Aprendemos na Fraternidade Rosacruz que os Evangelhos são, na verdade, fórmulas de Iniciações.
Sob o panorama de Cristo-Jesus, os Evangelhos apontam para caminhos de libertação e Iniciação nos Mistérios do ser, aproximam o contato com o divino em nós e representam a vida nova, impulsionada com o regenerador Batismo de Fogo, no reverenciado dia de Pentecostes.
Os três primeiros Evangelhos, de São Mateus, de São Marcos e de São Lucas, são sinóticos (sin – conjunto; ópticos – visão). Portanto, descrevem, empregando uma narrativa histórica, os episódios que fundamentam os ensinamentos do glorioso Mestre, o Cristo. Algumas passagens são ilustradas de forma praticamente idêntica pelos três evangelistas.
Por outro lado, o Evangelho Segundo São João aborda o Ministério do Salvador com mais profundidade e abrangência cósmica. Enaltece o poder luminoso de Cristo como o Unigênito Filho de Deus, como Co-criador e herdeiro das moradas celestes. Não apenas como mensageiro de verdades espirituais, mas como o Caminho, a Verdade e a Vida em Si mesmo.
Os Evangelhos sinóticos relatam com mais ênfase os aspectos exotéricos e humanos da vida do Messias da Galileia. O Evangelho Segundo São João se concentra na visão esotérica: os sublimes e íntimos ensinamentos na Judeia.
O Evangelho Segundo São Marcos (FOGO-AR, com predominância do FOGO) realça a força pró-realizadora do caráter enobrecido pelo Fogo Crístico e focaliza o poder transmutador e purificador capaz de subjugar a natureza inferior. Demonstra o calor penetrante e disseminador da Boa Nova que estenderá o reino do amor a todas as criaturas. Ele fala pouco sobre a Lei. Seu livro foi direcionado mais aos não judeus, pois sabia conviver com os gentios. Alguns teólogos afirmam que ele escreveu para os romanos, um povo cujo ideal concentrava-se no poder. Assim, descreve o Cristo como conquistador poderoso. É o mais curto, o mais simples e talvez o mais antigo de todos. Apresenta Cristo-Jesus vencendo a força titânica dos demônios, dominando as tempestades, enfermidades e até a morte. Faz apologia do verdadeiro serviço, realizado de forma espontânea e desinteressada.
O Evangelho Segundo São Mateus (AR – FOGO, com predominância do elemento ar) combina o bom senso e a lógica (qualidades aéreas) como norteadores da Lei e da Ordem. Também ressalta os dilemas e crises provenientes do calor ígneo que inflama na consciência do fervoroso aspirante espiritual em pleno processo de iluminação. São Mateus enfatiza o cumprimento da Lei, pois seu Evangelho tinha por alvo os judeus. Como sabia que aguardavam ansiosos a vinda do Prometido, anunciado no Antigo Testamento, anuncia Cristo-Jesus como o Messias e, por meio das citações dos profetas, mostra o esperado Messias conforme já prenunciava a própria tradição hebraica. São Mateus apela à razão, à natureza masculina do ser humano. Destaca os confrontamentos inerentes à realização interna. Revela os choques entre as forças espirituais e terrenas. Seu Método Iniciático adverte sobre os percalços e desafios a serem ativamente superados durante o glorioso processo de cristificação da personalidade humana.
O Evangelho Segundo São Lucas (ÁGUA-TERRA, com predominância da ÁGUA) enaltece a simplicidade, a sensibilidade, e o olhar voltado para as mazelas humanas. Engrandece a natureza devocional, evidenciando o poder inspirador do elemento Água. Também destaca a importância da ciência do conhecimento corretamente aplicado (Terras Altas) como superação das trevas da ignorância (Terras Baixas). São Lucas apresenta em seu Evangelho um Messias voltado a todos os seres humanos, especialmente os humildes, revelando um Deus misericordioso. É um Evangelho mais singelo, toca nos valores mais internos, fala de Anjos, dos Profetas e do Templo Sagrado. Ensina o recolhimento, a oração, a tranquila jornada pelo íntimo. Contrapondo São Mateus, é místico e acolhedor, eleva os padrões femininos da natureza humana. São Lucas, mesmo sendo médico e homem de ciência, não encobre os milagres operados pelo Mestre, inclui o maior número de curas entre os evangelistas. São Lucas apresenta Cristo-Jesus como o “Filho do Homem”. Nele encontramos a mais terna simpatia humana e a perspectiva de libertar a humanidade da cegueira espiritual. Seu método é dirigido aos gentios, ressaltando a benevolência de Deus e o amor dedicado a seus filhos.
O Evangelho Segundo São João (TERRA-ÁGUA, com predominância da TERRA) alia ensinamentos que mergulham nas profundezas da divina essência humana (ÁGUA), com uma incomparável compreensão das Dimensões Arquitectônicas que permeiam as forças geradoras e sustentadoras do Cosmos (TERRA). São João tinha em mente as necessidades dos Cristãos de todas as nações. Nesse sentido, apresenta as verdades mais profundas do Novo Testamento dentre as quais se destacam os ensinamentos sobre a Divindade do Cristo e do Espírito Santo. Inaugura o Evangelho discorrendo sobre o Verbo e a Luz dos Homens (o Filho). O mesmo Verbo, em expressão menor, se encontra no íntimo de cada ser humano. O Amor-Sabedoria emanado pelo Filho, o Cristo, é o próprio Poder Coesor empregado como força atrativa para tornar possível a edificação de qualquer forma manifestada. Se o Verbo é vida, cuja vida é a luz dos seres humanos, então as trevas são ausência de luz e vida. As trevas são a morte. Contudo, as trevas são ilusão, porque Deus está em tudo e Deus é Luz. Sem o Verbo nada foi feito, Ele é o Fiat Criador que amolda a substância-raiz-cósmica primordial, dando origem às formas. O Verbo assim se faz carne no sentido de manifestação. Bastaria o primeiro capítulo para revelar a profundidade do Evangelho Segundo São João.
Que as Rosas floresçam em vossa cruz
Pergunta: Como podem conciliar a declaração da Bíblia, ou seja, que José só conheceu Maria após ela ter dado à luz ao seu primogênito Jesus que foi concebido pelo Espírito Santo, com os Ensinamentos Rosacruzes que dizem que Jesus era o filho de um pai humano, José, e de Maria, sua mãe?
Resposta: Se procurarmos as genealogias de Jesus nos Evangelhos segundo São Mateus e São Lucas, verificaremos que o parentesco é traçado desde José até Adão, e nenhuma palavra encontramos a respeito de Maria. Como já o dissemos numa resposta anterior, um copista pode ter interpolado a passagem citada para provar o sentido materialista da Imaculada Concepção.
Contudo, se considerarmos a doutrina esotérica da Imaculada Concepção, tal suposição torna-se desnecessária.
Jeová, o Espírito Santo, o guia dos Anjos, aparece em várias partes da Bíblia como o dador de filhos. Seus mensageiros foram a Sarah anunciar-lhe o nascimento de Isaac; para Hannah anunciaram o nascimento de Samuel; para Maria anunciaram o advento de Jesus, cujos veículos (Corpo Denso e Vital) foram, posteriormente, dados ao Cristo. O poder do Espírito Santo fecunda tanto o óvulo humano como a semente do grão na terra, e o pecado original ocorreu quando Adão conheceu a sua mulher, contrariando a recomendação de Jeová.
Essa transgressão acarretou a marca do pecado sobre uma função sagrada, mas quando uma vida santa purifica os desejos, o ser humano se inunda com esse espírito puro e pode efetuar a função procriadora sem paixão. A concepção torna-se, assim, Imaculada. A criança que nasce sob tais condições é naturalmente superior, porque a concepção realizou-se como um rito sagrado de autossacrifício e não como um ato de autossatisfação.
(Do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Perg. Nº 106 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Estudos Bíblicos da Sabedoria Ocidental
Discipulado
Os Graus da Fraternidade
Parte 2
São Mateus
O mestre viu um homem chamado Mateus que estava sentado, coletando impostos e disse-lhe: “Siga-me”. Mateus era um coletor de impostos do governo Romano e fazia coletas de seu próprio povo para tributo estrangeiro; por isso o rejeitaram e lhe deram o nome de “publicano”. Ele deixou uma posição de muita proeminência e de grande riqueza para seguir a Cristo Jesus. Posteriormente, mesmo alcançando um alto poder espiritual, sempre manteve uma profunda humildade de espírito. Ele é citado como Mateus, o publicano, somente em seu próprio Evangelho. O nome Mateus significa “o presente de Deus”. Na Palestina, um cobrador de impostos, ou publicano, empregado do governo Romano era considerado um leproso social. Publicano e pecador eram termos sinônimo nas mentes das pessoas. O “dinheiro contaminado” de homens como Mateus, foi rejeitado no Templo e seu juramento era inválido nos tribunais. Mesmo com tal degradação, Mateus foi chamado para se tornar um dos Doze Discípulos.
Outra lenda do Oriente nos mostra a seguinte repercussão: um grupo de meninos se aglomerou ao redor do corpo de um cão morto em uma sarjeta de Jerusalém. Um deles comentou: “Um dos olhos foi tirado”. Outro disse: “Ele perdeu uma orelha em uma briga”. “Que brutalidade!” – Exclamou um terceiro. “Seus pelos estão sujos e com sangue”.
“Mas observe os seus dentes”, sugeriu um estranho que passava. “Eles são tão brancos e tênues como pérolas”.
“Quem é esse?” – Perguntou um dos meninos; e quem o conhecia respondeu: “É Jesus, o Galileu”.
Um dos principais objetivos do Divino Caminho era ensinar aos seres humanos como manifestarem sua divindade latente. Sim, e a divindade está dentro de nós.
Veja este homem chamado Mateus, sendo um publicano desprezado e depois um dos Doze imortais, aprendeu que esta lição é evidenciada pela proeminência concedida à Regra de Ouro em seu Evangelho. Sabe-se que Mateus escreveu esta Regra em letras de fogo sobre o pergaminho eterno.
Sua transformação da antiga para a nova vida estava completa e detalhada. Todas as parábolas do Evangelho de Mateus mostram o jogo limpo, a distribuição equitativa e a reciprocidade altruísta. Sob o feitiço divino do mestre, ele deixou de ser “Mateus, o publicano”, e tornou-se “Mateus, o santo”. Seu evangelho enfatiza o fato de que o ser humano não pode servir a dois mestres, e ele provou isso em sua própria vida.
Seu ministério centrou-se em grande parte na expulsão de entidades demoníacas (obsessões). Na cidade de Hierápolis, Mateus curou a esposa do rei Fulvanus; seu filho e também a sua esposa que estavam igualmente afligidos.
Por gratidão, todos abraçaram o cristianismo e, depois que Mateus os deixou, continuaram a servir o Cristo.
O seguinte é um antigo registro do martírio de Mateus. “Ele, tendo curado a esposa do rei obsidiada, o demônio apareceu no rei disfarçado de soldado para obter ajuda para conseguir matar Mateus. Toda vez que o (demônio) soldado aparecia, Mateus tornava-se invisível. O rei entrou na igreja dizendo que desejava tornar-se um discípulo de Mateus, mas quando se aproximou do santo, ele ficou cego. Mateus, então, o curou tocando seus olhos. Quando ele tentou discutir com o rei devido as suas maneiras maldosas, o rei o prendeu e pregou na cruz. Seu corpo estava coberto de óleo e uma fogueira se acendeu sobre ele. Mas o fogo se transformou em orvalho e Mateus ficou ileso como se estivesse dormindo. Muitos vieram e tocaram seu corpo e foram curados de enfermidades e obsessões. O rei então colocou o corpo em um caixão de ferro e atirou ao mar. Os discípulos de Mateus levaram pão e vinho à beira do mar e, assim que o Sol nasceu, viram Mateus andando sobre o mar ao lado de dois homens com roupas brilhantes”.
Essa lenda mística refere-se aos ritos iniciáticos de Fogo e Água, em que o discípulo descobre que ele possui a habilidade de passar por meio desses dois elementos e permanecer ileso. A lenda atribui a informação adicional de que o rei juntamente com sua esposa e filho se tornaram cristãos. Mateus os abençoou e o nome do rei mudou de Fulvan para Mateus; o nome da esposa de Ziphazia para Sophia (sabedoria); o nome da esposa de seu filho de Erva para Sinésia (entendimento).
Ao se tornar um Iniciado, o aspirante recebe um novo nome, simbólico devido a certas características espirituais que ele já desenvolveu ou está prestes a adquirir. Um Iniciado, ao conhecer novo nome de outro, é imediatamente informado sobre o seu nível de desenvolvimento espiritual.
Mateus viveu uma vida de extrema austeridade, sobrevivendo de nozes, raízes e uvas. Ele permaneceu em Jerusalém por vários anos após a Crucificação e depois foi para o Egito e Etiópia para ensinar e curar. Seu Evangelho contém o relato de dois milagres, dez parábolas, nove discursos e catorze incidentes que estão relacionados a certas fases de realização iniciática não encontradas nos outros Evangelhos.
O que os primeiros pais da Igreja escrevem sobre Mateus:
“Ele esteve durante quarenta dias rezando e jejuando nas montanhas, quando Cristo Jesus apareceu a ele, dizendo: ‘Pegue essa minha vara, desça e planta-a no portão da igreja fundada por você e André; assim que for plantada, ela se tornará uma árvore, com ramos de trinta côvados de comprimento e cada ramo com um fruto diferente. Do topo deve fluir mel e da raiz surgirá uma grande fonte em que todas as criaturas da Terra se banharão e serão purificadas, se envergonharão de sua nudez e vestirão roupas de ovelhas’. Mateus fez o que lhe pedia e todos os que se banharam ali viram-se mudados à imagem de Mateus. A árvore era linda e florescente como as plantas do paraíso e um rio prosseguia dela que regava toda a terra”.
Tais lendas como estas são interessantes para o cristão esotérico, pois estão repletas de verdades ocultas. Elas produzem sinais familiares a todos que passaram pela mesma situação mística e que, tendo vislumbrado a visão, estão se esforçando para trilhar o caminho da realização.
(do Livro: New Age Bible Interpretation, Vol VI, Corinne Heline – Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross – 11-12-2002)