O Caminho Iniciático e a Lemniscata
Para melhor compreender o que é a Iniciação e quais seus requisitos preliminares fixe o leitor, antes de tudo, e com toda a firmeza em sua Mente, que, na totalidade, a humanidade progride lentamente no caminho da evolução. Só lenta e quase imperceptivelmente consegue estados mais altos de consciência. O caminho da evolução, examinado sob os aspectos espiritual e físico, é uma espiral.
Na lemniscata, há dois círculos que convergem para um ponto central. Os círculos podem servir para simbolizar o Espírito imortal, o Ego evoluinte. Um dos círculos representa sua vida no Mundo Físico, desde o nascimento até a morte, e o outro, sua permanência nos Mundos Invisíveis, desde a morte até ao renascer.
Enquanto permanece neste mundo, o Espírito imortal – o Ego em evolução – semeia uma semente em cada ato, dele colhendo certa quantidade de experiência. Contudo, assim como se pode semear sem haver colheita, porque as sementes foram atiradas em terrenos pedregosos, entre espinhos, etc., assim também a semente da oportunidade, por negligência no cultivo do terreno, pode ser perdida e, então, a vida será estéril, sem fruto. Ao contrário, assim como a qualidade e o cuidado no cultivo aumentam, enormemente, o poder produtivo das sementes, uma aplicação cuidadosa no negócio da vida – a melhora de oportunidades para aprender as suas lições é extrair de nosso meio as experiências que contém – traz-nos mais oportunidades. Ao terminar uma existência terrestre, o Ego, nas portas da morte, encontra-se carregado dos mais ricos frutos da vida.
Terminado o trabalho objetivo da existência, o Ego começa o trabalho subjetivo da assimilação. Esta obra efetua-se, durante a permanência nos Mundos Invisíveis, período que decorre desde a morte até ao renascimento, simbolizado pelo segundo anel da lemniscata. Quando o Ego chega ao ponto central da lemniscata, que divide o Mundo Físico do mundo psíquico, a que chamamos a porta do nascimento, ou da morte, entra (ou sai) numa outra esfera, em relação a nós. Fá-lo com um conjunto de faculdades e talentos, adquiridos em vidas anteriores, que o espírito usa, ou descuida, em novo dia de vida, segundo sua própria escolha. Do uso que fizer das suas oportunidades depende o crescimento da alma.
Se, durante muitas vidas gratificou principalmente a natureza baixa, vivendo para comer, beber e divertir-se, ou deixou que seus ideais se esfumassem em sonhos e especulações metafísicas, acerca da natureza de Deus, abstendo-se, negligentemente, de toda ação necessária, gradualmente o Ego será deixado para trás, pelos mais ativos e progressistas. Grandes agrupamentos destes preguiçosos formam as chamadas “raças atrasadas”, enquanto os ativos, desembaraçados e despertos, que se preocupam em adquirir uma porcentagem maior de oportunidades, são os precursores.
Ao contrário da ideia geralmente aceita, isto se aplica, igualmente, àqueles que estão empenhados na indústria. Sua maneira de ganhar o dinheiro é, somente, um incidente, um incentivo, inteiramente a parte dessa fase. Seu trabalho é tão espiritual, ou, talvez, mais, do que o daqueles que passam o tempo em preces, com prejuízo de um trabalho útil. Do que dissemos, torna-se claro que o método de desenvolvimento da alma, levado a efeito pelo processo da evolução, requer ação na vida física, seguida, na vida post-mortem, por um estado de assimilação, durante o qual as lições da vida são extraídas e cuidadosamente incorporadas a consciência do Ego, embora as experiências, em si, sejam esquecidas.
Este processo, excessivamente lento, acomoda-se, perfeitamente, as necessidades das massas. Todavia, alguns esgotam, rapidamente, as experiências comumente dadas e requerem um campo mais extenso, para aplicar suas energias. A diferença de temperamento é a causa de sua divisão em duas classes.
Uma dessas classes, conduzida por sua devoção a Cristo, segue, simplesmente, os ditados do coração, em sua tarefa de amor por seus companheiros. Belos caracteres, faróis de amor num mundo sofredor, estão sempre prontos a esquecer sua própria conveniência, para ajudar aos outros.
Na outra classe, a Mente é o fator predominante. A fim de ajudá-la em seus esforços para alcançar sabedoria, as Escolas de Mistérios foram criadas. Nelas foi representado o drama do mundo, para dar as almas aspirantes, enquanto se achavam enlevadas, respostas às perguntas acerca da origem e do destino da humanidade. Ao despertar, eram instruídas na ciência sagrada de ascender mais, por meio do método da natureza – que é Deus em manifestação – semeando a semente da ação, meditando acerca da experiência e assimilando a moral essencial para obter o devido crescimento anímico. Também, havia esta circunstância importante: enquanto, no curso ordinário das coisas gasta-se uma vida inteira em semear e uma existência post-mortem na reflexão e incorporação da substância anímica, este ciclo de mil anos, mais ou menos, pode ser consideravelmente reduzido. Seja qual for o trabalho executado durante um dia simples, reflita-se sobre ele, à noite, antes de cruzar o ponto neutro entre o estado de vigília e o adormecer. Esta experiência pode, deste modo, ser incorporado na consciência do Espírito, como poder anímico. Quando se pratica, sinceramente, este exercício, revisando os pecados cometidos durante o dia, são eles eliminados, automaticamente, e o ser humano começa, em cada dia, uma nova vida, com a vantagem de ter aumentado seu poder anímico, extraído das experiências da sua vida de probacionista. Ao abandonar o corpo – ao morrer e ir ao Purgatório, a visão do nosso passado desenrola-se em ordem inversa, para mostrar, primeiramente, os efeitos, e depois, as causas que os produziram. Sentimos, de maneira intensa, a dor que causamos aos demais. Se não executamos nossos exercícios de maneira similar, sofrendo cada noite o inferno que merecíamos durante o dia, sentindo, agudamente, todos os pesares que havíamos infligido, não nos servirá de nada. Temos que nos esforçar, também, em sentir, com a mesma intensidade, a gratidão pelas atenções recebidas dos outros e a aprovação do bem que proporcionamos.
Somente assim, vivemos, verdadeiramente, a existência post-mortem e avançamos, cientificamente, até a meta da Iniciação. O maior perigo para o aspirante neste ponto é cair vítima do laço do egoísmo. Sua única salvação é cultivar as faculdades da fé, da devoção e da simpatia universal.
Se o estudante ponderou bem o argumento precedente, terá compreendido a analogia entre o largo ciclo da evolução e os ciclos curtos, ou passos, utilizados no caminho da preparação. Ficará claro que ninguém pode realizar, por outro, este trabalho post-mortem, nem lhe transmitir o desenvolvimento anímico adquirido da mesma maneira; ninguém pode ingerir o alimento físico de outro e transmitir-lhe sua resistência e desenvolvimento.
Se não conseguirmos o poder da alma requerido para a Iniciação, ninguém poderá iniciar-nos. Se o possuímos, estamos no umbral por nossos próprios esforços. Podemos pedir a Iniciação, como um direito. Se não o tivéssemos e quiséssemos comprar, 125 milhões de qualquer moerda seriam insignificantes para pagá-los.
Fixemos bem, em nossas Mentes, que a Iniciação não é uma cerimônia externa, mas, sim, uma experiência interior, na qual somos ensinados a usar o poder que armazenamos por meio de uma vida de pureza e de serviço.
(Revista Serviço Rosacruz – 02/81 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Como Tornar a Prece Eficiente
Um dos traços de união entre os aspirantes dos Ensinamentos Rosacruzes é o desejo comum de ajudar o próximo. Um dos principais motivos de nossas reuniões é orar pelos necessitados e tentarmos, seriamente, seguir a advertência de Cristo para rezarmos uns pelos outros. Há pessoas, porém, que sentem que suas preces não estão produzindo resultados; que não podem ajudar um ente querido necessitado, que compreendem o problema alheio, mas estão incapacitados de ajudar a resolvê-lo. Podem sentir também que existem condições além de sua capacidade, chegam a pensar que são dignos de pedir, quanto mais de receber a resposta tão esperada às suas preces. Percebem que suas preces não estão sendo respondidas como esperavam. Se alguém já passou por alguma destas experiências há sugestões que podem ser úteis.
Primeiro, vamos tentar definir a palavra prece. Basicamente prece é:
1) Comunhão com Deus; realização com a unidade Divina. Pode ser um momento em que nos isolamos e nos afastamos do Mundo Físico e, conscientemente, nos viramos para o Pai. Pode ser também uma atividade quase inconsciente onde se pratica e se sente a presença de Deus em tudo que se pensa, diz ou faz.
2) Prece é a harmonização e a fusão da Mente do Ser humano com a Mente Divina. É a ação mental mais rápida que se conhece, na qual o ser humano se sintoniza com o Mundo do Pensamento.
3) Prece é uma afirmação da Verdade que é eterna. Deus é o bem, o saber, o amor, a saúde, etc… e desde que somos seres espirituais feito à imagem e semelhança de Deus, no espírito e na verdade, também somos o bem, o saber, o amor e a saúde. Prece é simplesmente a concretização e a própria realização desta verdade.
4) Prece é a parte do ser humano no processo criativo de tornar aquilo que não é manifestado, em manifestação. O livro de Jó nos diz: “Vós também podereis decretar e assim o será”. O resultado final de nosso processo de evolução é tornarmo-nos co-criadores com Deus. Estamos nos tornando aquilo que deveríamos ser e somos. Foi-nos dado o poder da palavra criadora e temos a nosso dispor, mais força do que jamais imaginamos. Usando-a corretamente, esta força aumentará e se espalhará.
5) Prece é a glorificação de Deus, o mais alto estado espiritual de consciência alcançado pelo ser humano. Glorificar Deus é louvá-Lo, enaltecê-Lo, honrá-Lo e conhecer Sua verdadeira essência.
A prece mais conhecida no mundo Cristão é o Pai Nosso. Max Heindel nos deu a mais sublime explicação para essas santas palavras. Esta prece foi ensinada por Cristo Jesus aos Apóstolos, para ser usada em benefício deles próprios, mas é usada por todos e também pelos aspirantes como uma fórmula para a elevação e purificação dos instrumentos ou veículos que possuímos.
Usando o capitulo XVII do Evangelho de São João como base para fazer com que nossas preces aos outros se tornem mais eficientes, devemos ressaltar 10 pontos:
1) Algumas pessoas que rezam fracassam porque são egoístas. Os 26 versículos deste capítulo podem ser divididos em 3 partes: os primeiros oito versículos constituem a prece de Jesus Cristo para Ele mesmo; os versículos 9 a19 são a sua prece para Seus Discípulos; e os versículos 20 a 26 são para aqueles que irão acreditar Nele mais tarde – o que nos inclui.
Na primeira parte, Jesus Cristo estava rezando não só para Ele próprio, como também para a glorificação do Pai. “Glorifica teu Filho para que teu filho te glorifique”. “Eu te glorifiquei na Terra e terminando a obra que me deste para fazer”. Ele não procurou glória para Si, mas apenas que o Pai pudesse ser glorificado e Sua verdadeira essência revelada.
Ao rezar pelos outros devemos ficar atentos para não glorificarmos a nós mesmos e a nossos desejos. Ocasionalmente podemos não nos aperceber de que nos tornamos ditadores ao procurar impor nossa vontade pessoal ou ao tentar forçar alguém a aceitar modelos pré-concebidos. Talvez estejamos rezando: “Faça-o enxergar as coisas do meu modo”, ao invés de: “Ajuda-me a encontrar a melhor solução”, ou: “Faze com que a luz da verdade ilumine sua mente”, ou simplesmente: “Tuas vontades serão feitas, Pai”.
É fácil desviar as preces que fazemos para os outros, de modo a satisfazer o que nós queremos para eles ou pensamos que eles deveriam querer ou ter. É uma cilada contra a qual precisamos estar sempre de prontidão, especialmente quando se trata de pessoas muito chegadas a nós. Pode não ser difícil parecer que estamos conformados quando pedimos por aqueles que estão longe e não são tão íntimos, mas para aqueles com quem temos uma relação mais chegada, é muito difícil nos desvencilharmos do nosso Ego e tentarmos rezar para o bem dessa pessoa entregando-a a Deus, mesmo que seja contra o que gostaríamos que acontecesse. Portanto, se nossas preces parecem não produzir resultados, vamos examinar nossos motivos e talvez aí encontremos a razão para o fracasso.
2) Devemos sempre reconhecer a qualidade da liberdade no amor puro, mesmo quando vemos que alguém está cometendo o que consideramos um grande erro. Devemos dar liberdade a esta pessoa para que se desenvolva a sua maneira. Talvez vejamos alguém muito querido deixando-se levar para uma situação que sabemos irá causar-lhe sofrimento e queremos evitar que isto aconteça e que a pessoa sofra. Porém, talvez, seja preciso, para que a pessoa aprenda experimentar certas provações e aflições, a fim de receber uma lição necessária. Talvez o engrandecimento da alma venha através desta experiência porque, infelizmente, aprendemos muito mais com nossas próprias experiências do que com conselhos.
Quando bebês, ao aprendermos a andar, tivemos muitas quedas. Se nossas mães nos tivessem carregado sempre em seus braços, certamente não teríamos tido tantas quedas, manchas roxas e choros, mas também não teríamos aprendido a andar. A mãe carinhosa, certamente quer proteger seu filho de quedas físicas, emocionais e espirituais, mas somente experimentando algumas dessas quedas e por meio da liberdade do poder tentar, acertar e fracassar sozinhos é que aprendemos a andar retos, tanto fisicamente como de outras maneiras.
Jesus Cristo disse: “Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno”. Ele não rezou para que Seus queridos Apóstolos fossem tirados do mundo, mundo este cheio de desafios, provocações, frustrações e conflitos, mas que eles fossem protegidos do mal. Devemos deixar nossos entes queridos livres para encontrar o bem supremo, da maneira que for melhor para eles. Podemos rezar para que Cristo os conduza nos caminhos da honradez e probidade. O Cristo dentro de nós deve reconhecer o Cristo daquele por quem rezamos e dar-lhe liberdade individual para fazer sua própria escolha.
3) Não devemos jamais implorar ou suplicar. Implorar supõe que estamos tentando superar uma relutância por parte de Deus. Não há necessidade de se implorar a Deus em nome de outra pessoa, uma vez que o seu bem estar já é muito conhecido no coração do Pai. Muitas referências nas Escrituras Sagradas afirmam esta verdade. “Nosso Pai conhece as coisas de que necessitamos, antes de as pedirmos” (Mt 6: 8). “Não é da vontade do Pai que nós devamos morrer” (Mt 18: 14). “É prazer do Pai dar-nos o reino” (Lc 12: 32). Podemos estar certos de que a vontade de Deus para nós é perfeição.
A prece de Jesus Cristo era: “Eu dentro de vós e vós dentro de mim, assim sereis feitos perfeitos em um só”. Nossas preces não mudam o que Deus pensa sobre nós. Ele já nos determinou perfeição. Não temos que negociar com Deus. A prece não muda Deus e não o impele a fazer o que Ele não almeja para nós. A prece nos coloca num estado de receptividade do Bem que Deus já planejou para nós. Portanto, ao invés de implorar e suplicar, vamos reivindicar o que há de bom, já estabelecido em espírito. Jesus Cristo corajosamente rezou para o Pai: “Pai, quero que onde eu estou, estejam também comigo aqueles que me deste, para que vejam a glória que me deste, porque me amaste antes da criação do mundo” (Jo 17: 24).
4) Devemos confirmar a verdade na fé, confiança e agradecimento. Quando Jesus Cristo ressuscitou Lázaro, Ele disse com plena fé e confiança: “Pai, Eu Vos agradeço por me teres ouvido e sei que sempre me ouvis” (Jo 11: 41). Nas duas ocasiões quando alimentou as multidões, Ele primeiro agradeceu pela dádiva que foi dada, muito embora ainda não tivesse sido manifestada no plano exterior. Agradecendo desta maneira, demonstra fé, confiança e desperta estas qualidades em outros, que, por sua vez, se tornam melhores canais pelos quais Deus pode fazer Sua obra.
5) Não volte atrás em suas preces! É de pouca valia rezar com palavras positivas se, continuamente, estamos projetando um quadro negativo na tela da Mente. Se visualizarmos e, deste modo, enfatizamos a parte negativa ou condição que precisa ser eliminada, estamos desfazendo todo nosso trabalho de rezar. Você se lembra da parábola da casa que limpamos de todos os maus espíritos? Depois de estar completamente limpa, ela permaneceu vazia; os maus espíritos voltaram e trouxeram sete vezes piores espíritos com eles. Ideias sombrias e pessimistas sobre quem rezamos devem ser eliminadas de nossa casa de pensamentos. Inclinações duvidosas, temores e ansiedade devem ser varridos com fortaleza e na Mente só devemos colocar pensamentos firmes e positivos.
6) Devemos imaginar os perfeitos resultados da prece. Nossa faculdade de imaginar desempenha um importante papel no que diz respeito a “chamar” as condições desejadas. Se rezamos pela saúde de alguém, vamos imaginá-lo sempre com boa saúde. Se rezamos pela paz de espírito, harmonia ou qualquer outra condição desejada, vamos imaginá-lo já gozando deste estado de espírito. “Vós vos mantereis em perfeita paz se vossa Mente estiver com Ele” (Is 26: 3). Fixando nossa atenção em Deus e na sua bondade, fortalecemos Sua presença e atividade. Ao visualizarmos alguém circundado pela luz de Cristo, estamos protegendo-o do mal e ajudando a antecipar a cura, seja da Mente, do corpo ou de qualquer natureza. Desta maneira nos tornamos co-criadores com Deus e ajudamos a estabelecer o Reino dos Céus na Terra.
7) Não devemos colocar limites nas nossas preces. Com Deus nada é impossível; não há limitações em Deus. “O que pedires em meu nome, será dado a ti” (Jo 14: 14). Jesus Cristo disse: “É prazer do Pai dar-vos o reino” (Lc 12: 32). O desejo do Pai para conosco é o bem, nada a não ser o bem, de maneira que devemos ficar receptivos e abertos para todo o bem que o Pai tem reservado para nós. Poderá vir em bênçãos como um aguaceiro derramado das janelas do Céu.
8) A qualidade sentida, presente, de agora é eficiente na prece. A manifestação da resposta perfeita de Deus é possível agora mesmo, se houver fé e compreensão suficientes para chamá-la. “Antes que perguntes, responderei” (Is 65: 24). Deus está aqui, agora, e basta invocar Seu amor e poder de maneira correta, para recebermos respostas completas e perfeitas.
9) Devemos dar à reza um profundo sentido de alegria. “E falo isto estando ainda no mundo, para que partilhem plenamente de minha alegria” (Jo 17: 13). Se estamos cientes da presença e poder de Deus, como Jesus Cristo estava, não deixaremos de ser agraciados com a felicidade. A prece verdadeira é alegre, porque reflete a convicção que Deus está no comando de seu mundo e que tudo está na ordem divina, apesar de toda a aparência em contrário.
10) Nossas Mentes e Corpos devem estar limpos e puros. No Serviço de Cura da Fraternidade encontramos estas palavras: “Se queremos realmente ajudar no trabalho que os Irmãos Maiores começaram, devemos fazer de nossos corpos instrumentos adequados, devemos purificá-los vivendo uma vida limpa, pois um recipiente sujo não pode conter água limpa e saudável, nem uma lente manchada pode dar uma imagem nítida”. Nem o puro e forte poder da cura pode ser emanado daqui a não ser que mantenhamos nossas Mentes e Corpos limpos e puros. Quando Jesus Cristo subiu o Monte da Transfiguração, Ele levou consigo três de Seus Discípulos: Pedro, Tiago e João. Enquanto estavam com Ele, os demais Discípulos foram abordados por um homem que pedia a cura de seu filho, possuído pelos maus espíritos. Eles tentaram, mas não conseguiram a cura. Quando Jesus Cristo, acompanhado de Pedro, Tiago e João retomou e curou o menino imediatamente. Os Discípulos, desanimados pela inabilidade em demonstrar o poder da cura que Jesus havia ensinado, perguntaram o porquê. Sua resposta foi: “Este tipo de cura só acontece com prece e abstinência”. Que outra manifestação mais clara precisamos ter para nos certificarmos da necessidade de purificar os nossos Corpos e as nossas Mentes? Devemos alimentar-nos com pensamentos saudáveis e puros. Não podemos deixar nossas Mentes se fortalecerem com pensamentos negativos, nem permitir que sentimentos desta natureza nos guiem. Assim como seguimos instruções de nossos Irmãos Maiores para um regime vegetariano, a fim de conservarmos nossos corpos puros, vamos prestar atenção ao conselho de São Paulo para a purificação da Mente: “Quanto aos mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é santo, tudo o que é amável, tudo o que é de bom nome, qualquer virtude, qualquer coisa digna de louvor da disciplina, seja isto objeto dos vossos pensamentos” (Fp 4: 8).
Traduzido da Revista “Rays from the Rose Cross”
(Revista Serviço Rosacruz – 02/81 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Os Pecados de Omissão: leve-os ao tribunal de nosso Cristo interno por meio da Retrospecção
A Epístola Universal de São Tiago contém poderosa mensagem, que aponta claramente a preocupação do autor para o crescimento espiritual através da AÇÃO, especialmente quando as condições da vida são difíceis. Em seu versículo 22, enfaticamente, declara que a verdadeira religião é mais do que fé. É a lei da ação: “Sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos, porque se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla no espelho o seu rosto natural”.
São Tiago, também, exorta que consideremos as provas e as perseguições como um privilégio, em vez de culpar a Deus, “Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos.” (Tg 1:4).
O aspirante a vida superior procura, naturalmente, evitar os erros que impediriam o seu progresso espiritual: Procura não roubar; evita as maledicências, a violência, o adultério, a fraude; não se vangloria; não julga e, em geral, se mantém longe de tudo que interfere com o seu Caminho.
Tratando de obter um melhor autoconhecimento, alguns aspirantes passam longas horas na tarefa de obter informações suplementares; querem pesquisar as suas origens; saber do seu desenvolvimento futuro e procuram soluções para o Mistério do Mundo. Isso demanda longas horas e, consequentemente, não sobra tempo para serem também “cumpridores da palavra” – atividade de que alguns, deliberadamente, procuram se furtar sob essa ou aquela alegação. Quanto a aquisição de conhecimentos, Max Heindel nos diz: “É repreensível passar a vida egoisticamente na procura exclusiva do avanço espiritual, como seria repreensível não haver nenhum avanço espiritual”. São Tiago diz claramente: “Aquele pois que sabe fazer o bem e não faz, comete pecado” (Tg 4:17).
A omissão pode ter consequências graves. Os pecados de omissão não são menos sérios que os pecados de comissão e determinam, também, a vida e desenvolvimento do futuro aspirante. Para quebrar a cristalização de nossa indiferença, no sentido de dominar e vencer nossa tendência para a omissão, devemos lançar mão de concentração e determinação, na realização efetiva de sermos “cumpridores da palavra”, não olvidando que os atos de abnegação ao semelhante contribuem grandemente para o crescimento do Corpo-Alma e Vital. O serviço à raça humana é o ensinamento crucial da Filosofia Rosacruz e, sem o uso prático e muito positivo desse conhecimento místico o aspirante contribui para a não realização de um vital progresso em sua caminhada; ao qual não poderá se chegar tão somente através de estudos vigorosos.
Há tantas maneiras de “fazer o bem” e São Tiago antecipa os pontos principais do que deve se considerar importante: “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas, nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg 1:27). Nem todos podem, nem todos querem visitar órfãos e viúvas, porém seria simplificar ao máximo o nosso papel se a nossa racionalização concluir com um simples não, já que “seguramente há um grande número de voluntários e eu estaria provavelmente atrapalhando o serviço”.
Nós todos gostamos de receber cartas, porém, quantos há que protelam a hora de responder devidamente? Não é um erro grave, por certo, mais é um pecado de omissão, apontando para o nosso prazer em receber e relutância de sermos incomodados para dar de nós mesmos.
Até os acamados podem agir: pela atividade mental de orar pelo trabalho da Fraternidade como centro espiritual de progresso para a humanidade; para os dirigentes do mundo em sua luta de manter a PAZ; para os líderes locais tentando equilibrar os orçamentos; e para uma colaboração sempre mais esclarecida, que possa manter longe a tragédia da guerra e assim por diante. O mundo de hoje palpita em direção da mutação. Cada ato desinteressado, multiplicado por milhões de outros do mundo todo; cada oração em benefício do mundo e cada ação direta inteligentemente alinhada com a evolução trará o aspirante e a humanidade um passo a frente, na senda do progresso espiritual.
Ao findar o dia podemos levar os nossos pecados de omissão ao tribunal de nosso Cristo interno por meio da Retrospecção, e receberemos o Seu perdão. Os pecados de omissão, por outro lado, costumam não ser lembrados na Retrospecção. Em realidade, deveriam ser transformados em prioridades para a ação do dia seguinte, ou tão cedo quanto possível. Não podemos nos dar ao luxo de carregar indefinidamente uma longa e pesada relação de nossos pecados de omissão. Eventualmente, a lei da Consequência demandará de cada aspirante o crescimento para um estado espiritual adulto em que cessamos de ser ouvintes da Palavra e nos tornamos praticantes da mesma.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 11/80 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Desenvolvimento Mental: adquirido através de atividade e exercício mental apropriados
Alguém que tenha experimentado alguma vez o que foi chamado de “a graça da concentração criativa” não poderá se sentir indiferente pela perda de tempo nas ocupações e passatempos sem sentido, que geralmente fazem perder uma parte de energia mental. Se no passado essa pessoa encontrou algum prazer na preguiça e inatividade mental, provavelmente, continuará agindo assim por mais algum tempo. Hábitos antigos são difíceis de mudar, mas a sua consciência, estimulada pela lembrança da elevação espiritual e da realização resultante de seus momentos de concentração criativa, irá causar-lhe uma inquietação cada vez maior.
Começará a sentir que é, na verdade, um pecado contra o espírito, deixar-se sucumbir pela indolência mental, desperdiçar seus talentos intelectuais e levar, mesmo que parcialmente, uma existência improdutiva.
Uma das razões para nossa curta permanência neste mundo físico é que devemos desenvolver a força criativa e a capacidade que temos dentro de nós. Quando percebemos o que podemos conseguir com esta força e que grande capacidade latente existe em nós, não ficaremos mais satisfeitos em deixar que outros nos distraiam continuamente, que pensem por nós (e nós podemos pensar até melhor) e que fiquemos parados vendo a vida passar. Vamos querer, cada vez mais, participar ativamente nos pensamentos construtivos e originais, dedicando tantos momentos quantos forem possíveis a isto, e experimentar a alegria e exaltação que nos vem quando tais pensamentos são traduzidos em ações e nos trazem seus frutos.
Nossa ideia original de “descanso”: sentar-se por longo tempo diante da televisão assistindo programas fúteis; leitura literária de valor duvidoso, que exige pouca ou nenhuma resposta mental; assistir a filmes de segunda classe ou qualquer outro tipo de atividade mundana e passiva.
O que parece de início tarefa difícil, concentração, estudo ou pensamento criativo, quando tomamos consciência por um esforço determinado da vontade, torna-se fácil, mais natural e até familiar. Com o tempo, o esforço desenvolvido da vontade para estas atividades será mínimo e, a antiga tendência para as atividades improdutivas e passivas mudarão e até sentiremos um sentimento agudo de desagrado por tarefas desta natureza.
Isto de maneira alguma implica na necessidade de uma pessoa tornar-se escravo mental ou levar uma vida exclusivamente contemplativa, para experimentar elevação espiritual da concentração criativa. Muito longe disso, os resultados da concentração criativa devem resultar em ação criativa e é este o verdadeiro significado que deve nortear os que assim se concentram. Devemos reservar algum tempo a esta atividade, mas certamente uma vida vivida exclusivamente “pensando”, sem nada ou pouco “fazer” não preencherá o propósito de nossa existência na Terra.
O descanso é um fator importante nas nossas vidas, mas os períodos de descanso devem ser intercalados com períodos de concentração criativa e atividades criativas, o que é muito necessário para a maioria das pessoas, porque estamos no estágio do desenvolvimento mental.
Há, porém, muito poucos que podem sustentar continuamente um alto grau de atividade mental ininterrupta e intensiva, ou uma atividade duplamente mental e física, sem o alívio e o relaxamento de ocupações menos exigentes. O descanso físico, contudo, não precisa ser passivo, parado, assim como o descanso mental não quer dizer que a Mente não vá ser usada.
Por exemplo, no descanso do estudo, uma pessoa pode fazer uma literatura menos séria, mas que seja ao mesmo tempo, estimulante para a Mente. Tratados filosóficos podem ser postos de lado em favor de livros de viagem, artigos sobre a natureza, animais ou qualquer outro tipo de assuntos de interesse particular. Esses livros são mentalmente estimulantes e oferecem à Mente uma variação de tipos de leitura. O descanso combinado com o estímulo mental é também obtido através de atividades como passeios ao ar livre, o contato com a natureza, contemplando-a e meditando sobre ela, ter os olhos e os ouvidos abertos, tentando aprender enquanto passeamos, escutar uma boa música, fazer visitas a museus e ter conversas elevadas e construtivas com amigos. Todos esses passatempos e muitos outros são muito mais produtivos, e exercem uma atividade mental muito maior, do que permanecer na inércia, que é tido como descanso por muitas pessoas. Um dos piores defeitos que podemos ter é o da preguiça mental e autoindulgência. A Mente é o veículo mais recentemente adquirido, dos quatro que possuímos, e, como tal, é o menos desenvolvido.
Max Heindel nos deu muitas informações sobre a Mente nos seus vários trabalhos. Leia-se no Conceito: “A Mente é o instrumento mais importante que o espírito possui; um instrumento especial na obra da criação. A laringe espiritualizada e perfeita determinará e falará a Palavra Criadora, mas a Mente aperfeiçoada decidirá quanto à forma particular e volume de vibração. A Imaginação será a faculdade espiritualizada que dirigirá a criação”.
É um sublime ideal, sem dúvida, mas o ser humano ainda está longe de obter este desenvolvimento mental, de atingir seu auge, sua finalidade.
No livro “Cartas aos Estudantes”, encontramos: “A Mente da maioria das pessoas é como uma peneira, um crivo. Os pensamentos se filtram através de seus cérebros da mesma forma que a água atravessa a peneira. Estes pensamentos são bons, maus e indiferentes, estes últimos em grande maioria. A imaginação não retém nenhum deles, o suficiente para poder conhecer sua natureza, e assim alimentamos a ideia de que não podemos impedir que nossos pensamentos fossem como são. Por causa disto, muitas pessoas acostumam-se a pensar negligentemente, o que os torna incapazes de se concentrarem num determinado assunto ou dominá-lo. É difícil alcançar isto, mas quando se consegue o controle do pensamento, a pessoa que conquistou isto tem certamente em sua mão a chave-mestra do êxito, em qualquer empreendimento”.
Por tudo isto é óbvio concluir que a Mente precisa desenvolver-se cada vez mais. Perdemos tempo ocupando-a com pensamentos vagos e indignos, ao invés de exercitá-la condignamente para aumentar sua força e seu potencial. Precisamos de muitas vidas de esforço mental controlado para desenvolver a Mente.
Não parece razoável, então, que ajudemos ativamente este processo, de todas as maneiras possíveis, em lugar de impedir e até recusar o trabalho contínuo de estimular e exercitar a Mente?
Projetá-la também numa situação nova e desafiadora e trabalhar sobre as forças criativas latentes, que eventualmente poderão manifestar-se?
Conservar a Mente ocupada em canais construtivos de serviço à humanidade é a única maneira de ajudá-la a evoluir até aquele ponto de perfeição criativa para a qual está destinada. Todas as vezes que nos permitimos ficar indolentes mentalmente ou arquitetamos pensamentos destrutivos ou vagos, em lugar de pensamentos construtivos, e se possível criativos, estamos segurando e atrasando bastante o desenvolvimento de nossa Mente. Além disso, quando nos deixamos levar por certos tipos de atividade mental negativa, mais difícil será para nós recomeçar a usar a Mente em propósitos dignos e válidos. Preguiça mental que se disfarça sobre a forma de distração ou descanso, é muito agradável às naturezas inferiores que não desistirão de esse proceder facilmente, uma vez que já o hábito se instalou.
Muitas vezes, durante o dia, quando estamos ocupados nas tarefas de rotina, porém necessárias, a Mente pode estar sendo exercitada. Períodos de afazeres domésticos, jardinagem, tempo gasto no transporte indo ou vindo do trabalho, momentos de espera para algum compromisso ou algo parecido, tudo pode ser utilizado em benefício da Mente. A grande maioria das pessoas tem no fundo de suas Mentes, vagas ideias de projetos, de realizações, de condutas que se apresentam como possibilidades para considerações futuras “quando tivermos tempo”. Muitos de nós temos tempo e até mais tempo do que imaginamos, e deveríamos usá-la na consideração destes novos esquemas: colocar os planos em atividade e usar o tempo que temos, sabiamente.
Se utilizarmos, de maneira correta, todos os momentos que temos a nossa disposição, a nossa Mente será capaz de grandes coisas. A atividade construtiva mental, intermeadas por períodos de repouso mental, que também é de natureza construtiva, moldará e transformará com firmeza a nossa Mente, em instrumento de força e poder inacreditáveis.
A graça (dádiva) da concentração criativa deve ser adquirida através de atividade e exercício mental apropriados. Uma vez obtida esta graça, acharemos nossas vidas mais ricas e desenvolvidas, e ficaremos surpreendidos em ver o tempo que desperdiçamos, quando fugimos de fazer este esforço mental.
(Traduzido da Revista “Rays from the Rose Cross” e publicado no Serviço Rosacruz – 06/81 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Objetivos de um Verdadeiro Aspirante Rosacruz
Ninguém pode sentir-se feliz vivendo somente para si. Quem assim encaminha sua existência mal pode prever os desditosos resultados de tão triste semeadura. Não nos espanta saber que a sociedade moderna é um imenso agrupamento de pessoas acometidas de diversas formas de neurose. A neurose é uma doença; é um mal provocado por uma vivência centrada no egoísmo.
O neurótico, além de egoísta, tende a ser egocêntrico (eu+centro). Isto é, a colocar-se no centro de todas as coisas, como se fosse a pessoa mais importante do mundo. Isso, obviamente, gera conflitos e lhe traz sérios aborrecimentos. O indivíduo acaba por sentir-se isolado, solitário, incompreendido. Na verdade, ele se tornou incapaz de dar amor.
Os três grandes males ou pecados da nossa era: “o egoísmo, a impaciência ante as restrições e o orgulho intelectual” nada mais são que expressões neuróticas. A vida moderna, se o ser humano não orar e vigiar, tende a atirá-lo na turbulenta correnteza da competição e do hedonismo. São muitas as ciladas e sutis suas aparências. Para quem se deixou envolver pelos condicionamentos sociais, ou se há muito se acomodou ao ritmo e embalo da nossa colorida civilização, tudo isso parece normal. A anomalia consiste em não agir conforme esses parâmetros.
Como proceder, então, diante desse quadro pouco edificante?
Os Ensinamentos Rosacruzes preconizam uma vivência equilibrada.
“Viver no mundo, mas não ser do mundo” (Jo 17: 15-16) é uma boa filosofia de vida. O estudante Rosacruz entende não deve isolar-se só porque as condições do meio onde vive são incompatíveis com seus princípios. Alienar-se é um erro grave. A reparação deverá ser feita no devido tempo. Fugir as responsabilidades é passar ao largo de experiências valiosíssimas.
Evitar pessoas incapazes de falar a sua linguagem espiritual ou impotente para libertar-se de uma mentalidade materialista não lhe trará benefício algum. Saber relacionar-se sem perder sua identidade ou autenticidade é um indício de crescimento espiritual.
Ao estudante Rosacruz cabe cultivar algumas habilidades. Deve ser flexível e tolerante para com os defeitos alheios, mas vigilante para consigo mesmo. Em suma, é bom aceitar as pessoas como elas são, sem, entretanto, deixar-se abalar em suas convicções.
No convívio espiritual cabe-lhe fazer valer suas qualidades e competência isento, porém, de qualquer intenção de competir. Sem pretensões descabidas, trabalha honestamente, confiando na Justiça Divina que dá a cada um segundo seu merecimento. Se a ascensão profissional sobrevier como fruto de seus esforços saberá entendê-la como um meio de fazer o bem e não um fim em si mesmo. Infelizmente os seres humanos, em sua maioria, subverteram o sentido das coisas.
O estudante Rosacruz esforça-se por ser um exemplo no meio em que vive. Cuide-se, entretanto, de que isso não o torne vaidoso. À medida que avançamos no caminho da espiritualidade, as armadilhas revestem-se de sutilezas; as falhas de caráter assumem ares de virtude, e o tombo acaba por tornar-se perigosíssimo.
Fique atento o aspirante Rosacruciano: Viva o mundo material, mas cultive seu mundo interior, tendo sempre presente que o “Reino de Deus está dentro de si mesmo” (Lc 17:21) e deve governar todos os seus passos. Por falar em passos, evite viver apressadamente, como aqueles que correm desesperadamente atrás de algo que nem sabem definir o que seja. Trabalhamos para viver e não para morrer. A serenidade nunca está com pressa, jamais é impaciente e com falta de tempo. Segundo Goethe, “a felicidade não é um prazer transitório, mas a longevidade de um poder secreto”.
Se o mundo adora a sofisticação, o estudante ruma em sentido contrário: prefere a simplicidade. É mister redescobrir a simplicidade – simplicidade no viver, simplicidade nas atitudes com relação ao mundo e a outras pessoas. Os prazeres simples trazem mais duradouros benefícios.
As simples qualidades cristãs de amor e bondade, embora nem sempre apreciadas em nossa avançada sociedade tecnológica, são ainda as melhores fontes de felicidade.
Tudo isso é muito importante, mas a suprema meta do Estudante Rosacruz deve ser a consagração de sua vida a servir a humanidade. Os elevados e compassivos seres que regem nossa evolução necessitam, em sua missão benfeitora de obreiros, de auxiliares aqui no plano físico. Quanto mais nos conscientizarmos do alcance desse labor, mais dispostos estaremos a servir. É um privilégio participar desse plano de redenção, mormente dedicando nossos esforços a Obra Rosacruz. Os Irmãos Maiores se regozijam quando o aspirante, superando as limitações do egoísmo, expressa o Amor Crístico, cultivando um sentimento impessoal e universal de solidariedade. Terá dado o primeiro passo ao assumir a condição de Auxiliar Visível, e, posteriormente, Auxiliar Invisível inconsciente.
Com o decorrer do tempo suas faculdades internas florescerão a níveis sequer imagináveis, ensejando-lhe converter-se em Auxiliar Invisível consciente. Terá, então, o passo além do véu.
(Revista Serviço Rosacruz – 06/81 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Controle da Poluição: quais as que mais se precisa
Talvez a forma mais séria de poluição seja a poluição do pensamento, pois todas as poluições não se originam de nossos pensamentos? Isto pode parecer, a primeira vista, absurdo, mas não o é. Por que nossas condições de poluição existem? Não é por causa de pensamentos egoístas, ações só em benefício próprio, no esquecimento dos outros? Tais pensamentos são contagiosos e por causa disso, a poluição se espalha à medida que cada um quer tirar vantagens e pensar só em si.
Se pudesse ver com nossos olhos o que acontece quando pensamos, é certo que nosso modo de pensar seria afetado e modificado. Se pudéssemos “ver” pensamentos de compaixão, de benção, de conforto, de amor, de altruísmo, de alegria, trazendo Iuz e ajuda mental ou um pensamento forte de paz que acalma e harmoniza, é certo que tudo faríamos para “segurar” esses tipos de pensamentos.
Se pudéssemos “ver” quando emitimos um pensamento crítico, que vai alcançar uma pessoa e que talvez essa atitude o leve ao fracasso, certo que não nos perdoaríamos.
Não tenhamos dúvidas que tais pensamentos são uma forma perniciosa de autoindulgência. Sintonizar na estática do negativo, dos maus pensamentos, congestiona e distorce a clara recepção do positivo. Naturalmente, podemos agir e proteger-nos deste tipo de violação; não somos imponentes diante disto. Mas o que será daqueles que não estão cientes de que isto existe e que não sabem como proteger-se.
A menos que nos mantenhamos de prontidão e alertas, estaremos cada vez mais isolados, sentindo-nos separados de nossa essência divina. Tantas coisas têm levado o ser humano a pensar que ele está dividido, que sua vida é dividida em cubículos, que está repartido no trabalho, na família, na religião, na recreação, no estudo e até nele próprio. Imaginar que há divisões para cada área de seu mundo: isto é uma ilusão.
Não importa o quanto ele tente manter cada setor isolado do outro, a verdade é que cada um deles afeta profundamente o outro, esteja ele ciente ou não deste fato. E mais, cada indivíduo é um ser isolado, completo e íntegro; cada parte de sua vida física, mental e emocional afeta todas as outras partes, como também essas partes afetam o próximo. E levando ao extremo, afetam tudo no universo. Cada grão de areia e cada estrela distante estão interligados numa epopeia indissolúvel, sinfônica, interagindo e tendo impacto sobre a outra. Cada uma animando, contribuindo com o seu papel importante, no total da vida e do universo.
O ser humano tem a grande responsabilidade de manter a harmonia, de fazer com que a sua apresentação se desenvolva em uma sequência lógica para chegar a um final glorioso. Ele deve manter sua integridade, não só para ser capaz de viver intensamente, mas também porque ninguém vive intensamente se os outros não viverem assim.
No desenrolar diário dos acontecimentos devemos nos manter, se não completamente positivos, pelo menos não muito negativos e podemos nos lembrar da advertência de São Paulo: “Enfim, irmãos, tudo o que há de verdadeiro, digno, justo, puro, amável, honesto, tudo o que é virtuoso, elogiável, seja o objeto dos vossos pensamentos” – (Fp 4: 8).
Mas aí, algo desagradável nos acontece e nos aborrecemos muito. Externamente podemos parecer os mesmos, mas, por dentro, começa um grande e perturbador distúrbio. Irritação, raiva, contrariedade e desgosto, tudo se mistura e sentimos a pressão aumentar. Arquitetamos diálogos com comentários inteligentes e sarcásticos. Como qualquer químico sabe, uma substância cáustica queima e o fogo que arde em nós é um fogo destrutivo. Se deixarmos que este fogo se apodere de nós, o efeito logo tornará visível no corpo, sob a forma de doença ou algum tipo de incapacidade.
Para nosso próprio bem, não podemos nos deixar levar por este tipo de indulgência. Sabemos o que fazer sobre isto: substituir os pensamentos negativos pelos positivos. Infelizmente, preferimos tolerar em nós essa atitude mental infantil de bater os pés e gritar. Estamos, deste modo, poluindo a nossa atmosfera e toda a atmosfera ao nosso redor.
Nossa responsabilidade não é somente para conosco, mas também para com nossos irmãos. Somos uma parte de um todo indivisível e foi nos dado o privilégio de ajudar este todo com amor e harmonia. Por vezes sentimos, petulantemente, que não ligamos para isto, mas, no fundo, sabemos que isso nos afeta.
Se pararmos para pensar e examinarmos, detalhadamente, porque estamos reagindo com irritação ou raiva e honestamente avaliarmos a situação, ficaremos surpresos e envergonhados com o que vamos presenciar. Devemos partir do princípio que, o que não queremos para nós, não devemos lançar em pensamento para os outros. Que não devemos dar aquilo que não gostaríamos de receber e que o ideal a lutar é para que sejamos instrumentos de paz e construtores no templo de Deus.
Quando a fumaça e a fúria de nossas emoções violentas diminuem, podemos ver que estivemos poluindo nosso meio ambiente. Pode levar algum tempo para que nos apercebamos que podemos ser mais controlados nas nossas reações. Muitas vezes tentamos justificar um ato de intolerância, apontando os erros dos outros, e com isto procurando desculpar uma conduta negativa.
Devemos aprender a manejar a autodisciplina e o autocontrole. É nos dada sempre à oportunidade para pormos a prova o nosso senso de equilíbrio. É através desta prática que desenvolveremos a força necessária para resistir ao inferior.
Na realidade, a conduta do outro não é o problema, mas sim a forma como reagimos a ela. Há um antigo provérbio que diz que a única pessoa que pode mudar é você mesmo (a). Não devemos condenar uma ação errônea do próximo, mas sim zelar para que nossa ação seja a certa.
O que é “certo”?
Certo é tudo aquilo que é positivo, querido, construtivo, útil, não poluente, sem maldade.
Certo é tudo aquilo que é amoroso em pensamentos, palavras e obras.
Certo é tudo aquilo que nos faz semelhantes a Deus, ao nosso Criador.
(Traduzido da Revista “Rays from the Rose Cross” e publicado no Serviço Rosacruz – 03/80 – Fraternidade Rosacruz – SP)
O Conhecimento do Coração: você está pronto?
“A Ordem Rosacruz foi fundada especialmente para aqueles que possuidores de um alto grau de desenvolvimento intelectual, deixam de lado os reclamos (as queixas) do coração. Todo homem ou mulher que tenham sido abençoados com uma Mente investigadora, é de suprema importância receber toda informação que queira. Dessa forma aquietando a cabeça, o coração poderá falar”.
“O conhecimento intelectual é apenas um meio, não um fim em si mesmo. Daí o propósito da Ordem Rosacruz, antes de mais nada, satisfazer o Aspirante por meio do conhecimento de que tudo no Universo é razoável, o que poderá resultar num controle sobre o rebelde intelecto”.
“Quando, dessa forma, o Aspirante cesse de criticar e admita, embora provisoriamente, como verdadeiras as afirmações que não podem ser de imediato comprovadas, somente então o seu treinamento esotérico poderá ser efetivo para o desenvolvimento das faculdades superiores”.
Cremos que esta advertência do Conceito Rosacruz do Cosmos, algumas vezes é passada por alto, pois os Estudantes fascinam-se de tal modo com o método de evolução, que se esquecem do que o Sr. Max Heindel designou em Coletâneas de um Místico: “O Magno Mistério”. Nesse estudo nos recorda que “Cristo não disse: Bem fizeste, tu, grande e erudito filósofo que conheces a Bíblia, a Cabala, o Conceito Rosacruz do Cosmos, e toda a literatura misteriosa que revela as intrincadas operações da Natureza – mas disse sim, ‘Bem fizestes tu bom e fiel servo, entra no gozo de Teu Senhor… Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber‘ (Mt 25:35). Não notamos uma só palavra acerca de conhecimentos…”.
Em várias outras ocasiões somos advertidos, que não devemos olhar o próximo “por cima dos ombros”, já que aquele que, devido ao seu pouco preparo intelectual serve, simples e humildemente; pode compensar com amor àquela carência. Esses são ativos servindo.
São os atos de amor e bondade que constroem o Corpo-Alma. O conhecimento é bom quando usado e compartilhado para benefício do próximo, pois quando conservamos para nós mesmos, colocamo-nos novamente em tonalidade com o egoísmo, fomentado pelos Espíritos de Lúcifer que instigam toda a classe de atividade mental, com a finalidade de obterem conhecimento à medida que o obtemos. Entretanto, canalizando todo conhecimento que obtivermos para edificação de nossos irmãos, transformamos uma armadilha mortal em sublime benção.
Aqueles que trabalham e servem aos demais por amor ao serviço, não necessitam que sejam impulsionados para a prática de boas ações. Necessitando-se de um estímulo extra têm-se maior responsabilidade. Estamos vivendo esses ensinamentos?
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 01/80 – Fraternidade Rosacruz – SP)
O Valor de Dar e Receber
Um engano muito difundido é aquele que diz que dar é “desistir” de alguma coisa, é ficar despojado de algo, é sacrificar-se. Aqueles que não têm uma orientação neste sentido, os que não produzem para os outros, sentem o dar como um empobrecimento – porque é doloroso dar, precisa-se dar, a virtude de “dar”, para eles, é um ato de sacrifício, são os “não produtivos”.
Para uma pessoa de caráter “produtivo”, o “dar” tem um significado totalmente diferente; “dar” é uma expressão de força maior. No ato de dar experimento a minha força, minha riqueza, meu poder. Esta experiência de elevada espiritualidade e vitalidade me enche de alegria e força.
Vejo-me exuberante e vivo.
Dar é mais agradável do que receber, não por orgulho, mas porque no ato de dar está a expressão da minha vida.
(Traduzido da Revista “Rays from the Rose Cross” e publicado na Revista Serviço Rosacruz – 06/80 – Fraternidade Rosacruz –SP)
O Espírito do Capitalismo quando temperado com a visão interna espiritual
Desde os tempos primitivos que, de uma ou de outra forma, o capitalismo existe. Encontramos mercadores e negociantes em todas as partes do mundo, durante todos os estágios da história da humanidade. Através dos tempos tem até existido cidades e vilas que foram construídas em função do sistema capitalista. Porém, nunca o capitalismo desenvolveu-se tanto como atualmente no mundo ocidental.
O capitalismo de hoje em dia é único; não pode e não deve ser comparado com as anteriores formas de capitalismo.
O capitalismo, numa larga escala, emergiu da Idade Média para a história moderna, após sofrer uma transformação. O sistema capitalista, que era inicialmente um ideal, foi adulterado até ao seu presente estado por um mundo que renunciou a Deus e esqueceu a liberdade humana.
Desde os primórdios a religião desempenhou o principal papel na vida cotidiana do ser humano. Qualquer influência que o capitalismo possa ter tido no indivíduo, desde os primeiros tempos até fins da Idade Média, foi sempre subordinada a influência que nele tinha a religião. Por outro lado, o sistema capitalista de hoje não está subordinado a quaisquer ideais religiosos. Na realidade, o sistema capitalista atual não mantém mais os ideais nos quais foi moldado, no início do período da Reforma. O capitalismo moderno tem sido usado como um instrumento contra a iluminação espiritual do ser humano. O capitalismo, no começo da Reforma, era baseado nos ideais de honestidade, frugalidade, diligência, sobriedade e prudência (para citar alguns), mas no mundo atual estes ideais foram substituídos pela cupidez.
A cupidez, devemos salientar, não é apanágio do sistema capitalista. Exemplos de cobiça podem ser encontrados em todos os credos e em todas as nações; foram, na sua maior parte, exemplos individuais de avidez. Porém, em nenhum tempo, a cobiça foi tão predominante, tão disseminada, tão tolerada e adotada como hoje. “Enriquecei-vos” parece ser o grito de batalha do dia. Este cupidez tão predominante no sistema capitalista moderno existe, principalmente, em virtude das tão disseminadas ideias materialistas adotadas atualmente.
Tem havido muitos que reconheceram a avidez e o egoísmo prevalecentes no sistema capitalista atual e tentaram mudá-lo. Muitos, nessa tentativa, voltaram-se para o socialismo, comunismo ou até o fascismo e muitos que adotaram estes sistemas ficaram desapontados, pois, são também sustentados pelo materialismo e, assim, servem como bons exemplos de cobiça. Estes sistemas não estão isentos de cupidez e egoísmo, mas, o que é pior, negam os únicos ideais que podem salvar o ser humano: Deus e a liberdade individual.
O materialismo é o nosso inimigo verdadeiro, que tem estado escondido e trabalhando através do nosso sistema capitalista. O ser humano, através dos seus desejos egoístas, tomou-se um escravo do materialismo e só quando obtiver controle sobre seus desejos, pode libertar-se de sua dependência material. Só quando retornar para Deus, ele será libertado. Temos que devolver ao capitalismo os ideais que, em certa época manteve. Devemos retomar a uma vida orientada espiritualmente e a ela subordinar, novamente, os objetivos materiais.
Para compreendermos melhor como chegamos à nossa maneira de ser capitalista atual devemos olhar para trás, até a Idade Média.
IDADE MÉDIA
As sementes do moderno capitalismo foram, pela primeira vez, semeadas na Idade Média. Estas não eram as sementes do interesse, dos salários, trabalho, rendas ou capital; eram as sementes dos princípios econômicos que afinal desenvolveram-se até chegar à filosófica materialista de hoje.
Durante a Idade Média, as considerações espirituais tornaram-se subordinadas aos interesses econômicos. Este processo foi lento, demorando vários anos e não se completou sem lutas. Estas lutas envolviam interesses das pessoas de negócios, da Igreja e do Estado. Em muitos casos, a Igreja adaptou os seus ensinamentos às realidades econômicas da época e aquelas poucas figuras religiosas que se opuseram às, então, correntes, práticas feudais e mercantis, foram silenciadas peto tempo.
Porém, as suas críticas eram tão relevantes então, como são hoje. R. H. Tawney, no seu livro “Religion and the rise of capitalism” (A religião e a ascensão do capitalismo), salienta a ideia em que se insistiu na Idade Média de “que a sociedade é um organismo espiritual e não uma máquina econômica…”.
Tawney também salienta “que os interesses econômicos estão subordinados à verdadeira finalidade da vida, que é a salvação, e que a conduta econômica é um aspecto da conduta pessoal, na qual estão ligadas as regras da moral”.
A razão porque não se enraizaram estes ideais, deve ser atribuída a cegueira espiritual do ser humano. O capitalismo é um simples instrumento, não um fim em si mesmo. Numa sociedade materialista, o capitalismo é destruidor da capacidade de crescimento espiritual do ser humano. O capitalismo temperado com a visão interna espiritual permite ao indivíduo a liberdade de desenvolver até ao mais alto grau, as suas potencialidades divinas. A chave para o desenvolvimento espiritual é a liberdade e o altruísmo. A luta do ser humano contra as forças do materialismo falharão hoje, como falharam na Idade Média, a menos que o ser humano desenvolva a sua visão interna espiritual. Durante a Idade Média o ser humano foi confrontado com a “a corrupção notória das autoridades eclesiásticas, que pregavam a renúncia, e, por outro lado, davam lições de cupidez” – Tawney.
(Revista Serviço Rosacruz – 01/80 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Compreensão Interior: não se feche à verdadeira natureza das coisas
As coisas externas “falam-nos”, por assim dizer, somente quando sua “fala” possa ser compreendida por nossas naturezas internas. Se o ser humano quiser obter conhecimento não pode conservar-se passivo no seu meio-ambiente. Ele deve, ativamente, produzir reações naquele meio-ambiente, proveniente de dentro de si próprio. Portanto, não existe tal coisa como revelação externa, mas, somente, um despertar interior.
Cada pessoa tem o que pode ser chamado de sua própria verdade, porque cada pessoa é um indivíduo, um ser separado. Do ponto de vista particular com o qual, do seu lugar na escada da evolução, ele está sintonizado, e de acordo com o contexto no qual os seus poderes de percepção operam, ele estabelece um relacionamento com aquilo que parece ser externo a ele e assim, adquire a sua própria “verdade”, para si próprio. A exatidão desta “verdade” depende do grau de seu autoconhecimento. Como Goethe disse: “Se eu conheço a minha relação comigo mesmo e com o mundo exterior, eu a chamo verdade. E assim cada um pode ter sua própria verdade e, apesar de tudo ela é sempre uma e a mesma”.
Já foi dito que há dois tipos de conhecimento: um que compõe o nosso relacionamento com os objetos externos e o outro é aquele que é ele próprio, o objeto do qual obtemos conhecimento: as coisas como as vemos e as coisas como, na verdade, são. A primeira espécie é dominante na ciência material que tenta explicar as coisas e os acontecimentos do mundo exterior. A segunda espécie está em nós quando vivemos dentro do conhecimento que obtivemos. A segunda espécie de conhecimento, então, origina-se da primeira.
É, talvez, simplesmente natural que dois tipos de conhecimento devam existir desta maneira. A percepção sensorial do ser humano diz-lhe que é um indivíduo entre outros indivíduos e separado das outras coisas. Porém, quando ele aprende a compreender que é um Deus em formação, feito a imagem de nosso Deus solar – quando, em outras palavras, ele se abre ao conhecimento superior, compreendendo a sua natureza divina – o conhecimento que ele tem das coisas começa a transformar-se numa compreensão da verdadeira existência e significado das coisas. Esta transformação, todavia, só pode ser realizada pelo esforço próprio. O ser humano só começa a ser verdadeiramente ele próprio, quando obtém este elevado conhecimento.
Muitas pessoas parecem vacilar para frente e para trás, entre os dois tipos de conhecimento – olhando e verdadeiramente sabendo. Quando alguém se recusa a olhar, fecha-se às coisas cuja natureza ele deve aprender a conhecer. Quando se recusa a trabalhar para a obtenção da sabedoria, ele fecha-se à verdadeira natureza das coisas.
(Revista Serviço Rosacruz – 05/80 – Fraternidade Rosacruz – SP)