atos, porque, à medida que formos afastando de nós essas impurezas, conseguiremos mais nitidamente ver e sentir o nosso Cristo Interno.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Faça-se a Luz
Da Universidade de Colúmbia nos Estados Unidos, foi divulgada uma notícia que poderá ter, sobre o futuro estado da humanidade, um efeito mais importante do que todas as bombas de hidrogênio.
Quando as primeiras bombas atômicas foram lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, o que pôs fim à segunda Guerra Mundial, todos ficaram espantados e fascinados pelo enorme poder que o ser humano conseguiu pôr sob seu controle. Desde então, os aperfeiçoamentos da bomba (bomba de hidrogênio) libertaram forças que, em comparação fizeram a bomba atômica parecer brinquedo de crianças. Grandes ilhas foram volatilizadas com os átomos de hidrogênio. Quando sua força inerente foi libertada, tais ilhas desapareceram sendo a explosão acompanhada de vastíssima luz. Estando a atenção do ser humano sempre voltada para cada engenho de guerra de maior poder não percebeu a descoberta básica que lhe proporcionaria a utilização dessa força e que lhe mostraria como sair do seu atual dilema.
Como resultado do desenvolvimento da força atômica com a sua recente aplicação, e a consequente corrida pela supremacia, por terra, no mar, no ar e no espaço, por nações de ideologias contrárias, a humanidade está se consumindo de medo, de dúvida e de incerteza quanto ao futuro. O ser humano parece ter perdido sua esperança e perspectivas e ter colocado sua fé nas ações humanas. Por toda a parte há uma necessidade irresistível de re-estimar nosso senso de valores, baseados no novo conceito de matéria, pois a ciência tornou-se mística; na realidade confirmou a religião, e assim, também a religião tem se tornado científica.
Já se sabe que a matéria consiste de átomos, sendo cada um uma exata réplica do sistema solar, com um sol central (próton ou eletricidade positiva) em torno do qual giram os elétrons (eletricidade negativa). Sabe-se que o próton tem temperatura semelhante à da superfície do Sol, 10.000 graus centígrados, estando esta temperatura contida no interior do próprio átomo.
Sabe-se também que os elétrons giram em torno do próton com velocidade superior a 9.977,66 quilômetros por segundo, e que o número de elétrons varia de acordo com o elemento atômico, tendo o átomo de hidrogênio – o mais baixo da escala – dois elétrons.
Os cientistas da Universidade de Colúmbia mediram agora este próton ou núcleo do átomo e verificou-se que tem 500 bilionésimos de uma polegada de espessura (2,54 centímetros divididos por 500.000.000.000 metros, divididos por 500.000.000 centímetros, ou seja, aproximadamente 0,000000000005 centímetros ou seja ainda 0,00005 mícron de espessura). Permanece em pé, girando como um pião a velocidade de milhões de rotações por segundo, e o que é de significância transcendental, é um foco de luz branca! Qualquer átomo de matéria possui este mesmo fogo, branco giratório no seu núcleo. Esses centros atômicos de prótons constituem os 99% de toda à matéria do Universo. Não está sendo provado em cada nova descoberta da ciência que toda criação é nosso próximo, e nosso irmão? Por esta revelação não se tornou espiritualizada a matéria, ou não podemos ver que o bem de um é o bem de todos e que o sofrimento de um é sofrimento de todos. É por isso que é tão importante este novo conceito de matéria. Porque agora, nossa Bíblia pode tornar-se uma realidade viva para todos nós, como o foram as bolas de fogo giratório para Ezequiel e a sarça ardente para Moisés, porque eles penetraram no mistério da matéria e nela viram Deus manifestado, a Substância Única, o fogo giratório branco, a luz sem-calor.
Nós, em nossa cegueira, não vemos que o mundo é um fogo. Que o fogo está na água; que ele queima continuamente nas rochas, nas plantas, no animal e no ser humano. Sim; nada existe no mundo que não seja animado pelo fogo. E a ciência agora confirma esse fato.
A razão pela qual não percebemos essa grande verdade é porque não aprendemos a diferenciar o fogo da chama;-o fogo está para a chama na mesma relação que o espírito para a matéria. O fogo é a força invisível para a visão física.
O fogo “veste-se” da chama somente quando consome matéria física. O fogo surgirá da pedra quando esta for atritada. Um fio conduzindo eletricidade permanecerá frio, mas emitirá chama se forem violadas algumas de suas leis. Assim, para qualquer lado que nos voltemos, encontramos a confirmação das sublimes palavras do Evangelho segundo São João de que “DEUS É LUZ”. Até os mais possantes telescópios modernos fracassaram quando procuraram encontrar os limites da luz, mesmo penetrando no espaço em milhões de anos-luz. A ciência nos diz que temos a manifestação da forma somente porque uma espécie de fogo, uma energia elétrica, mantém os átomos em seus lugares uns em relação com as outros. Sabe-se que luz e vida são termos sinônimos porque, por toda parte encontramos a vida e onde há vida, aí existe luz. Isso é inacreditável para a nossa consciência densa, material, humana, embora tenha sido provado agora ser verdade. Para quem tem olhos de ver, cada manifestação de vida é como facho de esplendor, imortal. Luzes com mil cores de arco-íris, luzes, mil vezes mais variadas do que o nosso espectro solar, com cores não imaginárias. E o próprio ser humano fez música; o nosso espectro solar, sua vibração, produzindo luz e cores de beleza indescritível.
Tudo, em toda parte, está no fogo com Deus. Do Centro do ser humano, do centro da terra, de toda manifestação irradia luz; mesmo o vácuo está cheio de luz, este esplendor vivo, universal, o símbolo vivo de Deus. Não fomos ensinados que “Deus disse; Faça-se a Luz e a Luz foi feita”, a primeira manifestação do Absoluto do Ser Imanifestado? A Terra, literalmente, está cheia de céu. Como disse Pitágoras, “O Corpo de Deus é composto da Substância da Luz”.
Nenhum símbolo se concebeu mais conveniente para o Pai Universal do que essa glória radiante, viva, vibrante, que chamamos fogo. Pouco nos surpreende que os antigos admitissem o fogo ou luz como o mais sagrado dos elementos. Como símbolo supremo da força universal onipotente. O sangue era considerado pelos antigos alquimistas como luz cristalizada, e os magos da Idade Média tinham de controlar qualquer pessoa se possuíssem pequena quantidade do seu sangue.
Se um copo com água for deixado durante a noite num quarto onde durma alguém, pela manhã a água estará impregnada das radiações psíquicas desta pessoa em tal grau que qualquer um que seja apto poderá nela encontrar uma gravação da vida e do caráter da pessoa que ocupou o quarto devido à luz ou fogo onipotente por meio do qual essas gravações são transmitidas e preservadas.
É sabido que os padres nos templos antigos faziam lâmpadas que podiam queimar durante séculos sem precisar ser reabastecidas. Hargrave Jenning escreveu acerca dessas lâmpadas: “Diz-se que os antigos romanos preservavam as luzes nos seus sepulcros muito tempo pelo nível de álcool do ouro (um dos segredos da arte dos Rosacruzes) transformada por métodos herméticos em uma substância líquida; e está escrito: que, por ocasião da dissolução dos mosteiros, no tempo de Henrique VIII, foi encontrada uma lâmpada que vinha queimando num túmulo desde 300 anos antes.”
De acordo com os mistérios, tempo virá, no desenvolvimento espiritual do ser humano, em que o óleo misterioso que sobe lentamente pela espinha vertebral entrará afinal no terceiro ventrículo do cérebro onde se tornará em bela cor dourada e irradiará em todas as direções. Cristo Jesus conhecia este destino final do ser humano, pois dele são estas palavras: “agora não me podeis seguir, mas seguir-me-eis mais tarde”.
E já foi demostrado pelos nossos seres humanos de ciência que força maravilhosa permanece oculta no calor branco deste diminuto átomo de matéria física que nunca um olho humano viu: e o átomo físico possui a menor vibração de tudo que o espírito humano percebe no seu regresso à sua origem.
Não resta dúvida que existem vários graus na nossa manifestação. A substância de cada plano, acima do físico, torna-se muito mais sutil com o consequente aumento de poder. Assim, se a força no interior de um átomo de matéria física está além da compreensão da maioria dos seres humanos, que dizer da força inerente à substância do Mundo do Pensamento, que é o mais elevado dos quatro planos nos quais se processa a nossa evolução? Não nos faz isto hesitar, quando consideremos a absoluta falta de direção na maioria dos nossos pensamentos?
Podemos ver facilmente como a inabilidade de controlar os processos de pensamento resulta em geral atrair para as nossas vidas e nosso ambiente aquelas experiências que em oração pedimos para que não nos atinjam: má saúde, falta de sucesso, amigos desleais, desarmonias.
Não precisamos blasfemar contra um destino cruel; precisamos somente dirigir esta força por canais construtivos para mudarmos nosso destino.
Por analogia, torna-se cada vez mais aparente que o mundo da ciência, nas suas últimas pesquisas sobre a estrutura do átomo, confirma os milagres da Bíblia. Desses mesmos seres humanos de ciência aprendemos não somente que esta partícula infinitesimal de matéria, esta abrasadora de luz e calor, tendo elétrons girando em torno de seu centro com velocidade fantástica, como que as distâncias, neste minúsculo universo, são proporcionais às que se encontram na abóboda estrelada dos céus.
Lembram-se da história bíblica de como foram alimentadas as 5000 pessoas? Não se torna simples e compreensível agora, à luz da nova revelação da natureza de todas as coisas? Cristo Jesus, que sabia que todas as formas procediam da substância Única, que são, portanto, espírito cristalizado dominava todas as coisas de acordo com o santo propósito de Deus.
Agora poderemos compreender melhor porque o rosto de Moisés brilhava quando ele desceu da montanha, de modo que o povo baixava a cabeça de terror diante dele; e também como a face de Jesus tornou-se brilhante; como Elias foi arrebatado em um carro de fogo e trasladado do visível ao invisível por meio deste turbilhão de fogo que nunca destrói e que protegeu os três hebreus na fornalha ardente. Esta é a herança de todos os filhos de Deus que chegam à realização da sua Divindade.
Nossa compreensão da mensagem gloriosa e vital da Santa páscoa aumenta infinitamente quando contemplamos o significado oculto da ressurreição e da ascenção em termos desta energia incrível, inexaurível, incessante, que nós chamamos Luz.
Como é fácil, para um ser da estatura espiritual de Cristo, passar de um corpo de luz para outro na fase seguinte de existência, isto é a ressurreição e, quando as vibrações se tornam mais elevadas, ascende, sobe, desaparece da vista dos seres humanos mortais.
Não é, pois, o Cristo quem mostra o caminho para toda humanidade e não foi dito d’Ele: “Nele estava a Vida e a Vida era a Luz dos homens”?
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 06/73 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Renúncia: cumprindo nosso dever
“São doces os frutos do descanso que nos proporciona a libertação, mas ainda mais doces são os frutos que colhemos por termos cumprido o dever tedioso e amargo”.
O Homem deteve-se em frente do portal do Olvido da Terra; o primeiro dos sete portais do Céu: chamado Amor e Caridade. Levantou a mão para abrir a porta e titubeou reclinando-se sobre ela. Tinha vindo de muito longe. A porta entreabriu-se deixando a descoberto as maravilhas do Céu. Ali estava a perfeição tão ansiada!
Uma voz que surgiu de todos os lados falou, dizendo-lhe: “Nos mundos celestes, para se obterem as coisas basta só as desejas! Queres esquecer por completo o mundo dos homens?”. O homem meditou e disse: “Durante muito tempo ansiei esse olvido! Participei de todas as penas e alegrias do mundo”.
A voz disse-lhe: “Uma única condição te impõe o Céu: que só desejes os teus prazeres. Haverá no teu coração somente fome desses prazeres? Deixaste alguma sombra no caminho que acabas de percorrer?”.
O homem tardou em responder.
Falou pausadamente, como se a sua Mente estivesse singrando por dois caminhos. “Há muito tempo, disse, um sábio, na Terra, assegurou-me que nunca estaria sem um desejo. Compreendo agora que me disse a verdade.
Antes desejava ser um Mestre. Agora, que o sou, tenho um novo desejo: quero ser um servidor”.
No caminho que acabo de percorrer, passei por muitos. Uns estavam indecisos, outros perturbados, outros não podiam seguir porque estavam caídos. Devo regressar para ajudá-los.
“Só um servidor pode ser um verdadeiro Mestre”, disse-lhe a voz em tom tão doce que melhor parecera um sussurro.
“Em verdade te digo que és o meu filho amado e que em Ti estou comprazido. A compaixão é a Lei das Leis. Na sua essência universal encontra-se o amor eterno”. Abre as portas, meu filho, e conta as almas que há aqui”.
O homem olhou por longo tempo e não pôde ver uma só alma. Compreendeu que os Mestres, na sua compaixão, rejeitavam a bem-aventurança eterna enquanto houver no mundo um só ser que sofra e necessite de ajuda.
Compreendeu também que a Libertação nunca vem pela simples renúncia aos prazeres do mundo, mas sim aos prazeres do Céu.
A voz disse-lhe: “quando regressares ao mundo, meu filho, diz à Humanidade só uma verdade: que o conhecimento leva consigo a sua própria responsabilidade e aquele que o consegue deve servir mais. Porque assim como o conhecimento nos desperta a dor, é uma dor que termina ao começar”.
A mãe extenuada pelo trabalho ao parto descansa depois de ter dado à luz o seu filho; e suspirando cheia de felicidade, atrai para si a criaturinha e murmura: agora a vida será mais fácil.
Por cada Peregrino que renuncia aos prazeres no Céu, nasce um Salvador na Terra.
(Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross e publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 06/72 – Fraternidade Rosacruz –SP)
A Bondade tem que ser uma Força
Durante a nossa jornada de purificação, quando nos esforçamos por mudar seriamente de vida e tornar-nos cada vez melhores, corremos o risco de acabar parecendo tolos, dando ensejo a que pessoas mal avisadas interpretem nossa bondade, baseadas em seus próprios padrões, como sinal de fraqueza. Daí podem surgir situações difíceis que vão exigir tremendos esforços de nossa parte para que sejam corrigidos todos os enganos, e as coisas repostas em seus lugares. Na verdade, leva um bom tempo até que nosso esforço para ser melhores apareça revestido de sua própria verdade sob sua real aparência. Antes disso, há um longo caminho de burilamento interno para que se chegue a adquirir o aspecto de tranquilidade, paz e desprendimento real, que não poderá mais ser confundido com a aparência de uma pessoa tola e desavisada. Para isso, nossa “bondade” deve adquirir força em si mesma, criada não só pelos nossos bons propósitos, mas principalmente pelas nossas boas realizações.
O exemplo máximo de força encontramos em Cristo Jesus, que era bom, justo, honesto, manifestando todas as qualidades superiores que eram raras na humanidade de seu tempo. Essas qualidades eram fortes e se sobrepunham às iniquidades e fraquezas dos que o cercavam, fazendo-o amado por uns e temido por outros. E foi por temor a força dessas qualidades que o crucificaram. Mas embora fosse Cristo um enviado do Pai para sacrificar-se por nós, redimindo nossos erros pelo seu sangue derramado na cruz, é seu exemplo que temos de seguir, para que seja possível despertar a força que existe em nós, e que é Deus em nosso próprio íntimo.
Porque, só quando pudermos nos apoiar nessa força é que alguma coisa começará a dar frutos, no longo caminho de preparação que vimos trilhando. Esses frutos, porém, muitas vezes poderão parecer fugazes, como se a força conquistada em bem nos esteja fugindo, fazendo com que nos sintamos subitamente sós e desamparados.
Mas, embora isso aconteça, não será prova de que Deus nos abandonou e retirou de nós a sua força.
Pelo contrário: vem provar que Ele está ainda mais próximo, a ponto de nos permitir experimentar nossa própria solidão e nos fazer compreender e sentir que Ele é também essa solidão, que Ele também está no nosso desamparo.
Uma coisa é certa: nunca estamos sós. Deus está sempre presente, e é a nossa constância no Bem, nossa permanência na Verdade, que nos levará a sentir cada vez mais real a Presença Divina. Mesmo que a impressão dessa Presença mude, que já não se manifeste como apoio, como graça, como auxílio, mas como percalço, como dura experiência, mesmo assim, ela, é Presença, está ali cada vez mais perto e mais sutil; não como uma força externa, mas como Poder dentro de nós mesmos, como aquisição conquistada pela nossa própria permanência na fé. E esta deve ser a nossa maior esperança quando tivermos que colocar à prova a nossa bondade, num mundo que nem sempre encontraremos preparado para recebê-la.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 12/73 – fraternidade Rosacruz – SP)
O Sexto Sentido
Há seres humanos que possuem um “sexto sentido”! Na maior parte das vezes esse sentido se manifesta independentemente da vontade de quem ‘o possui (clarividência “negativa”). As manifestações mais comuns são as de previsão de desastres, mortes, incêndios, etc.
Bem conhecida é a visão do famoso Swedenborg, que, visitando uns amigos em Gotemburgo, Suécia, longe da sua cidade natal, começou subitamente, no meio de uma conversação, a dar vivos sinais de inquietação e de pavor. Retirou-se da sala várias vezes, nervoso, agitado, possuído de uma angústia horrorosa. Os amigos o contemplavam, temendo um acesso de loucura. Por fim Swedenborg resolveu-se a dizer o que via. Em sua terra natal, nesse momento, um grande incêndio irrompera. O fogo tomava proporções fantásticas! Ameaçava sua casa! Ele respirava ofegante, com o suor a escorrer pela testa e o rosto convulso.
Passou-se algum tempo. A sua expressão facial foi serenando, e mostrou uma expressão consolada enquanto contava que a sua casa estivera em perigo, mas felizmente o fogo tinha sido detido, duas casas antes de ter chegado à sua.
Todos julgaram que aquilo não passara de uma alucinação. Continuaram a se divertir, sem se preocuparem mais com as visões de Swedenborg. Três dias depois chegava a comunicação (naquela época as comunicações eram difíceis) do pavoroso incêndio previsto pelo visionário.
O “sexto-sentido” é na verdade uma coisa plenamente admitida hoje em dia, embora a sua exploração científica esteja ainda em sua fase primária. Casos como o que relatamos, de visões de imortal, confirmados por notícias posteriores, são comuns. Existe um caso em que foram postas duas casas no seguro, em virtude visões semelhantes. Quando as casas foram destruídas a companhia de seguros moveu um processo contra o clarividente segurado, afirmando que o incêndio fora criminoso.
Desse modo as faculdades visionárias de certas pessoas têm sido comprovadas por autoridades policiais e jurídicas.
(Max Heindel – Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 09/72 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Faça-se a Tua Vontade
Em todos os tempos existiram pessoas que procuravam conseguir as suas coisas materiais através das religiões. Hoje em dia, ainda é grande o número delas que chega a se filiar a esta ou àquela entidade religiosa, com o principal objetivo de conseguir emprego, casamento, moradia, saúde e todas as demais necessidades, sem falar naquelas que usam a religião para fazer mal aos outros.
Toda oração bem-intencionada é válida. O abuso ou o pedido mal encaminhado é que constitui o grande perigo.
Porque, além da pessoa estar se expondo a tornar-se presa de forças que desconhece, seus pedidos mal feitos ou feitos com forçada intensidade, poderão trazer consequências desagradáveis e até funestas.
Não há nenhum exagero no que ensina a Filosofia Rosacruz, especialmente no Ritual de Cura, que todo o pedido encaminhado diretamente a Deus, deve ser enfeixado com estas palavras: “Mas faça-se, Senhor, a Tua Vontade e não a minha”.
Esta forma de pedir, aliás, não diminui o valor do pedido, como poderão pensar algumas pessoas. Pelo contrário, até orienta os resultados para que cheguem ao destino de maneira correta, sem nenhum prejuízo. E mesmo que as coisas não aconteçam exatamente como se pediu, podemos ficar tranquilos que o que vier, será a resposta certa do Pai. Mesmo porque, se não usarmos aquela afirmação no final da oração, a responsabilidade de atingir, bem ou mal, este ou aquele desejo, fica por nossa conta. Porque, às vezes, para que se cumpra com exatidão o nosso pedido, poderá haver alguma exigência, alguma necessidade de acomodação que, por seu turno, vai recair em algum sacrifício, a fim de que se chegue ao merecimento do que se quer. Daí, ao transferirmos ao Pai a responsabilidade total no atendimento dos nossos pedidos, ficarmos isentos de qualquer necessidade de acerto em nossos valores.
Às vezes, o pedido feito indiscriminadamente não leva a necessária preocupação em saber se temos, ou não, merecimento da dádiva de Deus. Se pensarmos, mesmo, só nos nossos desejos, talvez nem imaginamos se não será preciso, primeiro, fazer alguns ajustes em nós mesmos, em nosso temperamento, em nosso modo de vida, em nossos contatos com as outras pessoas, enfim, em muitos outros assuntos de vital importância para que Deus possa atender-nos conforme a nossa vontade.
Além do mais, passando para Deus a responsabilidade do acerto estamos cumprindo um ato de fé, pois confiando n’Ele e na Sua Sabedoria estamos acreditando que só Ele, que tudo vê, poderá dar-nos justamente aquilo que é para nós, que será melhor para a nossa vida e o nosso destino divino.
Então, mesmo que muitas vezes a solução pareça demorada e se passem semanas, meses e até anos para que se cumpra o pedido podemos estar seguros de que quando vier será exatamente aquilo que merecemos, além de ter chegado na hora exata, no momento adequado. Nós mesmos, alguma vez podemos ter comprovado que certas coisas que pedimos cegamente e não as conseguimos logo, não teriam dado certo se tivessem vindo antes da hora em que vieram, como aliás, pretendíamos que ocorresse. É que Deus, para tornar possível a nossa aquisição, esteve o tempo todo acertando os ponteiros do nosso relógio, acomodando certas coisas em torno de nós, inspirando-nos talvez a correção de alguns defeitos ou acertando outras coisas dependentes de nós mesmos para que o ambiente se ajustasse à realização perfeita do pedido, sem choques nem desarmonias.
E há, também, um particular nesta questão de pedidos: quando a pessoa vai ter necessidade de receber alguma coisa, ou melhor, quando vai chegar ao ponto de merecer alguma dádiva material ou espiritual, ela própria irá se condicionando a querer aquilo, mesmo que, talvez durante muito tempo antes, se tivesse negado, a si mesma, esse desejo, achando subconscientemente que não o merecia.
O próprio merecimento amadurece o momento, encaminhando as pessoas e preparando-as para receberem tudo aquilo que lhes está reservado pelo destino. Em suma: as pessoas, não raro, começam a querer aquilo que finalmente chegaram à condição de receber.
Por isso, jamais devemos fazer as nossas solicitações com data marcada nem com insistência. Sejamos humildes em nossos pedidos, entregando sempre diretamente a Deus a solução de todos os nossos problemas. Porque aqueles que forçam situações, muitas vezes até acendendo velas e impondo pedidos a entidades, sejam de terreiro ou mesmo dentro do catolicismo, para as almas do purgatório, por exemplo, estão se expondo a receber, no futuro, talvez até depois da morte – a cobrança das suas imposições. Porque as almas do purgatório nada mais são do que espíritos sofredores, atrasados que estão cumprindo pena de seus próprios erros, e que, na sua ignorância e limitações fazem qualquer negócio para saírem da situação em que se encontram, acreditando que as velas em sua intenção poderão abrir portas, cuja abertura, na verdade está dependendo da exposição dos erros de cada um.
Assim, antes de fazermos qualquer pedido por nós ou por outrem, abaixemos a cabeça com humildade, expondo a Deus os nossos problemas, dizendo-Lhe tudo o que desejaríamos, mas colocando, no fim, toda a solução em Suas Mãos. Porque, além d’Ele nos conhecer melhor do que nós mesmos, e só Ele saber das nossas reais necessidades, se assumirmos sozinhos toda a responsabilidade do pedido – como já foi dito – estaremos nos arriscando a sofrer, na pele, a falta dos ajustes necessários, provavelmente até sendo obrigados a passar algumas dificuldades, sofrer alguma perda, ou enfrentar desarmonias no lar, no trabalho ou seja onde for, para que a situação consiga equilibrar-se, colocando-nos à altura de receber o que tanto desejávamos antes sem estar preparados pelo merecimento.
Seja, pois, o nosso modo de orar, correto, finalizando sempre as nossas petições com a frase salvadora: “Apesar de tudo, Pai, faça-se a Tua vontade e não a minha”.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)