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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Símbolos e Emblemas: qual a diferença entre eles e para que servem

Em todas as atividades filosóficas religiosas aparecem, frequentemente, os símbolos. O esoterista conhece um bom número deles e, por isso, pode interpretar logicamente os mitos. O Cristão esoterista sabe que a Bíblia não é um “livro aberto”. Ao contrário, é um compêndio riquíssimo, composto pelos Anjos do Destino, com tal Sabedoria que pode ser interpretada validamente por muitos modos. Podemos fazer uma ideia disso, pela citação de S. Paulo apóstolo, em uma de suas Epístolas: “a história de Sara e Agar é simbólica[1]. “Cristo-Jesus dizia falar por meio de parábolas, a fim de que, ouvindo-o, não o entendessem”. Em outra passagem, S. Paulo, pedagogicamente, afirma: “aos pequeninos na doutrina damos leite; aos adultos, alimento sólido[2]. Pelo exposto vemos que os livros mais profundos se constituem de “chaves” ou “mistérios” que vão sendo desvelados pelos seres humanos, na medida de sua iluminação interna.

Realmente, todas as coisas criadas devem ser consideradas de um duplo ponto de vista: espiritual e material. O Cristão-cientista leva evidente vantagem na compreensão de tudo, porque tem essa visão global. Ele sabe que o plano espiritual é o mundo das causas e o material, o dos efeitos. A visão do materialista é parcial e defeituosa, sendo amiúde induzido a erros. Também o Cristão místico muitas vezes se engana, porque dedica pouca atenção às leis da matéria. O ideal é a fusão da Ciência, Religião e Arte, ensinada pela Fraternidade Rosacruz e conducente a uma compreensão integral, una, coerente, dos aspectos externo e interno, do micro e do macrocosmo.

Que os Mundos espirituais são os das causas e o Mundo material, o dos efeitos, não há dúvida. Podemos comprová-lo a cada passo. O ser humano, racional que é, nada faz que não seja precedido pelo pensamento, pelo planejamento. Tudo o que existe ao nosso redor nasceu primeiramente de um pensamento, que era invisível a todos, menos a seu criador. O início do Evangelho de S. João, o mais profundo e misterioso dos quatro, afirma que “tudo nasceu do Verbo[3] e tudo o que vemos manifesto, inclusive nós, é carne provinda do Verbo.

No mundo mental, a Hierarquia Zodiacal de Sagitário, os Senhores da Mente, já em estado criador são os responsáveis pela formação dos quatro Reinos em evolução. Eles nos deram o germe da Mente e nos ajudam a desenvolvê-la. Nesse plano, consideram nossa evolução e Epigênese admitindo nossa interferência na formação de nossos futuros corpos e do ambiente em que vamos renascer, quando ainda estamos na vida antenatal.

De cada coisa criada – nossos veículos, os de um determinado animal, vegetal, um continente – há naquele plano mental um molde vivente, chamado Arquétipo, que é a origem vibratória que modela e sustenta as coisas manifestadas. Tais Arquétipos têm, cada um, determinado tempo de vibração, durante o qual a forma se mantém. Vencido esse prazo, deixa de vibrar e a forma se desfaz, porque a energia que a mantinha coesa se afasta, voltando à sua origem para formação de novos Arquétipos. É a morte física. Fica, todavia, na Memória da Natureza, uma gravação da forma criada, permitindo que, em qualquer tempo futuro, um Iniciado de quarto grau, como foi Max Heindel, possa verificar, na Região arquetípica do Mundo do Pensamento, os sucessos do passado, tais como foram e não como a história os relata.

Muitas vezes ocorre que uma coisa criada seja a combinação de vários Arquétipos. E muitas vezes um Arquétipo é modificado para que a forma, neste Mundo material, também o seja. É o caso, por exemplo, de certa região que sofra modificações, em virtude de uma erupção vulcânica. É o caso de todas as mudanças havidas através dos tempos no globo terrestre. Mas, as modificações, primeiramente, ocorrem no plano mental e depois no físico. É o mesmo que um indivíduo que, anos após haver construído sua casa, faz uma reforma e a modifica. Para isso ele modificou o primeiro planejamento, em sua Mente, atendendo a certas conveniências. Isso nos mostra como realmente “o que é em cima é como o que está embaixo”.

Esse preâmbulo é importante fundamento para o tema que nos propomos, sobre símbolos e emblemas.

Que é um símbolo? É a representação de uma verdade espiritual. É bem diferente de emblema.

Que é um emblema? É a combinação de certas ideias e coisas, de um ponto de vista material ou filosófico.

Nesta época de conquistas espaciais tem se falado como poderíamos fazer-nos compreender por habitantes de outros Astros ou de outros Sistemas Solares. Pois nós respondemos: através dos símbolos. Se projetarmos, por exemplo, um triângulo perfeito, damos imediatamente, a qualquer ser racional, deste ou de outros Sistemas Solares, a ideia de uma trindade em um. E por que entenderão? Porque somos todos, nós e eles, essencialmente Espíritos e o íntimo nos revela a significação do símbolo, não importa quão diferente seja nosso exterior do deles. Já o emblema, não; ele é o resultado do mundo fenomênico. Um brasão que represente um município, combinando ideias e coisas caracterizadoras dessa região, nada ou pouco dirá a um habitante de terras distantes, necessitando ser interpretado.

É verdade que também o símbolo, para ser compreendido com certa profundidade, deverá ser interpretado por pessoa competente. Mas, os significados do símbolo encontram eco em nosso interior, provocam certas vivências internas, reações espirituais, porque nosso íntimo reconhece algo familiar, que está sendo gravado em nossa persona ou natureza humana. O emblema já não provoca essa correspondência interna. No máximo, atende a certa correlação lógica de coisas e fatos. Às vezes, nem isso, como é o caso da pintura moderna, em que as representações exprimem uma indefinida vivência de seu criador.

A cruz é um símbolo. Ela corresponde a um conjunto de Arquétipos e de verdades pré-existentes. O madeiro inferior, partindo de baixo para cima, é uma expressão do reino de vida vegetal, porque as forças vitais mantenedoras do reino vegetal se exteriorizam, de dentro do Globo para a periferia, das raízes para as copas. O madeiro horizontal simboliza o Reino de vida animal, porque as forças espirituais mantenedoras desse Reino transitam pela superfície da Terra, passando pela espinha dorsal dos animais. Nenhum deles, por isso, pode manter-se durante muito tempo em posição vertical, pois morreria por falta desse influxo do Espírito-Grupo. O madeiro superior corresponde ao Reino de vida humano, porque as forças espirituais que se infundem em nós, vêm de cima para baixo. Assim, a cruz, fixada no solo mineral, é um conjunto de Arquétipos correspondentes aos quatro Reinos atualmente em evolução na Terra. Representa, igualmente, o conjunto instrumental do ser humano, a série de Corpos pelos quais atualmente se expressa: o Corpo Denso (o solo em que se fixa a cruz, o mundo em que evolucionam os elementos de que ele se formou), o Corpo Vital (o madeiro inferior, a capacidade etérica de metabolismo, procriação, capacidade sensorial, calor e circulação sanguíneos, memória), o Corpo de Desejos ou emocional (madeiro horizontal, capacidade de movimento, instintos, desejos e emoções) e veículo Mente (madeiro superior, laringe em vertical, influxo espiritual de cima para baixo, capacidade racional).

Dentre os materiais que Max Heindel recebeu dos Irmãos Maiores, para fundação da Fraternidade Rosacruz, está o símbolo da Cruz e das Rosas. Consiste numa Cruz trilobada e branca sobreposta a uma Estrela Dourada de cinco pontas. No centro da Cruz há uma rosa branca, rodeada por uma quase coroa de sete rosas vermelhas.

Já vimos o simbolismo da Cruz. É uma realidade arquetípica ter uma correspondência no Mundo do Pensamento Concreto. A cruz representa a cadeia completa de veículos pelos quais se expressa o gênero humano. Representa, igualmente, os quatro Reinos em evolução na Terra. As razões já foram explicadas.

As rosas simbolizam os Centros sensoriais do Corpo de Desejos, os pontos de percepção que devem ser despertados em nosso Corpo de Desejos. São faculdades latentes adormecidas, cujo despertar corresponde ao desabrochar das rosas das virtudes. O ser humano é uma planta invertida. A planta recebe o alimento pelas raízes e o encaminha para cima. O ser humano o toma em cima, pela boca, e o dirige para baixo. Os órgãos geradores da planta são a flor, coisa bela que deleita a quem a vê; que inspira o artista. A geração é feita castamente, sem paixão. O ser humano tem seus órgãos geradores em baixo e os esconde com vergonha. Seu ato gerador é mesclado de paixão. Desse modo, a flor simboliza um ideal de pureza que o ser humano deve alcançar um dia, quando haja sublimado seus instintos e dirija a força sexual criadora à cabeça, para despertar os dois centros sensoriais situados no crâneo.

Surge, então, a Clarividência, a iluminação, e a cabeça se converte numa auréola de luz, cuja haste etérica desce pela laringe, como autêntica flor espiritual. Nos trabalhos da Fraternidade Rosacruz, o Oficiante (o Estudante Rosacruz que está oficiando o Ritual do Serviço Devocional) sempre se dirige aos presentes com a saudação “que as rosas floresçam em vossa cruz”. É o desejo que ele expressa de que essa iluminação interna se realize em cada Aspirante à vida superior. Os ouvintes retribuem dizendo: “E na vossa também!”. As rosas são vermelhas, não o vermelho da paixão do sangue venoso, senão a expressão de energia pura. A rosa branca do centro é a súmula, a síntese das cores, o símbolo da Unidade de nossas virtudes.

Quando Max Heindel concebeu esse símbolo sob orientação dos Irmãos Maiores, sendo um Iniciado que havia atingido a Região Arquetípica do Mundo do Pensamento Concreto, sabia que ele correspondia a uma realidade espiritual com força interna para suscitar, no íntimo de quem o vê, uma mensagem de regeneração, um convite à elevação, algo que faz bem a nossa Alma. Não deve, pois, ser alterado em nenhum de seus detalhes, porque a forma mental de um emblema (pois não seria um símbolo) semelhante seria atraída ao Arquétipo verdadeiro, pela similitude vibratória da forma, provocando desarmonias no ideal de quem o criou.

Pelo exposto podemos compreender que os verdadeiros símbolos têm raiz espiritual e só podem ser transmitidos por um Iniciado. Aquilo que os neófitos criam para representar a mensagem que desejam transmitir a seus companheiros é apenas emblema, sem força de gerar em nossa alma os impulsos vibratórios induzidos dos Mundos internos. É por isso que os Evangelhos dizem: “Não temos outra autoridade senão a que recebemos dos céus; não precisamos combater nada; o que vem de Deus subsiste; o que vem do ser humano, logo passa”. “Mas, buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6; 33).

Dessa fonte interna, quando começa a jorrar, é que provém a inspiração, a intuição, o magnetismo que atrai o poder de comunicar a ideia, a capacidade de congregar seres humanos e esforços.

A força comunicada pelos símbolos é que tem eternizado o Cristianismo. A força da Religião antiga judaica, transmitida por Moisés, igualmente residia nas coisas ocultas. O Tabernáculo no Deserto com suas dimensões, formas e finalidades era um símbolo do universo, do mundo e do ser humano. Por isso ainda se conserva o Antigo Testamento, que, junto ao Novo Testamento, constitui o mais completo documento evolucionário jamais dado à Humanidade.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – junho/1968 – Fraternidade Rosacruz – SP)


[1] N.R.: Gl 4:24

[2] N.R.: ICor 3:1-3

[3] N.R.: Jo 1:1

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