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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Ruídos e a Espiritualidade

Um congresso médico, reunido na França, em 1958, declarou guerra ao ruído e recomendou, entre outras coisas, o respeito às horas de sono, para evitar os males provocados pela fadiga. O certo é que não é preciso submeter uma pessoa à tortura chinesa (em que o supliciado era amarrado dentro de um sino em movimento) para que se chegue a casos extremos. Ninguém ignora que a emoção é tão capaz de matar quanto a infecção, e que o barulho é um poderoso criador de tensões.

O barulho urbano é inevitável e, nas cidades modernas, está intimamente ligado ao planejamento e à tecnologia. Em última análise, é o preço que se tem de pagar pelo progresso. Quando esse progresso é caracterizado pela contínua evolução industrial e comercial, o processo implica alteração dos períodos de trabalho. Assim, as horas do dia são preenchidas por incessantes atividades dinâmicas e motoras, muitas delas de natureza barulhenta.

Algumas das atividades estendem-se pela noite adentro e, além de prejudicar o trabalho de terceiros, também pode atrapalhar o descanso de muita gente. Nas grandes cidades, o ruído tende a aumentar, e o problema tem duas origens fundamentais: a má localização de uma série de atividades indispensáveis (aeroportos, fábricas, mercados) e o trânsito. O problema foi estudado por técnicos estrangeiros e brasileiros, e durante os testes verificou-se a existência de níveis de som anormais.

A intensidade dos sons é medida por uma unidade convencionada, o decibel, que indica as diferenças de altura da sensação acústica. O termo foi criado pela American Standard Association e é adotado internacionalmente.

Quando os sons alcançam o limite de 90 decibéis, como o choro de uma criança, causam incômodo, podendo duplicar a quantidade de sangue bombeada pelo coração. O pulso mantém o mesmo ritmo, mas a pele se torna mais avermelhada e há, frequentemente, sensação de calor.

O farfalhar de folhas provoca ruídos de 10 decibéis, uma casa sossegada alcança 30 decibéis, um escritório, não muito barulhento, produz sons de 50 decibéis, o interior de uma fábrica,110 decibéis, e o barulho de um avião a jato, nos aeroportos, 134 decibéis. A potência do som se duplica a cada 10 decibéis. Os males que os ruídos excessivos causam ao organismo têm sido demonstrados mediante inúmeras experiências com animais, concluindo-se que os sons que vão de 125 a 140 decibéis são quase insuportáveis, capazes mesmo de provocar dores cruciantes. Quando o barulho atinge 150 decibéis, a lesão ocasionada no ouvido, interna, é tão grande que pode levar à surdez permanente. Segundo pesquisas efetuadas no Rio e em São Paulo, a margem de som ultrapassava os limites de tolerância. Concluiu-se que o índice médio registrado nas horas de maior movimento no centro da cidade era de 80 decibéis, em média, alcançando, em alguns lugares, 90 decibéis, muito superior ao índice encontrado nas grandes capitais europeias e em algumas cidades norte-americanas. Levando-se em conta que o ouvido humano pode suportar de 65 a 75 decibéis, sem sofrer lesões, as pesquisas indicaram uma cumulação urbana nociva de 20 a 60 vezes superior aos índices que causam lesões no ouvido e com reflexos no sistema nervoso. O ruído, além de contribuir para a fadiga nervosa, dificulta a comunicação, provoca erros no trabalho, etc. Em nossos ambientes de trabalho podemos reduzir o ruído das seguintes maneiras: eliminando as campainhas de chamada, trocando-as por interfones, abafando a campainha do telefone e colocando uma base de feltro de 4 mm de espessura, abafando as batidas da máquina de escrever colocando o feltro de 5 mm sobre a mesa, campanha de silêncio, falando-se o indispensável e em voz baixa, forrando o chão com tapete, colocando luvas de borracha nos pés das cadeiras, fechando janelas que dão para ruas movimentadas.

Essa ilustração técnica visa apenas reforçar o que sempre é recomendado aos Estudantes Rosacruzes, principalmente para os que não podem fugir da turbilhão fatigante das grandes cidades: é indispensável buscarem a comunhão interna, silenciosa, todos os dias.

Jesus cresceu no Egito, a terra do silêncio.”. Essa alusão é bem clara quanto ao nosso Cristo interno em formação.

A meditação, a prece, a retrospecção, a música pura, a leitura elevada, são meios muito mais poderosos do que se julga para a edificação de nossa natureza espiritual.

Convençamos nossos familiares a fazer silêncio em casa. Se eles desejam ouvir televisão ou escutar música que os ponham em volume baixo, em baixa intensidade de som; de nossa parte, tolerando o gosto dos demais, convém buscar nosso cantinho e preenchermos as horas de lazer com algo mais construtivo.

Com os pequenos lapsos de tempo, bem empregados, é que vamos realizando nosso progresso anímico. Se os deixamos escoar entre as recreações vazias, não podemos nos queixar depois, o resultado será também vazio. Cultivemos o hábito de falar baixo e calmamente.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz da Fraternidade Rosacruz em São Paulo-SP de novembro/1969)

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