A Era ou Idade de Aquário
A aurora de um novo dia é o que deseja o ser humano, quando atinge o nadir em seus esforços evolucionários e se encontra ante o umbral do ÚNICO CAMINHO PARA FORA.
Nesse extremo, o véu entre o irreal e o essencial, entre a obscuridade e a luz, é muito sutil, mas é o momento em que as criaturas de Deus estão em condições de receber a luz de uma nova Aurora; com esse fim a voz da “Fraternidade Rosacruz” vem trazer a mensagem para que trabalheis em cada um e para o bem de todos.
Trabalhando na reforma interna, é necessário primeiramente, conhecer-se a si mesmo e chegando a esse conhecimento — que é o maior de todos os conhecimentos — estareis prontos para ser os pioneiros que formarão um novo mundo e uma melhor humanidade. A conquista dessa luz da nova aurora, que a Era de Aquário trará, e para a qual se preparam os precursores, exige, antes, uma revolução dentro de cada um, de imperiosa urgência em todos, para que não suceda como nos tempos do dilúvio, do qual, simbolicamente, nos fala a Bíblia.
Tormentas vulcânicas poderão desenvolver-se dentro do indivíduo e como sombras caóticas, arrastar as coletividades, de nações e de raças, por não estarem em condições de compreender as leis divinas que regem o universo e o ser humano. O ser humano está disposto a empreender uma dinâmica carreira nas obscuras compreensões que há do Além — buscando, desse modo, as soluções para os intrincados problemas da vida e da inteligência. Mas… a morte não converte um ignorante em sábio, nem um ateu em cristão, nem um profano em místico! É aqui que reside a necessidade de saber o que é Iniciação e como, realmente, se adquire o Corpo-Alma, com o qual, disse o Cristo: nós nos encontraríamos com Ele, no ar.
Mas isso só se obterá, quando o ser humano se encontre a si mesmo, conheça suas capas internas e consiga construir a “Porta de Saída” sem ruído de “martelo”.
Daqui em diante sua luz brilhará e atrairá o lrmão Maior que, em espírito, consciente, lhe ensinará a nota-chave da Escola de Mistérios, onde se preparará para ganhar a lniciação.
Fora disso, tudo é mera ilusão. Como existem as Escolas de Mistérios? Existem Sete Escolas de Mistérios Menores e Nove lniciações Menores; existem cinco Escolas de Mistérios Maiores e Quatro Grandes lniciações. Os Seres Sublimes que dirigem essas Escolas de Mistérios são os mantenedores do equilíbrio no Universo.
Os Mistérios Menores e seus ensinamentos estão organizados, particularmente, para o Mundo Ocidental. Os Irmãos Maiores Rosacruzes são seres humanos que se encontram muito acima do estado comum da humanidade; há doze lrmãos e um décimo-terceiro, que é o chefe. Estes lrmãos são os únicos que têm o direito de chamar-se Rosacruzes; sete deles vão pelo Mundo Físico, fortalecendo o bem, onde quer que passem; cinco ficam sempre no Templo invisível Rosacruz e seus trabalhos são levados a cabo desde os mundos internos.
Existem várias sociedades ligadas à Ordem Rosacruz que são manifestações presentes de atividades antigas, mas a Fraternidade Rosacruz — “The Rosicrucian Fellowship” — é um novo impulso, é algo inteiramente adequado à época vindoura. O método Rosacruz ajuda, sempre, a desenvolver, no Estudante, o sentimento de compaixão; por meio do conhecimento se lhe ensina a perceber o princípio da unidade de cada coisa no Todo e a identificar-se com o infinito, convertendo-se, em um verdadeiro cooperador e trabalhador no Divino Reino da Evolução que trará a Era de Aquário prestes a chegar!
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de março/72 – Fraternidade Rosacruz SP)
Pergunta — Qual a relação entre a força criadora sexual e o cérebro?
Resposta — O pervertido maníaco sexual é uma prova da asserção dos ocultistas de que uma parte da força sexual se destina à formação do cérebro. Tal pessoa torna-se um idiota ou incapaz de pensar porque normalmente a energia sexual destinada a procriação, e a manutenção e criação do cérebro é utilizada no seu aspecto positivo ou negativo, de acordo com a condição do indivíduo — homem ou mulher.
Pergunta — Qual a diferença entre essas pessoas e as que tendem à espiritualidade?
Resposta — Se uma pessoa é dada a pensamentos de ordem espiritual, a tendência de usar a força sexual para a propagação é diminuta e aquela parte não usada para esse fim, poderá ser transmutada em força espiritual.
Pergunta — Essa ideia não é favorável ao celibato?
Resposta — O lniciado em certa estação de desenvolvimento faz o voto do celibato. Não é um voto de fácil admissão e nem pode ser adotado levianamente por alguém desejoso de desenvolvimento espiritual.
Pergunta — É uma orientação fácil para qualquer pessoa?
Resposta — Muitas pessoas ainda imaturas para vivência superior, ignorantemente ingressam numa vida de ascetismo. Essas são tão perigosas à comunidade e a si mesmas como o são os maníacos sexuais.
Pergunta — Sob qual ponto de vista esse aspecto natural deve ser considerado?
Resposta — Na presente estação da evolução humana a função sexual é o meio pelo qual os Espíritos poderão ganhar experiência. Uma vez que o renascimento depende da união sexual, consideremos o caso das pessoas que são muito prolíficas e que por isso são levadas ao ato sexual desordenadamente. Elas pertencem às classes inferiores. Assim há dificuldades para as entidades prestes a renascer encontrarem veículos adequados e ambientes propícios ao desenvolvimento de suas faculdades, de tal forma a beneficiarem a si mesmas e a humanidade. Sob outro aspecto os indivíduos de classes mais abastadas, que poderiam criar condições mais favoráveis ao renascimento, têm poucos filhos ou mesmo nenhum.
Pergunta — Isso é porque vivem uma vida de pureza?
Resposta — Infortunadamente, não. Trata-se de razões puramente egoísticas. Razões para uma maior gratificação sexual, sem um aumento da carga familiar. Dessa forma o ser humano vale-se de sua prerrogativa divina para levar a desordem na Natureza.
Pergunta — Como poderá afetar o Ego em período de renascimento?
Resposta — O Ego renascente deve aproveitar as oportunidades oferecidas algumas vezes em condições desfavoráveis. Outros que não podem assim proceder devem aguardar até que se lhes apresente ocasião favorável. Assim afetamos uns aos outros por meio das nossas ações e da mesma forma os pecados dos pais recaem sobre os filhos.
Pergunta — Poderá tal fato ser chamado de o Pecado imperdoável?
Resposta — Como o Espírito Santo é a energia criadora na natureza, a energia sexual é o seu reflexo no ser humano. Portanto o abuso desse poder é o pecado que não pode ser perdoado, mas deve ser resgatado por meio de uma deficiência a fim de nos conscientizar da santidade da força criadora.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de março/72 – Fraternidade Rosacruz SP)
A Paz de Deus
De tempos em tempos ouvimos falar muito de paz; todavia, se pedirmos que nos deem uma definição da palavra “paz”, arriscamo-nos a obter uma resposta muito incerta e vaga. De um modo geral, pensamos que a paz é a ausência de guerra, ou a ausência de disputas, de ruídos ou qualquer ideia do gênero.
Essas coisas são, de fato, aspectos da paz, mas são todas negativas. De forma que somos levados a indagar se não há também um aspecto positivo. Uma coisa que é inteiramente negativa, se é que alguma coisa o pode ser, é sem dúvida insatisfatória e incompleta. Vejamos, pois, se não existe também um lado positivo.
Numa grande galeria de arte existe um quadro representando uma impetuosa queda de água, junto à qual cresce uma árvore. Num ramo dessa árvore, que se debruça sobre a queda de água, encontra-se um passarinho cantando em louvor a Deus. O quadro intitula-se “Paz”. Pensemos por um momento, e prontamente compreenderemos o que estava na mente do artista. Ele viu claramente, e representou com muito êxito, a ideia do aspecto positivo da paz.
Durante a primeira guerra mundial, foi uma coisa notável que, exatamente na “terra de ninguém”, por entre as granadas e as balas, os pássaros continuavam a sua vida normal, sem sequer saberem que o ser humano, que se imagina tão superior, lutava contra a sua própria espécie. Em certa ocasião, num castelo arruinado que se encontrava na linha de combate, eu e meus companheiros observamos um casal de andorinhas. Desde a madrugada até ao crepúsculo, esses dois passarinhos andaram de cá para lá, nas proximidades do seu ninho, trazendo ambos o bico cheio de moscas para os seus esfomeados filhotes. Viram também uma paz ativa.
Outro exemplo: Ouçam um pouco da música dos mestres — o “Largo”, ou o “Coro da Aleluia”, de Haendel, a “Sonata Patética”, de Beethoven, o “Noturnos”, de Chopin — e verão que essa música é ativa, que algumas dessas obras manifestam mesmo grande atividade, e, contudo, quando as tocamos ou ouvimos, sentimos uma intensa vibração de paz e conforto.
Na vida quotidiana encontramos a mesma coisa. Coloquemo-nos num grande edifício onde se produz força motriz, defronte de um grande gerador de corrente para uma cidade; ouçamos o seu constante e tranquilo sussurro, e sem dúvida experimentaremos uma sensação de paz.
Ou pensemos então no motorista de um carro, que segue por uma estrada adiante, e ouve o constante sussurro de um motor bem afinado. Ele está bem alerta, contudo descontraído na presença de um poder ativo, concentrado, mas dirigido.
Não, a paz não é negativa, não é um estado de inércia, mas sim uma sensação de atividade harmoniosa, pela qual nos sintonizamos com Deus.
Pensemos no ruído da máquina de escrever, que tem o poder de nos acalmar ou de nos irritar. Por que?
Simplesmente devido a forma como as nossas forças e emoções a ele reagem. E é sem dúvida aqui que se encontra a chave do mistério.
Não é a atividade ou a sua ausência que constituem a paz. É antes essa sensação íntima de harmonia e tranquilidade.
Mas, até aqui, temos estado a falar de paz simplesmente em relação a nossa condição humana. Para que possamos compreender a paz de Deus, não teremos de olhar ainda mais para dentro?
Em nossa vida quotidiana, estamos constantemente a encontrar condições propensas a perturbar e nublar os nossos Corpos de Desejos. Sempre que permitimos tal condição, perdemos imediatamente a sensação de paz, não é verdade? De forma que depende de nós defendermo-nos, reprimir a irritação ou a crítica em relação às ações do próximo; habituarmo-nos a dizer: “não a minha vontade, mas a tua”; aprender a considerar o ponto de vista das outras pessoas e, se se nos tornar necessário, dar a conhecer o nosso desacordo, fazê-lo com o devido espírito de amor e bondade. Quando procedermos assim — e concordamos que é uma coisa muitíssimo difícil de fazer — começaremos então finalmente a sentir aquela paz mais profunda, mais íntima, uma antecipação da verdadeira paz de Deus. Devemos observar que não há necessidade de nos retirarmos do contato com o mundo.
Evidentemente que não, pois dessa forma não podemos esperar senão os mais negativos aspectos da paz — a inércia, a qual de fato não é paz de forma alguma.
Não, nós não precisamos procurar a paz, temos é que harmonizar os nossos corações com o que nos rodeia. Tantas vezes ouvimos dizer: “Oh, se eu pudesse viver em outro ambiente!” Para quê? Uma vez que nos encontramos no ambiente mais propício para nós, nas verdadeiras condições escolhidas por nós próprios, antes de renascermos? Tantas vezes ouvimos, na verdade, e talvez o digamos a nós próprios: “Oh, se eu pudesse vir trabalhar aqui na Sede, como tudo seria simples para mim! ” Vejo um pequeno sorriso nas faces de alguns dos nossos obreiros.
Eles sabem perfeitamente que não é tão fácil. Aqui, como talvez em parte alguma do mundo, onde são enviados ensinamentos elevados e sublimes, onde as forças do bem são poderosas, exatamente aqui encontramos as forças negras do mal, concentrando-se para tentar anular todo esse bem. Ao passo que trabalhar na sede pode dar muita alegria e satisfação. É isso, sob certos aspectos, o mais difícil. Esses queridos amigos necessitam de todo o auxílio que pudermos dar-lhes. São apenas seres humanos, como nós próprios; cometem os seus erros; têm os seus problemas; conseguem fazer muito bem. Necessitam de pensamentos amorosos.
Devemos sempre lembrar-nos de que a Fraternidade não é apenas constituída pela Sede, mas sim pela soma total de todos os estudantes e Probacionistas, onde quer que se encontrem no mundo.
Por conseguinte, torna-se absolutamente óbvio que, ao procurarmos manter os nossos corpos sob fiscalização, ao tentarmos aprender a fé que se recusa a ser perturbada, então não somente começaremos a experimentar essa espantosa paz interior, a paz de Deus, mas começaremos também a irradiá-la para o mundo.
Com tudo isto, não conseguimos realmente definir a paz de Deus, não é verdade? Pois isso é algo que não se pode expressar devidamente. É qualquer coisa que apenas podemos sentir, à medida que nós formos nos reconciliando com aquela palavra espiritual de harmoniosa criação.
Mesmo assim, apenas entrevemos um fragmento da sua divina glória, pois é maior do que tudo que possamos imaginar.
Temos assim o aspecto positivo ou ativo da paz, e esse também é incompleto.
Para conseguir descobrir a verdadeira paz, temos necessariamente que equilibrar os dois polos. Ao passo que, em nossos múltiplos deveres e atividades, lutarmos por esse sentimento íntimo de paz, que é a presença de Deus, não devemos, contudo, negligenciar os nossos períodos de tranquila meditação, o silêncio das concentrações nos nossos serviços, a descontração e repouso das ocasiões em que nos encontramos a sós com os nossos pensamentos. Sim, ambas as coisas são muito necessárias, e quando conseguirmos abrir os nossos corações a esses dois aspectos da paz, experimentaremos essa paz divina de que tanto necessitamos nestes conturbados tempos.
“Possa a paz de Deus, que ultrapassa todo o entendimento, manter o nosso coração e a nossa mente no conhecimento e amor Divinos”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de 02/72)
A Nossa “Bondade” tem que adquirir Força em Si Mesma
Durante a nossa jornada de purificação, quando nos esforçamos por mudar seriamente de vida e tornar-nos cada vez melhores corremos o risco de acabar parecendo tolos, dando ensejo a que pessoas mal informadas, interpretem nossa bondade baseadas em seus próprios padrões, como sinal de fraqueza. Daí podem surgir situações difíceis que vão exigir tremendos esforços de nossa parte, para que sejam corrigidos todos os enganos, e as coisas colocadas em seus lugares. Na verdade, leva um bom tempo até que nosso esforço para sermos melhores, apareça revestido de sua própria verdade, sob sua real aparência. Antes disso, há um longo incômodo interno até que se chegue a adquirir o aspecto de tranquilidade, paz e desprendimento real, que não poderá mais ser confundido com a aparência de uma pessoa tola e desavisada.
Para isso, nossa “bondade” deve adquirir força em si mesma, criada não só pelos nossos bons propósitos, mas principalmente pelas nossas boas realizações.
O exemplo máximo de força encontramos em Cristo Jesus, que era bom, justo, honesto e manifestava todas as qualidades superiores que eram raras na humanidade de seu tempo. Essas qualidades eram fortes e se sobrepunham às iniquidades e fraquezas dos que O cercavam, fazendo-O amado por uns e temido por outros. E foi por temor à força dessas qualidades que O crucificaram. Mas embora fosse Cristo um enviado do Pai para sacrificar-se por nós, redimindo nossos erros pelo seu sangue derramado na cruz, é seu exemplo que temos de seguir, para que seja possível despertar a força que existe em nós, e que é Deus em nosso próprio íntimo.
Porque, só quando pudermos nos apoiar nesta força, é que alguma coisa começará a dar frutos, no longo caminho de preparação que vimos trilhando. Esses frutos, porém, muitas vezes poderão parecer fugazes, como se a força conquistada em bem, nos esteja escapando, fazendo com que nos sintamos subitamente sós e desamparados. Mas, embora isso aconteça, não será prova de que Deus nos abandonou e retirou de nós a sua força.
Pelo contrário, vem provar que Ele está ainda mais próximo, a ponto de nos permitir experimentar nossa própria solidão, e nos fazer compreender e sentir que Ele é também esta solidão, que Ele também está no nosso desamparo.
Uma coisa é certa: nunca estamos sós. Deus está sempre presente, e é a nossa constância no Bem, nossa permanência na Verdade, que nos levará a sentir cada vez mais real a presença Divina. Mesmo que a impressão dessa Presença mude, que já não se manifeste como apoio, como graça, como auxílio, mas como percalço, como dura experiência, mesmo assim, ela, a Presença, está cada vez mais perto e mais sutil; não como uma força externa, mas como Poder dentro de nós mesmos, como aquisição conquistada pela nossa própria permanência na fé. E esta deve ser a nossa maior esperança quando tivermos que colocar à prova a nossa bondade, num mundo que nem sempre encontraremos preparado para recebê-la.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/73)
Você tem qualidades para renovar o mundo?
O verdadeiro renovador não é aquele que agride os outros acusando-os de todas as falhas; que descarrega sobre os ombros alheios a responsabilidade de todas as coisas; — que permanece na parte externa dos acontecimentos.
Não. O verdadeiro renovador, se sente – ele mesmo – igreja, fraternidade, sociedade, “os outros”, comprometido com a vida até suas últimas consequências. Não se evade, colocando culpa nas estruturas e obstáculos para uma realização.
O verdadeiro profeta está disposto a dar a vida pela causa comum e sabe que as estruturas por quanto inadequadas e injustas, não o impedem de amar e doar-se totalmente. Conta-se que o Capitão Cortés, ao chegar ao México, queimou os navios, para externar com esse seu gesto que não era possível voltar para trás. O autêntico renovador não foge da situação, mas a enfrenta com espírito de total disponibilidade.
Que se deve, então, fazer? Devemos ser os pioneiros de um mundo novo, de uma sociedade melhor do que aquela em que vivemos. Somos chamados a fazer coisas que vão além da lógica e da psicologia.
Dar aos outros todo o nosso tempo e toda nossa vida, não é lógico, nem psicologicamente possível, e, no entanto, isto não é uma utopia.
O renovador é um ser humano de vitalidade ascendente, isto é, um ser humano que onde se encontra, leva a vida, a alegria, embora muitas vezes tenha que dizer: Não. E o diz com tanto amor, que também nesse caso, comunica um sentido de grandeza e elevação. Seu oposto é o ser humano de vitalidade descendente, isto é, a pessoa que trata as coisas de cima para baixo. Mesmo num ato generoso, deprime.
É muito importante ser consciente da dialética entre vida e morte, abraço e repulsa, alegria e tristeza.
Hoje nós conhecemos por dentro o problema da guerra, da fome, da alienação, do vazio existencial, mas exatamente porque desejamos ser renovadores, julgamos que a vida é mais bela do que a morte, que é melhor construir que destruir, melhor amar que odiar, melhor a alegria do que a tristeza.
Essa é a primeira característica da espiritualidade de um renovador.
Não tenho confiança nas pessoas e nos grupos que vivem a renovação em um clima de agressividade e de amargura, jogando pedra em todo mundo.
Além disso tudo, o verdadeiro renovador deve ser um poeta para criar um mundo novo. Mais do que burocráticos e organizadores, precisamos de poetas. Falando isso não quero dizer que se deva desconhecer a necessidade da ciência, da técnica e da organização. Quero dizer que se o fogo da poesia não aquecer tudo isso, estará condenado à atrofia.
Que risco corre quem se torna autoridade? Uma pessoa planificada, escrava da engrenagem burocrática, sem asas para idealizar e prever o mundo do futuro. Essa doença enfraquece todas as instituições de nossa sociedade.
Daí a necessidade de, em todos os níveis de nosso mundo político, social, econômico, eclesiástico, criarem-se grupos de pessoas que sonhem com novas fronteiras. Erra quem ri dos contemplativos, isto é, daqueles que se deixam atrair pelas estrelas, pelo sol, pelo fio da erva, pelo canto dos passarinhos… daqueles que colhem os sinais dos tempos.
Hoje temos necessidade de artistas, de músicos, de poetas, de pessoas que olhem para mais longe. Os técnicos valorizarão as ideias deles. Por que os jovens de nossos tempos gostam da música? É evidente: existe nela a visão de um mundo completamente novo.
Uma terceira característica do renovador é ser existencialmente empenhado. Deve ser uma pessoa disposta a perder tudo, sem nenhum compromisso; a dar-se inteiramente e para sempre; uma pessoa com a qual se pode contar, porque não é ligada a ninguém e a nada, porque não procura fazer carreira, nem visa lucro, nem a própria promoção. É toda empenhada em realizar um novo céu e uma nova terra, uma nova sociedade, uma nova igreja. Por isso se empenha em conhecer os outros pelo nome. A sociedade do futuro não será uma sociedade anônima. Sinto-me humilhado quando me encontro com alguém que conheço e não me lembro o nome. Um conhecimento desse tipo não é possível se a sociedade não se estrutura, desde a base, de um modo humano.
Ocorre fazer a experiência de fraternidade com um pequeno grupo para vivê-la em todas as circunstâncias. Não se pode prescindir dessa experiência se se quiser chegar a uma verdadeira renovação.
Não se é renovador se não se decide a esquecer a si mesmo e a procurar o outro, acolhendo-o no mistério de sua interioridade. O verdadeiro renovador se empenha também no diálogo. O que é o diálogo? Dialogar é ver o mundo com os olhos do outro, é dar ao outro os meus olhos para que também o possa olhar. Não é falar um depois do outro, mas é dizer um ao outro: “por favor, você me dê seus olhos”. “Você” vê coisas que ainda não vi, conhece regiões, pessoas que eu não conheço. E você os viu numa perspectiva diferente da minha e participou dos acontecimentos de modo diferente. É maravilhoso ver o mundo com os olhos dos outros. O renovador é aquele que se decide a amar. É fazer um “nós” com os outros. É muito triste encontrar um pseudoprofeta que fala da religião, dos povos subdesenvolvidos como de terceira pessoa. O verdadeiro renovador é aquele que descobriu o “nós” ao nível do ser e do fazer. Cometemos um grave pecado instaurando um desencadear sem fim de racismos: aqui, ricos; lá, pobres. Aqui os brancos, lá, os negros. Aqui os do Norte, lá; os do Sul. Aqui os progressistas, lá; os conservadores.
Quando, nas fronteiras, me pedem o passaporte, sinto todo o ridículo da situação.
Nós que não estamos dispostos a aceitar passaportes, carimbos de nacionalidades, fronteiras e barreiras, nós que estamos dispostos a sermos uma só coisa, a nós está confiada a criação de um novo tipo de sociedade e também, por que não, um novo tipo de religiosidade.
Para esse trabalho, porém, são necessárias duas ações convergentes: uma de baixo e outra de cima. Se do alto impuserem novas estruturas sem que a base esteja preparada para acolhê-las, a troca seria artificial. Por isso ao lado das soluções radicais previstas pelo alto é necessário um trabalho de sensibilização das consciências às novas exigências do tempo.
Por isso são muito necessárias hoje pessoas ricas de carga interior, que traduzam seus pensamentos em ações concretas, que escutem as consciências e as façam mais sensíveis aos problemas da renovação. Quem tem dotes para agir do alto, use-os; quem, ao invés, é chamado a colaborar de baixo, se empenhe nessa linha. Só assim faremos um novo céu e uma nova terra.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de jan/72)
Pó de Diamante
Foi fascinante observar como um relojoeiro polia o delicado eixo de uma engrenagem de relógio. À medida que uma roda girava em minúsculo torno, o operário perito gentilmente comprimiu um pedaço de madeira macia contra a superfície estreita da espiga. Entremeio havia pó de diamante — o mais eficiente abrasivo conhecido na profissão.
“A espiga é a superfície externa da roda”, esclareceu-me ele. “Se esta peça não tem exatamente o formato que deve ter, é preciso poli-la de novo. O balancim é o coração do relógio, e se houver nele alguma dificuldade, qualquer coisa poderá acontecer depois”.
Aquela substância branca aparentemente inócua, aplicada com tanta suavidade pelo relojoeiro era que dava polimento a espiga e restituía ao balancim sua primitiva eficiência. O pó de diamante é o melhor dos abrasivos. O pó branco desfaz as asperezas e restitui as coisas a sua superfície lisa.
Muitas vezes na vida, nossa maquinaria mental e emocional deixa de funcionar com suavidade porque alguma coisa não está em perfeito estado. O balancim da vida faz atrito em muitos lugares porque a espiga está sulcada de deformidades desagradáveis, e crivada de depressões de pecado. Naturalmente, ficamos angustiados e ansiosos, porque não estamos com o nosso tique-taque correto.
Tudo parece andar errado quando alguma coisa no coração não funciona bem. O reconhecimento disto é o primeiro passo a tomar para prover uma solução para o problema. Portanto, certificai-vos de que o passo seguinte seja tão sábio quanto o anterior.
Ide ao Relojoeiro. Não vos desmontes sozinhos, e, por vós mesmos, remonteis. Evitai pensamento demasiado que reflita o próprio eu. Por que tentar por vós mesmos o conserto do balancim da vida? O Operário celestial consertá-lo-á. Sede pacientes e submissos ao trabalhar. Ele é seu torno, enchendo os vácuos do pecado e nivelando as detestáveis asperezas do egoísmo. Ele poderá usar um aparente abrasivo para polir a espiga, mas justamente isso é necessário para endireitar as coisas. Reponhamos, então, o balancim no relógio e observemos-lhe o funcionamento. Funciona suavemente de novo, não é verdade?
A Vida não é tão má quando aprendemos esse segredo, e buscamos de seu Autor, fortaleza e segurança. Teremos todos, alguma dificuldade com nosso balancim, cedo ou tarde; mas o Relojoeiro sabe solucionar a situação se Lhe concedermos a oportunidade de fazê-lo.
E os métodos que emprega para corrigir-nos são para o nosso bem. O pó de diamante é um aparente abrasivo, mas remove as asperezas e torna-nos de novo suave a vida.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de fev./69)
Um Desvirtuamento altamente perigoso
Quase todas as nações estão padecendo de um mal cada vez mais crônico: a utilização desvirtuada dos meios de comunicação. Para alguns, pode até parecer que temos algo contra a televisão, por exemplo. Mas isso não é verdade. Apenas lamentamos a destinação irresponsável desse abrangente veículo. Cremos ser possível fazer bons programas. Por que isso não acontece?
Sabemos quão negativo é criticar ou verberar em demasia. Porém, nossa consciência de estudantes rosacruzes não nos permite o comodismo da omissão. Sentimo-nos na obrigação de alertar para o perigo que constitui o emprego de um meio de comunicação – diariamente invadindo nossos lares – para uma finalidade nada construtiva.
Alguns programas são instrutivos e esclarecedores. Não nos iludamos, contudo.
São raros e de baixíssima audiência, pois as emissoras não lhes dão destaque nas “chamadas”. Parecem levá-los ao ar apenas por desencargo de consciência. Afinal, as massas apreciam viver ao sabor das ondas da emoção. Não lhes interessa pensar, porquanto julgam ser esse exercício enfadonho e incômodo, mormente após um estafante dia de trabalho. Nessa linha de raciocínio puramente útil esbarram os argumentos das pessoas bem intencionados. Como o objetivo final da televisão é lucro, não é difícil deduzir porque predominam os programas de auditório, os “enlatados” e as telenovelas.
Encontramo-nos numa fase de transição da Idade de Peixes para a de Aquário.
Todo período de transição caracteriza-se por transformações bruscas e uma generalizada sensação de insegurança. Os espíritos, principalmente os menos evoluídos, renascem em grande número. Sentem necessidade de passar pelo “tratamento de choque”, ou seja, pelas duras experiências, comuns a esse marcos evolutivos.
Como “semelhante atrai semelhante” é fácil imaginar porque os programas de baixo nível registram grande audiência. Eles “alimentam” o íntimo de um número espantoso de seres.
Agora, o leitor tenderá naturalmente, a perguntar: como o problema poderá ser resolvido?
Bem, uma solução que nos ocorre no momento seria uma tentativa dos seres humanos conscientizados do problema, em sensibilizar os empresários do ramo. Eles devem sentir a responsabilidade que lhes cabe quanto à formação do caráter das pessoas. Vale lembrar que o maior segmento da nossa população abrange crianças e adolescentes, justamente nas faixas etárias em que se plasmam os caracteres. Portanto, nossos líderes de televisão devem admitir que em suas mãos exista uma faca de dois gumes. Perante a Lei de Consequência responderão pelo uso que fizerem desse veículo de tão grande alcance.
Os malefícios da televisão, entretanto, não param por ai. Em outros aspectos esse poderoso meio de comunicação merece ser revisto, e até reformulado. E por que não? Outra das acusações que lhe pesam é a de isolar as pessoas, tornando-as pouco sociáveis. Se alguém duvida dessa afirmação, então procure visitar alguém durante o horário das novelas. Faça-o e depois confira. Ora, o ser humano é gregário por natureza. O relacionamento é parte indissociável de sua existência, por compreender um intercambio de sentimentos, ideias e aspirações. Quebrar essa reciprocidade significa violentar a própria natureza de cada um. Vocês notaram como o diálogo no lar torna-se cada vez mais raro?
Há quem diga, também, ser a televisão responsável pelo fato de nossos jovens quase não apreciarem a leitura. Por essa razão, muitos têm dificuldade em redigir corretamente até um simples bilhete. Os vestibulares a cada ano atestam isso. O audiovisual televisivo acomoda muito a capacidade intelectual das pessoas, roubando-lhes o estimulo para raciocinar e deduzir.
Mas não se julgue que tal problema ocorra apenas no Brasil. Um artigo publicado recentemente pela revista norte-americana “NEWSWEEK” revela a existência, nos Estados Unidos, de pelo menos 23 milhões de analfabetos. O problema agrava-se, a tal ponto, do governo americano estar elaborando, para os próximos anos, programas intensivos de alfabetização de adultos.
De acordo com os especialistas, três fatores estão concorrendo para a gradativa deseducação do povo norte-americano: o “bombardeio” ininterrupto de determinados programas de televisão, “que, decididamente, não melhoraram o nível cultural da população”; as estruturas educativas, que, atualmente, não correspondem mais as suas finalidades e, por último, o semanário menciona o tipo de vida predominante no país.
Esse último fator, acrescenta ”NEWSWEEK”, “isola pavorosamente o indivíduo em mini-comunidades, através de seus múltiplos jargões”. Prossegue a revista, ”com isso, cria-se uma condição de vida totalmente anômala, na qual não parecem ser necessários outros meios de comunicação, além daqueles proporcionados pela televisão”.
Vê-se, por conseguinte, um panorama não muito diferente daquele observado aqui no Brasil. Alguma coisa deve ser feita para, pelo menos, amenizar tal situação.
Nesta frase de Max Heindel consubstancia-se o ideal de cada aspirante: “Cada um guiado pelo Espírito do Amor Interno, deve trabalhar sem lideranças, pela elevação física, moral e espiritual da humanidade, à estatura de Cristo, o Senhor e a Luz do Mundo”. O estudante Rosacruz, ouvindo os apelos de sua consciência, deve contribuir da maneira que puder, para que os meios de comunicação atinjam uma finalidade cada vez mais construtiva. Pode parecer uma tarefa quixotesca. Mas a união de consciências, voltadas para o bem, é capaz de remover montanhas. Vale a pena tentar.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 02/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Pergunta: Um consulente envia-nos um recorte de jornal no qual alguém pergunta ao editor o que é realmente a Era Aquariana, e a pergunta foi assim respondida: “Não há Era Aquariana; esta INVENÇÃO foi lançada por IMPOSTORES profissionais que ensinam que o Sistema Solar entrou recentemente em Aquário. Nenhum dentre eles diz quando, e eles escrevem-se perguntando a data real. O Sistema Solar esta afastando-se de Aquário numa velocidade, em torno, de 19 quilômetros por segundo. O Sistema Solar nunca esteve e nunca poderá aproximar-se de Aquário. Ainda assim, panfletos e revistas mensais estão constantemente emitindo artigos dizendo a mesma velha história, que o Sistema Solar acaba de entrar em Aquário e que grandes mudanças irão acontecer a raça humana, sendo tudo isso inteiramente falso”.
Resposta: O nosso correspondente quer a nossa opinião sobre o assunto, visto que acreditamos e advogamos o ponto de vista de que a Era Aquariana está próxima. Estamos, portanto, incluídos na classe dos editores denunciados por este redator como “impostores”, mas não hesitamos em atender ao pedido do nosso consulente, ou seja, lançar mais luz sobre o assunto da Era Aquariana. Não nos perturbamos pelo ataque quando consideramos a fonte.
A pergunta depende do ponto de vista pela qual foi formulada em um de seus aspectos. É verdade, como diz o editor, que o Sistema Solar nunca esteve em Aquário e nunca estará. Realmente, ele se afasta da constelação de Aquário. Também é verdade que o Sol nunca “se elevou” e nunca “se elevará”, embora não chamemos de impostor o homem que usar essa expressão. Entendemos que, do ponto de vista de um observador da Terra, parece que o Sol se eleva; e o ocultista tem a mesma intenção ao dizer que estamos entrando em Aquário por Precessão dos Equinócios. Não perderemos tempo dizendo que, devido à rotação da Terra em torno do seu eixo, o Sol torna-se visível às sete horas. Dizemos simplesmente que o Sol se eleva às sete horas. Por razões similares, não dizemos que “devido à Precessão dos Equinócios, parece que o Sol, quando visto da Terra, está se aproximando da constelação de Aquário quando cruza o Equador no Equinócio de Março”. Se o fizéssemos, todos os astrônomos concordariam conosco a respeito do fenômeno observado no firmamento, embora discordassem quanto a nossa alegação de que isto tem uma influência sobre tudo que diz respeito à humanidade. Ao invés de usar esta longa explicação, dizemos simplesmente que o “Sol se aproxima de Aquário”, e as pessoas devem abster-se de emitir críticas até que aprendam o verdadeiro sentido dessa expressão, da mesma forma que entendem o que queremos dizer quando falamos que o Sol se eleva.
Enquanto isso, os estudantes das filosofias ocultas devem familiarizar-se com os fatos relativos à astronomia para poderem comprovar suas crenças de forma inteligente. Não se pode negar que os estudantes, que estudaram a filosofia superior adquirindo com isso um certo conhecimento sobre fatos suprafísicos, revelam uma lacuna em seu conhecimento a respeito dos fatos mais comuns, como aqueles transmitidos pela astronomia e fisiologia que não impressionam muito os ouvintes. Quando somos versados sobre os veículos mais sutis do ser humano, devemos também saber, pelo menos, o essencial a respeito do Corpo Denso que todos veem e, quando falamos sobre a influência dos Astros, devemos também conhecer algo a respeito dos movimentos mecânicos do firmamento e como são entendidos e conhecidos pelos astrônomos. A fim de que os estudantes não familiarizados com esses elementos possam adquirir uma compreensão maior do assunto, daremos uma breve explicação. Para entender ainda melhor, o estudante deve reportar-se a nosso Livro “Astrologia Científica Simplificada”.
O assunto é tratado na Enciclopédia Filosófica sob o título “O Zodíaco Intelectual”. Quando a Terra gira ao redor do Sol em sua orbita anual, o observador tem a impressão que o Sol percorre o céu dentro de uma faixa estreita constituída de doze constelações ou grupos de estrelas que receberam determinados nomes: Áries, Touro, Gêmeos etc.
Se o eixo da Terra fosse estacionário como o eixo de uma roda, o Sol seria sempre visto no mesmo ponto da constelação em que estava no mesmo dia do ano anterior. No entanto, o eixo da Terra tem um movimento de oscilação semelhante a um pião que diminui de velocidade. Isso faz com que a aparente posição do Sol varie quando observado da Terra, de tal forma que o Sol atinge uma determinada posição um pouco mais cedo cada ano. Ele precede, e é essa a razão pela qual os astrônomos falam de “Precessão dos Equinócios”, isso é, anualmente o Sol parece cruzar o Equador por ocasião do Equinócio de Março, uma pequena distância antes do ponto em que o cruzara no ano anterior. Assim, se em um ano ele cruzou o Equador na altura do primeiro grau de Áries, no ano seguinte cruzará ligeiramente dentro dos limites da constelação Peixes. No ano seguinte, ele estará ainda em Peixes, mas mais afastado do primeiro grau de Áries, e assim por diante. Contudo, esse movimento retrógrado é tão lento que o Sol leva quase vinte e seis mil anos para percorrer, em sentido inverso, os doze Signos, ou dois mil e cem anos para atravessar um Signo, ou setenta anos para percorrer um grau.
Os astrônomos falam de “graus de ascensão reta”, pelos quais eles dividem o círculo dos céus no número habitual de trezentos e sessenta graus, começando no ponto em que o Sol cruza o Equador no subsequente Equinócio de Março. Eles chamam de Áries aos primeiros trinta graus a contar daquele ponto. Touro aos trinta graus seguintes etc., da mesma forma que os astrólogos. Assim, há o Zodíaco natural composto das doze constelações ou grupos reais de estrelas no firmamento, que mudam tão pouco que esse movimento é imperceptível durante o período de uma vida humana ou até mesmo em várias centenas de anos; e o Zodíaco intelectual, que começa do ponto do Equinócio de Março para qualquer ano determinado.
Considerando que, pelo movimento de precessão, o Sol caminha para trás através dos Signos do Zodíaco, percebemos que chegará um momento em que o Equinócio de Março ocorrerá no primeiro ponto de Aries, portanto, nesse ano, os Zodíacos intelectual e o natural coincidirão. Na última vez que isso ocorreu, foi aproximadamente no ano 500 D.C., e como o Sol retrocedeu na sua costumeira média de mais ou menos um grau a cada setenta anos, é óbvio que, atualmente, o Equinócio de Março ocorrerá aproximadamente a dez graus de Peixes.
Consequentemente, será por perto do ano 2.600 ou daqui a setecentos anos, que ele entrará realmente na constelação de Aquário. Ou melhor, para concordar com os fatos científicos digamos que parecerá, para quem observar da Terra, que o Sol estará cruzando o Equador na altura da constelação de Aquário. Durante os dois mil e cem anos a partir desse período, o Sol parecerá estar na constelação de Aquário a cada ano sempre que cruzar o Equinócio de Março. Desse modo, podemos dizer que a Era Aquariana compreende os dois mil e cem anos contados, a partir do ano 2.600, durante os quais o Sol, por precessão, parecerá estar na constelação Aquário quando cruzar o Equador no Equinócio de Março.
O leitor certamente já passou pela experiência de estar sentado tranquilamente, absorto na leitura de um livro, talvez escrevendo ou empenhado em qualquer outra tarefa, e sentir, subitamente, a presença de alguém ao seu lado ou atrás, cuja aproximação não detectara devido à concentração no livro ou no trabalho. Essa pessoa não falou nem fez qualquer ruído, e, contudo, sua presença foi sentida cada vez mais intensamente até o leitor ser obrigado a voltar-se. Essa experiência é muito comum e, certamente, todos já passaram por ela, mas qual a sua explicação? É simples: além do Corpo Denso visível a todos, o ser humano possui certos veículos invisíveis à visão comum. Esses invólucros sutis estendem-se além do Corpo Denso, de maneira que quando ficamos perto de outra pessoa, os corpos etéricos interpenetram-se e, às vezes, quando estamos muito tranquilos e passivos, essas influências sutis são sentidas ainda mais facilmente do que em outras ocasiões, embora elas existam sempre e sejam fatores poderosos em nossas vidas em todos os momentos.
“Assim como é em cima, assim é embaixo”, e vice-versa. Essa é a lei da analogia, a chave-mestra para os mistérios. O homem é o microcosmo e as estrelas, o macrocosmo. Logo, podemos concluir que essas grandes estrelas que se deslocam nos céus são corpos de Espíritos, possuem veículos sutis semelhantes à atmosfera áurica da nossa Terra. Por isso, quando o Sol se aproxima da constelação de Aquário por ocasião do Equinócio de Março, ele transmite essas influências a Terra juntamente com os raios solares. Assim, como a primavera é o período específico em que tudo na Terra está impregnado de vida, assim também podemos concluir que o Raio de Aquário ao ser transmitido far-se-á sentir entre as pessoas da Terra, independentemente delas acreditarem nisso ou não. Se percebermos qual a influência de Aquário, seremos capazes de responder à pergunta: “O que é a Era Aquariana?” Partindo de outro ponto de vista, a astrologia fornece-nos essas informações baseadas na experiência e na observação.
Aquário possui uma influência intelectual, original, engenhosa, mística, cientifica, altruísta e religiosa. Se aplicarmos a norma bíblica: “Pelos seus frutos conhecê-los-eis”, supomos que a Era Aquariana será precedida por empreendimentos originais em todas as áreas ligadas à ciência, à religião, ao misticismo e ao altruísmo, e podemos agora olhar para trás, para os setenta anos anteriores em que o Sol, por precessão, percorreu um grau em sua órbita em direção a Aquário. Durante esse tempo, verificamos que houve uma mudança muito marcante em todas as linhas de pensamento e de esforço, bem superior ao que a história registrou ao longo dos dois milênios passados. Quase todas as invenções que fazem da nossa vida o que ela é atualmente, foram feitas durante esse tempo. O telégrafo, o telefone, o uso da eletricidade, a conquista do ar e do vapor, o motor a gás que está superando o vapor, e outras invenções muito numerosas para serem mencionadas, estão marcando o progresso Aquariano do Mundo Físico.
Notamos, também, o ritmo intenso no qual todos os movimentos de pensamentos liberais em religião estão substituindo as condições restritivas do credo antigo, e o número crescente dos que desenvolveram a visão espiritual e que estão pesquisando as tendências da evolução nos planos superiores. Notemos a rapidez com que a ciência da astrologia está ganhando terreno e, em relação a isso, comunicamos que uma empresa, que trabalha com efemérides astrológicas para uso exclusivo em cálculos astrológicos, anunciou estar vendendo cerca de meio milhão de exemplares por ano.
Tudo isso demonstra ou dá uma indicação do que podemos esperar durante a Era Aquariana. Se progressos tão grandes já foram realizados nesses setenta anos em que o Sol está apenas começando a transmitir as influências das cercanias de Aquário, como imaginar o que acontecerá quando ele entrar realmente nesse Signo? Tanto as possibilidades como as probabilidades estão muito além do alcance da mais arrojada imaginação, e isso se aplica a ambos os aspectos físicos e psíquicos da vida. É nossa opinião que a visão etérica será desenvolvida pela maior parte da humanidade, senão por toda, de forma a remover, pelo menos parcialmente, o aguilhão da morte por meio do companheirismo que passará a existir com nossos amigos e parentes que deixaram o corpo físico.
Continuaremos a vê-los durante um certo tempo, e por isso saberemos e aceitaremos a ideia de que eles foram para reinos superiores. Não lamentaremos pelas criancinhas que morrem e retém seus corpos vitais, pois elas, provavelmente, permanecerão com seus pais até que tenham de reencarnar; isso ocorre, frequentemente, na mesma família. Nesses casos, não haveria nenhuma sensação de perda.
Quando esse ponto evolutivo for alcançado, a humanidade estará também muito mais iluminada de maneira a evitar muitas das armadilhas que a atormentam hoje. Isso favorecerá uma existência muito mais feliz do que o tem sido até o presente estágio. O intelecto mais desenvolvido ajudar-nos-á a resolver os problemas sociais de uma forma equitativa a todos, e o uso de instrumentos e aparelhos constantemente aperfeiçoados emancipará o género humano de grande parte de seu trabalho físico, oferecendo mais oportunidades e espaço para o aprimoramento intelectual e espiritual.
(Perg. 111 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)
Liderança ou Emancipação?
Por ser um movimento aquariano, a Fraternidade Rosacruz dispensa, em seu meio, a figura do líder. Sua renovada mensagem procura estimular o trabalho de equipe, onde as qualidades individuais se completem e os esforços se somem em torno de um ideal comum. Substitui-se a imposição pelo consenso. Delibera-se a partir do livre debate. Opta-se pelo trabalho grupal ao invés da ação unipessoal. Todo esforço comunitário nada mais é do que uma expressão antecipada da próxima Idade.
No entanto, a consecução desse objetivo maior tem sido uma tarefa das mais difíceis, pois apenas uma minoria encontra-se preparada para tal.
Essa elevada aspiração não será concretizada sem prévia transposição de alguns obstáculos. Removê-los consiste em árduo trabalho, porque arraigados estão na própria natureza humana. O ser humano acomodou-se desde vidas passadas a obedecer, transferindo a outrem a responsabilidade de decisão. As comunidades primitivas eram chefiadas pelos mais fortes e corajosos fisicamente. Essa foi à gênese da liderança.
Os modernos líderes reúnem atributos tais como inteligência, visão e, principalmente, uma personalidade forte e arrebatadora. Como raras vezes esses atributos vêm temperados com amor, por via de regra, transformam-se numa tirania, ostensiva ou sub-reptícia.
Tais lideranças, obviamente, acabam por se tornar nocivas ao grupo. Não obstante, a força da inércia é tão grande, a ponto das pessoas acomodarem-se até àquilo que lhes é prejudicial.
É claro que os povos orientais, com algumas exceções, tanto política como religiosamente encontram dificuldades para libertar-se da necessidade de liderança. Basta atentarmos para suas comunidades religiosas, e constatarmos como se obedece fielmente ao chefe ou guru. Não há meio termo. Entretanto, alguns líderes mais avançados, não se atribuem essa condição. Conscientes de sua missão procuram apenas indicar o caminho a seu povo, respeitando-lhe, ao máximo, o livre arbítrio. Mas como a humanidade não resiste ao fascínio de uma personalidade magnética, nem sempre lograram livrar-se de seu carisma.
O estudo do carisma constitui um interessante exercício para os modernos psicólogos. O que torna um indivíduo um líder? Grosso modo, uma personalidade forte, atraente, destemida, oratória fluente, somadas a outras qualidades pessoais devidamente inseridas num contexto todo especial – condições vigentes são importantes – são os ingredientes básicos do espírito de liderança. Certos fenômenos conjunturais servem de campo fértil ao surgimento dessa postura.
Não é justo, entretanto, omitir um ponto importante: alguns indivíduos converteram-se em líderes face à sua elevada formação espiritual. Mahatma Gandhi serve de exemplo. Fisicamente frágil e pouco atraente, voz desagradável, lembrando muito mais um mendigo do que um líder, o Mahatma soube impor-se ao respeito dos seus e do mundo, graças a sua bondade natural. Estudou Direito na Inglaterra, onde teve a oportunidade de acrescentar a sua formação orientalista as mais belas joias da cultura ocidental. Concluído o curso, passou a exercer sua profissão na África do Sul. Lá, a colônia indiana, por sinal relativamente grande, sofria as mais cruéis discriminações. Mais tarde, regressando a sua pátria, ainda jovem, porém, culto e tarimbado, renunciou às glórias que eventualmente o esperariam nos grandes centros, como Nova Délhi, Calcutá e outros. Dedicou-se a percorrer as miseráveis aldeias indianas para ensinar os mais comezinhos princípios de higiene – como usar latrinas, por exemplo – àquelas populações incrivelmente marginalizadas. Esse sentimento humanitário é que lhe conferiu a posição de líder.
Seja qual for a sua origem, a liderança tende a dar lugar a algo mais elevado. Aos poucos o ser humano vai aprendendo a libertar-se de tutelas, assumindo responsabilidades na sociedade em que vive. Quanto maior seu avanço espiritual, tanto mais acentuada sua emancipação em relação às pessoas e sua participação na vida comunitária.
As decisões tomadas em conjunto são, comprovadamente, mais sensatas. Havendo consenso, as responsabilidades pelos erros e acertos serão divididas, evitando-se, ou pelo menos minimizando cisões ou traumatismos na coletividade.
Para muitos, esse ideal avançado é considerado como utópico. Nós, todavia, não pensamos assim. Utopia é a verdade que não foi levada a prática. A distância não torna uma meta inatingível. Tanto estamos convencidos disso, que a Fraternidade Rosacruz tem sido uma das vanguardeiras do desenvolvimento espiritual sem lideranças. Líder é o Cristo, nosso paradigma e Luz do Mundo. Mas, se alguém entre nós deseja destacar-se, que comece sendo o “servo de todos”. Que procure, sinceramente, identificar-se com nosso ideário. Tornar-se-á, então, o “maior”, no bom sentido.
Pode ocorrer de estudantes novos ou menos avisados, impressionarem-se com as qualidades de algum membro mais antigo. Elegendo como modelo, acabam não raro, por decepcionarem-se, tão logo lhe contatem falhas de caráter. Esquecem-se de que ele é um ser humano lutando por aprimorar-se, sujeito a quedas. Se assim não fosse, ele não seria membro da Fraternidade, mas sim da Ordem Rosacruz. E mesmo os membros da Ordem, embora se encontrem acima do ser humano comum, também evoluem e queimam etapas.
Alguns estudantes empolgam-se com os conferencistas, deixando-se fascinar por um carisma de que, às vezes, eles nem se dão conta. Quando, num momento de maior intimidade descobrem-lhes o lado humano, chegam a desiludir e a abandonar o ideal, como se a Fraternidade fosse os seus membros. É uma pena que isso às vezes aconteça.
Os conferencistas, ao subirem a tribuna para expor nossa amada filosofia, carregam uma grande responsabilidade sobre seus ombros. Fazem-nos desprendidamente, conscientes de suas possibilidades e limitações. Procuram apenas colaborar no esforço de divulgação. Não são líderes, não se arvoram em “mestres”, nem se julgam “donos da verdade”. Apenas aspiram a que os estudantes entendam este posicionamento: numa conferência o importante não é o conferencista, mas a mensagem por ele transmitida. Não se conceda destaque ou louvar a “quem fala”, mas ao “que fala”. Como disse Descartes: “É preciso tornar as pessoas discípulas da verdade e não sectárias obstinadas do que o expositor ensina”.
Esperamos, assim, que todos os estudantes rosacruzes procurem emancipar de quaisquer influências externas, consolidando, dessa forma, a Fraternidade Rosacruz como a precursora da Idade Aquariana.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 01/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Organização da Fraternidade Rosacruz
A Comunidade Mundial Rosacruz não tem líderes. Todos são estudantes, que se esclarecem uns aos outros segundo o poder de seu entendimento.
O “Conceito Rosacruz do Cosmos” é explícito quando frisa que o Estudante deve tornar-se árbitro de seu próprio destino e realizar o aperfeiçoamento por si mesmo, à luz do método Rosacruz de desenvolvimento. O próprio Max Heindel foi um exemplo de desinteresse por qualquer espécie de liderança: nunca se furtou a qualquer gênero de labor dentro da Fraternidade; nunca se alteou ou se sobrepôs a ninguém em suas relações com os estudantes e companheiros; jamais concentrou nas mãos poderes mundanos relativos à obra. Enfim, sempre disposto a ocupar o último lugar à mesa do Senhor, foi o primeiro na prestação do serviço. Ele deixou as normas de funcionamento dos núcleos sem nenhuma espécie de vinculação material a quem quer que seja e nem cargos vitalícios.
Sua finalidade foi a de iluminar aqueles que não encontrando Cristo pela fé procuram-no pela razão. Esses sentem o “chamado” interno da tônica Rosacruz, que os levam a algo além das suas limitadas faculdades sensoriais, revelando os mistérios de nossa origem, a finalidade de nossa estada presente na Terra e desenvolvimento futuro, mas tudo isso para que, satisfeita a parte mental, possa falar o coração numa vivência superior de serviço amoroso ao próximo.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 01/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)