Não nos queixemos e, sobretudo, não vivamos a criticar os outros.
Sabemos que a maioria das pessoas age assim; que esses hábitos anticristãos nos influenciam desde pequenos e hoje, também, nos acostumamos a repeti-los. É cômodo pôr a culpa de tudo nos outros. Sempre arranjamos um motivo plausível para justificar nosso modo de agir.
Sejamos honestos conosco mesmos. À luz dos conhecimentos ocultos adquiridos mediante a Filosofia Rosacruz, sabemos muito bem nossa posição neste mundo e como devemos proceder para alcançar o ideal. De que vale sabermos e continuar a agir como uma pessoa comum? Não é dito nos Evangelhos: “A quem mais foi dado, mais será exigido.”? (Lc 12:48).
Cuidado, pois, sabendo que o conhecimento nos traz maiores responsabilidades e consequências mais dolorosas. Por inúmeras razões devemos agir com otimismo e confiança.
Primeiramente, porque o pensamento, o sentimento, o desejo, a emoção, a palavra, o ato, a obra e a ação representam forças formadoras no Mundo do Desejo daquilo que criam no Mundo Físico. Pensar puramente, sentir nobremente e agir corretamente é expressar de modo integral a Trindade, como Espírito consciente.
Depois, é preciso pensar que tudo o que desfrutamos agora representa o que plantamos anteriormente. Não temos o direito de nos queixar, pois agimos como maus pagadores. Ademais, para corrigir nossa economia espiritual é preciso pagar o que devemos sem assumir novas dívidas, com o repetir das mesmas causas erradas do passado.
O reconhecimento de nossos erros, face à Sabedoria de Deus que nos deseja abrir o discernimento, é um ato de sabedoria e humildade, o primeiro passo para nossa regeneração.
Finalmente, não podemos fugir à sociedade que formamos. Ao contrário, “em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser” (At 17:28). Fomos diferenciados em nosso Deus (não de Deus) para adquirir experiências e não só recebemos os reflexos dos erros sociais, como também prejudicarmos nossos irmãos ou nossas irmãs com nossos desequilíbrios em todos os sentidos. Um pensamento falso, um desejo, sentimento, uma emoção mesquinhos, um impulso inferior, um ato, uma ação, obra indignos, tudo, tudo reflete na grande massa de que somos partes, tornando-nos corresponsáveis na situação do mundo em geral e da sociedade em que vivemos. Por que não tomamos consciência disso e mudamos o rumo de nossos esforços para um sentido sempre construtivo?
Criticamos. Porém, o que temos feito para corrigir, para melhorar? Ver apenas não adianta nada. Ao contrário, quem enxerga tem o dever de consciência de trabalhar para a correção e elevação das coisas, dentro dos limites da liberdade bem usada.
Muitas vezes notamos a inclinação que tem a maioria das pessoas para criticar as falhas. Basta que se peça uma solução para reduzir o número dos interessados! E, se a solução é boa, quando se pede ao que sugeriu tomar as providências práticas, então ninguém tem tempo, “é só um palpite”, “pensando bem” ou simplesmente um silêncio e um “abaixar de cabeça”. Com esse método, as críticas vão se acabando, aquelas pessoas vão se afastando e as pessoas bem-intencionadas permanecem e resolvem o problema de fato!
A questão é ver o que há de bom em tudo e agir confiantemente, fazendo o melhor possível, com otimismo, fé, humildade e espírito de renúncia. O que não se puder realizar será por falha ou porque não é chegado o momento. Muitas vezes é por falha.
Há pessoas extraordinárias, mas que açambarcam os encargos. Não sabem trabalhar em equipe. Em consequência, afogam-se no trabalho que atraíram e depois se queixam de que ninguém ajuda. Jamais poderão ser líderes (no bom sentido) se não aprenderem a reunir esforços, aproveitar em cada colaborador o que ele tem de bom (e sempre tem!) e coordenar os trabalhos. Além disso, devem-se estar munidas de entendimento e de gratidão. O incentivo certo na hora certa, a compreensão amorosa das falhas, com palavras prudentes a par de um estímulo e, sobretudo, o exemplo pessoal, são qualidades que devemos oferecer na direção de qualquer trabalho coletivo, para que tenhamos êxito.
Mas, e se aparece um elemento realmente perturbador, cuja ação se evidencie prejudicial aos interesses coletivos? Sim, sempre aparecem, ou para nos provar ou porque as forças das trevas se servem dos fracos para tentar desunir os esforços nobres. De todo modo, se há real união e amizade em uma equipe, se há vigilância e oração nos trabalhos, com algumas exortações amorosas ao faltoso, podemos conquistá-lo, ou então ele se afastará, por força da dissintonia de propósitos. Há sempre casos em que a “pedra de tropeço” acaba mal. Muitos se desviam do Caminho de Preparação e Iniciação Rosacruz, em proveito próprio e têm um fim triste – pois desistem de se desenvolverem na Escola Fraternidade Rosacruz –, consequência natural e proporcional dos seus atos.
De toda maneira não nos cabe julgar, senão cumprir nossa parte devidamente, agradecendo a todos e a tudo pelo que nos proporcionam de instrutivo e iluminador em nosso aprendizado neste mundo. Graças à heterogeneidade de tendências e aptidões em todos os campos é que aprendemos mais depressa, melhorando as nossas lições, tomando, ao mesmo tempo, um sentido de conjunto, formando uma ideia cada vez mais correta de um todo ideal, o que nos possibilitará a idealização e concretização da Era de Aquário.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – maio/1965– Fraternidade Rosacruz – SP)