Liderança ou Emancipação?

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Liderança ou Emancipação?

Liderança ou Emancipação?

Por ser um movimento aquariano, a Fraternidade Rosacruz dispensa, em seu meio, a figura do líder. Sua renovada mensagem procura estimular o trabalho de equipe, onde as qualidades individuais se completem e os esforços se somem em torno de um ideal comum. Substitui-se a imposição pelo consenso. Delibera-se a partir do livre debate. Opta-se pelo trabalho grupal ao invés da ação unipessoal. Todo esforço comunitário nada mais é do que uma expressão antecipada da próxima Idade.

No entanto, a consecução desse objetivo maior tem sido uma tarefa das mais difíceis, pois apenas uma minoria encontra-se preparada para tal.

Essa elevada aspiração não será concretizada sem prévia transposição de alguns obstáculos. Removê-los consiste em árduo trabalho, porque arraigados estão na própria natureza humana. O ser humano acomodou-se desde vidas passadas a obedecer, transferindo a outrem a responsabilidade de decisão. As comunidades primitivas eram chefiadas pelos mais fortes e corajosos fisicamente. Essa foi à gênese da liderança.

Os modernos líderes reúnem atributos tais como inteligência, visão e, principalmente, uma personalidade forte e arrebatadora. Como raras vezes esses atributos vêm temperados com amor, por via de regra, transformam-se numa tirania, ostensiva ou sub-reptícia.

Tais lideranças, obviamente, acabam por se tornar nocivas ao grupo. Não obstante, a força da inércia é tão grande, a ponto das pessoas acomodarem-se até àquilo que lhes é prejudicial.

É claro que os povos orientais, com algumas exceções, tanto política como religiosamente encontram dificuldades para libertar-se da necessidade de liderança. Basta atentarmos para suas comunidades religiosas, e constatarmos como se obedece fielmente ao chefe ou guru. Não há meio termo. Entretanto, alguns líderes mais avançados, não se atribuem essa condição. Conscientes de sua missão procuram apenas indicar o caminho a seu povo, respeitando-lhe, ao máximo, o livre arbítrio. Mas como a humanidade não resiste ao fascínio de uma personalidade magnética, nem sempre lograram livrar-se de seu carisma.

O estudo do carisma constitui um interessante exercício para os modernos psicólogos. O que torna um indivíduo um líder? Grosso modo, uma personalidade forte, atraente, destemida, oratória fluente, somadas a outras qualidades pessoais devidamente inseridas num contexto todo especial – condições vigentes são importantes – são os ingredientes básicos do espírito de liderança. Certos fenômenos conjunturais servem de campo fértil ao surgimento dessa postura.

Não é justo, entretanto, omitir um ponto importante: alguns indivíduos converteram-se em líderes face à sua elevada formação espiritual. Mahatma Gandhi serve de exemplo. Fisicamente frágil e pouco atraente, voz desagradável, lembrando muito mais um mendigo do que um líder, o Mahatma soube impor-se ao respeito dos seus e do mundo, graças a sua bondade natural. Estudou Direito na Inglaterra, onde teve a oportunidade de acrescentar a sua formação orientalista as mais belas joias da cultura ocidental. Concluído o curso, passou a exercer sua profissão na África do Sul. Lá, a colônia indiana, por sinal relativamente grande, sofria as mais cruéis discriminações. Mais tarde, regressando a sua pátria, ainda jovem, porém, culto e tarimbado, renunciou às glórias que eventualmente o esperariam nos grandes centros, como Nova Délhi, Calcutá e outros. Dedicou-se a percorrer as miseráveis aldeias indianas para ensinar os mais comezinhos princípios de higiene – como usar latrinas, por exemplo – àquelas populações incrivelmente marginalizadas. Esse sentimento humanitário é que lhe conferiu a posição de líder.

Seja qual for a sua origem, a liderança tende a dar lugar a algo mais elevado. Aos poucos o ser humano vai aprendendo a libertar-se de tutelas, assumindo responsabilidades na sociedade em que vive. Quanto maior seu avanço espiritual, tanto mais acentuada sua emancipação em relação às pessoas e sua participação na vida comunitária.

As decisões tomadas em conjunto são, comprovadamente, mais sensatas. Havendo consenso, as responsabilidades pelos erros e acertos serão divididas, evitando-se, ou pelo menos minimizando cisões ou traumatismos na coletividade.

Para muitos, esse ideal avançado é considerado como utópico. Nós, todavia, não pensamos assim. Utopia é a verdade que não foi levada a prática. A distância não torna uma meta inatingível. Tanto estamos convencidos disso, que a Fraternidade Rosacruz tem sido uma das vanguardeiras do desenvolvimento espiritual sem lideranças. Líder é o Cristo, nosso paradigma e Luz do Mundo. Mas, se alguém entre nós deseja destacar-se, que comece sendo o “servo de todos”. Que procure, sinceramente, identificar-se com nosso ideário. Tornar-se-á, então, o “maior”, no bom sentido.

Pode ocorrer de estudantes novos ou menos avisados, impressionarem-se com as qualidades de algum membro mais antigo. Elegendo como modelo, acabam não raro, por decepcionarem-se, tão logo lhe contatem falhas de caráter. Esquecem-se de que ele é um ser humano lutando por aprimorar-se, sujeito a quedas. Se assim não fosse, ele não seria membro da Fraternidade, mas sim da Ordem Rosacruz. E mesmo os membros da Ordem, embora se encontrem acima do ser humano comum, também evoluem e queimam etapas.

Alguns estudantes empolgam-se com os conferencistas, deixando-se fascinar por um carisma de que, às vezes, eles nem se dão conta. Quando, num momento de maior intimidade descobrem-lhes o lado humano, chegam a desiludir e a abandonar o ideal, como se a Fraternidade fosse os seus membros. É uma pena que isso às vezes aconteça.

Os conferencistas, ao subirem a tribuna para expor nossa amada filosofia, carregam uma grande responsabilidade sobre seus ombros. Fazem-nos desprendidamente, conscientes de suas possibilidades e limitações. Procuram apenas colaborar no esforço de divulgação. Não são líderes, não se arvoram em “mestres”, nem se julgam “donos da verdade”. Apenas aspiram a que os estudantes entendam este posicionamento: numa conferência o importante não é o conferencista, mas a mensagem por ele transmitida. Não se conceda destaque ou louvar a “quem fala”, mas ao “que fala”. Como disse Descartes: “É preciso tornar as pessoas discípulas da verdade e não sectárias obstinadas do que o expositor ensina”.

Esperamos, assim, que todos os estudantes rosacruzes procurem emancipar de quaisquer influências externas, consolidando, dessa forma, a Fraternidade Rosacruz como a precursora da Idade Aquariana.

(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 01/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)

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