Arquivo de categoria Relação do Ser Humano com outros Seres

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Serviço pelo Exemplo: a verdadeira forma do Serviço prestado

O Serviço pelo Exemplo: a verdadeira forma do Serviço prestado

Servimos muito mais pelo exemplo que damos. A nossa alegria, a nossa fé, a nossa devoção, a nossa compaixão e a nossa conduta geral estão constantemente à vista do mundo e, não importa o que dissermos ou até mesmo fizermos, é essa própria conduta — no contexto em que nossas palavras forem proferidas e as nossas ações forem praticadas — que, a longo prazo, mais influenciará as pessoas com as quais entrarmos em contato.

Todos tivemos a experiência de termos sido influenciados pelo entusiasmo, pela exaltação, a alegria e a boa vontade de uma pessoa otimista e nos termos apercebido de estarmos, pelo menos durante o período imediatamente seguinte ao nosso contato com tal pessoa, alegres ou até mesmo enlevados e capazes de executar nossas tarefas com êxito maior do que costumeiramente. Tivemos também a experiência de estar deprimido, desanimado ou irritado por um pessimista ou por alguém que se tenha recusado a suportar sua parte nos encargos. As vibrações negativas emitidas por essas pessoas são rapidamente intensificadas e multiplicadas, e nossas reações em relação a elas variam sempre do ressentimento e do enfado até uma atitude desanimada. Como resultado, os nossos tristes estados de alma obstruem o nosso trabalho e se revelam prejudiciais ao nosso bem-estar geral e dos demais.

Quando, à luz desses exemplos, pensamos acerca do quanto podemos influenciar outras pessoas para o bem ou para o mal, a magnitude de nossa responsabilidade a esse respeito se torna óbvia, quando não assustadora. Desse modo, é certo que “nenhum homem é uma ilha” e há uma acentuada e contínua possibilidade de que o modo como cumprirmos nossas tarefas, até mesmo as mais mundanas, servirá de exemplo para alguém.

Talvez isso fique mais claro pelo modo como as crianças são influenciadas por qualquer um de nossos atos diários. As crianças, realmente, são eminentemente passíveis de serem ensinadas e abertas à sugestão e ao exemplo. Nisso é provavelmente onde reside a nossa maior responsabilidade e, caso desempenharmos todas as nossas obrigações como se crianças estivessem presentes e desejássemos que elas tirassem proveito de nossa conduta, deveremos cumprir o melhor nisso tudo. Os pais, os professores e outros que estejam em estreito contato com as crianças precisam estar cientes do fato de que se encontram “em exibição”. A mínima discrepância no “modo convencional” de comportamento — seja uma melhoria ou uma debilitação desse modo — será entendida, por parte das crianças, como digna de ser imitada. Pode-se estar certo de que, quando as crianças estiverem nas proximidades, até mesmo as reações, atitudes e atos mais corriqueiros serão perfeitamente ponderados pelos menores, desejosos e prontos a crer que é assim que a coisa deva ser feita.

Os adultos, certamente, não são tão permeáveis ao ensino quanto as crianças e a maior parte deles não é tão influenciável. Mas a analogia com as crianças ainda se mantém num ponto e existem, sem dúvida, alguns adultos — surpreendentemente muitos, na realidade — que sejam pouco determinados ou “inseguros” o bastante para fazer com que sejam alterados pela menor modificação, pressão ou exemplo exterior. Nunca saberemos quando essa pessoa estará perto; sendo assim, novamente é importante que estejamos desempenhando a nossa “melhor conduta” a todo momento.

Até mesmo quando não nos sentimos alegres, efusivos ou serenos, devemos, para beneficiar os que estejam em torno de nós, fazer todo o esforço para alevantar o nosso espírito ou, pelo menos, estabelecer uma frente de otimismo, calma ou entusiasmo, conforme se fizer necessário. Tal conduta será benéfica aos nossos companheiros e, ademais, poderemos ficar surpresos ao descobrir que, ao fazermos o esforço para parecer positivos diante dos outros, realmente começaremos a nos sentir mais otimistas e esperançosos dentro de nós mesmos.

Isso, naturalmente, é especialmente verdadeiro em momentos de crise, mas é importante também em todos os outros momentos. Durante as crises, é imperioso que todos nós mantenhamos as nossas condutas mais calmas e os semblantes mais otimistas — procurando e proclamando o bem em tudo o que possamos defrontar e fazendo todo o possível para que os nossos amigos e companheiros não sucumbam aos aspectos negativos desse confronto. Não importa o quanto estivermos desanimados: é de nossa responsabilidade tentar distrair os outros que possam estar deprimidos e, pelo exemplo e pela sugestão, levá-los a fazer todo o possível para ajudar a si próprios a superarem quaisquer problemas ou desventuras. Quanto mais nos dedicarmos desse modo, mais serviremos realmente pelo exemplo e menos tempo teremos para pensar a respeito de assuntos negativos de quaisquer espécies.

A importância do servir pelo exemplo é revelada até mesmo nos assuntos mais triviais. O simples ato de um homem, num ônibus, o ato de levantar-se para oferecer o seu lugar a uma mulher, poderá ser o catalizador para induzir outros a fazerem o mesmo. Certamente, isso ficará gravado na consciência de todos os cavalheiros e em circunstâncias futuras eles oferecerão também os seus lugares.

Até mesmo o ato de entrar numa sala ou caminhar por uma rua sorrindo, ao invés de ostentar um semblante deprimido ou expressões distraídas, tão comuns a muitas pessoas com quem nos encontramos diariamente, poderá ter um efeito animador e surpreendente nos que virem o sorriso ou a expressão de felicidade. É certo que esse ato iluminaria a fisionomia, pelo menos momentaneamente, e o efeito provavelmente seria um tanto mais duradouro. Quem, às vezes, em algum lugar, não teria visto, de passagem, a face radiante de uma pessoa feliz e ficado soerguido por essa mesma expressão? Não importa que não saiba a causa da alegria da pessoa — o que importa apenas é que viu e sentiu a sensação de alegria em alguém mais e a transferiu, a seu próprio modo, para si. Isso o fortaleceu rapidamente ou, talvez, tendo observado e sentido a coisa, tenha se capacitado a contribuir com algo de dentro de si em benefício dessa sensação e, assim, retendo o seu benefício durante um período mais longo. Devido a isso, alguns momentos — possivelmente muitos — no dia dessa pessoa foram iluminados, ficando possibilitada de comportar-se melhor, mesmo por apenas um breve período.

O serviço por meio do exemplo, inclusive, apresenta possibilidades de crescimento cíclico. A pessoa cujo sorriso vier a alegrar um transeunte provavelmente não terá meios de saber que a satisfação resultada na pessoa do transeunte, por sua vez, vá se comunicar a alguém mais e assim por diante. (A mesma característica de proliferação, de fato, também ocorre na transferência de emoções e sentimentos negativos, de uma pessoa em relação a outra). Isso é verdade em qualquer forma de comportamento ou ação: se uma pessoa for persuadida a imitá-lo, essa mesma pessoa, por sua vez, poderá muito bem servir de “influenciador” para outras mais e assim por diante, até que talvez inúmeras pessoas se comportem ou procurem agir da mesma forma que o primeiro indivíduo do ciclo. Em outras palavras, nunca saberemos até onde irão os efeitos de qualquer coisa que carreguemos emocional, verbalmente ou por intermédio da ação.

Muitos de nós, especialmente, talvez, na juventude, tivemos a experiência de ouvir alguém fazer apreciações em detrimento de outra pessoa, seja na presença ou não desse alguém e então percebido que quase todos ao derredor tenham concordado com o detrator ou, pelo menos, tenham permanecido passivos. Em seguida, notamos que alguém tenha falado em defesa da pessoa indigitada, dizendo ou afirmando com ênfase que o primeiro orador foi injusto em seu julgamento ou, um tanto mais amavelmente, que estivesse “mal informado”. O segundo orador assinalou as boas qualidades do indivíduo em questão e, gradualmente, os que se portaram veementemente em sua concordância com o primeiro orador começaram a concordar, ao contrário, com o segundo orador. O exemplo desse, aparecendo presumivelmente no momento certo, serviu para dirigir os pensamentos de todas as pessoas através de melhores canais, sendo que as vibrações que esse grupo particular passou a emitir foram muito melhores do que foram enquanto estava falando o primeiro orador. O seu exemplo e a sua franqueza na defesa do indivíduo caluniado melhoraram bastante, em relação a todos, uma situação que se tornara desagradável graças ao exemplo oferecido pelo primeiro orador. Esse desviou as pessoas para uma direção negativa, fazendo com que elas se prejudicassem e prejudicassem a pessoa de que falavam. O segundo orador modificou completamente a situação em torno de si e do grupo e fez com que todos os envolvidos melhorassem a si próprios, acentuando o bem ao invés do mal, quanto ao tema de seus pensamentos. Assim, pelo seu exemplo de corajosa refutação dos comentários difamatórios a respeito de outrem, o segundo orador foi útil tanto ao caluniador quanto aos circunstantes, que foram muito apressados em concordar com os sentimentos negativos, antes que suas melhores tendências e, o mais provável, suas consciências fossem convocadas. Ademais, os benefícios que advierem ao próprio orador, como resultado de sua ação, são, de fato, óbvios.

E, assim, vemos que o verdadeiro serviço, por sua própria natureza, quase sempre assume a forma de exemplo às outras pessoas. Naturalmente, muitos atos específicos de serviço podem e devem ser executados sem alarde ou até mesmo anonimamente. A conduta ostentatória ou a proclamação dos atos “altruísticos” de alguém altera imediatamente a atividade e isso se transforma não em um verdadeiro serviço, mas num exercício que visa a mostrar as características “generosas” ou “prestativas” de seu autor.

Entretanto, uma pessoa que viva tranquilamente uma vida de sincero serviço espiritual dedicado a outrem não poderá deixar de ser um constante exemplo inspirador para seus colegas. Esses poderão estar completamente despercebidos dos detalhes do serviço que ele faz ou em benefício de quem. Em razão de sua espiritualidade e bondade interiores, que prontamente o levam a se compadecer e a prestar serviços, boas vibrações permeiam quase completamente a atmosfera ao seu redor; os que com ele entrarem em contato sentirão as suas finas qualidades e a elas reagirão, cada qual a seu modo. A sua verdadeira aura “toca” a de outras pessoas, resultando que elas, mesmo que momentaneamente, sejam fortalecidas e elevadas graças a isso e, frequentemente, tornem-se mais compassivas e prestimosas.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – setembro-1970)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Apelo aos espiritualistas

Apelo aos espiritualistas

Fazendo-se um retrospecto para se comparar o passado com o presente deparamos com uma diferença impressionante que abrange todos os setores do viver.

Se houve evolução por um lado, o que é inegável para uma pequena elite, por outro tem havido muita involução.

Na ciência da tecnologia, por exemplo, o avanço é verdadeiramente grande; na medicina, idem; na indústria, e assim, em vários aspectos podemos dizer o mesmo, mas, em se tratando da espiritualização das pessoas, bem poucas são as que se aperceberam da grande necessidade que temos de cultivar o espírito, pois este é eterno e a vida, escola de aperfeiçoamento.

Se conturbado e violento anda o mundo, a culpa cabe unicamente a essa falta de luz que se faz sentir. Mata-se o semelhante por qualquer ninharia, sem considerar que a vida é bênção divina e ai daqueles que a exterminam! Quantas vezes, criaturas cheias da graça da saúde e da esperança têm perdido a vida por essa inescrupulosidade horrenda dos dias que passam!

Crianças e velhos indefesos, jovens cheios de otimismo, são sacrificados e violentados por essa onda selvagem e avassaladora de criminosos que vagueiam pelo mundo envoltos em trevas! Trevas da mais profunda ignorância! Contudo, não se desanimem nunca os que olham o mundo com fé, pois dias melhores nos aguardam, aqui ou alhures. A semente do amor, da confiança em Deus há de frutificar um dia, ainda que para cultivá-la muita lágrima tenha que regá-la. O pranto se converte em sorriso da mesma forma que de um espinheiro, muitas vezes, surge a rosa. A treva se transforma em luz, por isso mantenhamos firmes a força da fé que levantará um dia a humanidade desunida de hoje.

Alimentemos cada vez mais a esperança em dias de paz, pois essa força há de triunfar. Uma coisa, porém, se faz imperiosa: que lutem os espiritualistas, os que têm certeza da sobrevivência da alma para a espiritualização do mundo. É preciso divulgar pela Terra que todo sofrimento se reverte em bênção para o espírito, pois que nos levam eles a sérias reflexões e facilmente concluímos que é isso incontestável verdade. Do contrário, como purgaríamos a alma dos erros que contraímos em existências anteriores? Bem sei que de inúmeros materialistas está cheio o mundo, mas faço aqui um apelo aos espiritualistas: que não haja esmorecimento nessa hora difícil e, a despeito de sarcásticas ironias, prossigamos confiantes, cada qual procurando acender no próximo pequena luz que seja, pois esta, aos poucos, há de crescer e se tornar um luzeiro!

Lembremo-nos sempre de que até os mais crédulos serão testados e eis que os tempos são chegados. Coragem, porque unidos venceremos!

Não é sem lágrimas que vejo os distúrbios por que atravessa a Terra, mas na alma tenho acesa a chama da esperança de que essas mesmas lágrimas vão sorrir um dia, quando o mundo sorrir comigo pela paz que haveremos de conquistar. Façamos, pois, imensa força de pensamento positivo e encaremos com otimismo o futuro que a tudo responderá.

Deus está conosco!

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – jul/ago/88)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Acredite…se quiser

Acredite…se quiser

Há pouco tempo, aguardando o ônibus para São Paulo na rodoviária de Campinas, detive-me a folhear um livro numa banca de jornais. Chamou-me a atenção uma frase de Edgard Mitchell: “A tripulação da espaçonave Terra amotinou-se contra a Ordem do Universo.”

Entrei no ônibus e ocupei minha poltrona. Em seguida, sentou-se ao meu lado uma figura estranhíssima. Um homem totalmente calvo, orelhas muito pequenas, arredondadas, e a pele de um tom arroxeado. Nunca tinha visto algo semelhante. Fiquei na minha.

Quando o veículo começou a   movimentar-se, ele me dirigiu a palavra, com uma voz singularmente rouca:

— Senhor João, não vai usar o cinto de segurança?

Agradeci-lhe a observação e travei o cinto. Curioso, perguntei-lhe como sabia meu nome, pois não me lembrava de antes tê-lo visto ou conhecido.

Ele respondeu: — Eu sei. Sei de coisas de sua vida e de muitos habitantes deste Planeta.

— Como é possível? — Redargui.

— Eu sou aquilo que vocês terráqueos chamam de alienígena. Vim de uma estrela localizada em uma longínqua galáxia. Na Terra existem outros como eu, encarnados e vivendo entre vocês, sem que nos   reconheçam. Não estamos aqui para simplesmente bisbilhotá-los, mas apenas tentando entender o que se passa em suas Mentes, a ponto de provocarem tantos desequilíbrios.

Achei o estranho muito pretensioso, e um pouco irritado perguntei-lhe o nome. Ele me respondeu que em sua estrela as pessoas se conhecem e se identificam pelas vibrações que emitem. Não precisam de nome.

— Quer dizer então que vocês constituem uma civilização mais avançada que a terrestre? – perguntei-lhe.

— Modestamente, posso dizer que sim, porém, isso não nos torna arrogantes. Estamos preocupados com a maneira como vocês vivem e agem.

— Posso então entender que vocês, alienígenas, convivem conosco disfarçados de humanos para cumprir uma missão, – afirmei com uma pitadinha de ironia.

— Se o senhor quer entender assim, tudo bem. A verdade é que pensam e agem como se este planeta fosse o centro do Universo, imaginando que somente aqui há vida inteligente. Não têm a mínima ideia de que no Universo cósmico visível e em sua contraparte invisível tudo se encontra interconectado. Os seus atos, pensamentos, sentimentos e palavras repercutem, para bem ou para mal, em todos os pontos do Cosmos. Isso já se tornou motivo de preocupação, porque as vibrações que partem daqui são desarmoniosas e afetam os outros mundos.

Perguntei-lhe: — Então me esclareça, senhor E.T., o que realmente está acontecendo? O que quer saber a nosso respeito?

Aquela figura tão estranha foi direto em sua resposta:

— Queremos saber qual é o nível de inteligência dos terrestres. Fico analisando os problemas que vocês enfrentam e me pergunto como uma espécie que desenvolveu a razão, capacidade de previsão e prerrogativa de fazer escolhas, pode conduzir-se com tamanha estreiteza de visão. Vocês são tão inteligentes como imaginam?

Continuando, disse-me — Qual é o nível de inteligência de uma espécie capaz de destruir o ecossistema vital à sua própria sobrevivência? Qual é o nível de inteligência de seres que se apoderam de vastas áreas de terras férteis para cobri-las com concreto e asfalto, poluir seu ar, espantar a maioria das outras criaturas vivas, e pagar fortunas para nelas viver? Como podem envenenar os alimentos que ingerem e a terra que os produz?

A conversa seguiu nesse tom, até que o meu interlocutor se fechou no mais absoluto mutismo. Eu também fiquei em silêncio, meditando sobre tudo aquilo que acabara de ouvir.

Talvez eu tenha cochilado um pouco. Despertei com o ônibus chegando no terminal do Tietê. Para minha surpresa aquele ser estranho não se encontrava mais no ônibus. Onde teria desembarcado?

Fiquei pensativo por alguns instantes e me lembrei da frase de Edgard Mitchell. Coincidência?

Por Gilberto A V Silos

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Preparação para se encontrar com o Mestre, um Adepto da Ordem Rosacruz

Preparação para se encontrar com o Mestre, um Adepto da Ordem Rosacruz

O Estudante dos Ensinamentos da Fraternidade Rosacruz recebe a instrução de que num certo ponto de seu desenvolvimento espiritual encontrará o Mestre, um Adepto da Ordem Rosacruz, que é uma das Escolas de Mistérios Menores que trabalham incessantemente pelo progresso evolutivo da humanidade. Quando o Aspirante tenha feito suficiente progresso na senda da conquista espiritual, como para merecer a assistência individual de um Ser tão augusto, lhe é dada a necessária assistência a fim de dar passos ulteriores, adiante e acima.

A nota-chave da Senda Rosacruz de Aquisição, na qual o Estudante a seu tempo encontra o Mestre, é “serviço amoroso e desinteressado aos demais”, e a divisa dada como guia é: “Mente pura, Coração nobre e Corpo são”. Para alcançar o florescimento de consciência necessária para chegar à plenitude destes ideais, o Aspirante deverá seguir uma regra de conduta designada pelos Sábios para seu próprio benefício.

Primeiramente, após obter alguma compreensão das leis divinas que governam nosso universo, vem uma dedicação consciente e uma vida de conformidade com estas leis. Para observar esta dedicação requer-se autodisciplina e sacrifício, uma purificação dos Corpos e da Mente e o uso da vontade para desenvolver as faculdades internas latentes em todo ser humano.

Entre os primeiros passos específicos da Senda, baseados na aceitação da unidade de toda a Vida e a santidade dessa Vida, estão a abstinência de comer a carne de nossos irmãos menores, os animais, de usar couro, peles e plumas ou qualquer outro produto que utilize partes dos Corpos dos nossos irmãos menores, os animais (mamíferos, aves, peixes e quaisquer outros ser vivo dessa onda de vida) ou, ainda, que sejam sacrificados em testes para a obtenção desses produtos. A abstinência do uso do tabaco e de quaisquer bebidas alcoólicas segue à compreensão de que o Corpo é o templo do Espírito que mora em nós — o Deus Interno. Até que o Aspirante desenvolva a consciência de largar facilmente e voluntariamente estas práticas prejudiciais, não deve esperar que o Mestre seja atraído para ele.

O neófito que tenha entrado na Senda da Aquisição Espiritual deve também começar a conservar a divina força criadora interna, antes de que possa fazer maior progresso espiritual. Mediante o sacrifício e a vida reta (incluindo o reto sentir e o reto pensar), deve purificar e elevar este fogo criador ao cérebro, onde pode ser usado e convertido em poder anímico por meio dos órgãos espirituais, a Glândula Pineal e o Corpo Pituitário. Todo trabalho criativo (serviço), incluindo o trabalho físico, a composição musical e artística, a arte de escrever e as ciências materiais, elevam a força ou fogo criador a canais superiores. Todo Aspirante deveria dedicar uma parte de seu tempo a tais atividades criadoras.

Devem ser praticados diariamente esforços para controlar as emoções e sentimentos, transformando-os em canais construtivos. A perda da paciência é muito prejudicial para o crescimento interno: é dissipação em grande escala de energia que pode ser proveitosamente usada no serviço. Mais ainda, envenena o Corpo, arruína-o e obstaculiza enormemente a aquisição. Todo Aspirante sincero luta por dominar sua natureza de desejos, mediante o seguimento dos preceitos do Mestre dos Mestres, Cristo-Jesus, quem manda que amemos a nossos inimigos, que façamos o bem a quem nos aborrece e que amemos a nosso próximo como a nós mesmos. Com o tempo se converterá em um guardião seguro de seu poder de pensamento, por meio do qual poderá formar ideias exatas, que estarão imediatamente prontas para cristalizar-se em coisas úteis.

Como ajuda específica para os que estão no Caminho, a Fraternidade Rosacruz dá dois exercícios, conduzindo ambos à intuição e à visão espiritual. Um é chamado Concentração, e para maiores resultados deveria ser praticado imediatamente ao despertar de manhã. Desenvolve o controle e o poder de pensamento, essenciais para desenvolver os poderes do Espírito para dirigir a vida em direção a metas escolhidas. O segundo exercício chama-se Retrospecção, devendo ser executado cada noite precisamente antes de recolher-se. Desenvolve a devoção, a compaixão e as outras qualidades do coração, especialmente necessárias para aqueles que se encontram no caminho do ocultismo.

Ao Estudante da Fraternidade Rosacruz aconselha-se que faça seus exercícios no retiro e na solidão de sua própria habitação. Pode ser que os resultados sejam obtidos mais lentamente por este método, mas quando aparecerem se manifestarão como poderes cultivados por si mesmo, usados independentemente das demais pessoas. Este método constrói o caráter ao mesmo tempo que desenvolve as faculdades espirituais e assim protege o discípulo de cair na tentação de prostituir os poderes divinos por prestígio mundano.

O tempo requerido para obter resultados da execução dos exercícios varia de acordo com cada indivíduo e depende de sua aplicação, seu estudo evolutivo e de seu registro no Livro do Destino ou Memória da Natureza. Por conseguinte, não é possível fixar-se um tempo determinado. Alguns, que estão quase prontos, obtêm resultados em poucos dias ou semanas, outros têm que trabalhar por meses, anos, ainda sua vida inteira sem resultados ‘visíveis’. Não obstante resultados estarão ali e o Aspirante que fielmente persista, contemplará, algum dia, nesta ou numa vida futura, a recompensa de sua paciência e fidelidade.

O Estudante deveria ter sempre presente que está sendo emancipado da dependência dos demais. Está sendo educado, fortalecido e convertido em um colaborador altamente confiante em si mesmo, da vinha de Cristo. Assim está aprendendo a caminhar sozinho sob todas as circunstâncias, a fazer frente a todas as condições e a render sabiamente o serviço amoroso, que dele se requer. Os Mestres não podem fazer por nós as boas obras requeridas para o crescimento anímico, nem as assimilar, nem nos dar para usar o poder resultante, assim como não podem nos dar fortaleza física comendo nossa comida.

Através de seu treinamento para uma consciência espiritual mais elevada, o neófito deve cultivar o amor e a fé como princípios governantes de sua existência. Não pode esperar converter-se em Discípulo de um Mestre que está representando uma certa Ordem, se não tem fé nesta Ordem e se não tem o valor e a fortaleza para resistir à investida do inimigo. Será provado uma e outra vez em seus pontos mais débeis, seja o egoísmo, o egocentrismo, os ciúmes, a intolerância, o amor ao poder, a vaidade, etc. As particulares tentações, quando vencidas, servirão como degraus para subir mais acima. Ao fazer frente a estas provas e tentações, não deve perder de vista a máxima que diz: “Não existe fracasso, senão em deixar de lutar”. Ao fracassar, deve tentar de novo, ou do contrário não haverá graus que subir. O ser humano deve elevar-se a si mesmo. Mesmo que possa receber ajuda dos Seres Superiores, ninguém pode fazer seu trabalho espiritual por ele, e quando tenha aceso a chama do Espírito ao escolher este caminho, não pode voltar atrás. Deve prosseguir. A guerra do eu superior e inferior traz desarmonia e dor, mas neste crisol das experiências diárias arde o fogo do Espírito sobre as escórias. Desta forma o neófito aprende a parar de responder ao lado da forma da vida, o qual é um véu que oculta a Luz de Deus, e começa a abrir-se rumo ao superior.

Jesus Cristo disse a Nicodemos: “Vos é necessário nascer outra vez”, e isto se aplica ao Aspirante que se prepara conscientemente para encontrar o Mestre que está guiando e ajudando o neófito da Escola Rosacruz.

Com referência ao Mestre e a relação do neófito com Ele, Max Heindel nos diz: “Favor recordar que havendo vindo como resposta à oração (a qual não é apenas palavras, senão uma vida de aspiração), o Mestre dá prova indiscutível de Seu poder e capacidade de ensinar, guiar e ajudar. Então, fazemos o pedido de que em diante deve-se ter absoluta fé nele; do contrário torna-se impossível para ele trabalhar com o Aspirante. O Mestre deve provar sua capacidade e a provará. Ele é conhecido por seus frutos, e a sua vez pede lealdade. A menos que esta fé, esta lealdade, esta prontidão em servir, esta vontade de fazer o que se requer, venha do Aspirante, a relação terminará. Além disso, não há perigo de que o Mestre descuide de alguém que tenha alcançado o desenvolvimento requerido. Toda boa e desinteressada ação aumenta a luminosidade e poder vibrante da aura do candidato enormemente, e tão seguramente como o ímã atrai a agulha, assim o brilho da luz áurica atrai o Mestre”.

“O Aspirante nunca deve temer que por falta de um Mestre seja demorado em dar os passos espirituais; nem necessita preocupar-se em buscar um Mestre. Tudo o que é necessário para ele é começar a melhorar-se a si mesmo e, seriamente e persistentemente, continuar assim. Desta forma purificará seus veículos. Estes começarão a brilhar nos Mundos internos e não pode deixar de chamar a atenção do Mestre, que está sempre buscando estes casos e está mais que ansioso e alegre em ajudar àqueles que, às custas de seus sinceros esforços pela purificação de si próprios, obtiveram o direito de receber ajuda. À humanidade está urgentemente necessitada de auxiliares que sejam capazes de trabalhar nos mundos internos; portanto, ‘buscais e encontrareis’”.

(Publicada na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – mai/jun/88)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Ateu e o Planetário

O Ateu e o Planetário

Certo professor, astrônomo de grande fama, era muito amigo de um jovem médico que, destituído de crenças religiosas, não acreditava que fosse o Universo obra exclusiva de um Ser Supremo. Era ateu.

Braile — assim se chamava o professor — desejando vencer o ateísmo absurdo do amigo, construiu um magnífico planetário, isto é, uma peça mecânica que reproduzia o Sol e todos seus planetas com seus movimentos e suas órbitas.

Esse interessante engenho, quando se movimentava, graças a um dispositivo especial, os astros nele representados iniciavam suas rotações em torno do Sol, ao mesmo tempo que os pequeninos satélites, com precisão matemática, movimentavam-se também em torno dos respectivos planetas.

Braile, construído o planetário, aguardou pacientemente a visita do amigo.

Quando este apareceu, após as primeiras saudações, entretiveram-se ambos em agradável palestra, até que, a certa altura perguntou o professor, interessado:

— Afinal, quais são agora as suas convicções religiosas?… De que forma você admira Deus e Suas Obras?…

— Ah! — Replicou o médico entre irônico e desencantado — não vos supunha ainda apegado a essas ideias do passado! Tudo quanto existe no mundo é obra do acaso. Continuo convicto de que Deus é uma ilusão que tem dominado as criaturas desde muitos séculos… Eu não creio em Deus… A natureza e o acaso são responsáveis pela criação do Universo.

Braile não deu resposta ao moço, a quem devotava grande afeto. Habilmente, desviou a conversa para outro rumo, desejando, porém, mais do que nunca, despertar aquele coração adormecido para a sublime verdade da existência do Criador.

Depois de alguns instantes, como quem nada pretendesse, o velho professor convidou o amigo para visitar seu modesto laboratório.

Foi então que o jovem doutor se deparou com o maravilhoso aparelho, em que apareciam, em bem-feita engrenagem, o Sol com os seus nove planetas.

O médico ateu, admirando o planetário, teceu sobre ele grandes elogios, perguntando em seguida:

— Qual o autor deste engenhoso instrumento?

Braile mostrou na fisionomia enigmático sorriso e respondeu tranquilo:

— Não houve autor algum… Ninguém fez este planetário…

— Como assim? — Replicou o ateu, surpreendido.

— É muito fácil. Este aparelho apareceu aqui por uma simples e natural casualidade.

O moço doutor olhou-o mais surpreendido ainda e, meio desapontado, retrucou-lhe:

— Caro professor, estou tão encantado com este instrumento que desejo ardentemente conhecer-lhe o autor. Peço-vos, pois, que não gracejeis comigo e dizei-me: quem fez este planetário?

Mas Braile, com o olhar brilhante e a voz séria e grave, tornou a dizer-lhe:

— Ninguém o fez, amigo, ou melhor, ele é obra do acaso…

— Zombais de mim, professor — disse o moço aborrecido. Uma peça tão perfeita não pode ser obra da casualidade. Onde se concebe um objeto assim, feito com arte e inteligência, não ter um autor? Isso é impossível!…

Então, Braile falou carinhosamente:

— Ah!… Este planetário, reconhece você, não pode ser fruto da casualidade… deve ter um autor…. No entanto, é um simples instrumento… E o Universo com as suas infinitas e insondáveis maravilhas… A criatura humana cujo corpo é a mais engenhosa máquina e cuja alma é sopro divino…. Tudo isso é obra do acaso?

O jovem médico baixou a cabeça, meditativo. Compreendera a intenção do velho professor.

Depois de meditar alguns segundos, olhou para Braile e estendeu-lhe a mão.

— Adeus! — Disse ele, comovido. – Adeus e.… obrigado!… Obrigado pela lição. Prometo que nela meditarei para chegar a melhores conclusões sobre o Autor da Vida!…

Braile abraçou-o, emocionado. Sabia que a semente que acabava de lançar naquele coração, germinaria e se transformaria em belos e sazonados frutos.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1970)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Sócrates em Breve Perfil

Sócrates em Breve Perfil

“Só sei uma coisa: é que nada sei”. Essa frase, estranha para alguns, hilariante para outros, sem significado para muita gente, notabilizou a Sócrates, o maior de todos os filósofos.

Vez por outra publicamos, nesta revista, a coluna “Filosofia Rosacruz Pelo Método Socrático”. Por esse método, aprende-se perguntando e obtendo respostas.

Profundo conhecedor da alma humana, Sócrates sondava a natureza das pessoas, revelando ideias preconcebidas e pondo em dúvida suas convicções. Se os seres humanos faziam menção à justiça, ele, calmamente, indagava:

— Que é isso? Qual é o significado dessas palavras tão abstratas através das quais vocês pretendem explicar com tanta facilidade o problema da vida e da morte? O que compreendem por “vocês mesmos?”

Esse grego célebre apreciava tratar de questões morais e filosóficas. Em seu diálogo com outras pessoas verdadeiramente cultas ou com pretensos intelectuais, tinha por hábito solicitar-lhes definições precisas e análises acuradas. E como é fácil deduzir, nem todos se sentiam muito à vontade diante dessas situações. Alguns se queixavam, afirmando que ele mais perguntava do que respondia, deixando os espíritos mais confusos ainda.

Em realidade, essa não era sua intenção. Simplesmente mostrava-se avesso à superficialidades. Bem se pode imaginar que dificuldades encontraria se vivesse na época atual. Não lhe faltariam críticos tenazes, a censurar-lhe a mania de querer aprofundar-se em todas as questões. Afinal, em nossos dias exorbita-se a importância da cultura extraída de aguadas apostilas e insossos fascículos. O audiovisual da televisão acomoda letargicamente as pessoas a receber conhecimentos sem assimilá-los. Há, talvez, excesso de informação, mas nenhuma FORMAÇÃO. Isso predispõe a uma distorção de valores. O banal ganha as honras de prioridade. Em contraposição, a busca do essencial em todas as coisas passa a ser encarada como uma atitude bizantina ou mania classicista. O Método Rosacruz de Desenvolvimento, contudo, oferece, aos estudantes, exercícios capazes de ensejar o rompimento do enganoso verniz que envolve as coisas, possibilitando-lhes que penetrem em suas profundezas. Na obra básica CONCEITO ROSACRUZ DO COSMOS encontramos uma clara exposição de tais exercícios.

Mas, voltemos à Grécia antiga.

Como era o grande filósofo? A julgar pelo busto, salvo entre as ruínas da escultura helênica, estava longe de ser belo. Descreve-o Will Durant como sendo calvo, rosto grande e redondo, olhos fundos e arregalados, um nariz largo e túrgido, indicando sua assiduidade em numerosos simpósios. Sua cabeça lembrava antes um trabalhador braçal do que um filósofo. Apresentava aspecto um tanto quanto rude, contrastando com sua bondade e encantadora simplicidade. Ar desajeitado, vestindo sempre a mesma surrada túnica, bem poucos acreditariam que se imortalizasse por suas ideias.

Uma coisa intrigava todo mundo: como vivia Sócrates? Não trabalhava. O dia de amanhã não se lhe constituía motivo de preocupação.

Sua vida conjugal por certo não era nenhum “mar de rosas”. Xantipa, sua esposa, espírito prático, vivia reclamando. Para ela, pouco dada a voos de pensamento, Sócrates não passava de um mandrião imprestável, que dava à sua família mais notoriedade do que pão. Ele, a despeito dessas divergências, reconhecia-lhe os méritos, afirmando que sua visão objetiva da vida mantinha o equilíbrio no lar. Xantipa gostava de falar quase tanto como Sócrates. Os dois juntos deveriam ter travado ásperos e interessantes diálogos. Ela, entretanto, amava-o.

Esse grande pensador exercia um impressionante fascínio sobre os jovens de seu tempo. Cobrava-lhes, a todo momento, a definição dos termos daquilo que afirmavam. Reuniam-se, costumeiramente, no pórtico do templo. Alguns desses moços se notabilizaram. Os ricos, como Platão e Alcebíades, deleitavam-se com sua análise crítica da democracia ateniense. Outros, mais simples, como Antístenes, apreciavam sua pobreza despreocupada. Alguns anarquistas, como Aristipo, sonhavam com um mundo livre de senhores e escravos. Para essa empolgada juventude, a vida sem os debates perder-se-ia na vacuidade. Quem sabe quantas escolas de pensamento tiveram sua origem no seio daquele grupo de idealistas?

A existência de Sócrates não se compôs apenas de filosofia. Houve, também, rasgos de heroísmo. Conta-se ter salvo a vida de Alcebíades em uma batalha. E para quem não acreditasse em sua coragem, ele a revelou de sobejo nos lances dramáticos que antecederam sua morte.

Era um homem sinceramente modesto. Jamais se proclamou sábio ou detentor da sabedoria. Afirmava viver em sua busca. Para quem fizesse questão de mais amplos pormenores, não vacilava em confessar: “sou um amador e não profissional da sabedoria”.

A filosofia, segundo ele, principia quando começam a surgir dúvidas envolvendo nossa crença, seus dogmas e axiomas. A verdadeira filosofia nasce quando o espírito enceta o exame de si próprio. GNOTHI SE AUTON — “Conhece-te a ti mesmo”, disse Sócrates. Essas lapidares palavras foram inscritas no frontispício do templo de Delfos, naquela época, mas sua sombra projeta-se sobre nossos dias. Nunca a necessidade do auto-conhecimento tornou-se tão premente. Por ignorar as multifacetas de sua própria natureza, o ser humano perde-se num imenso cipoal de conflitos. Logrou a proeza de pousar na Lua, desvendando os segredos de um mundo exterior. Por outro lado tem acumulado sucessivos fracassos por não irromper seu deslumbrante universo interior. E a Esfinge, plantada nas areias do deserto do mundo, continua a lançar seu desafio: “Ou me decifras, ou te devoro”.

O ser humano ainda padece de uma incrível indiferença em relação à sua natureza interna. Falta-lhe interesse e força para garimpar o EU. Bem a propósito, Max Heindel considerou o exercício noturno de Retrospecção como sendo o mais importante ensinamento da Escola Rosacruz. É um meio significativo de autoconhecimento.

Precedendo a Sócrates, outros filósofos também se celebrizaram, como por exemplo Tales de Mileto, Parmênides, Heráclito, Empédocles e o notável Pitágoras. Com exceção deste último, os “outros, em sua maioria, procuravam conhecer a PHYSIS, ou natureza das coisas exteriores e as leis vigentes no mundo material. Sócrates não os censurava por isto, mas afirmava haver elementos infinitamente mais dignos de atenção dos filósofos do que árvores e pedras. O espírito do ser humano, por exemplo. “Quem é o ser humano?, perguntava, e, em que poderá tornar-se”?

Sua grande preocupação voltava-se para os jovens atenienses daqueles tempos. Procurou incentivá-los a discutir problemas tais como a virtude e o melhor governo. Proclamava que, aparentemente, não havia motivo para um indivíduo não proceder como bem entendesse, uma vez se mantivesse dentro dos limites traçados pelas leis. Cria numa moral natural e não imposta. “Como desenvolver uma nova moralidade em Atenas, e como salvar o país?”, perguntava. Por responder tais perguntas encontrou a morte.

Quanto à questão do melhor governo, propugnava uma posição de destaque para os mais apurados espíritos, pois uma sociedade só consegue tornar-se estável quando guiada pelos mais sábios.

Atenas era um campo onde as ideias se entrechocavam. E numa fase de violência exacerbada, a sorte de Sócrates foi lançada. Acabou encarcerado, sob a acusação de disseminar uma “abominável filosofia aristocrática” e corromper a mocidade. Foi condenado à morte. Sentenciaram-no a beber cicuta.

Amigos fiéis organizaram-lhe uma fuga. Mas ele recusou. Talvez julgasse ser tempo de partir, melhor ocasião de morrer tão utilmente por certo nunca mais se lhe oferecesse. Após ingerir gota por gota o veneno mortal, ainda encontrou forças para dirigir um último apelo a seu amigo Críton: — “Devo um galo a Asclépio, não se esqueça de resgatar essa dívida”.

Críton fechou-lhe as pálpebras. Tinha setenta anos de idade. Corria o ano de 399 A.C.

(de Gilberto A.V. Silos – Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1978)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

“Lamento de um Vegetal”

“Lamento de um Vegetal”

Olha o que me fizeste. Com teu machado me cortaste. Hoje, sou um tronco velho e apodrecido. Lembras-te? Um dia fui uma bela árvore. Muitos foram os viajantes que, exaustos, descansaram no frescor de minha sombra.

Muitos foram os pássaros que fizeram seus ninhos em meus galhos. Inúmeras foram as borboletas que bailaram na beleza de minha flor. Por tempos e tempos transformei elementos brutos da terra em alimentos para mim e para ti.

Sem falar no ar que purifiquei. No ventre da Mãe terra fui um fruto, uma flor que o beijo do amor fez com que eu fosse uma árvore que tu cortaste com o teu machado.

Hoje, sou um tronco velho e apodrecido, mas ainda sirvo de abrigo aos insetos. E tu, que fazes, além de cortar árvores?

(Publicada na Revista Serviço Rosacruz – 02/1978)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O que o Mundo nos ensina: observe-o como se deve

O que o Mundo nos ensina: observe-o como se deve

Quando logramos desviar nossa atenção dos problemas existenciais, para contemplar, por algum tempo, a natureza, constatamos o quanto ela nos tem a ensinar. Mas, para tanto, exige-se aquela disposição interior, característica de uma criança: isenção, desejo de aprender, simplicidade, mente aberta, ausência de ideias preconcebidas, etc. Quando nos deixamos dominar por semelhante estado de espírito, tornamo-nos capazes de penetrar na essência das coisas. Nessas circunstâncias é que recebemos “olhos para ver a luz que já existe”, como afirma a Oração Rosacruz.

Quando observamos o mundo e tudo o que o compõe, com ânimo espiritual, podemos ficar maravilhados com a harmonia existente em meio a tanta heterogeneidade. Partes desiguais formam conjuntos perfeitos. Opostos se completam. A unidade se realiza em torno da diversidade. Há diferenças em todo lugar e em quase todos os níveis. Porém, unidas, deixam transparecer uma ideia de integralidade.

Diferença… sim, as diferenças…

“Até entre as estrelas há diferença de esplendor”, afirmou São Paulo em uma de suas Epístolas. Se atentarmos para o que ocorre ao nosso redor, estabelecendo comparações entre os quatro reinos da natureza (mineral, vegetal, animal e humano), notaremos diferenças, algumas vezes até profundamente contrastantes, entre os seres componentes de cada agrupamento. A evolução encontra-se presente. As leis que a regem são atuantes em cada reino. Promovem uma escala que abrange diversos níveis de adiantamento, desde os seres mais inferiores, mais atrasados, até os pioneiros, os mais avançados.

Uma análise dessas pode resultar numa indagação; afinal, o que determina as diferenças? Por que alguns avançam mais que outros?

Vários fatores seriam respostas corretas. Entretanto, até “entre eles existe diferença de esplendor”. Alguns deles assumem maior importância, como por exemplo, “a prestação de serviço”. O progresso de qualquer ser depende do serviço que possa prestar, isto é, de sua utilidade à economia da natureza, aos componentes de seu grupo e, em uma esfera mais ampla, a todos os reinos. Isso requer e promove simultaneamente um crescente e progressivo desenvolvimento de faculdades e potencialidades. Uma qualidade, por menor que seja, tende a ampliar-se, atingindo dimensões inimagináveis, à medida que for aplicada ao bem comum. Essa disposição determina o estágio evolutivo de cada ser, pertença ele a qualquer reino da natureza.

Dessa forma, observamos, no reino mineral, a existência de terras áridas (atrasadas) e férteis (adiantadas). Entre os vegetais, encontramos plantas superiores (produzindo frutos) e as inferiores (como, por exemplo, as chamadas ervas daninhas).

No reino animal, damos especial ênfase aos mamíferos, dentre esses destacando os animais domésticos, cuja maneira de viver sugere até uma certa inteligência.

Ora, se entre os componentes dos reinos inferiores, onde inexiste a individualidade, pode-se notar esta gradação de adiantamento, utilidade e consciência, entre os seres humanos haverá uma escala “ad infinitum”, profundamente diversificada.

Cada ser humano constitui um degrau diferente na escala evolutiva, uma lei em si mesmo, “um mundo (microcósmico) à parte”.

Entre um Albert Einstein e um pigmeu africano, entre um Átila e um São Francisco de Assis, existem naturezas tão diametralmente opostas, que qualquer tentativa de comparação se torna até irracional.

Por que tais diferenças? A resposta nos é dada pelas leis que regem o próprio universo: em todo o macrocosmo há um estado permanente de atividade (objetiva ou subjetiva), onde tudo se renova e se aperfeiçoa. Se algo não acompanhar esse fluxo contínuo de aperfeiçoamento, entrará em choque com as leis cósmicas, atrasando-se, inevitavelmente, no contexto evolutivo.

A evolução, portanto, é o resultado de esforços persistentes.

Desde os primórdios da raça humana, alguns seres se destacaram dentre a maioria. São os vanguardeiros, os pioneiros, aqueles que sempre aspiram à LUZ, procurando adaptar-se às novas condições impostas pelo processo evolutivo.

Em um passado longínquo, a humanidade recebeu ajuda de seres vindos de Vênus e Mercúrio, na forma dos primeiros rudimentos de civilização e organização social. Cumpriram, os visitantes, essa missão até a época em que alguns seres humanos, mercê de seus esforços, fizeram-se merecedores do privilégio de “condutores de gênero humano”. Foram os primeiros Iniciados. A partir de então, tornaram-se os Guias terrestres da evolução humana. Seu trabalho começou a produzir frutos. A luminosidade da consciência foi gradativamente dissipando as trevas do obscurantismo.

Assim, surgiram as primeiras Escolas de Iniciação, aperfeiçoando-se no decurso dos tempos, cobrindo-se de novas roupagens segundo as necessidades de cada época. Vieram transmitindo novas facetas da verdade, à medida que o ser humano as merecesse e pudesse assimilá-las.

Eis, portanto, em síntese, a razão de tantas diferenças. O avanço ou atraso dependem de esforço em maior ou menor grau. A própria natureza nos ensina isso.

(Publicada na Revista Serviço Rosacruz – 01/1978)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Ajudar Sempre

Ajudar Sempre

Todo Aspirante à Vida Superior deve ter em mira ajudar sempre, sejam quais forem as circunstâncias e ocasiões, mesmo diante de problemas graves e delicados. Esses, de forma alguma o perturbam, pois mantêm, em seu coração, a CONSTÂNCIA de ajudar, pautada pelo salutar espírito de equipe, que significa, entre outras coisas, compreensão e desprendimento, fatores indispensáveis à efetiva colaboração no formoso trabalho iniciado pelos queridos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, em benefício da Humanidade.

O Aspirante à vida superior que procura, realmente, VIVER A VIDA, como nos ensina Max Heindel, jamais busca fuga, seja qual for, visando escapar do trabalho em equipe. Tem, internamente, condições tais que, externamente, nada o surpreende ou causa apreensões. Em outras palavras, sua estrutura interna se tornou sólida.

Sabe, também, que o sublime trabalho iniciado por aqueles compassivos seres, com vista à redenção da Humanidade, não deve sofrer arranhões, oriundos de nossas deficiências ou desequilíbrios. Prefere, portanto, em sua elevada compreensão e amor, ajudar sempre. Só assim conseguirá o Aspirante, em sua peregrinação, superar, de modo seguro e efetivo, as tramas do “eu inferior”, que procura colocar no caminho obstáculos e desentendimento. Na verdade, quanto mais o Aspirante busca se alimentar do bem, maior é o brilho da luz que o Cristo Interno lança para iluminar os caminhos. Numa das lições do Curso Preliminar de Filosofia Rosacruz, a Fraternidade Rosacruz nos alerta no sentido de vermos o bem em tudo. É de alta significação o que essa lição encerra, porém, quando passamos a entendê-la na prática, então, tudo se transforma para melhor, em alto grau. E, só assim, estará o aspirante à vida superior dando cumprimento aos Evangelhos, que representam quatro Iniciações diferentes. E, para ele atingir Iniciações, mesmo as menores, é necessário que procure, com destemor, se libertar de suas imperfeições, mediante o ajudar sempre, pois ninguém se salva sozinho.

(Hélio de Paula Coimbra, Publicado na Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1970)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Nós somos o que pensamos de nós mesmos e não o que os outros pensam de nós!

Nós somos o que pensamos de nós mesmos e não o que os outros pensam de nós!

Um dos grandes mistérios da vida em nossa Terra é a separação entre o Mundo físico e o espiritual. Vivemos em um mundo material, de que nos apercebemos através de nossos sentidos, os quais, não obstante, possuem consciência limitada desse Mundo físico. Por essa razão, a maioria da humanidade não se apercebe dos reinos invisíveis e não parece particularmente interessada em aprender coisas que a eles digam respeito. Isso deve-se em parte, indubitavelmente, ao fato de que os cientistas se têm negado sistematicamente a considerar a existência de qualquer coisa que não possa ser registrada pelos sentidos ou por dispositivos mecânicos inventados para tal fim.

Não obstante, existem atualmente muitos cientistas, psicólogos e pessoas letradas de gabarito, em qualquer campo de atividade, que demonstraram, por meio de seus escritos, terem aceito a premissa de um Espírito imortal no ser humano, que não perece com o corpo. Encontram-se alusões a verdades esotéricas na prosa e na poesia tanto do passado como do presente. O ser humano, atualmente, está se tornando maduro, espiritualmente, e, nas poucas décadas vindouras deste século, essas verdades tornar-se-ão as mais vastamente conhecidas e disseminadas. No crescente interesse quanto à astrologia e à filosofia esotérica em todo o mundo, evidencia-se ter chegado o tempo em que a ciência deverá iniciar sérias investigações nesse domínio.

Quando deixamos nosso corpo físico, por ocasião da morte, nascemos no Mundo do Desejo, a região mais próxima da Terra. O Mundo do Desejo compreende sete Regiões, das quais, as três mais inferiores constituem a área onde está o Purgatório, onde somos purgados de nossos pecados e quedas, quando morremos nessa vida. Há alguns que não deverão despender tempo algum nessa região: dessa maneira, é justo do mesmo modo considerarmos de quando em vez o que lá nos poderia acontecer. A matéria de desejos envolve todas as sete regiões do Mundo do Desejo e serve de material para a encarnação do desejo. O desejo é o grande incentivo da ação e, à medida que o ser humano se esforça em preencher os seus desejos, ganha experiência e conhecimento e, esperançosamente, alguma sabedoria. O desejo não pode ser realizado sem o pensamento e os pensamentos assim engendrados tomam forma e perduram conforme a intensidade do desejo. O Mundo dos Desejo é uma região de luz e cor eternamente mutáveis, na qual as forças dos animais e do ser humano misturam-se com as forças de muitas Hierarquias de seres espirituais.

Do mesmo modo que os nossos corpos físicos se derivam do mundo material em que vivemos, assim também a nossa existência mental e espiritual depende da presença mental e espiritual de outros seres além de nós. Embora não possamos vê-los, nossas proximidades estão repletas de presenças espirituais, boas e más, de acordo com o tipo que atrairmos, em virtude de nossas atitudes perante a vida e nossos semelhantes.

Toda nossa atividade mental é devida aos estímulos que atraímos, tanto do reino espiritual como do físico. E mesmo o que poderíamos considerar como sendo um pensamento único e original, passou a existir em decorrência de sugestão vinda dos mundos invisíveis ou do nosso próprio mundo material. O campo de consciência do ser humano é, em grande parte, uma zona elétrica passiva em torno dele, até que as vibrações nele penetrem graças a algum estímulo externo.

Cada vibração engendrará uma resposta nessa zona e se incorporará às vibrações congêneres, formando, desta maneira, combinações que fazem nascer um pensamento. Desse modo, cada pensamento está sujeito a crescer, como uma planta, à medida que procura afinidades, interna e externamente. Se o ardor e a intensidade do interesse desvanecem, o pensamento debilita-se e morre, por falta de nutrição. Poderá, contudo, deixar nódulos na memória, que poderão tornar a despertar, se alguma ocasião assim o exigir. Muitos pensamentos estão pairando e não são lembrados; mas, quando os nossos pensamentos forem atiçados pelo interesse e pela concentração, tornam-se parte viva da consciência, existindo mesmo após terem sido expelidos da Mente originadora e podem se manifestar novamente, quando invocados, ou afetar algumas outras Mentes receptivas.

Destarte, podemos ver rapidamente como a atenção concentrada de muitas pessoas fortalece as vibrações de uma forma de pensamento, e isso é a base dos desvarios coletivos e da psicologia que influencia a Mente das massas. Uma forma de pensamento viva, embora possa não estar mais ligada ao seu criador, persistirá durante tempo em que ache um campo de atenção. Torna-se uma realidade no Mundo do Desejo, através da atenção concentrada de uma ou mais Mentes. Assim, é impossível ao ser humano impingir no Éter formações de pensamento que possam existir mais ou menos independentemente dele. Essas formações poderão ser poderosas, tanto para o bem como para o mal, na conformidade de seus conteúdos.

Uma vez que os pensamentos similares criados se unem e crescem, e podem tornar-se contínuos e até mesmo permanentes, no Mundo do Desejo, certas ideias implantadas na Mente do ser humano poderão afetar sua evolução e retardar o seu desenvolvimento espiritual, durante algum tempo. Exemplo disso são as crenças religiosas incutidas nas Mentes humanas durante séculos, por parte de um sacerdócio dominador. Uma Religião que não propicia modificações ou aceitações de novas ideias manterá os seus membros unidos doutrinariamente, bem como ligados à Terra. Felizmente, mesmo sob uma crença desorientada, a verdadeira adoração e aspiração espiritual são reconhecidas e obterão uma justa recompensa.

Se a atividade mental de alguém, na Terra, tiver sido prejudicial ou ignóbil, a própria pessoa se encontrará em uma condição dolorosa quando tiver de deixar o corpo físico. As formas ruins de pensamentos vêm em detrimento, não apenas dos viventes, mas também dos nossos mortos, que devem permanecer durante certo tempo na região contígua à nossa Terra, no Purgatório. Muitos, embora fora do corpo, são tão involuídos, que procuram agir lá do mesmo modo que fizeram no Corpo Denso. Podem avaliar os nossos pensamentos e vibrações etéricas, que se misturarão com as suas, caso se harmonizem. No Mundo do Desejo somos como pensamos, e criamos o nosso próprio céu ou inferno lá, conforme o modo em que pensarmos aqui. Tanto o bem como o mal vivem após a morte, ocorrendo que nosso sofrimento no Purgatório é autoinfligido, porque é resultado de nossa própria criação.

A Atração e a Repulsão são as forças ativas no Mundo do Desejo. A afinidade de pensamento é a única coisa que governa a condição do Espírito quando ele adentra essa região. Ali nenhum pensamento poderá ser ocultado. Uma ideia torna-se visível a todos no momento de seu início. Poderá atrair apenas formas de pensamentos com as quais esteja de acordo; o bem atrairá a sua própria espécie, misturar-se-ão e fortalecerão um ao outro. Os pensamentos maus tentarão unir-se com outros maus pensamentos, mas, sendo auto-afirmativos, têm um efeito oposto e tornam-se mutuamente destrutivos. Desse modo o mal é reprimido. No Purgatório, a força repulsiva é dominante, porém a força de Atração ganhará à medida que o Espírito se limpar. Até mesmo na região mais inferior dos desejos sexuais encontra-se algum bem e os Anjos procuram desenvolvê-la.

Não há modificação na natureza de uma pessoa, após a morte. O mentiroso poderá tentar enganar ainda, mas como nada pode ser ocultado, o seu verdadeiro caráter será revelado. O louco ainda é um louco, o autoindulgente ainda procura gratificar os seus desejos. Um sacerdote cerimoniosamente piedoso procurará criar uma atmosfera de pavor reverente para si próprio, tal como gozou na terra e, desse modo, estultificar realmente o seu próprio progresso, bem como o de seus seguidores. Muitos sacerdotes e pregadores religiosos pertencem a essa categoria. Conforme procurem desempenhar o mesmo papel no Mundo do Desejo, por eles desempenhados na Terra, convocam um seguidor e ensinam a letra da lei entre os perversos, que suportam o seu ministério antes com paciência, do que com agrado. Alguns Espíritos, cujas posições na Terra permitiram-lhes fazer algum bem inadvertidamente, dali colherão pouco benefício, mas sofrerão severamente devido a não terem aproveitado muitas oportunidades de praticar o bem, por eles desprezadas. Os que apregoaram as suas caridades perante o público ou visaram adquirir a boa vontade dos seres humanos, procurarão desesperadamente atingir o final dos seus castigos, fazendo promessas extravagantes a fim de conseguir os seus intentos. Uma vez que suas verdadeiras atitudes não podem ser escondidas, recebem pouca atenção. Todas as emoções negativas que uma pessoa possa abrigar são aqui exibidas.

Todas as invejas e ciúmes, ódios e animosidades serão exibidos e o Espírito sofrerá, em consequência. A pessoa insincera achar-se-á em uma prisão de fadiga e frustração. Destarte, devemos compreender que o nosso modo de pensar e as nossas atitudes secretas em relação a nossos semelhantes devem ter mais influência em nossa situação após a morte do que o fariam nossos bons atos.

Inclinamo-nos a pensar que todos os seres espirituais sejam de uma ordem elevada: existem, porém, muitos seres de variados estágios evolutivos cuja missão é a de servir a seu Deus, ajudando no processo purgativo. As suas tarefas parecem repreensíveis e cruéis, mas tudo é governado por leis divinas. Podem eles fatigar suas vítimas e delas zombar até que elas, em desespero, apelam a uma força mais alta, pedindo auxílio. Os seus trabalhos fazem parte necessária da purga. Os próprios elementais permanecem inocentes e não contaminados por essas atividades. Muitas vezes o alcoólatra, quando sofre o “deliruim tremens”, ou o toxicômano, quando estiver fortemente afetado, veem esses elementais sob estranhas formas; também são vistos por aqueles que procuram os reinos elevados, através da meditação ou de certos exercícios, sem o necessário respaldo de uma vida construtiva.

Somos esclarecidos de que no Mundo do Desejo não há tempo e nem espaço, da forma que conhecemos aqui.  Considerou alguma vez o que isso significa realmente? Lemos essas palavras e talvez as aceitemos como verdades, mas pensamos realmente no que elas desejam exprimir? Ausência de TEMPO significa que nada do passado, presente e do futuro poderá ser trazido, agora, e ausência de ESPAÇO denota que nada poderá se manifestar, de modo algum. Então há de existir alguma força que governa o que deve manifestar-se em um dado lugar, em um certo momento: é o PENSAMENTO. Essa força do pensamento, que é uma atividade constante e contínua do Ego humano, através da Mente, permanece ainda indisciplinada e é utilizada de modo mais descuidado. Cada vez mais ouvimos afirmações como “Os pensamentos são coisas”, “um ser humano é aquilo que pensa em seu coração”. Somente o pensamento poderá controlar a nossa situação no outro lado e, realmente, também no mundo material. Os hábitos de pensamentos que tivermos cultivado durante o nosso período de vida na Terra controlarão a nossa condição após a morte.

Por isso é muitíssimo importante adquirirmos um controle sobre nossos pensamentos negativos. A pessoa amedrontada encontrará, com a maior certeza, elementais que a manterão em servilismo e em sofrimento até que, em desespero, sobrepuje seu temor e descubra que ele desaparece fazendo isso. Se uma pessoa acolhe, continuamente, pensamentos desagradáveis e grosseiros, em relação a seus semelhantes, atrairá outra entidade desagradável para atormentá-lo, até que percebe o que deverá vencer em si própria a fim de livrar-se deles.

Todas as formas de pensamento más aguardarão no purgatório para encarar seu criador, e este deverá viver com elas até que possa desintegrá-las por meio de um arrependimento e regeneração sinceros. Max Heindel se refere a essa região como um lugar de criaturas demoníacas, que se dilaceram e despedaçam de modo terrível.

Somente o espírito de abnegação apresenta um modo de se escapar desses reinos obscuros. Embora caído, um vislumbre de amor e de compaixão trará um anelo interior à procura do “caminho da ascensão”.

A alma caída deverá desenvolver determinações benévolas em seu próprio pensamento. “Semelhante atrai semelhante” é a lei gravitacional que cria a condição do Espírito, em conformidade com suas inclinações na Terra. Assim é realizada a divisão dos aptos e dos inaptos, dos puros e dos impuros e dos santos dos não santos. Porém, eles não ficam separados eternamente, porque pode-se encontrar uma presença, um chamado que trará um novo acréscimo de formas de pensamento, tanto para o santo como para o pecador. É essa abundância de oportunidades, ofertadas por meio do amor de Deus, a esperança do pecador e a mortificação do santo. O ser humano pode aceitar a direção de Anjos ou de demônios e a sua escolha cria seu céu ou inferno.

O eterno ajustamento da vontade do ser humano à vontade de Deus é ativo em todas as fases do ser, a física, a emocional, a mental e a espiritual. O sacrifício ou expiação, por meio do Corpo de Desejos através da dor e no qual o ser humano pode sobrepujar o seu sofrimento, está agindo sempre. Não há descanso ou escapatória. Há ministros amorosos no Mundo do Desejo, aguardando poderem ajudar ao ligado às coisas terrenas, àqueles que ainda se encontram na Terra. Tão logo uma pessoa se inteire de seu Eu espiritual e realize o seu “status”, seja na Terra ou no Purgatório, recebe oportunidade de progredir. A interatividade de um Espírito avançado com outro menos avançado melhorará os pensamentos criados pelo último. Foi-nos dito que há um ministério de Anjos para auxiliar esse esforço. Aqui na Terra, atraímos os visitantes angélicos em todos os nossos momentos de esforços espirituais.

No Mundo do Desejo não há uma pessoa segregada de outra: todas são uma só, cada uma dentro da aura da presença da outra e são vistas ou deixam de sê-lo de acordo com a sensitividade de cada um. Somente o nosso desenvolvimento espiritual separa-nos dos seres dessa região. Devemos imaginar o Espírito individual como um sol em torno do qual giram os pensamentos criados por ele próprio. O Espírito é o criador de cada pensamento e está sujeito ao seu comando. O pensamento está separado de seu criador, porém a ele está ligado pela Lei de Atração. Em nosso cosmos de pensamentos desempenhamos o mesmo papel de Deus em relação à Sua criação. Está à nossa escolha se nossa atividade mental nos torna colaboradores ou não do plano de Deus.

Um Deus de Amor não pune por vingança; desse modo, está ao nosso alcance mitigar ou eliminar a experiência purgatorial, mediante o exercício da Retrospecção e do arrependimento e da reforma sinceras. A citação “Ame teu próximo como a ti mesmo” é mais do que uma simples máxima: trata-se de uma lei científica e obedecê-la deve ser o primeiro mandamento nos assuntos relativos a nossas vidas.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de janeiro/1970)

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