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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Misericórdia, a Piedade, a Paz e o Amor

Quanto a misericórdia, a Primeira Epístola de São Paulo a Timóteo nos ensina, referindo-se a ele mesmo:

“… a mim que anteriormente fui blasfemo, perseguidor e insolente; mas alcancei misericórdia, porque o fiz por ignorância e na minha incredulidade.” (ITim 1:13).

É, na verdade, uma virtude saber mostrar misericórdia aos ignorantes. Quantas vezes por dia nos tornamos perturbados – e com razão – por causa daqueles que não se importam com pessoa alguma e desconhecem o próximo.

Quando um carro nos “corta” subitamente, numa rodovia, qual é a nossa reação? É de raiva ou desdém? Quando, em uma reunião, ouvimos alguém fazer um comentário que para nós não é totalmente válido, por estar sendo encarado do ponto de vista terreno, condenamos esse alguém por sua ignorância ou rimos pela sua falta de compreensão?

Quando vemos um criminoso na T.V. ou lemos sobre ele nos jornais, qual é nossa reação? Dizemos: “bem-feito, era isso que ele merecia”, esquecendo que ele é fraco e está perdido num mundo sensacionalista do crime?

Se respondermos “sim”, com toda a honestidade, a qualquer dessas perguntas, então somos fracos, ignorantes e negligentes em relação aos outros. Ter misericórdia é conscientizarmo-nos da fraqueza do próximo e ajudá-lo com compreensão, enviando-lhe pensamentos positivos, ao invés de negativos. Misericórdia exige que uma coisa esteja ativa: o autoesquecimento, uma vez que encontramos em nosso desdém, raiva e improbidade, um elemento de nosso “Eu inferior” (Personalidade) que, no caso, age como juiz – nós nos arvoramos em juízes. É fácil que nos deixemos “cair” nesse estado de ignorar os outros, até porque estamos cercados de outras pessoas que não ligam para ninguém. No entanto, isso não nos isenta de culpa; somos tão culpados quanto aqueles que nos cercam. Deveríamos, portanto, tentar nos precaver contra esses hábitos, à medida que eles começam a dominar nossos pensamentos, nossos sentimentos, desejos, nossas emoções, palavras, nossos atos, nossas obras e ações.

Uma maneira de começar a trabalhar nisso é dizer-nos, quando alguém nos empurra ao passar por nós: “Quantas vezes já me senti culpado por isso; quantas vezes agi dessa forma?” – lembrando o quanto temos que mudar. Se procurarmos com verdadeira seriedade, descobriremos que nosso desdém, raiva e improbidade refletem uma única coisa: egoísmo.

Assim, misericórdia, segundo Timóteo, é o perdão da ignorância ou do egoísmo. Se pudermos perdoar aqueles que nos ofendem, encontraremos uma compreensão em nosso caráter, pois, aquilo que damos, também conservamos. Se dermos compreensão e misericórdia, retemos a compreensão sob a forma de conhecimento e grandeza interior. Tente agir assim e descobrirá que quanto mais ajudar os outros sob esse aspecto, mais aprenderá sobre você mesmo.

Na verdade, o objetivo de “viver a vida” não devia ser rebaixado a ponto de só se “dar” se houver recompensa. Porém, se seguirmos a fórmula mencionada anteriormente, sentiremos uma reação bastante marcante: quanto mais nos conhecemos, mais procuramos servir nossos irmãos e nossas irmãs. Quanto mais sentirmos a nossa Individualidade atuar em nós, mais perceberemos que estamos aqui para ajudar os outros e, com alegria e regozijo, colocaremos toda nossa energia nisso.

A seguir vem a piedade. O que é piedade? Segundo o Dicionário, piedade é “tristeza pelo sofrimento e desgraça alheia”.

O que isso significa para nós? Para aqueles que anseiam uma vida espiritual, significa muitas coisas que a maioria das pessoas nem percebe. Piedade é o primeiro passo para a compaixão. Precisamos ser capazes de sentir a dor alheia. Como Parsifal (o ser puro que almeja uma vida superior, personalizado na obra Parsifal de Richard Wagner), precisamos sentir a tentação e a dor da “queda”, pois, sem a compreensão do fracasso e da vitória, não poderemos dar consolo àqueles que foram tentados. Piedade, então, deve ser a capacidade de sentir o sofrimento ou a desgraça alheia, como foi definido acima.

Mas, como podemos compreender isso? Como podemos sentir a dor de outra pessoa? Uma das melhores maneiras é através das nossas próprias experiências; o que sentimos em determinada situação poderá ser transmitido para outro, em situação similar. Mas, como nos sentimos quando não experimentamos uma situação similar? O que poderá nos despertar para os sentimentos alheios? O que poderemos usar como modelo?

Sabemos que no passado remoto da nossa existência devemos ter sentido, provavelmente, todas as mágoas, todas as tristezas que alguém possa sentir. Mas, isso não está à nossa disposição assim tão prontamente, de maneira que precisamos encontrar um meio que nos faça lembrar, talvez não detalhadamente, esse sentimento do passado.

Uma maneira ou modelo é a imaginação. Ao nos colocarmos no lugar de outro, talvez possamos perceber como ele se sente e daí, então, compreender seu dilema. “O ser humano é aquilo que seu coração diz”. Se pensarmos ou imaginarmos aquilo que uma determinada pessoa está passando na vida, através de nossa própria experiência nesta vida, seremos capazes de despertar, em nós, a compreensão e o sentimento latente de amor por aqueles que sofrem e são desafortunados.

Descobrimos, assim, um modelo para nos ajudar a sentir piedade e, também, compreensão para a tristeza alheia. Mas, o que significa piedade para nós, em se tratando de grau de evolução? Piedade é um termômetro dos nossos próprios sentimentos, visto que para sentir piedade de alguém, no sentido mais verdadeiro da palavra, precisamos conhecer e estar conscientes dos nossos próprios sentimentos. Mas, sentir piedade é dar um passo mais adiante do que simplesmente sentir pena pela tristeza alheia, pois, nos leva a uma compreensão superior e a maior compaixão.

Quando sentimos “pena” de um amigo ou de uma amiga doente ou de alguém com problemas emocionais, talvez o abracemos e digamos: “Oh! coitadinho!”. Mas isso adianta? Isso lhe dá coragem para continuar vivendo? Talvez, não sei. Mas, quando sentimos uma compreensão ou compaixão verdadeira e desejo de ajudar a minorar o sofrimento diremos: “Está bem, você está doente e precisa de ajuda, o que você quer, o que você pretende fazer?”.

É uma ajuda e um conforto deixar alguém chorar nos nossos ombros, mas, só ajudaremos se fizermos algo para que ele possa vencer sua dificuldade. Há muitas pessoas no mundo que sentem pena dos animais, que até fundaram sociedade para protegê-los contra maus tratos. Mas, essas pessoas continuam comendo essas mesmas criaturas que eles intencionam salvar (ou animais de estimação são “diferentes” dos outros animais, apesar de pertencerem ao mesmo Reino, a Onda de Vida Animal?). Isso é piedade? Compaixão? Até certo ponto talvez, mas será verdadeira quando puderem dizer “eu sinto tanto por eles que estou preparada a renunciar comê-los”. A verdadeira piedade é o desejo de sacrificar ou desistir de algo, por uma ideia. Sentimos muito quando uma pessoa está doente, mas se dermos muita atenção a essa pessoa, ela poderá ficar doente por muito tempo, só pela atenção que lhe damos. Descobrimos, então, que precisamos controlar nosso sentimento pessoal de piedade e ajudá-lo, com amor e inteligência.

Compaixão também tem severidade, mas com a finalidade de ajudar, de algo bom. Sentimos a dor alheia, mas sabemos que ela precisa ser superada e a pessoa tem que lutar para que a saúde vença. Ajudar a pessoa a lutar, com firmeza e interesse.

Uma ótima ajuda e que realmente ajudará a pessoa doente ou enferma é solicitar a ela que se inscreva no Departamento de Cura de um Centro Rosacruz que o possua (mais informações, encontre aqui: Como os Rosacruzes Curam os Enfermos e aqui Como Funciona a Cura Rosacruz e como Solicitar Auxílio.

Vemos, então, que piedade é um passo que nos leva a um melhor entendimento de nós mesmos e a nossa capacidade de ajudar o próximo.

A seguir vem a paz, algo que todos nós almejamos. Thomas Kempis nos diz sobre a paz: “Poderíamos aproveitar a paz se não nos preocuparmos com o que os outros dizem ou fazem, pois isso não é de nossa alçada”.

Como alguém pode ter paz por um longo período se ele se intromete sempre na vida dos outros; vagueia sem sossego e não se esforça em perdoar?

Se procuramos o mundo e seus supostos tesouros, certamente não podemos esperar paz em nossas Mentes e em nossos Corações. A única paz verdadeira é a quietude que nos cerca, onde quer que estejamos ou o que for que estivermos fazendo.  A chave para essa paz é sermos honestos. Quando alguém possui essa virtude de verdade, ele está em paz. Mas, o que é a honestidade? Na verdade, enquanto estivermos procurando as muitas diversidades do mundo não podemos estar em paz. Mesmo que nos concentremos em um único objetivo no mundo como ter um carro novo ou uma nova televisão ou um cargo mais alto no trabalho, a paz dura somente até o momento em que aquilo for alcançado; aí passaremos a procurar outra coisa. Consequentemente, o que devemos procurar não está no mundo. Deve estar, se é que está, em algum lugar, dentro de nós.

Quando procuramos essa paz interior, um novo mundo se abre, o mundo de Cristo. Dentro de cada um de nós há essa chama de Luz e quando encontrada, a televisão, o carro, o cargo no trabalho terão a sua validade, mas não como antes, isto é, não serão mais uma pedra dentro da nossa alma. O que realmente estávamos procurando em todas essas coisas era o Maná para saciar uma fome que não sabíamos definir. Perceberemos que, dentro de nossas almas, há desejos e a única maneira de saciar essas dores interiores é a consolação interior. O alimento dessa consolação é a Luz. Podemos perguntar: “o que preciso fazer para conseguir essa fonte interior de alimento e de onde vem esse alimento?” Em poucas palavras podemos dizer: “Orando e vivendo a vida em sua plenitude”.

A prece procura nos elevar a esferas que crescem tanto quanto nós e ainda mais do que nós mesmos, à medida que somos capaz de compreendê-la. Essa grandeza é a expansão eterna, é o nosso desenvolvimento espiritual.

Paz, então, é prece, mas prece que expande e alerta o Espírito – a Individualidade –, além dos confins da Terra, para a realização do todo. Fomos ensinados a orar sem parar e isso é viver a vida (como São Paulo nos ensina); procurar o Cristo Interno e viver de acordo com aquelas Leis de Deus, do qual somos toda uma parte. Quando nossa vida for honesta, para perceber as maravilhas de Deus, teremos paz. Uma paz que supera toda compreensão.

Agora é a vez do maior sentimento de todos: amor. O que se pode dizer sobre amor? Muitas coisas foram ditas sobre amor e todos os anos na época do Natal sua forçaestá mais perto do que imaginamos. Na Noite da Véspera do Natal (Noite Santa) celebramos o simbólico “nascimento do corpo de Jesus” e para a maioria das pessoas, isso é suficiente; suficiente para encher-lhes o coração por algum tempo, com o espírito de dar. Para alguns é a época de comidas sofisticadas, luzes, presentes, reuniões mundanas e enfeites de Natal. Para muitas pessoas é uma época agitada, ocupada em coisas só materiais. É uma época agitada porque há algo mais no ar do que só “pinheiros e comidas”. Há o Cristo!

Cristo, agora, está entre nós, mais próximo do que o ar. Não é dizer que Ele está conosco somente no Natal, mas agora é uma época muito especial porque Ele nos prestou um dos mais lindos serviços que se possam encontrar. Ele nos deu Seu dom de liberdade e está, agora, nos mostrando o caminho para a libertação, embora esteja preso no interior da Terra. Tudo isso e mais ainda. O que Ele está mostrando com o dom da liberdade é o Amor. É aquela força libertadora que abre as correntes e soltas as amarras da Terra. Não aquele tipo de amor que diz que “você é meu e eu sou sua”, mas aquele tipo de amor que diz estarmos aqui para nos ajudar mutuamente a crescer, de modo a podermos nos entender conscientemente. Aprenderemos, pela experiência, que somos um no amor, um individualmente, mas provenientes da mesma fonte.

William Blake diz que “somos postos na Terra para gerar os raios do amor”. Isso é verdade. Precisamos tornarmo-nos flexíveis para a ginástica da vida e quanto mais resistência tivermos, mais fortes serão nossos músculos. Temos que tomar conhecimento das coisas gradualmente, entendê-las bem e estar preparados a resolvê-las quando nos colocarmos em contato com elas. Até atingirmos o ponto de expansão interior, nossa cura é vagarosa, nossos corações não podem, ainda, suportar a verdadeira Paixão de Cristo.

Paixão é dor e a dor do despertar do Cristo Interno eventualmente transcende o corpo e nos encontramos nos Mundos espirituais. É somente com um grande Treinamento Esotérico, com domínio próprio, que compreendemos que nos livramos dos valores do Mundo Físico. Isso não quer dizer que não exista alegria neste Mundo Físico, porque suportando essa Paixão ou Cruz, estamos se alegrando e dilatando o nosso Coração e a nossa Mente para regiões inexplicáveis para os menos atentos. A alegria, no entanto, está em todos os lugares e em todas as coisas. Está sempre perto, como Anjos cantando, suavemente, mas corretamente, no ouvido interior – cantando louvores para outro nascimento de Cristo e para a expansão d’Ele em nós.

(Publicado na Revista “Serviço Rosacruz” – setembro/1980 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Misericórdia e a Piedade

Palavras tão pouco difundidas e com significados tão pouco conhecidos e, muito menos, aplicadas.

Misericórdia e piedade não têm nada a ver com a lógica, a razão, em primeira instância.

A primeira ideia que surge quando nelas pensamos é a de cunho místico, devocional, onde se sente pelo coração. Muitas vezes, a prática da misericórdia se limita a nossa incapacidade de ter feito algo correto, erros que estamos sofrendo. Já a piedade se limita a um modo de conformar os outros pelo erro cometido.

Quantas vezes por dia nos tornamos perturbados – e com razão – por causa daqueles que não se importam com pessoa alguma e desconhecem o próximo?

Quando estamos dirigindo um carro e outro nos corta subitamente, qual é a nossa reação? É raiva ou desdém?

Quando, em uma reunião, palestra ou até em uma audição, ouvimos alguém fazer um comentário que para nós não é totalmente válido, por estar sendo encarado do ponto de vista terreno, condenamos esse alguém por sua ignorância ou rimos pela sua falta de compreensão?

Quando vemos um criminoso na TV, nos vídeos da internet ou lemos sobre ele nos meios de comunicação, qual é a nossa reação? Dizemos: “Bem-feito, era isso que ele merecia”, esquecendo que ele é fraco e está perdido num mundo que sensacionaliza o crime? E que mais ainda e acima de tudo: é um nosso irmão ou uma nossa irmã?

Quando alguém nos faz algum aparente mal desejamos e procuramos uma oportunidade para se vingar?

Se a qualquer uma dessas perguntas respondemos “sim”, então somos fracos, ignorantes e negligentes em relação aos outros. Não praticamos a misericórdia.

Ter misericórdia é nos conscientizarmos da fraqueza do próximo, nosso irmão ou nossa irmã. E, além disso, ajudá-lo ou ajuda-la por meio da compreensão de seus atos, enviando-lhe pensamentos positivos ao invés de negativos.

Misericórdia é a manifestação do amor quando levamos em consideração a fraqueza do próximo, nosso irmão, nossa irmã.

Misericórdia é a manifestação do Amor de Deus, de modo especial quando considera a fraqueza das criaturas.

A misericórdia de Deus é infinita e universal. Lemos no Livro dos Salmos 144:9: “Para todos é bom o Senhor e a todas as criaturas estende-se a sua misericórdia”. No Livro do Eclesiástico 18:12: “A misericórdia do homem tem por objeto o seu próximo; mas a misericórdia de Deus estende-se a toda a carne”.

Tanto o pecador como o contrito são objetos da misericórdia de Deus. Lemos no Evangelho Segundo São Lucas 1:50: “E a sua misericórdia se estende de geração a geração sobre os que o temem”. E no Livro dos Números 14:18: “O Senhor é paciente e de muita misericórdia, que tira a iniquidade e as maldades e que a nenhum culpado deixa sem castigo”. No Livro de Isaías, 55:7: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem iníquo os seus pensamentos, e volte-se para o Senhor e haverá dele misericórdia, e para o nosso Deus, porque Ele é de muita bondade para perdoar”.

Ora, se Deus é misericordioso tanto com o pecador quanto com o arrependido, quem somos nós para não sermos?

A prática da misericórdia é impedida pela vaidade e pelo orgulho de não admitir as muitas ignorâncias que ainda possuímos. Ou ainda, que em muitos casos sabemos e temos certeza de que estamos corretos. Por isso julgamos.

Tornamo-nos juízes. E, assim, agindo como juízes, nos colocamos numa posição de autoafirmação e utilizamos da razão para justificar. Somos “aquele que nunca agiu assim”. Ou “se fosse conosco jamais teríamos feito desse modo”.

Primeiro: “será que nunca agimos deste modo?”. Segundo: “como saber se realmente isto está errado?”.

Segundo: se você tivesse o mesmo horóscopo do irmão ou da irmã que você está julgando, com as mesmas configurações adversas e benéficas e os mesmos Signos nas cúspides de cada Casa, tem certeza de que não agiria daquele modo ou, talvez, até pior?

Como não estamos certos, com toda a certeza, de termos agido deste modo ou não, tratemos de aproveitar as situações aqui descritas, como oportunidades para servir. Por exemplo: quando alguém passa por nós e nos injuria podemos dizer: “quantas vezes já me senti culpado por isto; quantas vezes agi dessa maneira”, ao invés de praguejar, de brigar ou de revidar.

Neste contexto, qual foi um dos mais característicos traços de Cristo-Jesus na sua jornada aqui na Terra? A Sua misericórdia. Principalmente para com os abandonados e arrependidos.

Podemos ler no Evangelho Segundo São Mateus 9:36: “e olhando para aquelas gentes, se compadeceu delas: porque estavam fatigadas e quebrantadas como ovelhas sem pastor”.

Podemos vê-la facilmente expressa nas parábolas: do filho pródigo, do bom samaritano e da ovelha perdida.

A compreensão da misericórdia na doutrina de Cristo leva-nos a concebê-la como: o perdão da ignorância e do egoísmo do nosso próximo e de nós mesmos.

Aqui praticamos a lei de dar e receber. E a lei de semelhante atrai semelhante. Pois se praticarmos a misericórdia – perdão pela ignorância – recebemos misericórdia – perdão pela nossa ignorância.

Como isso, vemos que o Amor de Deus não pode estar num coração sem misericórdia. E isso se dá na conscientização de que não sabemos tudo, que erramos, blasfemamos, somos ignorantes.

A partir daí, podemos agir:

. com maior compreensão, perdoando os que nos ofendem;

. com maior tolerância, procurando criticar construtivamente algo que não

. entendemos ou que, ao nosso ver, está errado;

. com paciência, procurando argumentos lógicos e amorosos em nossas colocações; com humildade, procurando entender as limitações, as restrições e lições que devemos aprender dos e com os outros.

Portanto, a misericórdia é uma virtude que deve ser vivida com toda a intensidade pelo Aspirante à vida superior em todas as circunstâncias e situações em que a ele for apresentada.

Quantas vezes ao ver um irmão ou uma irmã sofrer viramos o nosso rosto, torcendo para que ele ou ela e ninguém nos solicitem?

Quantas vezes nos esquecemos de dirigir uma oração a esse irmão sofredor ou a essa irmã sofredora que está passando por alguma dificuldade, seja física, moral, espiritual ou psíquica.

Quantas vezes não admitimos que a dificuldade que um irmão ou uma irmã está passando é realmente uma dificuldade?

Achando que nós, em seu lugar, tiraríamos de letra e, portanto, julgamos que ele ou ela está sofrendo porque quer?

Tudo isso é a falta de compreender o que é piedade.

Na verdade, achamos que compreendemos o que é piedade e acreditamos que a aplicamos quando a dificuldade é conosco, ou com algum familiar ou, no máximo, com algum conhecido muito querido. Então, passamos a procurar uma igreja e a realizar atos tais como acender velas, ajoelhar, rezar terços, novenas, jejuns, “envio de energias”, passe espiritual entre outras coisas.

Caso contrário, no máximo chegamos a alguma frase do tipo: “que Deus o ajude”, “deve estar pagando alguma dívida passada”, “coitado”, “tome e faça essa oração todos os dias”. E nos afastamos com a certeza do dever cumprido e torcendo para que não sobre nada para nós.

Afinal piedade não é a tristeza pelo sofrimento e desgraça alheia? Pois então: já ficamos tristes! Já expressamos nosso sofrimento pela desgraça alheia e muita gente viu (temos testemunhas). Agora voltamos a ser alegres e a esquecer a desgraça alheia, certo?

Agora, para o Aspirante à vida superior piedade é o primeiro passo para a compaixão. Piedade é a capacidade de sentir a dor alheia. Piedade é uma virtude que inclina o ser humano para Deus numa filial obediência e amor reverencial.

Na maioria das vezes a piedade praticada é aquela que os fariseus praticavam no tempo de Cristo-Jesus onde eles sobrepunham de tal modo o ritualismo externo às práticas internas que a verdadeira piedade interior ficou a perigo de desaparecer.

Cristo-Jesus, porém, iluminou novamente o caminho como vemos no Evangelho Segundo São Mateus 6:1-18: “Guardai-vos não façais as vossas boas obras diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles (…). Não faças tocar a trombeta diante de ti”.

Ou: “e quando orais, não haveis de ser como os hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos”.

Ele mostrou que a verdadeira piedade consiste em fé firme, confiança filial, submissão a vontade de Deus e que se manifesta pelo amor ao próximo. E é nesse sentido que precisamos ser capazes de sentir a dor alheia.

Uma das melhores maneiras é através das nossas próprias experiências: o que sentimos em determinada situação poderá ser transmitido para outro em situação similar.

Isso é aplicável desde que aprendamos com as nossas experiências, tomando consciência da relação causa e efeito. Para isso, sem dúvida, muito contribui o processo de captação da quinta essência que é feito pelo Exercício Esotérico da Retrospecção.

Agora, e em situações que ainda não experimentamos? Como podemos sentir o quão é doloroso ou dificultoso?

Se olharmos o nosso horóscopo podemos descobrir como tenderemos a sentir tal experiência. Ou se usarmos a imaginação pode criar um modelo que facilitará enormemente compreender a dor alheia.

Uma vez entendido, compreendido e assimilado a situação do irmão sofredor ou irmã sofredora estamos prontos a sentir a compaixão e, portanto, nasce naturalmente um desejo de ajudar a minorar o seu sofrimento. Podemos ter a certeza que aí, nesse ponto, a ajuda é eficaz, bem dosada e proveitosa.

Por exemplo: quando encontramos um irmão ou uma irmã doente podemos falar-lhe: “coitadinho. Deus o ajudará” ou, após imbuir-se do seu sofrimento, sentindo a tristeza e a dor que ele está sentindo, dizer-lhe: “está bem, você está doente e precisa de ajuda, o que você pretende fazer?”.

Outro exemplo: há muitas pessoas no mundo que sentem pena dos animais, que até fundam sociedades para protegê-los contra maus tratos. Mas continuam comendo essas mesmas criaturas que elas intencionam salvar (ou será que cachorro, gato, cavalo e outros “pets” não são animais com a mesma necessidade de evolução da vaca, do boi, da galinha – enfim de todas as espécies animais e aves, dos peixes, dos crustáceos, dos anfíbios e afins?). Até certo ponto, podemos considerar isso piedade. Mas essa só será totalmente verdadeira como primeiro passo para a compaixão quando puderem dizer: “eu sinto tanto por eles que estou preparado para renunciar a comê-los”.

Portanto, vemos que a piedade nos eleva acima das dificuldades impostas pela nossa Personalidade em entender as dificuldades, sofrimentos e tristezas dos nossos irmãos ou das nossas irmãs e, com isso, entender as nossas. É o meio que nos ajudam a ser mais eficazes no nosso servir. A ser mais conscientes do que é ajudar e o que não é.

É, enfim, a compreensão de que como Deus, nosso Pai, entende as nossas dificuldades e de como ele está sempre criando meios que nos ajudam a suplantá-las.

Que as Rosas Floresçam em Vossa Cruz

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