Resposta: Suponhamos que uma criança normal receba durante seus folguedos um forte golpe na cabeça, tornando-se, consequentemente, um anormal, ou entrando em estado de coma, não haveria hesitação em proceder-se a uma cirurgia craniana para lhe restaurar o estado normal de consciência.
Analogamente, qual o motivo para não se dedicar iguais cuidados a um bebê recém-nascido? Será criminoso permitir a morte da uma criança por falta de cuidados médicos, independentemente de sua idade. É igualmente lamentável o descuido para com um recém-nascido, uma vez que após a passagem do Ego pelo útero materno, a fim de adquirir experiências na escola da vida, assumimos a responsabilidade de ajudá-lo em seus esforços para a manutenção da vida, de todos os modos possíveis.
Pergunta-se: O Ego haure experiências de uma vida transcorrida num estado de insalubridade mental? SIM. O Ego, em si mesmo, não está sujeito à loucura ou à insanidade. Há, isso sim, ligações defeituosas entre os vários veículos, a Mente, o Corpo de Desejos, o Corpo Vital e o Corpo Denso, que se manifestam em estados de loucura ou insanidade.
Quando a ligação imperfeita se produz entre os terminais cerebrais e o Corpo Vital, o resultado será uma criança “idiota”, em muitos dos casos, melancólica, mas geralmente inofensiva. Quando a anomalia se registra entre o Corpo de Desejos e o Corpo Vital, observaremos condições quase similares, notando-se casos como a epilepsia, dança de São Vito (doença Coreia reumática de Sydenham), etc. A loucura de natureza violenta resulta de uma ligação imperfeita entre o Corpo de Desejos e a Mente. Quando há conexão imperfeita entre o Ego e a Mente, teremos então um indivíduo que poderíamos classificar de “desalmado”, o mais perigoso de todos. Ele se caracteriza pela astúcia, que usará do modo mais diabólico possível.
Se considerarmos o corpo, ou os vários corpos do ser humano como um instrumento musical sobre o qual o Ego executa a sua partitura, ele conseguirá uma sinfonia de maior ou menor beleza de acordo com a sua condição evolutiva. Quando há, porém, conexões defeituosas ou mesmo interrompidas, o Ego se encontra na mesma posição de um grande músico forçado a executar a sua música num instrumento com um número incompleto da cordas. Só conseguirá emitir sons dissonantes. Para o músico, a execução em tais condições seria uma tortura. É exatamente essa a posição de um Ego encarnado numa Personalidade mentalmente insana. Por motivos oriundos de vidas passadas deverá utilizar um corpo incapaz de ser controlado. O sofrimento é maior ou menor, conforme o grau de evolução, podendo, dessa maneira, assimilar as suas lições na escola da vida, em sua escala rumo à perfeição. É, de fato, uma triste condição. Não devemos, porém, olvidar que a duração de uma vida, um longo período para nós, constitui um momento fugaz para o espírito. E caso tenha assimilado bem a sua lição, poderá retornar à Terra, no próximo renascimento, em um corpo sem esses problemas.
Quanto à última parte da pergunta, se podemos considerar a loucura ou insanidade como uma doença hereditária podemos responder tanto na afirmativa como na negativa, dependendo do aspecto do problema a ser considerado. Do ponto de vista espiritual, conforme mencionado, a insanidade não é um defeito do Ego. Não poderá, contudo, devido às suas falhas de caráter, construir um corpo que não expresse essa insanidade. Assim sendo, será encaminhado a uma família de idênticas tendências, segundo o princípio da atração dos semelhantes. Os músicos geralmente se congregam em teatros, auditórios e conservatórios. Procuram sempre renascer em família de músicos. Assim renascerão dotados de certas faculdades como dedos longos e ágeis, fibras de Corti extremamente delicadas, ensejando-lhes sensibilidade em sua expressão musical. Os jogadores se reúnem nos hipódromos, cassinos etc. Os malfeitores também têm seus grupos, similarmente, pessoas com iguais defeitos serão atraídas para famílias com idênticos problemas.
Assim, examinando o problema pelo ângulo da forma trata-se, de fato, de mal hereditário. Alguns cientistas analisam a questão através de um enfoque exclusivamente materialista. Defendem o ponto de vista segundo o qual deve-se limitar ou impedir o nascimento de débeis mentais, ensejando-se, dessa maneira, a erradicação completa do mal. Desconhecem, entretanto, a analogia entre o ser humano e o caracol. Assim como a substância fluida do corpo do caracol produz a sua casa (que ele carrega consigo), assim os antigos atos do Espírito cristalizam-se num corpo o qual deverá habitar até seu desgaste completo.
Não haverá solução através de terapias dirigidas somente para o Corpo Denso, como um caracol doente não poderia ser curado por meio de aplicações em sua casa. Como disse Emerson: “O doente não é mais do que um pecador pagando abertamente suas transgressões para com as leis naturais”. Os insanos pertencem a essa categoria, para ajudá-los devemos aplicar meios espirituais de educação, pois todos os outros métodos não passam de paliativos que poderão amenizar o sofrimento, sem, contudo, atingir a fonte da moléstia.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1977 – Fraternidade Rosacruz-SP)
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