Arquivo de categoria Método para Adquirir o Conhecimento Direto

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Desenvolvimento Mental: adquirido através de atividade e exercício mental apropriados

Desenvolvimento Mental: adquirido através de atividade e exercício mental apropriados

Alguém que tenha experimentado alguma vez o que foi chamado de “a graça da concentração criativa” não poderá se sentir indiferente pela perda de tempo nas ocupações e passatempos sem sentido, que geralmente fazem perder uma parte de energia mental. Se no passado essa pessoa encontrou algum prazer na preguiça e inatividade mental, provavelmente, continuará agindo assim por mais algum tempo. Hábitos antigos são difíceis de mudar, mas a sua consciência, estimulada pela lembrança da elevação espiritual e da realização resultante de seus momentos de concentração criativa, irá causar-lhe uma inquietação cada vez maior.

Começará a sentir que é, na verdade, um pecado contra o espírito, deixar-se sucumbir pela indolência mental, desperdiçar seus talentos intelectuais e levar, mesmo que parcialmente, uma existência improdutiva.

Uma das razões para nossa curta permanência neste mundo físico é que devemos desenvolver a força criativa e a capacidade que temos dentro de nós. Quando percebemos o que podemos conseguir com esta força e que grande capacidade latente existe em nós, não ficaremos mais satisfeitos em deixar que outros nos distraiam continuamente, que pensem por nós (e nós podemos pensar até melhor) e que fiquemos parados vendo a vida passar. Vamos querer, cada vez mais, participar ativamente nos pensamentos construtivos e originais, dedicando tantos momentos quantos forem possíveis a isto, e experimentar a alegria e exaltação que nos vem quando tais pensamentos são traduzidos em ações e nos trazem seus frutos.

Nossa ideia original de “descanso”: sentar-se por longo tempo diante da televisão assistindo programas fúteis; leitura literária de valor duvidoso, que exige pouca ou nenhuma resposta mental; assistir a filmes de segunda classe ou qualquer outro tipo de atividade mundana e passiva.

O que parece de início tarefa difícil, concentração, estudo ou pensamento criativo, quando tomamos consciência por um esforço determinado da vontade, torna-se fácil, mais natural e até familiar. Com o tempo, o esforço desenvolvido da vontade para estas atividades será mínimo e, a antiga tendência para as atividades improdutivas e passivas mudarão e até sentiremos um sentimento agudo de desagrado por tarefas desta natureza.

Isto de maneira alguma implica na necessidade de uma pessoa tornar-se escravo mental ou levar uma vida exclusivamente contemplativa, para experimentar elevação espiritual da concentração criativa. Muito longe disso, os resultados da concentração criativa devem resultar em ação criativa e é este o verdadeiro significado que deve nortear os que assim se concentram. Devemos reservar algum tempo a esta atividade, mas certamente uma vida vivida exclusivamente “pensando”, sem nada ou pouco “fazer” não preencherá o propósito de nossa existência na Terra.

O descanso é um fator importante nas nossas vidas, mas os períodos de descanso devem ser intercalados com períodos de concentração criativa e atividades criativas, o que é muito necessário para a maioria das pessoas, porque estamos no estágio do desenvolvimento mental.

Há, porém, muito poucos que podem sustentar continuamente um alto grau de atividade mental ininterrupta e intensiva, ou uma atividade duplamente mental e física, sem o alívio e o relaxamento de ocupações menos exigentes. O descanso físico, contudo, não precisa ser passivo, parado, assim como o descanso mental não quer dizer que a Mente não vá ser usada.

Por exemplo, no descanso do estudo, uma pessoa pode fazer uma literatura menos séria, mas que seja ao mesmo tempo, estimulante para a Mente. Tratados filosóficos podem ser postos de lado em favor de livros de viagem, artigos sobre a natureza, animais ou qualquer outro tipo de assuntos de interesse particular. Esses livros são mentalmente estimulantes e oferecem à Mente uma variação de tipos de leitura. O descanso combinado com o estímulo mental é também obtido através de atividades como passeios ao ar livre, o contato com a natureza, contemplando-a e meditando sobre ela, ter os olhos e os ouvidos abertos, tentando aprender enquanto passeamos, escutar uma boa música, fazer visitas a museus e ter conversas elevadas e construtivas com amigos. Todos esses passatempos e muitos outros são muito mais produtivos, e exercem uma atividade mental muito maior, do que permanecer na inércia, que é tido como descanso por muitas pessoas. Um dos piores defeitos que podemos ter é o da preguiça mental e autoindulgência. A Mente é o veículo mais recentemente adquirido, dos quatro que possuímos, e, como tal, é o menos desenvolvido.

Max Heindel nos deu muitas informações sobre a Mente nos seus vários trabalhos. Leia-se no Conceito: “A Mente é o instrumento mais importante que o espírito possui; um instrumento especial na obra da criação. A laringe espiritualizada e perfeita determinará e falará a Palavra Criadora, mas a Mente aperfeiçoada decidirá quanto à forma particular e volume de vibração. A Imaginação será a faculdade espiritualizada que dirigirá a criação”.

É um sublime ideal, sem dúvida, mas o ser humano ainda está longe de obter este desenvolvimento mental, de atingir seu auge, sua finalidade.

No livro “Cartas aos Estudantes”, encontramos: “A Mente da maioria das pessoas é como uma peneira, um crivo. Os pensamentos se filtram através de seus cérebros da mesma forma que a água atravessa a peneira. Estes pensamentos são bons, maus e indiferentes, estes últimos em grande maioria. A imaginação não retém nenhum deles, o suficiente para poder conhecer sua natureza, e assim alimentamos a ideia de que não podemos impedir que nossos pensamentos fossem como são. Por causa disto, muitas pessoas acostumam-se a pensar negligentemente, o que os torna incapazes de se concentrarem num determinado assunto ou dominá-lo. É difícil alcançar isto, mas quando se consegue o controle do pensamento, a pessoa que conquistou isto tem certamente em sua mão a chave-mestra do êxito, em qualquer empreendimento”.

Por tudo isto é óbvio concluir que a Mente precisa desenvolver-se cada vez mais. Perdemos tempo ocupando-a com pensamentos vagos e indignos, ao invés de exercitá-la condignamente para aumentar sua força e seu potencial. Precisamos de muitas vidas de esforço mental controlado para desenvolver a Mente.

Não parece razoável, então, que ajudemos ativamente este processo, de todas as maneiras possíveis, em lugar de impedir e até recusar o trabalho contínuo de estimular e exercitar a Mente?

Projetá-la também numa situação nova e desafiadora e trabalhar sobre as forças criativas latentes, que eventualmente poderão manifestar-se?

Conservar a Mente ocupada em canais construtivos de serviço à humanidade é a única maneira de ajudá-la a evoluir até aquele ponto de perfeição criativa para a qual está destinada. Todas as vezes que nos permitimos ficar indolentes mentalmente ou arquitetamos pensamentos destrutivos ou vagos, em lugar de pensamentos construtivos, e se possível criativos, estamos segurando e atrasando bastante o desenvolvimento de nossa Mente. Além disso, quando nos deixamos levar por certos tipos de atividade mental negativa, mais difícil será para nós recomeçar a usar a Mente em propósitos dignos e válidos. Preguiça mental que se disfarça sobre a forma de distração ou descanso, é muito agradável às naturezas inferiores que não desistirão de esse proceder facilmente, uma vez que já o hábito se instalou.

Muitas vezes, durante o dia, quando estamos ocupados nas tarefas de rotina, porém necessárias, a Mente pode estar sendo exercitada. Períodos de afazeres domésticos, jardinagem, tempo gasto no transporte indo ou vindo do trabalho, momentos de espera para algum compromisso ou algo parecido, tudo pode ser utilizado em benefício da Mente. A grande maioria das pessoas tem no fundo de suas Mentes, vagas ideias de projetos, de realizações, de condutas que se apresentam como possibilidades para considerações futuras “quando tivermos tempo”. Muitos de nós temos tempo e até mais tempo do que imaginamos, e deveríamos usá-la na consideração destes novos esquemas: colocar os planos em atividade e usar o tempo que temos, sabiamente.

Se utilizarmos, de maneira correta, todos os momentos que temos a nossa disposição, a nossa Mente será capaz de grandes coisas. A atividade construtiva mental, intermeadas por períodos de repouso mental, que também é de natureza construtiva, moldará e transformará com firmeza a nossa Mente, em instrumento de força e poder inacreditáveis.

A graça (dádiva) da concentração criativa deve ser adquirida através de atividade e exercício mental apropriados. Uma vez obtida esta graça, acharemos nossas vidas mais ricas e desenvolvidas, e ficaremos surpreendidos em ver o tempo que desperdiçamos, quando fugimos de fazer este esforço mental.

(Traduzido da Revista “Rays from the Rose Cross” e publicado no Serviço Rosacruz – 06/81 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Objetivos de um Verdadeiro Aspirante Rosacruz

Objetivos de um Verdadeiro Aspirante Rosacruz

Ninguém pode sentir-se feliz vivendo somente para si. Quem assim encaminha sua existência mal pode prever os desditosos resultados de tão triste semeadura. Não nos espanta saber que a sociedade moderna é um imenso agrupamento de pessoas acometidas de diversas formas de neurose. A neurose é uma doença; é um mal provocado por uma vivência centrada no egoísmo.

O neurótico, além de egoísta, tende a ser egocêntrico (eu+centro). Isto é, a colocar-se no centro de todas as coisas, como se fosse a pessoa mais importante do mundo. Isso, obviamente, gera conflitos e lhe traz sérios aborrecimentos. O indivíduo acaba por sentir-se isolado, solitário, incompreendido. Na verdade, ele se tornou incapaz de dar amor.

Os três grandes males ou pecados da nossa era: “o egoísmo, a impaciência ante as restrições e o orgulho intelectual” nada mais são que expressões neuróticas. A vida moderna, se o ser humano não orar e vigiar, tende a atirá-lo na turbulenta correnteza da competição e do hedonismo. São muitas as ciladas e sutis suas aparências. Para quem se deixou envolver pelos condicionamentos sociais, ou se há muito se acomodou ao ritmo e embalo da nossa colorida civilização, tudo isso parece normal. A anomalia consiste em não agir conforme esses parâmetros.

Como proceder, então, diante desse quadro pouco edificante?

Os Ensinamentos Rosacruzes preconizam uma vivência equilibrada.

“Viver no mundo, mas não ser do mundo” (Jo 17: 15-16) é uma boa filosofia de vida. O estudante Rosacruz entende não deve isolar-se só porque as condições do meio onde vive são incompatíveis com seus princípios. Alienar-se é um erro grave. A reparação deverá ser feita no devido tempo. Fugir as responsabilidades é passar ao largo de experiências valiosíssimas.

Evitar pessoas incapazes de falar a sua linguagem espiritual ou impotente para libertar-se de uma mentalidade materialista não lhe trará benefício algum. Saber relacionar-se sem perder sua identidade ou autenticidade é um indício de crescimento espiritual.

Ao estudante Rosacruz cabe cultivar algumas habilidades. Deve ser flexível e tolerante para com os defeitos alheios, mas vigilante para consigo mesmo. Em suma, é bom aceitar as pessoas como elas são, sem, entretanto, deixar-se abalar em suas convicções.

No convívio espiritual cabe-lhe fazer valer suas qualidades e competência isento, porém, de qualquer intenção de competir. Sem pretensões descabidas, trabalha honestamente, confiando na Justiça Divina que dá a cada um segundo seu merecimento. Se a ascensão profissional sobrevier como fruto de seus esforços saberá entendê-la como um meio de fazer o bem e não um fim em si mesmo. Infelizmente os seres humanos, em sua maioria, subverteram o sentido das coisas.

O estudante Rosacruz esforça-se por ser um exemplo no meio em que vive. Cuide-se, entretanto, de que isso não o torne vaidoso. À medida que avançamos no caminho da espiritualidade, as armadilhas revestem-se de sutilezas; as falhas de caráter assumem ares de virtude, e o tombo acaba por tornar-se perigosíssimo.

Fique atento o aspirante Rosacruciano: Viva o mundo material, mas cultive seu mundo interior, tendo sempre presente que o “Reino de Deus está dentro de si mesmo” (Lc 17:21) e deve governar todos os seus passos. Por falar em passos, evite viver apressadamente, como aqueles que correm desesperadamente atrás de algo que nem sabem definir o que seja. Trabalhamos para viver e não para morrer. A serenidade nunca está com pressa, jamais é impaciente e com falta de tempo. Segundo Goethe, “a felicidade não é um prazer transitório, mas a longevidade de um poder secreto”.

Se o mundo adora a sofisticação, o estudante ruma em sentido contrário: prefere a simplicidade. É mister redescobrir a simplicidade – simplicidade no viver, simplicidade nas atitudes com relação ao mundo e a outras pessoas. Os prazeres simples trazem mais duradouros benefícios.

As simples qualidades cristãs de amor e bondade, embora nem sempre apreciadas em nossa avançada sociedade tecnológica, são ainda as melhores fontes de felicidade.

Tudo isso é muito importante, mas a suprema meta do Estudante Rosacruz deve ser a consagração de sua vida a servir a humanidade. Os elevados e compassivos seres que regem nossa evolução necessitam, em sua missão benfeitora de obreiros, de auxiliares aqui no plano físico. Quanto mais nos conscientizarmos do alcance desse labor, mais dispostos estaremos a servir. É um privilégio participar desse plano de redenção, mormente dedicando nossos esforços a Obra Rosacruz. Os Irmãos Maiores se regozijam quando o aspirante, superando as limitações do egoísmo, expressa o Amor Crístico, cultivando um sentimento impessoal e universal de solidariedade. Terá dado o primeiro passo ao assumir a condição de Auxiliar Visível, e, posteriormente, Auxiliar Invisível inconsciente.

Com o decorrer do tempo suas faculdades internas florescerão a níveis sequer imagináveis, ensejando-lhe converter-se em Auxiliar Invisível consciente. Terá, então, o passo além do véu.

(Revista Serviço Rosacruz – 06/81 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Controle da Poluição: quais as que mais se precisa

Controle da Poluição: quais as que mais se precisa

Talvez a forma mais séria de poluição seja a poluição do pensamento, pois todas as poluições não se originam de nossos pensamentos? Isto pode parecer, a primeira vista, absurdo, mas não o é. Por que nossas condições de poluição existem? Não é por causa de pensamentos egoístas, ações só em benefício próprio, no esquecimento dos outros? Tais pensamentos são contagiosos e por causa disso, a poluição se espalha à medida que cada um quer tirar vantagens e pensar só em si.

Se pudesse ver com nossos olhos o que acontece quando pensamos, é certo que nosso modo de pensar seria afetado e modificado. Se pudéssemos “ver” pensamentos de compaixão, de benção, de conforto, de amor, de altruísmo, de alegria, trazendo Iuz e ajuda mental ou um pensamento forte de paz que acalma e harmoniza, é certo que tudo faríamos para “segurar” esses tipos de pensamentos.

Se pudéssemos “ver” quando emitimos um pensamento crítico, que vai alcançar uma pessoa e que talvez essa atitude o leve ao fracasso, certo que não nos perdoaríamos.

Não tenhamos dúvidas que tais pensamentos são uma forma perniciosa de autoindulgência. Sintonizar na estática do negativo, dos maus pensamentos, congestiona e distorce a clara recepção do positivo. Naturalmente, podemos agir e proteger-nos deste tipo de violação; não somos imponentes diante disto. Mas o que será daqueles que não estão cientes de que isto existe e que não sabem como proteger-se.

A menos que nos mantenhamos de prontidão e alertas, estaremos cada vez mais isolados, sentindo-nos separados de nossa essência divina. Tantas coisas têm levado o ser humano a pensar que ele está dividido, que sua vida é dividida em cubículos, que está repartido no trabalho, na família, na religião, na recreação, no estudo e até nele próprio. Imaginar que há divisões para cada área de seu mundo: isto é uma ilusão.

Não importa o quanto ele tente manter cada setor isolado do outro, a verdade é que cada um deles afeta profundamente o outro, esteja ele ciente ou não deste fato. E mais, cada indivíduo é um ser isolado, completo e íntegro; cada parte de sua vida física, mental e emocional afeta todas as outras partes, como também essas partes afetam o próximo. E levando ao extremo, afetam tudo no universo. Cada grão de areia e cada estrela distante estão interligados numa epopeia indissolúvel, sinfônica, interagindo e tendo impacto sobre a outra. Cada uma animando, contribuindo com o seu papel importante, no total da vida e do universo.

O ser humano tem a grande responsabilidade de manter a harmonia, de fazer com que a sua apresentação se desenvolva em uma sequência lógica para chegar a um final glorioso. Ele deve manter sua integridade, não só para ser capaz de viver intensamente, mas também porque ninguém vive intensamente se os outros não viverem assim.

No desenrolar diário dos acontecimentos devemos nos manter, se não completamente positivos, pelo menos não muito negativos e podemos nos lembrar da advertência de São Paulo: “Enfim, irmãos, tudo o que há de verdadeiro, digno, justo, puro, amável, honesto, tudo o que é virtuoso, elogiável, seja o objeto dos vossos pensamentos” – (Fp 4: 8).

Mas aí, algo desagradável nos acontece e nos aborrecemos muito. Externamente podemos parecer os mesmos, mas, por dentro, começa um grande e perturbador distúrbio. Irritação, raiva, contrariedade e desgosto, tudo se mistura e sentimos a pressão aumentar. Arquitetamos diálogos com comentários inteligentes e sarcásticos. Como qualquer químico sabe, uma substância cáustica queima e o fogo que arde em nós é um fogo destrutivo. Se deixarmos que este fogo se apodere de nós, o efeito logo tornará visível no corpo, sob a forma de doença ou algum tipo de incapacidade.

Para nosso próprio bem, não podemos nos deixar levar por este tipo de indulgência. Sabemos o que fazer sobre isto: substituir os pensamentos negativos pelos positivos. Infelizmente, preferimos tolerar em nós essa atitude mental infantil de bater os pés e gritar. Estamos, deste modo, poluindo a nossa atmosfera e toda a atmosfera ao nosso redor.
Nossa responsabilidade não é somente para conosco, mas também para com nossos irmãos. Somos uma parte de um todo indivisível e foi nos dado o privilégio de ajudar este todo com amor e harmonia. Por vezes sentimos, petulantemente, que não ligamos para isto, mas, no fundo, sabemos que isso nos afeta.

Se pararmos para pensar e examinarmos, detalhadamente, porque estamos reagindo com irritação ou raiva e honestamente avaliarmos a situação, ficaremos surpresos e envergonhados com o que vamos presenciar. Devemos partir do princípio que, o que não queremos para nós, não devemos lançar em pensamento para os outros. Que não devemos dar aquilo que não gostaríamos de receber e que o ideal a lutar é para que sejamos instrumentos de paz e construtores no templo de Deus.

Quando a fumaça e a fúria de nossas emoções violentas diminuem, podemos ver que estivemos poluindo nosso meio ambiente. Pode levar algum tempo para que nos apercebamos que podemos ser mais controlados nas nossas reações. Muitas vezes tentamos justificar um ato de intolerância, apontando os erros dos outros, e com isto procurando desculpar uma conduta negativa.

Devemos aprender a manejar a autodisciplina e o autocontrole. É nos dada sempre à oportunidade para pormos a prova o nosso senso de equilíbrio. É através desta prática que desenvolveremos a força necessária para resistir ao inferior.
Na realidade, a conduta do outro não é o problema, mas sim a forma como reagimos a ela. Há um antigo provérbio que diz que a única pessoa que pode mudar é você mesmo (a). Não devemos condenar uma ação errônea do próximo, mas sim zelar para que nossa ação seja a certa.

O que é “certo”?

Certo é tudo aquilo que é positivo, querido, construtivo, útil, não poluente, sem maldade.

Certo é tudo aquilo que é amoroso em pensamentos, palavras e obras.

Certo é tudo aquilo que nos faz semelhantes a Deus, ao nosso Criador.

(Traduzido da Revista “Rays from the Rose Cross” e publicado no Serviço Rosacruz – 03/80 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Conhecimento do Coração: você está pronto?

O Conhecimento do Coração: você está pronto?

“A Ordem Rosacruz foi fundada especialmente para aqueles que possuidores de um alto grau de desenvolvimento intelectual, deixam de lado os reclamos (as queixas) do coração. Todo homem ou mulher que tenham sido abençoados com uma Mente investigadora, é de suprema importância receber toda informação que queira. Dessa forma aquietando a cabeça, o coração poderá falar”.

“O conhecimento intelectual é apenas um meio, não um fim em si mesmo. Daí o propósito da Ordem Rosacruz, antes de mais nada, satisfazer o Aspirante por meio do conhecimento de que tudo no Universo é razoável, o que poderá resultar num controle sobre o rebelde intelecto”.

“Quando, dessa forma, o Aspirante cesse de criticar e admita, embora provisoriamente, como verdadeiras as afirmações que não podem ser de imediato comprovadas, somente então o seu treinamento esotérico poderá ser efetivo para o desenvolvimento das faculdades superiores”.

Cremos que esta advertência do Conceito Rosacruz do Cosmos, algumas vezes é passada por alto, pois os Estudantes fascinam-se de tal modo com o método de evolução, que se esquecem do que o Sr. Max Heindel designou em Coletâneas de um Místico: “O Magno Mistério”. Nesse estudo nos recorda que “Cristo não disse: Bem fizeste, tu, grande e erudito filósofo que conheces a Bíblia, a Cabala, o Conceito Rosacruz do Cosmos, e toda a literatura misteriosa que revela as intrincadas operações da Natureza – mas disse sim, ‘Bem fizestes tu bom e fiel servo, entra no gozo de Teu Senhor… Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber‘ (Mt 25:35). Não notamos uma só palavra acerca de conhecimentos…”.

Em várias outras ocasiões somos advertidos, que não devemos olhar o próximo “por cima dos ombros”, já que aquele que, devido ao seu pouco preparo intelectual serve, simples e humildemente; pode compensar com amor àquela carência. Esses são ativos servindo.

São os atos de amor e bondade que constroem o Corpo-Alma. O conhecimento é bom quando usado e compartilhado para benefício do próximo, pois quando conservamos para nós mesmos, colocamo-nos novamente em tonalidade com o egoísmo, fomentado pelos Espíritos de Lúcifer que instigam toda a classe de atividade mental, com a finalidade de obterem conhecimento à medida que o obtemos. Entretanto, canalizando todo conhecimento que obtivermos para edificação de nossos irmãos, transformamos uma armadilha mortal em sublime benção.

Aqueles que trabalham e servem aos demais por amor ao serviço, não necessitam que sejam impulsionados para a prática de boas ações. Necessitando-se de um estímulo extra têm-se maior responsabilidade. Estamos vivendo esses ensinamentos?

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 01/80 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Valor de Dar e Receber

O Valor de Dar e Receber

Um engano muito difundido é aquele que diz que dar é “desistir” de alguma coisa, é ficar despojado de algo, é sacrificar-se. Aqueles que não têm uma orientação neste sentido, os que não produzem para os outros, sentem o dar como um empobrecimento – porque é doloroso dar, precisa-se dar, a virtude de “dar”, para eles, é um ato de sacrifício, são os “não produtivos”.

Para uma pessoa de caráter “produtivo”, o “dar” tem um significado totalmente diferente; “dar” é uma expressão de força maior. No ato de dar experimento a minha força, minha riqueza, meu poder. Esta experiência de elevada espiritualidade e vitalidade me enche de alegria e força.

Vejo-me exuberante e vivo.

Dar é mais agradável do que receber, não por orgulho, mas porque no ato de dar está a expressão da minha vida.

(Traduzido da Revista “Rays from the Rose Cross” e publicado na Revista Serviço Rosacruz – 06/80 – Fraternidade Rosacruz –SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Espírito do Capitalismo quando temperado com a visão interna espiritual

O Espírito do Capitalismo quando temperado com a visão interna espiritual

Desde os tempos primitivos que, de uma ou de outra forma, o capitalismo existe. Encontramos mercadores e negociantes em todas as partes do mundo, durante todos os estágios da história da humanidade. Através dos tempos tem até existido cidades e vilas que foram construídas em função do sistema capitalista. Porém, nunca o capitalismo desenvolveu-se tanto como atualmente no mundo ocidental.

O capitalismo de hoje em dia é único; não pode e não deve ser comparado com as anteriores formas de capitalismo.

O capitalismo, numa larga escala, emergiu da Idade Média para a história moderna, após sofrer uma transformação. O sistema capitalista, que era inicialmente um ideal, foi adulterado até ao seu presente estado por um mundo que renunciou a Deus e esqueceu a liberdade humana.
Desde os primórdios a religião desempenhou o principal papel na vida cotidiana do ser humano. Qualquer influência que o capitalismo possa ter tido no indivíduo, desde os primeiros tempos até fins da Idade Média, foi sempre subordinada a influência que nele tinha a religião. Por outro lado, o sistema capitalista de hoje não está subordinado a quaisquer ideais religiosos. Na realidade, o sistema capitalista atual não mantém mais os ideais nos quais foi moldado, no início do período da Reforma. O capitalismo moderno tem sido usado como um instrumento contra a iluminação espiritual do ser humano. O capitalismo, no começo da Reforma, era baseado nos ideais de honestidade, frugalidade, diligência, sobriedade e prudência (para citar alguns), mas no mundo atual estes ideais foram substituídos pela cupidez.

A cupidez, devemos salientar, não é apanágio do sistema capitalista. Exemplos de cobiça podem ser encontrados em todos os credos e em todas as nações; foram, na sua maior parte, exemplos individuais de avidez. Porém, em nenhum tempo, a cobiça foi tão predominante, tão disseminada, tão tolerada e adotada como hoje. “Enriquecei-vos” parece ser o grito de batalha do dia. Este cupidez tão predominante no sistema capitalista moderno existe, principalmente, em virtude das tão disseminadas ideias materialistas adotadas atualmente.

Tem havido muitos que reconheceram a avidez e o egoísmo prevalecentes no sistema capitalista atual e tentaram mudá-lo. Muitos, nessa tentativa, voltaram-se para o socialismo, comunismo ou até o fascismo e muitos que adotaram estes sistemas ficaram desapontados, pois, são também sustentados pelo materialismo e, assim, servem como bons exemplos de cobiça. Estes sistemas não estão isentos de cupidez e egoísmo, mas, o que é pior, negam os únicos ideais que podem salvar o ser humano: Deus e a liberdade individual.

O materialismo é o nosso inimigo verdadeiro, que tem estado escondido e trabalhando através do nosso sistema capitalista. O ser humano, através dos seus desejos egoístas, tomou-se um escravo do materialismo e só quando obtiver controle sobre seus desejos, pode libertar-se de sua dependência material. Só quando retornar para Deus, ele será libertado. Temos que devolver ao capitalismo os ideais que, em certa época manteve. Devemos retomar a uma vida orientada espiritualmente e a ela subordinar, novamente, os objetivos materiais.

Para compreendermos melhor como chegamos à nossa maneira de ser capitalista atual devemos olhar para trás, até a Idade Média.

IDADE MÉDIA
As sementes do moderno capitalismo foram, pela primeira vez, semeadas na Idade Média. Estas não eram as sementes do interesse, dos salários, trabalho, rendas ou capital; eram as sementes dos princípios econômicos que afinal desenvolveram-se até chegar à filosófica materialista de hoje.

Durante a Idade Média, as considerações espirituais tornaram-se subordinadas aos interesses econômicos. Este processo foi lento, demorando vários anos e não se completou sem lutas. Estas lutas envolviam interesses das pessoas de negócios, da Igreja e do Estado. Em muitos casos, a Igreja adaptou os seus ensinamentos às realidades econômicas da época e aquelas poucas figuras religiosas que se opuseram às, então, correntes, práticas feudais e mercantis, foram silenciadas peto tempo.

Porém, as suas críticas eram tão relevantes então, como são hoje. R. H. Tawney, no seu livro “Religion and the rise of capitalism” (A religião e a ascensão do capitalismo), salienta a ideia em que se insistiu na Idade Média de “que a sociedade é um organismo espiritual e não uma máquina econômica…”.

Tawney também salienta “que os interesses econômicos estão subordinados à verdadeira finalidade da vida, que é a salvação, e que a conduta econômica é um aspecto da conduta pessoal, na qual estão ligadas as regras da moral”.

A razão porque não se enraizaram estes ideais, deve ser atribuída a cegueira espiritual do ser humano. O capitalismo é um simples instrumento, não um fim em si mesmo. Numa sociedade materialista, o capitalismo é destruidor da capacidade de crescimento espiritual do ser humano. O capitalismo temperado com a visão interna espiritual permite ao indivíduo a liberdade de desenvolver até ao mais alto grau, as suas potencialidades divinas. A chave para o desenvolvimento espiritual é a liberdade e o altruísmo. A luta do ser humano contra as forças do materialismo falharão hoje, como falharam na Idade Média, a menos que o ser humano desenvolva a sua visão interna espiritual. Durante a Idade Média o ser humano foi confrontado com a “a corrupção notória das autoridades eclesiásticas, que pregavam a renúncia, e, por outro lado, davam lições de cupidez” – Tawney.

(Revista Serviço Rosacruz – 01/80 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Compreensão Interior: não se feche à verdadeira natureza das coisas

Compreensão Interior: não se feche à verdadeira natureza das coisas

As coisas externas “falam-nos”, por assim dizer, somente quando sua “fala” possa ser compreendida por nossas naturezas internas. Se o ser humano quiser obter conhecimento não pode conservar-se passivo no seu meio-ambiente. Ele deve, ativamente, produzir reações naquele meio-ambiente, proveniente de dentro de si próprio. Portanto, não existe tal coisa como revelação externa, mas, somente, um despertar interior.

Cada pessoa tem o que pode ser chamado de sua própria verdade, porque cada pessoa é um indivíduo, um ser separado. Do ponto de vista particular com o qual, do seu lugar na escada da evolução, ele está sintonizado, e de acordo com o contexto no qual os seus poderes de percepção operam, ele estabelece um relacionamento com aquilo que parece ser externo a ele e assim, adquire a sua própria “verdade”, para si próprio. A exatidão desta “verdade” depende do grau de seu autoconhecimento. Como Goethe disse: “Se eu conheço a minha relação comigo mesmo e com o mundo exterior, eu a chamo verdade. E assim cada um pode ter sua própria verdade e, apesar de tudo ela é sempre uma e a mesma”.

Já foi dito que há dois tipos de conhecimento: um que compõe o nosso relacionamento com os objetos externos e o outro é aquele que é ele próprio, o objeto do qual obtemos conhecimento: as coisas como as vemos e as coisas como, na verdade, são. A primeira espécie é dominante na ciência material que tenta explicar as coisas e os acontecimentos do mundo exterior. A segunda espécie está em nós quando vivemos dentro do conhecimento que obtivemos. A segunda espécie de conhecimento, então, origina-se da primeira.

É, talvez, simplesmente natural que dois tipos de conhecimento devam existir desta maneira. A percepção sensorial do ser humano diz-lhe que é um indivíduo entre outros indivíduos e separado das outras coisas. Porém, quando ele aprende a compreender que é um Deus em formação, feito a imagem de nosso Deus solar – quando, em outras palavras, ele se abre ao conhecimento superior, compreendendo a sua natureza divina – o conhecimento que ele tem das coisas começa a transformar-se numa compreensão da verdadeira existência e significado das coisas. Esta transformação, todavia, só pode ser realizada pelo esforço próprio. O ser humano só começa a ser verdadeiramente ele próprio, quando obtém este elevado conhecimento.

Muitas pessoas parecem vacilar para frente e para trás, entre os dois tipos de conhecimento – olhando e verdadeiramente sabendo. Quando alguém se recusa a olhar, fecha-se às coisas cuja natureza ele deve aprender a conhecer. Quando se recusa a trabalhar para a obtenção da sabedoria, ele fecha-se à verdadeira natureza das coisas.

(Revista Serviço Rosacruz – 05/80 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Caminho da Sabedoria

O Caminho da Sabedoria

Há muitos anos os ensinamentos dos Irmãos Maiores foram publicados pela primeira vez no “Conceito Rosacruz do Cosmos”. Desde então nossa literatura ampliou-se bastante. Parece-nos oportuno fazer um levantamento do nosso trabalho para avaliar como estamos empregando os talentos a nós confiados.

Em primeiro lugar, devemos averiguar a razão de ingressarmos na Fraternidade Rosacruz. A principal razão baseia-se na insatisfação. Não encontrávamos as respostas adequadas para nossas perguntas sobre os enigmas fundamentais da vida e da morte em outras instituições.

Todos procuram a luz, mas alguns agem como ilustra uma parábola bíblica. Narra a história de um homem que vendo uma pérola de grande valor vendeu todas as posses para comprar a joia. A pérola simboliza o conhecimento do Reino dos Céus. Em outras palavras, alguns dentre nós estão tão determinados a encontrar a luz, e ficam tão radiantes quando a encontram, que dedicam toda a vida, pensamentos e disposição a essa tarefa.

A rede de compromissos assumidos impossibilita a maioria de gozar deste grande privilégio. No entanto, estamos imersos numa teia de relações, se recebemos ajuda somos obrigados, pela lei da compensação, a dar algo em reciprocidade. Intercâmbio e circulação preenchem todos os espaços e promovem a vida. A estagnação conduz à morte.

Não é possível ingerir alimento físico e retê-lo no organismo. O processo de eliminação é fundamental para manter o equilíbrio e a saúde afastando a doença e a morte. Da mesma maneira, não podemos impunemente nos fartar com uma alimentação mental. Devemos compartilhar nosso tesouro com os outros e empregar os conhecimentos adquiridos nas obras do mundo. Caso contrário, corremos o risco de estagnação no pântano da especulação metafísica.

Nos anos que se seguiram desde a publicação do “Conceito Rosacruz do Cosmos”, os estudantes dispuseram de bastante tempo para conhecer e praticar seus ensinamentos. Não há expediente para desculpas, alegando ignorância ou falta de tempo para compenetrar-se no estudo. Não podem usar como pretexto insuficiência ou incapacidade pessoal para divulgar seu conteúdo.

Mesmo aqueles que têm pouco tempo disponível para estudar, devido aos deveres desempenhados no mundo, deveriam estar agora suficientemente posicionados “para dar um sentido à sua fé”. Como Paulo nos exortou a fazê-lo. Mesmo que não consigamos mostrar a luz a todos que solicitam, devemos praticá-la na intimidade, em gratidão aos Irmãos Maiores e de maneira impessoal a toda humanidade. O desenvolvimento de nossa própria alma depende do grau de participação e empenho no fortalecimento do movimento ao qual estamos ligados. Portanto, é conveniente que compreendamos detalhadamente qual a missão da Fraternidade Rosacruz.

Isto está inteira e claramente elucidado no capítulo introdutório do “Conceito”. Em resumo, sua missão concentra-se em proporcionar uma explicação sobre as questões da vida capaz de contemplar tanto as necessidades da mente como do coração. Com a finalidade de remover as confusões inerentes a duas classes de pessoas: os eclesiásticos e os cientistas. Ambos seguem tateando nas trevas pela carência de um conhecimento unificador e podem ser muito beneficiados com nossa literatura.

Designamos eclesiásticos todos os que são guiados por uma sincera devoção ou bondade natural, pertençam ou não a alguma igreja. No âmbito dos cientistas incluímos os que encaram a vida de um ponto de vista puramente mental, sejam atuantes ou não no campo da ciência.

É propósito e objetivo do Conceito Rosacruz do Cosmos ampliar o campo de ação espiritual de um número sempre crescente dessas duas classes que pressentem, com maior ou menor clareza, a falta de algo de importância vital em sua concepção da existência.

Devemos lembrar o episódio do Rei Davi. Quando desejou construir um templo a Deus foi-lhe negado esse privilégio. Isso por ter empunhado armas como guerreiro de sua tribo. Sempre houve organizações a combater outras organizações. Apontando erros e buscando meios de destruir as rivais, guerreando tanto quanto Davi o fez outrora. Com essa atitude, não se conquista a permissão para construir o templo que é feito de pedras vivas de homens e mulheres. Esse templo ao qual o personagem Manson se refere com tão belas palavras no livro “O Servo da Casa” (The Servant in the House).

Portanto, quando tentamos divulgar as verdades dos Ensinamentos Rosacruzes, devemos sempre ter em mente que não podemos impunemente depreciar a religião de quaisquer outros nem os antagonizar. Não é nossa missão lutar contra seus erros. Eles infalivelmente manifestar-se-ão no devido tempo.

Quando Davi morreu Salomão reinou em seu lugar. Este teve uma visão de Deus em sonho e Lhe pediu sabedoria! Foi-lhe dada oportunidade de pedir o que bem quisesse, e Salomão pediu sabedoria para guiar seu povo. Na verdade, foi esta a resposta recebida:

“Porque em teu coração pediste sabedoria, porque não pediste riquezas ou vida longa ou vitória sobre os teus inimigos ou qualquer coisa semelhante, mas pediste sabedoria, ser-te-á concedida essa sabedoria e muito mais do que isso” (N.R.: 1Rs 3:4-14).

Portanto, devemos seguir o exemplo de Salomão e orar sinceramente por sabedoria. Mas, é importante dispor de critérios para reconhecê-la. Portanto convém comentar o que é a verdadeira sabedoria.

Diz-se, e é verdade, que saber é poder. Saber, embora não seja nem o bem nem o mal em si mesmo, pode ser usado tanto para um como para o outro fim. O gênio apenas mostra a propensão para o saber, mas o gênio pode também ser bom ou mau. Falamos de um gênio militar, dotado de maravilhoso conhecimento sobre táticas de guerra. Tal homem, porém, não pode ser verdadeiramente bom, pois está destinado a ser impiedoso e destrutivo ao manifestar sua genialidade.

Um guerreiro, seja ele Napoleão ou um simples soldado, nunca poderá ser sábio, porque deliberadamente deve esmagar todos os bons sentimentos. Vale lembrar-se do coração como símbolo dos mais nobres sentimentos. Um GOVERNANTE SÁBIO TEM UM GRANDE CORAÇÃO, assim como tem uma inteligência superior. Tem o coração e o intelecto em harmonioso equilíbrio para promover o desenvolvimento de seu povo.

Mesmo o mais profundo conhecimento sobre assuntos religiosos ou ocultos não é sabedoria, como nos ensina Paulo no seu magnífico 13º capítulo da primeira Epístola aos Coríntios:

“Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, se não tiver amor, nada serei”.

Somente quando o conhecimento se mesclar com o amor poderá realmente se converter em sabedoria. AMOR-SABEDORIA é a expressão do princípio Crístico, o segundo aspecto da Divindade Trina.

Deveríamos ser muito cautelosos para compreender e discernir corretamente. Só assim podemos eleger caminhos vantajosos para alcançar um determinado objetivo e evitar ciladas que causam atrasos e angústia.

Podemos optar por um caminho de sofrimento no presente visando futuras realizações, mas não é necessariamente sinônimo de sabedoria. Conhecimento, prudência, discrição e discriminação são próprios da mente. Em si mesmo, todos são tentações do mal. Cristo na Oração do Senhor nos ensinou a pedir: “Livrai-nos do mal”. As faculdades inatas da mente devem ser temperadas com a qualidade inata do coração, o amor. Dessa mescla resulta a sabedoria.

Se lermos o 13º capítulo da primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, substituindo a palavra caridade ou amor pela palavra sabedoria, entenderemos o significado dessa grande qualidade e a desejaremos ardentemente.

Portanto, é missão da Fraternidade Rosacruz divulgar uma doutrina capaz de unir o intelecto com o coração. Esta é a única verdadeira sabedoria. Nenhum ensinamento genuinamente sábio pode prescindir de um destes elementos. Do mesmo modo, não podemos fazer soar um acorde musical com apenas uma corda.

Assim como a natureza humana é complexa, também os ensinamentos que contribuem para esclarecer, purificar e elevar esta mesma natureza devem ter aspectos múltiplos. Cristo seguiu este princípio quando nos legou aquela prece magnífica que, em suas sete estrofes, atinge a nota-chave de cada um dos sete veículos do ser humano e os agrupa nesse magistral acorde de perfeição mais conhecido e popularizado como Oração do Senhor (Pai Nosso).

Mas, como transmitiremos ao mundo está maravilhosa doutrina que recebemos de nossos Irmãos Maiores? A resposta a esta pergunta é:

Agora e sempre vivendo a vida.

Diz-se, para o eterno mérito de Maomé, que sua esposa foi sua primeira discípula. Com toda certeza não foram apenas seus ensinamentos, mas a vida que vivia no lar, dia a dia, ano após ano, que conquistou a confiança de sua companheira, de tal modo que ela não hesitou em depositar em suas mãos seu destino espiritual.

É relativamente fácil permanecer diante de estranhos que desconhecem nossas mazelas e para quem nossos defeitos não são visíveis, e pregar por uma ou duas horas cada semana. Mas é muito diferente pregar vinte e quatro horas por dia dentro do lar, como Maomé deve ter feito vivendo a vida.

Para obtermos o mesmo êxito de Maomé devemos principiar pelo exemplo na própria casa. Demonstrar aos irmãos mais próximos, no exercício do cotidiano, os ensinamentos que norteiam nossa existência. Isso é realmente sabedoria. Diz-se que a caridade começa em casa. Esta é a palavra que deveria ser traduzida por “amor” no 13º capítulo da primeira Epístola aos Coríntios. Mude isto também para sabedoria e leia:

A disseminação da sabedoria começa em casa.
Que seja este o nosso lema através dos anos.

Vivendo a vida em nosso lar, promoveremos nosso ideal, de forma mais eficaz do que por qualquer outro método. Muitas pessoas céticas se converteram à Fraternidade Rosacruz através da conduta de seus maridos, esposas ou familiares. Possam os demais segui-los.

(Do Livro Ensinamentos de um Iniciado – Publicado na Revista Serviço Rosacruz – Jun/65)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Responsabilidade do Conhecimento que você adquire

A Responsabilidade do Conhecimento que você adquire

Nos tempos primitivos, quando começávamos nossas vidas, como seres humanos, tínhamos pouquíssima experiência e, por conseguinte, nossa responsabilidade era mínima, também.

A responsabilidade depende do que se sabe. Os animais não são responsáveis: segundo a Lei de Consequência, desde o ponto de vista moral, ainda que, naturalmente, se um animal salta por uma janela, cairá sob a lei de Consequência física, assim, como quando cai num barranco ou num acidente do terreno, podendo quebrar uma perna ou sofrer algum outro ferimento. Porém, se um indivíduo fizesse o mesmo, cairia de baixo da lei de responsabilidade moral e, além disso, estaria sob a Lei de Causa e Efeito. A pessoa tem esta dupla responsabilidade, porque sabe o que deve fazer e não tem o direito de causar prejuízo ao instrumento que lhe foi dado (Corpo Denso). Assim, pois, vemos que somos moralmente responsáveis, segundo nossos conhecimentos.

Como temos tido já a experiência de muitas vidas, nascemos sempre com os talentos acumulados, que são os resultados de experiência de todas as vidas anteriores. Somos, por conseguinte, responsáveis pelo modo como os usamos. É necessário que ponhamos estes talentos à prática, porque de outro modo se atrofiarão, tal como ocorreria com a mão; também nossas faculdades espirituais se atrofiarão se não tiramos proveito delas, e se não aumentamos nossas capacidades. Não pode haver parada nem descanso neste caminho da evolução pelo qual caminhamos; temos de avançar para diante, ou degeneraremos.

Há evidentemente muita responsabilidade para aquele que sabe, e quanta mais sabemos, tanto maior é nossa responsabilidade; isto está muito claro. Porém, considerando a ciência oculta, desde o ponto de vista ainda mais profundo, há uma responsabilidade para aquele que sabe, e é esta fase especial de responsabilidade que desejamos tratar aqui.

Mabel Collins (N.R.: 1851-1927, mística britânica) afirma que a história relatada em seu livro “A flor e a fruta”, ou a história de Fleta, a Maga Negra, é uma história verídica. Diz ela que o assunto de sua história chegou as suas mãos de um país mui remoto e de uma maneira muito estranha; e desde o ponto de vista daquele que sabe, há nela alguma das mais profundas verdades a respeito da maneira de obter conhecimento e seu emprego. Descreve-se em tal história, como Fleta, ao princípio de suas encarnações e ainda em estado selvagem, assassinou a seu noivo, e que, pela crueldade demonstrada nesse ato, obteve certo poder. Este poder, naturalmente, em consonância com o delito, era característica da magia negra. Por essa razão, na vida da qual trata esta história, ela possuía o poder de um mago negro, e para aumentá-lo mais ainda, obrigou seu noivo a matar outra entidade. Deste modo infernal empregava seu conhecimento.

Há nisto uma profunda verdade. Todo saber não saturado de vida e vazio, sem finalidade, é inútil. A vida que dá poder ao que sabe pode ser obtida de distintas maneiras, e pode ser, também, aproveitada de vários modos. Uma vez obtida, pode ser encenada em um talismã, e então pode ser usada por outros, para bons ou maus fins, conforme o caráter daquele que o usa. Se se encerra dentro da pessoa que desenvolve um poder, então, será usada segundo o caráter dessa pessoa. Segundo o mesmo princípio, podemos acumular eletricidade numa bateria para que possa ser retirada da estação elétrica e empregada para muitos fins, por outras pessoas alheias aquela que a acumulou. Assim, também, o poder dinâmico, obtido pelo sacrifício da vida com o fim de ganhar poderes ocultos, pode ser usado de um modo ou de outro, se encontra acumulado num talismã.

Esta particularidade, vemo-la muito bem ilustrada na lenda de Parsifal (N.R.: uma ópera de três atos do com a música e libreto do compositor alemão Richard Wagner). Ali, o sangue purificador do Salvador, oferecido em nobre sacrifício de si mesmo – não tomado de outrem – foi recebido num vaso, que por isso converteu-se num talismã, dotado de um poder espiritual e capaz de transmiti-lo a todos os que o viam, desde que fossem puros, castos e inofensivos. Também conhecemos o símbolo da lança, que havia causado o ferimento do qual jorrou o sangue de Jesus. Ela estava manchada de sangue purificador, e converteu-se, assim, num talismã, que podia ser empregado de diversos modos. Durante o reinado de Titurel, o mistério do Graal era poderoso; porém, quando o Graal foi entregue a seu filho Amfortas, este saiu armado com sua lança para matar Klingsor, o mago negro. Então, deixou de ser inofensivo, porque quis perverter esse grande poder espiritual para matar um inimigo. Apesar de tratar-se de um inimigo do bem, não era justo empregar-se este poder para tal fim, e por essa razão o poder voltou-se contra ele. Ele teria deixado de ser casto, puro e inofensivo, e então o poder produziu-lhe a ferida.

Lemos, a respeito de David, o sangrento guerreiro, a quem o Senhor proibiu de construir o Templo. Ainda que aquele Senhor fosse um deus da guerra, tendo de castigar várias nações para fazê-las entrar de novo no reto caminho, ele não podia usar o instrumento manchado de sangue de Suas guerras para construir um templo. Isto foi incumbido ao filho de David, Salomão, o homem da paz. É dito que Salomão desejou sabedoria e muito conhecimento, não para vencer seus inimigos, não para alargar seus territórios e fazer de seus súditos uma grande nação, senão para reinar melhor sobre o povo que havia sido confiado aos seus cuidados. E recebeu sabedoria em abundância. Vemos também que Parsifal, o oposto de Amfortas, era filho de um guerreiro, um homem sanguinário, já morto. Por sua mãe Herzleide, que significa “coração aflito”, Parsifal, a criança póstuma, veio ao mundo. Nos primeiros anos, usou o arco, porém, em certo momento, fez-se casto, puro e inofensivo, e pelo poder destas qualidades manteve-se firme no dia da tentação e tomou a lança de Klingsor, que a conservava desde o dia em que Amfortas a havia perdido.

Em suas jornadas, desde o dia em que recebeu a lança, até o momento de seu regresso ao Castelo do Graal, Parsifal teve de enfrentar muitas tentações. Muitas vezes, estando em perigo, reconheceu que podia pôr-se a salvo empregando a sagrada lança se a tivesse tomado contra seus inimigos. Porém, sabia que não devia usar a lança PARA FERIR, mas sim PARA CURAR; ele compreendeu quão sagrado era. O poder que o sangue do sacrifício havia conferido ao talismã, e que este devia empregar-se somente para os fins mais elevados.

Assim, pois, vemos sempre, aqueles que entram na posse de um poder espiritual não o empregam nunca para fins egoístas. Aconteça o que acontecer está firme neste ponto. Por duro que seja o ataque que sofram, nunca, nem por um momento, sentem-se inclinados a prostituir seu poder por vantagens pessoais. Ainda que alguém que tenha esse dom possa, se quiser, dar de comer a cinco mil pessoas famintas não tomará nem mesmo uma pedra para transformá-la em pão para aliviar sua própria fome. Muito embora esteja diante de seus inimigos e os cure, como Cristo restaurou a orelha do soldado romano, negar-se-á a usar seu poder espiritual para fazer voltar o sangue que fluiu do seu próprio peito. Sempre se tem dito de semelhantes seres que “salvaram a outros, porém, não se salvaram a si mesmos”. Poderiam, por certo, tê-lo feito, porque esse poder é grande. Porém, usando-o desse modo, tê-lo-iam perdido, porque não tinham o direito de prostituí-lo.
Depois há outra classe de mistério mui distinta da do Graal. Por exemplo, a cabeça de João Batista foi colocada numa bandeja depois de sua execução, e alguns atraíram certo poder pela contemplação deste espetáculo. O mito grego nos fala de Argos, que sendo dotado de muitos olhos, via por todos os lados ao mesmo tempo – era um clarividente. Porém, empregou esse poder com um propósito ilícito, e Mercúrio, o deus da sabedoria, cortou-lhe a cabeça, privando-o assim do seu poder. Sempre que alguém procura empregar a sabedoria e o poder espiritual ilicitamente, perdê-lo-á infalivelmente.

Cada célula tem sua vida própria, individual, e esta vida é destruída pela atividade do pensamento, ou melhor dito, a forma é destruída de modo que a vida não pode continuar a manifestar-se nela. Sempre existe destruição da vida, em qualquer direção que seguimos em busca do conhecimento. Alguns há que destroem a vida em experiências científicas, por pura curiosidade. Outros o fazem até com crueldade, como na vivisseção, e neste caso, quando a busca do conhecimento se procura apenas por motivos de curiosidade, existe dívida terrível a ser resgatada em algum dia futuro, porque o equilíbrio deve restabelecer-se sem dúvida nem remissão alguma.

Assim vemos o que ocorre no caso de Fleta, em que o sacrifício de uma vida em certo momento no mundo físico foi seguido de outro sacrifício no outro mundo; porém, por sua mediação ela ganhou um poder que a elevou até a porta do templo, onde bateu em busca da Iniciação. Seus motivos, entretanto, como os de Klingsor, não eram puros. Ela não era casta, não estava preparada para adquirir o poder espiritual de um modo completo, nem para ser considerada como uma auxiliar da humanidade; por essa razão foi repelida da porta do templo e sofreu a morte do mago negro. Há um véu diante de sua morte, e não se diz o que há por detrás dele. Talvez convenha mais que essas coisas não sejam publicadas. Porém, isto não diminui o valor da lição de que não podemos destruir vidas, nem acumular saber, de uma maneira ilícita; sem incorrer, por isso, numa terrível responsabilidade. A única razão que é satisfatória e própria da busca do saber é que com isso podemos servir de um modo mais eficaz a raça humana.

Atualmente, o sacrifício da vida para obter conhecimentos é inevitável, não podemos remediá-lo. Porém, deveríamos buscar estes conhecimentos com os melhores e mais puros motivos, porque são infinitas as vidas que destruímos por essa razão, com propósitos que não são justos. Portanto, repetimos que ninguém tem o direito de procurar conhecimentos se não é pelos mais puros motivos.

Se por outro lado, cumprimos com nossos deveres, se tratamos de fazer todas as coisas que chegam as nossas mãos, bem e completamente, e se temos aspirações espirituais, sem forçar nosso crescimento espiritual, então estaremos bem preparados para alcançar poderes mais elevados. É uma das características mais notáveis dos exercícios rosacruzes que eles não só nos proporcionam crescimento espiritual, mas nos preparam também para a posse desse conhecimento. Temos de aprender a andar pelo caminho do dever, e viver a reta vida. Não devemos pensar numa longa vida. Há muitos, como diz Tomás de Kempis (N.R.: Monge e escritor alemão, 1379-1471 – o seu livro mais célebre, Imitação de Cristo, composto por quatro volumes, no qual apela a uma vida seguida no exemplo de Cristo, valorizando a comunhão como forma de reforçar a fé)., que têm desejos de uma longa vida, porém nós não devemos nos preocupar com isso. É MELHOR QUE TRATEMOS DE FAZER CADA DIA O NOSSO DEVER; então estaremos, seguramente, preparados para obter maior saber e mais elevados poderes.

Em qualquer esfera em que nos movamos, há um lugar onde podemos aplicar nosso saber, não na forma de fazer sermões para que nossos conhecimentos sejam admirados, mas sim para vivermos a vida espiritual, e para sermos EXEMPLOS VIVENTES dos nossos ensinamentos. Todos temos esta oportunidade, e não é preciso buscá-la longe; está ao redor de nós, ao nosso alcance.

Tomás de Kempis expressou isto de um modo como só um místico pode fazê-lo; envolveu a ideia naquelas formosas palavras em sua “Imitação de Cristo”:

“Todo homem tem o desejo natural de saber, porém, que valem conhecimentos sem o temor de Deus? Seguramente um humilde lavrador que serve a Deus é melhor do que um orgulhoso filósofo que estuda o movimento celeste e não se ocupa de si mesmo… Quanto mais saibas, tanto mais severo será o teu juízo, a menos que tua vida também seja mais santa. Por esta razão, não sejas orgulhoso, senão antes tem temor pelo saber que recebeste. Se pensas que sabes muito, lembra-te que há muitas coisas que ignoras. Não sabes quanto tempo poderás prosperar fazendo o bem!”.

Por este motivo convém recordar que não devemos buscar conhecimentos simplesmente para possuirmos, senão somente como um meio para chegar a viver uma vida mais pura, porque esta é a única coisa que pode justifica-los.

(Revista Serviço Rosacruz – 07/67 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Dois Polos do Amor: uma força ativa e uma atividade?

Os Dois Polos do Amor: uma força ativa e uma atividade?

O amor é uma força ativa no ser humano; uma força que irrompe pelas paredes que separam o ser humano de seus semelhantes, que o une aos outros; o amor leva-o a superar o sentimento de isolamento e de separação permitindo-lhe, porém, ser ele mesmo e reter sua integridade. No amor, ocorre o paradoxo de que dois seres sejam um e, contudo, permaneçam dois.

Ao dizermos que o amor é uma atividade, enfrentamos uma dificuldade que reside na significação ambígua desta palavra. Por “atividade”, no emprego moderno do termo, queremos, normalmente, referir-nos a uma ação que produz mudança numa situação existente, por meio de gasto de energia. Assim, um ser humano é considerado ativo quando faz negócios, estuda, trabalha ou dedica-se a esportes. Todas estas atividades têm isto em comum; dirigem-se para um alvo exterior a ser alcançado. O que não se leva em conta é a motivação da atividade. Veja-se, por exemplo, um individuo impelido a incessante trabalho por um sentimento de profunda insegurança e solidão; ou por outra, impulsionado pela ambição ou pela avidez por dinheiro. Em todos esses casos a pessoa é escrava de uma paixão, e sua atividade é de fato uma “passividade” porque ela é impelida; é o paciente e não o “ator”. De outro lado, alguém que se assente calmo e contemplativo sem outro alvo que não o de experimentar-se e a sua unidade com o mundo, é considerado como “passivo”, porque não está “fazendo” coisa alguma. E, na verdade, esta atitude de meditação concentrada é a mais alta atividade que existe, uma atividade da alma, só possível sob condições de independência e liberdade interiores. Um conceito de atividade moderno refere-se ao uso de energia para consecução de metas externas, o outro conceito de atividade refere-se ao uso dos poderes inerentes ao ser humano, sem que importe a produção de qualquer mudança exterior. Este último conceito de atividade foi formulado com muita clareza por Spinoza (N.R.: Baruch de Espinoza foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz).

Diferencia ele os afetos entre ativos e passivos, “ações” e “paixões”. No exercício de um afeto ativo, o ser humano é livre, é o senhor de seu afeto; no exercício de um afeto passivo, o ser humano é impelido, e objeto de motivações de que ele próprio não tem consciência. Assim Spinoza chega à afirmação de que virtude e poder são uma só e a mesma coisa. A inveja, o ciúme, a ambição, qualquer espécie de cobiça são paixões; amor é uma ação, a prática de um poder humano, que pode ser exercido com liberdade e nunca como resultado de uma compulsão.

O amor é uma atividade, e não um afeto passivo; é um “erguimento” e não uma “queda”. De modo mais geral o caráter ativo do amor pode ser descrito afirmando-se que o amor, antes de tudo, consiste em dar, e não em receber.

Que é dar? Embora pareça simples a resposta a esta pergunta, ela, em verdade, é cheia de ambiguidades e complexidades. O equívoco mais vastamente espalhado é o que entende que dar é “abandonar” alguma coisa, ser privado de algo, sacrificar. A pessoa cujo caráter não se desenvolveu além da etapa da orientação receptiva, explorativa ou amealhadora, experimenta o ato de dar dessa maneira. O caráter mercantil deseja dar, mas, só em troca de receber; dar sem receber, para ele, é ser defraudado. Aqueles cuja principal orientação é não produtiva sentem que dar é um empobrecimento. A maioria dos indivíduos desse tipo, portanto, recusa dar. Alguns fazem do ato de dar uma virtude, para eles, reside no próprio ato de aceitação do sacrifício.

Para eles, a norma de que é melhor dar do que receber significa que é melhor sofrer privação do que experimentar alegria.

Para o caráter produtivo dar tem um sentido inteiramente diverso. Dar é a mais alta expressão da potência. No próprio ato de dar, ponho a prova minha força, minha riqueza, meu poder. Essa experiência de elevada vitalidade e potência enche-me de alegria. Provo-me com superabundante pródigo, cheio de vida e, portanto, como alegre.

Não é difícil reconhecer a validez desse princípio aplicando-o a vários fenômenos específicos. Na esfera das coisas materiais, dar significa ser rico. Não é rico quem muito tem, mas quem muito dá. O avaro que ansiosamente receia perder alguma coisa é, psicologicamente falando, o indivíduo pobre, o empobrecido, não importa quanto possua. Quem é capaz de dar de si, este sim é rico. Põe-se à prova como quem pode conceder de si aos outros. Só quem for privado de tudo quanto vá além das mais simples necessidades da existência será incapaz de gozar o ato de dar coisas materiais. Mas a experiência diária mostra que aquilo que alguém considera como necessidade mínima depende tanto de seu caráter quanto de suas posses efetivas. É bem sabido que os pobres são mais inclinados a dar do que os ricos. Não obstante a pobreza além de certo ponto pode tornar impossível dar, e assim é degradante, não só pelo sofrimento que causa diretamente, mas pelo fato de privar o pobre da alegria de dar.

A mais importante esfera de dar, entretanto, não é das coisas materiais, mas está no reino especificamente humano. Que dá uma pessoa à outra? Dá de si mesma, do que tem de mais precioso, dá se sua vida. Isto não quer necessariamente dizer que sacrifique sue vida por outrem, mas, que lhe dê aquilo que em si tem vivo: dê-lhe de sua alegria, de seu interesse, de sua compreensão, de seu conhecimento, de seu humor, de sua tristeza – de todas as expressões e manifestações daquilo que vive em si. Dando assim de sua vida, enriquece a outra pessoa; valoriza-lhe o sentimento da vitalidade ao valorizar o seu próprio sentimento de vitalidade. Não dá a fim de receber; dar é, em si mesmo, requintada alegria. Mas, ao dar, não pode deixar de levar alguma coisa à vida da outra pessoa, e isso que é levado a vida reflete-se de volta ao doador; ao dar verdadeiramente não pode deixar de receber o que lhe é dado de retorno. Dar implica fazer da outra pessoa também um doador e ambos compartilham da alegria de haver trazido algo à vida. No ato de dar, algo nasce, e ambas as pessoas envolvidas são gratas pela vida que para ambas nasceu. Com relação especificamente ao amor, isso significa: o amor é uma força que produz amor. Só se pode trocar amor por amor, confiança por confiança. Se queremos gozar a arte, devemos ser uma pessoa de sensibilidade e preparo artístico; se queremos ter influência sobre outras pessoas, deveremos ser uma pessoa que tenha sobre outras pessoas influência realmente estimuladora e promotora. Cada uma de nossas relações com o semelhante e com a natureza deve ser uma expressão definida de nossa vida real, individual, correspondente ao objeto de nossa vontade. Se amamos sem atrair amor, isto é, se nosso amor é tal que não produz amor, se através de uma expressão de vida como pessoa amante não fazemos de nós mesmos uma pessoa amada, então nosso amor é impotente, é um infortúnio.

Mas não é só no amor que dar significa receber. O mestre é ensinado por seus alunos; o ator é estimulado por sua audiência; o psicanalista é curado por seu cliente – contando que não se tratem uns aos outros como objetos, mas se relacionam uns com os outros produtiva e genuinamente.

Quase não é necessário acentuar fato de que a capacidade de dar depende do desenvolvimento do caráter da pessoa. Pressupõe o alcançamento de uma orientação predominantemente produtiva; nessa orientação a pessoa superou a dependência, a onipotência narcisista, o desejo de explorar os outros, ou de amealhar, e adquiriu fé em seus próprios poderes humanos; coragem de confiar em suas forças para atingir seus alvos.

No mesmo grau em que faltem essas qualidades é ela temerosa de dar-se e, portanto, de amar. (Extraído de “A Arte de Amar” – Erich Fromm).

(Revista Serviço Rosacruz – 08/67 – Fraternidade Rosacruz – SP)

Idiomas