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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pela Paz: que Paz? A falsa Paz, a que o mundo dá aos seus devotos?

Estamos orando pela paz; estamos pensando na paz; esperando por paz e por alguns momentos consideraremos a paz em seu significado mais amplo e completo. Qual é a paz pela qual estamos orando com todos os nossos corações, enquanto lá longe o barulho e o horror da luta fratricida enchem a aura da Terra com seu vermelho lúgubre?

No ano passado, foram realizados mais de cento e cinquenta Congressos, Convenções e Conferências Internacionais de Paz. Acreditava-se que isso pressagiasse a aproximação da tão esperada unidade mundial pela qual a humanidade estava orando. Foi declarado, com certeza enfática, que a guerra era coisa do passado. Hoje, estamos em meio a condições que podem fazer os Anjos chorarem — a Europa está mergulhada na mais terrível luta fratricida já registrada na história[1]. Disso somos forçados a tirar várias conclusões — uma das quais é que o nosso otimismo anterior repousava sobre uma base muito insegura e que a nossa “paz” se empoleirava sobre uma crosta fina, em cima de fogos internos e fervilhantes.

O grande Mestre — Cristo Jesus — pronunciou estas palavras maravilhosas em seu significado profundo e místico: “Minha paz vos dou — não como a dá o mundo”. Observe que elas foram faladas apenas aos Discípulos; para aqueles que O amavam e foram consagrados ao Seu serviço. Além disso, elas implicam dois tipos de paz. A analogia humana confirma a inferência. A paz que o mundo dá é a falsa segurança que nos embala em um cochilo temporário, enquanto a tempestade se forma.

A paz de Cristo pela qual oramos é mais do que a calma externa. É mais do que a imobilidade exterior sobre profundezas agitadas e fervilhantes. No microcosmo, é mais do que a emoção embalada por um descanso momentâneo. É mais do que os sentidos paralisados de uma criança quieta que, por um breve intervalo, não veem, não sentem, não ouvem. No microcosmo, é mais do que a cessação do movimento marcial, quando as forças elementais são silenciadas pela vontade de um Mestre. A paz mundial pela qual ansiamos e esperamos não é a quietude sinistra da miséria oprimida e sufocada — sufocada sob a tirania esmagadora. Não é a patética indiferença ao destino que as massas submersas mostram sob a mão de ferro da ganância e da avareza. Não é a aceitação monótona de condições implacáveis — uma submissão que impede a guerra aberta por causa das condições. Tal submissão paralisa todos os esforços de longo alcance ou alimenta um fogo fervente de ódio interior que, eventualmente, irá estourar todos os limites.

Essas têm sido as condições de paz dos últimos séculos entre as nações do mundo. Murmúrios agourentos da tempestade que se aproxima foram ouvidos de vez em quando através do silêncio abafado. Os erros clamam por reparação, mas foram silenciados pela mão erguida da tirania, tingida de vermelho com o sangue da humanidade. Chamamos isso de “paz” porque havia uma submissão entorpecida a condições inevitáveis. Os erros foram vestidos com roupas de dignidade oficial, a injustiça foi vestida de púrpura com arminho e a crueldade ocupou os tronos do poder.

Portanto, houve “paz”. Paz? Ah, amigos! Vamos olhar para baixo, para o coração, o âmago de tudo isso. Mais uma vez, voltemos às palavras do nosso grande exemplo, o Cristo. Ele faz uma distinção significativa entre a paz que o mundo dá e a que Ele concede àqueles que O amam. Vimos os efeitos da primeira. Vivemos sob a falsa segurança dela e sofremos com suas consequências de longo alcance. Essa paz é como a de uma tarde abafada de verão, quando toda a natureza está consciente de distúrbios elétricos em algum lugar. Os centros dos sentidos e os centros emocionais percebem as vibrações sutis das agitadas correntes atmosféricas. Atualmente, há um movimento de ar, uma energia correndo, um suspiro de florestas curvadas e uma batalha feroz, elementar está acontecendo…

Outra analogia para a falsa paz pode ser encontrada na lagoa tranquila em cujas profundezas escuras o veneno se esconde. Uma falsa paz, queridos amigos, não repousa sobre um fundamento real. A qualquer momento, impulsos vindos de baixo podem penetrar em sua casca fina, causando perturbações gigantescas. É evidente, assim, que desejamos outra forma de paz — algo duradouro e potencial. Essa paz só pode ser encontrada no princípio do Cristo: o Espírito do Cristo deve prevalecer e guiar. Essa paz difere daquela que o mundo oferece em sua política de contemporização, pois energia radiante é diferente de letargia. A paz de Cristo é energia radiante, vida brilhante, chama movente de um centro puro de Luz; Seu altruísmo brilhante envolve e abençoa o coração da humanidade — a alma do mundo. Quando essa paz chegar ao coração da humanidade, as nações não estarão mais em guerra. Não haverá espírito racial, nenhum desejo de poder para usar no monopólio egoísta; nenhum tentáculo de avareza para agarrar vítimas infelizes. Esta, então, é a paz pela qual oramos esta noite, amanhã e todos os dias que virão: A paz de Cristo! Dizem que isso excede o entendimento. Ela ultrapassa os limites do intelecto. A Mente não pode entendê-la. Somente o Espírito pode reconhecê-la e abraçá-la. Mesmo assim, daquele centro radiante sentimos sua calma benevolente e alta bem-aventurança por toda a vida. Ela toca e eletrifica todos os sentidos e todos os centros emocionais. Ela realmente irradia bênçãos por todas as vias da consciência. Não pode ser expressa. Não pode ser entendida por aqueles que não a conhecem.

Torna-se evidente que o mundo não está totalmente pronto para a bem-aventurança divina da paz de Cristo. Qualquer coisa menos do que isso não é paz, mas apenas ausência de movimento marcial. É uma das grandes tragédias da nossa “Estrela das Dores” que lágrimas e derramamento de sangue, destroços e ruína devem preceder a harmonia reconciliadora — a harmonia que brota da paz perfeita e a inclui. O espírito de Marte torna esta era uma época de inquietação. Isso é sentido não só no campo de batalha, mas em cada caminhada na vida, em cada avenida do progresso do mundo. É bom, portanto, enviar pensamentos de paz continuamente; concentrar-se na paz, trabalhar e orar por ela; mas devemos fazer mais do que isso.

Devemos analisar com a visão do filósofo e encontrar as causas subjacentes das condições caóticas que encontramos em toda parte. Então, devemos reconhecer todos os elementos da discórdia e encontrar uma verdadeira base para a paz. Porque isso só pode ser encontrado no altruísmo — o amor universal —, no reconhecimento da unidade fundamental. É claro, então, que devamos trabalhar para isso; em outras palavras, para Cristo e Seu Reino. Para fazer o máximo, não pare no meio do caminho nem sonhe com condições disfarçadas que são más no centro, mas “justas” por fora — como sepulcros caiados. São essas condições que produziram as guerras e misérias. Tais guerras e misérias devem prevalecer até que o fluxo da vida humana seja purificado em sua fonte. Muito do “elemento animal” no ser humano está agora misturado com a essência pura dele que, às vezes, fica difícil separar os dois. No entanto, devemos nos tornar puros antes que possamos ter paz — a paz duradoura — tanto na vida coletiva com os demais como na individual. Enquanto tudo o que é falso ou mau está oculto, encoberto ou dissimulado, o máximo de paz que podemos conhecer é aquela que o mundo dá — uma calmaria temporária na tempestade — um armistício durante o qual podemos enterrar nossos mortos.

A verdadeira paz é branca e luminosa como um raio de luz de Deus. É a flor perfeita que coroa a vida harmonizada. É a verdadeira sinfonia da vida humana cuja análise qualitativa pode ser resumida nestas palavras do grande músico, Beethoven: “Nada pode ser mais sublime do que se aproximar da Divindade e difundir aqui na Terra Seus raios divinos entre os mortais”.

Durante o processo de desenvolvimento, de ajuste, de utilidade construtiva e beleza, a vida é cheia de discórdia e contenda. Tanto com as nações como com os indivíduos — no macrocósmico e no microcósmico. Enquanto os destroços de uma estrutura demolida estão sendo liberados para dar lugar ao novo, a visão não é agradável. Todos os sentidos ficam ofendidos com o lixo e a confusão. Só a alma do artista pode ver, na imaginação, a nova estrutura que surgirá em graça arejada, em beleza nobre sobre os destroços e ruínas. Em nossa antiga terminologia, precisamos falar das vidas humanas que foram “apagadas no campo de batalha”, como a chama de uma vela. Sabemos agora que sua vida não se extinguiu — a chama ainda vive. As velhas condições cristalizadas serão rompidas por essa terrível reviravolta e sentiremos a agitação de correntes etéricas mais sutis.

Vamos, então, continuar a enviar pensamentos de paz e mais do que isso para torná-los poderosos, potentes, onipotentes — carregados da corrente elétrica do amor do Centro Divino. Assim, poderemos ajudar no movimento pela paz, a verdadeira paz, a paz do Cristo. O trabalho preparatório deve ser feito, no entanto. Os destroços do pensamento inútil, da fantasia ociosa e dos interesses egoístas devem ser eliminados. A necessidade do ser humano em ser orientado por um Espírito de Raça deve se extinguir. As distinções de classe, exceto os graus de realização espiritual, devem ser abolidas. O único padrão de excelência deve ser baseado no desenvolvimento espiritual. Todas as distinções arbitrárias da nossa “civilização” tola e moderna devem ser dissolvidas na luz branca da Verdade que brilha nos mundos espirituais. Todos os nossos conceitos baseados nos falsos padrões da Terra devem ser revertidos e devemos permanecer como uma unidade infinitamente multiplicada, como um de forma radical e fundamental, manifestando-se em diferentes graus; mas juntos, formando a humanidade perfeita.

Para usar o antigo comparativo musical: cada inteligência humana emite sua nota-chave e um certo número dessas notas harmoniosamente mescladas compõem o acorde perfeito. Todos esses acordes, com seus tons e sobretons, seu equilíbrio e ritmo, formam a grande sinfonia da vida. Nenhuma nota pode ser dispensada: nenhum acorde pode ser ignorado. Mesmo aqueles que entram com uma dissonância estranha em ouvidos destreinados, sob a habilidade do Mestre ajudam a produzir a música mais verdadeira — a harmonia mais perfeita. Nenhum de nós que viajamos juntos nesta “Estrela triste” pode entrar em harmonia perfeita até que a última nota individual e falsa soe sua nota completa e verdadeira. Na grande alma do mundo existem muitos tons. Alguns soam muito discordantes para ouvidos sensíveis, mas devem ser transformados em esferas verdadeiras e claras como um fato vívido, em vez de um sonho de poeta. Então saberemos o significado da paz e perceberemos o quão completamente somos um. Neste exato momento, a nota marcial prevalece; mas, do estrondo de trompas e tambores surgirá a melodia clara e pura das cordas de violino e violoncelo da alma superior do ser humano: o reinado da paz começará.

Em um sentido muito real, somos os guardiões de nossos irmãos, em um sentido místico e profundo, pois no cerne das coisas somos um. Nossas almas, formadas a partir da alma do mundo, embora estejam separadas agora, estando cada uma envolta em sua minúscula concha, quando purificadas e unidas à Inteligência espiritual, serão uma só em grande poder e bem-aventurança.

Um último pensamento: o altruísmo deve ter suas raízes dentro, no centro sagrado do Amor e da Luz, em que o verdadeiro Eu habita. As sementes da verdade devem cair no silêncio do coração e germinar ali, na quietude profunda. Não sabemos o que perdemos quando as deixamos cair na turbulenta e agitada correnteza da vida exterior, em suas inquietas correntes. Seus impulsos são sempre externos e, se as verdades divinas, que o Mestre fala ao ouvido interno, não puderem fruir plenamente por dentro, antes de serem levadas para fora, elas falharão em seu alto propósito. Uma verdade profunda está oculta nisso — uma verdade digna de sua reflexão séria.

O Coração do Cristo é amor e luz. Quando Sua lei governa a vida, o resultado é a paz. A inquietação é um sinal de centros perturbados e mostra que as energias estão fluindo em canais de parto — dissipadas em linhas que não são essenciais.

A falsa paz, a que o mundo dá aos seus devotos, desune, segrega, perturba. À sua maneira, é quase tão prejudicial quanto as forças marciais. Para entrar na grande e duradoura paz, queridos amigos, a alma da humanidade deve se voltar para o Divino, a Luz central, para longe do mundo da forma e da fantasia. É a tentativa de enfrentar os dois lados que traz toda a nossa miséria.

Tudo é muito simples — o problema da vida, tanto no nível individual quanto no cósmico —, quando encontramos a chave. Essa chave está ao alcance de todos, quando olhamos para dentro, para o centro do nosso ser — na imobilidade profunda, encontramos nosso verdadeiro Eu: nosso Eu superior, nosso Deus.

Que o pensamento final de paz que levaremos conosco seja expresso nas palavras de um hino escrito por um místico e santo da Abadia Galesa de Llanthony.

Silêncio — que uma quietude profunda

Paire sobre cada coração!

Que cada pensamento terreno

Agora parta totalmente.

Mestre, diga: “Fique quieto”.

Pois você está certamente aqui.

Mestre — que Tua grande calma

Faça-nos Te sentir por perto!

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de junho/1915 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)


[1] N.T.: refere-se à Primeira Guerra Mundial

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Livreto: Ritual do Templo, de Cura e Hinos

Abaixo, em forma de livreto, você encontrará:

  1. A Oração do Senhor – O Pai Nosso
  2. O texto para oficiar o Ritual do Serviço Devocional do Templo – todos os dias, exceto nos “dias de Cura”
  3. O texto para oficiar o Ritual do Serviço Devocional de Cura – todos os “dias de Cura”, que você encontra clicando aqui
  4. O texto do Hino Rosacruz de Abertura – o Hino cantado e tocado, você encontra clicando aqui
  5. O texto do Hino Rosacruz de Encerramento – o Hino cantado e tocado, você encontra clicando aqui
  6. O texto dos Hinos Astrológicos dos Signos para Meses Solares – os Hinos cantados e tocados, você encontra clicando aqui

(*) Lembre sempre de preparar o ambiente com uma música apropriada. A melhor é o Adágio Molto e Cantabile – da Sinfonia nº 9 em Ré Menor de L. V. Beethoven, que você encontra clicando aqui.

O objetivo do Livreto é você poder imprimir como um livreto.

Assim, imprima frente e verso em “virar na borda horizontal” em impressoras que imprimem frente e verso.

Ou, caso sua impressora não imprima frente e verso, então imprima primeiro as folhas ímpares e depois no verso as folhas pares.

O tamanho também você pode escolher: cada 2 páginas em uma folha A4 ou cada 4 páginas em uma folha A4.

Tenha acesso ao Livreto clicando aqui.

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O Sentido Metafísico da Arte

O Sentido Metafísico da Arte

A Arte é uma forma de expressão do ser humano. Por intermédio dela revela-se seu nível de consciência.

Em seu estágio primitivo o ser humano procurou conhecer as coisas que o rodeavam e reproduzi-las dentro de suas limitadas possibilidades. O ser humano das cavernas deixou difusas marcas de sua existência, incapazes, porém, de permitir aos modernos pesquisadores um estudo mais acurado de sua consciência. Com o passar do tempo a capacidade de percepção daquele ser primitivo foi se aprimorando e formas mais detalhadas foram gravadas nas rochas, embora revelando uma Arte ainda bem rudimentar.

Como a evolução interna do ser humano faz evoluir também todos os campos onde ele atua, essa manifestação artística tornou-se mais clara e compreensível. O gradativo refinamento da mente e dos sentimentos conduziu a uma dinamização das faculdades criativas. Ele passou a criar não só com perfeição, mas também com beleza. O artista, sempre voltado para o belo, liga-se aos planos superiores da natureza, a verdadeira fonte de todas as suas aspirações.

A verdadeira Arte é indissociável da sensibilidade. Somente uma alma sensível pode captar sons e cores em sua verdadeira pátria, nas regiões denominadas de Primeiro e Segundo Céus nos ensinamentos da Sabedoria Ocidental.

Assim como o Mundo Físico é a região das formas, o Mundo do Desejo e o Mundo do Pensamento são, respectivamente, o plano da cor e do som. Diz Max Heindel no Conceito Rosacruz do Cosmos que a música celeste é um fato e não mera figura de retórica. Pitágoras fala na “Harmonia das Esferas” e Goethe, no prólogo de Fausto, faz menção a essa sinfonia celestial.

Na realidade, a diferença vibratória entre o Mundo do Pensamento e o Mundo Físico é tão acentuada que daquele chegam apenas ecos a esse plano. O som original não resiste à queda de vibração, não podendo ser percebido em sua inteireza por ouvidos físicos. As belas sinfonias de Beethoven, por exemplo, são pálidas reproduções do que o grande mestre conseguiu captar nas dimensões superiores da natureza. Eis porque é válido dizer-se que a “música é a linguagem dos Anjos”.

É importante destacar que o primeiro órgão de sensibilidade desenvolvido pelo ser humano foi o ouvido.

No longínquo Período de Saturno — o primeiro estágio da nossa manifestação — uma Hierarquia Divina, os Senhores da Chama, deu-nos o germe daquele que seria nosso atual Corpo Denso e também a capacidade de desenvolvimento da audição. São João, no primeiro capítulo do seu Evangelho, diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”. Sendo o som um poderoso fator desde o princípio da criação, é inegável a importância do desenvolvimento da audição.

As experiências do poeta assemelham-se às do músico. A poesia é expressão dos mais íntimos sentimentos da alma. As palavras ordenam-se conforme as leis da harmonia e ritmo que regem a expressão do espírito da música.

O artista tendo a faculdade de ver, ouvir e sentir a natureza de maneira diferente, mais ampla e aperfeiçoada do que o comum das pessoas, poderá expressá-la nas Artes plásticas, na música, poesia, transmitindo até vislumbres de sua origem divina aos apreciadores de suas obras. Ele o faz também porque sente a necessidade de eternizar seus pensamentos e sentimentos.

O indivíduo, qualquer que seja seu grau de evolução, não quer se submeter ao temporal, mas sim transcendê-lo. Isso é válido tanto para o primitivo ser humano das cavernas como para o da Renascença ou do Modernismo.

O indivíduo procura perpetuar-se na literatura, na música, na dança, nas Artes plásticas. O dançarino, naquele breve momento, projeta-se no tempo. O mesmo ocorre com o músico, porque aqueles momentos de execução de um número musical ficam gravados nos registros da natureza. Aquele instante é uma eternidade. Aliás, quem entende de eternidade é o próprio espírito. Na arquitetura o ser humano quer tornar a necessidade do “habitat” numa obra de Arte que perdure além do tempo.

A Arte é uma forma de educação permanente. Um povo cercado de beleza sob a forma de jardins, florestas, edifícios, esculturas e música torna-se refinado em seus sentimentos e unido em suas aspirações.

A manifestação artística é uma linguagem universal. É o mais abrangente canal de comunicação de sentimentos. Goethe denominou-a de “a magia da alma”. Schiller afirmou: “A Arte restitui ao indivíduo a sua dignidade”. E Carlyle: “Em toda a obra de Arte discernirás a Eternidade, contemplando através dos tempos a Divina Manifestação visível”.

Na Grécia antiga floresceu uma magnífica civilização e sua maior característica era tudo expressar com requintada beleza. Orfeu adormecia os animais fazendo soar docemente a sua lira. Nas grandes obras de escultura resplandeciam a beleza e harmonia como na representação de Eros e Psiché — a Alma e o Amor. Aquela magnífica civilização produziu artistas, filósofos, poetas, até hoje considerados verdadeiros mestres da Sabedoria.

Max Heindel afirma no Conceito: “A Religião, a Arte e a Ciência são os três meios mais importantes da educação humana. São uma trindade numa unidade. Não podemos separá-las sem torcer o ponto de vista de qualquer coisa que investiguemos. A verdadeira Religião compreende a Ciência e a Arte, porque ensina a viver belamente em harmonia com as leis da natureza. A verdadeira Ciência, no mais elevado sentido, é artística e religiosa porque nos ensina a reverenciar e a nos conformar com as leis que governam nosso bem-estar e explica porque a vida religiosa conduz à saúde e beleza. À verdadeira Arte é tão educativa como a Ciência e de influência tão aperfeiçoadora como a Religião”.

“Na arquitetura encontramos a mais sublime representação das linhas de força cósmica do universo. Enche o observador espiritual de uma poderosa devoção e adoração, nascida da concepção da grandeza e da majestade de Deus. A escultura e a pintura, a música e a literatura, imbuem-nos de um transcendental amor de Deus, o manancial e a meta de todo este formoso mundo”.

“Nenhuma outra coisa, a não ser esse ensinamento integral poderá corresponder permanentemente às necessidades humanas. Noutro tempo, entre os gregos de Religião, a Arte e a Ciência eram ensinados conjuntamente nos Templos de Mistérios. Tornou-se necessário, para melhor desenvolvimento de cada uma delas, separá-las durante algum tempo”.

“A Religião reinou suprema na Idade Média. Durante esse tempo escravizou a Ciência e a Arte, atando-as de pés e mãos. Logo veio o período da Renascença e a Arte floresceu em todos os seus domínios. A Religião era muito forte ainda, e a Arte bem depois degenerou, à serviço da primeira. Por último, chegou a vez da moderna Ciência que, com mão de ferro, subjugou a Religião. Tal estado de coisas não pode continuar. Deve produzir-se a reação. Se assim não fosse a anarquia dominaria o Cosmos. Para evitar tal calamidade a Religião, a Ciência e a Arte devem reunir-se numa expressão do Bom e do Verdadeiro, mais elevado do que antes da separação”.

Os gregos, porque recebiam uma formação integral, conheciam o sentido metafísico das Artes. Era costume entre as mulheres da Grécia antiga, quando grávidas, ficarem retiradas, permanecendo tranquilamente em seus lares. Rodeavam-se do Belo, ocupavam-se de forma útil e agradável lendo ou estudando filosofia e Arte. Tinham plena certeza de que criando essa atmosfera espiritual a criança por nascer seria dotada de formas belas e caráter elevado.

A dança, ocupava em lugar de destaque no sistema educacional grego, a ponto de Platão crer que através dela seria possível surgir uma nova ordem social. Na expressão corporal encontramos a primeira forma de comunicação do ser humano. E, como as primeiras sociedades humanas eram teocráticas encontramos a dança inserida nos rituais religiosos como meio de comunicação com a divindade. Com o passar do tempo perdeu o sentido místico. Acabou sendo considerada uma prática pagã e mundana e daí foi abolida da ritualística nos templos.

A Arte não escapa ao momento ideológico e espiritual que a sociedade está vivendo. Assim, com o advento da Idade Média, as Artes em geral passaram a servir a Religião.

A estrutura social predominante na Idade Média era rígida, condenando cada indivíduo a um destino hereditário. Como havia total insegurança do povo quanto ao futuro, somente a vida religiosa oferecia algum conforto.

A cultura era accessível a apenas uma minoria, representada pelo clero. O ser humano medieval era letrado, supersticioso e extremamente místico. E todo ideário artístico-filosófico greco-romano foi abandonado por ser considerado resquício de paganismo. Entretanto, o pensamento de Aristóteles acabou sendo redescoberto na Idade Média por São Tomaz de Aquino. A filosofia aristotélica abrange a natureza de Deus (metafísica), do ser humano (ética) e do estado (política).

Como já dissemos, o indivíduo medieval era extremamente místico. Esse misticismo, levado a tais níveis, dotava as pessoas de Clarividência negativa a ponto de poderem observar os espíritos da natureza. Eram comuns as narrativas de duendes, fadas, etc.

No Hemisfério Norte, o verão é o tempo em que aparecem os duendes e demais entidades semelhantes, a quem cabe trabalhar pelo desenvolvimento material do nosso planeta. E, na noite de São João, no Festival das Fadas, esse processo chega ao seu ponto culminante como demonstrou Shakespeare em “Sonhos de Uma Noite de Verão”.

Algumas lendas que inspiraram os contos infantis, como por exemplo o da Branca de Neve e os Sete Anões, têm sua origem na Idade Média.

A Arte medieval era simples e refletia sempre o sentimento religioso. Só temas sacros eram representados, com algumas exceções. Os templos eram ornamentados com afrescos contando a História Sagrada e figuras de santos. Na música destacava-se o Canto Gregoriano e as peças teatrais eram encenadas nas igrejas abordando sempre temas religiosos.

Por falar em igrejas, é necessário lembrar a importância da Arte gótica no período medieval. O gótico nasceu na França, no século XII. As catedrais de Canterbury (Inglaterra) Notre-Dame (Paris) e a de Milão são um exemplo notável dessa Arte. Há quem afirme haver uma correlação entre à forma das catedrais góticas (com arcos ogivais formando o interior), as pirâmides e a junção das palmas das mãos quando se ora. Seriam uma maneira de catalisar energias cósmicas?

Lenta, quase imperceptivelmente, algumas mudanças começaram a surgir. Os “Mistérios” foram gradativamente restaurados, graças a ação dos Alquimistas e trovadores. Através da poesia trovadoresca ou Provençal algumas verdades profundas eram transmitidas às pessoas, como se fossem parábolas, em jogos realizados nos castelos. Na lenda de Tannhauser encontramos menção a esses jogos.

As ciências, vez por outra, encontravam uma fresta por onde pudessem manifestar-se. Assim é que Roger Bacon, filósofo inglês, versado também em matemática e ciências naturais, realizou experiências no campo da ótica e da propagação das forças. Bacon faleceu em 1292.

Mas o grande acontecimento dessa época deu-se no século XIII, quando Christian Rosenkreutz fundou a Ordem dos Rosacruzes com o “objetivo de lançar uma luz oculta sobre a mal-entendida Religião Cristã e para explicar o mistério da vida e do ser humano desde um ponto de vista científico, em harmonia com a religião”.

Diz Max Heindel no Conceito: “Vários séculos se passaram desde o nascimento de Christian Rosenkreutz e muitos consideraram um mito a existência do fundador da Escola de Mistérios dos Rosacruzes. Todavia, seu aparecimento marcou o princípio de uma nova era na vida espiritual do Ocidente”.

“Esse excepcional Ego tem surgido em contínuas existências físicas num ou noutro dos países europeus”. Trabalhou com os alquimistas durante séculos antes do advento da moderna ciência. Foi ele que por um intermediário inspirou as agora mutiladas obras de Bacon. Jacob Boehme e outros, dele receberam a inspiração que tão espiritualmente iluminou seus livros. Nas obras do imortal Goethe e de Wagner encontramos a mesma influência. Todos os espíritos inquietos que se recusam a subordinar-se à ciência e à ortodoxia da religião, que fogem das escravidões e procuram penetrar nos domínios espirituais sem pretensões de glória ou vaidade, inspiraram-se na mesma fonte, como fez e faz o grande espírito que animou Christian Rosenkreutz”.

O que ocorreu na Europa por volta do século XIII foi algo muito mais importante do que se possa imaginar. Alguns artistas e pensadores tornaram-se pioneiros da Renascença ao reverenciarem os ideais artísticos da Antiguidade. A Renascença não foi um fenômeno súbito do século XIV, uma ressurreição do interesse pela cultura clássica da Grécia e Roma. O Renascimento pode ser considerado uma fase de reação às doutrinas aristotélicas. As ideias de Platão foram difundidas e adotadas pela nova visão humanista e racional do mundo e da ciência.

Na Idade Média a vida girava em torno da sacralidade, do divino. Deus era o centro e a razão de todas as coisas. No Renascimento essa visão se modifica. O ser humano passou a ver o mundo em função de si próprio, elegendo-se como o novo centro do Universo. O desenvolvimento desse humanismo se fez com a recuperação do patrimônio filosófico e artístico da civilização greco-romana.

A expansão marítima, ampliando o conhecimento do mundo, deu dimensões universais ao pensamento. Surgiram os estados centralizados em forma de monarquias absolutistas. Com o aparecimento de uma nova classe social — a burguesia — desintegrou-se a velha estrutura feudal. O capitalismo suplantou o feudalismo. Apareceram as cidades. Em busca de novas técnicas de produção diferentes campos começaram a ser pesquisados.

Toda essa evolução não poderia expressar-se através de formas artísticas da época medieval, dominadas pela religiosidade. Uma nova Arte se desenvolveu para exprimir o mundo novo. As formas artísticas adotadas assemelham-se às da Antiguidade Clássica. A cruz latina que durante toda a Idade Média fora o motivo básico das plantas das igrejas cedeu lugar à cruz grega (com os ramos de igual comprimento) para que as construções se tornassem simétricas em relação a um ponto central. Muitos arquitetos, considerando o círculo uma forma geométrica perfeita, viam-no como o mais adequado às obras dedicadas a um Deus perfeito. A basílica de São Pedro e a famosa igreja de Florença são de estilo renascentista.

O Renascimento não se limitou apenas ao campo da ciência, Artes e letras. Passou a influenciar, também, a educação, a política e a própria religião. Passou a vigorar um intenso humanismo. Viver a vida e conhecê-la tanto quanto possível generalizou-se como atitude.

Alguns iluminados renascentistas expressaram em suas vidas aquela formação integral que a Grécia antiga oferecia, quando ciência, Arte e religião se completavam harmoniosamente. Assim é que Michelangelo foi escultor, pintor, arquiteto e poeta. Leonardo da Vinci foi artista, filósofo e cientista. Outros gênios daquela época revelaram em suas obras notáveis conhecimentos ocultos.

Max Heindel em “Iniciação Antiga e Moderna” afirma: “O pintor Raphael empregou seu maravilhoso domínio do pincel para exteriorizar a luz dos mais profundos conhecimentos esotéricos em seus melhores trabalhos: “A Madona Sistina” e o “Matrimônio da Virgem”. Cópias dessas admiráveis pinturas encontram-se em qualquer lugar onde se vende quadros. No original nota-se uma tonalidade particular no halo dourado atrás da Madona e da Criança que, ainda que excessivamente grosseiro para uma pessoa dotada de visão espiritual, é, não obstante, uma imitação tão exata e fiel da cor básica do Primeiro Céu, como é possível obter-se com pigmentos e cores terrenas. Uma observação atenta de seu fundo revelará o fato de que esse halo amarelo é composto de uma infinidade de figuras desses seres que chamamos de Anjos, com cabeças e asas. O papa está representado apontando a Senhora e o Cristo menino.

Examinando-o atentamente vê-se que a mão com que aponta tem seis dedos. Não há indícios históricos afirmando que o papa teria tal deformidade. Os seis dedos da mão foram pintados deliberadamente pelo autor. Qual foi seu propósito nós podemos verificar se examinarmos seu quadro “Matrimônio da Virgem” no qual pode-se notar anomalia semelhante. Maria e José estão representados com o menino Jesus no momento de sua fuga para o Egito e um rabino está nas proximidades. O pé esquerdo de José é o detalhe mais adiantado e evidente do quadro e tem seis artelhos. Nos dois casos os seis membros representam o sexto sentido, faculdade que se obtém por meio da Iniciação. Por esse sutil sentido o pé de José foi guiado em sua fuga para manter a salvo aquele tesouro sagrado. No outro caso, o papa tem um sexto sentido indicando que não era “um cego guiando outros cegos”, mas alguém possuidor de uma visão espiritual”.

Há um trabalho de Michelangelo, na igreja de San Pietro in Vincoli, em Roma, que deixa todo mundo intrigado. Nele Moisés está representado com cornos (chifres). Sabemos pelo estudo dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental que Moisés foi o arauto da Idade de Áries, o cordeiro. Eis porque Michelangelo demonstrando grande sabedoria pintou-o com cornos.

Por ser uma expressão do espírito, a Arte reflete um momento peculiar da sociedade. E a sociedade europeia passava por transformações. Os monarcas absolutistas tornaram-se poderosos e opulentos graças, principalmente, às riquezas das colônias do Novo Mundo.

Essa nova ordem de coisas, política e social, provocou a renovação do estilo renascentistas. Surgiu o barroco, estilo originário da Itália e cujo apogeu alcançou os séculos XVII e XVIII.

Embora inspirado na arquitetura antiga, o barroco era muito exuberante em suas formas. Caracterizava-se pela grandeza excessiva, artificialidade, ornamentação extravagante e ampla utilização: de recursos clássicos como a coluna, a cúpula, esculturas de cenas mitológicas, abundância de detalhes decorativos na superfície. A capela do Santo Sudário (Turim), a abadia de Alcobaça (Leiria, Portugal), várias igrejas da Bahia, Minas Gerais e Pernambuco são construções de estilo barroco.

A música, após a Idade Média, evoluiu admiravelmente. Para termos uma ideia dessa evolução, retrocedamos no tempo. Quando a Terra ainda se encontrava em formação, o ser humano valia-se do ritmo para expressar-se musicalmente. É interessante acrescentar que o ritmo está ligado à formação dos Corpos Denso e Vital.

A expressão musical foi se aprimorando a ponto de ao ritmo agregar-se a melodia. Com o advento do Cristo surgiu um terceiro elemento: a harmonia. Por volta do ano mil da nossa Era ela passou a aparecer com mais frequência, formando a tríade melodia, harmonia e ritmo. Até então a harmonia não era muito usada em composições musicais. As apresentações eram realizadas somente com voz humana ou com instrumentos, porém, tocados isoladamente.

Na Renascença ocorreu a redescoberta de técnica da harmonia, conhecida apenas pelos iniciados da Grécia antiga.

(Publicado na revista Serviço Rosacruz – 10/86)

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