Dezembro de 1913
O pensamento central da lição do mês passado, e o que devemos ponderar devidamente, é a razão da existência de tantos cultos diferentes, cada um com seu próprio credo e com a ideia que somente ele tem a verdade[1]. A causa disto, como se constata na lição do mês passado, se baseia no fato de que o Ego[2] se limitou a si mesmo ao penetrar em um veículo que o separa de todos os outros. Devido a essa limitação, o Ego é incapaz de apreciar a absoluta e universal verdade e, consequentemente, somente as Religiões que ensinam apenas verdades parciais puderam ser oferecidas.
As guerras e discórdias geradas no mundo pelas influências segregacionistas dos credos, também, não são desprovidas de benefícios, pois se todos tivessem a mesma opinião sobre a grande questão: “O que é a verdade?”, não haveria empenho em buscar a luz ou o conhecimento; e a verdade não produziria em nós a forte impressão deixada pela luta travada por aquilo que acreditamos. Por outro lado, a militância das Igrejas mostra àqueles que, como pioneiros, agora estão adotando uma visão mais ampla – que reconhece que ninguém possui mais do que um raio de toda a verdade no presente e que olham para o futuro em busca de ampliação da habilidade de sua capacidade – que algum dia eles não mais verão através de um espelho obscuramente, mas conhecerão como também são conhecidos[3].
Sabendo que há uma razão cósmica para os credos, não devemos nem tentar impor nossas ideias àqueles que ainda estão limitados pelo espírito do convencionalismo, nem imitar o espírito missionário militante das Igrejas, mas como afirma a Bíblia, devemos dar as pérolas do nosso conhecimento somente àqueles que estão cansados de se alimentar das cascas, dos restos e que anseiam pelo verdadeiro “pão da vida”.
Discorrer sobre assuntos relacionados a esse conhecimento superior podem ajudar aqueles que estão despertados da letargia espiritual, infelizmente tão comum em nossos dias. Mas argumentar nunca adiantará nada, pois aqueles que estão em um clima argumentativo não se convencem de nada que dizemos. A compreensão da verdade, a única capaz de quebrar as barreiras da limitação que geram o credo, deve vir de dentro e não de fora.
Portanto, embora devamos estar sempre prontos para responder às perguntas formuladas por aqueles que desejam saber alguma coisa, e estar prontos para dar a razão da nossa fé, também devemos estar atentos para não impor nossa opinião aos outros; para que, tendo escapado de um grilhão, não fiquemos presos a outro, pois a liberdade é a herança mais preciosa da alma. Por isso os Irmãos Maiores que atuam no ocidente não aceitarão nenhum Estudante que não esteja livre de todos os outros vínculos, e eles zelam para que o Estudante não se apegue a eles ou a qualquer outra pessoa. Só assim o Anel de Nibelungo e o anel dos deuses podem ser dissolvidos[4]. Que todos nós nos esforcemos para viver à altura desse ideal de liberdade absoluta e, ao mesmo tempo, é claro, tomando cuidado para não infringir os direitos dos outros.
(Pergunta nº 37 do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
[1] N.T.: Carta nº 36: Métodos Orientais e Ocidentais de Desenvolvimento – Novembro de 1913
Frequentemente, recebemos solicitações de auxílio de pessoas que, infelizmente, pertenciam a sociedades onde elas se submetiam ao domínio dos espíritos de controle que, no momento, os assombram e os perseguem chegando ao ponto de se tornarem um fardo na vida delas. Também recebemos solicitações de auxílio de pessoas que frequentaram sociedades onde ensinavam exercícios de respiração hindus. A impaciência de ingressar nos Mundos invisíveis leva muitas pessoas a praticarem estes exercícios, cuja natureza perigosa desconhecem, quando percebem é tarde demais e aí experimentam problemas tano na saúde física como na espiritual. Então, vem até nós a procura de alívio que, felizmente, conseguimos fornecer a todos que se aplicaram, até mesmo aqueles que estavam à beira da insanidade.
E é por isso que a literatura da Fraternidade Rosacruz está repleta de advertências sobre o evitar todos os exercícios respiratórios tais como preconizados pelas escolas orientais, os quais são impróprios às pessoas que vivem no lado ocidental do Planeta. É com muita e profunda tristeza que ouvimos falar de um Estudante que está, agora, doente como consequência desses tipos de exercícios respiratórios. Portanto, cremos que será conveniente afirmarmos, mais uma vez, a diferença entre os métodos oriental e ocidental, para que fique bem claro o porquê é sensato evitar tais exercícios.
Em primeiro lugar, é necessário ter a percepção clara de que a evolução do espírito e a evolução da matéria andam de mãos dadas. O espírito evolui renascido em veículos densos de matéria e trabalhando com o material encontrado no Mundo Físico. Assim, o espírito progride e, também, a matéria está sendo aprimorada porque o espírito trabalha sobre ela. Naturalmente, os espíritos mais avançados atraem para si material mais refinado do que aqueles que estão atrasados no caminho da evolução, e os átomos nos corpos de pessoas mais altamente evoluídas são mais sensíveis do que as daquelas que existentes em povos primitivos.
Entretanto, os átomos das pessoas que vivem no ocidente respondem às ondas vibratórias que ainda não foram contatadas por aquelas pessoas que habitam em corpos orientais. Os exercícios respiratórios são usados para despertar os átomos adormecidos do aspirante oriental, e o trajeto enérgico desse tratamento se faz necessário para aumentar o tom de vibração. O índio americano ou o bosquímano[1] podem executar esses exercícios impunemente durante vários anos, contudo, é uma questão totalmente diferente quando uma pessoa, com um corpo altamente sensibilizado como o ocidental, segue tal tratamento. Os átomos de seu corpo já foram sensibilizados pela evolução natural; e quando esta pessoa recebe um ímpeto adicionado de exercícios respiratórios, os átomos simplesmente se rebelam, e se torna extremamente difícil trazê-los ao devido repouso novamente.
Aqui pode ser útil mencionar que o autor teve uma experiência pessoal nesse assunto. Anos atrás, quando ele começou a trilhar o Caminho espiritual e estava imbuído da impaciência que é a característica comum a todos os buscadores sedentos pelo conhecimento, ele leu sobre os exercícios respiratórios publicados por Swami Vivekananda[1] e começou a seguir as suas instruções, na esperança de que, após dois dias, o Corpo Vital se separaria do Corpo Denso. Isso produziu uma sensação como deslizar no ar, não sendo possível manter os pés em terreno sólido e todo o Corpo parecia vibrar num tom altíssimo. O bom senso o resgatou. Os exercícios foram interrompidos, porém, foram duas semanas para que recuperasse a condição normal de andar firmemente no chão e cessassem as vibrações anormais.
Na parábola, foi dito que alguns foram rejeitados porque não tinham o traje nupcial. A menos que nós desenvolvamos, primeiramente, o Corpo-Alma, qualquer outra tentativa de entrar nos Mundos invisíveis resultará em um desastre; e qualquer instrutor que diz ter a capacidade para conduzir as pessoas aos reinos invisíveis não é confiável. Existe apenas um caminho – paciente persistência em fazer o bem.
(Cartas aos Estudantes – nº 36 – do Livro Cartas aos Estudantes – Max Heindel)
[2] N.T.: nós, um Espírito Virginal da Onda de Vida humana manifestado aqui.
[3] N.T.: ICor 13:12
[4] N.T.: aqui se trata de um assunto que é estudado com total profundidade no Curso Suplementar de Filosofia Rosacruz sobre a obra de Richard Wagner, chamada “Der Ring des Nibelungen” (Anel de Nibelungo).