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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Uma Explicação Necessária: porque um mapa astrológico oferece, em geral, certas contradições

Muitas pessoas, que pouco ou nada entendem da Astrologia Rosacruz, ficam intrigadas e não compreendem por que um mapa astrológico – um horóscopo – oferece, em geral, certas contradições, chegando mesmo a duvidar da exatidão daquelas configurações. Porém, é preciso notar que todos possuímos características opostas de caráter, temperamento e ou outras que necessitam ser equilibradas para que se cumpra a nossa real finalidade de viver.

Para compreender essa aparente disparidade tem a considerar, antes de qualquer coisa, que os Astros (Signos, Sol, Lua, Planetas) predispõem, mas não impõem. Que existe sempre uma boa margem de livre arbítrio em que nós nos apoiamos para “dominar” os nossos Astros. Especialmente aqueles Aspectos que se processam em Signos Comuns ou Cardeais são os mais passíveis de transmutações, sendo, os Signos Fixos, em geral, indicadores das “dívidas de destino” (lições ou experiências que insistimos em não aprender em vidas passadas, preferindo seguir o caminho da transgressão), marcando, portanto, aqueles acontecimentos quase irremovíveis, enquadrados no Destino Maduro. São contas a saldar de erros anteriores, especialmente de reincidências e que nós mesmos escolhemos na nossa última estada no Terceiro Céu, quando escolhemos o panorama dessa vida aqui.

Cada Aspecto adverso – Quadratura, Oposição e algumas Conjunções e Paralelos – assinala uma experiência a viver para adquirir conhecimento das consequências de alguma falta cometida dentro daquelas direções, porém são passíveis de “cura”. Assim também, cada Aspecto benéfico – Sextil, Trígono e algumas Conjunções e Paralelos – marca os pontos básicos em que nós poderemos nos apoiar para desfrutar nossos merecimentos, encontrando neles, também, forças para sobrepor-se aos pontos não redimidos do nosso caráter, assinalados nos Aspectos adversos. Isso porque o propósito da vida não é a felicidade, como muita gente supõe, mas adquirir experiência, aprender as lições, evoluir para frente e para cima. Tanto que quando negligenciamos na correção de algum erro assinalado nas Quadraturas, Oposições e algumas Conjunções e Paralelos do nosso horóscopo, cedo ou tarde teremos que prestar contas ao certo, à Verdade, por meio da doença, da enfermidade e do sofrimento.

Com conhecimento de causa, podemos abrandar muito as consequências nefastas de um horóscopo com Aspectos adversos. Quando não, há ainda a possibilidade de “vencermos” nossos Astros por meio da compreensão aceitando a chamada “adversidade” que deles parece advir, como consequência natural de nossas próprias deficiências. Nesse particular, um gesto de abnegação, uma atitude de conformidade com aquilo que sabemos já não poder ser de outra maneira, será a solução para pagarmos a “dívida de destino”, aprendermos a lição, sublimá-la como bom hábito e se esforçar para criar a virtude, oposta ao vício, ao erro: “lição aprendida…ensino suspenso”!

Um chamado “bom horóscopo” em que a maior parte das configurações apresenta-se em Sextis, Trígonos e algumas Conjunções e Paralelos, na verdade, sob o ponto de vista espiritual, dificilmente proporcionará o mesmo estímulo e as mesmas oportunidades para avançarmos em nossa própria evolução, ao contrário de um “horóscopo difícil”, pontilhado de Aspectos não redimidos, obrigando-nos a um maior esforço para vencer os nossos Aspectos adversos revelados pelas Quadraturas, Oposições e algumas Conjunções e Paralelos, ou a sofrer quando nos negarmos a esse esforço, mesmo que seja por ignorância dos fatos. Então, teremos mais possibilidades de redimir nossos Astros, redimindo-se a nós mesmos!

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – agosto/1976 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um Testemunho do próprio Max Heindel sobre Casos envolvendo a Astrologia

Max Heindel

É surpreendente a quantidade de pessoas que zombam daquilo que não entendem. Há muito tempo atrás, o próprio escritor não foi exceção a essa regra, em relação à Astrologia, quando o assunto foi apresentado a ele pela primeira vez, há alguns anos, quando ainda tinha uma crença ortodoxa e não possuía nenhum conhecimento de ocultismo.

Um amigo que morava na mesma casa do escritor leu o anúncio de um suposto astrólogo (?) que se ofereceu para ler a sorte de qualquer um pela magnífica soma de dez centavos. Ninguém foi mais veemente em sua denúncia dessa fraude, superstição e tolice chamada Astrologia do que este escritor. Ora, era absurdo pensar que as estrelas tivessem relação conosco! No entanto, nosso amigo enviou um dólar e dez nomes de pessoas que estavam presentes; no devido tempo, os chamados horóscopos chegaram.

Ainda nos lembramos da curiosa sensação com que abrimos o pacote e começamos a ler o suposto pergaminho místico (?). Meio desafiador, meio amedrontado; mas certo, muito certo, de que fosse tudo uma farsa, de que ler o horóscopo justificaria nossas afirmações presunçosas. Mas então, afirmação após afirmação no esboço parecia verdadeira e, gradualmente, todo o sangue em nosso corpo pareceu jorrar em direção à cabeça. Poderia realmente haver algo de verdadeiro nessa tolice? Ficamos perplexos, estupefatos e um tanto assustados com o pensamento.

Mais tarde, o resto dos amigos chegaram e cada um pegou seu horóscopo. Alguns admitiram que fosse verdade até certo ponto; outros disseram que não, mas ninguém parecia profundamente impressionado.

Então alguém perguntou ao escritor: “Bem, e o seu?”. Essa foi a parte mais difícil; ter que admitir que, depois de todas as nossas zombarias, tudo se encaixava. Todos eles estavam curiosos e queriam ver o horóscopo, então mostrei com relutância.

Então alguém disse que não era o meu e que esse horóscopo pertencia a outro, que ainda não tinha chegado. O quê? Nossa sensação de alívio foi quase indescritível. O outro, suposto, horóscopo, destinado a nós, foi produzido e era totalmente incompatível. Naturalmente, censuramos com mais força, do que antes, a falácia, a superstição e a tolice dessa, assim chamada, ciência — a Astrologia.

Tendo passado por essa experiência nós mesmos, não nos admiramos de que os outros estejam céticos, quando confrontados com a ideia da influência astral; além disso, há tantos charlatães que profanam essa ciência sagrada por um mesquinho centavo que não é de admirar que a Astrologia tenha má fama.

A Astrologia genética, a ciência de examinar os eventos da vida de uma pessoa a partir de um desenho do céu feita para a hora do nascimento, é frequentemente degradada, por ser a base da leitura da sorte. A Astrologia horária, que julga o resultado de um determinado assunto a partir de um desenho feito para o momento em que o evento ocorreu, ou quando uma pergunta definitiva foi feita sobre o resultado, é quase sempre uma degradação da ciência sagrada e aquele que estuda e orienta sua vida de acordo com as horas “planetárias”, como alguns fazem, certamente está arrastando as estrelas para a sarjeta. Não é menos que um crime contra a individualidade consultar o horóscopo todos os dias, fazer um desenho horário para cada movimento que fazemos ou procurar, na hora “planetária”, alguma influência favorável, em cada mínima ocasião.

Há momentos, entretanto, em que é certo usar a “lógica das estrelas” para determinar o resultado de um evento. Cada um deve usar seu julgamento nesse assunto, pois o abuso da ciência sagrada da Astrologia trará retribuição tão certa quanto a violação de qualquer outra Lei da Natureza. Nos seguintes casos em que o escritor a usou, ele teve e tem dúvidas e, portanto, deseja alertar os outros para não fazê-lo apenas porque “o Sr. H. fez isso”.

Certa vez, antes de conhecer a Ordem Rosacruz, fomos convidados para um piquenique onde houve uma considerável discussão sobre assuntos ocultos e a Astrologia também veio para participar como um dos assuntos. Um certo Sr. X, presidente de uma sociedade de ocultismo, foi particularmente veemente em sua denúncia sobre a Astrologia, embora admitisse que nada soubesse sobre ela, nunca tendo estudado o assunto. Ficamos muito surpresos com essa atitude mental por parte de um homem que, em virtude da sua posição, deveria ter a Mente aberta; procuramos, então, na presença de vários outros, mostrar-lhe que sua posição era totalmente insustentável; mas isso não teve efeito e ele continuou a zombar.

Poucas semanas depois, o escritor entrou por acaso no local de trabalho do Sr. X e foi imediatamente recebido com um pedido sarcástico de informações sobre algumas ações de mineração nas quais o Sr. X acabara de investir. Ele ganharia ou perderia? Várias pessoas estavam presentes e ficamos muito irritados com essa forma de interrogatório, então respondemos: “Bem, Sr. X., é arrastar as estrelas para a sarjeta consultá-las sobre esses assuntos, mas há ocasiões em que  ‘o fim justifica os meios’”. Sua posição era tão injustificada e poderia contribuir muito para influenciar adversamente um número considerável de pessoas; portanto, talvez fosse bom que ele soubesse o que as estrelas podem fazer. Olhamos, no relógio, a hora exata em que a pergunta foi feita; depois afirmamos que lhe daríamos o resultado da nossa investigação em alguns dias.

Tendo feito o horóscopo, descobrimos que o dinheiro estava passando pelas mãos dos diretores a uma taxa excessivamente baixa; ficou claro, também, que não haveria retorno. Portanto, declaramos isso em um pequeno pedaço de papel que entregamos ao Sr. X, cerca de uma semana depois. Quando ele leu nossa mensagem, riu e zombou: “Ha! Ha! Ha! Sr. Heindel, você não sabe nada sobre isso, nem as estrelas. Eu tenho outro oráculo e ele me diz que esse estoque é extremamente bom, que vai ser um bom investimento e posso vendê-lo agora por muito mais do que paguei”. Em relação a isso, observamos que seria do seu interesse fazê-lo imediatamente, pois não demoraria muito até que os eventos provassem a verdade das estrelas.

Havia outros presentes na ocasião que também fizeram o mesmo investimento; uma senhora investiu tudo o que tinha. Ela ficou com medo e vendeu suas ações, obtendo um bom lucro com isso, mas o Sr. X manteve as suas; ele não se deixaria enganar por tolices como as estrelas.

Aproximadamente uma ou duas semanas depois, o escritor teve a oportunidade de visitar o local de trabalho do Sr. X novamente e o encontrou com a cara um pouco mais séria, afirmando que “há indícios de que você possa estar certo, Sr. Heindel”. Dissemos a ele que sabíamos que as estrelas eram verdadeiras e que, eventualmente, nosso julgamento seria justificado. Algumas semanas depois, a “bolha (a situação instável) estourou” e o Sr. X admitiu que “parece que as estrelas estevam certas, mas provavelmente foi uma coincidência”. Essa é sempre a fortaleza inexpugnável do escarnecedor e do cético. Quando acontece alguma coisa que ele não pode explicar, é útil ter a palavra “coincidência” para fazer malabarismos.

Algum tempo depois tivemos novamente a oportunidade de visitar o Sr. X em seu local de trabalho. Ele então disse: “Sr. Heindel, estou muito preocupado com um determinado assunto. Sou executor de um grande patrimônio e administrador há oito anos. Durante esse tempo, vendi vários terrenos valiosos a particulares, bancos e instituições. Agora há um reclamante e eu quero saber o que está por trás dele, que entrou na ação. Qual será o resultado?”.

Embora relutantes em manchar novamente a ciência sagrada das estrelas, sentimos que, se esse cavalheiro pudesse ser convertido, isso poderia fazer um grande bem para a Astrologia, por causa de sua posição; portanto, puxamos nosso relógio de bolso, olhamos para as horas e lhe dissemos que o avisaríamos. Após uma semana, aproximadamente, descemos à loja dele mais uma vez, junto de uma carta, afirmando que não havia qualquer coisa em resposta ao reclamante no momento, que o caso seria imediatamente retirado do tribunal, mas que seria de seu interesse arbitrar, pois, de fato, havia fundamentos para a reclamação. Mais tarde, isso surgiria de novo e causaria problemas: o julgamento seria revertido em outro tribunal.

Em nossa chegada ao local de trabalho do Sr. X, encontramos este fechado; porém, como sabíamos que ele raramente ficava muito tempo longe, esperamos; ele veio depois de um tempo. Em seguida, entregamos a ele a carta, que ele leu, e então disse: “Sr. Heindel, você acertou precisamente, pelo que eu sei. Fui chamado agora mesmo, por ordem do tribunal, para ir até lá porque essa reivindicação bloqueia cerca de cinquenta títulos valiosos e o juiz queria que ela fosse resolvida imediatamente. Quando cheguei ao tribunal, descobrimos que os advogados do reclamante não tinham autoridade adequada e o tribunal, imediatamente, ignorou o caso”.

Alguns meses depois, por acaso, entramos na loja do Sr. X, em um sábado à noite, e fomos recebidos com as palavras: “Telefonei para você a tarde toda, aquele reclamante voltou e quero saber qual será o resultado”. Imediatamente, sacamos nosso relógio e lhe dissemos que mais tarde o avisaríamos, porque vimos que agora a coisa estava esquentando e aqui havia uma chance de converter o cético por completo.

Ao levantar o horóscopo, descobriu-se que se o escritor tivesse entrado na loja uma hora mais cedo, certa predição que ele fez da posição da Lua não poderia ter sido feita. É um dos fatos mais notáveis sobre a Astrologia horária, esse método de prognóstico que considera a hora que uma pergunta é feita, pois a pergunta sempre chega ao seu destino, o Astrólogo, no momento em que as estrelas estão prontas para responder.

Recebemos cartas com atraso de semanas e marcadas por manchas de água, que foram submersas ou sofreram um acidente ferroviário… Às vezes, não foram enviadas ou, depois, foram após o escritor deixar seu endereço anterior; contudo, este escritor nunca falhou em dedicar um tempo ao ler a pergunta para dar a resposta correta, mostrando que qualquer atraso que tenha ocorrido certamente foi o resultado de um plano. Portanto, também neste caso, a hora de contar a história foi quando entramos na loja do Sr. X e o fato revelado pela posição da Lua, no momento, foi que a parte oposta tinha feito aberturas para um acordo com o Sr. X e seus conselheiros, que eles recusaram. Isso ele admitiu, e então lhe dissemos que as estrelas do reclamante estavam em ascensão, que suas estrelas estavam na descendência, que o caso passaria de um juiz, que agora o tinha em mãos e lhe era favorável, para outro, que reverteria o julgamento e tiraria o espólio dele, dando-o ao reclamante.

Vários anos se passaram e tínhamos esquecido completamente o caso, tendo viajado para a Alemanha, escrito o livro Conceito Rosacruz do Cosmos, etc. No entanto, quando voltamos para a cidade onde o Sr. X vivia, fomos informados por amigos em comum que ele agora aceitava a Astrologia, que ele sabia ser uma verdade absoluta, se corretamente interpretada. Ele sabia também que o Sr. Heindel poderia dizer a verdade e afirmou que, se o Sr. Heindel lhe dissesse que a sua casa seria destruída por um terremoto no dia seguinte, ele se esforçaria para vendê-la, se pudesse obter apenas dez dólares, porque sabia que o evento aconteceria.

Mais tarde, ao falar com o Sr. X sobre o caso, ele disse que só lamentava que as declarações não tivessem sido feitas na época em que as previsões foram dadas, pois eram absolutamente verdadeiras, nos mínimos detalhes. “Ora!”, ele disse, “Sr. Heindel, o primeiro juiz foi muito amigável, como você disse; o segundo juiz, porém, foi exatamente o contrário; ele era antagônico ao extremo e não tivemos absolutamente nenhuma representação. Tentei fazer com que meus advogados arbitrassem o caso, porque acreditava em sua previsão, mas eles se recusaram totalmente, desprezando a ideia de que poderíamos perder”.

Assim, o cínico zombeteiro se tornou um defensor sincero e, agora, está tão ansioso para que as pessoas se convertessem à verdade da Astrologia como antes estava para destruir o que não sabia como apreciar.

Algumas vezes, a Astrologia atrai as pessoas mais estranhas e é usada para os propósitos mais extraordinários. Uma vez, quando fomos apresentados a um cavalheiro que parecia muito austero, para usar a expressão mais branda possível, fomos informados de que ele era um astrólogo competente e estávamos interessados em descobrir como a aparência externa daquele homem poderia se harmonizar com o estudo da ciência divina.

Além disso, descobriu-se que esse cavalheiro era um prodígio em matemática, que desprezava a configuração de um desenho astrológico feito de maneira comum. Ele usava trigonometria para cada Ascendente, o sistema Placidiano para as Direções e os logaritmos para os ínfimos detalhes. Ele conversou sobre senos, cossenos, tangentes e co-tangentes com a mesma familiaridade de que quando pedimos uvas e castanhas para o café da manhã. Logo fomos informados de que a biblioteca dele continha de tudo, desde Ptolomeu ou Plácido até as últimas revistas de Astrologia Moderna, e ficamos muito curiosos para descobrir que uso ele fazia de todo esse conhecimento profundo. Portanto, aceitamos ansiosamente o convite para acompanhá-lo até o quarto dele e lá contemplar seus tesouros.

Ele morava em uma pensão muito barata na parte baixa da cidade e o quarto dele continha apenas uma cama, uma cadeira e uma mesa, além da estante de livros; no entanto, naquela estante havia, como ele se gabava de dizer, uma das melhores bibliotecas astrológicas que se tinha o prazer em ver. Era muito evidente que ele não era um astrólogo profissional que levantava horóscopos para outras pessoas e, embora suas roupas fossem rudes, suas mãos eram macias, mostrando que ele não lidava com trabalhos físicos. Era evidente que ele bebia e, a intervalos de algumas frases, expectorava uma enorme quantidade de sumo de tabaco. Qual poderia ser a utilidade da ciência sagrada para um homem dessa categoria? Pois ele parecia falar sobre isso como se tivesse um valor definitivo para ele, não sendo apenas um passatempo.

Esperamos pacientemente pela explicação e logo ela veio: uma série de artigos publicados na revista “Astrologia Moderna”, sobre corridas de cavalos e como era possível escolher o vencedor. Ele trouxe essa revista e perguntou se havíamos estudado o assunto.

Quando respondemos negativamente, mas ao mesmo tempo admitindo que havíamos estudado outro sistema que pretendia escolher os vencedores em uma corrida de cavalos, ele foi mais insistente em suas indagações sobre o sistema; nada o satisfaria, a não ser que nos acompanhasse ao nosso apartamento, onde devorou o panfleto que tratava desse assunto. Quando perguntamos, brincando, se ele pretendia colocar o sistema em um teste prático, ele admitiu descaradamente que essa era sua intenção e, quando tentamos mostrar a ele o quão contrário isso era para o lado superior da Astrologia, ele nos olhou com um espanto vazio, como se estivéssemos falando em uma língua estrangeira da qual ele não conseguia entender uma única palavra.

Embora nossos ideais estivessem tão distantes, quanto os polos, dos padrões desse homem, cultivamos seu conhecimento por um tempo para entender seu ponto de vista. Ele era um jogador, como admitia francamente, e costumava ir às várias casas de jogo para tentar averiguar a data em que elas tinham começado e a hora, se possível. Ele, então, levanta o horóscopo para esses lugares de jogo e observava o momento em que cada um deles estivesse sob condições ruins. Então ele saberia que estariam fadados a perder, pensando que esta fosse sua chance de ganhar, sem perceber que, embora a casa pudesse perder, ele não seria necessariamente o vencedor, visto que os ganhos poderiam ir para outra pessoa.

Parecia também que nenhuma quantidade de experiência poderia convencê-lo do seu erro, nesse assunto. Sempre havia alguma coisinha, um obstáculo ou outro que explicava por que ele não tinha vencido; porém ele tinha certeza de que seu sistema era o certo. Ele também tinha outro sistema, suplementar, que usava para ganhar nas casas de jogo. Isso, descobrimos quando, um dia, ele apareceu em nosso apartamento pedindo, sim, implorando, implorando, que o acompanhássemos a certa casa de jogo. Quando recusamos, ele se ofereceu para pagar as apostas e nos dar metade dos ganhos; quando foi informado de que haveria mais chances de perda do que de vitória, ele disse com desdém: “Não, você não pode perder hoje, especialmente naquele lugar”.

Ficamos naturalmente surpresos com essa resposta e o pressionamos por uma explicação. Ele sempre foi muito lento para dar explicações, mas finalmente admitiu que, ao examinar nosso horóscopo, viu nossos próprios dados de nascimento e fez uma anotação mental deles. Ele então levantou nosso horóscopo — tinha horóscopos de todos os seus amigos (não é preciso dizer que ficamos lisonjeados por estarmos entre eles).

Isso fazia parte do seu sistema: ele não apenas observava as casas de jogo em busca de tendências ruins, mas também observava os horóscopos de seus amigos, buscando boas tendências. Então, ele faria com que amigos que tivessem boas tendências o acompanhassem até uma casa de jogo com tendência ruim e, observando seu jogo, seguiria o exemplo, esforçando-se, assim, para vencer.

Ele ficou tão desapontado com a nossa recusa educada, mas inabalável, em acompanhá-lo, que nunca mais se aproximou de nós; também não lamentamos que o relacionamento tenha sido encerrado, porque descobrimos que era absolutamente impossível influenciá-lo para algo mais elevado do que apenas o nível em que ele já estava.

Uma faca afiada é um instrumento muito útil nas mãos de uma pessoa competente; contudo, se dada a uma criança ou alguém que é louco, pode se tornar um instrumento de prejuízo e destruição. O automóvel é uma máquina eminentemente útil, mas existem milhares de pessoas que, por causa do seu temperamento, são totalmente incapazes de dirigi-lo com segurança para si mesmas e para os outros. Da mesma forma, a Astrologia, embora seja uma dádiva e uma bênção para milhares de pessoas, é usada por muitos que, por causa do seu temperamento, tornam-na uma maldição para si mesmos e para os outros.

Não é raro ouvir essas pessoas dizerem: “Oh! Tenho o horóscopo mais difícil do mundo e não adianta tentar fugir dele”. Essa visão é totalmente gratuita, pois em primeiro lugar o horóscopo mostra apenas as tendências da vida e nós mesmos temos a vontade pela qual podemos superá-las, pelo menos até certo ponto.

Em segundo lugar, é uma verdade, que já foi muitas vezes enfatizada pelo presente escritor, que as Quadraturas e Oposições indicam obstáculos úteis para o crescimento da alma, por causa de nossos esforços para superá-las, enquanto os Aspectos benéficos são os caminhos agradáveis da vida que, geralmente, fomentam a indolência e a estagnação.

É muito melhor para a alma ter um horóscopo cheio de Quadraturas e Oposições, em que cada Astro possui muitos Aspectos, do que ter um horóscopo em que os Sextis e Trígonos predominam e que, talvez, alguns dos Astros não possuam nenhum Aspecto. Apresentamos dois horóscopos dessa natureza e um estudo sobre eles revelará o fato de que nossas afirmações são bem fundamentadas. Chamemos essas duas pessoas de João e Jorge.

À primeira vista, diríamos que esses são certamente bons horóscopos; no horóscopo de João a grande maioria dos Astros estão acima do horizonte do horóscopo, somente dois, abaixo desse horizonte; com o Sol, Mercúrio, Marte e Vênus altamente elevados na 9ª e 10ª Casas. No horóscopo de Jorge, Júpiter, o grande benéfico, está perto do Meio-Céu, em Trígono com Marte, e há apenas um Aspecto adverso em todo o horóscopo: a saber, a Quadratura entre Netuno e Urano.

No entanto, os Aspectos são poucos para Jorge: Sextil de Netuno com a Lua e Sextil de Saturno com Vênus; tanto o Sol quanto a Lua praticamente não têm Aspectos, pois o Sextil do Sol com Saturno é muito fraco, tendo mais de seis graus de órbita de influência, e o Sextil da Lua com Netuno não é aquele ao qual uma pessoa dessa categoria responderia. Mercúrio, o principal representante da Mente, também só tem uma Conjunção com o Sol, praticamente em combustão; a Lua, no Signo de Ar de Gêmeos, no Ascendente, também mostra que a Mente é muito fraca; na verdade, Jorge tem sérias dificuldades para raciocinar.

João é diferente. Na hora do seu nascimento, Mercúrio nascia antes do Sol; é o Astro mais elevado do horóscopo e faz Sextil com Urano, o Planeta da intuição; embora esteja afligido pela Oposição com Netuno, sua oitava superior, duvidamos que essa Oposição tenha algum efeito, porque tem mais de seis graus de órbita de influência. Portanto, de acordo com todos os cânones da Astrologia, esse homem deve ter facilidade em raciocinar e, até obter bons resultados sem raciocinar, por intuição.

A Quadratura entre Júpiter e Saturno e a Quadratura da Lua com Vênus são realmente os únicos Aspectos adversos no horóscopo. E há vários que são Aspectos benéficos: Netuno em Sextil com a Lua e Saturno; a Lua em Trígono com Saturno, o que ajuda a manter a Mente estável e concentrada para proporcionar mais propósito ao pensamento; Vênus faz Sextil com Júpiter e Mercúrio, com Urano.

No entanto — agora vem o problema. Marte e Sol não possuem Aspectos; o Sol é o doador da vida e Marte fornece a energia dinâmica, a vitalidade física borbulhante que faz as pessoas quererem trabalhar. Você notará que Jorge tem Marte em Trígono com Júpiter; portanto, ele é um trabalhador e não há um único osso preguiçoso em seu corpo. Mas, João, não tendo Aspectos entre o Sol e Marte, está sempre cansado, apático, sem ambição. Jorge tem mais Astros abaixo da Terra: algo o puxa para baixo e ele não parece ser capaz de superar isso, porque lhe falta a capacidade mental, apesar de haver apenas um Aspecto adverso no horóscopo.

No caso de João, as coisas estão invertidas. Ele tem uma capacidade mental que é latente e cuja habilidade está acima da média, mas carece totalmente da energia física que Jorge possui. Esse pode, pelo menos, ganhar a vida com as mãos, embora seja incapaz de usar a cabeça; mas aquele, aparentemente com o melhor horóscopo, é muito mais infeliz, pois lhe falta energia para usar a cabeça e as mãos; se não despertar, poderá ser um estorvo público por toda a vida.

Reflita sobre esta lição profundamente e, se alguma vez você se sentir desanimado por causa dos problemas trazidos por suas Quadraturas, lembre-se de João e Jorge e siga o exemplo do fariseu. Graças a Deus você não está amaldiçoado com um BOM horóscopo como esse!

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de dezembro de 1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)

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