Iniciação Antiga e Moderna

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Iniciação Antiga e Moderna

Encontre aqui algumas das joias mais inestimáveis ​​pertencentes às fases mais profundas da Religião Cristã.

Essas joias são o resultado das investigações espirituais do vidente inspirado e iluminado, Max Heindel, o mensageiro autorizado dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, que estão trabalhando para disseminar por todo o mundo ocidental os significados espirituais mais profundos, ocultos e revelados da Religião Cristã.

Os vários passos importantes descritos na vida de nosso Salvador, Jesus Cristo, formam o plano geral da Iniciação para a humanidade.

Max Heindel, nesse trabalho, fornece uma visão mais profunda e mística desse processo alquímico, que ocorre no corpo do próprio ser humano. Pois somos apenas “um pouco mais inferiores que os Anjos … e ainda não aparece o que seremos”.

Há 3 meios de você acessar esse Livro:

1. Para fazer download ou imprimir (e ter acesso as figuras, que muito ajudam na compreensão):

Iniciação Antiga e Moderna – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz

2.Em formato de audiobook ou audiolivro:

Audiobook – Iniciação Antiga e Moderna – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz

3. Para estudar no próprio site:

INICIAÇÃO ANTIGA E MODERNA

Por

Max Heindel

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Revisado de acordo com:

7ª Edição em Inglês, 2011, Ancient and Modern Initiation, editada por The Rosicrucian Fellowship

1ª Edição em Português, Iniciação Antiga e Moderna – editada pela Fraternidade Rosacruz – São Paulo – SP – Brasil

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

ÍNDICE

PREFÁCIO.. 5

PARTE I. 7

O TABERNÁCULO NO DESERTO.. 7

CAPÍTULO I – O TEMPLO DE MISTÉRIO ATLANTE.. 8

O Tabernáculo no Deserto. 10

O Átrio do Tabernáculo. 14

CAPÍTULO II – O ALTAR E O LAVABO DE BRONZE.. 16

CAPÍTULO III – A SALA LESTE DO TEMPLO.. 25

O MÍSTICO SIGNIFICADO DA SALA LESTE E SEU MOBILIÁRIO.. 27

O Candelabro de Ouro. 27

O Altar do Incenso. 31

CAPÍTULO IV – A ARCA DA ALIANÇA.. 32

O Pote de Ouro do Maná. 35

A Vara de Aarão. 37

Capítulo V – A GLÓRIA SAGRADA DO SHEKINAH.. 40

A Sombra da Cruz. 41

A Lua Cheia como um Fator de Crescimento Anímico. 44

CAPÍTULO VI – A LUA NOVA E A INICIAÇÃO.. 48

PARTE II. 53

A INICIÇÃO CRISTÃ MÍSTICA.. 53

CAPÍTULO I – A ANUNCIAÇÃO E A IMACULADA CONCEPÇÃO.. 54

CAPÍTULO II – O RITUAL MÍSTICO DO BATISMO.. 65

CAPÍTULO III – A TENTAÇÃO.. 73

CAPÍTULO IV – A TRANSFIGURAÇÃO.. 79

CAPÍTULO V – A ÚLTIMA CEIA E O LAVAPÉS. 90

CAPÍTULO VI – GETSEMANI, O HORTO DA AFLIÇÃO.. 96

CAPÍTULO VII – OS ESTIGMAS E A CRUCIFICAÇÃO.. 100

PREFÁCIO

Nas páginas desse pequeno volume se encontram algumas das joias das mais inestimáveis ​​pertencentes às fases mais profundas da Religião Cristã. Essas joias são o resultado das investigações espirituais do vidente inspirado e iluminado, Max Heindel, o mensageiro autorizado dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, que estão trabalhando para disseminar por todo o mundo ocidental os significados espirituais mais profundos, ocultos e revelados da Religião Cristã.

Os vários passos importantes descritos na vida de nosso Salvador, Jesus Cristo, formam o plano geral da Iniciação para a humanidade. Max Heindel, nesse trabalho, fornece uma visão mais profunda e mística desse processo alquímico, que ocorre no corpo do próprio ser humano. Pois somos apenas “um pouco mais inferiores que os Anjos … e ainda não aparece o que seremos”.

Esse volume será uma adição bem-vinda às bibliotecas de muitos ministros e organizações da igreja em todo o mundo. Soará como uma nova nota de inspiração e encorajamento para todos aqueles que trabalham em Seu nome.

A Escola Rosacruz tem uma herança inestimável na oportunidade de promulgar, durante esse período crucial na evolução espiritual dos seres humanos e nações, os ensinamentos esotéricos pertencentes à Igreja Cristã. “A quem muito for dado, muito será exigido.”. Portanto, é no espírito de reverência e humildade que a Fraternidade Rosacruz dedica os ensinamentos inestimáveis ​​contidos nesse pequeno livro ao serviço de toda a humanidade.

Que a Sua Verdade ilumine, que a Sua Sabedoria e o Seu Amor envolvam a todos aqueles que vierem a participar de Sua Água da Vida. E que cada um que vier encontre o Caminho Iluminado que é descrito aqui.

O Reino dos Céus é semelhante a um comerciante, buscando boas pérolas. Quando encontrou uma pérola de grande valor, foi e vendeu tudo o que tinha e a comprou.”[1].

PARTE I

O TABERNÁCULO NO DESERTO


CAPÍTULO I – O TEMPLO DE MISTÉRIO ATLANTE

Desde que a humanidade, os filhos pródigos espirituais de nosso Pai Celestial, começou e continua a vaguear pelo deserto do mundo, a se alimentar dos prazeres mundanos, que faz o corpo sofrer e até morrer por falta de alimento real suficiente, existe lá dentro do coração do ser humano uma voz silenciosa que fortemente o estimula a voltar ao lar; porém, a maioria dos seres humanos está tão absorvida nos interesses materiais que não pode ouvir. O Maçom Místico que ouviu essa voz interior se sente impelido por um estímulo interno muito forte para procurar pela Palavra Perdida; para construir uma casa de Deus, um templo do espírito, onde ele possa encontrar o Pai frente a frente e responder ao Seu chamado.

Ele não é dependente de seus próprios recursos nessa busca, pois nosso Pai Celestial preparou um caminho marcado com mensagens que nos levarão até Ele, caso queiramos segui-lo. No entanto, como esquecemos a Palavra divina e seríamos incapazes de compreender o seu significado agora, o Pai nos fala na linguagem do simbolismo, que tanto oculta como revela as verdades espirituais que devemos compreender antes de podermos voltar a Ele. Assim como damos aos nossos filhos livros ilustrados que lhes revelam conceitos intelectuais, de outro modo incompreensíveis às suas Mentes infantis, também cada símbolo fornecido por Deus tem um significado profundo que não poderia ser aprendido se não fosse dessa maneira expressado.

Deus é espírito e em espírito deve ser adorado. Portanto, é estritamente proibido fazer d’Ele uma imagem material, pois nada que pudéssemos fazer transmitiria uma ideia adequada. No entanto, como saudamos a bandeira de nosso país com regozijo e entusiasmo, porque desperta em nós os sentimentos mais ternos pelo lar e por nossos entes queridos, porque fomenta nosso impulso mais nobre por ser um símbolo de tudo o que mais estimamos, assim também agem os diferentes símbolos divinos que foram fornecidos à humanidade, de tempos em tempos, falando com aquele fórum da verdade que está dentro dos nossos corações e despertando nossa consciência para as ideias divinas que transcendem inteiramente as palavras. Contudo, o simbolismo, que desempenhou um papel muito importante em nossa evolução passada, ainda é uma necessidade primordial em nosso desenvolvimento espiritual; daí a conveniência de estudá-lo com nossos intelectos e nossos corações.

É óbvio que assim como nossa atitude mental de hoje depende de como pensamos ontem, também nossa condição e circunstâncias atuais dependem de como trabalhamos ou nos esquivamos no passado. Cada novo pensamento ou nova ideia que chega a nós consideramos à luz de nossas experiências anteriores e, assim, vemos que nosso presente e nosso futuro são determinados por vivências passadas. Semelhantemente, o caminho do esforço espiritual que   abrimos por nós mesmos em existências passadas determina nossa atitude presente e o caminho que devemos seguir para alcançar nossas aspirações. Por isso, não podemos obter uma perspectiva verdadeira do nosso desenvolvimento futuro, a menos que nos familiarizemos primeiramente com o passado.

É em reconhecimento desse fato que a Maçonaria moderna se volta ou remonta ao templo de Salomão. Isso é muito bom até certo ponto, porém, para obter uma perspectiva mais ampla, também devemos levar em consideração o antigo Templo de Mistério Atlante, o Tabernáculo no Deserto. Devemos compreender a importância daquele Tabernáculo e, também a do primeiro e do segundo Templos, pois havia diferenças vitais entre eles, cada um repleto de significância cósmica específica; e dentro de todos eles havia o prenúncio da cruz, espargido com sangue e que foi transformado em rosas.

O Tabernáculo no Deserto

Lemos na Bíblia a história de como Noé e o remanescente de seu povo foram salvos com ele do dilúvio e formaram o núcleo da humanidade da Época do Arco-Íris, na qual vivemos agora. Lá, também, afirma que Moisés conduziu seu povo para fora do Egito, a terra do touro, do Signo de Touro, através das águas que tragaram seus inimigos. Levou-o, a salvo, liberto, como o povo escolhido para adorar o Cordeiro, do Signo de Áries, em cujo signo o Sol entrara por Precessão dos Equinócios. Essas duas narrativas se referem a um mesmo incidente, conhecido como o surgimento da humanidade infantil do continente perdido da Atlântida, atual Era dos ciclos alternantes, onde verão e inverno, dia e noite, fluxo e refluxo, se sucedem ininterruptamente. Como a humanidade havia acabado de ser contemplada com a Mente, começou a notar a perda da visão espiritual que possuía até então, e desenvolveu um anseio pelo Mundo espiritual e por seus guias divinos, sentimento que permanece até os dias de hoje, pois a humanidade nunca deixou de lamentar a perda deles. Portanto, o antigo Templo de Mistérios Atlante, o Tabernáculo no Deserto, foi providenciado aos seres humanos para que pudessem encontrar o Senhor, quando se qualificassem pelo serviço e pela subjugação da natureza inferior pelo “Eu superior”. Projetado por Jeová, era a personificação das grandes verdades cósmicas ocultas por um véu de simbolismo, o qual falava ao “Eu interno” ou “Eu superior”.

Em primeiro lugar, é digno de nota que esse Tabernáculo, divinamente projetado, foi dado a um povo escolhido, que deveria construí-lo a partir de ofertas voluntárias, doadas do fundo dos seus corações. Eis aqui uma lição bem específica, pois o modelo divino do caminho para o progresso nunca é fornecido a alguém que não tenha feito, primeiro, uma aliança com Deus, em que assume o compromisso de servi-Lo, disposto a Lhe ofertar o sangue de seu coração em uma vida de serviço altruísta. O termo “Maçom” é derivado de phree messen, que é um termo egípcio que significa “Filhos da Luz”. Na linguagem Maçônica, Deus é mencionado como o Grande Arquiteto. Arche é uma palavra grega que significa “substância primordial”. Tekton é o nome grego para construtor. Diz-se que José, o pai de Jesus, foi um “carpinteiro”, mas a palavra grega é tekton – construtor. Também se diz que Jesus era um “tekton”, um construtor. Assim, todo verdadeiro Maçom místico é um filho da luz, um construtor, esforçando-se por construir o templo místico de acordo com o modelo divino fornecido a ele por nosso Pai Celestial. Para esse fim, ele dedica todo o seu coração, toda a sua alma e toda a sua Mente. A aspiração dele é, ou deveria ser, “tornar-se o maior no Reino de Deus” e, portanto, ele deve ser o servo de todos.

O próximo ponto que exige nossa atenção prévia é a localização do templo em relação aos pontos cardeais, e verificamos que ele foi colocado na direção do leste para o oeste. Assim, vemos que o caminho do progresso espiritual é do leste para o oeste. O Aspirante entrava pela porta leste e seguia o caminho que passava pelo Altar dos Sacrifícios, pelo Altar de Bronze e pelo Lugar Santo, na parte mais ocidental do Tabernáculo, onde estava localizada a Arca, o maior de todos os símbolos, no Santo dos Santos. À medida que os sábios do Oriente seguiam a estrela de Cristo para o oeste em direção a Belém, o centro espiritual do mundo civilizado se deslocava cada vez mais para o oeste, e ainda hoje o ponto mais alto da onda espiritual que começou na China nas costas ocidentais do Pacífico, chegou agora às costas orientais do mesmo oceano, onde está reunindo forças para dar mais um salto em sua jornada cíclica através da imensidade das águas, para recomeçar, em um futuro distante, uma nova jornada cíclica ao redor da Terra.

A natureza ambulante desse Tabernáculo no Deserto é, portanto, uma excelente representação simbólica da natureza migratória do ser humano, um eterno peregrino, passando sempre dos limites do tempo à eternidade e vice-versa. À medida que um Planeta gira em sua jornada cíclica ao redor do Sol principal, o ser humano, o pequeno mundo ou o microcosmo, viaja numa dança cíclica ao redor de Deus, que é a fonte e a meta de todos.

O grande cuidado e atenção aos detalhes relativos à construção do Tabernáculo no Deserto mostra que algo muito mais elevado do que os nossos sentidos podiam alcançar foi planejado em sua construção. Em sua mostra terrena e material foi projetada uma representação de fatos celestiais e espirituais que continham instruções ao candidato à Iniciação; e essa reflexão não deveria nos estimular a procurar uma ligação mais íntima e familiar com esse antigo santuário? Certamente ele nos exorta a considerar todas as partes do seu plano com a devida, cuidadosa e reverente atenção, recordando a cada passo, a origem divina de tudo isso e, humildemente, almejar penetrar através das sombras dos serviços terrenos, nas sublimes e gloriosas realidades que, de acordo com a sabedoria do espírito, ele descortina para nossa contemplação solene.

Para que possamos ter uma concepção correta desse lugar sagrado, devemos considerar o próprio Tabernáculo, seu mobiliário e seu átrio.

A ilustração abaixo pode ajudar o Estudante a formar uma melhor concepção do arranjo interno.

O Átrio do Tabernáculo

Esse era um recinto que rodeava o Tabernáculo. Seu comprimento era o dobro da sua largura e o portão ficava no extremo leste. Esse portão era coberto por uma cortina de linho fino torcido de cores azul, escarlate e roxo, e essas cores nos demonstram, de bate e pronto, o nível desse Tabernáculo no Deserto. No sublime Evangelho de São João somos ensinados que “Deus é luz”, e nenhuma descrição ou semelhança poderia transmitir uma melhor concepção ou maior iluminação para a Mente espiritual do que essas palavras. Quando consideramos que mesmo o maior dos telescópios modernos não conseguiu determinar as fronteiras da luz, embora eles penetrem no espaço por milhões e milhões de quilômetros, isso nos fornece uma fraca ideia, porém abrangente, da infinitude de Deus.

Sabemos que essa luz, que é Deus, é refratada nas três cores primárias pela atmosfera que circunda nossa Terra, a saber: o azul, o amarelo e o vermelho. É um fato bem conhecido, por todo ocultista, que o raio do Pai é azul, enquanto o do Filho é amarelo e a cor do raio do Espírito Santo é vermelha. Somente o raio mais forte e mais espiritual tem a possibilidade de penetrar no assento da consciência da onda de vida que anima o nosso Reino Mineral e, dessa forma, encontramos sobre as cordilheiras de montanhas o raio azul do Pai refletindo em volta das encostas áridas e pairando como uma névoa sobre desfiladeiros e barrancos. O raio amarelo do Filho, mesclado ao azul do Pai, fornece vida e vitalidade ao mundo das plantas, que, dessa forma, refletem de volta uma cor verde por incapacidade de reter o raio dentro de si. Porém, no Reino Animal, ao qual, anatomicamente, o ser humano não regenerado pertence, os três raios são absorvidos e o raio do Espírito Santo fornece a cor vermelha da carne e do sangue do ser humano. A mescla do azul e do vermelho evidencia a cor púrpura do sangue, envenenado devido ao pecador. Contudo, o amarelo nunca se evidenciará até que se manifeste como um Corpo-Alma, o “traje nupcial” da Noiva mística do Cristo místico desenvolvido desde o interior.

Desse modo, as cores dos véus do Templo, tanto no portão como na entrada do Tabernáculo, mostravam que essa estrutura foi projetada para um período anterior ao tempo do Cristo, pois possuía somente as cores azul e escarlate do Pai e do Espírito Santo, respectivamente, que juntas formavam a cor púrpura. Porém, o branco é a síntese de todas as cores e, portanto, o raio amarelo de Cristo estava oculto nessa parte do véu, até que, no seu devido tempo, Cristo deveria aparecer para nos emancipar das leis, como eram fornecidas, que nos limitam e nos iniciar na plena liberdade dos Filhos de Deus, Filhos da Luz, Phree Messen ou Maçons Místicos.

CAPÍTULO II – O ALTAR E O LAVABO DE BRONZE

O Altar de Bronze estava localizado dentro do portão leste[2] e era utilizado para o sacrifício de animais durante o serviço no templo. A ideia de utilizar bois e bodes como sacrifícios parece bárbaro para a mentalidade moderna, e não podemos alcançar a compreensão de que isso pudesse resultar em algo eficaz como efeito ao sacrifício. De fato, a Bíblia relata sobre isso detalhadamente e fornece uma explicação sobre o assunto, quando nos diz, repetidamente, que Deus não deseja sacrifícios, mas um espírito aquebrantado e um coração contrito[3], e que Ele não quer sacrifícios de sangue[4]. À vista desse fato, parece estranho que os sacrifícios fossem uma vez sido ordenados. Contudo, devemos entender que nenhuma religião pode elevar aqueles a quem lhe foi concebido ajudar, se seus ensinamentos estiverem muito acima do seu nível intelectual ou moral. Para apelar a um bárbaro, a religião deve ter certos traços bárbaros. Uma religião de amor nunca poderia ter sido atraente para aquelas pessoas; por isso, a elas foram fornecidas uma lei que exigia “um olho por um olho e um dente por um dente[5]. Não há, no Velho Testamento, qualquer menção à imortalidade, porque essas pessoas não poderiam compreender um céu e nem a ele aspirar. Entretanto, elas amavam as posses materiais e, por isso, foram instruídas que, se procedessem corretamente, elas e sua descendência habitariam na Terra para sempre e, que seu gado seria multiplicado, etc.

Elas adoravam as posses materiais e sabiam que o aumento dos seus rebanhos ocorria pela disposição de Deus, e dado por Ele segundo o mérito. Assim, elas foram ensinadas a agir corretamente na esperança de uma recompensa nesse mundo atual. Também foram dissuadidas de praticar o mal, devido ao rápido castigo que sofreriam em consequência da retribuição por seus pecados. Isso era a única maneira que elas entendiam. Elas não podiam fazer o bem pelo simples prazer de fazer o bem, e muito menos podiam compreender o princípio de se tornarem elas próprias “sacrifícios viventes” e, provavelmente, sentiam tanto a perda de um animal quando cometiam o pecado, assim, como nós sentimos as dores agudas da consciência por nossas más ações.

O Altar era feito de bronze, um metal não encontrado na natureza, porém, fabricado pelo ser humano a partir de cobre e zinco. Assim, simbolicamente, é mostrado que o pecado não estava originalmente previsto em nosso Esquema de Evolução[6], e é uma anomalia na natureza, bem como suas consequências, isto é, a dor e morte, que são simbolizadas pelas vítimas sacrificadas. Contudo, enquanto o próprio Altar era feito de metais compostos artificialmente, o fogo que queimava incessantemente era de origem divina, e era mantido aceso ano após ano com o mais zeloso cuidado. Nenhum outro fogo jamais foi usado, e podemos notar um resultado declarado que, quando dois sacerdotes presunçosos e rebeldes ousaram desobedecer a esse mandamento e usar um fogo estranho, eles depararam, como retribuição, uma morte horrível e instantânea[7]. Quando, uma vez prestado um juramento de lealdade ao Mestre místico, o “Eu superior”, é extremamente perigoso desconsiderar os preceitos então fornecidos.

Quando o candidato aparece no portão leste, se encontra “pobre, nu e cego”. Naquele momento, ele é digno de compaixão, precisando ser vestido e trazido à luz, mas, isso não pode ser feito imediatamente no Templo místico.

Durante o período do seu progresso, da condição de nudez até que ele tenha sido trajado com as vestes resplandecentes do sumo sacerdote, há um longo e difícil caminho a ser percorrido. A primeira lição que lhe é ensinada é que o ser humano progride somente por meio de sacrifícios e sozinho. Na Iniciação Cristã Mística, quando o Cristo lava os pés dos Seus Discípulos, a explicação fornecida é que a menos que seja oferecida a decomposição dos minerais como forma de alimento ao reino vegetal, não haveria vegetação; também, se os alimentos vegetais não fossem o sustento para os animais, esses últimos não conseguiram se expressar; e assim sucessivamente – o superior está sempre se alimentando do inferior. Portanto, o ser humano tem uma obrigação para com os animais, e assim o Mestre lava os pés dos Seus Discípulos, simbolizando nesse humilde serviço o reconhecimento do fato de que eles O serviram como bases de apoio para algo mais elevado.

Do mesmo modo, quando o candidato é trazido ao Altar de Bronze, aprende a lição de que o animal é sacrificado por sua causa, dando seu corpo como alimento e sua pele como vestuário. Além disso, ele vê a densa nuvem de fumaça flutuando sobre o Altar e percebe dentro dela uma luz, porém, essa luz é muito tênue e muito encoberta pela fumaça para servir como orientação permanente para ele. Seus olhos espirituais são frágeis, portanto, não faria sentido expô-los imediatamente à luz das verdades espirituais mais elevadas.

O Apóstolo São Paulo nos ensinou que o Tabernáculo no Deserto era uma sombra de grandes coisas que vêm. Por isso, pode ser interessante e proveitoso ao candidato que vem ao Templo em tempos atuais descobrir qual é o significado desse Altar de Bronze, com seus sacrifícios e a queima da carne. A fim de que possamos compreender esse mistério, primeiro de tudo, devemos assimilar a grande e absoluta ideia essencial que fundamenta todo verdadeiro misticismo; a saber, que essas coisas estão dentro e não fora de nós. Angelus Silesius diz sobre a Cruz:

“Ainda que Cristo nasça mil vezes em Belém,

Se não nascer dentro de ti, tua alma segue extraviada.

Olharás em vão a Cruz do Gólgota,

Enquanto ela não se erguer dentro de ti mesmo novamente.”

Essa ideia deve ser aplicada a todo símbolo e a toda fase da experiência mística.

Não é o Cristo externo que salva, mas o Cristo interno. O Tabernáculo foi construído no passado; é claramente visto na Memória da Natureza quando a visão interior tenha sido suficientemente desenvolvida para tal; porém, ninguém deve esperar qualquer ajuda do símbolo externo. Devemos construir o Tabernáculo dentro dos nossos corações e da nossa consciência. Devemos vivenciar, como uma real experiência interna, o ritual completo do serviço lá demonstrado. Devemos ser, tanto o Altar dos Sacrifícios como o animal sacrificado repousado sobre ele. Devemos ser, igualmente, o sacerdote que imola o animal e o próprio animal imolado. Mais tarde, devemos aprender a nos identificar com o Lavabo místico e devemos aprender a nos lavar nele, em espírito. Em seguida, devemos adentrar pelo primeiro véu, servir na Sala Oriental, e prosseguir através de todo serviço do Templo até nos tornarmos o maior de todos esses antigos símbolos, a Glória de Shekinah,ou isso de nada nos beneficiará. Em resumo, antes que o símbolo do Tabernáculo possa, realmente, nos ajudar, devemos transferi-lo do deserto para um lar em nossos corações, para que quando nós nos tornarmos em tudo que aquele símbolo é, também tenhamos nos tornados naquilo que ele significa em espiritualidade.

Vamos começar, então, a construir dentro de nós o Altar dos Sacrifícios, primeiramente, para que nele possamos imolar nossas transgressões e depois expiá-las no crisol do remorso. Isso é realizado, no moderno sistema de preparação para o Discipulado, por um exercício que se executa à noite[8], e que foi cientificamente elaborado pelos Hierofantes da Escola de Mistérios Ocidental para crescimento do Aspirante no caminho que conduz ao Discipulado. Outras escolas ensinaram um exercício similar, mas esse difere de todos os métodos anteriores, em um ponto particular. Depois da explanação dos exercícios, daremos a razão dessa grande e fundamental diferença. Esse método especial tem um efeito de longo alcance, que possibilita que se aprenda agora, não somente as lições que se deveria aprender, normalmente, nessa vida, mas a alcançar um desenvolvimento que, de outro modo, não poderia ser alcançado senão somente em muitas vidas futuras.

À noite, quando nos retiramos para dormir, o corpo deve estar relaxado. Isso é muito importante, pois quando alguma parte do corpo está tensa, o sangue não circula livremente; tal parte está temporariamente aprisionada, sob pressão. Como todo desenvolvimento espiritual depende do sangue, o esforço máximo para alcançar o crescimento anímico não pode ser feito, enquanto qualquer parte do corpo está sob tensão.

Quando o relaxamento ideal é alcançado, o Aspirante à vida superior começa a rever as cenas do dia, porém, não deve começar com as ocorrências da manhã e encerrar com os acontecimentos da noite. Ele as revive em ordem inversa: primeiro as cenas da noite, então os acontecimentos da tarde e, por fim, as ocorrências da manhã. A razão para isso é que no instante do nascimento, quando a criança inala a sua primeira completa respiração, o ar inspirado pelos pulmões carrega com ele uma imagem do mundo exterior e, à medida que o sangue passa pelo ventrículo esquerdo do coração, cada cena da vida é retratada em um pequeno Átomo-semente ali localizado. Cada inspiração traz consigo novas imagens que ficam gravadas naquele pequeno Átomo-semente, um registro de cada cena e de cada ação praticada durante toda a nossa vida, desde a primeira respiração até o último suspiro. Após a morte, essas imagens formam a base da nossa existência no Purgatório. Sob as condições dos Mundos espirituais, sofremos dores cruciantes de consciência tão agudas, inacreditáveis, por cada má ação cometida e, assim, nos sentimos desencorajados em continuar no caminho do transgressor. A intensidade das alegrias que experimentamos devido as nossas boas ações praticadas atua como um estímulo para seguir o caminho da virtude nas vidas futuras. Porém, na existência post-mortem esse panorama da vida é revisto na ordem inversa, a fim de mostrar, primeiramente, os efeitos e depois as causas que os geraram, para que o espírito possa aprender como a Lei de Causa e Efeito funciona na vida. Por esse motivo, o Aspirante, que está sob a orientação científica dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, recebe ensinamentos para realizar seu exercício noturno também na ordem inversa, julgando-se diariamente e, assim, ele pode escapar do sofrimento no Purgatório após a morte. Contudo, devemos compreender que não haverá mérito algum se as cenas do dia forem feitas superficialmente. Não é suficiente quando revemos uma cena em que nós tenhamos prejudicado seriamente e causado a alguém muita dor e sofrimento e dizer simplesmente: “Bem, lamento muito pelo que fiz. Eu gostaria de nunca ter feito isso”. Nesse momento, somos o animal sacrificado repousado sobre o Altar dos Sacrifícios e, a menos que consigamos sentir em nossos corações o fogo divinamente inflamado do remorso queimando até o mais profundo do nosso ser, devido às nossas más ações praticadas durante o dia, de nada valerá.

Durante a antiga Dispensação[9], todas os sacrifícios eram esfregados com sal, antes de colocadas no Altar dos Sacrifícios. Todos sabemos como dói e queima quando, acidentalmente, esfregamos sal em um ferimento recente. Esse salgamento nos sacrifícios naquele Antigo Templos de Mistérios simbolizava a intensidade da dor que devemos sentir, quando nós, como sacrifícios vivos, nos colocamos sobre o Altar dos Sacrifícios. É o sentimento do remorso, o profundo e sincero arrependimento pelo que fizemos, que erradica a imagem do Átomo-semente, limpando-o e deixando-o sem manchas e, assim como na antiga Dispensação os transgressores eram justificados, quando traziam uma oferenda para ser queimada ali no Altar dos Sacrifícios, assim também nós, nos tempos atuais, ao realizar cientificamente o exercício noturno de Retrospecção, eliminamos o registro de nossos pecados. É uma conclusão precipitada que não poderemos continuar, noite após noite, a executar esse sacrifício vivo sem nos tornarmos consequentemente melhores e, deixando pouco a pouco de cometer os erros, pois do contrário seremos obrigados a nos responsabilizar quando nos recolhemos para fazer o exercício noturno. Assim, além de nos purificar de nossas falhas, esse exercício nos eleva a um nível mais elevado de espiritualidade que, de outra maneira, não poderíamos alcançar na vida atual.

Também vale ressaltar que quando um indivíduo cometia um grave delito e se refugiava no santuário, ele encontrava proteção à sombra do Altar dos Sacrifícios, pois, ali, somente o fogo divinamente inflamado podia executar o julgamento. Ele escapava das mãos dos seres humanos, mas se colocava sob as mãos de Deus. Também, de modo semelhante, o Aspirante que reconhece suas más ações todas as noites, se refugiando no altar do julgamento vivente, alcança o santuário da Lei de Causa e Efeito, e “mesmo que seus pecados sejam escarlates, ficarão tão brancos como a neve.”[10].

O Lavabo de Bronze era um grande lavatório redondo, mantido sempre cheio de água. É dito na Bíblia que estava sobre as costas de doze grandes bois, também feitos de bronze e que as partes posteriores desses 12 grandes bois estavam voltadas para o centro do lavatório. Entretanto, na Memória da Natureza parece que esses animais não eram grandes bois, mas representações simbólicas dos doze Signos do Zodíaco. Naquele tempo, a humanidade estava dividida em doze grupos, um grupo para cada Signo zodiacal. Cada animal simbólico atraia um raio particular e, tal como a água benta usada atualmente nas igrejas católicas é magnetizada pelo padre, durante a missa, assim também a água desse Lavabo era magnetizada pelas Hierarquias divinas que guiavam a humanidade.

Não pode haver dúvida quanto ao poder da água benta preparada por alguém que tenha um caráter muito forte e magnético. Ela adquire ou absorve os eflúvios do Corpo Vital de quem a preparou, e as pessoas que a usam se tornam receptivas às suas sugestões em um grau proporcional à sensibilidade delas. Consequentemente, o Lavabo de Bronze, nos antigos Templos de Mistérios Atlante, onde a água era magnetizada pelas Hierarquias divinas de poder imensurável, era um fator poderoso para guiar o povo de acordo com os desejos desses poderes instituídos.

Por isso, os sacerdotes estavam perfeitamente sujeitos aos mandatos e ordens de seus líderes espirituais invisíveis, e por meio deles, o povo foi guiado cegamente. Era exigido dos sacerdotes que lavassem as mãos e os pés antes de adentrar no Tabernáculo. Se essa ordem não fosse obedecida, a morte aconteceria imediatamente, assim que o sacerdote entrasse no Tabernáculo. Portanto, podemos dizer que, como a palavra-chave do Altar de Bronze era “justificação”, então a ideia central do Lavabo de Bronze era “consagração”.

Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos[11]. Temos o exemplo do jovem rico[12] que perguntou a Cristo o que ele deveria fazer para ser perfeito. Ele afirmou que havia cumprido a lei, mas quando Cristo lhe ordenou: “Segue-me”, ele não pôde, pois possuía muitas riquezas que o prendiam tão firme como uma prensa. Como a grande maioria, ele ficaria feliz se pudesse somente escapar à condenação e, como muitos, ele não estava muito interessado em se esforçar para alcançar a merecida recompensa pelo serviço. O Lavabo de Bronze é o símbolo da santificação e consagração a uma vida de serviço. Assim como Cristo iniciou Seus três anos de ministério por meio das águas batismais, assim também, o Aspirante ao serviço no antigo Templo devia se santificar na corrente sagrada que fluía do Mar Fundido. E o Maçom místico que se esforça para construir um templo “sem ruído de martelo” e nele servir deve, também, se consagrar e se santificar. Ele deve estar disposto a desistir de todos as posses terrenas para poder seguir o Cristo Interno. Embora ele possa preservar seus bens materiais como um depósito sagrado e usá-los como um administrador sábio usaria as posses de seu patrão. E devemos estar realmente prontos para obedecer ao Cristo Interno quando Ele disser: “Siga-Me”, ainda que a sombra da cruz apareça sombria no final, pois, para os propósitos superiores, sem esse total desapego da vida para a Luz não pode haver progresso. Do mesmo modo, como o Espírito desceu sobre Jesus quando ele emergiu da água batismal da consagração, também o Maçom místico, que se banha no lavabo do Mar Fundido, começa a ouvir vagamente a voz do Mestre dentro do seu próprio coração, lhe ensinando os segredos do Ofício para que ele possa usá-los em benefício dos outros.

CAPÍTULO III – A SALA LESTE DO TEMPLO

Após ter subido os primeiros degraus do caminho, o aspirante encontra-se em frente ao véu que pende diante do Templo Místico. Deixando isso de lado, ele entra na Sala Leste do Santuário, chamado Lugar Santo. Não havia janelas ou quaisquer aberturas no Tabernáculo para deixar penetrar a luz do dia, porém, essa sala nunca ficava escura. Noite e dia era brilhantemente iluminada por lamparinas. O mobiliário simbolizava o método pelo qual o aspirante podia adquirir o crescimento da alma pelo serviço.

Esse mobiliário era composto de três objetos principais: o Altar do Incenso, a Mesa dos Pães da Proposição e o Candelabro de Ouro,do qual procediam as luzes. Não era permitido ao israelita comum entrar nesse lugar sagrado e nem contemplar os objetos. Ninguém, a não ser um sacerdote, podia passar pelo véu externo e entrar nessa primeira sala. O Candelabro de Ouro estava colocado na parte sul do Lugar Santo, de modo que se encontrava do lado esquerdo de qualquer pessoa que estivesse no meio da sala. Era inteiramente de ouro puro e constituído de uma base vertical, haste central que se elevava, juntamente com seis braços. Esses braços começavam em três pontos diferentes da haste central e arqueavam-se em três semicírculos de diâmetros diferentes, simbolizando os três Períodos de desenvolvimento (Períodos de Saturno, Solar e Lunar) pelos quais o ser humano passou antes do Período Terrestre, que estava, então, a menos da metade. Esse último Período era representado pela sétima luminária do Candelabro. Cada um dos sete braços terminava num candeeiro, e esse candeeiro era suprido com o mais puro azeite de oliva, o qual foi elaborado por um processo especial. Ao sacerdote foi exigido o devido cuidado para que no Candelabro nunca faltasse luz. Todos os dias as lamparinas eram examinadas, limpas e abastecidas com azeite, e assim podiam manter-se acesas perpetuamente.

A Mesa dos Pães da Proposiçãoestava colocada ao lado norte da sala, de modo a estar à mão direita do sacerdote quando este se encaminhasse ao segundo véu. Doze pães sem fermento eram continuamente mantidos sobre a mesa. Eram colocados em duas pilhas, um pão sobre o outro, e em cima de cada pilha havia uma pequena quantidade de incenso. Esses pães eram chamados os Pães da Proposição ou pão da face, porque foram colocados solenemente diante da presença do Senhor que habitava a Glória de Shekinah, atrás do segundo véu. Todos os sábados, os pães eram substituídos pelo sacerdote, sendo os velhos retirados e os novos colocados no mesmo lugar. Os pães retirados eram entregues aos sacerdotes para comer e ninguém mais tinha permissão de prová-los; também não era permitido comê-los em qualquer lugar fora do Santuário porque era santíssimo e, portanto, só poderia ser consumido por pessoas consagradas e em solo sagrado. O incenso que ficava sobre as duas pilhas dos Pães da Preposição era queimado, quando havia a troca dos pães como uma oferta queimada ao Senhor por um memorial em lugar do pão.

O Altar do Incenso ou Altar de Ouro era o terceiro objeto do mobiliário da Sala Leste do Templo. Ficava no centro da sala, isto é, a meio caminho entre as paredes norte e sul, em frente ao segundo véu. Nenhuma carne jamais foi queimada nesse altar e nenhum sangue jamais fora derramado sobre ele, exceto em ocasiões muito solenes, e apenas os seus chifres eram marcados com a mancha vermelha. A fumaça que era vista no topo, nunca foi outra senão a fumaça do incenso queimado. Isso acontecia todas as manhãs e todas as noites, preenchendo o Santuário com uma nuvem de fragrância agradável que impregnava todo o ambiente interior e que se estendia por todo o país de todos os lados por milhas ao redor. Pelo fato de o incenso ser queimado todos os dias foi chamado: “um perpétuo incenso diante do Senhor”. Não era simplesmente um incenso comum queimado, mas um composto disso com outras especiarias doces, elaborado sob a direção de Jeová para este fim especial e por isso considerado santo, de modo que nenhum ser humano poderia fazer uso dessa composição para si. O sacerdote era encarregado de zelar para que nenhum incenso estranho fosse oferecido no Altar de Ouro, isto é, nenhum outro que não tivesse a composição sagrada. Esse Altar estava colocado diretamente diante do véu, do lado de fora, mas diante do Propiciatório, que estava dentro da sala do segundo véu. Por isso, quem ministrasse no Altar do Incenso não podia ver o Propiciatório por causa do véu interposto, mas devia olhar nessa direção e para ela orientar o fluxo do incenso. Era costume, quando a nuvem fragrante do incenso se erguia por cima do templo, que todas as pessoas que estivessem no Átrio do Santuário enviassem suas preces a Deus, cada uma silenciosamente dentro de si.

O MÍSTICO SIGNIFICADO DA SALA LESTE E SEU MOBILIÁRIO

O Candelabro de Ouro

Como dito anteriormente, quando o sacerdote se posicionava no centro da Sala Leste do Tabernáculo, o Candelabro de sete Braços ficava à sua esquerda em direção ao sul.

Isso simbolizava o fato de que os sete dadores de luz, ou Planetas que trilham a dança do círculo místico ao redor da órbita central, o Sol, deslocam-se na estreita faixa abrangendo oito graus de cada lado do caminho do Sol, que é chamado de Zodíaco. “Deus é luz” e os “Sete Espíritos diante do Trono” são Ministros de Deus; portanto, eles também são mensageiros da luz para a humanidade.

Além disso, como os céus ficam iluminados, quando a Lua em suas fases chega à ‘plenitude’ na parte oriental dos céus, também a Sala Leste do Tabernáculo ficava cheia de LUZ, indicando visivelmente ali a presença de Deus e Seus sete ministros, os Anjos Estelares.

Podemos observar, de passagem, a luz do Candelabro de Ouro, que era clara e a sua chama sem odor, e compará-la com a esfumaçada chama no Altar dos Sacrifícios que, em certo momento, gerava escuridão ao invés de dissipá-la. Mas, há um significado ainda mais profundo e sublime nesse símbolo do fogo, que não entraremos em discussão até tratarmos da Glória de Shekinah, cujo brilho deslumbrante pairava sobre o Propiciatório na Sala Ocidental. Antes de entrarmos nesse assunto, precisamos compreender todos os símbolos que estão entre o Castiçal de Ouro e o sublime Fogo do Pai, que era o ponto mais elevado do Santo dos Santos (Sanctum Sanctorum), a parte mais sagrada do Tabernáculo no Deserto.

A Sala Leste do Templo pode ser chamada de Salão do Serviço, pois corresponde aos três anos de ministério de Cristo e contém toda a parafernália para o crescimento da alma, embora, como dito anteriormente, era mobiliado apenas com três peças principais. Entre as principais delas está a Mesa dos Pães da Proposição. Sobre essa mesa, como visto anteriormente, havia duas pilhas de Pães da Proposição, cada uma com seis pães, e sobre cada pilha havia uma pequena quantidade de incenso. O Aspirante que chegasse à porta do Templo, “pobre, nu e cego”, era conduzido à luz do Candelabro de Sete Braços, obtendo um determinado grau de conhecimento cósmico para ser utilizado unicamente a serviço de seus semelhantes. A Mesa do Pães da Proposição simboliza esse conceito.

Originalmente, os grãos dos quais eram feitos esses Pães da Proposição foram fornecidos por Deus, mas foi a humanidade que os plantou, depois de ter arado e preparado o solo. Depois de plantados os grãos, ela devia cultivá-los e regá-los. Então, quando, de acordo com a natureza do solo e os cuidados recebidos, o que foi plantado produzisse os grãos, esses eram colhidos, debulhados, moídos e assados. Depois os anciãos servos de Deus tinham que levar os pães ao Templo, onde eram colocados diante do Senhor para “demonstrar” que eles tinham realizado seu árduo trabalho, durante todo um longo tempo, e prestado o serviço essencial.

Os grãos de trigo fornecidos por Deus e contidos nos doze pães representam as oportunidades para o crescimento da alma, que chegam a todos por meio dos doze departamentos da vida, representados pelas doze Casas do horóscopo e sob o domínio das doze Hierarquias Divinas, conhecidas como os Signos do Zodíaco. Contudo, é tarefa do Maçom Místico, o verdadeiro Construtor do Templo, abraçar essas oportunidades, cultivá-las e nutri-las para extrair delas o PÃO VIVO que nutre a alma.

No entanto, não assimilamos totalmente o nosso alimento físico; sobra um resíduo, uma grande porção de cinzas, após termos amalgamado a quintessência em nosso organismo. Similarmente, os Pães da Proposição não eram queimados ou consumidos diante do Senhor. Sobre cada uma das duas pilhas dos Pães da Proposição era colocada uma pequena porção de incenso. Isso foi concebido para que o aroma dos pães fosse percebido e para que, mais tarde, eles fossem queimados no Altar do Incenso. Dessa forma, o alimento da alma extraído do serviço diário pelo fervoroso Maçom Místico é lançado no moinho da Retrospecção, quando ele se retira para dormir e executa os exercícios científicos fornecidos pelos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz.

Há um dia em cada mês que é particularmente propício para extrair o incenso do crescimento da alma e queimá-lo diante do Senhor, de modo que possa exalar um suave aroma e ser amalgamado com o Corpo-Alma e fazer parte do dourado e radiante “traje nupcial”. Isso ocorre quando a Lua está se tornando Cheia. Então, a Lua está a leste e os céus estão inundados de luz, como estava a Sala Leste do antigo Templo de Mistérios Atlante, onde o sacerdote acumulava o pábulo da alma, simbolizado pelos Pães da Proposição e pela essência perfumada, que deleitava nosso Pai Celestial, tanto quanto agora.

No entanto, deixemos que o Maçom Místico observe atentamente que os Pães da Proposição não eram fantasias de sonhadores, nem produto de especulações sobre a natureza de Deus ou da luz. Eles eram o produto de um trabalho árduo e real, de um trabalho sistemático e organizado, e nos compete seguir o caminho do verdadeiro serviço, se desejamos acumular tesouros no céu. A menos que realmente trabalhemos e sirvamos a humanidade, não teremos nada para apresentar, nem pão para “ofertar”, na Festa da Lua Cheia. E no casamento místico do “Eu superior” com o “Eu inferior” nos encontraremos desprovidos do radiante e dourado Corpo-Alma, o traje místico nupcial, sem o qual a união com Cristo jamais pode ser consumada.

O Altar do Incenso

No Altar do Incenso, como vimos na descrição geral do Tabernáculo e dos seus mobiliários, o incenso era oferecido diante do Senhor continuamente, e o sacerdote que oficiava diante do altar, naquele momento, estava olhando para o Propiciatório sobre a Arca, embora lhe fosse impossível vê-la por causa do segundo véu que foi interposto entre a primeira e segunda salas do Tabernáculo, o Lugar Santo e o Santo dos Santos. Também vimos que em relação aos “Pães da Proposição” o incenso simboliza o extrato, o aroma do serviço que prestamos de acordo com as nossas oportunidades e, assim como o animal sacrificado no Altar de Bronze representa os atos de má ação cometidos durante o dia, assim também o incenso queimado no Altar Dourado, que é um doce aroma para o Senhor, representa os atos virtuosos de nossas vidas.

CAPÍTULO IV – A ARCA DA ALIANÇA

É importante e repleta de grande significância mística, merecendo nossa atenção, que o aroma do serviço voluntário seja representado como uma doce fragrância perfumada de incenso, enquanto o odor do pecado, do egoísmo e das transgressões da lei, representado pelo sacrifício compulsório no Altar do serviço, é nauseante. Não se precisa, pois,  de muita imaginação para compreender que a nuvem de fumaça, que subia continuamente das carcaças queimadas dos animais sacrificados, exalava um cheiro nauseante, forte e muito ruim para mostrar a destacada repugnância disso, enquanto o contínuo incenso oferecido no Altar, antes do segundo véu, por antítese, mostrava a beleza e a sublimidade do serviço altruísta, exortando o Maçom Místico, como um filho da luz, a deliberadamente evitar um e a continuar a acreditar firmemente no outro.

Também é bom deixar bem claro que o serviço não consiste, somente, em realizar grandes feitos. Alguns que são chamados de heróis foram, em suas vidas cotidianas, bons e simples, e se destacavam apenas nas ocasiões em que era necessário. Os mártires foram inseridos no calendário dos santos porque morreram por uma causa; entretanto, o maior heroísmo, o grande martírio é, às vezes, fazer as pequenas coisas que ninguém nota e se sacrificar no serviço simples aos outros.

Vimos, anteriormente, que o véu na entrada do pátio exterior e o véu em frente à Sala Leste do Tabernáculo eram confeccionados em quatro cores – azul, vermelho, púrpura e branca. Porém, o segundo véu, que dividia a Sala Leste do Tabernáculo da Sala Oeste, diferia em relação à caracterização dos outros dois. Foi forjado com as figuras dos Querubins. Porém, não consideraremos o significado desse fato até que abordemos o assunto da Lua Nova e da Iniciação, mas agora examinaremos o segundo recinto do Tabernáculo, a sala ocidental, chamado de Santíssimo ou Santo dos Santos. Atrás do segundo véu, nessa segunda sala, nenhum mortal poderia passar a não ser o Sumo Sacerdote e, mesmo assim, era permitido a ele entrar somente uma vez por ano, a saber, no Yom Kippur, no Dia da Expiação, e somente após a mais solene preparação e com o maior reverente cuidado. O Santo dos Santos era revestido com a solenidade de outro mundo; estava repleto de uma grandeza sobrenatural. O Tabernáculo inteiro era o santuário de Deus, mas, aqui nesse local estava a certeza absoluta da Sua presença, a morada especial da Glória Shekinah, e qualquer ser mortal tremia ao se apresentar dentro desses recintos sagrados, como deveria acontecer com o Sumo Sacerdote, no Dia da Expiação.

Na parte mais ocidental desse recinto, o extremo oeste de todo o Tabernáculo, estava a “ARCA DA ALIANÇA”. Era um receptáculo vazio que continha o Pote de Ouro do Maná, a Vara de Aarão que floresceu e as Tábuas da Lei, que foram dadas a Moisés. Enquanto essa Arca da Aliança permanecia no Tabernáculo no Deserto, as duas varas ficavam colocadas sempre dentro dos quatro anéis da Arca, para que ela pudesse ser levantada e transportada a qualquer momento. Mas, quando a Arca finalmente foi transportada para o Templo de Salomão, as varas foram retiradas. Isso tem um significado simbólico de grande importância. Sobre a Arca pairavam os Querubins, e entre eles habitava a não criada glória de Deus.

Aqui”, disse Ele a Moisés, “Eu virei a ti, e, de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins que estão sobre a arca do Testemunho, falarei contigo acerca de tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel.”[13].

A glória do Senhor, vista acima do Propiciatório, tinha a aparência de uma nuvem. O Senhor disse a Moisés: “Fala a Aarão teu irmão: que ele não entre em momento algum no santuário, além do véu, diante do propiciatório que está sobre a arca. Poderá morrer, pois apareço sobre o propiciatório, em uma nuvem[14].

Essa manifestação da divina presença foi chamada entre os judeus de Glória Shekinah. Sem dúvida, sua aparência era de uma maravilhosa glória espiritual, da qual é impossível formar qualquer concepção adequada.

Fora dessa nuvem, a voz de Deus era ouvida com uma profunda solenidade quando Ele era consultado em prol do povo.

Quando o Aspirante tinha se qualificado para entrar nesse local, atrás do segundo véu, ele encontrava tudo escuro (aos olhos físicos), e era preciso que ele tivesse outra luz, interior. Quando ele chegou pela primeira vez ao portão oriental do Templo, estava “pobre, nu e cego”, pedindo LUZ. Então, lhe foi mostrada a luz fraca que surgia na fumaça acima do Altar do Sacrifício, e lhe disseram que ele deveria desenvolver, para avançar, dentro de si mesmo essa chama, resultado do remorso pelas transgressões à Lei. Mais tarde, ele recebeu a luz mais brilhante na Sala Leste do Tabernáculo, que procedia do Candelabro de Sete Braços; em outras palavras, ele recebeu a luz do conhecimento e da razão para que por ela pudesse avançar, ainda mais, no caminho. Contudo, era necessário que ele desenvolvesse, dentro de si e ao seu redor, pelo serviço, outra luz, o “Traje de Bodas” dourado, que também é a luz do Cristo do Corpo-Alma. Por meio de vidas dedicadas ao serviço, essa gloriosa essência da alma penetrava, gradualmente, em toda a sua aura até ficar envolta por uma luz dourada. Só quando tivesse desenvolvido essa luz interna, ele poderia entrar nos recintos sombrios do segundo Tabernáculo, como às vezes é chamado, o Santo dos Santos.

Deus é luz; se andarmos na luz como Ele está na luz, seremos fraternais uns com os outros.” Isso geralmente é usado para indicar apenas a Fraternidade dos Santos, mas, de fato, se aplica também à Fraternidade que temos com Deus. Quando o Discípulo entra no segundo Tabernáculo, a LUZ dentro de si vibra com a LUZ da Glória Shekinah entre os Querubins, e ele realiza a Fraternidade com o Fogo do Pai.

Assim como os Querubins e o Fogo do Pai, que pairavam sobre a arca, representam as Hierarquias Divinas que guiavam a humanidade durante sua peregrinação pelo deserto, assim também a Arca que era encontrada ali representava o ser humano em seu desenvolvimento mais elevado. Havia, como já foi dito, três coisas dentro da Arca: o Pote de Ouro do Maná, o Bastão que floriu e as Tábuas da Lei.

Quando o Aspirante estava no portão oriental como filho do pecado, a lei estava fora dele, como orientador para trazê-lo a Cristo. Exigia com severidade implacável um “olho por olho e dente por dente”. Cada transgressão trazia uma recompensa justa, e o ser humano estava circunscrito por todos os lados por leis que o ordenavam a fazer certas coisas e a não fazer outras. Contudo quando, por meio de sacrifício e serviço, ele finalmente chegou ao estágio de evolução representado pela Arca na sala ocidental do Tabernáculo, as Tábuas da lei estavam dentro dele. Então, ele se emancipou de toda a interferência externa em suas ações – não que ele infringisse alguma lei, mas porque ele trabalhava com elas. Assim como aprendemos a respeitar o direito de propriedade dos outros e, portanto, nos tornamos emancipados do mandamento “Não furtarás”, também aquele que guarda todas as leis, porque deseja fazê-lo, não precisa mais de um orientador externo, mas de bom grado obedece em todas as coisas, porque ele é um servo da lei e trabalha com ela, por escolha e não por necessidade.

O Pote de Ouro do Maná

Manas, mensch, homem ou ser humano são palavras diretamente associadas com o maná que desceu do céu. É o Espírito Humano que desceu do alto, de nosso Pai, para uma peregrinação através da matéria, e o Pote de Ouro onde foi guardado simboliza a aura dourada do Corpo-Alma.

Apesar da narrativa na Bíblia não estar estritamente de acordo com os acontecimentos, ela nos fornece os principais fatos do maná místico que caiu do céu. Quando queremos aprender qual é a natureza desse chamado pão, devemos retornar ao sexto capítulo do Evangelho Segundo de São João, que relata como Cristo alimentou as multidões com pães e peixes, simbolizando a doutrina mística dos 2000 anos que Ele estava iniciando, pois durante essa época, o Sol, por Precessão dos Equinócios, estava transitando pelo Signo dos peixes, Peixes, e as pessoas foram ensinadas a se abster , pelo menos um dia durante a semana (sexta-feira) e em certa época do ano, das panelas de carne que pertenciam ao Egito ou à antiga Atlântida.

Foram dadas a água Pisciana na porta do templo, e a Hóstia Virginiana na mesa da comunhão diante do altar quando adoravam a Virgem Imaculada, representando o Signo celestial de Virgem (que está em Oposição ao Signo de Peixes), e que entraram em comunhão com o Sol gerado por ela.

Cristo também explicou, naquela época, em uma linguagem mística, mas inconfundível, que o pão vivo ou maná era, nomeadamente, o Ego. Essa explicação é encontrada nos versículos 33 e 35, onde lemos: “porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”.  (…) “Eu sou o pão da vida”. Esse, então, é o símbolo do Pote de Ouro do Maná que se encontrava na Arca. Esse maná é o Ego ou Espírito Humano, que dá vida aos organismos que nós observamos no Mundo Físico. Encontra-se escondido dentro da Arca de cada ser humano e o Pote de Ouro, ou Corpo-Alma ou a “Veste Nupcial”, também se encontra latente dentro de cada um. Ele se torna mais consistente, brilhante e resplandecente pela alquimia espiritual quando o serviço é transmutado em crescimento anímico. É a casa não construída por mãos, eterna nos céus, com a qual São Paulo desejava estar vestido, como disse na Epístola aos Coríntios. Todo aquele que se esforça em ajudar seus semelhantes, desse modo, acumula dentro si esse tesouro de ouro que é depositado no céu, onde nem a traça nem a ferrugem podem destruí-lo.

A Vara de Aarão

Uma antiga lenda relata que quando Adão foi expulso do Jardim do Éden, levou consigo três mudas da Árvore da Vida, que foram plantadas por Seth. Seth, o segundo filho de Adão, é de acordo com lenda Maçônica pai da hierarquia espiritual dos clérigos que trabalham com a humanidade através do Catolicismo, enquanto os filhos de Caim são os Artesões do mundo. Esses últimos estão ativos na Maçonaria, promovendo o progresso material e industrial, como deveriam ser os construtores do Templo de Salomão, o universo. As três mudas plantadas por Seth tiveram importantes missões no desenvolvimento espiritual da humanidade, e uma delas é a Vara de Aarão. No início da existência concreta, a geração era realizada sob a sábia direção dos Anjos, que assistiam para que o ato criador fosse realizado nos momentos em que os raios de força interplanetários eram propícios, e o ser humano também foi proibido de comer da Árvore do Conhecimento. A natureza dessa árvore foi prontamente determinada a partir de sentenças como “Adão conheceu sua esposa e ela deu à luz Caim”; “Adão conheceu sua esposa, e ela deu à luz Seth”. “Como posso dar à luz a uma criança visto que não conheço um homem?”, como foi dito por Maria ao Anjo Gabriel.

À luz dessa interpretação, a afirmação do Anjo (não foi uma maldição), quando descobriu que seus preceitos foram desobedecidos, “morrendo morrerás”, também é compreensível, pois os corpos gerados independentemente das influências cósmicas não esperariam que persistisse.

Por isso, o ser humano foi exilado dos reinos etéricos da força espiritual (Éden), onde cresce a árvore do poder vital; exilado para a existência concreta em Corpos físicos Densos que ele gerou para si. Certamente foi uma bênção, pois quem de nós possui um corpo totalmente saudável e perfeito, segundo a nossa opinião e quem gostaria de viver nele para sempre?

Por isso, a morte é uma dádiva e uma bênção, na medida em que nos permite retornar aos reinos espirituais periodicamente e, assim, construirmos melhores veículos para cada retorno à vida terrena. Como disse Oliver Wendell Holmes[15]:

“Constrói alma minha, as mais belas mansões

Enquanto as estações se sucedem!

Deixa teu humilde passado!

Que cada novo templo, mais nobre que o anterior,

Te separe do céu com um domo mais amplo,

Até que, por fim, possas ficar livre,

Abandonando tua pequena concha no revolto mar da vida!”

No decorrer do tempo, quando aprendemos a evitar o orgulho da vida e a luxúria da carne, o ato gerador deixará de minar nossa vitalidade. Então, a energia vital será usada para a regeneração, e os poderes espirituais, simbolizados pela Vara de Aarão, serão desenvolvidos.      

A varinha do mágico, a lança sagrada de Parsifal, o Rei do Graal, e a Vara de Aarão que floresceu são símbolos (ou emblemas) dessa força criadora divina, que faz maravilhas as quais chamamos de milagres.

Contudo, que fique bem claro que ninguém que chegue a tal ponto na evolução, simbolizado pela Arca da Aliança na Sala Oeste do Tabernáculo, jamais usará esse poder para fins egoístas. Quando Parsifal, nome dado ao herói do mito da alma, tendo testemunhado a tentação de Kundry e provado estar emancipado do maior de todos os pecados, os da luxúria e a falta de castidade, ele recuperou a lança sagrada roubada pelo mago negro Klingsor, do rei do Graal caído e impuro, Amfortas. Então, viajou por muitos anos pelo mundo procurando novamente o Castelo do Graal, e disse: “Muitas vezes eu fui atormentado por inimigos e tentado a usar a lança em defesa própria, mas sabia que a lança sagrada nunca deveria ser usada para ferir, e tão somente para curar”.

E essa é a atitude de todo aquele que desenvolve, dentro de si, o florescimento da Vara de Aarão. Embora ele possa transformar essa faculdade espiritual em condições de prover pão para uma multidão, ele nunca pensaria em transformar uma pedra em pão para si mesmo, para aplacar a própria fome. Mesmo que ele tenha sido pregado à cruz para morrer, não se libertaria dela com o poder espiritual que havia exercido prontamente, para salvar os outros da sepultura. Apesar de ter sido insultado todos os dias de sua vida como impostor e charlatão, nunca utilizaria indevidamente seu poder espiritual para revelar qualquer sinal pelo qual o mundo pudesse conhecer, sem sombra de dúvida, que ele era regenerado ou nascido no céu. Essa foi a atitude de Cristo-Jesus, que tem sido e é imitada por todo aquele que é um Cristo em formação.

Capítulo V – A GLÓRIA SAGRADA DO SHEKINAH

A Sala Ocidental do Tabernáculo era tão escura como os céus quando o luminar menor, a Lua, está no lado ocidental dos céus, ao entardecer, junto com o Sol; isto é, na Lua Nova, que inicia um novo ciclo em um novo Signo do Zodíaco. No extremo oeste desse santuário totalmente escuro ficava a Arca da Aliança, com os Querubins pairando acima e, também, a flamejante Glória de Shekinah, de onde provia a Luz do Pai que comungava com Seus adoradores, mas que era invisível para a visão física e, portanto, escura.

Nós, normalmente, não percebemos que o mundo inteiro está em chamas, que o fogo está na água, que arde continuamente na planta, no animal e no ser humano, sim, não há nada no mundo que não esteja dotado ou imbuído de uma alma pelo fogo. A razão pela qual não percebemos isso com mais clareza é que não podemos dissociar o fogo da chama. Contudo, na realidade, o fogo tem, como característica, a mesma relação com a chama tal como o espírito a tem com o corpo, é o não visto ou não percebido, mas, potente poder de manifestação. Em outras palavras, o verdadeiro fogo é escuro e invisível à visão física. Só é revestido de chama quando consome matéria física. Considere, a título de ilustração, como uma faísca de fogo salta de uma pedra de quartzo escuro quando atingido por um aço e como uma chama de gás tem o centro escurecido debaixo da parte luminosa; também como um fio pode conduzir eletricidade e, no entanto, permanecendo frio emitir uma chama sob certas condições.

Nesse ponto, pode ser oportuno marcar a diferença entre o Tabernáculo no Deserto, o Templo de Salomão e o último templo construído por Herodes. Há uma diferença extremamente vital. Tanto o fogo milagrosamente aceso no Altar de Bronze na parte oriental do Tabernáculo quanto a invisível Glória de Shekinah na parte mais ocidental do santuário também estavam presentes no Templo de Salomão.

Portanto, nesse sentido esses eram santuários diferentes do Templo construído por Herodes. Esse último, contudo, em um certo sentido, foi o mais glorioso dos três, pois foi agraciado com a presença corporal do nosso Senhor, Cristo Jesus, em Quem habitava a Divindade. Cristo fez o primeiro autossacrifício, revogando assim o sacrifício de animais e, finalmente, na consumação do Seu trabalho no Mundo visível, rasgou o véu e abriu o caminho para o Santo dos Santos, não somente a uns poucos favorecidos, os sacerdotes e Levitas, mas a TODO AQUELE QUE queira vir e servir a Divindade, a quem nós conhecemos como o nosso Pai. Tendo confirmada a lei e as profecias, Cristo acabou com o santuário externo e, desde então, o Altar dos Sacrifícios deve ser estabelecido dentro do coração para expiar as transgressões; o Candelabro de Ouro deve ser aceso dentro do coração para nos guiar em nosso caminho, como o Cristo interno; a Glória Shekinah do Pai deve habitar dentro dos recintos sagrados da nossa própria consciência de Deus.

A Sombra da Cruz

São Paulo, em sua Carta aos Hebreus[16], forneceu uma descrição do Tabernáculo e muitas informações sobre os costumes que lá se usavam, os quais beneficiariam o Estudante a conhecê-los. Entre outras coisas observe que ele chama o Tabernáculo de “uma sombra das boas coisas que virão”[17].

Há, nesse antigo Templo de Mistério, uma promessa feita que ainda não foi cumprida, uma promessa que é tão boa hoje como o foi naquele tempo em que foi feita. Se visualizarmos em nossa Mente a disposição dos objetos no interior do Tabernáculo, facilmente veremos a sombra da Cruz. Começando pelo portão oriental havia o Altar dos Sacrifícios; um pouco além, em direção ao Tabernáculo, encontramos o Lavabo da Consagração, o Mar Fundido, no qual se lavavam os Sacerdotes. Logo depois de entrarmos na Sala Oriental do Templo encontramos uma peça de mobiliário, o Candelabro Dourado, no lado extremo esquerdo de quem entra, e a Mesa dos Pães da Proposição no lado extremo direito de quem entra, os dois formando uma cruz com o caminho que temos seguido ao longo do Tabernáculo. No centro e em frente do segundo véu, encontramos o Altar de Incenso, que forma o centro da cruz, enquanto a Arca, colocada na parte mais ocidental da Sala Ocidental, o Santo dos Santos, representa a parte mais curta ou superior da Cruz. Desse modo, o símbolo do gradual desenvolvimento ou revelação espiritual, que hoje é o nosso específico ideal, foi representado ou indicado vagamente no antigo Templo de Mistério, e aquela consumação que se atinge no topo da cruz, a plenitude da lei dentro de nós como estava dentro da Arca é a única que deve interessar atualmente a todos nós. A Luz que brilha sobre o Propiciatório no Santo dos Santos, no topo da cruz, no fim do caminho nesse mundo, é a luz ou o reflexo do Mundo invisível, em que o candidato procura entrar quando, ao seu redor, tudo no mundo se tornou para ele sombrio e obscuro. Só quando atingimos esse estado, em que percebemos a luz espiritual que nos acena, a luz que paira sobre a Arca, somente quando permanecemos à sombra da Cruz, podemos conhecer o significado, o objetivo e a meta da vida.

Atualmente, podemos aproveitar as oportunidades que são oferecidas e prestar o serviço com maior ou menor eficiência, porém, somente quando por meio desse serviço desenvolvermos a luz espiritual dentro de nós, que é o Corpo-Alma, e assim tivermos obtido acesso à Sala Ocidental, chamada o Vestíbulo da Libertação, então perceberemos e compreenderemos realmente o motivo pelo qual estamos no mundo e o que necessitamos para nos tornarmos propriamente úteis. Entretanto, nós não podemos permanecer ali quando tenhamos obtido acesso. Ao Sumo Sacerdote era permitido entrar somente uma vez por ano; havia um longo intervalo de tempo entre esses lampejos do real propósito da existência. Durante esse intervalo, o Sumo Sacerdote precisava sair e viver entre seus irmãos, a humanidade, servindo-os da melhor maneira que pudesse e, porque não era perfeito, pecava, para de novo entrar no Santo de Santos, após ter feito as reparações devidas pelos seus pecados.

Atualmente, sucede algo similar conosco. Por vezes, nós obtemos vislumbres das coisas que nos estão reservadas e das coisas que devemos fazer para seguirmos Cristo ao lugar para onde Ele foi. Você relembra que Ele disse aos Seus Discípulos: “Não podes seguir-me agora aonde vou, mas me seguirás mais tarde[18]. E sucede o mesmo conosco. Devemos olhar repetidamente para dentro desse templo escuro, o Santo dos Santos, antes de estarmos realmente capacitados para permanecer lá; antes que estejamos realmente preparados para darmos o último passo e, assim, subir até o cume da Cruz, o lugar da caveira, aquele ponto, em nossas cabeças, por onde o Espírito sai quando deixa o seu Corpo quando da morte, ou entrando e saindo como um Auxiliar Invisível. Esse Gólgota é a melhor realização humana alcançável e devemos estar preparados para entrar muitas vezes na sala obscura antes que estejamos prontos para esse clímax final.

A Lua Cheia como um Fator de Crescimento Anímico

Consideremos, agora, o Caminho da Iniciação, tal como se ensinava simbolicamente nos antigos Templos – com a Arca, o Fogo e o Shekinah – e no último Templo onde Cristo ensinou. Observemos primeiro que quando o ser humano foi expulso do Jardim do Éden, por haver comido o fruto da Árvore do Conhecimento, um Querubim guardava a entrada com uma espada flamígera. As seguintes passagens da Bíblia: “Adão conheceu Eva e ela concebeu Abel[19]; “Adão conheceu Eva e ela concebeu Seth[20]; “Elcana conheceu Ana e ela concebeu Samuel[21]; também a pergunta de Maria ao Anjo Gabriel: “Como pode ser isso possível se eu não conheço a nenhum homem?[22],  todas elas mostram claramente que a indulgência das paixões no ato criador estava implícita na frase, “Comer da Árvore do Conhecimento. Quando o ato criador era realizado sob as influências desfavoráveis dos raios astrais, era cometido um pecado contra as Leis da Natureza, o que trouxe a dor e a morte ao mundo, nos afastou dos nossos primitivos guardiães e nos forçou a vagar pelo deserto do mundo durante séculos.

No pórtico do Templo Místico de Salomão encontramos o Querubim, mas a espada flamígera não está mais em suas mãos; ao invés dela ele segura uma flor, um símbolo cheio de significado místico. Vamos comparar o ser humano com uma flor para que possamos conhecer a grande importância e significância desse emblema. O ser humano toma seu alimento pela cabeça, de onde vai descendo. A planta toma seu alimento através das raízes e o impulsiona para cima. O ser humano reveste seu amor de paixão e tem o órgão de geração voltado para a terra, escondendo-o com vergonha, graças a essa mácula de sua paixão. A planta desconhece a paixão, a fertilização é realizada na forma mais pura e casta imaginável, portanto, ela projeta seu órgão criador, a flor, para o Sol, uma coisa muito formosa que deleita a todos que a contemplam. O ser humano decaído e passional exala o mortífero dióxido de carbono; a casta flor inala esse veneno, transmuta-o e o devolve puro, doce e perfumado, um fragrante elixir da vida.

Esse é o mistério do Cálice do Graal, esse é o significado emblemático do Cálice da Comunhão, que é chamado “Kelch” em alemão, “Calix” em latim, significando ambos os nomes o pericarpo da flor. O Cálice da Comunhão, com seu sangue místico limpo, por ter sido removida a paixão inerente da geração, traz a vida eterna ao que o bebe em verdade e, portanto, se converte no veículo da regeneração, do nascimento místico em uma esfera mais elevada, um “país estrangeiro”, onde o que cumpriu sua aprendizagem em edificar Templos e dominou as “artes e os ofícios” deste mundo pode aprender coisas mais elevadas.

O símbolo do Querubim, com a flor aberta colocada sobre a porta do Templo de Salomão, transmitia a mensagem para o Aspirante de que a pureza é a chave com a qual, por si só, ele pode ter a esperança em abrir a porta que conduz a Deus; ou como Cristo se expressou: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”. A carne deve ser consumida no Altar do Autossacrifício, e a alma deve ser lavada no Lavabo da Consagração à vida mais elevada, antes que possa se aproximar da porta do Templo. Quando “nu”, “pobre” e “cego” pelas lágrimas de contrição, tatear na escuridão, buscando a porta do Templo, deve encontrar a entrada para o Salão do Serviço, a Sala Leste do Tabernáculo, que está iluminada com a luz do Candelabro de Sete Braços, emblemático da luminosidade da Lua Cheia, Lua essa que muda em ciclos de sete dias. Nesse Salão do Serviço, é ensinado ao Aspirante tecer a vestimenta luminosa de flama, a qual São Paulo chamou de “Soma Psuchicon”, ou Corpo-Alma (ICor 15:44), do aroma dos Pães da Proposição.

Quando falamos de Corpo-Alma, queremos dizer exatamente isso, e esse veículo não dever ser confundido com a alma que interpenetra o corpo. O Auxiliar Invisível, que o utiliza nos voos da alma, sabe que ele é tão real e tangível como o Corpo Denso de carne e sangue. Porém, dentro dessa dourada “veste nupcial” há algo intangível conhecido pelo espírito de introspecção. É inominável e indescritível; escapa aos mais persistentes esforços para compreendê-lo, mas, está lá, tão certamente quanto o veículo que ele ocupa. Sim, e mais ainda, não é vida, amor, beleza, sabedoria, nem pode qualquer outro conceito humano transmitir uma ideia do que é, entretanto, é a soma de todas as faculdades, de todos os atributos e conceitos humanos do bem, numa incomensurável intensidade. Se tudo o mais nos fosse tirado, essa realidade primordial ainda permaneceria, e deveríamos ser ricos com a sua posse, pois por meio dela sentimos o poder de atração do nosso Pai Celestial, aquele impulso interior que todos os Aspirantes conhecem tão bem.

Cristo se referiu a esse sentimento interior quando disse: “Ninguém vem ao Pai, senão por mim[23]. Assim como o verdadeiro fogo está oculto na chama que o encerra, assim também, algo inominável e intangível se esconde no Corpo-Alma e queima o incenso extraído dos Pães da Proposição; desse modo, acende o fogo que faz com que o Corpo-Alma se torne luminoso. E o aroma do serviço amoroso prestado aos outros atravessa o véu como um doce perfume para Deus, que habita na Glória de Shekinah, então criada pairando sobre a Arca no mais íntimo santuário, o Santo dos Santos.

CAPÍTULO VI – A LUA NOVA E A INICIAÇÃO

Quando o candidato entrava pela porta Leste do Templo, procurando pela luz, confrontava com uma chama de fogo no Altar dos Sacrifícios, que emitia uma luz fraca envolta em nuvens de fumaça. Ele estava na condição de escuridão espiritual do ser humano comum, necessitando da luz interior e era, consequentemente, necessário lhe fornecer a luz externa. Porém, quando chegava ao ponto onde ele estava pronto para entrar pela Sala Ocidental escura, se supunha que ele tenha evoluído à condição de ter o luminoso Corpo-Alma, desenvolvido por meio do serviço à humanidade. Então, supõe-se que ela tenha a luz dentro de si, “a luz que ilumina todo ser humano”. A menos que ele tenha essa luz, ele não pode penetrar na sala escura do Templo.

O que acontece secretamente no Templo é abertamente mostrado nos céus. Assim como a lua recolhe a luz do Sol durante seu caminho da “Nova” para “Cheia”, assim também o ser humano que percorre Caminho da Santidade recolhe, na Sala Leste, pela utilização de suas preciosas oportunidades de serviço altruísta o material com o qual faz seu luminoso “traje nupcial”, e esse material é mais bem amalgamado na noite de Lua Cheia. Contudo, inversamente, assim como a Lua vai dissipando, gradualmente, a luz acumulada e extraída à medida que se aproxima mais do Sol, para entrar num novo ciclo no período da Lua Nova, assim também aqueles que, de acordo com a lei da analogia, colheram seus tesouros e os guardaram nos céus pelo serviço estão, nessa época da Lua, mais perto de sua Origem e do seu Criador, de seu Fogo-Pai, nas mais elevadas esferas, do que em qualquer outro período.

Da mesma forma que os grandes salvadores da humanidade nascem no Solstício de Dezembro, na noite mais longa e escura do ano, assim também o processo de Iniciação, que traz à luz o nascimento nos Mundos invisíveis um dos salvadores menores, os Auxiliares Invisíveis, é mais facilmente realizado na noite mais longa e escura noite do mês, isto é, na noite da Lua Nova, quando a esfera lunar está na parte mais ocidental dos céus.

Todo desenvolvimento oculto começa com o Corpo Vital, e a tônica deste veículo é a “repetição”. Para sobressairmos melhor em qualquer assunto, a repetição é necessária. Para compreender a consumação final à qual tudo isso está sendo levado, vamos examinar de outro ângulo os três tipos de fogo que havia no interior do Templo.

Perto do portão leste ficava o Altar dos Sacrifícios. Naquele Altar, a fumaça era gerada continuamente pelos corpos sacrificados, e a coluna de fumaça era vista por toda parte pela multidão que não era instruída nos mistérios internos da vida. A chama, a luz, escondida nessa nuvem de fumaça era, na melhor das hipóteses, apenas fracamente percebida. Isso mostrava que a grande maioria da humanidade é ensinada, principalmente, pelas leis imutáveis da natureza, que exigem dela um sacrifício, quer se apercebam disso ou não. Assim como a chama da purificação era, então, alimentada pelos corpos mais grosseiramente construídos e inferiores de animais sacrificados, como exigidos pela lei mosaica, assim também, hoje a massa mais baixa e passional da humanidade está sendo subjugada pelo medo da punição, submetida pela lei do mundo atual, mais do que pelo temor daquilo que possa acontecer no mundo vindouro.

Uma luz de uma natureza diferente brilhava na Sala Leste do Tabernáculo. Ao invés de retirar seu combustível da carne pecaminosa e passional dos animais sacrificados, ela era alimentada com o azeite de oliva extraído do casto reino vegetal; e sua chama não estava envolta em fumaça, mas era clara e distinta para que pudesse iluminar o recinto e guiar os sacerdotes, que eram os servos do Templo, em seus ofícios. Os sacerdotes se empenhavam para trabalhar em harmonia com o plano divino, por isso, eles percebiam a luz mais claramente do que a multidão não instruída e negligente. Também hoje, a luz mística brilha para todos os que estão se esforçando para realmente servir no altar do autossacrifício, particularmente para os Aspirantes comprometidos com uma Escola de Mistérios como a Ordem Rosacruz. Eles estão caminhando em uma luz invisível para a multidão e, se realmente estão servindo, recebem a verdadeira orientação dos Irmãos Maiores da humanidade, que estão sempre prontos em ajudá-los nos momentos difíceis no Caminho.

Entretanto, o fogo mais sagrado de todos era a Glória de Shekinah, na Sala Oeste do Tabernáculo, acima do Propiciatório. Como essa Sala Oeste era escura, nós compreendemos que ali estava um fogo invisível, uma luz de outro mundo.

Observe bem isso, o fogo que estava envolto na fumaça e na chama sobre o Altar dos Sacrifícios, consumindo os corpos sacrificados ali trazidos em expiação dos pecados cometidos sob a lei, era o símbolo de Jeová, o Dador da Lei; e relembremos que a lei foi dada para nos conduzir a Cristo. A luz clara e bela que brilhava na Sala do Serviço, a Sala Leste do Tabernáculo, é a cor dourada da luz de Cristo, que guia aqueles que se esforçam por seguir Seus passos no caminho do serviço altruísta.

Como disse Cristo, “Eu vou ao meu Pai”, quando Ele estava para ser crucificado, assim também o Servo da Cruz, que aproveitou ao máximo suas oportunidades no Mundo visível, tem permissão para entrar na glória de seu Fogo-Pai, a invisível Glória de Shekinah. Então, ele deixa de ver através do vidro escuro do Corpo, e vê seu Pai face a face, nos reinos invisíveis da natureza.

A torre da igreja é muito larga na base, mas se estreita gradualmente mais e mais até que na cúspide é só uma ponta com a cruz em cima. O mesmo acontece com o Caminho da Santidade; no princípio há muitas coisas que podemos nos permitir, mas conforme avançamos, os desvios devem ser suprimidos e devemos nos dedicar mais e mais exclusivamente ao Serviço da Santidade. No final chega um ponto em que o caminho é tão estreito como o fio de uma navalha e, então, só podemos nos segurar na Cruz. Contudo, quando alcançamos isso, o mais estreito de todos os caminhos, também nós estaremos capacitados para seguir a Cristo além e servir lá, como temos servidos aqui.

Assim, esse antigo símbolo representa a prova e o triunfo do fiel servo, e embora tenha sido substituído por outros símbolos de maiores elevações que sustentam um ideal e uma promessa maior, o princípio básico encerrado nele é tão válido hoje como sempre será.

Vemos claramente no Altar dos Sacrifícios a natureza nauseante do pecado e a necessidade de expiação e justificação.

Por meio do Mar Fundido nós fomos ensinados que devemos viver uma vida pura de santidade e consagração.

Da Sala Leste, nós aprendemos hoje como fazer uso apropriado de nossas oportunidades para cultivar o grão dourado do serviço altruísta e preparar o “pão vivo” que alimenta a alma, o Cristo interior.

E quando nós ascendemos os degraus da Justificação, Consagração e Auto-abnegação, alcançamos a Sala Oeste, que é o umbral da Libertação. Através dele, seremos conduzidos a reinos mais elevados, onde um maior desenvolvimento anímico poderá ser conseguido alcançar.

Embora esse antigo Templo não se encontre mais no lugar onde as hostes errantes levantaram seus acampamentos no longínquo passado, pode ser um fator muito mais poderoso para o crescimento anímico pelo Aspirante atual, do que o foi para os antigos israelitas, contanto que ele construa de acordo com o modelo indicado. Nem a falta de ouro para construí-lo pode afligir a alguém, agora, o verdadeiro Tabernáculo deve ser construído no céu; e “o céu está dentro de nós”. Para construir bem e verdadeiramente, de acordo com as regras do antigo ofício da Maçonaria Mística, o Aspirante deve aprender primeiramente a construir, dentro de si, o Altar com seu próprio sacrifício; então, deverá orar e vigiar, enquanto espera pacientemente que o fogo divino consuma a sua oferenda. Então ele deve se banhar com lágrimas de contrição até que tenha se lavado das manchas do pecado.

Enquanto isso, deve conservar a lâmpada cheia da divina orientação, para que possa discernir como, quando e onde servir; ele deve trabalhar duramente para ter abundância de “pão para apresentar”, e o incenso da aspiração e da oração devem estar sempre em seu coração, assim como em seus lábios. Então, Yom Kippur, o Grande Dia da Expiação, certamente o encontrará preparado para ir até seu Pai e aprender como melhor ajudar seus irmãos mais novos no Caminho da ascensão.

PARTE II

A INICIÇÃO CRISTÃ MÍSTICA


CAPÍTULO I – A ANUNCIAÇÃO E A IMACULADA CONCEPÇÃO

Muito é dito a respeito da Iniciação em certas classes do Mundo Ocidental. A Iniciação na Mente da maioria das pessoas, normalmente, parece estar associada ao ocultismo ensinado nas Religiões do distante Oriente; algo que é peculiar aos devotos do Budismo, Hinduísmo e aos sistemas semelhantes de fé, e que de modo algum tenha a ver com a Religião do Mundo Ocidental, particularmente a Religião Cristã.

Demonstramos no capítulo anterior, onde tratamos sobre os “Símbolos da Iniciação Antiga e Moderna”, que essa ideia é inteiramente gratuita e que o antigo Tabernáculo no Deserto retrata, em seu simbolismo, o caminho da progressão desde a ignorância infantil até o conhecimento super-humano. Assim como os Vedas[24] traziam luz aos devotos que adoravam, com fé e fervor, próximos das margens do Ganges no ensolarado Sul, também os Eddas[25] foram uma estrela-guia para os filhos da escarpada região do Norte, que procuravam a Luz da vida na antiga Islândia, onde os robustos Vikings conduziam seus navios nos mares gelados. “Arjuna”[26], que trava uma nobre luta no “Mahabharata”[27], ou “Grande Guerra”, constantemente sendo travada entre o “Eu superior” e o “Eu inferior”, não difere em nada do herói do mito da alma do Norte, “Siegfried”[28], que significa “Aquele que, através da vitória, alcança a paz”.

Ambos são representações do candidato que está se submetendo à Iniciação. E embora suas experiências, nessa grande aventura, variem em certos aspectos conhecidos pelas diferenças temperamentais entre os povos do norte e do sul[29], e fornecidas pelas respectivas escolas às quais são referenciados para o crescimento anímico, as características principais são idênticas e o objetivo final, que é a iluminação, é o mesmo. As almas aspirantes caminharam para a Luz nos templos Persas brilhantemente iluminados, onde o deus-sol em sua carruagem resplandecente era o símbolo da Luz, da mesma forma que sob a magnificência mística da iridescência derramada pela aurora boreal do Norte gelado. Há uma ampla evidência que pode ser demonstrada que a verdadeira Luz do conhecimento esotérico mais profundo sempre esteve presente em todas as épocas, mesmo na mais escura que chamamos trevas.

Raphael[30] utilizou de sua habilidade maravilhosa com o pincel para incorporá-lo em duas de suas grandes pinturas, “A Madona Sistina[31] e “O Casamento da Virgem”, as quais aconselharíamos o leitor interessado a examinar por si mesmo. Cópias dessas pinturas podem ser encontradas em quase todas as lojas de arte. No original, há uma tonalidade peculiar de névoa dourada por trás da Madona e do Menino que, embora excessivamente grosseira para alguém dotado de visão espiritual, é uma imitação bem próxima da cor básica do Primeiro Céu, tanto quanto possível fazê-lo com os pigmentos da Terra. Uma inspeção mais cuidadosa desse pano de fundo revelará o fato de que ele é composto por uma multitude do que costumamos chamar de cabeças e asas de “Anjos.

Essa é, novamente, uma literal representação pictórica dos fatos concernentes aos habitantes do Primeiro Céu, tanto quanto pode ser revelada, pois durante o processo de purgação, que ocorre nas regiões inferiores do Mundo do Desejo, as partes inferiores do corpo são, realmente, desintegradas de modo que somente a cabeça, que contém a inteligência humana, permanece quando ele entra no Primeiro Céu, fato esse que intriga a muitos que podem ali ver as almas. As asas, naturalmente, não são reais fora da pintura, mas ali foram colocadas para mostrar a habilidade em se mover com grande velocidade, o que é inerente a todos os seres nos Mundos invisíveis. O Papa está representado apontando para a Madonna e o Cristo Menino, e um exame mais acurado revelará que a mão, com a qual ele aponta, tem seis dedos. Não há nenhuma evidência histórica de que o Pontífice, realmente, tivesse tal deformidade, tampouco o fato pode ter sido acidental; portanto, os seis dedos na pintura devem ter sido pintados por parte do pintor.

Para compreender qual era o seu propósito examinemos o “Casamento da Virgem”, onde pode se observar uma anomalia semelhante. Naquela imagem, Maria e José estão representados juntos com o Cristo-Menino, e sob tais condições, evidencia que estavam às vésperas da partida para o Egito, e um Rabino estava unindo-os em matrimônio. O pé esquerdo de José é o principal destaque na imagem, e se contarmos seus dedos veremos que são seis. Em ambas as pinturas, os seis dedos da mão do Papa e os seis dedos do pé de José, Rafael quer nos mostrar que os dois possuíam um sexto sentido, faculdade que é despertada pela Iniciação. Por essa sutil senso, o pé de José era o guia durante a sua fuga para manter em segurança as coisas sagradas que haviam sido confiadas aos seus cuidados. O outro adquiriu um sexto sentido para ele que não pudesse ser um líder cego conduzindo outros cegos, mas que tivesse o “olho que vê”, necessário para indicar o Caminho, a Verdade e a Vida. E é um fato, embora desconhecido por muitos, que com uma ou duas exceções em que o poder político foi o suficientemente forte para corromper o Colegiado dos Cardeais, todos aqueles que se sentaram no chamado trono de Pedro tinham a visão espiritual, em maior ou menor grau.

Vimos nos artigos sobre “Símbolos de Iniciação Antiga e Moderna”, que precedeu o presente artigo, que o Templo de Mistérios Atlante conhecido como Tabernáculo no Deserto era uma escola de crescimento anímico, e não deve surpreender-nos saber que os quatro Evangelhos narrados sobre a vida do Cristo são também fórmulas de Iniciação, revelando um outro e posterior Caminho para o poder. Nos antigos Mistérios Egípcios, Hórus foi o primeiro exemplo a quem o aspirante se esforçou por imitar, e é significativo que no Ritual de Iniciação, em voga naqueles dias, e que agora conhecemos como o “Livro dos Mortos”, o aspirante à Iniciação sempre dirigiu a ele como Hórus fulano de tal.

Seguindo o mesmo método atualmente podemos nos dirigir apropriadamente àqueles que seguem o Caminho da Iniciação Cristã, como Cristo fulano de tal, pois, de fato todos os que trilham esse Caminho são realmente Cristos em formação. Cada um, por sua vez, terá que alcançar as diferentes estações da Via Dolorosa, ou Caminho da Angústia profunda e da Tristeza, que o conduzirá ao Calvário, e experimentará no seu próprio corpo as angústias ou agonias e as dores sofridas pelo Herói dos Evangelhos. A Iniciação é um processo cósmico de iluminação e evolução do poder; portanto, as experiências de todos são semelhantes nas principais características.

A forma de uma Iniciação Cristã Mística difere radicalmente do método Rosacruz, que visa trazer o candidato à compaixão por meio do conhecimento e, para isso, procura cultivar nele as faculdades latentes da visão e da audição espiritual desde o início de sua peregrinação como um Aspirante a vida superior, lhe ensinando a conhecer os mistérios ocultos do ser e a perceber, intelectualmente, a unidade de cada um com todos, de modo que, finalmente, por meio desse conhecimento, haja despertado internamente o sentimento que o faz perceber, verdadeiramente, sua ligação com tudo o que vive e se move, e isso o coloca em perfeita e completa sintonia com o Infinito, tornando-o um verdadeiro auxiliar e trabalhador no divino reino da evolução.

A meta alcançada por meio da Iniciação Cristã Mística é a mesma, porém o método, como mencionado acima, é inteiramente diferente. Em primeiro lugar, o candidato geralmente está inconsciente do fato de que está tentando atingir algum objetivo definido, pelo menos durante os primeiros estágios de seus esforços, e há nessa nobre Escola de Iniciação tão somente um Mestre, o Cristo, que está sempre diante da visão espiritual do candidato como o Ideal e a Meta de todo o seu empenho. O mundo ocidental, infelizmente, se tornou tão enredado na intelectualidade que seus Aspirantes somente iniciam a Caminhada quando sua razão foi satisfeita; e, infelizmente, é apenas o desejo por mais conhecimento que traz a maioria dos Estudantes para a Escola Rosacruz. É uma tarefa árdua cultivar neles a compaixão, que deve ser mesclada com o seu conhecimento e ser o fator determinante no uso dele, antes que estejam habilitados para entrar no Reino de Cristo. Contudo, aqueles que são atraídos para o Caminho Místico Cristão não sentem nenhuma dificuldade desta natureza. Eles têm dentro de si um amor abrangente que os impulsiona e que, finalmente, gera neles um conhecimento que o autor acredita ser muito superior ao obtido por qualquer outro método. Aquele que segue o Caminho do desenvolvimento intelectual tende a menosprezar, arrogantemente, o outro cujo temperamento o impele a um Caminho Místico.

Tal atitude mental não prejudica somente o desenvolvimento espiritual de quem a coloca em prática, mas é totalmente gratuita, como pode ser vista nas obras de Jacob Boehme[32], Thomas de Kempis[33] e muitos outros que seguiram o Caminho Místico. Quanto mais conhecimento nós possuirmos, maior a condenação nós mereceremos se fizermos mal uso dele. Todavia, o amor, que é o princípio básico na vida do Místico Cristão, nunca poderá nos levar à condenação ou conflitar com os propósitos de Deus. É infinitamente melhor ser capaz de sentir emoções nobres, do que ter o intelecto tão aguçado e hábil para definir todas as emoções. Tecer algo sobre a constituição e evolução do átomo, seguramente, não promoverá o crescimento anímico tanto quanto a humilde ajuda direcionada ao próximo.

Há nove degraus definidos na Iniciação Cristã Mística, começando com o Batismo, que é introdutório. A Anunciação e a Imaculada Concepção precedem como temas de curso por razões que serão dadas posteriormente. Tendo preparado nossas Mentes pelas considerações anteriores, agora estamos prontos para considerar cada estágio separadamente, nesse glorioso processo de desenvolvimento espiritual.

A Anunciação e a Imaculada Concepção

O Místico Cristão, definitivamente, não é o produto de uma única vida, mas o florescimento de várias existências preparatórias, durante as quais ele cultivou aquela compaixão sublime que o faz sentir o sofrimento profundo – devido ao infortúnio, à aflição e a sensação de estar perdido – de todo mundo e evoca diante de sua visão espiritual o Ideal Crístico como o verdadeiro bálsamo de Gileade[34], ideal esse que é a única panaceia contra toda dor e tristeza humana. Semelhante alma recebe um especial cuidado das Hierarquias divinas que têm a seu cargo o nosso progresso ao longo do Caminho da Evolução e, quando chega o tempo para tal alma renascer naquela vida, na qual ele deve percorrer o caminho final para alcançar a meta e se tornar um Salvador de sua espécie, os Anjos estão observando bem de perto, esperando e cantando hosanas em regozijosa antecipação do grande evento.

Como sempre, semelhante atrai semelhante e, naturalmente, os pais são cuidadosamente selecionados para (e por) receber uma alma tão nobre, entre os “filhos e filhas do Rei”. Sob o ponto de vista mundano, eles podem estar nas piores condições; pode ser necessário embalar o bebê numa manjedoura, mas, nenhum presente é tão valioso como aquele que é recebido pelos pais de tão nobre alma. Entre as qualificações necessárias para ser pais de tal Ego está a necessidade da mãe ser uma “virgem” e o pai um “construtor”.

Diz-se na Bíblia que José era um carpinteiro, mas a palavra grega é “tekton”, que significa “construtor”. Na Maçonaria Mística, Deus é chamado de O Grande Arquiteto. Arche é uma palavra grega que significa substância primordial e, um tekton é um construtor. Assim, Deus é o Grande Mestre Construtor que a partir da substância primordial moldou o mundo como um Campo de Evolução para vários graus de seres. Ele usa no Seu universo muitos tektons ou construtores, de vários graus. Todo aquele que segue a Senda do desenvolvimento espiritual, esforçando-se por trabalhar construtivamente com as leis da natureza, como um servo da humanidade, é um tekton ou um construtor no que se refere a ter as qualificações necessárias para ajudar a dar à luz a uma grande alma. Desse modo, quando se diz que Jesus era um carpinteiro e filho de um carpinteiro, entendemos que ambos eram tektons ou construtores ao longo de linhas cósmicas.

A Imaculada Conceição, como todos os outros mistérios sublimes, tem sido lançada na vala da materialidade e, sendo de tal sublime espiritualidade, talvez sofra mais por esse rude tratamento do que qualquer outro dos ensinamentos espirituais. Talvez tenha sofrido mais com as explicações desajeitadas dos ignorantes defensores, do que pela jocosidade e zombaria dos cínicos.

A doutrina da Imaculada Conceição, como popularmente é conhecida, diz que há dois mil anos atrás Deus, de uma forma milagrosa, fecundou uma certa Maria, que era virgem, e que como resultado ela deu à luz Jesus, um indivíduo que, em consequência, era o Filho de Deus, e nesse sentido diferente de todos os outros seres humanos. Há também, no conhecimento popular, a ideia de que esse acontecimento é único na história do mundo.

Particularmente, isso é a última falácia que serviu para distorcer a beleza espiritual da verdade relativa à Imaculada Conceição. De modo algum é o único caso nesse sentido. Toda grande alma que nasceu aqui nesse mundo para viver uma vida de uma santidade sublime, tal como exigiu para a Iniciação Cristã Mística, também encontrou acesso por meio de pais de imaculada virgindade, que não foram manchados pela paixão, durante a realização do ato gerador. Os seres humanos não colhem uvas dos abrolhos. É uma verdade axiomática que o semelhante atrai semelhante, e antes que alguém possa se tornar um Salvador, deverá ser puro e sem pecado. Ele, sendo puro, não poderá nascer de uma pessoa vil, terá de nascer de pais virgens.

No entanto, a virgindade a qual nos referimos não abrange uma condição meramente física. Não há virtude inerente em uma virgindade física, pois todos a possuem no início da vida, não importa quão vil seja sua disposição possa ser. A virgindade da mãe do Salvador é uma qualidade da alma, que permanece sem mácula, independentemente do ato físico da fecundação. Quando as pessoas efetuam o primeiro ato criador sem o objetivo de ter filhos, meramente para a gratificação de suas luxúrias e propensões animais, elas  perdem a única virgindade (física) que já possuíam; mas quando os futuros pais, unidos em espírito de oração, oferecendo seus corpos no Altar do Sacrifício com o propósito de fornecer a uma alma, que precisa renascer naquele momento, um Corpo Denso apropriado para obter um maior desenvolvimento espiritual, então a pureza deles devido a esse objetivo preserva as suas virgindades e atrai uma nobre alma para os seus corações e para o lar. Se uma criança será concebida em pecado ou de forma imaculada, dependerá da própria qualidade inerente da sua alma, pois, infalivelmente, isso a atrairá para pais de natureza semelhante à sua. Tornar-se filho de uma virgem pressupõe muita vivência anterior de espiritualidade para essa criança que assim nasceu.

O “nascimento místico” de um “construtor” é um evento cósmico de grande importância e, portanto, não é surpreendente que seja retratado nos céus, de ano para ano, mostrando um simbolismo gráfico no grande mundo ou no macrocosmo, o que finalmente se realizará no ser humano, o pequeno mundo ou o microcosmo. Todos nós estamos destinados a obter as experiências nas coisas que Jesus também obteve, incluindo a Imaculada Conceição, que é um pré-requisito para a vida dos santos e salvadores em seus mais variados graus. Compreendendo esse grande simbolismo cósmico, compreenderemos mais facilmente a sua aplicação no ser humano individual.

O Sol é “a luz do mundo” num sentido material. Quando no inverno ele atinge a maior declinação sul, no Solstício de Dezembro, as pessoas no hemisfério norte, onde nasceram todas as religiões atuais, estão mergulhadas na mais profunda escuridão e desprovidos de toda a força vital sustentadora emanada do Sol que, então, está morto no que diz respeito à sua influência sobre os seres humanos. Portanto, é necessário que uma nova luz brilhe na escuridão, que nasça um Sol da Bondade nessa mesma humanidade, pois, inevitavelmente, resultará o frio e a fome, se o Sol permanecesse nessa posição meridional, ocupada por ele no Solstício de Dezembro.

Na noite entre 24 e 25 de dezembro, quando o Sol começa a se elevar gradualmente em direção ao Equador da Terra, temos o Signo Zodiacal de Virgem, a imaculada Virgem celestial, no horizonte oriental em todas as latitudes ao norte (nas horas imediatamente anteriores à meia-noite). Na ciência da Astrologia, o que determina a forma ou o corpo do indivíduo no momento do seu nascimento é o Signo e o grau no horizonte oriental. Portanto, é dito que o Sol da Bondade nasceu da Virgem, a sublime Virgem celestial, que permanece tão pura, mesmo depois de dar à luz a seu Filho Solar. Por analogia, o Filho de Deus, que veio para salvar a humanidade, também deve nascer de uma imaculada virgem espiritual.

De tudo o que foi dito, é evidente que um longo período de preparação precede a entrada de um Místico Cristão na atual esfera da vida humana, embora ele normalmente, em sua consciência física, é totalmente alheio ao fato da grande aventura que o aguarda. Com toda a probabilidade, sua infância e juventude serão passadas na obscuridade, enquanto ele vive uma vida interior de uma profundidade inusitada, inconscientemente preparando-se para o Batismo, que é o primeiro dos nove passos desse método de realização.

CAPÍTULO II – O RITUAL MÍSTICO DO BATISMO

Vale frisar que quase todos os sistemas religiosos prescreviam abluções[35] prévias ao celebrar as funções religiosas e o culto realizado no antigo Templo de Mistérios Atlante, o Tabernáculo no Deserto, não foi exceção, como vimos nos artigos precedentes sobre “Símbolos da Iniciação Antiga e Moderna”. Após ter obtido a justificação pelo sacrifício no Altar de Bronze, o candidato se sentia compelido a se lavar no Lavabo da Consagração, o Mar Fundido, antes de ter a permissão para receber as instruções sobre os deveres de seu ministério no próprio santuário. E está em conformidade com essa regra que nós encontramos no Herói dos Evangelhos a caminho do Rio Jordão, onde Ele passou pelo ritual Místico do Batismo. Quando Ele emergiu, nós aprendemos que o Espírito desceu sobre Ele. Portanto, é óbvio que aqueles que seguem o Caminho de Iniciação do Místico Cristão também devem ser batizados de maneira semelhantes, antes de poderem receber o Espírito, que é para ser o seu verdadeiro líder através de todas as ações e processos que lhes tentarão ou os colocarão à prova.

Porém, o que constitui o Batismo é uma questão que tem suscitado argumentos de intensidade quase inacreditável. Alguns alegam que está correto e que basta uma aspersão com água, e outros insistem na imersão de todo o corpo. Muitos dizem que é suficiente levar uma criança à igreja e aspergi-la com água, apesar de seu protesto e pronto (!): ela se torna uma Cristã, uma herdeira do Céu; ao passo que, se infelizmente ela morrer antes desse rito sagrado, inevitavelmente deverá ir para o inferno. Outros defendem a posição mais lógica que o desejo de um indivíduo para a sua admissão na igreja é o fator principal e necessário para que o ritual seja eficaz e, portanto, aguardam até a idade adulta antes de realizar a cerimônia, o que requer uma imersão de todo o corpo na água. Mas, seja o ritual realizado na infância ou na vida adulta, parece estranho que a imersão momentânea ou apenas a aspersão com água teria o poder de salvar a alma; e quando examinamos a vida subsequente daqueles que tenham sido batizados, mesmo em idade adulta e com seu pleno consentimento e desejo, encontramos pouco ou nenhuma melhoria significativa na grande maioria deles. Portanto, parece evidente que esse não pode ser o ritual apropriado, porque o Espírito não desceu sobre eles. Consequentemente, devemos procurar uma outra explicação para o que constitui um verdadeiro ritual Místico do Batismo.

Conta-se a história de um rei Otomano que declarou guerra a uma nação vizinha, travou inúmeras batalhas contra ela, com diferentes níveis de sucesso, mas finalmente foi vencido e levado cativo para o palácio do vitorioso, onde foi obrigado a trabalhar na mais servil condição como um escravo. Depois de muitos anos, a fortuna o favoreceu e ele fugiu para um país distante onde, mediante muito trabalho árduo, ele adquiriu uma pequena propriedade, se casou e teve vários filhos, que cresceram ao seu redor. Finalmente, se viu em seu leito de morte com uma idade bem avançada e, em um esforço de dar o seu último suspiro, ele se levantou sobre o travesseiro e olhou em volta, mas não havia ali nenhum de seus filhos e de suas filhas. Ele não estava no lugar que havia considerado como o seu lar por tantos anos, mas em seu próprio palácio, aquele em que ele pensava ter deixado em sua juventude e ele estava tão jovem quanto naquele tempo. Lá ele se viu sentado em uma cadeira com uma bacia de água perto do seu queixo e um criado dedicado em lavar seus cabelos e sua barba. Tinha acabado de imergir seu rosto na água, quando começou a sonhar com o início da guerra, e uma vida inteira tinha sido vivida na terra dos sonhos e que durou poucos segundos, terminando tão logo retirou o rosto da água. Há milhares de outros casos para mostrar que fora do Mundo Físico o tempo é inexistente, e as ocorrências milenares são facilmente revistas em poucos instantes.

É também bem conhecido que quando as pessoas estão debaixo d’água e prestes a se afogar, toda a sua vida anterior é passada diante de seus olhos com uma clareza cristalina; mesmo os mínimos detalhes, que foram esquecidos durante o passar dos anos, se destacam nitidamente. Portanto, deve haver e há um repertório de eventos que podem ser contatados sob certas condições, quando os sentidos estão acalmados e nós estamos sonolentos ou à beira da morte.

Para tornar mais claro o que foi dito acima, deve ser compreendido e tido em conta que o ser humano é um ser composto, tendo outros veículos mais sutis que interpenetram o Corpo Denso e que, normalmente, se considera o indivíduo como um todo. Durante a morte e o sono, o Corpo Denso se torna inconsciente devido a uma completa separação entre ele e os veículos mais sutis, mas, essa separação é somente parcial durante o sono com sonhos e pouco antes de um afogamento. Essa condição capacita o Espírito impressionar os acontecimentos no cérebro, com maior ou menor exatidão e de acordo com as circunstâncias, particularmente, para aqueles incidentes que estão relacionados com ele próprio. À luz dessas coisas é que nós devemos compreender o que realmente se constitui o ritual do Batismo.

De acordo com a Teoria Nebular, o que agora é a Terra foi, outrora, uma névoa ígnea luminosa que, gradualmente, se esfriou em contato com o frio do espaço. Esse contato do calor com o frio gerou uma difusão líquida ou condensada, que se evaporava e que emergia do centro aquecido até se condensar pelo frio e caindo novamente como uma difusão líquida ou condensada sobre o mundo aquecido. Assim, a superfície da Terra ficou sujeita a alternação entre liquefação e evaporação por muito tempo, até que finalmente ela se cristalizou em uma concha que cobriu inteiramente o centro ígneo. Essa concha de suave difusão líquida ou condensada em grande quantidade, naturalmente, gerou uma névoa que envolveu o Planeta como uma atmosfera, e esse foi o berço de tudo o que tem sua existência na Terra, o ser humano, o animal e a planta.

A Bíblia descreve essa condição no segundo capítulo de Gênesis, onde lemos que no tempo do primeiro ser humano uma névoa subia da terra, “pois ainda não havia chovido”. Evidentemente, que essa condição perdurou até o Dilúvio, quando a difusão líquida ou condensada, finalmente, baixou e deixou a atmosfera clara, de modo que o arco-íris foi visto pela primeira vez, a escuridão foi dissipada e a era de alternância, dia e noite, verão e inverno, começou.

Ao estudarmos a cosmologia e o relato pictórico da evolução encontrado nos Em um estudo da cosmologia e do relato pictórico da evolução fornecido no Eddas[36] do Norte, estimados entre os sábios da Escandinávia antes da Era Cristã, podemos aprender mais sobre esse período da história da Terra e da influência que tem sobre o nosso assunto. Do mesmo modo que ensinamos as nossas crianças, por meio de histórias e imagens, as verdades que eles não poderiam compreender intelectualmente, os líderes divinos da humanidade costumavam ensinar as almas infantis, que estavam a seus cuidados, utilizando ilustrações e alegorias e por meio dessas as preparavam para ensinamentos mais elevados e nobres a serem fornecidos em um futuro próximo. O grande poema épico que é chamado O Anel dos Nibelungos[37] nos conta a história do que estamos buscando, a origem cósmica do ritual do Batismo e porque ele é, necessariamente, o primeiro passo para o desenvolvimento espiritual do Místico Cristão.

A cosmogonia dos Eddas é semelhante à da Bíblia em alguns aspectos e em outros fornece indicações que comprovam a teoria de Laplace[38]. Transcrevemos a versão poética de Oehlenschlaeger[39]:

Na primitiva alvorada do Ser

Tudo era um abismo escuro,

Nem o céu nem a terra eram conhecidos.

A fria névoa e o gelo nocivo,

Ao norte do buraco escuro de Niflheim,

Nas montanhas se agrupavam;

Do polo radiante de Muspel,

Para o Sul o fogo dominava.

Então, depois que se passaram anos,

No meio do caos se encontraram

Um sopro quente, explosão de Niflheim,

O frio com calor fecundo.

Portanto, gotas cheias foram formadas,

Vindas pelo ar celeste

Da região de Muspel aquecido,

Produziu um grande Aurgelmer.

Assim, pela ação do calor e do frio Aurgelmer ou, como também é chamado, o Gigante Ymer, foi formado pela primeira vez. Esse foi o terreno com sementes férteis de onde surgiram as Hierarquias espirituais, os espíritos da Terra, do Ar e da Água e, finalmente, do ser humano. Ao mesmo tempo, o Pai Todo-Poderoso criou a Vaca Audumla, de cujas quatro tetas saíam quatro jatos de leite, que nutriam todos os seres. Esses são os quatro Éteres, um dos quais agora sustenta minerais, dois alimentam a planta, três o animal e todos os quatro alimentam o reino humano. Na Bíblia, eles são os quatro rios que saíam do Éden.

Finalmente, como postulado pela ciência, uma crosta deve ter sido formada pela contínua ebulição da água, e dessa crosta seca ascendia uma névoa, conforme ensinado no segundo capítulo do Gênesis. Gradualmente, a névoa deve ter esfriado e condensado, bloqueando a luz do Sol, de modo que teria sido impossível para a humanidade comum perceber o corpo, mesmo se tivesse a visão física, pois, sob tais condições ela não necessitava mais de olhos, do mesmo modo que uma toupeira que escava a terra não precisa. No entanto, não eram cegos, pois nos foi dito que “eles viram a Deus”; e como “coisas espirituais (e seres) são percebidos espiritualmente”, eles deviam ter sido dotados de visão espiritual. Nos Mundos espirituais, há um padrão de realidade diferente da que temos aqui, a qual é a base dos mitos.

Sob essas condições, lá não poderia haver conflito de interesses, e a humanidade se considerava como a filha de um grande Pai, enquanto vivia sob as águas da antiga Atlântida. O egoísmo surgiu no mundo somente quando a névoa se condensou e a humanidade teve que deixar a atmosfera aquosa da Atlântida. Quando os olhos dos seres humanos se abriram para que pudessem perceber o Mundo Físico e as coisas ali contidas, e quando cada um viu a si mesmo como separado e distinto de todos os outros, a consciência do “eu e meu, você e seu” tomou forma nas Mentes nascentes e um desejo egoísta e excessivo por bens materiais, chegando até ao ponto da crueldade, substituiu o sentimento de interesse comum e de compreensão mútua – bem como de solidariedade – em que cada um vivia sob as águas da antiga Atlântida. Desde aquela época, e até os dias de hoje, o egoísmo é considerado uma atitude legítima e mesmo em nossa alardeada civilização o altruísmo continua sendo um sonho utópico, longe de ser aceito no dia a dia das pessoas.

Tivesse a humanidade a permissão para trilhar o caminho do egoísmo sem obstruções ou impedimentos, é difícil prever onde isso tudo chegaria. Porém, sob a imutável Lei de Consequência, toda causa deve produzir um efeito correspondente. O princípio do sofrimento nasceu do pecado, com o propósito benevolente de nos guiar de volta ao caminho da virtude. Isso requer muito sofrimento e muitas vidas para cumprir com esse propósito, porém, finalmente quando nos tornamos seres humanos sujeitos à angustia profunda, à tristeza e ao arrependimento e nos familiarizarmos com ele, quando tivermos cultivado esta intensa e propensa compaixão, que sente toda a miséria do mundo, quando o Cristo tiver nascido dentro de nós, então chega ao Místico Cristão aquela ardente aspiração para buscar e salvar aqueles que ainda se encontram perdidos, lhes mostrando o caminho para eterna luz e paz.

Entretanto, para indicar o caminho, nós devemos conhecer tal caminho; sem uma verdadeira compreensão da causa da angústia profunda, tristeza ou do arrependimento não podemos ensinar os outros a obter a paz permanente. Nem pode essa compreensão da angústia profunda, tristeza ou do arrependimento, do pecado e da morte ser obtida por meio de livros, de palestras ou mesmo por meio de ensinamentos individuais de outra pessoa; pelo menos, uma impressão suficientemente intensa para preencher todo o ser do Aspirante não pode ser transmitida dessa forma. Somente o Batismo alcançará o propósito de uma forma adequada; por isso, o primeiro passo na vida de um Místico Cristão é o Batismo.

Contudo, quando dizemos Batismo, necessariamente, não estamos nos referindo ao Batismo físico, onde o candidato é aspergido ou imerso e onde ele faz certas promessas àquele que o batiza. O Batismo Místico pode ocorrer tanto em um deserto quanto facilmente em uma ilha, porque é um processo espiritual com o objetivo de atingir um propósito espiritual. Pode ocorrer a qualquer hora da noite ou do dia, no verão ou no inverno; assim, ele ocorre no momento em que o candidato sente, com suficiente intensidade, um intenso desejo, quase uma ansiedade, de conhecer a causa da angústia profunda, tristeza ou do arrependimento alheio e aliviá-la. Então, o Espírito é conduzido sob as águas da Atlântida, onde vê a condição primordial do amor fraternal e da afeição; onde percebe Deus como o grande Pai de Seus filhos, que estão ali envolvidos por Seu maravilhoso amor. E, pelo retorno consciente a esse Oceano de Amor, o candidato se torna tão completamente imbuído com o sentimento de natureza ou caráter semelhante, que o espírito de egoísmo é banido dele para sempre. É por causa dessa saturação com o Espírito Universal que ele, mais tarde, é capaz de dizer: “àquele que quer pleitear contigo, para tomar-te a túnica, deixa-lhe também a veste; e se alguém te obriga a andar uma milha, caminha com ele duas.[40]. Sentindo-se um com todos, o candidato nem mesmo considera o seu assassinato como maus-tratos, mas pode dizer: “Pai, perdoai-os[41]. Eles são idênticos a si mesmo, que sofrem com sua ação; ele é tanto o agressor quanto a vítima. Esse é o verdadeiro Batismo Espiritual do Místico Cristão, e qualquer outro batismo que não produza esse sentimento fraterno universal não é digno de ter esse nome.

CAPÍTULO III – A TENTAÇÃO

Frequentemente ouvimos queixas a respeito de Cristãos devotos sobre seus momentos de depressão. Às vezes, eles estão quase no sétimo céu de exaltação espiritual, todos veem a face de Cristo e sentem como se Ele os guiasse a cada passo. Então, de repente e sem motivo aparente, formam-se nuvens espessas ao redor, o Salvador oculta a Sua face e o mundo se obscurece por um tempo. Eles não conseguem trabalhar, não conseguem orar; o mundo ao redor fica sem graça e as portas do céu parecem fechada para eles, parecendo que a vida se tornou inútil, enquanto essa expressão espiritual persistir. É claro que a razão disso é que essas pessoas vivem em suas emoções e, segundo a imutável Lei da Alternância, o pêndulo está fadado tanto a oscilar para um lado quanto para o outro. Quanto mais brilhante é a luz, mais profunda é a sombra e quanto maior a exaltação, mais profunda é a depressão do espírito que a segue. Somente aqueles que controlam suas emoções pela fria razão escapam dos momentos de depressão, mas também nunca experimentam a bem-aventurança celestial da exaltação. E é essa efusão emocional de si mesmo que proveu, ao Místico Cristão, com a energia dinâmica para se projetar nos Mundos invisíveis, onde ele se torna um com o ideal espiritual que o acenou e despertou em sua alma o poder de se elevar, tal como o Sol construiu os olhos com os quais o percebemos. O passarinho que ainda não saiu do ninho sofre muitos tombos antes de aprender a usar suas asas com confiança e segurança, e o Aspirante no caminho do Misticismo Cristão pode se elevar ao próprio trono de Deus por muitas vezes e, então, pode cair no abismo profundo do desespero do inferno. Porém, algum dia ele vencerá o mundo, desafiará a Lei da Alternância e se elevará pelo poder do Espírito até ao Pai, livre das labutas da emoção e preenchido com a paz que excede todo o entendimento.

Mas esse é o final alcançado somente depois do Gólgota e do Batismo Místico. Esse último, o Batismo Místico já discutido no capítulo anterior. Aliás, isso é apenas o início da carreira ativa do Místico Cristão, na qual ele se torna profundamente impregnado com o fato extraordinário da unidade de toda a vida, e imbuído com um sentimento de fraternidade por todas as criaturas, em tal medida que, daqui em diante, ele não só enunciará como também praticará os princípios do Sermão da Montanha.

Mesmo que as experiências espirituais do Místico Cristão não o levem tão longe, ainda assim, seria a aventura mais maravilhosa do mundo, e a magnitude do evento está além das palavras e suas consequências, vagamente, imagináveis. A maioria dos Estudantes de filosofias superiores acreditam na fraternidade entre os seres humanos pela convicção mental de que todos nos originamos da mesma fonte, assim como os raios que emanam do Sol. Porém, há um abismo de profundidade e largura inconcebíveis entre essa fria concepção intelectual e a impregnação batismal do Místico Cristão, que sente isso em seu coração e em cada fibra de seu ser com uma tal intensidade que, realmente, exige muito esforço e empenho por parte dele; isso o preenche com um desejo terno e imediato, com um amor que anseia e que causa ou reflete uma angústia, emoção profunda ou um desejo como aquele expresso nas palavras do Cristo: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha recolhe os seus pintinhos debaixo das suas asas”[42], um amor  inquietante, ávido e angustiante, que não pede nada para si mesmo, somente o privilégio de nutrir, de proteger e de acalentar.

Se houvesse uma leve similaridade com um sentimento de fraternidade universal entre os seres humanos, nesses dias tenebrosos, que paraíso seria a Terra. Ao invés de nós, com uma espada na mão, lutarmos um contra o outro com o objetivo de  matar, com rivalidade e competição, ou de destruir a sua moral, de degradar na prisão, de aprisionar em um emprego, sob a pressão da necessidade, não deveríamos ser nem guerreiros e nem prisioneiros, mas trabalhar para ter um mundo feliz e satisfeito, vivendo em paz e harmonia, aprendendo as lições que nosso Pai Celestial nos deseja ensinar nessa condição material. E toda a miséria no mundo pode ser atribuída ao fato de que se cremos na Bíblia, nós acreditamos com  o nosso  intelecto e não com o nosso coração.

Quando nos elevamos através das águas do Batismo, o Dilúvio Atlante, para a Era do Arco-Íris das estações alternantes, nos tornamos presas das mudanças de emoções, que nos levam de um lado para outro no mar da vida. A fé “fria”, limitada pela razão e considerada pela maioria dos Cristãos professos, pode lhes proporcionar uma dose de paciência e equilíbrio mental que os sustenta diante das provações da vida, mas quando a maioria tiver obtido a FÉ VIVA do Místico Cristão que supera a razão porque SENTE com o CORAÇÃO, então a Era das Alternâncias passará, o Arco-Íris cairá com as nuvens e com o ar, que agora compõe a atmosfera, e haverá um novo céu de puro Éter, onde receberemos o Batismo do Espírito e “haverá paz” (Jerusalém).

Ainda estamos na Era do Arco-Íris, sujeitos à sua lei, então podemos perceber que como o “Batismo” do Místico Cristão ocorre num momento de exaltação espiritual, esse deve ser necessariamente seguido por uma reação. A enorme magnitude da revelação o sobrepõe, e ele não pode percebê-la ou contê-la em seu veículo carnal, então, ele foge frequentemente de lugares onde há pessoas e se refugia na solidão, alegoricamente representada como um deserto. Ele fica tão arrebatado em sua sublime descoberta que, durante o tempo em que está em seu êxtase, ele vê o Tear da Vida, em que são construídos todos os corpos de todos os que vivem, do menor ao maior, do rato e do ser humano, do caçador e de sua presa, do guerreiro e de sua vítima. Mas, para ele, eles não estão separados e à parte, pois, também contempla o único divino halo dourado da luz da vida “que atravessa tudo e que a todos une”[43]. Mais ainda, ele ouve em cada um a nota-chave flamejante soando suas aspirações e expressando suas esperanças e seus temores, e ele percebe esse som composto de cores cromáticas como uma canção ou hino de louvor ou alegria mundial de Deus que se fez carne. A princípio, tudo isso está além de sua compreensão, a enorme magnitude da descoberta esconde isso dele, e não pode conceber o que vê e o que sente, pois não há palavras para descrevê-lo e nenhum conceito pode explicá-lo. Mas, aos poucos, se dá conta que está na própria Fonte da Vida, não mais contemplando-a, mas com o SENTIMENTO de cada pulsação dela, e com essa compreensão atinge o clímax de seu êxtase.

Tão arrebatado fica o Místico Cristão em sua belíssima aventura, que as necessidades físicas são completamente esquecidas, enquanto durar o êxtase e, portanto, é natural que a sensação de fome seja sua primeira necessidade consciente ao retornar ao estado normal de consciência de vigília e, naturalmente, também chega a voz da tentação: “manda que estas pedras se transformem em pães.”[44]

Poucas passagens das Sagradas Escrituras são mais sombrias do que os versículos iniciais do Evangelho Segundo São João: “No princípio era o Verbo. . .  e nada do que foi feito, foi feito sem Ele”. Um pequeno estudo da ciência do som nos familiariza com o fato de que som é vibração e que os diferentes sons moldarão a areia ou outros materiais leves em figuras de variadas formas. O Místico Cristão pode ignorar completamente esse fato, do ponto de vista científico, mas ele aprendeu na Fonte da Vida a cantar a Canção do Ser, que impulsiona de modo protetor e intimamente para uma criação tudo o que um mestre na arte musical deseja. Há uma nota-chave para a pedra mineral indigesta, porém, uma modificação irá transformá-la em ouro, com o que irá adquirir os meios de subsistência, e outra nota-chave peculiar ao reino vegetal a transformará em alimento, um fato conhecido por todos os ocultistas avançados que praticam legitimamente encantamentos para propósitos espirituais, porém, nunca por ganho material.

Mas o Místico Cristão, que acabou de emergir de seu Batismo na Fonte da Vida, imediatamente se contorce horrorizado com a sugestão de usar seu poder recém-descoberto para um propósito egoísta. Foi a própria qualidade altruística da alma que o conduziu às águas da consagração na Fonte da Vida, e ele preferiria sacrificar tudo, até a própria Vida, do que usar esse poder recém-descoberto para se poupar de um sofrimento doloroso. Ele não viu também a condição de profundo sofrimento por infortúnios, aflições e tristezas do mundo? E não sente isso em seu Grandioso Coração, com tal intensidade que a fome imediatamente desaparece e é esquecida? Ele pode, deseja e usa livremente esse maravilhoso poder para saciar os milhares que se reúnem para ouvi-lo, contudo, nunca para propósitos egoístas, pois, se assim o fizer, ele perturbaria o equilíbrio do mundo.

Entretanto, o Místico Cristão não raciocina assim. Conforme escrito acima, ele não tem nenhuma razão, pois, existe uma orientação muito mais segura, uma voz interior que sempre lhe fala, nos momentos em que se deve tomar uma decisão. “…Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.”[45]; – outro mistério. Não há nenhuma necessidade de partilhar o Pão terreno, quando se tem acesso à Fonte da Vida. Quanto mais nossos pensamentos estiverem centrados em Deus, menos procuraremos os chamados “prazeres da mesa”, e alimentando o nosso Corpo Denso com moderação e alimentos simples e selecionados, adquiriremos uma iluminação espiritual impossível àqueles que se deleitem a uma dieta excessiva de alimentos grosseiros que nutrem a natureza inferior. Alguns santos usaram o jejum e a flagelação como meio de crescimento da alma, mas esse é um método incorreto por razões explicadas em um artigo sobre “Jejum como um fator no crescimento anímico” publicado na Revista “Rays from the Rose Cross de dezembro de 1915”. Os Irmãos Maiores da humanidade, que compreendem a Lei e vivem de acordo com ela, utilizam os alimentos apenas em intervalos calculados durante o ano. A palavra de Deus é para eles um “pão vivo”. A mesma coisa é válida para o Místico Cristão e a tentação, ao invés de trabalhar para sua queda, o leva a alturas cada vez mais elevadas.

CAPÍTULO IV – A TRANSFIGURAÇÃO

Recordemos que pelos processos místicos do verdadeiro Batismo Espiritual, o Aspirante se torna tão completamente saturado com o Espírito Universal que, de fato, pelo sentimento e pela experiência, ele se torna um com tudo o que vive, o que se move e tem o seu ser, um com a pulsante Vida divina que surge em uma cadência rítmica, através do menor e do maior; e tendo captado a nota-chave da canção celestial, ele então é dotado de um poder de tremenda magnitude, que poderá ser usado para o bem ou para o mal. Devemos compreender e recordar que, embora a pólvora e a dinamite possam ser utilizada para fazer o bem na agricultura, quando usadas para explodir tocos de árvores que, de outra forma, exigiriam grande trabalho manual para serem extraídos, também podem ser usadas para fazer o mal, como na Grande Guerra Europeia[46]. Os poderes espirituais também podem ser usados ​​para o bem ou para o mal, dependendo do motivo e do caráter de quem os exerce. Entretanto, aquele que passou com êxito pelo ritual do Batismo e, assim, adquiriu o poder espiritual é imediatamente tentado para que possa decidir definitivamente se ele ficará do lado do bem ou do mal. Nesse ponto, ele se tornará um futuro “Parsifal”[47], um “Cristo”, um “Herodes”[48] ou um “Klingsor”[49], que combateu os Cavaleiros do Santo Graal com todos os poderes e recursos da Fraternidade das Trevas.

Há uma tendência na ciência materialista moderna de repudiar, como fábula, digna de atenção apenas entre as criaturas supersticiosas e as mulheres mais velhas, as ideias comumente aceitas até a Idade Média, de que comunidades espirituais, como a dos Cavaleiros do Graal já existiram, ou que existem seres como os “Irmãos das Trevas”. As sociedades ocultistas, na última metade do século[50], instruíram milhares de pessoas para o fato de que os Irmãos do Bem ainda estão em evidência, e podem ser encontrados por aqueles que os procuram da maneira apropriada. Agora, infelizmente, a tendência entre essa classe de pessoas é aceitar qualquer um em suas alegações infundadas como um Mestre ou um Adepto. Porém, mesmo entre essa classe existem poucos que levam a sério a existência dos Irmãos das Trevas, ou percebem um enorme mal que eles estão fazendo no mundo, e como eles são auxiliados e estimulados pela tendência geral da humanidade, para atender aos desejos da carne. Assim como as forças do bem, que são simbolizadas pelos servos do Santo Graal, que vivem e crescem pelo serviço altruísta, aumentando a luminosidade da reluzente Taça do Graal, assim também os Poderes do Mal, conhecidos como o Graal Negro, e representados na Bíblia como a corte de Herodes, se alimentam do orgulho, da sensualidade, voluptuosidade e paixão, personificados na figura de Salomé, que se glorifica no assassinato de João Batista e dos inocentes. Foi mostrado na lenda do Graal, personificada no “Parsifal” de Wagner, que quando a inspiração da Taça do Graal era negada aos Cavaleiros, da qual se alimentavam e que os impulsionavam a atos de maior amor e serviço, a coragem deles esmorecia e eles ficavam sem disposição para até se mover. Algo similar ocorre com os Irmãos do Graal Negro. A menos que sejam providos de palavras moralmente muito más, eles morrerão de inanição. Portanto, eles estão sempre ativos no mundo, causando discórdias e incitando os outros para o mal. E se essas atividades perniciosas não fossem neutralizadas, em grande parte, pelos Irmãos Maiores em seus Serviços da Meia-noite, em que eles se tornam ímãs para todos os pensamentos malignos do Mundo Ocidental e, depois, por meio da alquimia de amor sublime, transmutam todo aquele mal em bem, já teria ocorrido um cataclismo de uma magnitude muito maior do que a recente Guerra Mundial. Devido a essa atuação, o Gênio do Mal tem sido mantidos dentro dos limites, pelo menos até certa medida. Se a humanidade não estivesse tão inclinada para o mal, o êxito teria sido maior. Porém, é esperado que o despertar espiritual, iniciado pela guerra, resulte em uma mudança de escala e que forneça aos agentes construtores a vantagem, a maestria e o controle no caminho evolutivo.

É uma força maravilhosa que está centrada no Místico Cristão no momento do seu Batismo, devido ao processo descendente e de concentração em si mesmo do Espírito Universal, e quando ele recusa durante o período de tentação, a profaná-lo em proveito próprio ou poder para si mesmo, ele tem que, necessariamente aspirar por outra direção, pois está impelido por um estímulo interior irresistível que não permitirá que ele se acomode numa vida sem a disposição para até se mover e inativa de oração e meditação. O poder de Deus está sobre ele para que pregue as boas novas à humanidade para ajudar e curar. Sabemos que uma lareira que está cheia, queimando lenha, não pode deixar de aquecer o ambiente ao redor; do mesmo modo o Místico Cristão não pode deixar de ajudar a irradiar a compaixão divina que transborda de seu coração, não tendo dúvidas sobre a quem amar, a quem servir ou onde buscar a oportunidade para tal. Assim como o fogão cheio aceso irradia calor para todos os que estão dentro de sua esfera de radiação, da mesma forma o Místico Cristão sente o amor de Deus queimando em seu coração e o irradia continuamente para todos com quem se põe em contato. Assim como a fogão aquecido atrai para si com seu calor aconchegante aqueles que sofrem com o frio físico, também os raios calorosos do amor do Místico Cristão são um ímã para todos aqueles corações que estejam gelados pela crueldade do mundo, ou seja, pela desumanidade do ser humano para com o ser humano.

Se o fogão estivesse vazio, mas dotado da faculdade da fala, poderia pregar para sempre o evangelho caloroso àqueles que se sentem fisicamente frios, mas, mesmo a melhor oratória jamais satisfaria seu público. Quando se está cheio de conteúdo e irradiando calor, o sermão se torna desnecessário. Todos se aproximarão e ficarão satisfeitos. Da mesma forma, um sermão sobre fraternidade feito por alguém que não tenha se banhado na “Fonte da Vida” parecerá sem valor real, sem substância e insincero. O verdadeiro Místico não precisa pregar. Cada ato seu, mesmo com sua presença silenciosa, é mais poderoso do que todos os mais profundos discursos elaborados por doutores em filosofia.

Há uma história de São Francisco de Assis que, particularmente, ilustra esse fato, e que nós acreditamos que possa servir para ilustrar esse conceito, pois isso é extremamente importante. Conta-se que um dia São Francisco foi falar com um jovem monge, que lhe tinha muito apreço, em um mosteiro e lhe convidou: “Irmão, vamos descer até a vila e pregar a eles”. O jovem irmão, naturalmente, se encheu de grande regozijo e se sentiu honrado com a oportunidade de acompanhar um homem tão santo como São Francisco e, juntos, os dois começaram a caminhar em direção à vila, conversando sobre coisas espirituais e sobre a vida que conduz a Deus. Absorvidos nessa conversa, eles passaram pela vila, caminhando pelas ruas; às vezes paravam para dirigir uma palavra gentil a um ou outro que encontravam pelas ruas. Depois de dar uma volta pela vila, São Francisco tomou a direção da estrada que levava ao mosteiro quando, de repente, o jovem irmão o lembrou de sua intenção de pregar na vila e lhe perguntou se ele havia esquecido. A isso, São Francisco respondeu: “Meu filho, você não se deu conta de que quando estivávamos caminhando na vila pregamos às pessoas ao nosso redor? Em primeiro lugar, nossas vestes simples revelaram o fato de que somos devotados ao serviço de Deus e, assim que alguém nos via, seus pensamentos, naturalmente, se dirigiam para o céu. Tenha certeza de que todos os moradores nos observavam, prestaram atenção no modo como nos comportamos para ver até que ponto estaríamos de acordo com nosso ideal religioso. Eles ouviram nossas palavras para saber se eram sobre assuntos espirituais ou profanos. Observaram, também, nossos gestos e ponderaram nossas palavras de simpatia que vinham direto dos nossos corações e que repercutiam profundamente no deles. Pregamos um sermão mais poderoso do que se tivéssemos ido à uma praça do mercado, reunindo-os ao nosso redor e iniciando um longo e verborrágico discurso com uma exortação sobre a santidade”.

São Francisco era um Místico Cristão no mais profundo sentido da palavra e, tendo sido instruído internamente pelo espírito de Deus ele conhecia bem os mistérios da vida, assim como Jacob Boehme e outros santos homens que também foram instruídos. De certo modo, eles são mais sábios do que o mais sábio da escola intelectual, mas não é necessário para eles que exponham os grandes mistérios para cumprir sua missão e servir como setas no caminho para outros que, também, buscam a Deus. A grande simplicidade de suas palavras e de seus atos contêm em si o poder da convicção. Naturalmente, é claro, nem todos alcançam o mesmo desenvolvimento. Nem todos possuem os mesmos poderes, como nem todos os fogões têm dimensões idênticas e nem a mesma capacidade de aquecimento. Aqueles que seguem o caminho do Místico Cristão, do menor ao maior, experimentaram os poderes conferidos pelo Batismo, de acordo com a sua capacidade. Eles foram tentados a usar esses poderes para o mal, para proveito pessoal, e tendo superado o desejo pelas coisas mundanas, eles se voltaram para o caminho do ministério e do serviço, como Cristo fez, e suas vidas são marcadas não tanto pelo que disseram, mas pelo que eles fizeram. O verdadeiro Místico Cristão é facilmente distinguido. Ele jamais ocupa os seis dias da semana para se preparar para uma grande alocução para emocionar seus ouvintes no domingo, mas gasta, igualmente, todos os dias num humilde esforço de cumprir a vontade do Mestre, independentemente dos aplausos externos. Assim, inconscientemente, ele trabalha sempre em direção ao grande clímax que, na história dos mais nobres de todos os que percorreram esse caminho, é conhecido como “Transfiguração”.

A Transfiguração é um processo alquímico pelo qual o Corpo Denso, formado pela química dos processos fisiológicos, se converte na pedra viva, tal como é mencionado na Bíblia. Os alquimistas medievais, que buscavam a Pedra Filosofal, não estavam preocupados na transmutação de tais impurezas em ouro significativo, mas visavam o objetivo maior conforme narramos acima.

A umidade concentrada nas nuvens cai na terra em forma de chuva, quando suficientemente condensada e é novamente evaporada pelo calor do Sol em novas nuvens. Essa é a fórmula cósmica original.

O espírito também se condensa em matéria e se torna mineral, mas, embora seja cristalizado numa forma tão dura quanto a pedra, a vida ainda permanece, e pela alquimia da natureza, trabalhando por meio de outra corrente de vida, os constituintes minerais densos do solo são transmutados numa estrutura mais flexível no vegetal, que serve como alimento ao animal e ao ser humano. Essas substâncias se tornam corpos sencientes pela alquimia da assimilação. Quando notamos as mudanças na estrutura do corpo humano, evidenciadas pela comparação dos sãs[51], chineses, indianos, latinos, celtas e anglo-saxões, evidentemente está claro que o Corpo Denso do ser humano está, atualmente, passando por um processo de refinamento com a erradicação das substâncias mais rudimentares e grosseiras. Com o tempo, pela evolução, esse processo de espiritualização tornará nosso corpo radiante e transparente pela Luz que brilhará internamente, radiante como o rosto de Moisés, como o corpo de Buda e o de Cristo na Transfiguração. Presentemente, a luz do Espírito interno residente está efetivamente obscurecida por nosso Corpo Denso, mas podemos ter esperanças advindas da ciência da química. Não há nada na terra tão raro e precioso quanto o rádio[52], o extrato luminoso do denso mineral negro chamado pechblenda[53]; e nada há mais precioso e tão raro como o extrato do corpo humano, o Cristo radiante. Presentemente, estamos trabalhando para desenvolver o Cristo interno, mas quando o Cristo dentro de nós estiver plenamente desenvolvido, Ele brilhará através do corpo transparente como a Luz do Mundo.

É um fato anatômico, comumente conhecido, que a medula espinhal está dividida em três seções, através das quais os nervos motor, sensorial e simpático são controlados. Astrologicamente, são regidos por Marte, Mercúrio e a Lua, respectivamente, que são Hierarquias divinas que desempenham papel importante na evolução humana através dos sistemas nervosos citados. Entre os antigos alquimistas, esses eram designados pelos três elementos alquímicos: sal, enxofre e mercúrio. Entre eles, e acima deles, está colocado o Fogo Espiritual espinhal de Netuno. Ele ascende na coluna serpentina através da medula espinhal até os ventrículos do cérebro. Na grande maioria da humanidade, o Fogo Espiritual ainda é extremamente fraco. Porém, quando ocorre um despertar espiritual em alguém é como uma conversão genuína, ou melhor ainda, pelo Batismo do Místico Cristão, como uma queda constante e  intensa do Espírito vindo dos céus, que é um fato real, intensifica o Fogo Espiritual espinhal numa extensão quase inacreditável e, imediatamente, inicia um processo de regeneração, em que as substâncias grosseiras do Tríplice Corpo do ser humano são gradualmente eliminadas, tornando os veículos mais permeáveis ​​e prontamente adaptáveis aos impulsos espirituais. Quanto mais desenvolvido o processo, mais eficientes eles se tornam na “vinha do Mestre”.

O despertar espiritual que inicia esse processo de regeneração no Místico Cristão, que se purifica pela oração e pelo serviço, evidentemente, chega também para aqueles que buscam Deus por meio do conhecimento e do serviço, mas atua de forma diferente, o que é observado pelo investigador espiritual. No Místico Cristão, o Fogo Espiritual espinhal regenerador está concentrado, principalmente, no segmento lunar da medula espinhal, que governa os nervos simpáticos sob a regência de Jeová. Portanto, seu crescimento espiritual é alcançado pela fé, tão simples, infantil e inquestionável como nos dias da primitiva Atlântida, quando os seres humanos ainda não tinham Mentes. Assim, ele atrai a grande Luz da Deidade branca refletida por meio de Jeová, o Espírito Santo, e adquire toda a sabedoria do mundo, sem necessidade de trabalhar por ela intelectualmente. Isso, gradualmente, transmuta seu corpo na branca Pedra Filosofal, a Alma Diamante.

Por outro lado, aqueles cujas Mentes são fortes e insistentes em saber a razão do porquê de cada sentença e dogma, o Fogo Espinhal da regeneração atuará sobre os segmentos do vermelho Marte e do incolor Mercúrio, buscando infundir o desejo com a razão para purificar a antiga paixão primordial, para que se torne casta como a rosa e, assim, transmuta o corpo na Alma Rubi, a vermelha Pedra Filosofal, provada pelo Fogo, purificada, uma individualidade criativa em desenvolvimento.

Todos os que estão buscando o Caminho, seja pelo caminho do ocultista ou pelo do misticismo, estão tecendo o “Dourado Manto Nupcial” por esse trabalho por dentro e por fora. Em alguns, o ouro é extremamente pálido e em outros é profundamente vermelho. Mas, finalmente, quando o processo da Transfiguração tiver sido concluído, ou melhor, quando estiver próximo a isso, os extremos se fundirão e os corpos transfigurados terão uma cor equilibrada, pois o ocultista deve aprender a lição com profunda devoção, e o Místico Cristão deve aprender como adquirir conhecimento por seus próprios esforços, sem a necessidade de recorrer à fonte universal de toda a sabedoria.

Essa perspectiva nos fornece uma visão mais profunda da Transfiguração relatada nos Evangelhos. Devemos nos lembrar claramente que os veículos de Jesus foram transfigurados, temporariamente, pelo residente Espírito de Cristo. Mas, mesmo considerando a enorme potencialidade do Espírito de Cristo em efetuar a Transfiguração, é evidente que Jesus devia ser de um sublime caráter, sem igual. A Transfiguração como é vista na Memória da Natureza revela o Seu corpo com uma brancura deslumbrante, assim evidenciando a sua comunhão com o Pai, o Espírito Universal. Há uma grande diversidade em como tais resultados atualmente são alcançados, porém, no reino de Cristo, essas diferenças desaparecerão gradualmente, e uma cor uniforme, indicando tanto o conhecimento como a devoção, será alcançada por todos. Essa cor corresponderá à cor rosa, vista pelos ocultistas como o Sol Espiritual, o veículo do Pai. Quando isso for alcançado, a Transfiguração da humanidade estará completa. Então, seremos um com nosso Pai, e Seu reino terá chegado.

CAPÍTULO V – A ÚLTIMA CEIA E O LAVAPÉS

Lemos nos Evangelhos, que relatam a história da Iniciação Cristã Mística, como na noite quando Cristo compartilhou da experiência na Última Ceia com Seus Discípulos, foi mostrando que seu ministério estava terminando naquele momento, e como Ele se levantou da mesa, se cingiu com uma toalha e, em seguida, despejou água numa bacia e começou a lavar os pés de Seus Discípulos, um ato do mais humilde serviço, mas, motivado por uma importante consideração oculta.

Quando ascendemos na escala da evolução, comparativamente, poucos percebem que fazemos isso pisando, ferindo e até destruindo os corpos de nossos irmãos e imãs mais fracos, consciente ou inconscientemente, esmagando-os e usando-os como degraus para atingir nossos próprios objetivos. Essa afirmação é válida para todos os Reinos da natureza. Quando uma onda de vida é conduzida ao nadir da involução e encrustada na forma mineral, é imediatamente aproveitada por outra onda de vida ligeiramente superior, que recebe o desintegrante cristal mineral, adequando-o a seus próprios objetivos como cristaloide e assimila-o como parte de uma forma vegetal. Se não houvesse minerais desintegrados que pudessem ser aproveitados e transformados, a vida vegetal não seria possível. Da mesma maneira, as formas dos vegetais são absorvidas por várias classes de animais, quando são devoradas e trituradas até virar uma pasta e servidas de nutrição para esse reino superior. Se não houvesse plantas, os animais não existiriam e o mesmo princípio é válido na evolução espiritual, pois se não houvesse aspirantes no degrau mais baixo da escada do conhecimento em busca de instrução, não haveria necessidade de um professor. Todavia, existe uma diferença importantíssima. O professor cresce ao doar aos seus alunos e servindo-os. Ascende, dos ombros deles, um degrau mais alto na escada do conhecimento. Ele ascende elevando os demais, no entanto, tem uma dívida de gratidão para com eles, que é simbolicamente reconhecida e extinta com o Lavapés – um ato de serviço humilde com aqueles que o serviram.

Quando percebemos que a natureza, que é a expressão de Deus, está continuamente se esforçando ao máximo para criar e produzir, também devemos compreender que quem mate alguma coisa, mesmo que seja tão pequena e aparentemente insignificante, está frustrando e se opondo ao propósito de Deus. Isso se aplica particularmente ao Aspirante à vida superior e, para tanto, o Cristo exortou os Seus Discípulos a “serem prudentes como as serpentes, mas sem malícia como as pombas”[54]. Porém, não importa o quão sério e intenso é o nosso desejo de seguir o preceito de não ferir, não machucar ou não destruir, as nossas tendências e necessidades relacionadas com a constituição dos nossos Corpos e veículos nos obrigam a matar em determinados momentos de nossas vidas, e não são somente nos grandes feitos que, constantemente, cometemos assassinatos. Era comparativamente fácil para a alma que busca o desenvolvimento espiritual, simbolizada por Parsifal, quebrar o arco com o qual ele havia atirado uma flecha no cisne dos cavaleiros do Graal, quando lhe explicaram do erro que ele havia cometido. A partir daquele momento, Parsifal estava comprometido com uma vida sem ferir, machucar ou destruir, no que diz respeito aos grandes feitos. Todos os Aspirantes sinceros concordam piamente com ele nesse quesito, uma vez que tenham compreendido quão subversiva é, para o crescimento da alma, essa prática de compartilhar alimentos que requerem a morte de um animal.

Contudo, mesmo a pessoa mais nobre e gentil entre a humanidade está, em cada respiração, envenenando aqueles ao seu redor e, que por sua vez, está sendo envenenada por eles, uma vez que todos exalam o dióxido de carbono e, por isso, somos uma ameaça uns aos outros. Não se trata de uma ideia improvável, porém, é um perigo real que se tornará muito mais manifesto no decorrer do tempo, quando a humanidade se tornar mais sensível. Em um submarino desativado ou sob condições similares, onde várias pessoas estão juntas, o dióxido de carbono por elas exalado rapidamente torna a atmosfera incapaz de sustentar a vida. Há uma história de uma rebelião indiana, em que vários prisioneiros ingleses foram amontoados numa sala onde havia apenas uma pequena abertura para entrada de ar. Rapidamente o oxigênio se esgotou e os pobres prisioneiros começaram a lutar entre si como animais na tentativa de conseguir um lugar próximo àquela entrada de ar, e lutaram até que quase todos fossem exterminados pela luta e asfixia.

O mesmo princípio é demonstrado no antigo Templo de Mistérios Atlante, o Tabernáculo no Deserto, onde encontramos um odor nauseante e uma fumaça sufocante subindo do Altar dos Sacrifícios, onde os corpos carregados de veneno das vítimas involuntariamente sacrificadas para pagar os pecados foram consumidos, e onde a luz brilhava fracamente através da fumaça envolvente. Isso nós podemos contrastar com a luz clara e brilhante emanada do Candelabro de Sete Braços, alimentado com o puro azeite extraído a partir da planta casta e onde o incenso, simbolizado pelo serviço voluntário de sacerdotes devotados, elevava-se ao céu como um suave aroma. Como já dito em outras ocasiões, isso era agradável à Divindade, enquanto o sangue das vítimas relutantes, os bovinos e os caprinos, eram uma fonte de dor e pesar para Deus, que se deleita mais com o sacrifício da oração, que auxilia o devoto e a ninguém prejudica.

Tem sido explicitamente declarado sobre o fato de alguns dos santos exalarem um suave odor e, como muitas vezes tivemos a oportunidade de dizer, essa não é uma mera história fantasiosa – é um fato oculto. A grande maioria da humanidade inala, durante toda a vida aqui, o oxigênio vitalizante contido na atmosfera circundante. A cada expiração exalamos uma carga de dióxido de carbono que é um veneno mortal e que, certamente e com o tempo, contaminaria todo o ar, se a planta pura e casta não inalasse esse veneno, usando parte dele para construir corpos que, algumas vezes, permanecem por séculos ou até milênios, como exemplificado nas sequoias da Califórnia, devolvendo-nos o restante em forma do oxigênio puro que necessitamos para a nossa vida aqui. Esses corpos carboníferos das plantas, por processos contínuos da natureza, se tornaram mineralizados no passado e se transformaram nas pedras, ao invés de se desintegrarem. Hoje nós os encontramos como carvão, a Pedra Filosofal perecível elaborada por meios naturais no laboratório da natureza. Mas, a Pedra Filosofal também pode ser construída artificialmente pelo ser humano a partir do seu próprio corpo. Isso deve ser compreendido definitivamente: a Pedra Filosofal não é elaborada num laboratório químico externo, mas que o próprio corpo é o laboratório do Espírito, que contém todos os elementos necessários para produzir esse Elixir da Vida, e que a Pedra Filosofal não está fora do corpo, mas ele é o próprio alquimista que se torna a Pedra Filosofal. O sal, o enxofre e o mercúrio, emblematicamente contidos nos três segmentos da coluna espinhal e que controlam os nervos simpático, motor e sensorial são acionados pelo Fogo Espiritual Netuniano espinhal, e constituem os elementos essenciais no processo alquímico.

Não há necessidade alguma de argumentos para demostrar que a indulgência com a sensualidade, a brutalidade e a bestialidade tornam o corpo não refinado em gostos, maneiras e linguagem. Por outro lado, a devoção à Deidade, uma atitude constante de prece, um sentimento de amor e compaixão por tudo que vive e se move, pensamentos de amor enviados a todos os seres e aqueles, inevitavelmente, recebidos em troca, invariavelmente todos têm o efeito de purificar e espiritualizar a nossa natureza. Referimo-nos a uma pessoa desse tipo como respirando ou irradiando amor, uma expressão que descreve muito mais próximo o fato do que a maioria das pessoas imaginam, pois, é uma questão real de se observar que a quantidade de veneno contida na respiração de um indivíduo está na proporção exata do mal existente na sua natureza, na sua vida interior e nos pensamentos que emite. A ioga hindu consiste em uma prática de encerrar o candidato a um certo grau de Iniciação em uma caverna que tem o tamanho não muito maior do que o corpo dele. Lá deverá viver por várias semanas respirando, repetidamente, o mesmo ar para demonstrar na prática que ele cessou de exalar o mortífero dióxido de carbono e que, assim, está começando a construir seu corpo. Então, esse não é um corpo da mesma natureza da planta, embora seja puro e casto, mas é um corpo celestial, como aquele de que São Paulo se refere na Segunda Epístola aos Coríntios, capítulo 5, um corpo que se torna imortal como um diamante ou uma pedra de rubi. Não é duro e inflexível como o mineral; é um diamante macio (ou rubi) e por cada ato executado na natureza, o Místico Cristão está construindo esse corpo, embora provavelmente ele esteja inconsciente disso por um longo tempo. Quando ele atinge esse grau de Santidade, não é necessário para ele executar o ritual do Lavapés, como o é para o aluno que ainda não construiu tal corpo e que o auxilia a se elevar, porém, terá sempre o sentimento de gratidão, simbolizado por aquele ato, para com aqueles a quem teve o privilégio de atrair para si como Discípulos e a quem pode dar o pão vivo que nutre até à imortalidade.

Os Estudantes perceberão que isso é parte do processo que culmina na Transfiguração, mas também devem perceber que na Iniciação Cristã Mística não há graus fixados e definidos. O candidato vê o Cristo como o autor e finalizador da sua fé, procurando imitá-Lo e seguir os Seus passos em todos os momentos de sua existência. Assim, os vários estágios que estamos considerando são alcançados por processos de crescimento da alma que, simultaneamente, o levam a aspectos mais elevados de todas essas etapas que agora estamos analisando. A esse respeito, a Iniciação Cristã Mística difere radicalmente dos processos em voga dos Rosacruzes, em que a compreensão por parte do candidato do que está para acontecer é considerada indispensável. Mas chega o momento em que o Místico Cristão precisa percorrer o caminho que tem pela frente, e é isso que constitui o Getsemani, que consideraremos no próximo capítulo.

CAPÍTULO VI – GETSEMANI, O HORTO DA AFLIÇÃO

Depois de terem cantado o hino, saíram para o monte das Oliveiras. Jesus disse-lhes: ‘Todos vós vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas se dispersarão. Mas, depois que Eu ressurgir, Eu vos precederei na Galileia’. Pedro lhe disse: ‘Ainda que todos se escandalizem, eu não o farei!’. Disse-lhe Jesus: ‘Em verdade te digo que hoje, esta noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás!’ Ele, porém, reafirmou com mais veemência: ‘Mesmo que tivesse de morrer contigo, não Te negarei’. E todos diziam o mesmo.

E foram a um lugar cujo nome é Getsemani. E Ele disse a seus discípulos: ‘Sentai-vos aqui enquanto vou orar’. E, levando consigo Pedro, Tiago e João, começou a apavorar-se e a angustiar-se. E disse-lhes: ‘A minha alma está triste até a morte. Permanecei aqui e vigiai’. E, indo um pouco adiante, caiu por terra, e orava para que, se possível, passasse d’Ele a hora. ‘Abba! Ó pai! Tudo é possível para Ti: afasta de mim este cálice; porém, não o que Eu quero, mas o que Tu queres’. Ao voltar, encontra-os dormindo e diz a Pedro: ‘Simão, estás dormindo? Não foste capaz de vigiar por uma hora? Vigiai e orai para que não entreis em tentação: pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca.’” (Mc 14:26-38).

Na narrativa do Evangelho citado acima, temos uma das mais tristes e difíceis experiências do Místico Cristão, delineada de forma espiritual. Durante toda a sua experiência anterior, ele vagueou cegamente, isto é, cego para o fato de que ele está no caminho, que se consistentemente seguido, o conduzirá a um objetivo definido, embora também se sinta intensamente prevenido ao menor suspiro de cada alma sofredora. Ele concentrou todos os seus esforços em aliviar a dor física, moral ou mental de cada alma sofredora. Ele serviu a cada alma sofredora com toda a sua capacidade e ensinou a cada uma o evangelho do amor: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo[55]; e ele foi sempre um exemplo vivo para todos por meio da sua prática. Por isso, atraiu para si um pequeno grupo de amigos, aos quais amou com a mais terna afeição. A eles também ensinou e serviu sem restrições, até mesmo no lava-pés. Entretanto, durante esse período de serviço, ele ficou tão exaurido com as aflições e tristezas profundas do mundo, que ele de fato se tornou um Homem das Aflições e Tristezas Profundas e familiarizado tanto com a aflição, mais do que qualquer outra pessoa.

Essa é uma experiência muito definida do Místico Cristão, e é o fator mais importante para intensificar o seu progresso espiritual. Enquanto nos sentirmos entediados quando as pessoas que vêm até nós e nos contam seus problemas, enquanto fugirmos delas e procurarmos escapar de ouvir suas histórias de tristezas, arrependimentos e angústias, estaremos bem longe do Caminho. Mesmo quando as ouvimos e nos disciplinamos para não demonstrar que estamos entediados, mesmo quando verbalizamos algumas poucas palavras simpáticas que chegam ao ouvido do sofredor, nada ganharemos em crescimento espiritual. É absolutamente essencial para o Místico Cristão que se torne tão sintonizado com os sofrimentos, as aflições e as tristezas do mundo, que sinta cada ataque agudo de dor ou ansiedade extrema como se fosse o seu próprio e o guarde dentro do seu coração.

Quando Parsifal estava no templo do Santo Graal e viu o sofrimento de Amfortas, o rei do Graal ferido com uma lança, ele permaneceu calado com pesar e compaixão por um longo tempo depois que a procissão saiu do salão, e, consequentemente, não podia responder às perguntas de Gurnemanz, e foi esse profundo sentimento de empatia que o levou a procurar a lança que deveria curar Amfortas. Foi a dor de Amfortas, sentida no coração de Parsifal pela compaixão, que o manteve firmemente equilibrado no caminho da virtude quando a tentação se tornou mais forte. Foi tão profunda a dor de compaixão que o impeliu, por muitos anos, a buscar pelo sofredor Rei do Graal e, finalmente, quando encontrou Amfortas, esse sentimento profundo e sincero o permitiu derramar o bálsamo curativo.

Assim como está demostrado no mito da alma de Parsifal, assim também ocorre na vida e na experiência do Místico Cristão: ele deve beber abundantemente do cálice da angústia e da tristeza profundas, ele deve bebê-lo até a última gota, de modo que pela dor cumulativa que ameaça explodir seu coração, ele possa se derramar sem reservas e sem restrições para curar e auxiliar o mundo. Então Getsemani, o Horto da Aflição, se torna um lugar familiar para ele, regado com as lágrimas nascidas das angústias, das tristezas e dos sofrimentos da humanidade.

Porém, durante todos os seus anos de autossacrifício, aquele pequeno grupo de amigos tinha sido seu consolo. Ele já havia aprendido a renunciar aos laços de sangue. “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? Aqueles que fazem a vontade de meu Pai[56]. Embora nenhum verdadeiro Cristão negligencie suas obrigações sociais ou negue o amor a seus familiares, os laços espirituais são, entretanto, os mais fortes, e por meio deles vem a coroa das aflições e, através da deserção de seus amigos espirituais ele aprende a beber até a última gota do cálice das angústias e das tristezas profundas. Ele não os culpa pela deserção deles, mas desculpa-os com as palavras: “O Espírito realmente está pronto, mas a carne é fraca[57], pois sabe, por experiência própria, como isso é verdade. Mas ele descobre que na suprema angústia e tristeza profundas eles não podem confortá-lo e, portanto, se volta para a única fonte de conforto, o Pai Celestial. Ele chegou ao ponto em que a resistência humana parece ter atingido o seu limite e ora para ser poupado de uma provação maior, porém, com uma confiança cega no Pai, ele se curva à Sua vontade, oferecendo-se inteiramente, sem reservas.

Esse é o momento da realização. Tendo bebido completamente do cálice da angústia e da tristeza profundas até a última gota e sendo abandonado por todos, ele experimenta o temporário temor terrível de estar absolutamente só, sendo essa uma das piores experiências, senão a mais terrível, que pode ocorrer na vida de um ser humano. O mundo todo parece envolvido em trevas. Ele sabe que, apesar de todo o bem que fez ou tentou fazer, os poderes das trevas estão tentando dizimá-lo. Ele sabe que a turba, que alguns dias antes o havia acenado com “Hosana”, amanhã estará pronta para gritar “Crucifica-o! Crucifica-o!”. Seus familiares e, agora, seus poucos amigos desapareceram e, também, estavam prontos a negá-lo.

Entretanto, quando nos encontramos no pináculo da aflição, é que estamos mais próximos do trono da graça. A agonia, a aflição, a tristeza profunda e o sofrimento acolhidos no peito do Místico Cristão são mais valiosos e preciosos do que todo o dinheiro do mundo, pois quando ele perde toda a companhia humana e se entrega sem reservas ao Pai, uma transmutação ocorrerá: a aflição se transforma em compaixão, o único poder no mundo capaz de fortalecer o ser humano que está prestes a subir até o Gólgota e dar sua vida pela humanidade, não como um sacrifício mortal, mas como um sacrifício vivente, elevando-se na medida em que eleva os outros.

CAPÍTULO VII – OS ESTIGMAS E A CRUCIFICAÇÃO

Como dissemos no começo dessa série de artigos, a Iniciação Cristã Mística difere radicalmente da Iniciação Ocultista empreendida por aqueles que se aproximam do Caminho pelo lado intelectual. No entanto, todos os caminhos convergem para o Getsemani, em que o candidato à Iniciação é saturado com as tristezas e angústias profundas que florescem em compaixão, um anseio ao amor materno que tem apenas um desejo absorvente, de verter a si mesmo para o alívio das tristezas e angústias profundas do mundo, para salvar e amparar todos os que estão fracos e sobrecarregados, para confortá-los e lhes fornecer um descanso. Nesse ponto, os olhos do Místico Cristão são abertos para uma plena compreensão da aflição, do arrependimento e da agonia do mundo e de sua missão como um Salvador, e o ocultista também encontra aqui o coração de amor, o único que pode fornecer o regozijo, o entusiasmo e zelo na busca. Pela união da Mente e do Coração, ambos estão prontos para a próxima etapa, que envolve o desenvolvimento dos estigmas, uma preparação necessária para a morte e ressurreição místicas. A narrativa do Evangelho relata a história dos estigmas nas seguintes palavras, desenrolando-se a cena de abertura no Horto do Getsemani:

“Tendo, pois, Judas recebido a escolta e, dos principais sacerdotes e dos fariseus, alguns guardas, chegou a este lugar com lanternas, tochas e armas. Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus, o Nazareno. Então, Jesus lhes disse: Sou eu… Então o capitão e os oficiais dos judeus pegaram Jesus, amarraram-no e levaram-no primeiro a Anás. . . O sumo sacerdote então perguntou a Jesus sobre Seus discípulos e sobre Sua doutrina. Jesus respondeu-lhe: eu falei abertamente ao mundo. . . Por que me interrogas? Interroga aos que me ouviram o que eu lhes disse; eis que eles sabem o que eu ensinei. . . Ora, Anás enviou-o manietado ao sumo sacerdote Caifás. . . Em seguida, eles conduziram Jesus, de Caifás para a sala do julgamento. . . Pilatos saiu então a ter com eles e perguntou: Que acusação trazeis contra este homem? Responderam-lhe eles: Se ele não fosse malfeitor, não o entregaríamos. . . Pilatos tornou a entrar no pretório, chamou a Jesus e disse-lhe: Tu és o rei dos judeus? Jesus respondeu-lhe: Tu dizes isso de ti mesmo ou outros te falaram de mim? . . . O meu reino não é deste mundo: se o meu reino fosse deste mundo, então os meus servos lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus; mas o Meu reino não é daqui.

Pilatos disse-lhe, então: Tu és rei, então? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei.

Para isso nasci e para isso vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Pilatos disse-lhe: O que é a verdade?… Então ele voltou aos judeus e disse-lhes: Não acho nele crime algum. É costume entre vós que eu vos solte alguém por ocasião da Páscoa; quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus? Então, gritaram todos, novamente: Não este, mas Barrabás! Ora, Barrabás era salteador.
Então, por isso, Pilatos tomou a Jesus e mandou açoitá-lo.
Os soldados, tendo tecido uma coroa de espinhos, lhe puseram na cabeça e vestiram-no com um manto de púrpura.
Chegavam-se a ele e diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas. Outra vez saiu Pilatos e lhes disse: Eis que eu vo-lo apresento, para que saibais que eu não acho nele crime algum.
Saiu, pois, Jesus trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Disse-lhes Pilatos: Eis o homem!
Ao verem-no, os principais sacerdotes e os seus guardas gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós outros e crucificai-o; porque eu não acho nele crime algum.

Responderam-lhe os judeus: Temos uma lei, e, de conformidade com a lei, ele deve morrer, porque a si mesmo se fez Filho de Deus… Pilatos procurava soltá-lo, mas os judeus clamavam: Se soltas a este, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei é contra César! . . . Eles, porém, clamavam: Fora! Fora! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César!
Então, ele o entregou a eles para ser crucificado. E eles pegaram Jesus e o levaram embora. Tomaram eles, pois, a Jesus; e ele próprio, carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, Gólgota em hebraico, onde o crucificaram e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio. E Pilatos escreveu um título e o colocou na cruz. E a escrita era: Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus.

Temos aqui o relato de como os estigmas ou as punções foram produzidas no Herói dos Evangelhos, embora as suas localizações não estejam descritas corretamente, e o processo é representado em uma forma narrativa, diferindo amplamente da maneira como essas coisas realmente acontecem. Mas, nós estamos diante de um dos Mistérios que devem permanecer selados para o profano, embora os fatos místicos subsequentes sejam tão claros como o é a luz do dia para aqueles que os conhecem. O corpo físico não é de forma alguma o ser humano real. Tangível, sólido e pulsante de vida como o vemos é, na verdade, a parte mais morta do ser humano, cristalizado dentro de uma matriz de veículos mais sutis que são invisíveis à nossa visão física atual. Se colocarmos uma bacia de água numa temperatura suficientemente baixa, a água logo se converte em gelo, e quando examinamos esse gelo, descobrimos que ele é feito de inúmeros pequenos cristais com variadas formas geométricas e linhas de demarcação. Existem linhas etéricas de forças que estavam presentes na água antes de congelar. Assim como a água congelou e modelou ao longo dessas linhas, nossos corpos físicos se congelaram e se solidificaram ao longo das linhas etéricas de força do nosso Corpo Vital invisível, que está, portanto, no curso normal da vida inextricavelmente ligado ao Corpo Denso, ele esteja desperto ou adormecido, até que a morte traga a dissolução dessa ligação. Mas como a Iniciação implica na libertação do ser humano verdadeiro do corpo do pecado e da morte para que ele possa deslizar para as esferas mais sutis à vontade e retornar ao corpo quando desejar, é óbvio que antes que isso possa ser alcançado, antes que o objetivo da Iniciação se realize, o vigoroso entrelaçamento entre o corpo físico e o veículo etérico, que é acentuadamente mais forte e rígido na humanidade comum, deve ser desfeito. Como essa união é mais forte nas palmas das mãos, nos arcos dos pés e na cabeça, as escolas ocultas concentram seus esforços para romper a conexão em tais pontos e produzir os estigmas invisivelmente.

O Místico Cristão necessita do conhecimento de como realizar o ato sem produzir uma manifestação exterior. Os estigmas se desenvolvem nele espontaneamente pela constante contemplação de Cristo e por seus esforços incessantes em imitá-Lo em todas os momentos. Esses estigmas exteriores não compreendem somente as chagas nas mãos, nos pés e aquela no lado do corpo, mas também as marcadas na cabeça pela coroa de espinhos e pela flagelação. O exemplo mais notável de estigmatização é aquele que ocorreu, em 1224, a São Francisco de Assis[58] na montanha de Alverno. Absorto na contemplação da Paixão, viu um Serafim se aproximar, resplandecente em fogo e tendo entre as asas a figura do Crucificado. São Francisco percebeu que nas mãos, nos pés e no lado ele recebeu externamente as marcas da crucificação. Essas marcas permaneceram durante os dois anos até a sua morte, e muitas testemunhas oculares dizem que as viram, incluindo o Papa Alexandre IV.

Os Dominicanos polemizaram o acontecimento, no entanto; fizeram a mesma reclamação de credibilidade em relação a Santa Catarina de Siena[59], cujos estigmas foram explicados, por ela mesma, como tendo se tornado invisíveis para os outros. Os Franciscanos apelaram a Sisto IV para que proibisse a apresentação em público dos estigmas de Santa Catarina de Siena. Ainda mais, o acontecimento dos estigmas consta no Gabinete do Breviário, e Benedito XIII concedeu aos Dominicanos uma Festa em homenagem à Santa Catarina de Siena para comemorar esse fato. Outras pessoas, especialmente mulheres, que têm Corpo Vital positivo, afirmam ter recebido alguns ou todos os estigmas. A última a ser canonizada pela Igreja Católica, por essa razão, foi Santa Veronica Giuliani[60] (1831). Há casos mais recentes como os de Anna Catherine Emmerich[61], que se tornou uma freira em Agnetenberg; A “Extática” Maria Von Mörl de Kaltern[62]; Anne-Louise Lateau[63], cujos estigmas sangravam todas as sextas-feiras; e a Sra. Girling da comunidade Newport Shaker[64].

No entanto, sejam os estigmas visíveis ou invisíveis, o efeito é o mesmo. As correntes espirituais geradas no Corpo Vital da pessoa são tão poderosas que é como se o corpo fosse flagelado por elas, especialmente, na região da cabeça, em que elas produzem uma sensação essencialmente similar à da coroa de espinhos. Com isso, finalmente desperta na pessoa uma plena compreensão de que o corpo físico é uma cruz que ela suporta, uma prisão e não o ser humano real. Isso o conduz ao próximo passo da sua Iniciação, a saber, a crucificação, que é experimentada pelo desenvolvimento de outros centros em suas mãos e em seus pés, pontos em que o Corpo Vital é, então, separado do Corpo Denso.

Consta, na narração retirada do Evangelho, que Pilatos colocou um letreiro na cruz de Cristo com as palavras: “Jesus Nazarenus Rex Judaeorum” e isso é traduzido, na versão mais utilizada da Bíblia, como “Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus”. Mas as iniciais INRI colocadas na cruz representam os nomes dos quatro elementos em hebraico: Iam, água; Nour, fogo; Ruach, espírito ou ar vital; e Iabeshah, terra. Essa é a chave oculta do mistério da crucificação, pois simboliza, em primeiro lugar, o sal, enxofre, mercúrio e azoth que foram usados ​​pelos antigos alquimistas para fazer a Pedra Filosofal, o solvente universal, o elixir-vitae. Os dois “Is” (Iam e Iabeshah) representam a água lunar salina: a) em um estado fluídico contendo sal em solução e b) o extrato coagulado dessa água, o “sal da terra”; em outras palavras, os veículos fluídicos mais sutis do ser humano e seu Corpo Denso, respectivamente. N (Nour) representa, em hebraico, o fogo e os elementos combustíveis, entre os principais o enxofre e o fósforo tão necessários à oxidação, sem os quais o sangue quente seria uma impossibilidade. O Ego sob essa condição não poderia funcionar no corpo, nem o pensamento poderia encontrar uma expressão material. R (Ruach) é o equivalente a espírito em hebraico, isto é, o Azoth, funcionando na Mente mercurial. Assim, as quatro letras -INRI – colocadas sobre a cruz de Cristo, de acordo com o relato na história do Evangelho, representam o ser humano composto, o Pensador, no ponto de seu desenvolvimento espiritual em que se prepara para a libertação da cruz de seu veículo denso.

Prosseguindo na mesma linha de elucidação, podemos notar que INRI é o símbolo do candidato crucificado pelas seguintes razões adicionais:

Iam é a palavra hebraica que significa água, o fluídico ou elemento lunar, que constitui a parte principal do corpo humano (cerca de 57 por cento). Essa palavra também é o símbolo dos veículos fluídicos mais sutis do desejo e da emoção.

Nour, a palavra hebraica que significa fogo, é uma representação simbólica do sangue vermelho quente, carregado do ferro marcial, do fogo e da energia de Marte, que é visto pelo ocultista circulando como um gás nas veias e artérias do corpo humano, infundindo-lhe a energia e o desejo para agir, para se esforçar, sem os quais não poderia haver progresso, nem material nem espiritual. Também representa o enxofre e o fósforo necessários para a manifestação material do pensamento, conforme já mencionado. Ruach, a palavra hebraica para indicar espírito ou ar vital é um excelente símbolo do Ego revestido pela Mente mercurial, que torna o ser humano em um indivíduo e o capacita a controlar e dirigir seus veículos corporais e suas atividades de uma maneira racional.

Iabeshah é a palavra hebraica para terra, representando a parte carnal sólida que constitui o corpo terrestre cruciforme, cristalizado dentro dos veículos mais sutis no nascimento e separado deles ao morrer, no curso normal das coisas, ou em um acontecimento extraordinário, pelo qual aprendemos a morrer misticamente e ascender às gloriosas esferas superiores, durante um curto período.

Esse estágio do desenvolvimento espiritual do Místico Cristão envolve, portanto, uma reversão da força criadora de seu curso normal para baixo, onde é desperdiçada na geração para satisfazer as paixões, para um curso ascendente através da medula espinhal tripartida, cujos três segmentos são regidos pela Lua, por Marte e Mercúrio, respectivamente, e onde o raio de Netuno acende o fogo espiritual espinhal regenerativo. Essa ascensão provoca o início da vibração do Corpo Pituitário[65] e da Glândula Pineal[66], abrindo a visão espiritual; e atingindo o seio frontal[67], ele inicia a coroa de espinhos latejando de dor, enquanto o vínculo com o corpo físico é queimado pelo Fogo Espiritual sagrado, que desperta esse centro de seu sono de letargia, para uma vida ritmicamente vibrante e pulsante que se estende para os outros centros na estrela estigmatizada de cinco pontas. Esses centros também são vitalizados, e todo o veículo se torna brilhante com uma glória dourada. Então, com um movimento final de torção, o grande vórtice do Corpo de Desejos, localizado no fígado, é liberado e a energia marciana contida nesse  veículo impulsiona para cima o veículo sideral (assim chamado, porque os estigmas na cabeça, nas mãos e nos pés estão localizados nas mesmas posições relativas entre si que as pontas de uma estrela de cinco pontas), que ascende através do crânio (Gólgota), enquanto o Cristão crucificado emite seu grito triunfante, “Consummatum est” (está consumado), e desliza para as esferas mais sutis ao encontro de Jesus, cuja vida ele imitou com pleno êxito e de quem, desde então, ele é inseparável. Ele é seu Mestre e seu guia para o Reino de Cristo, onde todos estaremos unidos em um só corpo para aprender e praticar a Religião do Pai, para quem o Reino acabará revertendo, para que Ele possa ser Tudo em Todos.

F I M


[1] N.T.: Mt 13:45-46

[2] N.T.: No Átrio do Tabernáculo

[3] N.T.: Sl 51:19

[4] N.T.: Sl 51:18

[5] N.T.: Ex 21:24

[6] N.T.: Nosso Esquema de Evolução começou no Período de Saturno e vai até o Período de Vulcano.

[7] N.T.: Lv 10:1

[8] N.T.: Esse exercício noturno é chamado de Exercício de Retrospecção.

[9] N.T.: Primeira e Segunda Dispensações, de um total de quatro.

[10] N.T.: Is 1:18

[11] N.T.: Mt 22:14

[12] N.T.: Aí alguém se aproximou dele e disse: “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?”. Respondeu: “Por que me perguntas sobre o que é bom? O Bom é um só. Mas se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos”. Ele perguntou-lhe: “Quais?”. Jesus respondeu: “Estes: Não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho; honrarás pai e mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Disse-lhe então o moço: “Tudo isso tenho guardado. Que me falta ainda?”. Jesus lhe respondeu: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me”. O moço, ouvindo essas palavras, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos bens. (Mt 19:16-30; Lc 18:18-30)

[13] N.T.: Ex 25:22

[14] N.t.: Lv 16-2

[15] N.T.: (1809-1894) – médico americano, professor, palestrante e autor

[16] N.T.: Capítulos 8, 9 e 10.

[17] N.T.: Hb 10:1: a sombra dos bens futuros.

[18] N.T.: Jo 13:36

[19] N.T.: Gn 4:2

[20] N.T.: Gn 4:25

[21] N.T.: Ism 1:19

[22] N.T.: Lc 1:34

[23] N.T.: Jo 14:6

[24] N.T.: Denominam-se Vedas as quatro obras, compostas em um idioma chamado Sânscrito védico, de onde se originou posteriormente o sânscrito clássico. Inicialmente, os Vedas eram transmitidos apenas de forma oral porque ainda hoje, em algumas regiões da Índia, como Kerala, há escolas védicas onde as crianças aprendem de cor o seu conteúdo.

[25] N.T.: Eddas, Edas ou simplesmente Edda, é o nome dado a duas coletâneas distintas de textos do séc. XIII, encontradas na Islândia, e que permitiram iniciar o estudo e a compilação das histórias referentes aos deuses e heróis da mitologia nórdica e germânica.

[26] N.T.: Arjuna (também conhecido como Parth, significando filho de Prita ou Cunti) é uma personagem da mitologia hindu, um dos heróis do épico Maabárata. Filho do deus Indra é um dos cinco heróis da epopeia hindu.

[27] N.T.: O Mahabharata, conhecido também como Maabárata, Mahabarata e Maha-Bharata, é um dos dois maiores épicos clássicos da Índia, juntamente com o Ramáiana. Sua autoria é atribuída a Krishna Dvapayana Vyasa. O texto é monumental, com mais de 74 000 versos em sânscrito, e mais de 1,8 milhões de palavras.

[28] N.T.: igurd (nórdico antigo: Sigurðr; também conhecido em alemão como Siegfried) é um herói lendário da mitologia nórdica e personagem central da Saga dos Volsungos. As primeiras representações de sua lenda vêm de sete pedras rúnicas da Suécia. Como Siegfried, é o herói do Nibelungenlied, e das óperas Siegfried e Götterdämmerung de Richard Wagner. O nome Sigurðr não é o mesmo que o alemão Siegfried. A versão em nórdico antigo seria Sigruþr, uma forma que aparece no petróglifo de Ramsund. Nota-se que todas as variações do nome possuem o prefixo “Sig”, que significa vitória.

[29] N.T.: aqui Norte e Sul como vimos no parágrafo anterior.

[30] N.T.: Rafael Sanzio (1483-1520), frequentemente referido apenas como Rafael, foi um mestre da pintura e da arquitetura da escola de Florença durante o Renascimento italiano, celebrado pela perfeição e suavidade de suas obras. Segundo historiadores e mestres da arte, o mais adequado é chamá-lo de Raffaello Santi, já que Sanzio fazia referência apenas ao seu local de nascimento e Santi era o sobrenome de seu pai, Giovanni Santi, nascido em Lucca, na Toscana. Junto com Michelangelo e Leonardo da Vinci forma a tríade de grandes mestres do Alto Renascimento.

[31] N.T.: também chamada Madonna di San Sisto.

[32] N.T.: Jakob Böhme, por vezes grafado como Jacob Boehme (1575-1624) foi um filósofo e místico luterano alemão. Passou por experiências místicas em toda a sua juventude, culminando em uma epifania no ano de 1600, a qual ter-lhe-ia revelado a estrutura espiritual do mundo, assim como as relações entre o Bem e o Mal. Na época, ele decidiu não divulgar a sua experiência e continuou trabalhando como sapateiro na cidade de Goerlitz, na Silésia, constituindo família e tendo quatro filhos. Entretanto, após uma outra visão em 1610, ele começou a escrever sua primeira obra, Aurora (Die Morgenroete im Aufgang), resultante dessa iluminação.

[33] N.T.: Tomás de Kempis, também conhecido como Tomás de Kempen, Thomas Hemerken, Thomas à Kempis ou Thomas von Kempen (1379 ou 1380-1471) foi um monge e escritor místico alemão. Tomás de Kempis produziu cerca de quarenta obras representantes da literatura devocional moderna. Destaca-se o seu livro mais célebre, Imitação de Cristo, composto por quatro volumes, no qual apela a uma vida seguida no exemplo de Cristo, valorizando a comunhão como forma de reforçar a fé.

[34] N.T.: ou bálsamo de Geliad. Bartolomeu Angélicus, monge inglês que preparou a primeira enciclopédia de preciosas resinas e essências, disse: “A árvore do bálsamo cresce na Babilônia, no Egito, e suas virtudes são únicas e todas medicinais. Seus sucos curam o cérebro à semelhança de um fogo; sua virtude e dissolver e temperar, consumir e desgastar, resguardar e evitar a decomposição dos cadáveres”. O bálsamo de Gilead de Mecca e de La Matéria perto da Babilônia, foi considerado o melhor. As árvores de onde é extraído, eram protegidas por paredes altas. Atualmente, a goma é extraída especialmente por incisão, porém, antes, havia três diferentes meios de consegui-la. O primeiro, era pelo cozimento de brotos novos e chamava-se Xobalsamum; o outro, era produzido espremendo-se o suco da fruta e era chamado de Canapobalsamum; e o terceiro método, era usado para obter o mais fino bálsamo de todos, conhecido como Opobalsamum. Este óleo precioso era usado na medicina, e fornecia, também, às mulheres, os melhores cosméticos. O corpo era ungido com óleo, antes do banho, e agia não só como desinfetante, como também para atender à crença de que seu uso prolongava vida até idade avançada. O bálsamo de GiIead tem propriedades valiosas e é usado hoje pelos farmacêuticos que manipulam ervas, no preparo de uma excelente mistura para a tosse. Em algumas partes da Índia, a resina da Comm’phora Mokal é usada como remédio para doenças da pele e doenças reumáticas.

[35] N.T.: A ablução é um rito de purificação, com símbolos, atos e significados variados em diversas situações. Relacionam-se a ritos de preparação para o sacrifício. As abluções são feitas com água, folhas, areia ou sangue.

[36] N.T.: Eddas, Edas ou simplesmente Edda, é o nome dado a duas coletâneas distintas de textos do séc. XIII, encontradas na Islândia, e que permitiram iniciar o estudo e a compilação das histórias referentes aos deuses e heróis da mitologia nórdica e germânica: a Edda em prosa e a Edda em verso.

[37] N.T.: O Anel de Nibelungo é, na mitologia nórdica, um anel mágico que daria ao seu portador um grande poder e, posteriormente, uma grande maldição. Foi forjado por Alberich, senhor dos Nibelungos, o povo das neblinas, após roubar das náiades o ouro do Reno, o tesouro mais precioso do mundo, mergulhando no fundo do rio.

[38] N.T.: As bases do modelo de formação do Sistema Solar atualmente mais aceito foram propostas, na segunda metade do século 18, independentemente, pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) e pelo matemático, astrônomo e físico francês Pierre Simon de Laplace (1749-1827). É a chamada hipótese Kant-Laplace da nebulosa protossolar. O modelo da nebulosa protossolar visa a reproduzir as características observadas do Sistema Solar: i) todos os Planetas giram em torno do Sol na mesma direção, e o Sol gira em torno de seu eixo, na direção do movimento dos Planetas; ii) os Planetas (exceção de Vênus e Urano) giram em torno de seu eixo nessa mesma direção; iii) as órbitas dos Planetas são quase circulares e coplanares; iv) apesar de variações que dependem da distância ao Sol, todos os corpos têm composição química similar e uma única idade de solidificação (4,55 milhões de anos); v) 99,8% da massa do Sistema Solar estão concentrados no Sol. Portanto, a Hipótese de Laplace, de Pierre Laplace explicou que a nossa estrela, o Sol, não poderia ter tido outra origem a não ser oriunda da condensação gradual de matéria nebulosa primitiva, assim como ocorreu com todas as outras estrelas do universo. Ele se baseou na hipótese de Kant para melhor estudá-la e desenvolvê-la. A hipótese de Laplace se tornou uma das mais conhecidas das teorias evolucionárias.

[39] N.T.: Adam Gottlob Oehlenschläger (1779-1850) foi um poeta e dramaturgo dinamarquês, celebrado como o introdutor do romantismo na literatura dinamarquesa.

[40] N.T.: Mt 5:40-41

[41] N.T.: Lc 23:34

[42] N.T.: Mt 23:37

[43] N.T.: da obra A Visão de Sir Launfal de James Russel Lowell

[44] N.T.: Mt 4:3

[45] N.T.: Mt 4:4

[46] N.T.: 1ª Guerra Mundial

[47] N.T.: Principal personagem de Parsifal (WWV 111), uma ópera de três atos com música e libreto do compositor alemão Richard Wagner. Estreou no Bayreuth Festspielhaus em Bayreuth no mês de julho de 1882. É vagamente baseada em Parzival, atribuído a Wolfram von Eschenbach, um poema épico do século XIII do cavaleiro arturiano Parzival (Percival) e sua busca pelo Santo Graal (século XII).

[48] N.T.: Herodes foi um rei do território da Palestina, como representante (rei cliente) do Império Romano, entre 37 a.C. e 4 a.C. Descrito como “um louco que assassinou sua própria família e inúmeros rabinos”, Herodes é conhecido por seus colossais projetos de construção em Jerusalém e outras partes do mundo antigo, em especial a reconstrução que patrocinou do segundo Templo, naquela cidade, por vezes chamado de Templo de Herodes. Foi durante seu reinado que nasceu Jesus, segundo a narrativa bíblica. Herodes foi visitado pelos Três Reis Magos, que foram adorar o Rei dos Judeus, Herodes pediu aos magos que seguissem para Belém e que depois voltassem para reportar se tinham conseguido encontrar a criança, porém, os Magos foram avisados em sonho a seguir outro caminho e não passarem por Herodes, que mandou matar todas as crianças de até 2 anos de idade (Mt 2:1-16).

[49] N.T.: o mago negro da obra Parsifal.

[50] N.T.: refere-se ao século XIX. A ópera se passa nas legendárias colinas do Monte Salvat, na Espanha, onde vive uma fraternidade de cavaleiros do Santo Graal. O mago negro Klingsor teria construído um jardim mágico povoado com mulheres que, com seus perfumes e trejeitos, seduziriam os cavaleiros e faria com que eles quebrassem seus votos de castidade, e teria ferido Amfortas, rei do Graal, com a lança que perfurou o flanco de Cristo, e todas as vezes em que Amfortas olha em direção ao Graal sente a ferida arder. Tal redenção só poderia ser realizada por um “inocente casto” (significado da palavra “Parsifal”). Este, em sua primeira aparição na ópera, surge ferindo um dos cisnes que purificavam a água do banho de Amfortas, e a todas as perguntas que os cavaleiros lhe fazem responde dizendo que não sabe de nada, nem ao menos seu nome. Parsifal atravessa o jardim mágico de Klingsor e é seduzido pela amazona Kundry, que ora é uma fiel serva do Graal, ora é escrava de Klingsor. Ao beijá-la, sente os estigmas das feridas que afligiam Amfortas e, quando Klingsor atira a lança contra ele, a lança dá a volta em seu corpo, e todo o castelo mágico é destruído. Tempos depois, tendo os cavaleiros se convencido de que ele é o “inocente casto” que faria a salvação, Parsifal cura as feridas de Amfortas e o destrona, assumindo a nova condição de rei do Graal.

[51] N.T.: ou bushmen são membros de várias etnias de caçadores-coletores da África Austral, cujos territórios abrangem Botsuana, Namíbia, Angola, Zâmbia, Zimbábue e África do Sul. Há uma diferença linguística significativa entre os povos que vivem nesses lugares. Eles contribuem uma riqueza de informações para os campos da antropologia e da genética. Um amplo estudo sobre a diversidade genética africana concluído em 2009 descobriu que os “sãs” estavam entre as cinco populações com os níveis mais altos medidos de diversidade genética entre as 121 populações africanas distintas amostradas. Os “sãs” são um dos catorze povos ainda existentes da chamada “população ancestral” existentes, a partir do qual todos os seres humanos modernos conhecidos descendem.

[52] N.T.: um elemento químico de símbolo Ra, número atômico 88 (88 prótons e 88 elétrons) com massa atómica [226] u, pertencente à família dos metais alcalino-terrosos, grupo 2 ou IIA da classificação periódica dos elementos. À temperatura ambiente, o rádio encontra-se no estado sólido. É um metal altamente radioativo encontrado em minerais de urânio como na pechblenda. As suas aplicações são derivadas do seu caráter radioativo. Foi usado em medicina, porém substituído por radioisótopos mais eficientes. Foi descoberto por Marie Curie e seu marido Pierre em 1898 na pechblenda/uranita.

[53] N.T.: Descoberta por Antoine Henri Becquerel, a pechblenda é uma variedade, provavelmente impura, de uraninita. Dela é retirado o urânio, que é constituinte de muitas rochas. É extraído do minério, purificado e concentrado sob a forma de um sal de cor amarela, conhecido como “yellowcake”.

[54] N.T.: Mt 10:16

[55] N.T.: Lc 1:27

[56] N.T.: Mt 12:48-50

[57] N.T.: Mt 26:41

[58] N.T.: São Francisco de Assis (Assis, 1181 ou 1182-1226), foi um frade católico nascido na atual Itália. Depois de uma juventude irrequieta e mundana, voltou-se para uma vida religiosa de completa pobreza, fundando a ordem mendicante dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos, que renovaram o Catolicismo de seu tempo. Durante uma dessas meditações, em 14 de setembro de 1224, no dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz, no Monte Alverne, acompanhado do Frei Leo, Francisco viu a figura de um homem com seis asas, semelhante a um serafim, e pregado a uma cruz, e à medida que continuava na contemplação, que lhe dava imensa felicidade, mas era sombreada de tristeza, sentiu se abrirem em seu corpo as feridas que o tornaram uma imitação do próprio Cristo crucificado. Foi, dessa forma, o primeiro Cristão a ser estigmatizado, mas enquanto isso lhe trazia alegria, sendo um sinal do favor divino, foi-lhe motivo de muito embaraço e sofrimento físico. Sempre tentou ocultar os estigmas com faixas e seu hábito, e poucos irmãos os viram enquanto ele viveu. Mas eles lhe causavam muita dor e com isso dificultavam seus movimentos, além de sangrarem com frequência. Muitas vezes teve de ser carregado por não poder andar, ou teve de viajar sobre uma mula, o que não era permitido aos irmãos por ser um luxo.

[59] N.T.: nascida Caterina Benincasa (1347-1380), foi uma terceira da Ordem dos Pregadores (dominicanos), filósofa escolástica e teóloga do século XIV. Nascida em Siena, ela cresceu lá e queria muito cedo se consagrar a Deus, contra a vontade de seus pais. Ela se juntou às irmãs da Penitência de São Domingos e fez seus votos lá. Muito rapidamente marcada por fenômenos místicos, como estigma e casamento místico, ela se deu a conhecer. (…) foi em Pisa, em 1375, que ela recebeu seus estigmas (visíveis, depois de um pedido dela, somente para ela).

[60] N.T.: Santa Verônica Giuliani (também “Veronica de Julianis”; 1660-1727), foi uma freira e mística italiana Clarissa Capuchinha. Verônica tinha uma devoção ao longo da vida a Cristo crucificado que eventualmente se manifestou em sinais físicos. As marcas da coroa de espinhos apareceram em sua testa em 1694 e as cinco feridas em seu corpo em 1697.

[61] N.T.: Anna Catarina Emmerich (1774–1824) foi uma freira alemã, agostiniana, mística, visionária e arrebatada. Emmerich é notável por suas visões sobre a vida e a paixão de Jesus Cristo, cuja reputação é revelada a ela pela Bem-aventurada Virgem Maria sob êxtase religioso. Durante toda a vida, Anna Emmerich ajudava os pobres e enfermos com tudo o que possuía, dividindo o pouco que conseguia em sua pobreza, e por vezes não lhe restava nada nem para o próprio sustento, tendo que ser ajudada pela mãe e amigos; porém, mesmo assim, não deixava de dividir tudo que ganhava com os que mais necessitavam. E quando não os encontrava, rezava para que Deus os revelasse. Também tinha visões com almas presas no Purgatório, e por muitas vezes rezou por essas almas e era acordada por elas no meio da noite, pedindo-lhe que rezasse por elas. Aos 24 anos, em 1798, Anne teve uma visão na Igreja dos Jesuítas, em Coesfeld, na qual ela vislumbrava Jesus Cristo com uma coroa de espinhos e outra de rosas em cada mão, pedindo a ela que escolhesse, decidindo-se Anne pela de espinhos e enterrando-a na própria cabeça. Desde então, passou a receber estigmas, que ocultava de todos usando lenços envoltos na testa.

[62] N.T.: nome completo Maria Theresia von Mörl zu Pfalzen and Sichelburg (1812-1868) era uma nobre tirolesa, mística e estigmatizada, é referida na literatura como uma “senhora extática”. Depois dos 19 anos, ela experimentou estados cada vez mais de êxtase. Depois de receber a Sagrada Comunhão, ela permaneceu em êxtase silencioso por horas, ajoelhada na cama ou flutuando, como mostram muitas fotos. Por outro lado, ela sofreu ataques físicos e mentais agonizantes, que não podiam ser explicados de forma natural. Em 1834, ela teve as marcas de Cristo em suas mãos e pés. Ela parecia ver a Paixão de Cristo todas as sextas-feiras. Seus amigos a descrevem como amorosa e, também, descrevem a convivência infantil e feliz com ela.

[63] N.T.: Foi uma mística belga (1850-1883). O caso de Louise Lateau é um dos mais bem documentados sobre os estigmas. Ela teve sofrimentos imensos quando perdeu seu pai, que era ferreiro e foi tomado pela varíola a 18 de abril de 1950. Ela viu e ajudou muitos irmãos vítimas da cólera. Muitos morreram na epidemia que tomou conta da região em 1866. Louise trabalhava muito e costurava as vestimentas destinadas aos pobres. Ela entrou na Ordem Terceira de São Francisco em 1867. Sua vida foi modificada em 1868, quando Louise tinha 18 anos, e pela primeira vez o sangue escorreu de suas mãos, do seu lado e de seus pés. Médicos, especialistas em teologia, padres, personalidades civis se apresentaram em sua casa para constatar esses fatos extraordinários. Na noite da primeira-sexta feira de 1868, em 3 de janeiro, Louise fez uma oração quando um raio de luz penetrou em sua alma. E a transportou para fora dela mesma, e a fez sentir uma grande alegria, seguida de grandes sofrimentos. Essas manifestações agudas partiam seu coração com sulcos de dor, que arrebentavam nos pés e nas costas. Essas manifestações misteriosas se renovavam nas sextas-feiras seguintes, a partir da sexta-feira de 24 de abril. A imitação das chagas de Jesus, o sangue fluía do seu lado esquerdo, dos pés e mãos. Também apareciam os ferimentos da coroa de espinhos e mais tarde uma chaga no ombro direito. No lugar dos estigmas permanecia uma marca rosada, seca, inteiramente fechada, um pouco mais lisa que a pele. A quantidade de sangue que perdia era no mínimo de 250 g. A partir de 17 de julho de 1868, o surgimento dos estigmas era acompanhado pelos êxtases, a duração do êxtase era variada. Mas, se manifestava antes do meio-dia da sexta-feira. Louise falou desses êxtases aos padres que a interrogaram. Ela era tomada por uma luz espiritual que revelava algo da grandeza de Deus. “Eu sou envolvida por um grande sentimento da presença de Deus, e não sei onde me encontro. Eu O vejo tão grande e me sinto tão pequena que não sei onde me esconder.”

[64] N.T.: Mary Ann Girling (1827-1886) foi uma líder religiosa americana, fundadora da seita chamada “O Povo de Deus”, também conhecida como New Forest Shakers. Mrs. Girling teve uma visão de Jesus Cristo no dia de Natal de 1858. Um sinal disso foram os estigmas que apareceram em suas mãos, pés e lado. Ela costumava descrever com detalhes minuciosos a emoção extraordinária que a dominou no momento em que experimentou o chamado divino. A partir desse período, ela proclamou a nova revelação e falou com conhecimento absoluto dos mistérios ocultos.

[65] N.T.: ou hipófise, também conhecida como Glândula Pituitária ou conarium, é uma glândula endócrina de cerca de 1 cm de diâmetro e 1 g de peso, localizada na base do cérebro, em uma área chamada sela túrcica, ou mais tecnicamente, localizada abaixo do hipotálamo e posteriormente ao quiasma óptico, estando ligada ao hipotálamo pela haste pedúnculo hipofisário ou infundíbulo, é envolvida pela dura-máter (exceto o infundíbulo).

[66] N.T.: ou epífise neural, é uma glândula endócrina, que tem uma forma de pinha, medindo em média 25 mm por 12 mm e pesa cerca de 500 mg, localizada no topo da medula espinhal, terminando dentro do cérebro, logo acima do cerebelo, ou mais tecnicamente, localizada logo superiormente ao colículo superior e atrás da stria medullaris, entre os corpos talâmicos posicionados lateralmente.

[67] N.T.: situa-se na região do osso frontal (testa). É um dos espaços pareados, mas raramente simétricos, preenchidos de ar, localizados entre as camadas compactas interna e externa do osso frontal.

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