Auxiliares Invisíveis e Médiuns
Há duas classes de pessoas no mundo. Uma delas possui os Corpos Denso e Vital tão fortemente conectados que seus Éteres não podem ser extraídos em nenhuma circunstância, permanecendo sempre com o Corpo Denso, em todas as condições, desde o nascimento até a morte. Tais pessoas são insensíveis a qualquer manifestação supersensitiva da visão ou audição e, por isso, geralmente são excessivamente céticas, não acreditando que exista algo além daquilo que possam ver.
Há outra classe de pessoas, nas quais a conexão entre os Corpos Denso e Vital é frouxa, em menor ou maior intensidade, de forma que o Éter dos seus Corpos Vitais vibra a uma velocidade maior do que no primeiro grupo mencionado. Essas pessoas, portanto, são sensitivas em maior ou menor grau para o mundo espiritual.
Podemos dividir novamente essa classe de sensitivos. Alguns são caracteres débeis, dominados pela vontade dos outros de forma passiva, tais como os médiuns que são presas de espíritos desencarnados e desejosos de obter um Corpo Denso, depois que perderam seus próprios Corpos pela morte.
A outra classe de sensitivos são caracteres fortes, ativos, que agem unicamente por seu foro íntimo, de acordo com sua própria vontade. Eles podem se desenvolver e tornar-se clarividentes práticos, sendo seus próprios senhores, em vez de escravos de um espírito desencarnado. De alguns sensitivos de ambas as classes é possível extrair uma parte do Éter que forma o Corpo Vital. Quando um espírito sem Corpo Denso obtém um paciente dessa natureza, desenvolve-o como “médium de materialização”. O ser humano capaz de sair com o seu próprio Corpo Vital por um ato de vontade converte-se em um cidadão de dois mundos, independente e livre. Esse é conhecido frequentemente como “Auxiliar Invisível”. Há outras condições anormais nas quais o Corpo Vital é separado, total ou parcialmente, do Corpo Denso, como por exemplo quando colocamos uma perna em posição incômoda, de maneira a obstar a circulação do sangue. Nesse caso, podemos ver a perna etérica pendurada embaixo do membro visível, como uma meia. Quando a circulação se restabelece e o membro etérico procura voltar à sua posição, notamos uma intensa sensação de formigamento; isso ocorre devido ao fato de as pequenas correntes de força, que todos os átomos irradiam através do Éter, tentarem interpenetrar as moléculas da perna e estimulá-las novamente à vibração. Quando uma pessoa está se afogando, o Corpo Vital também se separa do Denso e a dolorosa, a intensa sensação do formigamento causada pelo reavivamento também é devida à causa antes mencionada.
Enquanto estamos em estado de vigília, continuando nosso trabalho no Mundo Físico, o Corpo de Desejos e a Mente interpenetram ambos: o Corpo Denso e o Corpo Vital, estabelecendo-se uma luta constante entre a natureza de desejos e o Corpo Vital. O Corpo Vital está continuamente ocupado na construção do organismo humano, enquanto os impulsos do Corpo de Desejos tendem a cansar e desgastar os tecidos físicos. Gradualmente, no decorrer do dia, o Corpo Vital perde terreno diante dos ataques do Corpo de Desejos. Pouco a pouco, acumulam-se os venenos da deterioração e o fluxo da força Vital se torna cada vez mais vagaroso, até que, por fim, somos incapazes de mover os músculos. Então o Corpo sente-se pesado e exausto. Afinal, o Corpo Vital sofre um colapso, por assim dizer: as diminutas correntes de força que penetram cada átomo parecem se encolher e o Ego é forçado a abandonar seu Corpo às forças restauradoras do sono.
Quando um edifício foi mal conservado, tendo que sofrer uma severa reparação, os inquilinos devem mudar-se para permitir que os operários tenham o campo livre. O mesmo ocorre quando o edifício de um espírito se tornou impróprio para seu uso ulterior: deve-se sair dele. Como foi o Corpo de Desejos que produziu os danos, é lógico concluir que ele também deva se retirar. Todas as noites, depois que nosso Corpo ficou cansado, os veículos superiores se retiram, ficando sobre o leito unicamente o Corpo Denso e o Corpo Vital. Começa então o processo de restauração, que dura mais tempo ou menos, de acordo com as circunstâncias.
Há ocasiões, não obstante, nas quais o predomínio do Corpo de Desejos sobre nossos veículos mais densos é tão forte que ele se recusa a abandoná-los. Ficou tão interessado nos acontecimentos do dia que continua ruminando sobre eles depois do colapso do Corpo Denso, retirando-se apenas parcialmente. Nesse caso, pode transmitir visões e sons do Mundo do Desejo ao cérebro; contudo, como as ligações nessas condições estão naturalmente desajustadas, disso resultam os sonhos mais confusos. Além disso, como o Corpo de Desejos impele à ação, o Corpo Denso é muito possivelmente sacudido quando o Corpo de Desejos não se retira por completo. Daí os sonos sobressaltados que geralmente acompanham os sonhos de natureza confusa.
Existem realmente ocasiões nas quais os sonhos são proféticos e se realizam; mas surgem apenas depois de uma completa retirada do Corpo de Desejos, sob circunstâncias especiais em que o espírito tenha, por exemplo, notado algum perigo em vias de se manifestar e, então, imprime o fato no cérebro, “no momento do despertar”.
Pode também acontecer que o espírito se afaste num voo anímico e se esqueça de realizar o trabalho de restauração que lhe compete. Então o Corpo não estará em condições de ser ocupado pela manhã, continuando assim adormecido. O espírito pode ficar ao seu redor durante vários dias, ou até semanas, antes de penetrá-lo novamente e assumir a rotina normal entre a vigília e o sono. Essa condição é chamada de transe e o espírito, ao regressar, pode se lembrar do que viu e ouviu nos Planos suprafísicos, podendo também esquecê-lo, conforme o seu estado de desenvolvimento e a profundidade do estado de transe. Quando o transe é muito leve, o espírito geralmente permanece durante todo o tempo no quarto onde seu Corpo descansa e, ao voltar, pode contar aos seus familiares tudo o que disseram ou fizeram enquanto seu Corpo permanecia inconsciente. Quando é mais profundo, ao voltar o espírito geralmente está inconsciente do que ocorreu ao redor do seu Corpo, mas pode relatar experiências obtidas no Mundo invisível.
Há alguns anos, uma menina chamada Florence Bennett, de Kankakee, Estado de Ilinois, caiu num transe dessa espécie. Voltava ao seu Corpo depois de alguns dias, mas permanecia somente por poucas horas. O fenômeno durou aproximadamente três semanas. Durante as voltas ao Corpo, ela dizia aos seus parentes que em sua ausência ela parecia estar em um lugar habitado por todas as pessoas que morreram. No entanto, afirmava que nenhuma delas falava sobre ter morrido e nenhuma parecia estar ciente de estar morta. Entre as pessoas que via estava um maquinista de trem, morto em um acidente. Seu Corpo havia sido mutilado no acidente. A menina o via lá, andando sem os braços e com lesões na cabeça. Tudo isso está de acordo com os fatos observados pelos investigadores místicos. Pessoas feridas em acidentes continuam aparentemente na mesma situação até aprenderem que com um simples desejo de voltar a ter seu Corpo completo poderão obter um novo braço ou perna, pois a substância de desejos é rapidamente modelada pelo pensamento.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1975)
PERGUNTA: Sei que a Fraternidade Rosacruz desaconselha a mediunidade e li a explicação do por que ela é indesejável e até mesmo perigosa. Contudo em vista do número crescente de livros que dão conta dos auxílios de variada espécie proporcionados através de médiuns, surgiu a questão de que se existe a possibilidade de a mediunidade ser justificada em virtude das valiosas informações dadas periodicamente. Parece que foram salvas vidas e têm sido reveladas muitas informações cientificas através da instrumentalidade dos médiuns. Acaso o “bem” que isso está acarretando equilibraria o mal ao médium?
RESPOSTA: Embora afirme conhecer a literatura da Fraternidade Rosacruz explicativa do porquê consideramos a mediunidade perigosa para sermos úteis a alguns de nossos leitores que podem não compreender sua real natureza, mencionamos em primeiro lugar os fatos básicos concernentes.
Além do Corpo Denso (o físico) e visível que se utiliza aqui nesse Mundo, objetivando finalidades materiais, o ser humano tem um Corpo Vital, composto de Éter, um Corpo de Desejos e um veículo Mente. O Espírito ou Ego individualizado vive nesses veículos interpenetrados e os utiliza a fim de haurir experiência na escola da vida.
No estado de vigília, o Corpo Denso e o Corpo Vital (o último interpenetrando e estendendo-se por uns 3 centímetros além do primeiro) são cercados e interpenetrados pela nuvem ovalada compreendendo o Corpo de Desejos e a Mente. Estes veículos são concêntricos e se interpolam de forma que os centros sensoriais não se acham em alinhamento com os centros sensoriais do outro, fazendo com que o Ego possa manipular o complexo organismo e desempenhar de modo ordenado os processos da vida a que chamamos de razão, elocução e ação.
Quando o Corpo Denso adormece, há uma separação dos veículos. O Ego e a Mente, encerrados no Corpo de Desejos, saem do Corpo Vital e do Corpo Denso. Os dois últimos permanecem no leito, enquanto os veículos superiores revoluteiam acima ou próximo do corpo adormecido, a ele ligados pelo Cordão Prateado. O processo de restauração começa um pouco depois. Nos casos normais, o Corpo de Desejos (tendo sido harmonizado no Mundo do Desejo) bombeia ritmicamente energia ao Corpo Vital e esse, por sua vez, começa a trabalhar sobre o Corpo Denso, eliminando os produtos deletérios, principalmente por meio do sistema nervoso simpático. Resulta que o Corpo Denso fica restaurado e abundante de vida, quando o Corpo de Desejos, a Mente e o Ego reentram pela manhã e fazem-no despertar.
Na morte, ocorre separação entre os corpos, idêntica à do sono. Os assim chamados mortos, têm Ego, Mente e Corpo de Desejos e, muitas vezes, ficam cônscios, durante algum tempo após a morte, do Mundo material por eles deixado. Alguns apegam-se à vida terrena e não podem levar suas Mentes a aprender suas novas lições. São chamados de “Espíritos apegados à Terra”. Não funcionam no Mundo visível sem um corpo; entretanto, desse modo utilizam-se dos seres viventes, cujos Corpos Denso e Vital estão estreitamente ligados. Todos Espíritos não estão confinados com igual intimidade à prisão do corpo. Durante as Épocas Lemúrica e Atlante o ser humano foi um Clarividente involuntário e foi a tênue ligação entre os Corpos Denso e Vital que o tornou assim.
Desde então o Corpo Vital tornou-se muito firmemente entrelaçado com o Corpo Denso na maioria das pessoas; em todos os sensitivos, porém, há uma certa frouxidão. Essa frouxidão constitui a diferença entre a pessoa psíquica e a comum, inconsciente de tudo, menos as vibrações postas em contato pelos cinco sentidos.
Há, destarte, duas classes de sensitivos: aqueles que não se tornaram firmemente enredados na matéria e os que se acham na vanguarda da evolução.
Os últimos estão emergindo do nadir da materialidade e acham-se, novamente, divididos em duas classes, uma das quais desenvolve-se de modo passivo, isto é, os de volição fraca. Com a ajuda dos outros eles despertam o “plexo solar” ou outros órgãos em conexão com o sistema nervoso involuntário. São, portanto, Clarividentes involuntários, médiuns, que não dominam suas faculdades. Eles retrogradaram. São presas dos “Espíritos apegados à Terra” que constituem a si mesmos “Espíritos-Guia”. Esses transformam suas vítimas em “médiuns de transe” ou em médiuns de materializações.
A outra espécie é constituída por aqueles que, por suas próprias vontades, revelam as forças vibratórias dos órgãos ora conectados ao sistema nervoso voluntário, tornando-se assim ocultistas treinados, controlando os seus próprios corpos e exercendo a faculdade clarividente à medida em que desejam assim fazer. Estes são chamados Clarividentes voluntários ou treinados.
Vemos, desse modo, que um médium é um Clarividente negativo ou involuntário, possuindo os Corpos Denso e Vital ligados frouxamente e sob o controle de um Espírito no Mundo do Desejo.
No caso de um médium de transe todas as suas experiências ocorrem enquanto o Corpo Denso (físico) se acha em transe. Acontece que é o Ego envolto na Mente e no Corpo de Desejos que deixa para trás um Corpo Denso, sucedendo então a mesma separação, como num sono comum sem sonhos com a diferença, porém, de que o Corpo Denso não é deixado inabitado, sobre o leito. O controle do Espírito comumente adentra no Corpo Denso do médium, tomando posse dele e utilizando-o à sua vontade e, muitas vezes, em grande detrimento de sua vítima. Não podemos assinalar às pessoas, com a ênfase devida, o quanto este Corpo Denso é o nosso instrumento mais valioso, de forma a constituir-se num erro gravíssimo, deixa-lo à mercê de um hipnólogo ou de um espírito controlador.
Infelizmente, à grande maioria dos médiuns não se apercebe de que se acha em perigo. São eles, particularmente, inconscientes do enorme inconveniente que os ameaça após à morte. O Corpo de Desejos pode, então, ser apropriado pelo espírito controlador, como se mencionou anteriormente. Caso tentem deter a influência do espírito controlador, enquanto ainda permanece no corpo, apercebem-se de que a entidade os possui de modo extraordinariamente forte, num controle muito difícil de romper, sendo que os mesmos devem compreender que, naturalmente, quando a morte os leva ao mesmo mundo, juntamente com esses controles, o perigo será ainda maior.
Agora, respondendo à sua pergunta específica: não, não achamos que o “bem” que possa resultar da mediunidade contrabalance o mal acarretado ao médium. Todo “bem” que for praticado por uma pessoa, certamente redunda a seu favor, espiritualmente falando, mas isso não afasta os resultados indesejáveis do rompimento das Leis da Natureza. Se uma pessoa coloca sua mão numa fogueira, a fim de salvar um determinado objeto, poderá o mesmo ser salvo, mas a mão ficará queimada. Não pensamos ser ato de sabedoria o recorrer à mediunidade, a fim de obtermos informações ou “provarmos” uma questão controvertida — ou por qualquer outra razão – lamentamos verificar que existem numerosos livros comuns, que parecem apoiar a mediunidade, minimizando ou ignorando os seus perigos e exagerando os seus benefícios aparentes.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – maio/70)