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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Jardins Mágicos

Este livro temos uma representação simbólica da comunhão angelical com o ser humano por meio de flores.

Já no Prelúdio vemos uma descrição de como é a relação entre os Anjos, os Espíritos-Grupo de todo Reino Vegetal, e as flores.

1. Para fazer download ou imprimir (e ter acesso as figuras, que muito ajudam na compreensão):

Livro: Os Jardins Mágicos-Corinne Heline

2. Para estudar no próprio site:

OS JARDINS MÁGICOS

Por

Corinne Heline

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Traduzido e Revisado de acordo com:

3ª Edição em Inglês, Magic Gardens – 1971 – editada por The Rosicrucian Fellowship

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

DEDICATÓRIA

Dedicado à

MAX HEINDEL

cuja

apreciação

e encorajamento foram

os maiores responsáveis pela

geração dessa páginas.

Na Terra das Flores os sussurros do

céu podem se tornar audíveis para crianças;

pois também as hostes celestes

têm um jeito de “dizer isso com as flores”.

ÍNDICE

DEDICATÓRIA.. 3

PRELÚDIO – O Senhor Deus plantou um Jardim.. 8

O JARDIM DA ALMA.. 11

A FLOR DA PAZ – A Lenda do Jasmim.. 15

A ANÊMONA – A Alma dos Ventos. 18

O IDÍLIO DE NARCISO – Um Prelúdio para Aquelas que esperam ser Mamães. 21

A LEMBRANÇA DA ALMA – A Lenda do Alecrim.. 31

UMA DIVINA AVENTURA COM UM NARCISO E O MAR.. 35

UMA LENDA DO HELIOTRÓPIO.. 37

O AMARANTO DOURADO.. 40

SINOS ASTRAIS – O Ministério da Fúcsia. 42

UM CALENDÁRIO FLORAL – A Lenda da Poinsétia. 45

UMA MENSAGEM DE AMOR – Como Cresceu a Violeta Branca. 50

ALMAS-JUVENIs – A Mensagem do Amor-Perfeito. 53

AS FLORES DE ACÁCIA.. 58

O AMOR NASCIDO DA DOR – A Lenda da Flor da Paixão. 62

UMA SINFONIA DE LÍRIOS. 65

A CATEDRAL DA NOITE.. 68

O CAMINHO DAS TREVAS – O Cereus que Floresce à Noite. 80

A LUZ DOURADA – Uma Lenda da Goldenrod. 83

A MISSÃO DA PAPOULA – Uma Folha do Coração da Noite. 87

VALE DAS LÁGRIMAS – Como Surgiu o Salgueiro Chorão. 92

IDEIAIS PERDIDOS – A Canção de uma Calçada da Cidade para uma Flor Destruída. 95

IMORTELLE – A Flor da Alma. 99

A COROA DA MATERNIDADE – O Lírio do Vale. 102

SACRIFÍCIO E SERVIÇO – Uma Lenda do Visco. 105

A ETERNA ROSA BRANCA – Uma Lenda da Noite Santa. 108

O carvalho falante

para o ancião falou,

mas qualquer árvore

me falará

sobre as verdades

que eu sei que conquistei.

Mas aqueles que querem falar e contar,

e aqueles que não querem ser ouvintes,

nunca ouvirão uma sílaba

dos lábios de nenhuma árvore.

         – Mary Carolyn Davies

         PRELÚDIOO Senhor Deus plantou um Jardim

O Senhor Deus plantou um jardim

Nos primeiros dias claros do mundo,

E ele colocou lá um anjo guardião

Em uma vestimenta de luz desfraldada.

O beijo do sol para o perdão,

O canto dos pássaros para o júbilo,

Alguém está mais perto do coração de Deus em um jardim

Do que em qualquer outro lugar da Terra.

 Por Dorothy Frances Gurney

Cada flor carrega uma marca Estrelada, declarou o clarividente iluminado, Paracelso. Do Zodíaco veem os verdadeiros segredos de Deus. Os Anjos Estrelares são os transmissores e as flores se tornam símbolos de suas comunicações. Quanto mais próxima for nossa comunhão com os Anjos, mais profundo será o nosso entendimento dos mistérios do Reino vegetal e maior será a nossa compreensão do ministério espiritual do mundo das flores.

Cada uma das Hierarquias Zodiacais cria seus próprios padrões de flores cósmicas nos reinos celestes. Esses padrões estão em conformidade com a forma, o tamanho, a cor e o tom – cada flor canta – com a nota-chave do seu Signo. Esses protótipos cósmicos são perfeitos em todos os detalhes. Nos céus mais elevados, eles vivem e florescem em uma beleza tão maravilhosa que inspirou muitas lendas que lhe proporciona uma forma humilde para trazer à Terra uma leve concepção de sua glória transcendente dos Mundos superiores e, também, o significado deles para os povos da Terra. Imbuídos de vida eterna, eles nunca desaparecem, mas vivem e florescem com um esplendor cada vez maior através dos tempos.

É a partir desses padrões perfeitos nos Mundos celestiais, que os Anjos constroem os reflexos que nós, que vivemos na Terra, conhecemos como flores e que, quando assim compreendidos, nos tornamos um dos mais sublimes mestres terrestres. Cada família de flores têm seu próprio trabalho especial para realizar. Cada planta traz, no fundo de seu coração, uma mensagem para a família humana.

Nos primeiros estágios de seu desenvolvimento, as flores, mesmo lindas, não tinham fragrância, pois o perfume é a alma da flor, e a alma só é adquirida por meio do serviço.

Cada família de flores foi formada pelos Anjos para representar alguma qualidade ou atributo específico a ser despertado no ser humano. À medida que as hostes angélicas imprimem esse ideal em um arquétipo floral, sua corporificação física se torna um arauto radiante dessa mensagem celestial. Portanto, as flores são, literalmente, um meio de contato entre os Iluminados e aqueles que vivem na Terra, sua fragrância se desenvolve e aumenta como um belo testemunho de seu trabalho como mediadores. À medida que o ser humano se tornar cada vez mais sensível, começará a interpretar essa linguagem das flores, e na medida em que o faz e vive de acordo com seu alto idealismo em seus contatos diários com seus semelhantes, o perfume de nossas amigas flores se intensifica, e as cores se tornarão mais requintadas e as pétalas delicadas terão maior durabilidade.

Cada planta traz em suas forças vitais a assinatura de sua criação estelar. Essa impressão criadora toma forma dentro do coração da semente, e aquele que possui a “visão abençoada” pode observar, dentro dela, a imagem completa da planta que mais tarde virá a ter uma expressão física na Terra. Da mesma forma, aqueles que possuem a “sabedoria interior” podem discernir a mensagem que as flores trazem sobre as realidades do céu, e que estão aguardando manifestação no plano físico.

À medida que o ser humano aprenda a responder aos ideais incutidos pelos seres angélicos nos corações das flores, ele também desenvolverá uma qualidade de alma que irradiará em fragrância rara e bela. Ele caminhará em uma aura de luz radiante e conhecerá a glória de uma vida imortal que nunca desaparecerá.

O JARDIM DA ALMA

Um jardim é uma coisa adorável

Deus sabe!

Terreno de rosas,

Piscina adornada,

Gruta coberta com samambaias.

A verdadeira escola de paz;

E ainda o tolo

afirma que Deus não está.

Não Deus! Nos jardins! quando a véspera é fria?

Não, mas eu tenho um sinal –

Tenho certeza de que Deus está em mim.

 Por Thomas Edward Brown.

Porque o ambiente físico é apertado e limitado, e uma vez que a alma deve ter liberdade para crescer e se expandir, para estudar e sonhar, chegam regozijosas peregrinações em horizontes mais amplos, em campos de exploração mais extensos, distantes, irrestritos, livres. Na página em branco de um pergaminho infinito, o Dedo da Verdade imprime muitas lições indeléveis. Das altas esferas nos céus, essas lições são levadas para a terra, onde lutam para se expressar, muitas vezes nebulosas, outras vezes nítidas, mas nunca com a clareza cristalina que existe lá no alto.

Numa dessas viagens, avistei ao longe algo que parecia uma grande mancha de sangue carmesim no horizonte. Ao me aproximar, descobri um enorme jardim de rosas vermelhas. De todos os lados, elas acenavam com as lindas cabeças ou estendiam as mãos macias e aveludadas para me abraçar. Seus corações suntuosos emitiam um perfume glamoroso que me cativou, embora o excesso fosse enjoativo e repugnante. O forte aroma do ar era quebrado apenas pelo zumbido das asas dos pássaros de plumagem brilhante, enquanto passavam, gloriosamente coloridos, porém, curiosamente silenciosos.

Apesar das cores radiantes que marcavam esse jardim, ele era desprovido de qualquer som. Eu parecia sentir apenas uma vaga corrente subterrânea de inquietação que permeava todas as coisas, e acima da revelação de cores pairava um silêncio profundo e impenetrável.

A frente caminhava uma donzela, o próprio espírito do jardim encarnado em toda a sua beleza brilhante e apaixonada. Ela acariciou um cacho de rosas vermelhas, mas muito rapidamente, elas murcharam, e quando ela atirou para longe, num gesto de cansaço, elas caíram murchas a seus pés, estranhamente como cinzas de esperanças e sonhos desfeitos.

Enquanto eu ansiava intensamente por conhecer o mistério deste lugar sedutor, uma voz surgiu do silêncio: “Esse é o jardim do amor sensual em toda a sua beleza evanescente e fugaz; é o jardim da rosa vermelha que representa o amor que é apenas humano. Aqui, cada alma retorna muitas vezes e permanece por muito tempo, vagando por esse selva emaranhada de beleza carmesim. É somente após uma longa jornada através das lágrimas e sombras que o coração desperta para a compreensão de que as rosas que crescem aqui nunca podem se tornar imortais. O glamour desse jardim nunca pode ser eterno”.

Relutante em ir, porém, com um desejo inato de partir, me afastei, e assim que os meus olhos se afastaram das estranhas luzes do jardim carmesim, surgiu diante de minha visão outro recinto. Aqui o ar era mais claro, mais fino, mais raro. Ao contrário da apatia inquietante do Jardim das Rosas Vermelhas, a própria atmosfera estava carregada de um apelo impulsivo, clamoroso e suplicante que pressionou minha alma até que ela recuou tremendo, com medo de se aventurar mais longe.

Esse jardim também estava cheio de rosas, não carmesim como no outro, mas de um rosa brilhante. Havia uma grande quantidade delas crescendo de todas as maneiras concebíveis. Cada perfume com uma intensidade que parecia ter um apelo insistente em direção a algum objetivo superior. Inúmeros pássaros permaneceram aqui também. Eles eram com muitas tonalidades mais claras do que os do jardim carmesim e de suas gargantas musicais fluíram um refrão melodioso.

Aqui, também, vagou uma bela donzela incorporando o próprio espírito de seu entorno. Com sorrisos nos lábios e sonhos ternos nos olhos, ela juntou cachos de rosas e os segurou contra o rosto. Diferentemente das rosas vermelhas, estas não murcharam rapidamente, mas brilhavam com luzes revigoradas e puras como ideais recém-despertados.

“Eu poderia ficar aqui para sempre”, murmurei.

“Sim”, respondeu a voz, “pois esse é o Jardim das Rosas Cor-de-rosa; é o lar da aspiração, formado pela mistura da rosa vermelha do amor humano com a rosa branca da pureza. A alma deve passar por muitas experiências de vida antes de poder construir seu santuário de pureza. Muitas pétalas são rasgadas e despedaçadas durante a formação. Muitos construtores de rosas descobrem que suas flores apresentam um tom carmesim muito profundo para viver nesse jardim, então ele deve recomeçar a construí-la novamente. Mas, a cada dia as rosas ficam mais bonitas e as pétalas ficam mais brilhantes com novos ideais e novas aspirações manifestados”.

Mais uma vez fui impulsionada e impelida em direção ao que parecia ser uma estrela brilhante no horizonte, mas, quando visto de perto, provaram ser dois portões formados por luzes brilhantes que jogava para frente e para trás, e entre os quais fluíam correntes que pareciam um rio brilhante. Era a única entrada que dava a um outro jardim fechado. Maravilhada e calada, aproximei-me dos portões, quando mais uma vez a voz sussurrou: “Você não pode entrar aqui. Você deve primeiro ser libertada de todas as manchas da terra”.

Oh, o brilho indescritível desse jardim. Nada aqui além de rosas brancas! Uma infinidade de flores se fundi em uma rara harmonia de som; o ar estava tão trêmulo de luz que brilhava diante de olhos humanos como gotas de orvalho girando em fios de prata. Aquilo que teria sido apenas silêncio para os ouvidos humanos estremeceu com a melodia, e cada flor branca e perfeita exalava sua bênção em música universal.

Como uma figura de luz, o Espírito branco do Jardim, portando uma das flores perfeitas, aproximou-se dos portões perto dos quais ela parou e falou assim: “Essa rosa branca é imortal; é o ideal da realização da alma. Cada espírito deve construir seus próprios portões de luz individuais e, no brilho dessa luz, descobrir dentro de si a glória de seu próprio Jardim de Rosas Brancas, o lugar interior de paz. Ore – medite – compreenda – realize”.

Relutantemente, fui arrastada de volta aos caminhos da terra novamente. Abrindo minha janela para saudar o sol da manhã, uma rosa vermelha, uma rosa cor de rosa e uma rosa branca acenaram para mim do jardim abaixo, enquanto um passarinho cantava em uma árvore próxima.

A FLOR DA PAZ – A Lenda do Jasmim

“Oh, se de fato as nações tivessem plantado uma rosa

Ao invés de uma concha no caminho de seus inimigos”.

Os Anjos conversam entre si e com os mortais por meio da cor. Uma reunião de Anjos, quando envolvidos em orações de cura para a concessão de bênçãos sobre à humanidade, aparecem como uma glória de nuvens matizadas, que salpicam o céu nas horas do amanhecer ou no pôr do Sol.

Particularmente, em dias que foram reservados como feriados nacionais em comemoração daqueles que entregaram suas vidas nos campos de batalha de seu país, os Anjos que trabalham mais intimamente com o ser humano são, particularmente, ativos em transmitir pensamentos e orações pela paz em todo o mundo. Dentro de cada coração receptivo, eles instilam esse ideal e, em cada Mente receptiva, imprimem seu nobre impulso e poder. Os Anjos são auxiliados, nesse trabalho, por aqueles na Terra que abnegadamente colocaram suas vidas no altar do sacrifício para o bem de seu país.

O branco é a luz que impregna uma terra ao observar nacionalmente a sagrada memória de seus mortos em tempos de guerra. Acima das altas hastes de mármore que se erguem tão orgulhosamente em direção ao azul do céu, e sob as quais dormem os homenageados, os Anjos pairam em poderosas companhias de paz. Seus corais são do tempo em que a guerra não existirá mais. Eles cantam sobre o dia vindouro da fraternidade, quando os corações de toda a humanidade estiverem indissoluvelmente unidos por laços de amizade e amor. Enquanto cantam sobre esse mundo mais nobre e pacífico, sua semelhança é impressa nos Éteres em padrões ideais que se estendem pelos céus onde todos aqueles, cuja visão interior está ativa, podem ver e saber o que é. Nesta imagem celestial de promessa pode-se ver o regozijo das pessoas, o brilho de seus semblantes e o amor e a confiança que todos têm uns pelos outros. Seus belos domicílios são adornados com obras de arte e recobertos de cachos de frutas e flores. Pináculos delgados brilhando como silhuetas de tapeçarias antigas são formados entre as estrelas. É um reino de delícias pela beleza, harmonia e graça eternas, uma terra que nunca pode ser devastada por estilhaços ou bombas. Seus portões estão sempre abertos para quem deseja entrar e saborear aquela paz maravilhosa que ultrapassa todo o entendimento.

Foi uma imagem como essa que o profeta Isaías viu quando escreveu: “Eles transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices; nação não levantará espada contra nação, nem aprenderão mais a guerra. — Eles não ferirão nem destruirão em toda a minha montanha sagrada; porque a terra se encherá do conhecimento de Deus, como as águas cobrem o mar”.

Os Anjos também parecem extasiados de regozijo pela beleza divina desse ideal que eles elaboram acima da Terra e que, pelo poder e ritmo de suas canções celestiais, parecem incutir nas próprias almas dos seres humanos. Tão poderosas são suas radiações e tão intensos os ritmos, que toda a Terra está começando a sentir o significado de uma paz mundial.

Flutuando através das vastas extensões etéreas, hostes de Anjos reúnem algumas das flores mais belas, brancas e perfumadas que adornam a Terra da Paz Eterna. Essas flores eles trazem para os corredores habitualmente frequentados de poeira da terra. Eles são de brancura etérica e doçura celestial, pois de todas as flores, o Jasmim é o mais perfumado.

A brancura nevada da flor de Jasmim reflete a paz divina; sua fragrância, as orações dos Anjos. Do coração dessa flor oriunda de uma semente, flâmulas de boa vontade irradiam para todo o mundo; de suas pétalas são transmitidos os poderes.

Durante as horas silenciosas da noite, quando as estrelas sozinhas vigiam as cidades sepulcrais brancas construídas para a memória daqueles que morreram para a melhoria do ser humano, os Anjos fazem uma pausa para cantar sobre o dia que se aproxima, quando esses terrenos silenciosos não existirão mais. Então, será quando a fragrância do Jasmim, a flor da paz, pairando em uma magia branca e curativa acima do coração do mundo adormecido.

A ANÊMONA – A Alma dos Ventos

Ensine-me o segredo da tua formosura,

Que sendo sábio, eu posso aspirar a ser

Tão bonito em pensamento, e tão expresso

Verdades imortais para a mortalidade terrestre.

Embora, também, a capacidade da minha alma seja menor

Agradeço a você, ó doce anêmona[1].

Por Madison Cawein[2].

Quanto mais espiritual uma pessoa se tornam, mais completamente cada objeto de seu conhecimento exterior, corresponde simbolicamente à sua vida interior e ao desenvolvimento de seus poderes espirituais. Assim, o Reino da Flor reflete as qualidades do ser humano com quem ele é, na verdade, relacionados em um sentido mais profundo do que geralmente se reconhece. As flores são um verdadeiro livro inscrito com as assinaturas da alma. Neles são expressos os elementos mais sutis da natureza humana.

As flores que dormem no coração da Mãe Terra durante os longos meses de inverno e despertam com a chegada das forças da maré da primavera, revestindo toda a natureza com novos mantos de vegetação e cor, são símbolos apropriados dessa divindade inata dormindo dentro do coração de cada ser humano – que, quando despertado, faz com que ele se afaste do velho e se ligue ao novo.

Foi a compreensão dessa iluminação mística que animou o enlevado canto da alma de Isaías: “Levanta-te e cantai, vós que habitais no pó, porque o teu orvalho é como o orvalho das ervas[3]. São Paulo fez referência a esse mesmo processo de transfiguração quando escreveu: “nem todos dormiremos, mas todos seremostransformados[4].

Para comemorar esse extraordinário processo de transformação na vida do ser humano, os Anjos moldaram uma flor. Essa flor é formada pela doçura e pelo perfume dos ventos, e derrama sua beleza fragrante sobre o mundo na alegre Época da Ressurreição.

A anêmona, flor da transformação, está envolta em todo o mistério do período inicial, quando os Anjos caminhavam com os seres humanos e os instruíam na tradição das ciências celestiais. Adônis, de acordo com a antiga lenda, era o amado da deusa Vênus. Mesmo morto, o sangue fluiu de suas feridas e, ao tocar a terra, misturou-se com as lágrimas de luto de Vênus, e vejam! Lá surgiu em milagre a anêmona, a adorável e frágil flor dos ventos.

No sangue está o mistério dos processos de transformação do ser humano, cuja tônica é a pureza. O corpo de um ser Iluminado é sempre adornado com flores ou estrelas interiores. Esses são centros de luz ou ímãs de força espiritual. Assim, a anêmona é a representação daquela força formada dentro do próprio templo sagrado do ser humano por meio do poder redentor do amor, ou a deusa Vênus da antiga lenda.

Por um dia, a anêmona leva a mensagem desse extraordinário milagre da alma para a Terra e, então, suas tênues pétalas se fecham e o espírito da sua beleza é levado de volta ao céu, para adicionar nova vibração e significado à canção dos Anjos sobre a futura emancipação do ser humano.

Mas seja teu sangue uma flor

… Para tal mudança?

Daí uma flor, de cor rosa semelhante

Como aquelas árvores produzem, cujos frutos encerram,

dentro da casca flexível, seus grãos roxos.

Sandys’ Ovid, livro X[5].

O IDÍLIO DE NARCISO – Um Prelúdio para Aquelas que esperam ser Mamães

Parecia

Como se a água estivesse viva.

Ele mesmo,

Apaixonado por si próprio, permaneceu imóvel

De um olhar longo e firme, como o escultural mármore de Parian;

E viu, como em um espelho, dois doces olhos,

Seu próprio reflexo, como se fossem estrelas.

por Ovid.[6].

I

Muitas das fábulas da antiguidade são baseadas nos Mistérios Secretos. Os gregos contam a lenda da ninfa da floresta Narciso que, ao olhar longa e firmemente a sua imagem espelhada na água de uma lago cristalino, se apaixonou por seu próprio e lindo reflexo. Essa água mística sempre estava estranhamente parada e tinha a aparência de prata derretida. Para esse lugar tranquilo, os pastores nunca conduziam seus rebanhos, nem qualquer animal da montanha se aproximava dele: nem foi desfigurado com folhas ou galhos que poderiam cair nele.

A água é um símbolo do plano etérico ou reflexo da natureza. Todas as verdades espirituais são refletidas nessa água silenciosa prateada, e aquele que é suficientemente sábio, esteja ele nessa esfera terrestre ou nos reinos mais elevados, pode ler nessas reluzentes páginas. É aqui que linhas tênues de luz, como novelos emaranhados, marcam o contato da alma com a alma e mantêm intactos os padrões estabelecidos em muitos encontros de vida do passado.

Narciso, o jovem radiante, é aquele que aprendeu a ler esse pergaminho místico, visível somente para a visão cultivada impessoal. Quando Narciso se enamorou por sua bela personalidade, suas lágrimas caíram na água e distorceram a sua imagem. Os olhos, que ainda são canais para as lágrimas, não conseguem discernir as letras nessas folhas tênues. É aqui que os Egos, ao entrarem na vida terrena, encontram seu legítimo lugar, e onde as mães, que são suficientemente sábias, podem se encontrar e conhecê-los no seu íntimo.

Por amor a si mesmo, Narciso perdeu sua beleza radiante (seus contatos espirituais), e quando ele morreu, angustiadamente houve lamentação entre as ninfas aquáticas. É o amor pela personalidade, que sempre faz com que essas águas infinitas se turvem no esquecimento. O corpo de Narciso se desvaneceu, mas em sua memória os Anjos colocaram nas margens desse lago prateado uma flor que leva o seu nome e que, em seu esplendor e beleza perfumada, carrega a marca de sua história.

No gramado ele colocou a cabeça cansada,

A morte fechou os olhos que amavam o charme de seu dono

Nenhum cadáver estava naquele lugar, eles encontraram uma flor,

Amarela no centro, com pétalas brancas como a neve.

Por Ovid

“O visível é passageiro, o invisível é eterno. O céu se reflete na terra”. Assim falam os Anjos na beleza mágica das flores de Narciso.

II

“Os seres humanos são o que suas mães os fazem. Quando cada um sai do ventre de sua mãe, a porta dos presentes se fecha atrás dele”.

Por Emerson[7]

As largas colunatas de um antigo pórtico sinuoso, cintilam suave e branco no crepúsculo violeta-acinzentado que se aprofunda. A casa fala em tons baixos e abafados de mistério e respira romance cor-de-rosa. Tentáculos de videiras perfumadas se agarram suavemente à grande varanda e formam uma fricção com o céu azul através do qual as estrelas noturnas brilham como velas de prata.

Uma jovem mulher se senta perdida nas maravilhas incessantes do entardecer que se aproxima. Essa é a sua hora favorita do dia. O crepúsculo sempre traz o êxtase dos sonhos. Para ela, a noite é como um grande pássaro preto que, com penas macias e fofas, cobre o coração do dia e o embala para descansar. Fantasias arejadas voam por sua Mente como melodias, em parte cantadas e em parte tocadas em cordas enfadadas. Desde a infância tem sido assim. Ela sempre se esforçou para encontrar na alma alguma verdade rara que sempre a escapa, deixando apenas uma sombra de vaga insatisfação que ainda é tingida de alguma exaltação estranha.

“Oh, como eu espero”, ela meditou, “que o pequenino que está vindo para mim em breve, recolherá as madeixas da vida que as abandonei e as desvendei; espero que seja capaz de encontrar e, de alguma forma, dar ao mundo os significados internos das coisas que eu descobri e das quais sei que a forma externa é apenas um mero simbolismo – algo que será um acréscimo duradouro à beleza e à verdade do mundo”.

Ela então sonhou, e seus sonhos estavam perfumados enquanto as sombras caíram, e o inquieto pássaro negro da noite aninhava-se suavemente ao redor do coração do dia, entoando uma canção adormecida de extrema doçura.

Nos reinos dos não nascidos, um Ego, novamente, aguarda ansiosamente o retorno à Terra. Sonhos elevados de se tornar um artista famoso havia escolhido na vida terrena anterior. Mas esses sonhos não foram realizados. Obstáculos, um após o outro, frustraram suas aspirações. No entanto, nem tudo estava perdido. Das dificuldades e decepções, ele aprendeu a suportar bravamente a cruz da derrota e a coroa dos anseios impossíveis.

Durante o tempo de preparação para o renascimento nos reinos mais elevados, essa alma havia trabalhado para encontrar a razão de seu fracasso, de modo que pudesse, agora, construir de novo um corpo sobre bases melhores do que havia no passado. Recebendo o chamado para outra vida terrena, ele respondeu alegremente. A música em sua alma de artista respondeu aos sonhos de desejo dessa futura mãe. Mantendo as cores dos reinos mais elevados sempre em sua consciência, ele saiu mais uma vez com grande esperança e nobre propósito de trazer seus ideais à realização terrena.

III

O sol da tarde entrou pela janela, inundando o lindo apartamento com uma luz suave e dourada. O quarto era grande e magnificamente mobiliado. Com raras tapeçarias e com tesouros artísticos de muitas partes do mundo que o adornavam, evidenciando um bom gosto cultivado e grande riqueza.

Ao lado da janela aberta estava a dona desse rico domicílio, uma mulher jovem e bela. Seus olhos, vagando por seus belos bens, cintilavam de prazer, sua cor se intensificava e toda a sua atitude denotava exultação ao pensar na criança com quem logo seria capaz de compartilhar esses tesouros mundanos. Em breve, ela deveria receber sob sua guarda uma alma que estava empenhada em outra peregrinação na forma terrena.

Com orgulho, ela espera um filho, e muitos são os planos que ela faz para a vida dele. Sua posição social e riqueza ilimitada darão a ele oportunidades que poucos possuem. Ela pensa e planeja, a aspiração sendo sua companheira constante, à medida que os dias se estendem e se transformam nas semanas na qual ela está ajudando a construir a casa terrena para seu novo herdeiro.

Os acordes de sua aspiração se estendem até o plano onde as almas estão aguardando o renascimento; nesse reino, eles suscitam a resposta de um Ego de disposição semelhante, cuja ânsia de retornar à vida terrena é tão forte quanto o desejo dessa futura mamãe de proporcionar a oportunidade.

Um Ego fortemente atraído pelos desejos da Terra anseia pelo mundo da forma e as oportunidades que lhe são ofertadas para exercer as faculdades adicionais adquiridas, durante o intervalo de espera entre as vidas terrenas. Pela lei da atração, os desejos e as ambições mundanos, da futura mamãe e do Ego que aguarda o renascimento, atraíram os dois para uma união ainda mais estreita, até que cada um encontre a realização no outro.

IV

Novamente, uma mulher, jovem e bela, está pensando no tempo em que uma alma será confiada aos seus cuidados. Mas não há esperanças de grandes ambições, sem fantasias sonhadoras; apenas a vida simples e prática de todos os dias. Seus pensamentos não vagam além do presente ou, se o fazem, ela os traz de volta bruscamente. “Qual é a utilidade de perder tempo com conjecturas extravagantes?”, ela se pergunta. “A vida presente é tudo o que sabemos com certeza. Nossos cinco sentidos não podem nos dar mais. Vou ficar satisfeita com esta vida e vivê-la como a considero, deixando todas as especulações fantasiosas para aqueles que têm tempo para se dar ao luxo”.

E, assim ela viveu sua vida dia após dia, completamente inconsciente de que uma mãe, por meio de seus pensamentos, seus sonhos e suas aspirações estão moldando o caráter, a condição e a atmosfera da alma em que um Ego, quando entra, toma forma.

Dos muitos Espíritos que aguardam um retorno à vida terrena, não há nenhum para quem os planos internos guardem tanto tédio e monotonia quanto para o materialista. Tendo falhado em reconhecer a realidade dos Mundos espirituais, ele cegou sua própria consciência para sua existência. Não tendo, além disso, feito qualquer preparação para a vida após a morte, ele sai daqui cego e de mãos vazias e com muito pouco ou nada para trabalhar, enquanto está nos planos internos. Assim, esse intervalo torna-se um período de espera cansativa pelo retorno a outra experiência física.

Um Ego que esperou durante todo esse intervalo de tempo sombrio recebe o convite de uma futura mãe com alegria. Assim, a mulher que fechou os olhos à luz das coisas espirituais, abre a porta do seu coração para acolher essa alma que entra.

V

O Ego que vai renascer, ao se preparar para o trabalho da vida terrena vindoura, é obscurecido e permeado pelo Espírito Universal. Este mesmo Espírito inquieto demais e protetor encontra a mais sublime manifestação na Terra no amor materno. A mãe de Mente espiritualizada está sintonizada com o Princípio Feminino Cósmico e coopera, de forma compreensiva (sob permanentemente), com a Lei universal da Vida e do Amor. São as mães que se tornarão as portadoras da tocha da Nova Raça.

A futura mãe da Nova Era, vivendo no topo das montanhas do pensamento, frequentemente experimenta êxtases que quase impressionam até mesmo sua alma pura com sua beleza indescritível. Envolvida no esplendor do Espírito, com o qual ela está trabalhando conscientemente e para quem está moldando um novo corpo, ela se torna uma luz para todas as futuras mães, pela qual podem ver mais claramente o privilégio divino que é delas ao darem inclinação pré-natal a uma alma que chega. Ao sintonizar seus pensamentos e sua vida com o bom, o belo e o verdadeiro, faz dela uma vestimenta mística com a qual se envolve e, também, o Ego que se aproxima, com o qual está ligada por laços de outras vidas. Com muitos regozijos está se aproximando o dia em que toda mulher se ajoelhará diante desse santuário da Verdade e, assim, ganhará uma coroa de eterna imortalidade para sua fronte.

VI

A velha casa ainda respira romance em tons de rosa doce e sussurra mensagens misteriosas do passado. A pequena Tecelã dos Sonhos[8] ainda está sentada atrás das colunatas brancas e observa o mundo cada vez mais escuro. Como sempre, ela se deleita com o mistério e a beleza da vida.

Aquele que veio até ela nos últimos anos é, agora, um mestre da cor. Suas pinturas são poemas vivos. Ele parece ter captado todas as suas fantasias aéreas e as tecido em uma harmonia de luzes e sombras mais etéreas do que qualquer outra que o mundo já conheceu. Eles são ecos estremecedor de música que foram abafados apenas para cantar em tons coloridos. Eles mantêm a luz de fogos estranhos, um toque do sangue do coração, um perfume de flores imortais, uma sagrada beleza interior da alma. Para essa mãe, agora vem a felicidade adicional de perceber que ela havia usado suas próprias faculdades artísticas para ajudar o Ego que se tornou seu filho. Vivendo seu ideal todos os dias, ela impregnou sua consciência com sua verdade, isso tudo inconsciente, ela abriu a porta das dádivas para um Espírito maravilhoso entrar.

VII

Uma mulher de cabelos grisalhos e um rosto, no qual a decepção desenhou muitas linhas, está sentada ao lado da janela de um magnífico apartamento. Enquanto seus olhos vagueiam pelos tesouros à sua frente, ela pensa com tristeza no passado e se lembra de quantos anos atrás, ao lado daquela mesma janela, ela havia planejado um futuro tão brilhante para o filho que seria seu. Com o coração dolorido, ela revê sua juventude tão cheia de promessas.

Ainda está em sua lembrança que, com o passar dos anos, suas ambições pareciam se tornar insaciáveis. Ele cumpriu os planos que ela tinha para ele – e muito mais. No entanto, sua vida não foi cheia de sonhos mundanos a serem realizados, com o acúmulo de mais riquezas para seu tesouro já inchado e a conquista de uma posição social mais elevada, que ele não tinha tempo ou pensamento para o amor ou a mãe. Recentemente, ele sucumbiu a uma breve doença em um país estrangeiro.

“De que adianta!”, ela gemeu em seu coração. “Depois que todas as minhas ambições foram realizadas, o que eles me deram? Eu o havia planejado muito antes de vir até mim. Ele mais do que cumpriu minhas maiores esperanças de glória terrena. Ainda assim onde está a felicidade? Estou propensa a acreditar que aquele que busca conquistas mundanas é, afinal, apenas um caçador de arco-íris. Eu gostaria de poder viver minha vida novamente”.

As lágrimas caíram em seu rosto pálido. E ao longe, lágrimas de gotas de chuva caíram sobre o túmulo recém-construído e ecoaram: “Um caçador de arco-íris”.

VIII

Uma mãe que se gabava de sua lógica sadia, de seu bom senso e de sempre ter “os pés no chão” sentava-se observando com olhos de adoração uma menina esguia que se reclinava no divã. Por seus movimentos, pode-se perceber que a menina é cega. De repente, a menina exclamou: “Mãe, não é uma desgraça tão terrível ser cega fisicamente quando se pode ver luzes interiores tão maravilhosas como eu. Elas são tão brilhantes, tão deslumbrantes, e todas parecem estar dançando. Às vezes, ouço a música flutuante mais estranha e, no entanto, tudo parece estar dentro de mim. Não consigo descrever, mas nessas horas não tenho consciência de que possuo um corpo físico. Parece que vivo em pleno ar. Temos sofrido juntas tantas vezes por causa de minha enfermidade, e agora um pensamento tão estranho me ocorre, querida mãe; talvez eu tenha vivido outra vida em algum lugar, e talvez eu fosse como você é agora, cética em relação a todas as coisas que não podem ser provadas pelos cinco sentidos e condenando amargamente, como você faz, todos aqueles que tem outras crenças. Então, porque eu era cega para as coisas espirituais, e possivelmente retirei a luz dos outros, a Lei fez com que eu ficasse fisicamente cega agora. Tem uma parte de mim que ainda quer acreditar nas suas teorias materialistas, mas, minha mãe, quando essas experiências maravilhosas vêm a mim, então duvidar é inútil, eu sei”.

Com as vidas que são dedicadas a trabalharem juntas para o mais elevado, com corações transbordando de amor pela humanidade e com almas perfumadas com o aroma das boas ações, a mãe espiritualmente desperta e a sábia a quem ela concedeu renascer adequadamente, estão se aproximando do anoitecer de suas atividades terrenas. A vida tem sido para elas uma alegre canção de serviço, uma sinfonia de aspiração e idealismo na qual os tons de terra suaves e sombreados durante o dia se misturam com os tons triunfantes da noite. Suas vidas uniram a realização consciente de Auxiliares Invisíveis com seu maravilhoso ministério do dia. Elas possuem a chave que abre a porta de presentes para os Egos que aguardam uma oportunidade para novas experiências terrenas. Elas encontraram a luz direcionando para o novo dia da maternidade desperta, quando uma maior compreensão permitirá aos iluminados a viver e trabalhar em perfeita harmonia com a Lei Cósmica.

As mães, então, em reconhecimento do tempo sagrado quando estão preparando um novo templo que é o corpo para um Espírito que irá renascer, ascenderão com a bem-aventurada Maria à região montanhosa da consciência, lá para se encontrarem e reivindicarem os seus.

A LEMBRANÇA DA ALMA – A Lenda do Alecrim

 Ali está o alecrim – que é para a recordação.

Por Shakespeare[9]

Frequentemente, há duas almas que caminham juntas pelas estradas da vida. Uma dessas duas está vestida com a luz da manhã e usa a beleza do nascer do sol. Ele irradia a alegria da primavera, o regozijo da criação. Seu hálito é o perfume das flores e a sua voz a música da esperança no coração da juventude.

Enquanto ele toca seu arco de luz sobre um violino mágico vibrante com harmonia, a música regozijosa transfigura a face de toda a natureza e ecoa através do espaço infinito. Uma luz difusa suaviza a paisagem, o mar cintila em uma cadência suave; e as flores se curvam sob o esplendor de uma nova beleza. Tudo se transforma. O mundo inteiro canta um hino de regozijo.

O jovem músico desenvolve seu arco como se fosse repiques de risadas: “Veja como a terra, o ar e o céu me obedecem! Onde quer que eu vá, tudo é meu. O belo fica mais belo ao meu toque; o justo infinitamente mais justo. Eu sou a alma de todas as coisas, pois sou a Alma do Regozijo”.

Outro, atraído pelo poder da música, se aproxima e se acerca dele com os braços estendidos. O companheiro da Alma do Regozijo permaneceu imóvel durante o feitiço lançado pela música fascinante. Seu olhar fixo contém o mistério de visões distantes, e seu rosto, a Tristeza e Angústia Profundas do conhecimento profundo. Há nele um perfume de flores estranhas, flores que cresceram em solidão nas alturas varridas pelo vento em meio a neves eternas.

No silêncio cada vez mais profundo, ele puxa o violino para perto do coração e começa a tocar. Primeiro, há uma nota de lamento terno que parece extraído das próprias cordas do coração, gradualmente se fundindo em um canto choroso e lamentoso. Por fim, o som se transforma em uma tempestade selvagem de agonia que, finalmente, termina em uma tremulação de resignação.

A face da natureza muda em uníssono com os humores do violino. Os ventos soluçam por entre as árvores, blocos de nuvens flutuantes obscurecem a lua, as ondas do mar batem sobre a costa como as batidas agonizantes de algum grande coração ferido. Enquanto a música desvanece no silêncio, uma estranha beleza sobrenatural envolve a noite. As nuvens desaparecem contra o céu escuro-azulado. Sobre caminhos ásperos e pedregosos, flores da primavera não plantadas por mãos humanas. O mar murmura uma canção de ninar envolta pela luz do luar mais formoso do que qualquer mortal conheça. Em todos os lugares, as flores desabrocham com uma beleza terna e ardente que é lustrosa com uma resplandecência que lembra as lágrimas.

À medida que essa música inusitada passa para outros reinos, a beleza sobrenatural da noite envolve o músico. Ele se levanta, uma chama viva estremecendo com anseios indizíveis e desejos não expressos, verdades insondáveis. Ele se volta para a Alma do Regozijo que está transfixada pela admiração.

“Você diz que torna o belo mais belo, o justo, infinitamente mais justo. Você sempre cria; você constrói de novo. Mas eu ressuscito, eu transmuto. O árido eu o torno belo. O horrível, o malformado, eu traduzo numa nova vida. Acho beleza onde antes não existia; arranco a paz das profundezas e faço com que ela viva nas alturas. Trago perfeição, conclusão. Mesmo você, Oh Alma do Regozijo, nunca poderá ser conhecida no seu íntimo sem mim, pois eu sou a Alma da Dor”.

Aquele que havia estado tão perto da Alma do Regozijo agora se vira e avança ansiosamente para encontrar esse Ser estranho, uma nova luz despontando em seus olhos. A Alma da Dor estende suas mãos em terna bênção dizendo: “Ó Espírito do Homem, eu te abençoo”.

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No silêncio profundo da alma, dormem muitos segredos esquecidos que o Espírito conheceu antes de renascer nesses véus cegantes de carne, altos anseios claros que intuitivamente tateia em seus momentos profundos, e que em tais momentos relampejam como vagas lembranças de algum tempo distante.

Antes que os Espíritos deixem sua morada celestial para outro período de experiência aqui, na sombria Terra, clara é a visão e esse conhecimento superior. É apenas o manto da mortalidade que obscurece o conhecimento dos verdadeiros valores da vida e causa as buscas incessantes e inquietas que levam à desilusão e à dor. Os Anjos estão tristes por causa dessa cegueira mortal e, assim, no fundo do coração de uma de suas flores de amor eles entoaram uma canção que é mais ou menos assim:

“A vida não é feita de prazer, mas de experiência. Quer suas notas mais profundas soem em alegria ou em lágrimas, a alma que carrega o legado mais rico em seu retorno a Deus é aquela que viveu plenamente cada momento da vida, extraindo ao máximo a essência de sua experiência e construindo-o, em ouro, a sua aura resplandecente”.

Assim canta o pequeno Alecrim, a flor da lembrança, para todos aqueles que farão uma pausa e ficarão quietos por um tempo suficiente para ouvir sua canção. “Só aquele que encontrou as lágrimas que brilham no coração por cada júbilo e êxtase e que medita à luz de cada dor é sábio o suficiente para ouvir o canto do Alecrim e recordar”. Assim, os Anjos cantam enquanto exalam uma bênção perfumada sobre suas pétalas estreladas.

UMA DIVINA AVENTURA COM UM NARCISO E O MAR

Eu vaguei por uma pista de luz dourada,

E encontrei um vale intocado, por ninguém trilhado,

E com o narciso para assistente

Eu desnudei minha alma para todos os bosques – e para Deus.

Por Stephen Moylan Bird[10]

Um dia, enquanto vagava pelo mar, símbolo daquela inquietante e maternal Sobre-alma[11], na qual despejo todas as minhas fantasias e que me devolve em sonhos tão raros que tateio por palavras para expressá-los, eu estava lendo um conjunto de desconhecidos e lindos poemas sobre o renascimento e pareciam apenas à beira da lembrança. O mar gritava com uma música estranha e insistente: “’Você não se lembra? Você não se lembra? Aproxima-te. Abaixe mais. Deixe-me pegar sua mão e levar para além das limitações físicas, através do vasto passado e acima de horizontes infinitos, para vistas do amanhã. Um poder maravilhoso é meu, que um dia também será seu para comandar”.

A única companheira de meu sonho era uma flor perfeita que se aninhava por perto e parecia palpitar em solidariedade com meu profundo amor pelo mar. Ao contemplar seu coração radiante, ela me devolveu reflexões místicas e indizíveis em Seu perfume.

Enquanto eu lia e refletia, decidi deixar de lado a minha flor companheira sonhar no centro de um lago calmo e adormecido entre as pedras. Logo minha consciência externa estava arrebatada em seguir as aventuras de uma alma para qual a morte e o nascimento não eram mais que um sono e um esquecimento. De repente, a subida da maré varreu as rochas e carregou minha florzinha para o mar. Corri pela praia, mas sem sucesso. Três ondas enormes rolaram sobre ela. À medida que cada onda a atingia, as pequeninas pétalas se dobravam como acontece com a dor. Desprezada, as lágrimas vieram, e eu estendi os meus braços com um grito: “Ó meu amado mar! Como você pode? Como você pode? Quando eu te amo tanto”.

Então, alguma coisa naquele momento me instigou para que me virasse e observasse o sol se pondo atrás das colinas que estava cintilando como grandes pilhas de folhas de junco esmagadas, peneiradas em canteiros de violetas. Maravilhosamente confortado, como sempre, por chegar perto do belo, me afastei. Olhando de relance para o lago aninhado entre as pedras, vi um objeto vagando à deriva. Aproximando-me, caí de joelhos na areia, pois ali estava a minha flor, sem nenhuma mancha ou hematoma, tão doce e bela como se tivesse se aninhado imperturbável no centro de algum calmo jardim. Estendi os braços com um grito de agradecimento ao meu amado mar.

A resposta veio em meio a um ressonante redemoinho azul claro de risos: “Você não se lembra? Você não se lembra? Aproxima-te. Incline mais. Deixe-me pegá-la pela mão e levá-la para longe acima de horizontes infinitos para as vistas do amanhã. Um poder maravilhoso é meu, que um dia também será seu para comandar”.

UMA LENDA DO HELIOTRÓPIO

Filhos de tão gentil nascimento,

Aqui essas flores se encontram,

Amor que nunca tocou a Terra completamente,

Eles – e você e eu.[12]

Por B. R. O. Low

Sobre a ampla e brilhante estrada da Vida, a alma de uma Mulher está em pé meditando. Em seu braço ela carrega uma cesta cheia de pacotes, e sobre ela fixa os seus olhos pensativamente. Depois de longo tempo, ela retira um pacote que tem uma estranha luminosidade; e sobre ele está gravado: “O que o Mundo Conhece como Amor”. Então, abre o pacote com muito cuidado e, por algum tempo, olha para aquele brilho um tanto estranho, depois o deixa de lado dizendo com tristeza: “Nada além de enfeites, nada além de algo superficialmente atraente ou glamoroso, mas de pouco valor real”. Ela escolhe outro pacote de luz cintilante, às vezes emitindo uma escrita brilhante e, novamente, em um exame mais minucioso, vê apenas um brilho pálido. Este está assinalado como “Ambição”. Depois de um tempo, ela também coloca este de lado com um suspiro cansado e examina por algum tempo e com seriedade o restante do conteúdo da cesta. Finalmente, ela escolhe um próximo ao fundo da cesta. Está rotulado como “Posses Mundanas”. Observando-o ansiosamente por um tempo ela também o vê, começando a desmoronar e desvanecendo. “Cinzas e frutos do mar morto”, ela murmura amargamente, jogando-o fora.

Ela abre outro pacote que está bem usado e parece ter sido muito manuseado. Este é chamado de “Fama”. É frio ao tocar, então ela tenta aquecê-lo colocando-o contra o coração dela. Não encontrando resposta, ela se vira e diz: “Não há felicidade aqui, devo procurar mais”. Vê um que parece estar encolhendo e, ainda assim, com admiração ela desembrulha o pacote acinzentado e lilás e se agarra ao último dos pacotes. Sobre este está gravado “Morte”. Enquanto ela o examina com curiosidade, surge dançando na sua frente o que parece ser uma bolha de Fadas, tudo fluindo com uma luz rara que não parece pertencer à Terra. Por um momento, ela paira bem acima de sua cabeça; então, enquanto ela se esforça para alcançá-la, ela flutua para os Éteres azuis; mas sempre que está prestes a desaparecer, ela desvia graciosamente e se aproxima da Terra novamente, iluminando a brilhante estrada da Vida pelo longo caminho por onde quer que sua sombra seja lançada.

Quando a luz incide sobre ela, o pacote cinza em suas mãos se derrete. “O meu sonho de amor que os Anjos me deram”, a alma da mulher chora baixinho. “O amor que sobrevive a eternidade e o imenso ciclo de vidas; o verdadeiro amor de alma pela alma que em seu idealismo e pureza não conhece limites e transmuta até a própria morte em vida”.

Ela cai de joelhos em adoração, enquanto aquela nova luz estranha precipita sobre ela, envolvendo-a com onda após onda de esplendor quase celestial.

Na região onde os Anjos aguardam em oração as decisões da alma de uma mulher, ressoa um cântico de louvor e ação de graças. Para comemorar a chegada deste novo ideal ao mundo, eles fizeram com que uma flor nascesse. Suas flores são tão emplumadas que dificilmente podem suportar a luz do dia, pois a flor não pode ser mais forte do que a concepção que a gerou. Azul é a cor do amor espiritual, portanto azul é o tom da cor com que esta flor, recém-chegada do Mundo celeste, sussurra sua mensagem à alma da mulher. Tão frágeis são as pétalas que é como se os Anjos as tivessem simplesmente emprestado à humanidade como promessa ou prenúncio de um sonho ainda não totalmente realizado. No momento, as flores em toda sua beleza perfeita podem viver na atmosfera terrestre apenas por um curto período; sob o pensamento dos humanos, e o toque logo murcham e escurecem, deixando apenas uma lembrança fugaz do ideal que simbolizam.

À medida que a beleza e pureza da mensagem que essa pequena flor retém na fragrância roxa de seu coração, torna-se mais profundamente implantada na alma da mulher, e à medida que a sagrada concepção da qual nasceu, derrama sua bênção por todo o mundo, essa pequenina mensageira dos Anjos, a mais etérea de todas as flores, gradativamente, perderá sua tênue fragilidade e alegrará por mais tempo os corações daqueles que aprenderam a ler seu significado na beleza perfeita de seu desabrochar.

O AMARANTO DOURADO

Sua coroa foi tecida com amaranto e ouro;

Amaranto imortal, uma flor que uma vez

No Paraíso, rapidamente pela árvore da vida

Começou a florescer.

Por Milton[13]

Quando o chamado da Terra soa no Céu, multidões de Espíritos somente com seus Átomos-sementes são reunidos pelos Anjos guardiões, e aqueles que estão prontos para uma nova experiência humana são preparados para responder aos chamados.

Os Egos, em seu estado de consciência no Mundo celeste, sabem que a bondade e a verdade, a vida e o amor são imortais. À medida que cada alma encontra seu lugar na longa descida processional para trilhar os caminhos da Terra novamente, o brilho desse conhecimento interior, sem entraves da carne, se espalha para longe até que as multidões aparecem transformadas em uma glória como de fogos descendo.

Um Anjo poderoso está diante dos confins exteriores do plano terrestre, segurando em suas mãos um cálice estrelado que pisca e cintila, como se estivesse definido com os mais brilhantes sóis dos céus. Envolto sobre esse cálice está uma bela flor que leva o nome de amaranto, que significa “eterno” ou “imortal”.

Cada Espírito que retorna, ao passar por trás dos véus da mortalidade, participa desse cálice e, enquanto ele bebe, o Anjo coloca em sua mão uma dessas frágeis flores douradas. Esse é o Cálice do Esquecimento, o cálice que faz com que o ser humano esqueça de que não existe a morte. Tudo é vida. A alma é imortal e cada extensão da terra é apenas uma página do livro da vida. Apenas por referência a todo esse livro, o significado das múltiplas experiências da vida pode ser razoavelmente interpretado e adequadamente compreendido. Mas, uma vez que há muito conteúdo nas páginas anteriores, que ainda não somos fortes o suficiente para ler com serenidade, é bom que nem tudo seja lembrado. Portanto, é que alguns que apreendem essas verdades interiores têm chamado esse cálice de Poção da Compaixão e o Anjo que o carrega, o Mensageiro da Caridade.

Para cada Ego que chega, esse Anjo benéfico dá uma flor dourada da imortalidade para servir como um lembrete da vida eterna, para que essa grande verdade jamais possa ser esquecida. Poucos mantiveram essa florzinha dentro de seus corações, onde ela vive e floresce em beleza perpétua. Esses são os professores de pessoas que percorrem o mundo proclamando verdades espirituais a todos os que desejam ouvir. Porém, a maior parte perdeu sua preciosa flor e tropeça cegamente nas estradas da vida terrena, o Espírito tateando incerto, sempre desejando recuperar sua herança perdida e inestimável de conhecimento.

Os gregos possuindo, como possuíam, muita compreensão do Mundo interior, coroaram seus heróis e seus mortos com uma grinalda amarantino, como um símbolo da eventual recuperação por todos os seres humanos dessa sabedoria interior.

SINOS ASTRAIS – O Ministério da Fúcsia

Eu já viajei muito nos reinos de ouro.

Por Keats[14]

As pequenas flores que “escrevem música no ar”

No branco silencioso do Céus, não há linha de demarcação entre o dia e a noite; todas as coisas e todos os seres são continuamente banhados por um brilho dourado e luminoso que não conhece superação nem lentidão no desenvolvimento ou progresso. No entanto, quando as sombras se alongam sobre a Terra:

“Galhos de carvalhos altos encantados por estrelas cuidadosas,

Sonhe, e então sonhe a noite toda sem se mexer”.

Uma quieta calma, após um ruído, cai sobre as “cortes do Céus”; os Anjos cantam com mais suavidade, e a música de seus movimentos parece respirar em cadências mais suaves. Esse é o único sinal naquela terra brilhante que indica que a escuridão da noite desceu sobre a Terra.

Além desse silêncio suavizado repica, em certos intervalos, a música dos sinos, música que muitas vezes pode ser ouvida mesmo na Terra por aqueles que ouvem seu toque. Esses sinos tocam em certos momentos específicos, quando a batida do coração da Terra está mais intimamente sintonizada com o coração dos Céus. Essas horas mortais são conhecidas como meia-noite e amanhecer.

Os sinos astrais emitem o chamado para que legiões de Espíritos saiam em missões de Amor e misericórdia em prol de todos aqueles que sofrem, e por outros que conquistaram o privilégio, por meio de tal serviço, de ascender aos reinos espirituais para receber instruções dos Anjos. É verdade que o poeta expressou essa visão ao se referir às “escadas do altar do grande mundo que se inclinam das trevas até Deus[15].

Aqueles que ouviram a música desses sinos estão sempre conscientes da melodia etérica que soa para sempre em seus corações; com facilidade a alma se eleva em êxtase em resposta à memória que ela evoca.

Os Anjos também adoram ouvir essa música dos sinos das Fadas e, no ritmo de seus compassos, formaram uma flor que capta o eco e o espalha novamente pelo mundo. As flores fúcsia[16] são réplicas angelicais desses sinos astrais. Apenas à meia-noite e ao amanhecer elas ficam trêmulos com a melodia; as pétalas delicadas se dobram sob o influxo de harmonia, e os ternos pistilos[17] balançam ritmicamente enquanto ecoam, em música suave, o toque desses conjuntos de sinos celestiais.

Há certos grupos de Anjos que trabalham exclusivamente com o Reino Vegetal; permeiam a semente com o Éter de Vida para que os poderes adormecidos possam despertar em resposta às forças da mãe Terra. Eles moldam ternamente as folhas, pétalas, os estames[18] e os pistilos; suavemente eles colorem cada veia delicada, enquanto modelam padrões minuciosos e intrincados de rara beleza e graça. Os mortais seriam cautelosos ao lidar com esses raros dons dos Anjos, se acaso pudessem observar o amor reverente e o cuidado dispensado à formação deles.

Os Anjos ficam muito tristes diante da lamentável visão da mutilação impensada e intencional do seres humanos aos seus preciosos filhos das flores e, assim, quando os pequenos Sinos Fúcsias repicam sobre a Terra, um eco dos doces conjuntos de sinos astrais dos Céus, tropas de Anjos das flores voam em todo o mundo e reúnem as flores que foram machucadas e dilaceradas, ou deixadas de lado, pelos desatentos e incompreensíveis para murchar e morrer. Depois de imprimir uma bênção nas formas físicas cansadas e frágeis, os Anjos retiram ternamente as essências vitais e as carregam como fitas de teia de arrasto de volta aos Céus, para serem usadas novamente em seus gentis ministérios de construção de outros padrões de flores com os quais possa abençoar e embelezar a casa terrestre da humanidade.

Não está longe o tempo em que a ciência verificará essas verdades o suficiente para que cada um compreenda algo da dor e do regozijo experimentados pelos habitantes do Mundo das Flores.

E é a minha crença, que cada flor

Aproveite o ar que respira.

Assim canta Wordsworth[19], sumo sacerdote entre os poetas das flores. Mas, suas palavras são ignoradas, exceto por aqueles poucos que, com uma “visão abençoada” perceberam algo do ministério angelical de seu trabalho com a vida vegetal.

Enquanto isso, os pequenos Sinos Fúcsia fazem soar um chamado à meia-noite e ao amanhecer, convocando os Anjos da misericórdia para ministrar a todos os que afligem e sofrem nos distantes reinos da Terra das Flores.

UM CALENDÁRIO FLORAL – A Lenda da Poinsétia

Quando eles beberam profundamente

Dos copos cheios de orvalho,

Você pôde ouvir suas risadas douradas

Por todo o jardim.

Por Clinton Scollard [20]

Em tempos remotos, quando o ser humano caminhava na terra de mãos dadas com os Anjos, conhecendo apenas sua inocência imaculada e irradiando apenas sua beleza perfeita, e que nenhum pensamento maldoso ainda havia impregnado sua consciência e nem projetava suas sombras no ambiente externo, e as flores eram reflexos da consciência, todas brilhavam no mais puro branco, fazendo do mundo um verdadeiro jardim de sonho de beleza pura e perfumada.

À medida que o tempo passava e as vibrações de uma poderosa estrela abriram os portais da matéria para a entrada do ser humano, e o Espírito tornou-se mais firmemente enredado em sua forma material, as pétalas delicadamente sensíveis gradualmente captaram e mantiveram as cores dadas a elas pelos vários pensamentos e emoções da humanidade, e apenas as mais raras e belas almas-flores foram capazes de florescer em toda a sua pureza primitiva.

Mas, por muito tempo cresceu uma flor tão branca que competia com o sopro das neves da montanha; o pescoço do cisne era pálido ao lado dela. A tradição afirma que, onde quer que uma alma pura vivesse sem maculas no mundo, essas flores desabrochariam em abundância. Ao longo do caminho, impregnados de meditações elevadas, estas almas brilhavam tão formosamente quanto os pensamentos que refletiam.

Na primeira Noite Santa, quando os pastores estavam vigiando as colinas da Judeia, e a Estrela dourada os guiou em seu caminho para a manjedoura sagrada, seu caminho foi salpicado com essas flores brancas místicas, nas quais os raios da Estrela do Oriente transformaram em prata cintilante.

Quando o Santo carregava a cruz na subida íngreme do Gólgota, o chão estava acarpetado de branco com sua beleza. Elas se aglomeraram amorosamente ao redor de Seus pés machucados, como se de bom grado pudessem consertar os pregos cruéis e a coroa de espinhos. Silenciosamente, suas faces brancas assistiam o apelo mudo da encenação da Crucificação. As frágeis pétalas estremeceram em compaixão com os tremores cósmicos que ocorreram quando o Espírito Mestre rompeu seu cativeiro de carne.

Enquanto o sangue escorria devido a perfuração dos pregos e da coroa de espinhos, uma gota sagrada caiu profundamente no coração de uma pequena flor branca. Lá está aninhado. Quase imperceptivelmente, as pétalas se curvaram sob a homenagem; então suavemente, gentilmente elas flamearam em carmesim. Por todo o coração da Terra, essa força foi sentida, resultando em que, onde quer que essas flores místicas florescessem, elas mudariam de branco puro para vermelho-sangue.

A alma mais pura de todo o mundo das flores através dos tempos deve banhar seu coração no sangue do Cristo e dar ao mundo sua mensagem através da beleza das pétalas flamejantes.

I

É chegado o tempo de encerramento do ano-flor, e a cada mês de pétala foi transformado em fragrantes feixes de memória. Os Tecedores da Terra das Flores se reúnem em um conselho para decidir qual flor será considerada sagrada no Natal.

Que flor é justa o suficiente para representar o mês do Nascimento Cósmico? Em sedas pinhões de vento, mensagens foram enviadas às Deidades Guardiãs dos meses, pedindo-lhes que viessem e apresentassem suas reivindicações perante o conselho do Mundo das Flores.

Cantando a canção adormecida do inverno em notas fracas da luz do Sol cintilante, chega o pálido janeiro vestido com vestes de zibelina. Seus braços brancos como a neve estão carregados com frágeis sinos de jacinto que estremecem em música suave ao canto de saudade que sua alma deve sempre cantar do Silêncio e do Sono.

Perto do fim dos dias curtos, do outro lado da borda oeste de um céu baixo e escuro, fevereiro traça uma linha dourada, enquanto do coração cinza da Terra ela coleta gotas de lágrimas, transmutando-as em narcisos dourados de promessa para o mundo cansado. Milagres que ela traz à terra e ao céu, pois seu nome é Esperança.

Março envolve a Terra em véus de um verde vago e tenro, e permanece com as mãos entrelaçadas e ansiosas, enquanto a alma do mundo desempenha o prelúdio da vida ressuscitada. Violetas tão azuis quanto o céu para o qual eles deixaram seus olhos, brotam de seus pensamentos, pois o nome interno de março é Aspiração.

A virgem Abril, coberta de lágrimas cintilantes, se curva sobre o mundo cansado. Reunindo sua dor e tristeza, ela pressiona lábios de lírio sobre eles. Quando eles são preenchidos com uma consciência sagrada de paz, ela os molda na doçura do lírio e os comissiona a soprar sobre a humanidade o segredo de sua alma – a Conquista.

Maio, com uma risada alegre, sussurra profundamente no coração da floresta, fazendo-a abrir as portas de seu tesouro para ela. Em seguida, ela se envolve em guirlandas de Fadas para despertar o espírito da beleza. Pois maio é a alma da Harmonia que traz à vida as belezas latentes de todo o Mundo das Flores.

O jovem Junho, a Alma do Amor, numa música extática de sonhos, mergulha o pincel nos pigmentos do céu, no carmesim do crepúsculo, nas brumas brancas da madrugada, no rubor róseo do nascer do Sol e no âmbar do crepúsculo. Ela adiciona a isso o brilho suave da luz das estrelas e o doce sopro de sonhos que brotam dos corações humanos, quando, eis que o mundo conhece o nascimento de uma rosa.

Descansando preguiçosamente sobre almofadas azuis e nebulosas do céu, com colchas formadas por nuvens brancas e felpudas, respirando um incenso destilado dos corações de milhões de papoulas de tons suaves, repousa o calmo julho, a Casa do Repouso.

Elevando-se fileiras e mais fileiras de flores majestosas que moldaram suas pétalas com o ouro da luz do Sol e teceram em seus corações o amor de seu Deus, que representa o mês da glória que é o próprio sopro do Sol – majestoso agosto, a Alma da Beleza Perfeita.

Setembro, a mãe cósmica, cujo nome mais íntimo é Pureza e Paz, brilha no céu, construindo os tesouros de seus pensamentos secretos em ricos ramos de hastes douradas ondulantes para acariciar o mundo e torná-lo mais justo, enquanto ela o mantém em seu coração.

Na calma quietude, interrompida apenas por um suspiro intermitente por entre as árvores, outubro, a Alma da Meditação, inclina a cabeça. Antes de todos os lugares e ao redor dela, florestas magníficas estão derramando lágrimas douradas, em parte melancólicas, pela beleza decadente que vem, e lágrimas escarlate com medo pela desolação que se aproxima.

Com aparência semelhante e passo imponente chega novembro real, coroado pelo tesouro conquistado e atributos dourado, e carregando o crisântemo real. Este amado desabrochar de seu coração nasceu de uma consciência de excesso de orgulho. Novembro respira tentação, e tão sutilmente que até os Anjos mais brilhantes caíram diante dela.

Uma canção de conquistas proclama a chegada de dezembro, cujo coração é o Sacrifício. Suas flores são maravilhosamente altas e imponentes, com pétalas carmesim que envolvem um coração de ouro. Involuntariamente, os Tecedores da Terra das Flores prestam homenagem a eles, enquanto as belezas dos outros meses permanecem um pouco esquecidas. Durante todos os longos anos, a gota sagrada de sangue viveu no coração da pequena flor sussurrando dia a dia o significado místico de sua mensagem até que, preenchida com a alegria de saber, as pétalas flamejantes cresceram e o coração de ouro se expandiu no perfeição de sua beleza imponente. Pois, enquanto as pétalas brancas brilhavam com sangue carmesim, essa mais pura alma-flor despertou para a beleza de sua missão cósmica e sabia que também deveria assumir a cor do corpo e sair para o Mundo das Flores para trazer sua alma de volta para uma compreensão da pureza e do amor que se manifestam apenas nas pétalas do mais puro branco.

E assim acontece a cada ano, quando a vida de Cristo nasce na Terra na época do Natal, o espírito da Poinsétia[21] surge em lindos mantos sacrificais de vermelho para levar sua mensagem ao Mundo das flores e dos seres humanos.

UMA MENSAGEM DE AMOR – Como Cresceu a Violeta Branca

Junto a relva

Lá pode ser visto

Um pensamento de Deus

Em branco e verde.

É tão sagrado

E o cuidado tão humilde

Que você apreciaria

A Sua graça e o seu dom natural.

E não destruir

A flor viva?

Então você deve agradecer

e cair de joelhos.

Por Anna B. deBary

Há um grupo de espíritos por quem os Anjos são muito afáveis durante o intervalo entre as vidas terrenas. Esse grupo é composto de seres que estão se esforçando para vir ao mundo, mas são impedidos de fazê-lo pela Lei do Destino, uma vez que ainda há lições que devem, primeiro, ser aprendidas nas regiões iluminadas dos Mundos espirituais. Nesse grupo estão reunidos Egos que enfrentarão árduas lições em outro dia terrestre e que devem, portanto, estar bem-preparados para enfrentar as pesadas provações e situações difíceis que estão por vir. Os Anjos, sabendo disso, lhes concede muitos pensamentos amorosos e ternos cuidados para que eles utilizem durante esse tempo de preparação.

Entre uma futura mãe e o Ego, cujo corpo físico está se formando sob o coração, há uma faixa magnética como um cordão prateado reluzente. Esse “cordão” contém a história do relacionamento passado entre eles e os laços precedentes que ligavam a alma com a alma e a vida com a vida. Assim, não é no primeiro encontro terrestre entre Egos que acontece o relacionamento íntimo como mãe e filho.

Quando o Espírito se aproxima dos confins do Mundo Físico e, então, é forçado a voltar atrás, o reajuste às condições do plano interno torna-se, necessariamente, muito difícil. Tal pessoa está envolvida no pagamento de dívidas pesadas frustrando, deliberada e reiteradamente, os planos de outras pessoas, resistindo e derrotando a realização de esforços humanitários nobremente concebidos.

Sempre há muita dor, tristeza e angústias profundas associadas numa tentativa frustrada de reentrar na vida terrena novamente, e esse sofrimento aumenta tremendamente o vínculo entre o Ego e os futuros pais. Às vezes, até os Anjos devem ocultar o rosto da sombra que essa tristeza se molda, enquanto o cordão prateado que une mãe e filho é desconectado e flutua como uma teia de renda etérea atada fortemente pela névoa de lágrimas.

As almas que chegaram tão perto de um ambiente físico estão claramente conscientes da dor de seus pais terrenos e se esforçam para amenizar essa profunda tristeza, tanto quanto esteja ao seu alcance. Acompanhados pelos Anjos, muitas vezes, eles flutuam pelos lares que foram preparados para eles e deixam uma bênção de amor e graça como um lembrete gentil da presença deles. Mas, infelizmente, nem sempre é possível para os olhos marejados de uma tristeza profunda discernir a vinda deles ou para os ouvidos entorpecidos ouvirem seus sussurros suaves, que eles aprenderam com seus mestres Anjos a recolher a tênue teia do cordão prateado que prendia a mãe ao filho, ligando coração a coração, e que se tornou tão pesado com as lágrimas que o vínculo foi rompido.

A partir desse fio etéreo, os Anjos formaram frágeis pétalas de flores do mais puro branco e exalando em seus lábios uma fragrância delicada tão doce e profunda quanto o vínculo de amor entre uma mãe e seu filho, ainda não nascido. Essas pequenas flores delicadas foram espalhadas por toda a Terra como uma mensagem de amor do espírito aos não nascidos para as futuras mães. É assim que a Violeta Branca passou a viver no mundo dos seres humanos.

ALMAS-JUVENIS – A Mensagem do Amor-Perfeito

Uma verdadeira história para crianças e para adultos também.

Comemorativo do ministério de cura de M. W.

E há amores-perfeitos – isso é para pensamentos.

Por Shakespeare[22]

Essa é a história de um de nossos irmãos mais jovens que conheceu uma vida terrena, somente por alguns breves meses e, ainda assim, naquela época mostrou tanto amor e abnegação que as crianças e, também, os adultos, fariam bem em segui-los.

Amor-perfeito era uma gatinha cinzenta e desamparada com um rosto em forma de flor pensativamente triste, de olhos grandes e suaves que guardavam memórias de muitas experiências tristes. Pois os olhos dos animais contam suas numerosas vidas terrenas, do mesmo modo que os olhos dos seres humanos e para a sua história se faz necessário apenas saber como lê-los.

Um dia, enquanto tentava descobrir o que tinha o grande mundo, Amor-perfeito caiu e suas pequenas costas frágeis se quebraram. Sob o peso da dor, seus grandes olhos ficaram mais pensativamente tristes e o rosto em forma de flor se tornou mais fino e mais nitidamente definido.

Nesse tempo, uma Fada madrinha abençoada encontrou Amor-perfeito e a levou para morar em uma bela casa à beira-mar. Então, todos os dias difíceis acabaram, pois a bela senhora tinha uma verdadeira compreensão divina para com seus irmãos mais novos e não deixou nada por fazer para preencher os dias do Amor-perfeito com cuidado e ternura, para que a pequena vida pudesse colher todos os benefícios dessa experiência terrena. Mas, apesar de tudo, o corpinho ficou mais frágil e mais atenuado. O minúsculo Corpo Vital podia ser visto por olhos ocultos, às vezes, por estar quase livre da forma física, e foi somente através de sua resposta devotada ao amor e bondade derramados sobre ela para que fosse capaz de permanecer no plano terrestre.

Ao longo dos dias, enquanto a Fada madrinha estava envolvida em seus trabalhos de cura, Amor-perfeito se sentava na janela e observava os Auxiliares Invisíveis – ela pensava que eram Anjos – enchendo o quarto da Fada madrinha com belos pensamentos e imagens. Quando a Fada madrinha voltava para casa à noite, ela os reunia para o futuro trabalho, ajudando a aliviar as tristezas do mundo. Embora Amor-perfeito fosse incapaz de raciocinar sobre essas questões, instintivamente, ela sabia que aqueles lindos seres estavam trazendo amor e felicidade para sua Fada madrinha, pois quando ela entrava na sala, o seu rosto se iluminava como se o sol brilhasse por trás dela. Então, o pequeno coração batia muito rápido sob seu pequeno casaco cinza, e luzes dançantes brilhavam dentro de seus olhos ternos. Mas aqueles que não entendem, apenas viam uma pequena gatinha cinza ronronando no parapeito da janela.

Do lado de fora da janela, da casa da Fada madrinha, crescia uma linda roseira branca, e Amor-perfeito logo descobriu que ela usava as rosas para algum propósito especial em seu trabalho, já que as cuidava com muita cautela e sempre demonstrava a mais profunda satisfação e gratidão ao encontrar uma flor perfeita. À noite, Amor-perfeito estava acostumada a observar os Espíritos da Natureza modelando as flores. Nos dias solitários antes de encontrar a Fada madrinha, ela havia passado por todos e agora que descobriu o quanto a roseira significava para sua guardiã, ela escolheu torná-la sua responsabilidade particular. Nas noites de Lua Cheia, os Espíritos da Natureza eram especialmente ativos. Nessas horas, Amor-perfeito ficava sentada observando-os cuidadosamente durante toda a noite. Às vezes, seu corpinho ficava muito cansado e a dor das costas quebrada era quase insuportável. Mas não eram suas vigílias noturnas um serviço e um sacrifício de amor? Foi com esse espírito que Amor-perfeito, imóvel e em silêncio, observou os Espíritos da Natureza por horas, enquanto eles moldavam as pétalas tenras, e ficava com os olhos fixos nas belas Fadas enquanto exalavam fragrâncias nos corações das flores. Mas, de todo esse desempenho etérico, os olhos humanos não viam mais do que uma gatinha cinza olhando fixamente para a noite.

Devido a sua atenção amorosa que aquelas rosas cresciam, Amor-perfeito se sentiu ricamente recompensada quando viu sua Fada madrinha aparecer pela manhã para colher e levar com ternura as flores brancas perfumadas em sua bela missão de cura. Sempre que a oportunidade aparecia, Amor-perfeito andava ao lado de sua amada protetora, enquanto sua pouca força permitia, e quando ela não podia ir mais longe, ainda a seguia com seus olhos tristes até que a figura da amada se perdia de vista por completo, além das colinas. Voltando para casa sozinha, o corpinho de Amor-perfeito ficou tão cansado que ela foi forçada a descansar muitas vezes à sombra da grama alta à beira do caminho, mas o tempo todo o coraçãozinho batia feliz e o rosto melancólico iluminava-se com lembranças de ternas carícias e palavras gentis.

Apesar do grande amor que mantinha vivo o coração fiel de Amor-perfeito, o domínio sobre o corpo frágil diminuiu. Um dia a dor era quase insuportável, mas ela rastejou até onde cresciam as rosas brancas para observar a chegada da Fada madrinha. Exatamente, naquele dia ela chegou mais tarde do que o normal, pois muitas pessoas solicitavam seus serviços amorosos. Frequentemente, o pequeno corpo deficiente de Amor Perfeito tentava se erguer ao ouvir passos distantes, e a luz fraca brilharia de novo nos olhos sombreados. Mas quando o crepúsculo caiu sobre o mar, o corpinho cansado caiu para a frente na grama, e quando a Fada madrinha chegou, o coração gentil havia parado de bater. Com ternura, ela ergueu o corpo frágil e levou-a embora, pois na grandeza de seu coração ela encontrou lugar para todas as criaturas de Deus. Ninguém é tão pequeno e bastante humilde para escapar do amor dela.

Com reverência, ela colocou o corpinho de Amor-perfeito sob as rosas brancas, onde tantas vezes manteve suas longas vigílias. E agora, para aqueles que veem, quando a luz da Lua está cheia e os Espíritos da Natureza estão mais ocupados, muitas vezes, entre as sombras, surge uma pequena forma cinzenta saltando tão forte quanto as próprias Fadas, pois o pequeno dorso não está mais com a aparência irregular ou disforme. E muitas vezes, quando os belos Anjos estão enchendo a sala com pensamentos de amor pela Fada madrinha, o rostinho em forma de flor está ao lado deles. E eles também sorriem ternamente para isso, pois em seus grandes corações nenhum amor é pequeno por demais para passar despercebido ou não ser recompensado. Mas para aqueles que não podem ver tudo isso, há apenas um pequeno monte sob a grama, no qual as pétalas de rosa branca caem suavemente como flocos de neve perfumada.

Os belos serviços que os Anjos prestam ao ser humano não abrangem toda a sua missão na Terra. Nossos irmãos mais novos do Reino Animal também estão sob seus cuidados protetores. Aqueles que tratam dos negócios do Pai nos Mundos celestiais sabem que não há separação real entre os vivos e os mortos, por isso eles voltam frequentemente para inundar suas antigas moradas terrenas com amor e bênçãos. Em tênues formas de sombra, os animais também revisitam seus antigos lares e ficam perto daqueles a quem amavam durante a manifestação na Terra.

Naquela grande abertura de luz que divide o que é visto do que não é visto e do que é perceptível ou não, e que para o conhecimento da morte aparece como uma porta ou passagem, representa um ser glorioso que dirige e orienta a todos aqueles que passam de um lado para outro entre os Mundos internos do real e os externos que são seus reflexos. Esse belo ser é conhecido como a Maria Divina, a Senhora Abençoada com Mãos de Luz – mãos tão iluminadas por causa de seu ministério constante e amoroso por todas as coisas vivas. De suas mãos derramam raios de luz resplandecente que inundam eternamente essa Ponte de Transição entre os vivos e os mortos.

Na linguagem das flores, os Anjos tornam tangível essa verdade para todos aqueles que irão recebê-la, e assim eles moldaram a primorosa Amor-perfeito como um reflexo das multidões de rostos de bebês que muitas vezes pairam sobre os entes queridos a quem foram emprestados por tão breve estada. Em suas pétalas de veludo estão inscritas as orações amorosas de bebês que circundam a Terra quando os Anjos penduram as cortinas do crepúsculo, marcadas pelas estrelas dos céus.

E é assim que essa amada florzinha leva o nome de Amor-perfeito – pense em mim – pense em mim.

AS FLORES DE ACÁCIA

A luz que você carrega que ainda não vejo

Será um farol para você e para mim,

Ainda assim, serei seu guia.

— Mensagem da Mulher para o Homem

Ao final da tarde a luz minguante brilhava, refletida em um trecho do mar suave e longo. Faixas cinzentas de nuvens pairavam pesadas sobre o horizonte, encerrando o dia com aquela sensação de proximidade do infinito e aquela liberdade da alma que o espírito do mar sempre proporciona. Um homem e uma mulher estavam juntos na areia, olhando para a imensa porção de águas escuras, enquanto a maré vazante batia contra a costa fazendo um som característico, mas baixinho, como um coração aflito. O ritmo foi quebrado por uma gaivota grasnando baixinho pelo seu companheiro. Quando a luz da tarde foi se obscurecendo, uma longa linha dourada rastejou através do banco de nuvens e destacou em relevo os contornos de um barco se aproximando da costa. À medida que o barco se aproximava, o rosto da mulher se iluminava, enquanto uma sombra caía sobre as feições do homem. A mulher se voltou para o homem e, com um sorriso radiante, estendeu as suas mãos solicitantes para que fossem seguradas.

– “Você vem comigo?”, ela perguntou a ele.

Ele se virou e olhou fixamente para as águas cinzentas.

– “Você não está vendo a luz dourada que rapidamente rompe as nuvens cinzentas?

– Oh, mas você vem? – ela perguntou novamente – “pois, atrás daquela cortina de ouro que a cada dia estava mais transparente, já posso ver as Colinas Azuis da Realização agigantando-se contra o céu com sua crista brilhante de sonhos. Suas alturas são tão deslumbrantes que ainda não ouso tentar olhar para elas; mas se você vier comigo, juntos encontraremos seus picos mais elevados”.

– “Não consigo ver nada”, declarou o homem, “a não ser os bancos de nuvens suspensos sobre o mar. Por que devemos embarcar em águas desconhecidas em busca de uma aventura estranha, quando há tanto a fazer aqui? Por que você não pode ficar comigo e nos dar por satisfeitos com as coisas como elas são, sermos feliz no viver, amarmos e trabalharmos no mundo que conhecemos?”.

A mulher desviou seu olhar triste para longe, enquanto respondia:

– “Realmente, para compreender e fazer o nosso melhor trabalho com o que sabemos, devemos ter algum conhecimento do desconhecido. Meu trabalho deve alcançar os efeitos que são vistos e tocar as causas que não são vistas. Você não consegue perceber que não há barreira entre nós, exceto aquela que seu próprio pensamento inferior criou? Ambos estamos seguindo o mesmo caminho, só que você escolheu o lado que foi suavizado e nivelado pelos muitos renascimentos, enquanto eu estou seguindo o caminho solitário que poucos ousaram percorrer até agora. Enquanto seguirmos nossos caminhos separados, a Obra deve permanecer incompleta e iremos tropeçar, mutilados e incapacitados, devido a falhas miseráveis e aos equívocos. A realização perfeita do nosso compromisso só pode vir por meio de uma combinação harmoniosa do nosso duplo poder. Por muitos milhares de anos, através das estranhas complexidades da vida, nós nos tocamos e nos separamos, apenas para descobrir em cada novo encontro, sombreado por vagas lembranças e perturbado por sonhos, em parte, familiares. Por quanto tempo mais você vai atrasar na realização de um plano que é divino em sua plenitude?”.

– “Não entendo”, respondeu o homem; “Não consigo ver e não sinto o chamado estranho que lhe atrai. Parece-me que você é vítima de estranhas fantasias, de noções bizarras que não têm nenhum fundamento na realidade e na verdade. Você está disposta a esquecer o amor e o dever por sonhos utópicos”.

A mulher olhou para ele com compaixão enquanto ouvia, contudo, uma ternura ansiosa, meio maternal, tomou conta dela. Quando ele parou de falar, ela gentilmente respondeu:

– “Se eu não tivesse conhecido esse grande amor, nunca teria encontrado a chave que abre a porta dos mistérios da vida. Nenhuma mulher pode começar a compreender a divindade que dorme no âmago das coisas, até que tenha encontrado o seu próprio ser divino através do amor da alma”.

Seu rosto ficou extasiado enquanto ela continuava: “No caminho que leva ao topo daquelas Colinas Azuis da Realização posso ouvir a batida do coração de séculos, à medida que os homens e as mulheres da Onda de Vida Humana escalam juntos, e aquela luz indescritível que coroa seu ápice é um reflexo dos rostos daqueles que encontraram a verdade que lá habita. Há um cordão invisível e sutil que se estende entre o homem e a mulher, ligando-os sempre juntos, e até mesmo não percebido por muitos, mas, ainda assim, é a força mais poderosa em todo o universo. Quando o homem compreender essa lei, ele saberá que não pode machucar a mulher sem machucar a si mesmo. A mulher saberá que não pode se levantar sem puxar o homem.”. Com essas palavras, ela fez uma pausa e, olhando para ele com o amor de longos séculos brotando em seus olhos, ela continuou: “Nenhum dos dois pode ir sozinho. Há uma altura que só pode ser atingida quando o homem e a mulher sobem de mãos dadas”.

O barco se aproximou da areia e esperou como um estranho pássaro pronto para voar. A mulher se virou e olhou para o homem de forma minuciosa e com seriedade. Mais uma vez, ela falou com ternura:

– “A alma da mulher salta para as estrelas em um salto nas asas da intuição, e lá ela espera pacientemente enquanto o homem escala lenta e laboriosamente pela longa escada da razão e do intelecto, mas os dois devem se encontrarem e se reunirem para sempre no cume da Consumação Divina. Estarei sempre à sua espera, ó alma da minha alma”. Beijando-o na testa com reverência, ela se virou cambaleando em direção ao barco, cega pelas lágrimas.

Mudo, silencioso, com uma estranha dor no coração, o homem observou o barco deslizar sobre as águas cinzentas. À medida que aumentava a distância entre eles, sentiu sensivelmente puxando a corda que os unia e, ao mesmo tempo, uma estranha premonição angélica o emocionou, de que algum dia ele também viajaria por aquele mesmo caminho. Quase inconscientemente, ele se esforçou para imaginar as Colinas Azuis do Sonho contra o horizonte e, ao fazê-lo viu a grande névoa se abrir sobre o barco e uma estrela dourada brilhar sobre ele. Ao mesmo tempo, o cordão invisível se alongava e se alongava, mas ele sentia em seu coração que nunca poderia se quebrar.

Todos os dias, os Anjos enviam seus Auxiliares através do mundo terreno para reunir todos os ideais e concepções que nascem da humanidade. Eles estão sempre à espreita de belos sonhos que flutuam através dos Éteres; eles reúnem a essência de nobres aspirações e a fragrância de muitas ações que são desconhecidas e pouco divulgadas: esses eles carregam para os reinos que os Anjos chamam de lar, e lá eles são modelados em flores que os Anjos devolvem novamente à Terra. Cada flor nasce de uma bela concepção, ou tipificam algum ideal nobre que vive no coração da humanidade.

Para simbolizar o belo vínculo entre o homem e a mulher, os Anjos geraram a Acácia. E é por isso que foi escolhido por uma das Fraternidades místicas mais importantes, cujos ritos são fundados no amálgama dos princípios masculino e feminino, para uso cerimonial como um símbolo de Vida Eterna e de Amor.

O AMOR NASCIDO DA DOR – A Lenda da Flor da Paixão

Oh coração, oh sangue que congela

Sangue que queima,

Retornos da Terra

Por séculos inteiros de loucura,

Barulho e pecado,

Feche-os,

Com seus triunfos e suas glórias e o repouso – o amor é o melhor.

Por Robert Browning

As emoções pertencentes aos planos inferiores do Reino conhecido como Desejo, emitem suas notas de vida em uma massa rodopiante de forma e cor e, aqui também, os Anjos encontram trabalho para fazer. Fora desse redemoinho de sorrisos e lágrimas, de esperanças e decepções, de medo e dor, em que a maior parte da humanidade constrói tão inconscientemente, ainda assim, constantemente, os Anjos auxiliares estão ativamente empenhados em tecer padrões de flores que tomarão forma e crescerão na Terra. Muitas flores vivem e florescem como símbolos dessa influência gerada pelos pensamentos e desejos de homens e mulheres no mundo.

Há um vasto jardim onde as flores deslumbrantes florescem com uma beleza carmesim e exuberante. Até o Sol parece captar o reflexo de sua luz vívida e brilhante, com uma tonalidade mais avermelhado. Todo o ar está parado e carregado com um perfume lânguido, pois este é o jardim onde só crescem as flores da paixão. Nas primeiras horas da madrugada, quando a essência espiritual do céu está sendo soprada sobre a Terra e, assim, é mais fácil despertar a alma do ser humano para as realidades da vida, e novamente na hora mística do crepúsculo, quando a Terra mantém uma conversa silenciosa com as estrelas, uma bela Fada entra suavemente neste jardim e caminha ansiosamente por seus variados caminhos. Frequentemente, ela tenta pressionar as pétalas carmesim contra o peito, mas elas apenas deixam uma mancha de tonalidade escura e sombria, e preenchem seu coração com um estranho desejo. Ela deve se afastar por muito tempo desconsolada – pois o Espírito de Felicidade nunca pode encontrar aqui um lugar permanente para habitar.

As flores do jardim tornam-se mais abundantemente exuberantes e de uma beleza selvagem, enquanto a cada visita o Espírito de Felicidade se torna mais frágil e atenuado, até que, finalmente, sua presença gentil é como uma lembrança de alguma coisa doce.

Um dia ela entrou no jardim muito devagar, mas ainda se curvando ansiosamente sobre as flores brilhantes, com seus dedos frágeis mal tendo forças para fazer sua costumeira impressão escarlate em seu peito. Quando ela se vira cansada, cai inconsciente no chão, enquanto um pólen leve e nauseante penetra rapidamente sobre ela até que ela quase se perde de vista.

De repente, um vento frio sopra sobre o jardim e todas as flores da paixão inclinam docilmente em suas hastes, enquanto uma flor rara e branca, que não parece pertencer à Terra, permanece como uma presença sagrada no meio delas.

Sob essa nova influência, o Espírito de Felicidade revive e luta para ficar de pé. Ansiosamente, ela banha seu coração ferido na suavidade de seu perfume, e seus dedos perdem suas manchas carmesim em meio ao veludo de suas pétalas.

As Flores da Paixão inclinam cada vez mais em seus caules até que seus rostos estejam completamente escondidos na poeira, enquanto a estranha flor branca cresce mais alta e mais bela e enchendo o jardim com sua glória celestial.

“A Felicidade é um atributo da alma muito raro para ser tratado com ociosidade”, dizem os Anjos, inclinando sobre a borda do mundo, olham para o jardim prostrado abaixo. “A Flor do Amor não nasceu naquele dia mais cedo, pois a Felicidade não poderia mais ter sobrevivido em meio a tanta solidão e dor”.

Uma grande onda de luz inunda o jardim. Não se pode dizer se vem da flor branca que ergue seu rosto tão orgulhosamente para as estrelas, ou dos rostos dos Anjos com asas dobradas e mãos quietas que se ajoelham para orar.

UMA SINFONIA DE LÍRIOS

O sopro do crepúsculo caiu suavemente no jardim, como alguma melodia de fragrância assustadora e pouco lembrada. Uma sinfonia em branco e dourado, o jardim estava todo lindo e silencioso e sob o céu um pôr-do-sol tingido de opalina [23]. Lírios, lírios – havia lírios por toda parte. A partir de exóticos raros, impregnados pelo seu rico perfume, às pequeninas flores brancas com que os beijos da floresta em seus lábios.

Para a Mulher com o Coração de Lágrimas, eles trouxeram uma mensagem de paz de suas profundezas perfumadas. Em sua beleza pura e branca com corações dourados, ela os comparou a sua própria criança Lily, uma garotinha que costumava brincar por lá, há muito tempo. Mas foi então que a Mulher manteve a luz do verão em seu coração.

Uma noite, quando as estrelas estavam brilhando e os lírios inclinavam suas cabeças sob uma dor de gotas de orvalho peroladas, a alma da criança Lily foi levada aos cuidados de Deus tão suavemente, da mesma maneira como a doçura de seu jardim flutuou para cima nas asas da noite. Era por causa do coraçãozinho que os amava tanto, que os lírios se tornaram mais belos e as flores mais doces. Quando a Mulher com o Coração de Lágrimas os enrugou em sua dor, eles espalharam um perfume que era como uma bênção sobre ela. Às vezes, ela até imaginava que a alma de sua filha Lily respirava novamente em sua beleza e que o aroma de seu amor brotava de seus corações perfeitos.

Uma noite de outono, quando os ventos tocavam pequenas melodias menores com as folhas rugosas, e os lírios, como memórias assombradas, ficaram brancos e elevados e ainda assim, a Mulher com o Coração de Lágrimas viu quando se ajoelhou entre eles, uma criança adormecida, meio escondida em suas sombras perfumadas. Uma pequena criança abandonada talvez, mas semelhante em sua maravilhosa justiça para com a criança Lily de muito tempo atrás. O cabelo dourado estava emaranhado entre as pétalas brancas e macias. As mãos daquela criança agarraram uma quantidade de flores murchas contra o peito. Ela havia vagado por este santuário guardado apenas pelos Lírios sentinela. Mas eles não perceberam a diferença e se agruparam com tanto amor em torno dessa linda cabeça como se aninharam sobre o terno coração que por tanto tempo permanecera frio e quieto.

De alguma forma estranha, em que a tristeza se mesclava com uma espécie de doçura menor, e a ternura se mesclava com a dor, a pequenina sorriu com a essência de seus sonhos mais profundos do Coração de Lágrimas da Mulher. O sopro dos lírios sonolentos tomou conta dela em cadências de música oral, enquanto essas palavras em ritmos cadenciados de fragrância, despertavam em seu coração uma melodia persistente: “Quem receber uma dessas crianças em Meu nome, a Mim recebe.”[24].

Os sorrisos que cruzaram o rostinho eram para a Mulher com o Coração de Lágrimas como as carícias de um raio de sol em mármore delicadamente cinzelado. Os olhos que de repente se abriram e cruzaram com os dela, eram estrelas que haviam descido do céu, ainda retendo um pouco do azul de seu cenário celestial. Com toda a intuição de uma criança, ela sentiu o desejo do amor materno inclinar-se sobre ela. Estendendo suas mãozinhas desatentas de infância, mas feliz, sua risada infantil despertou um eco no Coração de Lágrimas da Mulher que se fechava de tristeza, já que a pequena sepultura foi feita como uma cicatriz na bela face do jardim. Ao reunir a criança em sua vida solitária, suas lágrimas caíram suavemente sobre os lírios esmagados e iluminaram-nos quando um novo amor despertou em seu coração.

Com o nascimento deste amor veio à luz de uma grande compreensão, aquela que se encontra inevitavelmente na sombra de um amor que é matizado com o divino. Ali ao lado da pequena cama onde os doces sonhos da criança Lily haviam adquirido forma tangível nas flores de Lírio que se curvavam sobre ela, a Mulher com o Coração de Lágrimas aprendeu que o Amor é a chave mágica da vida e de seus infinitos mistérios. A imutável lei da compensação foi investida de um poder e uma beleza que ela nunca havia conhecido antes.

Ela percebeu como é infinitamente bom saber que não há nuvem escura demais para que a luz do sol se dissolva e nenhum rosto tão belo que não esteja manchado de lágrimas e mesmo assim ser tão belo para eles. Só o amor purifica o pecado, torna a tristeza sagrada e põe a resignação como uma estrela na fronte da dor.

O incenso das esperanças enterradas retornou a ela, revivificado no glorioso tema que os Anjos cantam diante do Trono de Deus: “E agora permanece a fé, a esperança e o amor, porém, a maior destas virtudes é o Amor.[25].

No panorama dos anos subsequentes, cheios de possibilidades se estendendo diante dela, a tonalidade da dor que sombreava todas as coisas, desapareceu. O mundo estava em tonalidades dourados. Ela sabia que os acordes de amor, pelo conhecimento da fraternidade de toda a humanidade, tocavam profundamente em seu coração, respirando através de sua alma a inefável harmonia, de sua unidade com o Infinito. Esta é a concepção divina do Amor.

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No decorrer da noite, os ventos vergaram os lírios sobre seus caules delgados, o pequeno monte abaixo deles estava coberto com a ternura verde da doçura do coração. E a fragrância do jardim parecia derreter em uma música – uma Sinfonia de Lírios.

A CATEDRAL DA NOITE

“Uma asa de Anjo bate em cada janela,

Mas apenas os ouvintes ouvem e se levantam.”

Por Anon

Os suaves portais de cor púrpura abrem no crepúsculo, e lá estava a vasta Catedral da Noite, empoeirada de anseios e sombreada por sonhos, repleta de pontas de chamas douradas que brilham e cintilam, e derramam seus segredos sobre o coração de um mundo adormecido.

O interior dessa imponente catedral é o lar de harmonia e ritmo inefável. A vasta extensão é apoiada por infinitas colunas panorâmicas espirais formadas em uma requintada simetria. Permanecendo como a alma de algum mármore raro transformado no Espírito da Juventude, da Inocência, da Alegria e da Beleza, elas emitem um etérico esplendor de Luz. Entre essas colunas, os corredores perfumados conduzem a um altar cintilando em sua brancura de neve como o mais puro alabastro[26]. Em perspectivas maravilhosas, essas colunatas como fadas, estendem-se ao longe, e são mais belas à medida que vão recuando, até se perderem sobre o altar em um êxtase branco e luminoso.

De repente, a luz se intensificou. As notas de um coro triunfal soaram ao longe, aproximando-se cada vez mais, até que toda a vasta catedral estivesse vibrando com a música. Gradualmente, cada átomo do espaço é preenchido – preenchido com os espíritos de crianças pequenas, alegres, radiantes, livres.

Nos seus lares físicos, enquanto os pequenos corpos estão repousando no sono, as almas flutuam pela silenciosa Catedral da Noite. Aqui, eles formam belas amizades com outras almas de crianças que também estão temporariamente libertas de seus corpos terrestres. Guiadas e dirigidas pelos Anjos, que são professores sábios e amorosos, eles estão aprendendo, por meio de brincadeiras alegres, a tecer com fios de ouro em suas vidas terrenas alguns reflexos tênues do Mundo celeste. Esses lindos Anjos reúnem esses espíritos em procissões longas e vestidas de branco, que percorrem seus incontáveis caminhos pela Catedral. Primeiro eles entram no Salão do Silêncio, guardado por imensos portões de ouro que sempre se abrem, convidando qualquer um a entrar, e nunca fechando a não ser ao som de uma palavra falada quando, por alguma magia estranha, eles se tornam barreiras imensas e impenetráveis, bloqueando as belezas primorosas que está além deles.

As paredes deste Sala são compostas por inúmeros mosaicos construídos de sonhos. Eles formam uma sinfonia de cores vivas e iridescentes (furta-cor). Alguns dos padrões são estranhamente fantasiosos, outros são cativantemente belos, enquanto outros são tão bizarros e estranhos que existem aqueles que ficam perdidos em admiração diante deles. Cada um que entra aqui, encontra um padrão para estudar. (Pois não somos todos sonhadores no coração?) Alguns desses sonhos cintilam e brilham com todo o esplendor de uma vida sempre crescente porque foram trazidos à fruição na Terra; outros, meio envoltos nas sombras do crepúsculo, estão lentamente desaparecendo nas coisas escuras esquecidas. Eles são incapazes de suportar porque nunca receberam vida no “mundo dos homens”. (O que se vê é que muitas das mais belas almas, mesmo assim, com desejo ardente estão se afastando).

O chão desta Sala do Silêncio é de luz suave e se compara a névoa de um dia de primavera que se eleva toda prata e creme do coração de um rio. As paredes se tornam mais claras e luminosas, à medida que mais alto eles se ascendem, até que se perdem em um esplendor indescritível no espaço infinito. Os padrões estão mudando constantemente à medida que novos sonhadores entram no Salão e lá inscrevem seus sonhos. Uma das principais verdades ensinadas pelos mestres Anjos é o valor inestimável da alma a ser adquirido frequentando a Sala do Silêncio, e a importância que assume em termos de conhecimento, orientação e conforto nos tempos que virão para toda a humanidade.

Ao deixar este Salão, muitas das crianças veem um belo Espírito, distinguível onde quer que ela vá por meio da joia usada em seu peito. Essa joia fica maior e aumenta a luminosidade a cada serviço prestado a um necessitado. Ao conceder tal ajuda, ela brilha com uma luz gloriosa. Este é o Espírito de Serviço. Ela nunca é encontrada sozinha, mas de todas as formas entre as multidões. Onde o escuro sombrio do outono, são mais longos e profundos, a luz da joia preciosa em seu coração brilha como uma estrela de amor caindo sobre um mundo cansado e acalmando-o em uma paz infinita.

Os raios brilhantes do Sol do Espírito de Amor resplandecem e transfiguram aqueles cujos corações e mãos estão aprendendo a seguir seus caminhos de ajuda ministerial. À medida que as almas avançam em conjunto, elas encontram a entrada para uma vasta sala, uma sala cujas dimensões são indescritíveis. Através de seus portais sempre abertos, os raios de uma Estrela brilhante lançam sua luz, e todos que cruzam seu raio de ação, nele devem entrar. O interior desta sala é formado por numerosas bainhas de pérolas. Os pisos que se estendem por uma distância infinita e as paredes cujos limites estão além da visão são todos mais iluminados com seu brilho suave. A luz aqui é tranquila e moderada como a luz de uma Lua nova brilhando nas florestas profundas. Roubando pelo ar, estão as melodias menores sonhadoras tocadas em harpas de ouro.

Alguns daqueles a quem a Estrela guiou até a porta veio com lamentos e gritos doloridos de dor; outros veem de boa vontade com sinais de gratidão pelo que eles reconhecem como uma oportunidade de aprender lições importantes e muito necessárias. Após sua permanência terrena, cada alma deve novamente cruzar este mesmo limiar, pois é aqui que a Lei de Causa e Efeito imprime seu registro na forma retratada. Os mortais conheceram esse lugar como a Sala da Tristeza e do Pesar Profundos. Suas joias mais preciosas são formadas pelas lágrimas cristalizadas da humanidade. Inúmeras pérolas belíssimas de sacrifício e renúncia podem ser encontradas aqui. Esses são mostrados àqueles que têm olhos para ver por meio dos Anjos que servem como professores. Todos os dias pérolas são adicionadas na bela estrutura; nenhum está perdida. É por isso que a sala deve ser tão grande e seus limites são incomensuráveis.

A coisa mais bonita nessa grande sala de luz é o Altar das Pérolas. Cada gema é perfeita em tamanho, cor e forma e é iluminada com uma beleza suave e amorosa. Essas são as lágrimas cristalizadas das mães. É nesse altar que os espíritos tristes se aproximam de Deus. É aqui que a próprio Sala da Tristeza e do Pesar Profundos vive quando está longe de sua casa no Mundo celestial. Nesse reino elevado, ela sempre se encontra perto do Espírito de Amor. É assim que a tristeza sempre paira sobre a glória branca do Amor. Esse é o ensinamento dos Anjos às almas das crianças visitantes, e esse conhecimento está profundamente gravado em seus corações para que as experiências terrenas, quando retornam, possam se tornar mais compreensíveis. Depois de tal instrução, muitos reconhecem, intuitivamente, a Sala da Tristeza e do Pesar Profundos como doce, justo e amigável, e assim perdendo todo o medo, saúdam-na com os braços abertos. A Sala da Tristeza e do Pesar Profundos está sempre vestido de branco, simbolizando o fato de que ela não se arrepende. Quando uma alma reconhece sua verdadeira missão, a tristeza desaparece porque se transmutou em amor. Os Egos dessas crianças são instruídos a lembrar que, para um Espírito desperto, a tristeza é apenas o cadinho no qual se testa a força de caráter.

Ao lado da entrada dessa vasta Sala da Tristeza e do Pesar Profundos encontra-se uma figura que parece a própria essência da luz. Cercado por um halo de vibração palpitante, que se estende muito além da linha de visão e penetrando profundamente no coração de tudo que toca, ele atrai um eco em esplendores refletidos. Muitas almas veem da Sala da Tristeza e do Pesar Profundos, algumas acompanhadas e outras sozinhas, mas este Espírito brilhante lança, em cada um e em todos, um raio de luz. Poucos entre eles têm consciência da luz que os circunda, e com exceção das almas raras e excepcionais podem ver o Espírito sublime.

Esse Espírito, raramente, é visível para aqueles que aparecem acompanhados; quando visto, é quase sempre, por quem anda sozinho. Os Anjos explicam que este é o sublime Espírito da Verdade. Em sua verdadeira casa, no Mundo celestial, ele vive mais perto de Deus do que qualquer outro Espírito, exceto o do Amor. Embora os Egos possam permanecer na luz que emana dele, porém, podem nunca se aproximar do grande Espírito. Quando alguém tenta alcançá-lo, ele sempre recua; no entanto, a LUZ SE TORNA MAIOR. Jamais, alguém estará consciente da plena glória desta grande luz, exceto aqueles que trazem em seus corações uma impressão da Sala da Tristeza e do Pesar Profundos.

Em grandes grupos, as almas das crianças se reúnem em torno do glorioso Altar Branco da Catedral. Este é o altar do Amor e é iluminado com a luz branca e pura que desce do próprio trono de Deus. A luz que emana deste altar inunda o edifício majestoso em todo o seu comprimento, largura e profundidade. Os Anjos explicam para as crianças como a luz sempre retrata o amor. Nunca pode haver luz sem amor, visto que o último é a causa do primeiro. Sempre que observarem a luz de um novo dia, eles devem se lembrar que é uma expressão do amor de Deus pelo mundo. Sempre que virem o Sol, o coração de nosso Sistema Planetário, eles devem saber que ele também é um símbolo do amor de Deus.

Pairando sobre esse altar está muitos almas aguardando a convocação para renascer. Cada um, como o chama o Anjo da Vida, reúne uma oferta do altar do Amor para levar em seu coração ao mundo, pois esses são os mais doces mensageiros de Deus para o ser humano. Além do altar do Amor está a entrada para o que parece ser o domínio da Terra Sombria. À medida que as crianças se aproximam dessa entrada, elas hesitam como se uma onda de dor as envolvesse; uma escuridão sombria permeia o espaço que é delineado por um friso suave de lágrimas. Incontáveis pequeninos envoltos nas sombras suaves são vagamente discerníveis, e o que parecia um grito lamurioso como de sons de arrependimento de orquestras formadas por sombras.

Os Anjos explicam que essa é a casa daqueles que estão esperando para retomar suas vidas terrenas, e que quando o Anjo da Vida os chamar, eles devem ir, cada um para o seu lar, onde serão estrangeiros e desconhecidos, e onde não serão bem-vindo. É por isso que, intuitivamente, evitam sair pelo fato de estarem envoltos em sombras. Eles não vivem tão perto do grande altar do Amor como aqueles que vão para os lares de amor, onde sua chegada é esperada com ternura e ansiosa expectativa. Esses pequeninos da Terra Sombria, às vezes, se esquecem de levar uma oferta do altar do Amor, quando vão para o mundo terreno, e por causa dessa falta em seus corações, suas vidas serão muito difíceis até que encontrem o amor por meio do serviço aos outros. Como semeamos, devemos colher: esses desafortunados semearam na escuridão; agora eles devem colher sombras até que a tristeza e o sofrimento os tenham levado à realização da Lei perfeita.

De repente, através do ar, são subtraídas harmonias inefáveis que surgem de um jogo sinfônico de cores. Lavandas suaves derretem em cinzas requintados, e tons de violeta se entrelaçam com rosa em tons mutáveis de beleza tão raros e delicados que parecem apenas sonhos delirantes. Cada cor respira na suave e indescritível fragrância musical – fechando os acordes meio lamentosos, apenas para se perder na distância com ecos de Fadas. Flutuando, mudando, tecendo e se separando, eles abrem perspectivas atraentes de um mundo de sonho à frente. Montanhas e prados, vales e planícies cobertos de flores se estendem em uma beleza estranha e sobrenatural iluminada e irradiada por um Sol dourado. A luz penetrou no coração de cada árvore e flor e deixou ali um raio de si mesma para testemunhar a glória da luz e do amor. O ar é tão luminoso com essas cores cintilantes que nenhum olho mortal poderia suportar o brilho por muito tempo.

Do coração desta terra dos sonhos vem uma figura feminina de majestade sobrenatural, mas não tão bela quanto os Anjos. Ela é assistida por muitas belas figuras que estão espalhando papoulas com cheiro de sonho ao longo de seu caminho. Doces imortais e o perfume de tranquilidade se mesclam com a fragrância de seus pensamentos em terna saudação. “Quem você acha que eu sou?”, ela pergunta. As crianças ficam em silêncio em um êxtase reverente. “Eu sou o Espírito da Morte”, responde ela.

Para as exclamações de alegria que saúdam esse anúncio, ela oferece mais informações sobre si mesma. “Sim, eu sei”, diz ela, “que a pobre humanidade iludida sempre me imaginou como uma criatura carregando uma caveira e ossos cruzados, ou em outras formas aterrorizantes que instilam nos mortais um medo geral de minha presença; mas se eles apenas entendessem, me reconheceriam como um amigo. Quanto mais o ser humano aprende de mim, mais ele saberá de si mesmo”.

Carinhosamente acariciando os grupos que se reuniam ao seu redor, ela continua: “Amo todos os que vêm a mim e levo cada um ao meu coração como uma mãe faz com um filho cansado. Afinal, quase todos são apenas crianças – alguns deles muito cansados e a maioria extremamente assustados com a mudança. Ensinem ao mundo, meus pequeninos, quando vocês voltarem, que não há nada a temer. A morte é apenas uma passagem de um sonho para a realidade – a realidade que está por trás do sonho. Todos esses que me atendem recebem e cuidam dos pequeninos que vêm da Terra e não têm nenhum dos seus entes queridos aqui para encontrá-los e ajudá-los a se acomodarem em seu novo ambiente. O serviço que presto com o maior prazer”, acrescenta baixinho, “é acalmar um coração cansado e dar descanso a uma alma cansada”.

A cortina de cores se levanta, novamente, revelando cenas de beleza fascinante e respirando música tão estranhamente doce que até mesmo os Anjos são obrigados a fazer uma pausa para ouvir; o Espírito da Morte diz às crianças que neste mundo de cores cada movimento emite um som. O ar é tão rarefeito e as vibrações tão suaves que as almas podem ouvir o som das coisas crescendo; as árvores, flores e a grama se unem em uma música de maravilhosa harmonia. Soma-se a isso a sinfonia composta pelos tons emitidos dos pensamentos e movimentos dos Anjos e de seus responsáveis.

Com relação a essa música dos reinos mais sutis, o Anjo da Morte diz a seus ávidos ouvintes: “Os Espíritos da Natureza também fornecem essa música ao mundo, mas aqueles que vivem na Terra estão tão imersos em sons da materialidade que não podem ouvir essa música celestial. Por causa de sua sensibilidade, os pássaros chegam perto o suficiente da música do Mundo celestial para sugerir que pelo menos ressoe essas harmonias celestiais.”.

“Dos tons de cores dos planos superiores, as flores captaram seus matizes variados, e os pensamentos de amor dos Anjos são transmitidos em sua fragrância. Seus pensamentos de amor, beleza e verdade assumem a forma de flores nessa esfera. Esses Anjos moldam essas flores terrestres e as devolvem para enriquecer sua vida. Além disso, os Anjos imprimem seus próprios pensamentos de amor nessas mesmas flores que se tornam, por assim dizer, uma emanação de seu próprio ser. Portanto, da próxima vez que inalar a fragrância de uma flor, lembre-se de que está recebendo uma mensagem de amor do Anjo que a criou. Também, o que foi dito sobre os belos pensamentos se aplica aos pensamentos poucos nobres. Eles também acabam sendo externalizados. Eles ficam congelados e áridos e acabam murchando e estragando as flores da bondade e da verdade. No entanto, em pouco tempo o Espírito de Amor irá permear o Mundo Físico de tal forma que todos os pensamentos rudes e inverídicos serão dissolvidos. Assim, a Terra se tornará sintonizada com as oitavas superiores, e seus habitantes verão e compreenderão muitas coisas que até então não sabiam. E o mais incrível acima de tudo, é que ninguém terá medo da morte. Todos perceberão sua verdadeira missão. Ajude-nos a tornar este dia mais próximo”.

Seu sorriso era como a fragrância branca do luar, onde uma vez mais as cores se separaram. Quando elas se fecharam novamente, o belo espírito desapareceu, não deixando nenhum som, exceto a música de sua partida.

Contudo, o tempo passa rápido e outras lições ainda precisam ser dadas aos filhos antes que o amanhecer que se aproxima os chame para retomar para suas vidas terrenas. Assim guiados por seus Anjos-professores, eles avançam em direção a um jardim onde muitos pessoas estão sendo instruído a utilizar os lindos tons de cores do pôr-do-sol na pintura. À medida que as multidões avançam, passam por um belo Espírito em pé meio na sombra e meio na luz. Devido a pressa, apenas alguns prestam atenção em sua presença. Nessa caminhada, em longos intervalos, alguém se afasta desta multidão e por um pequeno tempo, vai até lá para tocar a bainha de sua vestimenta. Quando isso acontece, uma alegria imensa ilumina seu semblante; de outro modo, fica entristecido por tantos que passam despercebidos por ela. Esse é o Espírito da Memória, cujo lugar deve permanecer por muito tempo nas sombras. Rara é a alma que toca suas vestes e, assim, carrega uma lembrança do Mundo celestial para a consciência da vida terrena. Para cada um que faz esse contato, há uma alegria no coração do Espírito da Memória, pois essas almas despertas tornam-se professores na Terra das verdades da vida eterna.

Aquele que veio ao Espírito da Memória é dotado de uma visão que vê a luz além das sombras, da mesma forma de quando vemos o arco-íris brilhando entre as nuvens de tempestade. Tal pessoa compartilha alegremente as tristezas da humanidade no esquecimento de si mesma. Ele caminha de boa vontade nos lugares sombrios para que outros que lutam ali possam receber mais luz solar. Com gratidão escolhe os caminhos difíceis, pois sabe que é seguindo o caminho da dor, que tão rapidamente se condicionou a estar diante do Santuário do Espírito.

Assim, os Egos que conhecemos enquanto crianças se encontram no meio de um jardim de Fadas que parece ser feito de arco-íris. Doze belos espíritos estão agrupados em um semicírculo perto da entrada. Os Anjos-professores explicam que esses são os Espíritos das Horas.

“Existem doze para as horas do dia e doze para as horas da noite. Eles cercam a Terra e seu círculo nunca é quebrado. Os doze Espíritos que guardam a noite estão agora no mundo onde formam o outro semiarco do círculo.”.

“Esses Anjos da Noite estão ocupados reunindo os belos pensamentos e as boas ações que deixaram sua impressão na Terra durante o dia. Retornando aos Anjos, que vocês veem trabalhando aqui e que os transformam em cores com as quais pintam o céu. Sob a orientação do Espírito do Amanhecer e do Espírito do Pôr do Sol, hostes de Anjos auxiliares que estão ensinando entidades desencarnadas a trabalhar com as cores da Terra. Embora pareçam transparentes, eles são, na realidade, muito mais intensos e cintilam e brilham com o esplendor da própria vida, aqui estão os vermelhos brilhantes da vida humana graduando-se na oitava superior dos tons de rosa; as forças laranja que magnetizam a existência física e fazem soar o apelo para o serviço à humanidade; verdes suaves que acalmam em doce compaixão; azuis de harmonia e felicidade derretendo-se no azul suave dos sonhos místicos, e alfazema que respiram tristezas divinamente nascidas, ascendendo às luzes violetas do espírito.

“Toda essa gama de cores é ofuscada pelos tons gloriosos do amor. Cada dia deve haver um pouco de ouro no pôr do Sol, porque tem havido pensamentos de amor no mundo, e este é seu reflexo dourado. Bem distante, no interior do jardim, estão outros seres que trabalham com cores que nenhuma palavra pode descrever. Eles não estarão disponíveis para uso na Terra até que as crianças que são atraídas aqui, noite após noite, tenham crescido e aprendido como aplicá-los em suas vidas terrenas. Então, a Terra será suficientemente rarefeita para entrar em contato com essas cores mais sutis”.

Próximo à entrada do jardim, um chafariz jorra águas perfumadas de matizes multicoloridos. Sobre as miríades de flores perfumadas em sua névoa calmante, sonhando estão algumas que se assemelham às místicas flores de lótus do oriente. Os espíritos que conhecemos quando crianças aprendem que essa é a Fonte da Esperança. Suas águas nunca se acalmam, pois, “a esperança é a última que morre”. As vestes do Espírito da Esperança são formadas por todas as esperanças multicoloridas que vivem no mundo, e as flores místicas em sua testa veem do coração das águas.

Enquanto as crianças se deleitam com as belezas arrebatadoras do jardim, elas veem vários internos de Terra Sombria se aproximando da fonte. Em resposta às suas indagações, os Anjos dizem-lhes que cada um, antes de ir para a vida terrena, fazem a visita na Fonte da Esperança. Como já aprendemos, as almas da Terra das Sombras, às vezes, não conseguem receber uma oferenda do Altar do Amor. Mas eles nunca partem sem participar das Águas da Esperança que estão em constante renovação.

Agora, o círculo das Horas está mudando em um ritmo de compassos majestosos. Os espíritos da noite são vistos à distância, e os Anjos das horas da manhã estão se aproximando da entrada do mundo, enquanto o amanhecer aparece no horizonte em uma glória multicolorida. O tom predominante de sua vinda soa a nota dourada do Amor, pois é o Amor que está chamando os Egos que ainda estão ligados por corpos terrestres e que, em resposta ao chamado, deslizam suave e silenciosamente para longe.

As mães sábias agem, suavemente, quando almas preciosas voltam para elas nos braços da manhã. Eles se curvam e veem a luz do céu que ainda permanece em seus olhos. Eles se ajoelham em adoração diante da fragrância angelical de seus lábios.

O CAMINHO DAS TREVASO Cereus que Floresce à Noite

“Verdades maravilhosas e tão maravilhosas variedades,

Deus escreveu naquelas estrelas acima,

Mas não menos nas flores brilhantes sob de nós

Suporta a revelação de Seu amor.”

Por Longfellow[27]

Os Anjos são divididos em grupos de acordo com seu talento e habilidade, da mesma forma que os seres humanos. E como nós, cada um desses vários grupos tem um diferencial distintivo ou uma função. No entanto, há uma diferença muito importante entre as características de identificação dos humanos e dos Anjos. Entre os Anjos, o significado de lealdade ao grupo é uma questão de realização e não um mero motivo decorativo a ser anexado à pessoa exterior. É, exclusivamente, uma qualidade da alma, um desenvolvimento do espírito e, portanto, só pode ser vista por aqueles que têm olhos para ver.

Há um grupo que realiza um serviço particularmente colorido e bonito para o ser humano, em reconhecimento, onde essas pessoas usam em suas testas uma joia de luz cintilante como uma estrela. Eles são daquele grupo que observa a tristeza causada pela morte na Terra, e que se dedicam em buscar o seu alívio. Seu serviço prossegue ininterruptamente e, em sua execução, eles são, entre todos os Anjos, os mais abençoados. O Anjo da morte é sempre seguido por uma sequência brilhante desses Anjos auxiliares que cantam as glórias da vida imortal. Eles enchem a câmara silenciosa da morte com uma torrente de luz e poder que chega como um suave bálsamo celestial aos corações dos aflitos – uma emanação daquela grande paz que ultrapassa todo o entendimento.

Muitas pessoas terão que testificar que em seus insuportáveis momentos de profunda separação e tristeza causados pela perda de um bem-amado, eles têm a consciência da presença desses mensageiros angélicos. Certamente, entre os muitos e variados ofícios de amor e serviço prestados aos seres humanos por esses irmãos angélicos, este é um dos mais belos e de longo alcance em seus efeitos. Eles não apenas aliviam a agonia da separação, mas colocam dentro do coração entristecido uma minúscula flor da esperança a ser nutrida no amor até que cresça, se expanda e floresça em uma certeza da consciência de que não existe morte.

Visto que esta é a realização mais gloriosa que o ser humano pode conhecer vivendo na Terra, a concepção da flor que a incorpora é de uma analogia esplendorosa. Essa flor é a do Cereus que desabrocha à noite.

Esta transição é apenas uma morte que não é morte.”. Assim, canta as vozes angélicas a todos os corações receptivos, e durante todo o tempo, enquanto a flor da estrela brilhante da esperança cria raízes e, por fim, dá origem a novas flores. Mas isto não é tudo; ainda resta muito trabalho a ser feito antes que o véu do desespero, da dúvida e da incerteza que obscurece a visão das massas seja levantado. E enquanto isso for verdade, o lindo Cereus floresce apenas à noite e, apesar da beleza e magnitude de suas flores, vive apenas algumas horas na atmosfera opressiva e incompatível da Terra.

Isto é, somente quando as longas sombras da noite caem e a Terra se silencia na calma bênção da noite que se aproxima, é que as pétalas brancas do Cereus começam a se desdobrar. Quando a mística hora da meia-noite se aproxima, seu doce coração dourado é exposto às estrelas. Uma das mais perfumadas de todas as flores, sendo elevada com as orações dos Anjos, ela se ergue como uma sentinela branca de luz proclamando as boas novas de um novo dia que acaba de romper sobre o mundo em que “a morte será tragada pela vitória” e “Deus enxugará todas as lágrimas”.

Quando a compreensão do ser humano sobre esta verdade tiver se tornado clara e forte, e ele tiver aprendido a “andar na Luz assim como Ele na Luz está”, o belo Cereus, símbolo deste reconhecimento da vida imortal, possuirá força renovada que o capacitará para desdobrar suas pétalas macias, mesmo antes do Sol do meio-dia. Ainda assim, ele deve dobrar suas asas sobre a doçura de seu coração e esperar o dia em que o ser humano viverá na consciência de sua natureza eterna, após o que sua glória etérica e passageira se tornará imortal na Terra.

A LUZ DOURADA – Uma Lenda da Goldenrod

Goldenrod[28]

“Quando os emaranhados à beira do caminho pegarem fogo

No sol baixo de setembro,

Quando as flores dos raios de verão

Caírem e murcharem uma a uma,

Alcançando através de arbustos e sarças

Uma sobrancelha suntuosa de coração e fogo

Ostentando alto, o vento balançou a pluma,

Admirável com a riqueza da flor nativa –

Goldenrod!

A natureza encontra-se desalinhada, pálida,

Com ela febril em pedaços –

Dia a dia os pulsos falham

Mais perto de seu coração pulsante.

No entanto, porventura mantém esse apertado,

Armazenamento de ouro puro e genuíno

Rápido você volta forte e livre

Espécie de toda a riqueza a ser,

Goldenrod!”

Por Elaine Goodale Eastman

Assim como o indivíduo aprende a compreender e comemorar o mistério da mudança das estações, assim também os Anjos sabem e mantêm vigília sagrada nesses tempos sagrados. Entretanto, sempre devemos lembrar que a Onda de Vida Angélica atinge um plano muito mais elevado de consciência espiritual do que o ser humano. Consequentemente, os Anjos conhecem um significado mais profundo e recebem um influxo maior de êxtase espiritual na época dos quatro festivais solares sazonais.

Assim como o ser humano trabalhou em épocas passadas com o Reino Animal e o ajudou na formação de seus corpos, assim são os Anjos prestando ajuda ao Reino Vegetal.

Uma de suas tarefas mais gratificantes tem sido incorporar no Reino das Flores os mais elevados ideais e as mais nobres concepções do ser humano. Alegremente, eles tecem toda a fragrância e beleza de seus pensamentos e ações mais elevados em símbolos de flores de terna beleza.

O quão jubiloso é sua alegria quando descobre que alguém, apesar de ainda estar usando uma vestimenta de carne, é capaz de ver e compreender seu trabalho com as flores e, ainda, interpretar as mensagens místicas que estão inscritas em cada pétala colorida.

Há uma época do ano em que os cientistas chamam de Equinócio de Setembro e que o Místico conhece como a estação do grande influxo espiritual. Os Anjos, também, observam reverentemente este festival sagrado, pois eles têm o privilégio de ver, lá do alto nos reinos etéricos, aquele Raio de Luz Cósmica que desce gradualmente sobre a Terra, envolvendo e impregnando o Planeta até que, para os olhos não cegos pelo véu da mortalidade, tudo parece se tornar um corpo de ouro vibrante e radiante.

Essa Luz torna-se mais brilhante e mais poderosa até que penetra no próprio coração da Terra. É o momento em que os Anjos não podem mais conter seu grande regozijo pelo serviço de redenção que eles sabem, que está sendo realizado tanto para a humanidade como para o Planeta no qual ela habita. E, com isso, eles enchem o mundo todo com suas canções de regozijo.

Às vezes, há aqueles que são puros, o suficiente, para vislumbrar essa grande Luz e captar o ecoar desse coro angelical, e por isso chamamos esse tempo de êxtase espiritual de Noite Santa. Os Anjos dedicam, reverentemente, muito tempo no serviço de transmitir um pouco da essência desta Luz Divina em seu protótipo espiritual, as flores. Após a conclusão de seu trabalho e, em suas suaves plumas de brilho dourado, floresce a cada ano desde meados de setembro, outubro, novembro até meados de dezembro a flor que simboliza a emanação da própria cor de Cristo, a Goldenrod exala um reflexo dos raios do Sol.

Uma antiga lenda Gaulesa torna Setembro o sinônimo de paz, porque este foi o mês do nascimento da Mãe Imaculada daquele que cujo nome é Paz. Para comemorar essa verdade em flores, os Anjos deram à Terra uma preponderância de flores douradas desde os meados de setembro, outubro, novembro até meados de dezembro.

Um poeta que captou essa mensagem canta:

Oh, paz! a mais bela criança do céu

A quem foi dado o reinado silvestre.

Durante os meses em que a luz dourada do Cristo Cósmico está impregnando a Terra, os Anjos a envolveram com flores da mesma cor adorável. O principal deles é a Goldenrod que carrega a mensagem do novo ingresso de Vida e Luz, quando “a paz está na Terra e no ar”.

Essas flores brilhantes, tecidas pelos Anjos para espalhar as mensagens do amor de Cristo entre os seres humanos, foram apropriadamente escolhidas como a flor nacional pelos grandes pioneiros do novo mundo, cujo ideal é a Paz e cujo Sonho é a Fraternidade. E é assim que, durante os meses sagrados do Ingresso do Cristo na Terra, este sagrado símbolo de Sua vinda dá as boas novas em chuvas de flores e anuncia em sua beleza aquele coro angelical que logo ressoará: “Paz na Terra e boa vontade entre homens”.

A MISSÃO DA PAPOULA – Uma Folha do Coração da Noite

“A flor do sono balança sua cabeça por entre o trigal,

Pesada com sonhos como aquele com pão.”

Por Francis Thompson[29]

A longa linha de prédios brancos e regulares ficam tensos com o silêncio sob as mãos silenciosas da noite. Em sua beleza suave e mística, estrelas trêmulas iluminam a escuridão. O mundo dorme em meio ao silêncio flutuante. Dentro dos amplos salões há sombras grotescas e luzes suaves e sombreadas que aumentam e diminuem.

O silêncio flamejante é interrompido por tons ásperos de campainhas, ou o suave tom monótono do sono interrompido por soluços, respirações intermitentes de dor e passos apressados de enfermeiras vestidas de branco em suas missões suaves.

Deitado em um berço esplendido, uma figura envolta em bandagens se agita incansavelmente, tremendo e gemendo como se lutasse contra inimigos intangíveis e invisíveis aos olhos mortais. As luzes sombreadas brilham e cintilam com o sopro irregular do vento noturno, mostrando em contornos tênues as estranhas figuras curvadas sobre o corpo prostrado.

Através da luz suave, figuras tênues dançam em alegria demoníaca. Elevando-se acima da cama e incitando os seres estranhos a maiores esforços, há um espectro horroroso de se ver. A figura malformada parece fazer parte das sombras fantásticas que giram sobre o quarto mal iluminado. Dos braços oscilantes projeta-se uma varinha com um ponto vermelho brilhante e opaco. Quando esse ser estranho concentra seu olhar sobre esse ponto, a sala se enche instantaneamente de forças sinistras em uma atmosfera de vermelho escuro. Pegando as ondas dessas cores espessas, estes vários demônios pequenos se prendem nas mãos e nos pés de sua vítima, fazendo-o se contorcer em paroxismos[30] de agonia, para seu deleite sádico.

De repente, uma figura benéfica aparece em cena e quase paralisa os demônios. Uma luz em tons de rosa enche o quarto. Agora, o Espírito de Cura, como sempre, chega para lutar pelo corpo do homem. Envolto em uma aura de serviço amoroso, o Espírito medita: “Oh, corpo de homem, quão pouco você me compreendeu. Quão mais perto posso chegar até a natureza do que de você! A Terra me entrega seus segredos. Meu é o suave calmante que o atrai para as florestas. Vivo na fragrância perfumada que o saúda das colinas. As flores me conhecem e os animais me procuram. Mas você, oh homem sozinho, que a Mente colocou no caminho entre as flores e os deuses, me repele. Somente quando os limites da dor lhe prostrarem poderei provar meu poder. Venham, mensageiros do sono, meus servidores mais fiéis”.

Aqui o opalescente[31], na luz rosada se aprofunda, e inúmeras pequenas Fadas tropeçam nos travesseiros, espalhando pétalas perfumadas de sono sobre o corpo agora quieto. Gradualmente, os músculos ficam menos tensos e os traços distorcidos relaxam. Em vão os demônios jogam fora seus pensamentos malignos de vermelho escuro. Eles são instantaneamente capturados e transformados em tons de rosa suaves e sombreados de amor e cura à medida que a noite avança.

Mas os olhos mortais podem ver apenas enfermeiras vestidas de branco ocupadas com seus cuidados gentis.

Entre as sombras escuras de um quarto distante, o Espírito da Cura permanece desconsolado. Em vão os mensageiros tranquilizadores espalham pétalas perfumadas de sono pela cama. Seu brilho suave e rosado se transforma em tons persistentes acinzentado, e logo eles estremecem e se enrugam com uma doçura em declínio.

Até os demônios parecem ter se cansado de ver o sofrimento de suas vítimas, enquanto as artérias incham e inflamam sob suas cruéis barras carmesins.

Nenhum som praticado por ouvidos mortais consegue interromper o silêncio, exceto a respiração da enfermeira toda vez que ela se inclina sobre seu paciente com as mãos calmantes.

De repente, uma onda de luz paira sobre a cama, e de seu esplendor ecoa uma voz: “Pare com suas negociações sobre este último remanescente de minha mortalidade. Eu sou o Ego que moldou esses átomos na sua forma atual; assim, o poder de desintegrá-los é meu. Através de milhares de anos e grandes esforços, encontrei o caminho que leva à paz infinita. Pela luz do Conhecimento Cósmico, aprendi quão pobre é este frágil cortiço em que moro. Oh, minha casa, juntos trabalhamos e sofremos, e do seu coração minha alma construirá um templo mais nobre para habitar. A respeito desses átomos, antes que eu delibere a sua volta à ordem que é o caos, deixarei a marca da divindade”.

Quando a voz se cala, uma luz trêmula percorre o corpo. Por um instante ela repousa sobre a cabeça e forma uma auréola de glória quando o Cordão Prateado é rompido e uma alma ansiosa é libertada.

A Mente física sabe apenas que a respiração ofegante cessou e que a morte com sua solene majestade veio reivindicá-la.

A longa fila de edifícios brancos e regulares aguarda o despertar sob o céu da manhã. As estrelas desaparecem nas volumosas dobras brancas de suas vestes. O mundo está se agitando para o milagre do dia. Os primeiros raios do sol nascente entram por uma janela aberta e iluminam os cantos de sua escuridão habitual. Dentro do quarto reina um silêncio suave. Apenas algumas pétalas frágeis, como folhas de rosa murchas, pendem pesadamente acima da cama em evidência do combate que acabara de ser travado ali com tanta ferocidade.

Mas os olhos físicos veem apenas uma figura vestida de branco curvando-se ternamente sobre a forma silenciosa.

Os Anjos desejavam dar ao ser humano, por meio do mundo das flores, um símbolo das infinitas complexidades da noite, quando o corpo é colocado de lado para descansar e restaurar seus poderes, enquanto o espírito interior toma liberdade de voar para horizontes distantes. “Noites brancas”, diz Walter Pater[32], “não devem ser noites de negro esquecimento, mas passadas em contínuos sonhos apenas meio velado pelo sono”.

Estas noites brancas de lembrança! Quão abençoado é o privilégio deles. Conhecem o chamado do navio afundando, a dor das enfermarias do hospital, o grito do mineiro sepultado, a voz do campo de batalha, os presos delirantes em um prédio em chamas, as dúvidas ou a calma daqueles que fazem a transição da morte.

Ainda são poucos os que guardam essas horas na santa recordação e assim, a flor construída em torno desse ideal é tão frágil e tênue quanto essa memória flutuante. Suas pétalas agitam e caem com o menor balançar dos ventos. As atividades da prolongada recordação das noites do ser humano darão maior força e resistência à Papoula que, entretanto, oscila em toda a sua frágil beleza, indicativo das atividades aladas da alma humana quando separada e livre de seu caixilho físico do dia.

Se os ouvidos embotados da Terra não forem muito pesados, pode-se escutar e ouvir acima desses campos de flores cadenciadas e ondulantes a música das Fadas da Canção da Papoula: “Participe do meu sono e se lembre”.

VALE DAS LÁGRIMAS – Como Surgiu o Salgueiro Chorão

“Pelo pequeno rio

Mesmo assim, intenso e pardo,

O cantar dos graciosos salgueiros

Mergulhando suavemente.

Elas eram donzelas de água

Há muito tempo atrás

Que eles se inclinam tão tristemente

Olhando para baixo?

No crepúsculo enevoado

Você pode ver seus cabelos,

Donzelas de água chorando

Isso já foi tão justo”

Por Walter Prichard Eaton

Os longos e graciosos festões da Árvore do Salgueiro sempre foram expressivos de lamentação. Num dos salmos mais belos de Davi, que descreve a tristeza dos israelitas exilados, aprendemos sobre lamentações ao som de harpas, e que os instrumentos assim usados foram mais tarde pendurados no salgueiro. Assim, a árvore se tornou um emblema de tristeza e, portanto, muitas vezes se diz de quem está triste que “Ele pendurou sua harpa em um salgueiro”.

O Salgueiro sempre foi associado à tristeza que vem pela morte. Nos primeiros cerimoniais de sacrifício, as vítimas eram enfeitadas com seus galhos, e hoje em dia é uma das decorações favoritas daquele solo sagrado em que os corpos dos mortos amados são sepultados. Há uma razão especial para isso, que era conhecida e compreendida pelo ser humano antes que o véu que separa a terra dos vivos da dos mortos se tornasse tão denso como agora.

De todos aqueles que permanecem na Terra, muitos já aprenderam como é prudente e correto orar pelos entes queridos que passaram para o outro lado, mas, ainda, poucos sabem que um dos primeiros deveres impostos àqueles que fazem a passagem é orar pelos aflitos que ficaram conscientemente neste Mundo Físico. E é assim que orações de amor, força, cura e coragem são continuamente levadas de um lado para o outro entre o Céu e a Terra. A cada dia se conhece a agonia da despedida e a da dor, que só pode ser amenizada por meio desse intercâmbio de orações amorosas entre os que estão na Terra e os que estão no lado invisível da vida.

Essas orações de amor se elevam e descem em correntes de força viva ou de luz que repousa sobre a Terra em um esplendor contínuo, pois o pensamento é criativo e seu intercâmbio entre corações recém-separados é uma fonte de poder que os Anjos reúnem e usam em seus esforços para atenuar o véu que agora paira entre o visível e o invisível. A cada ano que passa, multidões crescentes dão alegre testemunho da eficácia dessa obra.

Para que os filhos da Terra ainda cegos, e para que possam ter uma percepção crescente dessa comunhão contínua entre o “aqui” e o “lá”, devem moldar a essência dessas orações de cura na forma da sombra dessa bela árvore. A intensidade das orações enviadas para o alto da terra é construída em suas raízes e tronco. As Mensagens amorosas das almas recém-libertas das limitações da escravidão física, inclina-se em uma terna e pendente bênção entrelaçadas em seus galhos para cair sobre corações que ainda estão solitários e rostos que ainda estão manchados de lágrimas.

O verde é a tonalidade da cor da simpatia e da compaixão, e é nos verdes mais suaves e ternos que os Anjos envolvem essa árvore, um símbolo de lágrimas. Diariamente sussurram, curvando-se sobre ela: “Não há morte para quem ama, porque o amor é vida e a vida é amor”.

A Árvore do Salgueiro deve suportar este sinônimo de lágrimas até que os filhos e filhas da Terra compreendam essa mensagem em que os Anjos imprimiram dentro de seu coração, pois somente a partir da separação na morte é que não poderá mais existir.

IDEIAIS PERDIDOS – A Canção de uma Calçada da Cidade para uma Flor Destruída

Eu usei este dia como uma roupa desgastada e malfeita

Impaciente por estar no meio disso,

E até, como eu o tirei dos meus ombros,

Essa joia ficou presa no meu cabelo.

Por Anon

A cada ano, um número crescente de pessoas estão percebendo a proximidade das hostes angélicas ao mundo dos seres humanos, porém, poucos ainda estão cientes do significado de seus serviços. Há muito tempo essa Terra teria sido dissolvida no caos se não fosse pelos cuidados amorosos deles.

É maravilhosa a visão das hostes luminosas acima de nossas cidades adormecidas durante as horas noturnas. Os maus pensamentos, as más palavras e ações dos seres humanos pairam acima, como grandes aves de rapina negras, prontas para descer novamente em forma de doença, carência, aflição e de vários outros males que o Ego nunca deveria conhecer.

Todas as noites surgem hostes de Anjos servidores para dissipar essas forças miasmáticas na glória do seu amor transformador. Atarefados durante as horas silenciosas eles precipitam chuvas de bênçãos douradas sobre a Terra adormecida, e quando as barras multicoloridas da aurora opalescente brincam no céu eles voam em seu caminho, cercados por uma mistura de cores e canções através do horizonte distante e são invisíveis para a visão humana nos esplendores das brumas etéricas. Seus olhos amorosos e brilhantes vasculham o mundo em busca de sofredores humanos que estão desamparados ou perdidos, e quando estão sempre prontos para curar e abençoar.

Uma noite, durante as vigílias silenciosas, um ser luminoso desceu com toda a glória de uma estrela cadente e inclinou-se sobre uma flor que tinha sido pisoteada e avariada, sendo esquecida em uma rua deserta da cidade. “Uma flor avariada significa ideais perdidos”, murmurou o Anjo. “Em algum lugar nessa noite, um coração está pesado de tristeza”.

O Anjo inclinou-se sobre a florzinha e, ao fazê-lo, tomou consciência da sonoridade musical, música que se elevava em ondas de estranha beleza tonal das profundezas inferiores. Então ele soube que estava ouvindo um eco das experiências do dia que acabara de encerrar, pois ainda perduravam na impressão o que havia acontecido nas ruas da cidade.

As extensas calçadas de uma metrópole são os teclados brancos da humanidade sobre os quais tocam os variados passos. Estendendo-se sempre calmos e quietos, eles absorvem e retêm essa música humana. Oh, o sofrimento agitado que estremece por meio de alguma nota! Aquele que tem uma boa audição pode ouvir a música de gotas de lágrimas caindo – caindo. Em alegres arpejos vêm os passos da juventude, tão leves quanto o brilho da manhã e tão perfumados de esperança quanto as flores da floresta antes que o Sol do meio-dia tenha roubado o orvalho de seus corações.

As vacilantes notas de tons menores de desespero, às vezes, se insinuam nas harmonias, tão prolongadas que as próprias calçadas são tocadas com simpatia. A corrida apressada da multidão, já sem fôlego, esperaria e ouviria se eles pudessem ouvir até mesmo o seu sussurro mais fraco. Mas, infelizmente, eles estão tão atentos, mediante ao simples conhecimento externo, que passaram descuidadamente, e somente as calçadas – os longos teclados brancos da humanidade – registram a canção da tristeza.

Em delicados trinados que estremecem com doçura humana, suavemente como a música da catedral soa os passos da futura mãe. Na beleza de sua passagem brilha o mistério de algum sonho encantado.

Formando um profundo subtom ao som da música, segue os passos dos solitários. Tantos são as notas que soam daqui que, às vezes, parece que os outros tons estão todos abarrotados. No entanto, são belos para os ouvidos atentos — aqueles tons de pés solitários. Alguns deles se misturam em raras combinações, produzindo uma música que o mundo nunca teria conhecido.

Em toda essa orquestra pulsante e ecoante, sempre soa uma nota insistente percorrendo as luzes e sombras, cantando em oitavas de maiores e prelúdios de menores – o Poderoso Acorde das Aspirações Insatisfeitas. Oh, a música ansiosa dessa multidão em busca, vagando sem rumo ou procurando ansiosamente! Um legato de súplicas inconscientes lamenta, por quê? Por quê? Por quê? seguido por um vasto crescendo de tons de soluço perguntando Onde? Onde? Onde?

À medida que as sombras se alongam, lá vem a música cansada e sem som, feita por pés cansados. Você já ouviu isso e se perguntou por que em todo o mundo de Deus deveria haver uma nota dissonante na hora que anuncia a passagem do dia quando toda a Terra está cercada de oração?

Você já ouviu o suspiro suave que sussurra no coração da noite na incessante correria da música dançante dos passos daqueles que, indiferentes à sua beleza incomparável, buscam apenas os lampejos do prazer?

Mas para aqueles que entendem – oh, a suave compensação da noite! A noite suave e inclinada com seu vasto coração de estrelas. E o réquiem da escuridão que acalma as feridas e as mágoas reunidas na correria do dia!

Ouça a música das calçadas com suas mil notas de rodapé. Ouça as notas vacilantes, esperançosas, cansadas, radiantes, sonhadoras e saudosas que juntas formam um coro que se mistura em uma unidade divina de estranha beleza, uma estupenda canção de sombra da cidade.

Assim que o Anjo ergueu a pequena flor e a colocou suavemente contra seu coração, ele suspirou suavemente, dizendo: “E aquele que eleva sua alma acima das mãos apegadas à Terra pode ouvi-la cantar”.

IMORTELLE – A Flor da Alma

“O alto que provou ser muito alto,

O heroico para a Terra demasiado difícil,

A paixão que saiu do chão

Para se libertar do céu,

Música é enviada até Deus

pelo apaixonado e o poeta.

Bastando que Ele ouvisse uma vez

Nós vamos ouvi-la aos poucos.”

Por Robert Browning[33]

O ar estava muito quieto no Jardim da Alma; e uma tranquilidade tomou conta do lugar. A ampla Calçada da Meditação que se estendia em direção aos Portões do Conhecimento estava cercada, de ambos os lados, com o suave Jasmim da Memória. O Caminho da Retrospecção, margeado de ervas agridoces, escureceu-se no silêncio de distantes vagas que conduziam ao próprio Santuário da Oração. Aqui o ar era fresco e reconfortante, e cheio da fragrância dos lírios brancos que se amontoavam ao redor do Santuário e que elevavam seus rostos puros às estrelas, carregados com o incenso que ascende da aspiração sagrada.

Diante desse santuário, a Mulher com o Coração Cansado gostava mais de ficar. Aqui ela lutou para encontrar dentro de sua alma torturada uma doce paz que envolvia o santuário da Oração. No dia de Bach, quando suas forças permitiam, ela recomeçava a peregrinação que a conduzia às encostas longínquas do jardim, sempre nuas e frias.

“Foi aqui que enterrei meu sonho de felicidade”, ela sussurrou em meio às lágrimas.

Essa extremidade do jardim sempre foi estranhamente estéril. Em vão a Mulher do Coração Cansado havia plantado bálsamo e ternura sobre ele. Ela regou as plantas em crescimento com suas lágrimas, mas elas caíram e murcharam, deixando o lugar vazio e sem vida. Era como uma ferida no coração que nunca pode ser curada.

“Foi um sonho tão terno”, ela pensou, “todos velados nos mistérios que ocultam as coisas celestes do conhecimento humano, e tudo muito frágil e bonito para suportar o brilho manchado da Terra. Assim, os Anjos que me deram, o levaram de volta para o céu, que é seu lar legítimo e lá, algum dia, o encontrarei novamente”. Enquanto a Mulher do Coração Cansado se encontrava pensativa, ainda assim, estava consciente de uma presença brilhante pairando sobre dela. O ar ficou estranhamente doce e puro, como se tivesse acabado de vir do alto de alguma montanha. Ela soube então, que um Anjo estava diante dela, pois os Anjos tem acesso livre no ir e vir no Jardim da Alma.

Do silêncio uma voz sussurrou: “Você ainda não aprendeu que qualquer coisa grande e boa que foi dada à Terra nunca pode ser perdida? Seu sonho daquele puro e perfeito amor de alma por alma destrancou os portões do Céu, e no esplendor de sua luz você verá, através dos próximos anos, o amor nos corações dos homens e das mulheres se tornando uma coisa sagrada. O animalesco será elevado ao celestial e o sensual tornará divino. Mesmo que você deva sempre seguir seu caminho sozinha, seu coração encontrará paz em saber que o ideal que a sua alma acalentou ao longo dos anos solitários deve, um dia, se tornar real nos corações da humanidade”.

Quando a voz cessou, o jardim ficou muito quieto e parecia envolto em fragrância. Maravilhosa, a Mulher do Coração Cansado abriu os olhos e olhou a sua volta. O lugar que há muito era frio e estéril estava coberto com uma massa maravilhosa de Imortelles, a flor do despertar da alma.

Acho que Deus deve ter sorrido sobre o jardim.

A COROA DA MATERNIDADE – O Lírio do Vale

Deus não poderia estar em todos os lugares e por isso fez as mães”

Um dia, o grande Anjo Gabriel, que é o criador de todas as flores que estão sobre a Terra, reuniu seus Anjos, enchendo suas mãos e corações de doce paz celestial, e mandou-os espalhar essa paz celestial sobre as dores do mundo. Ele, também, os instruiu para lhe trazer, no fim do dia, a coisa mais bonita da terra, para transformá-la numa flor rara e perfeita, e para devolvê-la a Terra, a fim de servir de auxílio e inspiração para as crianças.

Todos esses Anjos partiram, alegremente, para cumprir sua bela missão, exceto um dentre eles, mais jovem e tímido que os outros, foi ficando para trás, caminhando lentamente.

“O que é que vou dar?”, pensou, enquanto ele flutuava silenciosamente sobre os vales e colinas, envoltas em nuvens. “O mundo inteiro me parece tão bonito.”

As horas passaram rapidamente e os Anjos retornaram triunfalmente ao céu, um seguido do outro, trazendo, todos eles, uma coisa maravilhosa que tinham colhido da Terra. Um havia colhido a névoa perolada do amanhecer; outro trouxe o orvalho que repousa na pétala interna de uma rosa; outro trouxe a música que se eleva dentro de uma catedral e um outro capturou os sonhos do coração de uma filha jovem.

Quando as sombras da noite começaram a cair, o pequeno Anjo ficou cada vez mais triste e suas asas pareciam cada vez mais pesadas; então, passando perto de uma janela aberta, de repente ele parou e olhou para dentro da casa: uma jovem mãe ajoelhada, em profunda adoração ante uma pequena cama, onde um bebê estava dormindo. Um sorriso brotou do seu rosto fofinho e, como se o Anjo tivesse se inclinado para ouvir, a mamãe sussurrou: “Oh! Pequena flor bem-amada, que acaba de vir do paraíso, não olhe para trás nos seus sonhos, você foi separado, recentemente, dos Anjos da guarda? Traga ao meu coração um pouco de luz celestial, com a qual eu possa protegê-lo e orientá-lo”.

E quando ela se curvou para beijar o rosto sorridente dele, murmurou respeitosamente: “Meu Deus, eu Te agradeço pelo mais maravilhoso de todos os presentes: a coroa da maternidade”.

Quando ela olhou para cima, uma lágrima brilhante, com toda a beleza e glória do amor maternal, apareceu sob os cílios da criança adormecida. Houve, de repente, um farfalhar suave de asas e o pequeno Anjo, com a lágrima apertada em seu coração, retornou feliz, ao seu lar celestial.

Ao cruzar as “Portas”, o Anjo Gabriel estava sentado em seu grande trono branco, juntamente com os demais. “Então, pequeno Anjo retardatário”, grunhiu, ternamente, vendo-o se aproximar, “Qual é a coisa mais bonita que você me trouxe da Terra?”.

“Ah, Anjinho retardatário”, ele repreendeu com ternura, enquanto ela se aproximava, “qual é a coisa mais linda que você me trouxe da terra?”

Timidamente, ele deslizou para fora de seu coração, a lágrima de um amor de mãe.

Quando o Anjo Gabriel a viu, sua face ficou tão bonita, que mesmo os Anjos nunca a tinha visto assim. Ele, delicadamente, a pegou e a segurou em suas mãos, e foi cercado por um halo de luz de tal forma que todos os Anjos baixaram a cabeça e oraram.

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Ele ficou em silêncio por um longo tempo e, quando, enfim, ele estendeu suas mãos para eles, e disse: “O lírio do vale é o presente dos Anjos às mães do Mundo”.

SACRIFÍCIO E SERVIÇO – Uma Lenda do Visco

Toda a estrada

É rigorosa

Vida e morte

O toque do amor transfigura,

E tudo o que mente

Entre

O amor santifica,

Uma vez que a centelha celestial é acesa,

Uma vez no amor, dois corações unidos,

Nunca mais

Será que foi tudo

Como antes.

Por Robert Browning

Quando os Anjos retornam ao céu vindo de seu trabalho diário no mundo, muitas vezes, contam suas experiências uns aos outros. E muitas vezes o Anjo Gabriel, que é seu Mestre – pois os Anjos aprendem coisas maravilhosas o tempo todo, assim como as crianças da Terra – muitas vezes ouve essas histórias e, às vezes, também conta as coisas que encontrou no reino onde as lágrimas fluem.

Certa vez, quando ele reuniu seus Anjos auxiliares, contou essa história a eles no crepúsculo dos céus:

Um homem e uma mulher andaram de mãos dadas por muitos anos sobre a Terra e conheceram uma felicidade tão rara e bela que outros mortais não a compreendiam. Um dia, enquanto caminhavam juntos sob a sombra de grandes árvores, a mulher disse: “Rezo para que nos seja possível demonstrar que nosso amor é maior do que qualquer outro antes”.

O homem sorriu e respondeu: “Esse também é o desejo que guardo em meu coração”.

“Aqui”, disse o Anjo Gabriel, “estão as duas almas que procurei no mundo até encontrar”. E fez com que uma imagem se formasse no coração da mulher, na qual se diz estar caminhando sozinha. E fez soar um refrão na Mente do homem que ecoava: “Conhecer o maior amor é sacrificar a Personalidade e trabalhar apenas para o bem do todo”.

Eles se entreolharam longa e seriamente, e então a mulher perguntou ansiosamente: “Oh, diga-me, isso não quer dizer que eu posso suportar qualquer outra coisa!” O homem respondeu tristemente: “Significa apenas isso”.

Eles permaneceram em silêncio por um longo tempo e então o homem sussurrou baixinho: “Você é forte o suficiente para isso?”. Todas as tristezas do mundo pareciam sussurrando, enquanto a mulher murmurava soluçando: “Eu sou”.

Ela se agarrou a ele enquanto sussurrava tristemente: “E você – você pode continuar sozinho?”. A dor de todas as despedidas que já aconteceram pareceu preencher o silêncio enquanto o homem respondia lentamente: “Eu posso”.

Os caminhos por onde andaram juntos não os conheciam mais. Enquanto um esplendor radiante do Espírito envolvia seu trabalho, seus corações humanos estavam partidos pela tristeza daquela despedida.

“Eles vieram para os Mundos celestes?”, questionaram os Anjos ansiosamente, “Vamos encontrá-los e confortá-los”.

O Anjo Gabriel sorriu compreensivamente e respondeu: “Eles ainda não são heróis, pois ambos são jovens e tem muito o que fazer no mundo dos humanos, antes que possam conhecer um tempo de descanso, mas olhe para isso”, disse ele, segurando um caixão cheio de joias brilhantes. “Todos os dias, ao crepúsculo, a mulher, cansada e solitária, vem ao santuário de oração, e ali recolhi algumas das lágrimas que caem de seu coração; e todos os dias, ao crepúsculo, o homem com os pés doloridos e cansado, vem ao santuário de oração, e eu recolhi algumas das lágrimas que caem de seu coração. Eu guardo as lágrimas neste caixão, e quando o homem e a mulher vierem morar conosco, esse será meu presente para recebê-los”.

“Mas não há lágrimas aqui agora”, disseram os Anjos. “O caixão está cheio de pérolas que são preenchidas com um brilho maravilhoso”.

“Você não sabe”, disse o Anjo Gabriel, “que aquelas lágrimas foram formadas de sacrifício e serviço, as duas joias mais brilhantes da coroa do Mestre? E não há lágrimas no céu, quando eu as trouxe aqui elas se transformaram em joias como os atributos de que foram formadas.

“E agora que flor você dará aos filhos da Terra para comemorar minha história?”, perguntou Gabriel.

Os Anjos se reuniram ao redor do caixão de joias que pareciam refletir o brilho de seus rostos e pesavam muito. Quando voltaram para o Anjo Gabriel, uma massa de bagas branco-pérola brilhou em seus corações como lágrimas que brilham com o brilho terno de um amor que é divino.

Assim, o Visco é imortal como sempre pertencente aos amantes.

A ETERNA ROSA BRANCA – Uma Lenda da Noite Santa

“Branco como um silêncio incorporado;

Um verdadeiro êxtase de branco;

Um casamento de silêncio e luz,

Branco, branco como a maravilha imaculada

Da Eva recém-desperta no Paraíso;

Não, branco como o angelical de uma criança,

Que olha nos próprios olhos de Deus.”

Harriet McEwen Kimball[34]

O Espírito da Maternidade está onde os portais do tempo guardam as fronteiras da Terra Invisível, vestido com longos mantos de branco esvoaçante que se perdem na distância como sonhos sem fim. Em torno de sua linda cabeça está envolto um véu enevoado, tecido de fios de sorrisos e lágrimas que se prendem suavemente ao redor de sua garganta como leves apertos de mãos. Seus olhos são faróis acesos brilhando como estrelas gêmeas de esperança. Ao seu redor, e muito distante, brilha uma luz suave, que é um mero reflexo da luz do amor em seu coração. Em suas mãos ela segura uma maravilhosa rosa branca que parece ser feita de uma multidão de rostos de crianças. Cada pétala macia reflete um semblante brilhante, tornando um conjunto tão encantadoramente adorável e carregado de tanta ternura que todo o mundo cansado se torna mais brilhante por meio de sua luz.

Milhões de almas ansiosas que sentem o desejo de retornar à vida terrena estão constantemente lotando os portais do Tempo. Cada um fica sob a sombra da grande rosa branca, e a cada um a quem é concedida a oportunidade de caminhar novamente pelos caminhos da Terra, o Espírito da Maternidade concede uma pétala dessa rosa. Para cada pétala que é removida, outra vem tomar o seu lugar. Enquanto houver almas que anseiam pela experiência terrena, as pétalas não devem continuar a se renovar, pois, nunca murchando e nunca caindo, a Rosa Branca Eterna, em todos os seus requintados mistérios, idealiza além do mundo.

No coração da Noite Santa, todas as almas que irão encontrar seus lares terrestres no próximo ano, partem em viagem. Quando o mundo todo estiver cheio de amor e cada coração estiver transbordando de paz e boa vontade, será muito fácil para os corpos tênues dos Egos atraídos para a Terra penetrar nos corações e lares de sua escolha. Assim, na Noite Santa, uma nova onda de ternura envolve cada futura mãe; mãos macias a acariciam; rostos de flores curvam-se sobre ela; e belas lembranças a banham como acordes de uma música quase esquecida. A suave fragrância de pétalas de rosas brancas a traz para uma consciência mais nova e mais etérea.

Ah, a felicidade requintada que acena nessa Noite Santíssima para as mães, enquanto os Anjos cantam a chegada do Menino.

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Ao longo de um horizonte interminável, sombra de nuvens cinza-lavanda; aqui e ali a face brilhante de uma estrela pode ser vista. Um brilho prateado de névoa cobre todas as coisas, com apenas um ocasional respingo de luz malva olhando para anunciar o amanhecer que se aproxima. A névoa suave agita-se suavemente como uma cortina de um lado para o outro, abrindo os braços ternos para saudar o retorno das pequenas almas de suas jornadas amorosas. Milhares de Querubins felizes, seus rostos brilhando com um brilho de luar, deslizam por trás das brumas prateadas para aguardar seu chamado Estelar no próximo ano.

F I M


[1] N.T.: Belas e encantadoras, as anêmonas são flores da primavera. Por trás de seu nome incomum, mitologia grega: deriva da palavra “anemone” – junção de “Ánemos”, deus do vento, e “one”, sufixo que diz respeito à filha, ou seja, filha de Ánemos. Por isso, é conhecida também como flor do vento.

[2] N.T.: do poema: To a Wind-Flower.

[3] N.T.: Is 26:19

[4] N.T.: ICor 15:51

[5] N.T.: George Sandys, Ovid’s Metamorphosis (1632)

[6] N.T.: Pūblius Ovidius Nāsō (43 AC-17/18 DC), conhecido em inglês como Ovid foi um poeta romano que viveu durante o reinado de Augusto. Ele foi contemporâneo do mais velho Virgílio e Horácio, com quem é frequentemente classificado como um dos três poetas canônicos da literatura latina. O erudito imperial Quintiliano considerou-o o último dos elegistas amorosos latinos. Embora Ovídio tenha desfrutado de enorme popularidade durante sua vida, o imperador Augusto o baniu para uma província remota no Mar Negro, onde permaneceu até sua morte.

[7] N.T.: Ralph Waldo Emerson (1803-1882) foi um famoso escritor, filósofo e poeta estadunidense.

[8] N.T.: do Livro “The Weaver of Dreams” de Edna G. Thorne que é um conto surpreendentemente bem escrito, permeado por algo que evoca pena e tristeza, mas delicado e expressando uma bela filosofia cristã.

[9] N.T.: da obra Hamlet 

[10] N.T.: Poeta americano (1897-1919).

[11] N.T.: termo cunhado por Emerson em: “The Over-Soul”, um ensaio de Ralph Waldo Emerson, publicado pela primeira vez em 1841. Com a alma humana como assunto principal, vários temas gerais são tratados: (1) a existência e a natureza da alma humana; (2) a relação entre a alma e o ego pessoal; (3) o relacionamento de uma alma humana com outra; e (4) o relacionamento da alma humana com Deus.

[12] N.T.: Heliotropo ou heliotrópio é uma variedade de calcedónia de cor verde-claro a verde-escuro, com pontuações vermelhas (devidas a jaspe ou a óxidos de ferro). O nome tem raiz grega, significando trópico solar.

[13] N.T.: John Milton (1608-1676), Paradise Lost. Paraíso Perdido (em inglês: Paradise Lost) é um poema épico do século XVII, escrito por John Milton, originalmente publicado em 1667 em dez cantos. Uma segunda edição foi publicada em 1674 em doze cantos, com pequenas revisões do autor. O poema narra as penas dos anjos caídos após a rebelião no paraíso, o ardil de Satanás para fazer Adão e Eva comerem o fruto proibido da Árvore do Conhecimento, e a subsequente Queda do homem.

[14] N.T.: John Keats foi um poeta inglês. Foi o último dos poetas românticos do país, e, aos 25, o mais jovem a morrer.

[15] N.T.: do poema: The Here and the Hereafter, de Alfred Tennyson, In Memoriam A.H.H. (1849)

[16] N.T.: Fúcsia, da fam. das onagráceas, que reúne 100 espécies na América Central e do Sul, arbustos em sua maioria, geralmente escandentes, ou árvores com flores solitárias ou em corimbos, quase sempre campaniformes, grandes, vistosas, carnosas e pêndulas, com os lobos do cálice maiores que as pétalas e longos estames, e bagas vermelhas, ger. comestíveis; brinco-de-princesa, lágrima, mimo. São especialmente cultivadas por seu alto valor ornamental; as flores contêm fucsina, e combinam uma, duas ou mais cores ao tom de cor-de-rosa homônimo (fúcsia).

[17] N.T.: corresponde ao conjunto de órgãos femininos das flores das Angiospermas: o estigma, o estilete, e o ovário.

[18] N.T.: O estame é o órgão masculino das plantas que produzem flores: Angiospermas. Um estame é constituído por três partes: antera, conectivo e filete.

[19] N.T.: William Wordsworth foi o maior poeta romântico inglês que, ao lado de Samuel Taylor Coleridge, ajudou a lançar o romantismo na literatura inglesa com a publicação conjunta, em 1798, das Lyrical Ballads.

[20] N.T.: (1860-1932) foi um poeta e escritor de ficção americano.

[21] N.T.: também designada pelos nomes de manhã de Páscoa (em Portugal), bico-de-papagaio, rabo-de-arara e papagaio (no Brasil), cardeal, flor-do-natal, ou estrela-do-natal é uma planta originária do México, onde é espontânea. É uma planta muito utilizada para fins decorativos, especialmente na época do Natal, devido às suas folhas semelhantes a pétalas de flores vermelhas.

[22] N.T.: William Shakespeare (1564–1616) – Hamlet, act 4, scene 5, lines 199-201; 204-20

[23] N.T.: é um cristal especial, criado pelo ser humano a partir de outras pedras como a Opala e a Dolomita

[24] N.T.: Mt 18:5

[25] N.T.: ICor 13:13

[26] N.T.: Alabastro é uma designação aplicada a dois minerais distintos: gesso e calcita. Atenção, não confundir este “gesso” com o gesso em pó ou Gesso de Paris; quando se fala aqui de alabastro de gesso, trata-se de um mineral estruturado e não o pó de gesso obtido por mistura

[27] N.T.: do poema Voices of the Night 1839

[28] N.T.: As goldenrods são plantas características no leste da América do Norte, onde ocorrem cerca de 60 espécies. Eles são encontrados em quase todos os lugares – nas florestas, pântanos, nas montanhas, nos campos e ao longo das estradas – e formam uma das principais glórias florais do outono, desde as Grandes Planícies até o Atlântico.

[29] N.T.: Francis Thompson (1859-1907) foi um poeta católico místico inglês.

[30] N.T.: espasmo agudo ou convulsão

[31] N.T.: A opalescência é a propriedade óptica de um material transparente ou translúcido que lhe dá um aspecto ou uma tonalidade leitosa, com reflexos irisados que recordam a opala

[32] N.T.: Walter Horatio Pater (1839-1894) foi um ensaísta e crítico literário inglês.

[33] N.T.: do poema Abt Vogler de Robert Browning (1812-1889) foi um poeta e dramaturgo inglês

[34] N.T.: Harriet McEwen Kimball (1834-1917) foi uma poetisa americana, compositora de hinos e filantropa.

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