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As Nove Sinfonias de Beethoven – Correlacionadas com as Nove Iniciações Menores – Quarta Sinfonia

AS NOVE SINFONIAS DE BEETHOVEN – Correlacionadas com as Nove Iniciações Menores – Quarta Sinfonia

Por Corinne Heline

CAPÍTULO IV – QUARTA SINFONIA – SI BEMOL MAIOR – OPUS 60

“A Quarta Sinfonia é como uma donzela grega entre dois gigantes Nórdicos.”

Robert Schumann[1]

A Quarta das Nove Sinfonias foi composta no verão de 1806. Foi feita numa das mais agradáveis cercanias e sob condições de serenidade interna e externa. À sinfonia, que então surgiu, Romaine Rolland[2] se referiu poeticamente como “uma pura e perfumada flor que guarda como um tesouro o perfume daqueles dias”.

Foi dito anteriormente que o número “três” (força) é uma emanação masculina dos valores vibratórios combinados do número “um” (poder) e do número “dois” (amor). O número “quatro” (beleza) é uma emanação feminina formada pela mistura do número “um” (poder), número “dois” (amor) e número “três” (força). Assim, há uma íntima relação entre força e beleza. As duas principais colunas na entrada do Templo de Salomão têm gravadas as palavras força e beleza. É interessante notar que vários escritores encontram nas Sinfonias de Beethoven uma estreita relação entre a Terceira e a Quarta. A Terceira Sinfonia está centralizada em poder e força e a Quarta Sinfonia, em amor e beleza. “Em suas características masculinas”, escreve Alexander Wheelock Thayer[3], “Beethoven atinge o cimo das montanhas com fogo celestial; em suas características femininas, ele enche os vales com doçura celestial”. Esta, a proeminentemente feminina Quarta Sinfonia, ele ouve como a “sinfonia do sonho”.

No desenvolvimento da força anímica pura, a beleza está sempre latente em seu coração, e a essência da verdadeira beleza espiritual será sempre encontrada para possuir uma certa força interna. A Quarta Sinfonia tem sido chamada de Sinfonia da felicidade e seus quatro movimentos identificados com as qualidades de serenidade, felicidade, beleza e paz.

Considerando as quatro partes, o introdutório Adagio é caracterizado por uma doçura angelical; possui uma profunda e mística serenidade. “Sua forma é tão pura e o efeito de sua melodia tão angelical”, escreve Hector Berlioz, “e tão irresistível ternura que a arte prodigiosa através da qual essa perfeição é atingida desaparece completamente. Desde os primeiros compassos, somos tomados por uma emoção que chega ao final tão poderosa em sua intensidade, que só entre os gigantes da arte poética podemos encontrar algo comparável com essa sublime página do gigante da música”; ele conclui, “a impressão produzida por esse Adagio se parece com aquela que experimentamos quando lemos o comovente episódio de Francesca da Rimini[4] na Divina Comédia[5].

O segundo movimento, um Adagio em Mi bemol Maior, respira um fervor que outra vez alguns comentaristas procuraram ligar à vida amorosa pessoal do compositor. Mas aqui, Berlioz, como Wagner, percebe a verdadeira, sublime e impessoal fonte de inspiração de Beethoven. “O ser que escreveu tal maravilha de inspiração como esse movimento”, diz Berlioz, “não é um homem. Deve ser a canção do Arcanjo Miguel quando contempla a sublevação do limiar do Céu”.

O terceiro movimento (Allegro Vivace[6]) invoca um completo deleite. É brilhante e fascinante. Há felicidade nas cordas, nos instrumentos de sopro e no harmônico soar dos tambores. É uma verdadeira canção de beleza que a alma receptiva vem realizar como imortal em si mesma, não tendo nem começo nem fim. Nesse ponto, somos levados a exclamar com Wagner de que é música que não pode ser entendida de outra forma a não ser através da “ideia de magia”.

O Finale termina numa “brilhante perspectiva em que a harmonia dos Mundos visível e invisíveis se encontram e se comunicam. Ele respira uma doce e terna bênção de paz. É a paz que vem só para a alma que aprendeu a transmutar as dificuldades e problemas em pura beleza anímica. O mais alto significado do número “quatro” é essa habilidade do iluminado, ou cristianizado, se elevar sobre as limitações da vida humana e vagarosa, mas certamente, transformar o áspero Ashlar[7] em um perfeito cuboide.

A QUARTA INICIAÇÃO

A Quarta Iniciação está relacionada com a quarta camada da Terra chamada de Estrato Aquoso. Lá estão refletidas as forças da esfera mental da Terra conhecida como Região do Pensamento Concreto. A Terceira Iniciação tem a ver com a superação da natureza de desejo. O próximo passo na realização é a iluminação ou espiritualização da Mente. Isso envolve longos e árduos processos e necessita de muitas vidas para sua completa consumação. Para a pessoa comum, a Mente é escrava da Personalidade. A vida está completamente centrada no “Eu” ou naquilo que se relaciona com a vida pessoal. Quando o ser entra no Caminho, aprende a desligar a Mente da Personalidade gradualmente e a ligá-la com o Espírito. É então que a Mente se torna uma luz, uma luz que ilumina o mundo. A vida e o trabalho de tal ser traz a marca da imortalidade.

Um dos mais profundos livros da Bíblia e uma das mais belas lendas iniciáticas em toda a literatura mundial é o Livro de Jó. É a história do Grande Triunfo. Enquanto o Espírito está ligado aos três amigos, o Corpo Denso, o Corpo de Desejos e a Mente, a Personalidade está sujeita a todas as dificuldades e limitações da vida física tais como pobreza, doença e morte.

O acontecimento supremo na vida de Jó foi o aparecimento de Eliú[8]. Sua vinda vitoriosa representa a separação da Mente da Personalidade e sua união com o Espírito. Essa iluminação ou Cristianização da Mente é a realização relatada na Quarta Iniciação e descrita musicalmente na Quarta Sinfonia. Quando Jó alcança esse estágio de desenvolvimento espiritual, seu Corpo Denso é recuperado, sua saúde se restabelece e até a vida de seus filhos é restituída. Jó é agora, nas palavras do poeta, “o senhor de seu destino e o capitão de sua alma”[9].

Na Quarta Iniciação, as forças do Mundo do Pensamento estão refletidas na quarta camada, chamada de Estrato Aquoso. Esse reino não é composto de água como pensamos desse elemento, mas é cheio de uma névoa luminosa e prateada, na qual estão refletidos os modelos arquetípicos que estão por trás de todas as coisas criadas.

O Mundo do Pensamento Concreto, onde está o Segundo Céu, é o lar de todos esses modelos arquetípicos. É lá, entre as vidas na Terra, que o Ego passa muito tempo aprendendo como construir o Arquétipo que será o modelo do seu próximo corpo terreno.

É importante notar que é no plano mental que esses modelos arquetípicos são construídos, pois isso nos dá um conceito mais claro do tremendo poder do pensamento criador. Na Quarta Iniciação, o candidato aprende como usar o poder construtivo e criativo do pensamento e a realização de que, por esse modo, ele constrói ou destrói sua vida. Pelo poder do pensamento, ele pode se degradar ou se glorificar. Os movimentos metafísicos Cristãos estão prestando um importantíssimo serviço no mundo de hoje ao considerarem o poder do pensamento construtivo como seu ensinamento fundamental. É verdade que os pensamentos são coisas. A Bíblia expressa essa profunda verdade na citação: “Como um homem pensa em seu coração, assim ele é.”[10].


[1] N.T.: Robert Alexander Schumann (1810-1856) foi um pianista, compositor e crítico musical alemão.

[2] N.T.: Romain Rolland (1866-1944) foi um novelista, biógrafo e músico francês.

[3] N.T.: Alexander Wheelock Thayer (1817-1897) foi um bibliotecário e jornalista americano que se tornou o autor da primeira biografia acadêmica de Ludwig van Beethoven, ainda após muitas atualizações considerada uma obra padrão de referência sobre o compositor.

[4] N.T.: Francesca da Rimini (Francisca da Polenta) (1255–1285) foi uma nobre medieval italiana, filha de Guido da Polenta, governante de Ravena, fonte de inspiração de Dante Alighieri, que a retratou na Divina Comédia. Seu pai, Guido da Polenta, era o governante da cidade e estava em guerra com a família Malatesta, de Rimini. Quando as famílias negociaram um acordo de paz, por conveniência, Guido concedeu Francesca em casamento para Giovanni Malatesta (Gianciotto), o filho mais velho de Malatesta da Verucchio, lorde de Rimini. Giovanni era um homem culto, porém de péssima aparência e tinha o corpo deformado. Guido sabia que Francesca não concordaria com o casamento de modo que ele foi realizado por procuração através do irmão mais novo, Paolo Malatesta, que era jovem e bonito. Francesca e Paolo não demoraram a se apaixonar. De acordo com Dante, Francesca e Paolo foram seduzidos pela leitura da história de Lancelote e Ginevra, e se tornaram amantes. Posteriormente foram surpreendidos e assassinados por Giovanni. Dante utilizou o romance de Lancelot, a fim de caber no âmbito do regime de amor poesia lírica, que emula Francesca no Canto V do Inferno.

[5] N.T.: A Divina Comédia (em italiano: La Divina Commedia, originalmente Comedìa e, mais tarde, denominada Divina Comédia por Giovanni Boccaccio) é um poema de viés épico e teológico da literatura italiana e mundial, escrito por Dante Alighieri no século XIV e dividido em três partes: o Inferno, o Purgatório e o Paraíso.

[6] N.T.: Chama-se de andamento o grau de velocidade do compasso. No italiano, idioma utilizado tradicionalmente na música, andamento se traduz como tempo, frequentemente usado como marca em partituras. Por exemplo o Allegrissimo ou Allegro vivace – é muito rápido: 172–176 bpm (batidas por minuto).

[7] N.T.: Ashlar é a melhor unidade de alvenaria de pedra, geralmente cuboide retangular, mencionada por Vitruvius como opus isodomum, ou menos frequentemente trapezoidal. Cortado com precisão “em todas as faces adjacentes às de outras pedras”, o silhar é capaz de fazer juntas muito finas entre os blocos, e a face visível da pedra pode ter a face da pedreira ou apresentam uma variedade de tratamentos: trabalhado, polido suavemente ou processado com outro material para efeito decorativo. Os blocos de Ashlar têm sido usados ​​na construção de muitos edifícios como uma alternativa ao tijolo ou outros materiais. A palavra é atestada no inglês médio e deriva do francês antigo aisselier, do latim axilla, diminutivo de axis, que significa “prancha”.

[8] N.T.: ou Elihu é um crítico de Jó e seus três amigos no Livro de Jó da Bíblia Hebraica. Diz-se que ele era filho de Barachel e descendente de Buz, que pode ter sido da linha de Abraão (Gn 22:20-21 menciona Buz como sobrinho de Abraão). Eliú é apresentado em Jó 32:2, no final do Livro de Jó. Seus discursos compreendem os capítulos 32-37, e ele abre seu discurso com mais modéstia do que os outros consoladores. Eliú se dirige a Jó pelo nome (Jó 33:1, 33:31, 37:14) e suas palavras diferem daquelas dos três amigos em que seus monólogos discutem a providência divina, que ele insiste estar cheia de sabedoria e misericórdia. O prefácio do narrador Jó 32:4-5 e as próprias palavras de Eliú em Jó 32:11 indicam que ele estava ouvindo atentamente a conversa entre Jó e os outros três homens. Ele também admite seu status como alguém que não é um ancião (32:6-7). Como revela o monólogo de Eliú, sua raiva contra os três anciãos era tão forte que ele não conseguia se conter (32:2-4). Um “jovem raivoso”, ele critica tanto Jó quanto seus amigos: Tenho palavras para responder a você e seus amigos também. Eliú afirma que os justos têm sua parte de prosperidade nesta vida, não menos que os ímpios. Ele ensina que Deus é supremo, e que a pessoa deve reconhecer e se submeter a essa supremacia por causa da sabedoria de Deus. Ele extrai exemplos de benignidade, por exemplo, das constantes maravilhas da criação e das estações. Os discursos de Elihu terminam abruptamente e ele desaparece “sem deixar rastro”, no final do Capítulo 37.

[9] N.T.: do poema “Invictus” do poeta inglês William Ernest Henley (1849–1903).

[10] N.T.: Pb 23:7

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Aqui a Quarta Sinfonia em MP3:

Beethoven- Symphony #4 In B Flat, Op. 60 – 1. Adagio, Allegro Vivace
Beethoven- Symphony #4 In B Flat, Op. 60 – 2. Adagio
Beethoven- Symphony #4 In B Flat, Op. 60 – 3. Allegro Vivace
Beethoven- Symphony #4 In B Flat, Op. 60 – 4. Allegro Ma Non Troppo
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