A Princesa e a Cozinha
Era uma vez uma jovem e linda princesa que vivia em um enorme castelo bem no alto de uma montanha.
Até aí nada de especial, porque naturalmente todos já sabemos que “era uma vez” havia lindas princesas que viviam em enormes castelos nos altos das maiores montanhas…
O particularmente especial aqui é que esta princesa gostava de cozinhar. Todas as outras princesas dispunham de cozinheiras. E os cozinheiros faziam bolos de aniversário com coberturas de glacê açucarado, pudins, e dedos-de-moças que se derretiam na boca das princesas. E faziam saladas de frutas com laranjas, mamões, uvas, peras, e abacaxis e gelo, que ao final mais pareciam sorvete do que propriamente salada.
Mas esta princesa – cujo nome era Ariadne – não tinha cozinheiro.
Muitos mestres-cucas já haviam batido aos portões do castelo na esperança de conseguir emprego. Traziam amostras dos seus mais exóticos e variados pratos em grandes travessas para a princesa provar. Mas a resposta dela era sempre: “Não, muito obrigado. Eu cozinho melhor do que qualquer um”. E lá se iam embora os candidatos, tristonhos, com suas travessas de exóticos pratos e sem emprego.
Ariadne aplicava a maior parte do seu tempo na cozinha do castelo. Misturava e combinava espumantes molhos em grandes garrafões ou botijas escuras; fatiava batatas e cenouras; cortava pepinos e nabos, usando sempre uma afiada faca de trinchar. E tanto o mordomo que servia a mesa quanto a criada que lavava os pratos receavam que ela um dia cortasse os seus reais dedinhos.
Mas isso nunca aconteceu. Ela quebrava nozes e descascava bananas; descaroçava tâmaras e espremia laranjas; recheava tomates, batia ovos e salgava beterrabas. E chorava quando cortava as robustas cebolas da hortaliça do castelo.
Enquanto fazia patê para o café matinal, Ariadne já pensava sobre o suflê de queijo que precisava fazer para o almoço. Enquanto fazia o suflê de queijo, ela já planejava sobre o que haveria de acrescentar a sopa de legumes do jantar. E enquanto preparava a sopa do jantar, já pensava no que seria melhor para o café do dia seguinte: se a papa de aveia ou a omelete.
De vez em quando um príncipe de um reinado longínquo, ouvindo falar da rara beleza de Ariadne, decidira visitá-la. Nessas ocasiões o lacaio descia os altos degraus que davam a cozinha, e avisava Ariadne da chegada de mais um príncipe.
Ariadne então invariavelmente dizia: “Oh! Meu Deus. Não tenho tempo para pôr minha coroa e recebê-lo na sala do trono. Traga-o aqui mesmo”.
E o lacaio, franzindo o sobrolho porque discordava totalmente dessa atitude de Sua Altezinha, não tinha outra escolha senão pedir ao Visitante que o acompanhasse escada abaixo até a enfumaçada cozinha.
“Bom dia, meu bom príncipe”, cumprimentava Ariadne polidamente, dando as boas-vindas ao recém-chegado, e apenas levantando os olhos da massa de pão que preparava, “Muita gentileza de sua parte vir de tão longe a visitar-me”.
Os príncipes, que por certo haviam visitado muitas outras princesas, mas nunca nas cozinhas, nem quaisquer delas fazendo massa de pão, lembravam-se somente de se curvarem para Ariadne e de dizer-lhe: “Bom dia, Alteza Real.
É muita bondade de sua parte receber-me”.
Depois disso, contudo quaisquer dos príncipes visitantes pareciam não saber mais o que dizer. Regra geral, quando eles visitavam uma princesa, ela sentava-se em seu trono e eles sobre uma almofada de sedã aos pés, e conversavam então sobre torneios e cavalos; sobre caçadas e bailes; sobre valentes cavaleiros e elegantes damas.
Às vezes, conversavam e liam manuscritos na biblioteca do pai dela, o Rei.
Quando um príncipe visitava Ariadne, porém, tudo era diferente.
A princesa oferecia-lhe de início um rústico e duro banco, sem se interromper no seu trabalho culinário. Era comum então dizer inesperadamente:
“Quebre-me isto, por favor”, passando ao príncipe alguns ovos e uma tigela. Se o príncipe – a quem geralmente jamais haviam pedido antes para partir um ovo sequer –tivesse sorte, a maior parte dos ovos partiam-se dentro da- tigela. Mas via de regra, por um desastrado manuseio, os ovos rolavam pela mesa e caiam ao chão, onde se espatifavam.
Algumas vezes Ariadne dizia:
“Você se importaria em amassar isto para mim?” Então, o príncipe – que poderia enfrentar o mais pesado javali na mais desigual batalha sentia-se perdido. Ele simplesmente não sabia como segurar o rolo; ou não podia evitar que o mesmo grudasse; ou ignorava como “puxar” a massa para deixá-la delgada. E geralmente acabava com massa grudada no rosto, nas mãos e por toda a roupa – o garboso uniforme. Aí então o príncipe sentia-se envergonhado. E como os príncipes não gostam de se sentir envergonhados, eles todos guardavam uma triste recordação de sua infeliz visita a Ariadne. E nunca mais voltavam a visitá-la.
Ariadne, que se aborrecia com príncipes (ainda que não o demonstrasse), de fato pouco se importava que eles não mais voltassem. Não. Se nem um daquele lote de príncipes que a tinham visitado pôde falar sequer sobre creme de espinafre, de bolo de abóbora, de milho torrado ou mesmo de purê de batatas! Nem um deles sabia a mínima coisa a respeito de fazer pipocas, ou assar uma torta, ou colher um melão maduro!
A maioria falava tão pouco sobre culinária que mais parecia nada saber sobre a arte. Os poucos que falavam tagarelavam apenas sobre torneios, cavalos, caças, bailes, valentes cavaleiros e elegantes damas. Ariadne vivia sempre tão ocupada na cozinha que não dispunha de tempo para torneios, cavalos e caças e bailes e jogos e cavaleiros valentes e damas elegantes. E certamente pouco desejava ouvir sobre os assuntos.
“Oh! ” _ exclamava Ariadne tão logo o príncipe saia – “Alegro-me por vê-lo ir-se. Acredita você” – dizia, dirigindo-se ao mordomo – “que ele nem ao menos sabia quanta baunilha leva um sorvete de baunilha?”
“Isso parece surpreendente, não é Alteza?” – Respondia o mordomo, que intimamente estava convencido de que nada havia de surpreendente naquilo.
Um dia estava Ariadne medindo uma porção de farinha quando o lacaio anunciou a visita de outro príncipe.
“Chiii!” – Resmungou Ariadne, que estava experimentando uma nova receita e não queria ser perturbada.
“Mas se não o receber meu pai se zangará comigo. Muito bem. Traga-o aqui”.
Poucos minutos depois a porta abriu-se e uma voz alegre exclamou:
“Ah! Real Alteza! Que agradável lugar para tão bela dona de casa! E que aroma delicioso! Alecrim, penso”.
Ariadne fitou o jovem, e esqueceu todas as graciosas coisas que se supõe uma princesa deva dizer a um príncipe. Nenhum dos anteriores havia distinguido alecrim de ruibarbo. E ainda que muitos a tenham achado bela, nenhum falara assim de sua cozinha.
“Farinha, açúcar mascavo, tâmaras em fatia, soda, casca de laranja, nozes, caqui” – continuou o príncipe, examinando os ingredientes sobre a mesa, “Você vai fazer um bolo de caqui, não é isso?”.
“Como sabe?” –Perguntou Ariadne surpresa.
“Eu mesmo fiz um, outro dia”, respondeu o príncipe sorrindo – “e ficou muito bom. Posso ajudá-la neste?”.
Ariadne, que parecia ter perdido a voz, apenas pôde assentir com a cabeça, e já o príncipe misturava e batia todos os ingredientes juntos sem nem ao menos olhar para a receita, pondo ao final tudo na forma.
“Agora deixe assar por uma hora, Alteza” – disse ele. “Posso agora sugerir um passeio aos jardins do castelo, enquanto esperamos?”.
De ordinário Ariadne teria dito:
“Não, obrigada, tenho mais alguma coisa a preparar aqui”.
Mas este não era um príncipe comum, e antes que ela se desse conta do que estava acontecendo ele lhe havia tomado a mão e guiava-a ao longo do escuro túnel que conduzia ao jardim.
As flores esparziam doce aroma, e suave brisa soprava de qualquer parte. Ariadne aspirou fundo o perfume das flores, suspirou, e disse suavemente:
“Hummm. . . Que delícia! “Você deve vir aqui mais vezes”, sugeriu o príncipe.
“Não, não tenho tempo” – admitiu Ariadne. “Vivo demasiado ocupada na cozinha”.
“Você não faz outra coisa senão cozinhar? ” – Tornou ele. “Não vai a torneios, a jogos, a excursões em cavalos ou a visitar amigos?”.
“Não” – disse ela – “Não tenho tempo para essas coisas”.
“Você deve gostar muitíssimo de cozinhar”.
Oh! Sim – concordou Ariadne. É tão divertido juntar toda sorte de ingredientes e ver a transformação da miscelânea em forma diferente e em aroma e sabor deliciosos!
Mas, você não gostaria de fazer algo mais para variar? –Indagou o príncipe – Nunca desejou, por exemplo, ir a algum outro lugar, ver outras pessoas ou simplesmente sentar-se ao jardim?
Bem-disse a princesa lentamente, como se fosse difícil para ela admitir tal coisa – Tenho me perguntado às vezes de como seria minha vida se eu fizesse isso, ou procedesse dessa outra maneira. Mas desde que não disponho de tempo, só me resta evitar pensar nisso.
Mas só você. deve fazer comida? Há muita gente a alimentar neste castelo. Estou certo de que existem muitos cozinheiros que gostariam de trabalhar aqui.
Existem – confirmou Ariadne – mas prefiro os pratos que eu mesmo preparo.
Mesmo que isso signifique gastar todo o seu tempo na cozinha? Você deveria cozinhar apenas uma vez ou outra, deste modo poderia aprender mais coisas fora da cozinha.
Ninguém, exceto seu pai, o Rei, jamais havia dito a Ariadne o que ela devia ou não devia fazer. Não era o tipo de coisa que alguém pudesse dizer a uma princesa. Assim, Ariadne sentiu ímpetos de censurar o príncipe por sua audácia. Mas ele não lhe deu a chance.
Eu também costumava fazer apenas uma coisa – confessou ele. Costumava montar cavalos o tempo todo. Montava do nascer ao pôr-do-sol. Quando um cavalo cansava, trocava-o por outro. Não me pegavam em casa nem às refeições, pois eu ordenava aos criados que me levassem lanches aonde quer que eu estivesse. Até que eu recebi uma ordem de não montar mais do que duas horas por dia, e começasse a aprender a fazer outras coisas também.
Mas, você é um príncipe – protestou Ariadne – Ninguém lhe pode ordenar coisa alguma.
Meu pai é rei – disse o príncipe rindo – Ele pode.
Oh! Compreendo. Assim – continuou o príncipe comecei a fazer diferentes coisas todos os dias. Eu lia, plantava jardins e ajudava a cavar fossos em volta do castelo. Um dia demos um banquete, e a sobremesa esteve tão deliciosa que pedi ao cozinheiro que me ensinasse a fazê-la.
E ele o ensinou?
De início não queria. Dizia que cozinhar não era coisa para príncipes. Perguntei-lhe por quê, e ele não soube responder. Portanto, teve de me ensinar.
Cozinha bastante? –Inquiriu Ariadne.
Uma vez ou outra, mas não tento fazer tudo, ou todos os pratos, para todos os que vivem no castelo.
Às vezes tomo conta da cozinha, permitindo ao cozinheiro um dia inteiro de folga. Porém, não gastaria mais todo o meu tempo preparando pratos ou quitutes, ou mesmo montando cavalos.
Mas, você se diverte mais fazendo todas essas coisas do que montando cavalos o dia inteiro?
Muito mais – respondeu o príncipe – E você também se divertirá. Quer ver? Um dos meus amigos dará um baile esta noite. Gostaria de me acompanhar a esse baile?
Ou porque aquele não era um príncipe comum, ou porque Ariadne estava tão surpresa que não sabia mais o que dizer, _ o certo é que respondeu: “Sim”.
Ariadne e o príncipe voltaram, pois, para examinar o bolo de caqui, que já assava há bastante tempo. E constataram satisfeitos que tanto seu aspecto quanto seu cheiro eram excelentes. E o sabor excedia o aroma.
Enquanto Ariadne se vestia para o baile, o príncipe fez uma visita a seu pai, o Rei. E disse ao monarca que estava quase certo de que Ariadne não mais se dedicaria inteiramente à cozinha do castelo, dali para adiante, terminando pela sugestão de que o Rei empregasse o primeiro cozinheiro que ali fosse à procura de trabalho.
Santo Deus! – Exclamou o Rei. Ela passou a se interessar por outras coisas?
E o velho não cabia em si de contente. Chamou na mesma hora o lacaio e ordenou-lhe que lhe levasse a sala de audiências do palácio o primeiro cozinheiro que ali fosse à procura de emprego.
Ariadne e o príncipe foram ao baile e ali dançaram a noite toda. E ela sentiu que jamais se divertira tanto. No dia seguinte leram juntos alguns manuscritos na biblioteca do castelo, e passearam nos jardins, e galoparam seus cavalos através das campinas próximas. Paravam aqui e ali para conversar com outras pessoas e tomar limonadas. E ela sentiu mais uma vez que nunca antes se divertira tanto.
Duas semanas mais tarde o príncipe pediu ao Rei a mão de sua filha em casamento, e Ariadne percebeu definitivamente que jamais fora tão feliz na vida.
Todos os reis e rainhas, príncipes e princesas, cavaleiros e damas, e todos os súditos que serviam no castelo, foram convidados para as festas das núpcias. E houve música coral e música de danças. Houve um mundo de belos e ricos presentes para a noiva, e outros tantos para o noivo.
E também presentes para a criançada com menos de 10 anos e para os velhos com mais de 70 anos.
Após o casamento houve um baile e um banquete. No fim do banquete fez-se ouvir um conjunto de trombetas: apareceu então o mordomo da princesa portando uma tocha, seguido de doze lacaios que carregavam um bolo de casamento com 3 metros de altura, 7 metros de largura e 12 metros de comprimento. É provável que jamais se haja visto um bolo de casamento com tais proporções.
Uma camada era feita de “manjar de anjos”; outra de chocolate; outra de morangos; outra de caramelos; outra de laranja e a última era uma régia cobertura glacê-dourada. No topo fora colocado um maiúsculo lírio branco, totalmente feito de açúcar. Ariadne havia preparado a primeira camada do bolo. As restantes foram feitas por cada um dos cozinheiros que bateram aos portões do castelo, solicitando emprego, depois da memorável visita do príncipe. O lírio branco fora feito justamente pelo último cozinheiro contratado pelo seu pai, o Rei. E o bolo foi cortado em exatamente 1.233 pedaços, o suficiente para todos os convidados.
Ariadne e o príncipe então se despediram do velho monarca e de todos os seus amigos e convidados, tomaram uma bela carruagem e partiram para as distantes terras do príncipe.
E lá viveram felizes para sempre, num castelo situado bem no alto de uma grande montanha.
(Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross de 09/1974 – Publicado na Revista Serviço Rosacruz de 11/1976)
Marcos e o Anjo
Marcos sentou-se na varanda e olhou para o jardim. Suspirou profundamente. Estava ficando escuro e as flores estavam se balançando delicadamente na brisa da tarde. Era como se elas educadamente inclinassem suas cabeças e dissessem: “Boa tarde, Marcos”. Algumas vezes, ele se sentia como se elas realmente pudessem dizer-lhe algo semelhante, se pudessem falar. Algumas delas pareciam ter lábios pintados em suas faces, mas nunca diziam nada; isto é, não em voz alta. Mas, Marcos tinha certeza que elas pensavam coisas que poderíamos ouvir se escutássemos com nosso coração, e não com nossos ouvidos.
Os pirilampos cintilavam pelo jardim e, por um momento, Marcos desejou que pudesse voar como eles e brilhar dessa forma tão bonita. Suspirou novamente, dessa vez com bastante tristeza. Atrás dele, ouviu sua mãe perguntar:
– O que é isso Marcos, qual é o problema? Um suspiro tão profundo para um garoto tão pequeno.
Marcos olhou para sua mãe. Sabia que podia sempre confiar os problemas à mamãe. Ela não riria como rira Salete, que morava do outro lado da rua, quando ele lhe falara esta tarde sobre seu problema. Ele desabafou:
– Mamãe, você já viu um Anjo – um Anjo honesto e verdadeiro?
Mamãe sorriu.
– É isso que o perturba?
Marcos concordou e mamãe sentou-se ao lado dele nos degraus da varanda.
– Bem, eu vou contar, Marcos. Eles não se encontram tão facilmente e talvez você não os procure no lugar certo.
– É preciso ter uma visão muito boa e acurada para ver os Anjos, mamãe? Talvez meus olhos não sejam suficientemente fortes. Será que preciso de óculos para ver um? perguntou Marcos excitadamente.
Mamãe colocou as mãos de Marcos entre as suas.
– Não é exatamente isso, Marcos. Os Anjos são diferentes das fadas e dos gnomos e dos pequenos elementais, cujas histórias nós lemos. Os anjos são – bem, são para nós como nossas irmãs e irmãos mais velhos.
Marcos abanou sua cabeça com surpresa.
– Como?
– Bem, eles entraram num estágio de evolução similar ao nosso, há muitos anos atrás. É como o seu irmão maior, Tomás. Ele já se formou e você ainda está na escola. Assim, ele sabe muitas coisas que você não sabe e pode ajudá-lo de muitas maneiras que você não aprendeu ainda.
– Mas, protestou Marcos, eu crescerei rápido e o alcançarei.
– Naturalmente que sim, replicou mamãe, da mesma maneira que todos nós, um dia, seremos como os Anjos.
Marcos sorriu com alegria, diante disso.
– Fale-me mais sobre os Anjos.
Mamãe continuou:
– Bem, os Anjos têm seu trabalho a fazer, tal como nós. Em todo o Universo de Deus, cada ser tem sua tarefa a fazer e os Anjos também têm seu trabalho, especialmente para conosco. Nós somos seus irmãos mais novos e, algumas vezes, eu receio, nós somos muito difíceis de ser ajudados.
– Como? perguntou Marcos.
– Oh, respondeu mamãe, houve uma época em que os Anjos estavam mais próximos dos humanos e muitas pessoas eram capazes de vê-los e receber ajuda diretamente deles. Você sabe que há histórias sobre eles na Bíblia.
– Por que não é assim, agora? Marcos perguntou, com os olhos ansiosos.
Mamãe explicou:
– Porque os seres humanos tornaram-se maus e, assim seus olhos não podem mais ver os Anjos. Eles sentem-se tão importantes que não têm mais a alma suficientemente pura para comungar com seus irmãos Anjos. Eles estão mais interessados em procurar emoções e divertimentos. Eles se machucam mutuamente nessa espécie de divertimento e os Anjos não podem se aproximar de tantas coisas ruins. Eles permanecem longe do egoísmo, da avareza e da maldade, pois onde existem essas coisas, o coração não pode ser suficientemente puro para comungar com os Anjos.
Marcos suspirou.
– Que trabalho eles fazem?
Mamãe respondeu:
– Eles têm diversos tipos de trabalho. Alguns dirigem o reino das fadas e dos elementais, de maneira que essas criaturinhas sejam capazes de desenvolver-se e aprender. Outros Anjos são os construtores do Universo. Eles ajudam a natureza a formar as montanhas e os rios. Eles ajudam as mães a construir o corpo de seus filhinhos quando as crianças estão para nascer. Eles trabalham como pensamento dos seres humanos e tecem os melhores pensamentos que pairam sobre uma comunidade, de maneira que os maus pensamentos não possam fazer mal às pessoas. Algumas vezes, os pensamentos são tão terríveis que se tornam difíceis para eles.
Marcos acenou compreensivamente.
– É por isso que você quer que eu não fique zangado e tenha bons pensamentos, não é? As minhas preces podem ajudá-los?
Mamãe concordou:
– Oh, sim, cada um de nós ajuda dessa forma, para que o mundo possa tornar-se um lugar mais feliz. Veja, muitos pensamentos maus trazem secas, fome e inundações. A natureza devolve ao ser humano exatamente aquilo que o ele emite. Os Anjos, pairando ao nosso redor, tentam inspirar o ser humano para que ele possa ter uma vida melhor. Eles abençoam e expandem todas as boas ações, de maneira que todos os humanos possam tirar proveito dos benefícios.
Marcos perguntou:
– E há Anjos que trabalham na música e nas florestas?
– Sim, respondeu mamãe. Eles trabalham nos éteres, nas substâncias aquosas do Universo. Eles tecem todas as formas que vemos, porque são mais sábios e sabem como obedecer a todas as leis. Nós, humanos, não aprendemos ainda a obedecer. Pense no prejuízo que acarretaríamos pela nossa ignorância, sem a ajuda deles.
Marcos sorriu.
– Você acha que serei capaz de ver um Anjo algum dia, Mamãe – ver um Anjo de verdade?
– Talvez você seja um dos abençoados com tal visão, respondeu mamãe.
Marcos pensou um momento. Era o mais terno desejo de seu coração, conhecer mais sobre esses maravilhosos Seres chamados Anjos.
No dia seguinte, falou a seu pai sobre as coisas que sua mãe lhe havia dito e seu pai, concordando, disse:
– Sua mãe está certa. Há apenas uma coisa que posso acrescentar ao que ela lhe disse. Talvez isso o ajude a ver um Anjo, um dia.
A face de Marcos brilhou e seus olhos cintilaram.
– O que me ajudará a ver um Anjo, papai?
Seu pai respondeu:
– Bem, Marcos, sua mãe já lhe contou como precisamos ser bons; tentando ser como os Anjos, de maneira que seus desejos possam ser como os desejos deles e assim seus olhos estarão mais em sintonia com a luz. A outra parte é querer. Quando você deseja uma coisa com intensidade, muitas vezes esse desejo é alcançado e ainda mais se você fizer sinceramente toda a sua parte.
Marcos bateu palmas.
– Mas eu realmente quero. Todo o tempo fico tentando. Quando trabalho no jardim, penso nas pequenas fadas e duendes que também trabalham lá, e depois nos maravilhosos Anjos que dirigem as pequenas fadas.
Na sala, mamãe sorriu para os dois. Ela havia chegado do jardim e seus braços estavam cheios de flores.
– Ainda falando sobre os Anjos, Marcos? ela perguntou.
Papai e Marcos retribuíram o sorriso de mamãe e papai disse:
– Sim, e você sabe que tenho ouvido as pessoas dizerem que; muitas vezes, é mais fácil vê-los em grandes e belas florestas onde o encanto da natureza está mais em harmonia com eles; do que na desarmonia que existe onde as pessoas não se amam.
Mamãe indagou:
– Marcos, papai disse a você onde vamos passar as férias?
Papai respondeu, antecipando-se:
– Não, eu queria dizer a Marcos quando você estivesse conosco. Veja, Marcos, sua mãe e eu pensamos que talvez nestas férias pudéssemos acampar em uma das florestas perto daqui.
Marcos pronunciou suavemente:
– E lá eu poderei realmente procurar um Anjo, não é?
Mamãe e papai concordaram e beijaram Marcos ternamente e depois ele se dirigiu para a cama, talvez para sonhar com as férias na floresta onde lhe seria possível ver um Anjo.
E o sonho de Marcos se tornou realidade. Ele estava na floresta onde a família estava acampando. Divertia-se muito. Um dia estava sentado silenciosamente sob um olmo, quando um veadinho se aproximou dele. Seu coração estava cheio de amor pela linda criaturinha e ele lhe ofereceu pedacinhos de pão que tirava de seus bolsos.
Seu coração transbordava de paz e felicidade e, enquanto esteve lá sentado, aconteceu uma coisa maravilhosa.
Quando ele olhou para a árvore, viu brilhar uma luz na forma de um Anjo. A floresta estava quieta, mas mesmo assim parecia haver o som de uma música perto do o lugar, som que parecia estar à volta dele. Sentiu ondas de amor banhá-lo e um lindo rosto sorriu para ele.
Marcos sentiu como se todo o amor, luz e bondade do mundo estivessem jorrando sobre ele. Viu a doce face olhando-o ternamente das alturas e a luz tornou-se tão intensa que ele teve que fechar seus olhos. Mesmo assim, com seus olhos fechados, ele sentiu a música, o brilho e o amor à sua volta.
Quando abriu seus olhos, papai e mamãe estavam ao seu lado, observando-o. Suas mãos pousavam suavemente nos seus ombros. Ele olhou para os dois com um olhar indagador. Seus pais sorriram e Marcos percebeu pelo brilho dos olhos deles, que também tinham visto o Anjo.
Marcos perguntou suavemente:
– Algum dia serei assim?
Foi mamãe que respondeu:
– Algum dia, todos nós seremos assim, Marcos; e o mundo será um lugar maravilhoso quando todos formos bons e amorosos.
(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. II – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)
Os Duendes da Primavera
Tita estava aborrecida. E muito aborrecida.
As mesmas lições de música todos os dias, até num dia como hoje, belíssimo sábado ensolarado! Oh! não! O melhor mesmo seria sair de casa e ir brincar sozinha no bosque, à beira do regato. E assim fez Tita.
Deitou-se sobre a terra fresca. O córrego cantando para ela, e a canção do riacho eram como gorgolejos de alegria.
Ela se sentia, agora, tranquila e feliz. Fitava as brancas nuvens que passavam e desejou poder embarcar nelas.
Foi então que ouviu a música: tão suave, tão doce, mas tão débil a princípio que ela pensou tratar-se de uma vespa vagabunda. Mas não. Era algo diferente. Voltou, pois, a cabeça e procurou o músico.
A criaturinha era de fato muito pequena. Toda verde e brilhante. Cabelos amarelo-dourados cobriam-lhe o corpo como vestes transparentes. E tocava. Tocava um violino feito de duas das menores folhas de grama que podiam existir. Tita esfregou os olhos.
“Ah! até que enfim você pôde me ver!” A voz da criaturinha era cristalina como o som de um cubo de gelo sacudido num copo de cristal.
Tita a fitava atentamente, repleta de surpresa e espanto.
“Meu nome? Seeba” – disse a menina elfo como se estivesse lendo os pensamentos de Tita.
“Mas… que… que… por que. . .” – Tita gaguejou por fim, olhos arregalados.
“Ninguém consegue me ver” falou Seeba, novamente lendo seus pensamentos – “a menos que compreenda os espíritos da Natureza”.
Tita abriu a boca para uma pergunta, mas Seeba sorriu e acenou-lhe: “Vamos – disse – “vou lhe mostrar.”
Imediatamente Seeba cresceu até ficar tão grande quanto Tita, e juntas acharam-se as duas em uma enorme floresta. Gigantescas árvores e altas montanhas compunham o cenário. E também um turbulento e caudaloso rio, tão largo que-sua outra margem não podia ser vista. Tita olhava em volta amedrontada.
“Não” – disse Seeba – “tudo é o mesmo. Apenas você diminuiu até chegar ao meu tamanho. As árvores não passam de relvas, as montanhas são montículos de terra. E olhe o corregozinho” – finalizou apontando na direção do rio volumoso e agitado.
Seeba tomou-lhe as mãos. E juntas caminharam por aquela estranha terra, até chegarem a uma caverna. Tita pensava. Tinha tantas perguntas a fazer, mas por outro lado havia tanta coisa para ver! Gigantesca rocha erguia-se
próximo à entrada da caverna. Era uma rocha azul – estranhamente azul brilhante.
“Lembra-se daquela conta azul que você perdeu outro dia?” – perguntou Seeba, tocando a enorme rocha e sorrindo ante a expressão pasmada de Tita.
De súbito Tita não pôde reprimir um grito de pavor: uma enorme serpente se arrastava bem perto. Seeba amparou-a e disse calmamente:
“Uma minhoca. Ela carrega para longe os cascalhos e traz na volta terra adubada. Assim as flores podem crescer.”
Então as duas chegaram a um tronco que cruzava o túnel da caverna.
“A raiz de uma violeteira” – explicou Seeba abrindo um par de asas de seda que Tita jamais havia imaginado. E juntas passaram voando por sobre o tronco.
Tita já não podia ver nada. Estava escuro como a noite. Então ela percebeu uma fraca cintilação prata-esverdeada, que a pouco e pouco se aproximava e tornando-se mais intensa. Eram três ou quatro focos piscantes, e mais pareciam pássaros voando e transportando faróis intermitentes.
“Vagalumes” – disse Seeba. “Nosso sistema de iluminação.”
Aí elas avistaram um grupo de estranhos homenzinhos vestidos de marrom, levando nas mãos baldes vazios.
“Gnomos” – esclareceu a graciosa Elfo que guiava Tita – “Eles recolhem orvalho nos baldes e regam as raízes das plantas”.
A seguir surgiu uma fileira de graciosas criaturinhas bem parecidas com Seeba. Algumas eram de cor laranja, outras eram cor de rosa, e outras eram verdes. Transportavam baldes cheios de orvalho, que despejavam em algumas raízes aqui e acolá.
“Duendes da Primavera” – explicou Seeba, qual guia turista num ônibus de excursão. “Elas não se apressaram hoje, por isso estão chegando atrasadas.”
“Você também é um duende da Primavera?” – Perguntou Tita com voz, sumida, ainda receosa de tudo o que via.
“Oh sim! Estive no sul todo o inverno. Voltamos para o norte num grupo de nuvens há algumas semanas”.
Subitamente Seeba parou, empalideceu e começou a tremer. “A Rainha!” – Disse baixinho – “Ela vai me castigar.
Se pudesse me esconder em algum canto. Mas agora é tarde!”
Um brilho deslumbrante, de tom amarelo-dourado, feriu os olhos de Tita, e diante dela uma visão encantadora! A rainha era mais alta do que Seeba e usava um manto verde claro que resplandecia em todas as cores do arco-íris.
Seu cabelo tinha um tom azulado, mas não parecia absurdo. Tita lembrou-se de que jamais havia visto uma criatura tão linda. Mas os olhos da rainha faiscavam:
“Você não veio hoje tomar suas lições” – falou fitando Seeba. “Fugiu e foi brincar lá fora. Pois bem, por causa disso você ficará na caverna a noite toda., e não poderá subir nas nuvens. Apenas seu violino ficará com você.”
Seeba implorou:
“Esta noite vai chover, querida Rainha. Adoro montar nos pingos de chuva, além disso estarão chegando tanto novos duendes…”
Nesse momento surgiu a poucos passos outra enorme serpente. Tita esqueceu-se de que se tratava apenas de uma minhoca, e largou a correr. Corria cada vez mais depressa, até que se viu fora da caverna, em plena claridade do dia. E sozinha. Esfregando os olhos, parou e contemplou o que estava em volta. Devia ser muito tarde, pois o sol quase desaparecia no horizonte. Pesadas nuvens cinzentas se aproximaram. Tita não esperou mais. Correu para casa.
Naquela tarde ela tocou seu violino enquanto sua mãe tocava piano. Papai lia o seu jornal. Seu irmão Jan engraxava uma luva de baseball.
E aí Tita ouviu novamente aquela música. Suave, doce e quase inaudível como antes. Como sinos de fadas.
“Os duendes da Primavera”, disse excitada.
Seu irmão levantou os olhos e resmungou: “Ih! está chovendo! Assim, não mais poderemos jogar amanhã.”
Tita ergueu o rosto para ele. Como poderia um rapazinho saber? Mas ela compreendia. Os duendes da Primavera estavam chegando em profusão. Todo o esplendor da Primavera ia explodir agora! Os bosques e campos sentiriam a grande mágica! O que estaria fazendo Seeba neste momento? Montando em gotas de chuva ou tocando seu instrumento na caverna?
Tita apanhou seu violino e começou a tocar novamente. E a partir daquela tarde praticou suas lições de música com mais gosto e constância do que nunca.
(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. II – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)
FRATERNIDADE ROSACRUZ
Ritual do Serviço do Solstício de Junho
1) Preparar o ambiente com músicas elevadas
2) Um membro, de preferência de sexo oposto ao do orador, convida os presentes a cantarem, de pé, o Hino Rosacruz de Abertura
3) O Leitor ilumina e descobre o Símbolo Rosacruz e apaga as luzes, exceto a que o ilumina e auxilia na leitura:
4) Em seguida dirige aos presentes a saudação Rosacruz:
Queridas irmãs e irmãos: (Fixa o Símbolo)
“Que as rosas floresçam em vossa cruz”
(Todos respondem: “E na vossa também“
(Todos sentam, menos o oficiante)
5) Leitura do Ritual do Solstício de Junho:
Estamos agora no Solstício de Junho, estação durante a qual a manifestação física sobre a Terra atinge o seu máximo.
Todos os anos uma onda espiritual de vitalidade penetra na Terra por ocasião do Solstício de Dezembro para impregnar as sementes adormecidas na Terra e para dar nova vida ao mundo em que vivemos. Este serviço é feito durante os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro, enquanto o Sol transita pelos Signos zodiacais de Capricórnio, Aquário e Peixes, respectivamente.
Do ponto de vista cósmico, o Sol nasce quando Virgem, a Virgem Celestial, desponta no horizonte à meia-noite de 24 de dezembro, trazendo consigo a Imaculada Criança. Durante os meses que se seguem, o Sol passa pelo violento Signo de Capricórnio onde, segundo o mito, todos os poderes das trevas se concentram numa frenética tentativa de matar o portador da Luz, o que é uma fase do drama solar, que é representado misticamente na história do rei Herodes e na fuga do Menino para o Egito, para escapar à morte.
Quando o Sol entra no Signo de Aquário, o aguador, em Fevereiro, temos o tempo das chuvas e das tempestades; e assim como o Batismo consagra misticamente o Salvador à sua obra de Serviço, assim também as correntes de humildade que descem sobre a Terra amaciam-na, para que possa produzir os frutos que preservarão as vidas dos que vivem sobre ela.
Vem depois a passagem do Sol pelo Signo de Peixes, os peixes. Nessa ocasião, as reservas do ano precedente estão quase consumidas e o alimento do ser humano é escasso. Temos então o longo jejum da Quaresma que representa misticamente, para o aspirante, o mesmo ideal mostrado cosmicamente pelo Sol. Há, nessa ocasião, o Carnaval, o “carne-vale” dos latinos, que significa o adeus à carne, pois todo aquele que aspira à vida superior, deve, em alguma ocasião, dizer adeus à natureza inferior com todos os seus desejos e preparar- se para a Páscoa que então se aproxima.
Em Abril, depois de o Sol cruzar o Equador Celeste e entrar no Signo de Áries, o cordeiro, a Cruz se ergue como o símbolo místico do fato que o candidato à vida superior deve aprender a renunciar ao envoltório mortal e começar a subida ao Gólgota, “o lugar do crânio” e daí atravessar o limiar do mundo invisível. Finalmente, imitando a ascensão do Sol aos Signos do céu setentrional, para permitir com os seus raios quentes o crescimento das sementes no solo que foi revitalizando pela onda Crística durante os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro, o candidato deve aprender que o seu lugar é com o Pai e que por fim, deverá subir até esse exaltado lugar.
Assim é que, presentemente, durante a estação que culmina a 21 de junho, o Grande Espírito de Cristo atinge o Mundo do Espírito Divino, o Trono do Pai. Durante os meses de Julho e Agosto, enquanto o Sol está em Câncer e Leão, o Cristo está reconstruindo Seu Espírito de Vida, veículo que Ele trará ao mundo e com ele rejuvenescerá a Terra e os reinos de vida que evoluem sobre ela.
Sem esta onda mística anual de energia vital do Cristo Cósmico, a vida física seria uma impossibilidade. Não haveria pão nem vinho físicos, nem a essência espiritual transubstanciada preparada alquimicamente com o sangue do coração do discípulo. A existência física é a escola ou laboratório no qual aprendemos a transmutar o metal básico das nossas naturezas inferiores no brilho esplendoroso da Pedra Filosofal, tornando assim possível a nossa libertação para esferas mais elevadas, onde o nosso exaltado Ideal, o Cristo, está presentemente.
Existem agentes por trás de todas as manifestações da Natureza – inteligências de diferentes graus de consciência, construtores e destruidores, que desempenham importantes papéis na economia da Natureza. O Solstício de Junho é o tempo de atividade dos duendes da terra e das entidades similares, no que se refere ao desenvolvimento material no nosso planeta, como muito bem o mostrou Shakespeare no seu imortal “Sonho de uma Noite de Verão”.
Pela ação semi-inteligente dos Silfos, são elevadas da superfície do mar, as partículas extremamente divididas de água evaporada, preparadas pelas Ondinas. Os Silfos transportam-nas tão alto quanto podem antes que sobrevenha a condensação parcial e sejam formadas as nuvens. Eles conservam consigo essas partículas de água até serem forçados pelas Ondinas a soltá-las.
Quando falamos que está havendo um temporal, estão sendo travadas batalhas na superfície do mar e no ar, algumas vezes com a ajuda das Salamandras que acendem as centelhas que unirão o hidrogênio e o oxigênio separados, e enviam suas setas inspiradoras de medo, em ziguezague, pelos céus escuros acompanhadas dos enormes estrondos de trovão que reboam na atmosfera, enquanto que as Ondinas triunfalmente, arremessam as gotas de água recuperadas à terra, para serem novamente devolvidas ao seu elemento materno.
Os pequenos Gnomos se ocupam com as plantas e com as flores. É seu serviço tingi-las com os inúmeros matizes de cores que deleitam nossos olhos. Eles também talham os cristais em todos os minerais e modelam as preciosas gemas que brilham nos diademas de ouro. Sem eles não haveria ferro para nossas máquinas, nem ouro para comprá-las; estão presentes em toda parte e a proverbial abelha não é mais operosa do que eles; à abelha, no entanto, é dado crédito pelo trabalho que faz, enquanto que os pequenos Espíritos da Natureza que representam tão importante papel no serviço do mundo, são desconhecidos, menos para uns poucos que são chamados de loucos ou sonhadores.
No Solstício de Junho as atividades físicas da Natureza estão no seu máximo, e por isso a “Noite de São João” é o grande Festival das Fadas que trabalham na construção do universo material, que alimentam o gado, que amadurecem o grão e que saúdam com alegria e agradecem a crista da onda de força, que é a ferramenta que usam para modelar as flores, então estonteante variedade de delicadas formas conforme seus arquétipos e para tingi-las de inúmeras matizes que fazem a delícia e o desespero dos artistas!
Nessa grandiosa noite, todos esses pequenos servidores se reúnem para o Festival das Fadas, vindos dos pântanos e das florestas, dos vales e das clareiras. Realmente eles cozinham e fazem os seus alimentos etéricos e posteriormente dançam em êxtases de alegria – a alegria de terem cumprido suas importantes tarefas na economia da Natureza.
É um axioma científico que a natureza não tolera nada que não tenha seu uso; os parasitas e os zangões são uma abominação; o órgão que se tornou inútil, atrofia-se: assim acontece com a perna ou com o olho que não são mais usados. A Natureza tem serviço a fazer e exige o trabalho de todos para que justifiquem sua existência e para que continuem fazendo parte dela. Isto se aplica tanto à planta e ao planeta como ao homem, aos animais e também às fadas. Todos têm seu serviço a cumprir; todos são trabalhadores e suas atividades são a solução para muitos dos múltiplos mistérios da Natureza.
Devemos tentar compreender perfeitamente estes ensinamentos a fim de que possamos aprender a apreciar esta estação do ano com exatidão.
Que calamidade cósmica seria se nosso Pai Celestial deixasse de prover os meios para o nosso sustento e existência física, todos os anos! O Cristo do ano passado não nos poderá salvar da fome física assim como a chuva que caiu no último ano não poderá molhar o solo para inchar as milhões de sementes que agora repousam na terra à espera das atividades germinais da Vida do Pai, para começarem a crescer; o Cristo do ano passado não poderá novamente acender em nossos corações as aspirações espirituais que nos incitam a avançar no caminho como também o calor do último verão não nos poderá aquecer agora. O Cristo do ano passado deu-nos o Seu Amor e a Sua Vida até ao último alento, sem medida nem limite; quando Ele nasceu na Terra, no último Natal, Ele dotou de vida as sementes adormecidas que cresceram e gratuitamente encheram os nossos celeiros com o pão da vida física; Ele prodigalizou sobre nós o amor que o Pai Lhe deu e quando esgotou totalmente Sua Vida, Ele morreu na Páscoa para novamente subir ao Pai, como um rio, por evaporação, sobe ao céu. Mas o Amor Divino circula interminavelmente; assim o nosso Pai Celeste nos ama como um pai ama seus filhos, pois Ele conhece a nossa dependência e a nossa fraqueza física e espiritual.
Devemos, portanto, aproveitar vantajosamente as oportunidades que são oferecidas a nós nesta estação que hoje se inicia para que a próxima vinda do Espírito de Cristo nos encontre mais bem adaptados para responder com maior facilidade às poderosas vibrações espirituais com as quais seremos então banhados.
Concentremo-nos agora sobre Amor Divino e Serviço.
6) O período de concentração deve se prolongar por uns 5 minutos
7) Após o que recobre o Símbolo e acende as luzes
8) Todos cantam o Hino Rosacruz de Encerramento
9) Proferir a seguinte exortação de despedida:
“E agora, queridas irmãos, que vamos partir, de volta ao mundo material, levemos a firme resolução de expressar, em nossas vidas diárias, os elevados ideais de espiritualidade que aqui recebemos, para que, dia a dia, nos tornemos melhores homens e mulheres, e mais dignos de sermos utilizados como colaboradores conscientes, na obra benfeitora dos irmãos Maiores, a Serviço da Humanidade”.
QUE AS ROSAS FLORESÇAM EM VOSSA CRUZ
O Pequeno Príncipe
Muito acima do topo das árvores e das nuvens fofas, sim, muito além do céu azul, há muito tempo, habitava um Rei. Seu reino era muito extenso e seus habitantes eram tão felizes que esse lugar era chamado o Reino da Felicidade. Doces acordes de música e delicadas cores do arco-íris flutuavam no ar nessa terra distante. Então, um dia pareceu que uma nota dissonante tinha soado. O Rei ouviu-a e o som murmurante da discórdia chegou mais perto. Assim, o Rei chamou um pequeno príncipe e disse:
– As crianças da Terra parecem não ter corações felizes e a luz do amor está se tornando escura. Alguém deve ir até essas crianças e levar-lhes uma nova luz de amor.
– Oh, Pai, deixe-me ir, disse o pequeno Príncipe.
Isso agradou o Rei. Ele sabia que não seria tarefa fácil e disse:
– Você está pronto para ir, meu filho? Está escuro no Mundo da Terra e, às vezes, será difícil acender a luz do amor.
– Sim, Pai, eu estou pronto para ir quando você me enviar, disse o Príncipe.
Então, o Rei chamou um de seus mensageiros do Reino da Felicidade e participou:
– Meu filho, o pequeno Príncipe, vai empreender uma longa jornada, em uma terra muito distante. Deixe tudo pronto para sua visita às crianças da Terra.
Os mensageiros do Rei conversaram entre si e logo grandes preparativos foram feitos para a partida do Príncipe.
Numa vila, no Mundo da Terra, morava uma jovem mulher muito linda. Ela morava numa pequena casa circundada por um jardim. Frequentemente, ela sentava-se no jardim e lia. Os passarinhos voavam ao redor dela e, algumas vezes, uma pomba branca pousava em seu ombro e arrulhava para ela. Maria era o nome da jovem mulher; ela tinha sempre maneiras gentis e um doce sorriso. Quando ela ia até à vila praticando ações bondosas, tornava muitas pessoas felizes e todos a amavam.
Nessa terra havia um rei que governava de um modo muito cruel. Ele realmente tornava seu povo infeliz. Seu reino era muito diferente do Reino da Felicidade. Havia tantas pessoas infelizes e o coração de Maria entristecia-se. Ela não gostava de ver os outros sofrerem, queria que fossem felizes e corajosos.
Havia uma história da qual Maria gostava particularmente e, por isso, lia-a repetidas vezes. Nela, o Rei do Reino da Felicidade prometia enviar o Príncipe da Paz para salvar as crianças da Terra. Maria muitas vezes conversava com o Rei, seu Pai Celestial e dizia-lhe que esperava a vinda do pequeno Príncipe. Um dia, após conversar com o Rei, sentiu-se muito feliz. Começou a cantar e seu coração sentiu-se muito leve e muito alegre. Ela pensou que pássaros cantavam mais docemente e até o Sol brilhava com mais intensidade. Parecia haver mais luz no jardim e, então, bem em frente dela, circundado das belas cores do arco-íris, apareceu um Anjo. O Anjo falou a Maria e disse-lhe que o seu Pai Celestial iria manter a Sua promessa para as crianças da Terra e enviaria à Maria, o Príncipe da Paz, para que ela O amasse e cuidasse d’Ele.
Vocês podem imaginar como a adorável Maria ficou feliz! À noite, quando seu marido chegou à casa, ela contou a visita do Anjo e José também ficou muito feliz. Assim, eles começaram a planejar a vinda do pequeno Príncipe.
Nos tempos antigos, as pessoas pagavam impostos, como também o fazem hoje. Uma tarde, José chegou à casa e disse:
Maria querida, precisamos ir a Belém pagar nossos impostos.
Então, ambos se puseram a caminho. Maria viajava em um burrico e José caminhava ao seu lado. Estavam tão felizes com a vinda do pequeno Príncipe, que falavam tão e todo o tempo sobre isso.
Depois de uma longa e cansativa jornada chegaram a Belém. José acomodou Maria o mais confortavelmente que pôde e depois foi procurar um quarto numa hospedaria. Ele tinha andado muito e quando voltou disse a Maria:
– Querida, não há nenhum quarto por aqui. Não há nada além do estábulo onde o gado é mantido. Mas é bonito e limpo.
E Maria disse:
– Está tudo bem, José querido, eu não me importo. Nós estaremos confortáveis e estou tão cansada que irei rapidamente dormir.
Assim, eles se dirigiram para o estábulo. As vacas mugiram como se estivessem dando-lhes as boas vindas, e seus olhos suaves e gentis pareciam mostrar prazer com a vinda de José e Maria.
Numa leve cama de capim fresco e cheiroso, Maria se instalou, sentindo-se feliz. Ela agradeceu a seu Pai Celestial pela Sua maravilhosa promessa e, então, dormiu.
No Reino da Felicidade, os Anjos estavam ocupados preparando o pequeno Príncipe para a jornada no Mundo da Terra. Um Anjo levantou-O gentilmente e O carregou, dizendo:
Vá, linda criança, e leve uma mensagem de amor e felicidade para as crianças da Terra. A luz do amor está no seu olhar e nunca será ofuscada. A centelha de luz que brilha no seu coração se tornará cada vez mais intensa.
E o Rei estava feliz e disse:
Meu Filho, você tem um grande trabalho a fazer para tornar mais brilhante a luz do amor num mundo escurecido.
Eu O abençoo, meu Filho.
Do Reino da Felicidade até a Terra formou-se uma Ponte de amor e através dela o Anjo carregou o Príncipe Celeste. Os Anjos Cantores e os Anjos de Luz o acompanhavam. Uma música angelical, doce e clara, se ouvia pelo ar. Logo todas as hostes celestiais davam louvores a Deus e cantavam:
– “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra e boa vontade entre os homens”.
Após chegar à Terra, a luz brilhante de uma linda Estrela guiou o Anjo à Maria. Quando o Anjo lhe entregou o pequeno Príncipe, ele disse:
– Guarde-O cuidadosamente, pois Ele é um presente de Deus.
Então, Maria e o Príncipe foram envolvidos por um grande brilho. Quando ela olhou em Seus olhos, ficou maravilhada com a luz de amor que havia neles. Toda criancinha tem luz em seu rosto, mas essa especialmente trazia a luz de Deus em seus olhos. A música angelical e a Estrela brilhante atraíam muitas pessoas e logo havia visitantes amontoando-se para ver o Príncipe menino. Os pastores aproximavam-se vindos dos campos próximos.
Eles haviam visto a Estrela e a seguiram e ela os guiou até onde estava o menino, na manjedoura.
Agora, queridas crianças, essa é a história do pequeno Príncipe da Paz, o Portador de Luz para as crianças da Terra, cujo nascimento nós celebramos no dia de Natal. A Estrela que pairou sobre o lugar onde ficou o Príncipe brilha ainda hoje, tão intensamente, como brilhou antes, iluminando cada criancinha no seu caminho através da ponte do amor, do reino da Terra ao Reino da Felicidade.
Sigamos a Estrela e mantenhamos nossa luz do amor brilhando intensamente para iluminar os outros no caminho da felicidade e da alegria.
(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. II – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)
BOLINHOS DE ESTUDANTES
INGREDIENTES:
MODO DE PREPARO:
A Pequena Árvore Perturbada
A pequena árvore estava assustada. Bem, talvez não exatamente assustada, mas terrivelmente perturbada.
No entanto, não era a primeira vez que ela se sentia assim. Houve aquela vez quando ela estava dormindo de forma tão confortável. Be-e-em, não era propriamente dormindo, mas dormitando no solo gostoso, escuro e muito bem aquecido. Tinha sido tão delicioso permanecer lá, no solo amigo, espreguiçando-se de vez em quando para se desenferrujar. Mas, um dia, uma esticada ambiciosa tirou sua cabeça do solo e um exuberante bocejo transformou-se em um grito assustado. A situação foi efetivamente muito difícil. Por mais que ela tentasse, não podia retirar sua cabeça debaixo do solo amigo.
O solo tinha sido um tanto desalmado, também. Antes, tinha sido sempre muito amigo, aconselhando a arvorezinha a espalhar suas raízes para fora, a fim de colher alimento com mais facilidade. Esse mesmo solo tinha sido tão prestativo em armazenar alimentos e umidade no local adequado – como se estivesse colocando uma mesa de banquete bem em frente dela, apesar da arvorezinha nada entender sobre mesas. Mas, agora, o solo tinha apenas rido de sua terrível situação.
– O que posso fazer? lastimou a arvorezinha. É tão estranho ter minha cabeça descoberta.
– Estranho, realmente, zombou o insensível solo. Meu Deus, será que terei de suportá-la durante toda sua vida?
Pare de se lastimar e absorva tudo o que você puder dessa maravilhosa luz do Sol.
– O que é a luz do Sol? perguntou a arvorezinha.
– Boba, disse o solo, olhe para cima e você verá o Sol. Não há engano!
Naturalmente, a arvorezinha não o conhecia, como tudo isso aconteceu logo pela manhã, o Sol estava apenas iniciando sua jornada através do céu, assim, quando a arvorezinha olhou para cima, lá estava o Sol. Ele sorriu da maneira mais gentil possível, de forma que a arvorezinha retribuiu o seu sorriso sentindo-se muito bem. Esta situação era excelente e ela parou para pensar sobre isso.
– Por que você não me falou antes sobre este adorável lugar? Disse a árvore, repreendendo o solo, olhando-o fixamente. Você sabia disso o tempo todo, ela acusou.
O solo não lhe deu qualquer resposta, mas sorriu de maneira cordial. A arvorezinha suspirou aliviada. Mais uma vez ela virou sua face para o Sol. Ela olhou tão fixamente para esse Astro amigo que quase ficou cega. Então, transferiu seu olhar para o solo, piscou e piscou até que sua visão se tornou normal outra vez. Aí começou a olhar para todos os lados. Ela estava cercada por uma verdadeira floresta ou qualquer outra coisa, porque não sabia como chamá-la. E algumas de suas companheiras eram bem maiores que ela.
– Olá, ela saudou a árvore mais próxima, que era muito maior que ela.
– Você está se dirigindo a mim? perguntou friamente a árvore alta, com grande dignidade. A arvorezinha nada sabia sobre dignidade, e espantou-se, e isto fez com que ela se sentisse encabulada.
– Sim, senhora, a arvorezinha rapidamente respondeu, recuperando-se. Que lugar é este?
– Este é um viveiro, explicou a árvore grande.
– O que é um viveiro? quis saber a arvorezinha.
– É um lugar, disse a árvore grande, onde as arvorezinhas como você são cuidadas até que chegue a hora de partir.
-Partir? A arvorezinha estava se tornando cada vez mais perplexa. O que significa partir?
– Bem, é – partir.
A árvore grande estava evidentemente em dificuldades – talvez nem mesmo soubesse a resposta.
– Você não sabe o que significa partir? a arvorezinha persistiu.
Mas, antes que a grande árvore pudesse responder, as companheiras que estavam ao seu redor puseram-se a rir, agitando-se em contentamento, enquanto a árvore alta parecia agitar-se de desgosto. Só que toda essa agitação devia ser por causa de uma brisa brincalhona que veio dançando e balançava as árvores para lá e para cá.
As demais árvores não deram opinião, e até mesmo o solo não a ajudou, pois ele tinha aconselhado:
– Não faça tantas perguntas. Somente espere, que no devido tempo você saberá.
– O que é o tempo? a arvorezinha quis saber.
Porém, o solo não deu resposta. Depois disso, a pequena árvore passou o dia entretida olhando para o Sol e para suas companheiras.
Depois, ficou novamente perturbada, mais ainda do que quando retirou sua cabeça do solo. Notou que o Sol estava fazendo uma espécie de jogo. Parecia estar perseguindo ou correndo atrás de alguma coisa no céu, mas a arvorezinha não foi capaz de saber o que era. E, de repente, o Sol sumiu de vista. Isto a surpreendeu tanto, que perguntou novamente, e desta vez em um tom mais digno de uma árvore.
– O que aconteceu? a arvorezinha indagou timidamente, para ninguém em particular.
– É noite, bobinha, as outras árvores responderam em coro.
– O que é noite? desejava saber a arvorezinha.
– Hora de dormir, disse a árvore maior, que tinha respondido durante o dia, às suas perguntas.
Então, como que sentindo um pouco de vergonha de si mesma pela impaciência anterior, acrescentou:
– O Sol foi dormir para estar revigorado de manhã e seria melhor você fazer o mesmo.
A arvorezinha queria saber o que era manhã, mas achou melhor não perguntar. Estava ainda perturbada e em nenhum momento sentiu sono e sequer sonhou durante toda a noite.
Na manhã seguinte estava muito surpresa. Naturalmente lá estava o Sol e todas as outras árvores e o solo. Mas, o surpreendente era que, embora não se lembrasse de ter se esticado – isto devia ter ocorrido pois sua cabeça estava muito mais alta – estava mais próxima do Sol do que quando fora dormir. Todas essas coisas surpreendentes aconteceram e tudo muito de repente.
A arvorezinha estava feliz – mesmo com todos os seus sobressaltos – e, à medida que os dias passavam, ela notava com satisfação que, mesmo durante o dia, sua cabeça tornava-se mais alta, cada vez mais próxima do Sol.
Ela aceitou o conselho do solo e raramente fazia qualquer pergunta agora. O ambiente que a cercava já não a incomodava – acostumara-se a ele. Sabia, sem que lhe dissessem, que o seu corpo se chamava tronco, e ficou orgulhosa o dia em que uma folhinha tinha aparecido no seu próprio tronco! Lá ela permaneceu fazendo uma bela decoração, pensou a arvorezinha. Ela nada mencionou, pois notou que algumas de suas companheiras estavam enfeitadas com duas e até com três folhinhas. Ela não as invejou. Absolutamente. Parecia a ela que muitos enfeites não significavam bom gosto. De qualquer forma, ela decidira esperar e ver como as coisas se desenrolariam. E assim o tempo passou meses naturalmente, apenas a arvorezinha não sabia disso porque não sabia ler um calendário.
Um dia, algo que se movia caminhou por entre seu grupo e amarrou alguma coisa no seu tronco. A princípio ela se sentiu desconfortável, mas logo habituou-se com aquela coisa. Como decoração deveria ter o seu valor, exceto que todas as suas amigas tinham as mesmas coisas amarradas em seus troncos, assim ela não levava nisso qualquer vantagem. Essas coisas que se moviam entre o seu grupo eram muito estranhas. Não pareciam árvores, isto é, não muito. E emitiam sons esquisitos enquanto falavam. A arvorezinha desejou saber como seria movimentar-se como elas, embora jamais pudesse se mover dessa maneira, pois elas tinham dois troncos. Ela tentou arrancar suas raízes do solo, de maneira que pudesse tentar a experiência, mas teve que desistir porque o solo estava tão aderido a elas, que não conseguiu movê-las. E a única resposta que recebeu ao questionar o solo foi de censura: “Não seja boba”. Ela gostaria de saber, um tanto ansiosa, o que significava ser boba, mas decidiu não perguntar.
Depois de desfrutar de uma vida sem problemas por alguns meses, durante os quais sua cabeça continuou cada vez mais próxima do Sol, ela estava novamente pen…. Não, desta vez ela estava realmente assustada. Aquelas coisas que frequentemente se moviam entre seu grupo tinham vindo novamente e olhado, com atenção, a coisa amarrada em seu tronco e uma delas disse:
– Aqui está exatamente o que você procura, um vigoroso pessegueiro dourado.
Isto lhe soou tão engraçado que a arvorezinha quase entrou em convulsão de tanto rir. Uma daquelas coisas que se movia a chamara de vigoroso pessegueiro dourado, quando ela e todas as suas amigas sabiam, com toda certeza, que ela era uma árvore. Mas, seu sorriso foi sufocado quando algo duro passou através do solo muito rudemente e quase cortou uma parte de suas raízes. De repente, suas raízes estavam fora do solo e ela estava se movendo diretamente através das fileiras de suas companheiras, sem mesmo tocar no chão. Ela tentou gritar, mas estava obstruída em sua seiva e mal conseguiu respirar. Ela ouviu debilmente a voz da árvore mais alta,que tinha respondido a tantas de suas perguntas, dizer:
– Agora, você sabe o que significar partir.
Se isso significava partir, a arvorezinha decidiu que não gostava disso, nem um pouco. De fato, quando se recuperou de seu susto, ela ressentiu-se enormemente. O fato de ter perguntado o significado de partir, não queria dizer que ela realmente quisesse saber. Não podia entender porque mostravam a ela as coisas, quando simplesmente se interessava em saber como eram e aí nem sempre recebia resposta. A vida realmente estava se tornando muito complexa.
O partir não tinha sido tão mal, como descobriu depois, pois suas raízes encontraram um novo solo amigo que imediatamente as abrigou de maneira mais reconfortante. Assim, a pequena árvore voltou ao seu estado normal de fazer perguntas enquanto olhava ansiosamente o seu novo lar, o Sol ainda apostava corrida no céu, o que era reconfortante, e o solo era tão amigo como tinha sido o outro. Aí, deu um olhar mais atento para as redondezas.
Suas companheiras estavam bem mais distantes umas das outras do que estavam antes, e aparentemente ela era a única árvore pequenina neste estranho novo lugar.
Uma grande e velha árvore estava por perto e a arvorezinha pediu a ela uma informação.
– Isto é um viveiro? ela queria saber.
A velha árvore respondeu, de maneira cordial, dizendo:
– Não, isto é um pomar.
– O que é um pomar? perguntou a arvorezinha.
– Um lugar onde as árvores vivem, foi a resposta.
– Mas pensei que este lugar onde as árvores vivem fosse um viveiro, pelo menos foi o que me disseram as outras arvorezinhas.
– Bem, explicou a velha árvore, há lugares e lugares. As árvores moram em ambos; no viveiro quando são pequenas e no pomar quando são mais velhas.
– Oh, murmurou a arvorezinha excitadamente e, em seguida agitou os seis galhos que lhe tinham crescido, enquanto permaneceu no viveiro. Entendi, um viveiro é um viveiro, mas um pomar é um partir.
– Um partir?
A velha árvore ficou muito surpresa até que a arvorezinha explicou sobre como a árvore mais alta, no viveiro tinha lhe dito que haveria uma época de partir.
– Sei, a velha árvore riu. Não, um pomar não é um partir. Um viveiro é um viveiro, um pomar é um pomar, e o que acontece entre dois é que é partir.
Essa explicação não ajudou muito a arvorezinha, mas ela decidiu nada mais perguntar sobre o assunto.
– Você é quase uma árvore grande, disse-lhe a velha árvore.
Isso deu à arvorezinha um sentimento de importância que era muito agradável – algo como o agradável sentimento que tinha quando se esticava.
– O ano que vem, disse-lhe a velha árvore, você dará frutos.
– O que é fruto? perguntou a arvorezinha.
– Espere e verá, respondeu a velha árvore e, então, como o solo lhe havia dito uma vez, acrescentou: espere e no tempo certo você saberá.
Respostas estranhas, pensou a arvorezinha com irritação. Por que não respondiam suas perguntas? Parecia-lhe que era tão fácil responder suas perguntas quanto dizer que ela esperasse. Logo esqueceu disso, pois estava interessada em descobrir e conhecer o que estava à sua volta. Ela tinha muitas folhas agora, mas em vez de estarem no seu tronco, estavam nos seus galhos. Davam-lhe um bom efeito, ela pensou.
E assim, muitos meses se passaram. Mais galhos brotaram e os mais velhos tornaram-se maiores e mais folhas surgiram. A arvorezinha realmente estava emocionada até às raízes. Aí, começou a acontecer uma coisa. Ela não ficou assustada nem perturbada, mas desejava saber por que sua seiva se dirigia as suas raízes, em vez de ir para seu tronco e seus galhos.
– Não pense nada sobre isso, a velha árvore aconselhou. Você está se preparando para o sono do inverno.
– Mas eu durmo todas as noites, protestou a arvorezinha. E se eu devo dormir durante esse inverno o que é isso? O inverno vem entre o dia e a noite ou entre a noite e o dia?
– Nem uma coisa nem outra, respondeu a velha árvore. Você já passou por isso no viveiro, mas era muito jovem para se lembrar. Apenas espere e, no tempo devido, você saberá.
Mas a arvorezinha estava experimentando uma sonolência tão grande que nem se ressentiu da resposta que tantas vezes já ouvira. E ela estava cada vez mais sonolenta, de maneira que nem percebeu que suas folhas caíram. E logo se esqueceu de tudo e entrou num sono profundo.
Mais tarde acordou – a velha árvore lhe disse que era primavera. Naturalmente a arvorezinha agora mais do que quando dormira – queria saber o que era a primavera, mas estava muito ocupada para perguntar. Sua seiva, ela percebia, estava fluindo fortemente através de seu tronco e de seus galhos. O Sol brilhava alegremente, e suas folhas estavam brotando de uma forma maravilhosa. A vida, parecia a ela, era algo que valia a pena. Este sentimento, ela pensou, devia ter alguma relação com a coisa chamada primavera, mas ela percebeu que não adiantava querer saber como a primavera tinha chegado, pois tanto ela como as suas amigas tinham dormido, e assim não havia ninguém para lhe responder sobre tais assuntos.
Então, um dia, ela ficou terrivelmente surpresa, pois pequenas coisas brancas e rosadas estavam em todos os seus galhos. Nada de assustar naturalmente e eram bem decorativas, mais ainda do que as folhas. Ela estava bastante orgulhosa dessa nova contribuição ao seu guarda roupa. Notou que a árvore velha também tinha as mesmas coisas em seus galhos, só que em maior número; assim sendo, pediu a ela explicações.
– São botões, explicou a árvore velha. Primeiro os botões, depois os frutos.
A arvorezinha decidiu nada perguntar sobre os frutos – ela já havia perguntado uma vez, sem resultado. De qualquer forma, ela estava muito ocupada com os acontecimentos. Passarinhos e abelhas ficavam em volta dela o tempo todo. Soube de seus nomes pela velha árvore. Eles eram ótimos companheiros e divertidos. Os passarinhos sentavam-se em seus galhos e faziam um barulho agradável – eles eram efetivamente bem alegres e simpáticos. Naturalmente que a linguagem deles era muito mais forte do que a do suave suspiro das árvores. E as abelhas pareciam se deliciar com os botões, pois ficavam à sua volta e dentro deles a maior parte do dia.
Mas, aí chegou um dia de consternação, seus botões estavam caindo. Ela apelou para o conselho da árvore velha.
Meus botões estão caindo, ela disse excitadamente. Será que eu também vou cair?
– Absolutamente, assegurou-lhe a árvore velha. Você está se preparando para os frutos. Você é um pessegueiro e os seus frutos serão pêssegos.
– Oh! a arvorezinha recebeu a informação dolorosamente. É uma pena eu perder os botões quando eles são tão atraentes.
Ela tinha certeza que se sentiria nua, ou como alguém se sentiria com um mínimo de adornos.
Porém, sobreviveu à tragédia e permaneceu bem atenta observando o crescimento de seu primeiro fruto. De início, sentiu-se um tanto desapontada. As pequenas coisas verdes, nodosas, não eram tão bonitas como seus botões e, de qualquer forma, ela tinha esperado algo diferente. Não podia explicar bem o que esperava – a única coisa que sabia é que não estava satisfeita. Mas, pouco a pouco, dia após dia, refez sua opinião. Não se podia negar o fato de que se tornavam mais bonitos cada dia – todos os seus seis frutos. Ela tinha ficado muito entusiasmada e tinha até mesmo se vangloriado um pouco de sua proeza para a árvore velha. Esta tinha sorrido, afavelmente.
Entretanto, tinha chegado o dia da grande tragédia o dia em que outros tomaram conhecimento da arvorezinha. Ela tinha notado que aquelas mesmas coisas que se moviam sobre o solo, no viveiro, também se moviam e do mesmo modo, no pomar. De início, suspeitou muito delas, pois teve medo que ela fosse partir novamente. Porém, como nada aconteceu, ela gradualmente deixou de suspeitar deles e até mesmo lhes deu boas vindas, especialmente quando admiravam suas vestes de folhas e botões. Mas, ultimamente, elas estavam admirando seus frutos – até mesmo os tocavam. Ela não se importava muito. Coitados, eles não possuíam os frutos dourados que ela possuía.
Mas, que horror! Aquelas coisas que se moviam no pomar tinham arrancado seus belos frutos – todos os seis, covardemente! Como ela poderia sobreviver a isso? Seus belos frutos – seus únicos frutos!
Com sofrimento, ela contou para a árvore velha o terrível golpe. Contou-lhe todo o cuidado que tomara com seus frutos, do orgulho que tinha deles – tudo reduzido a nada.
E a árvore velha com carinho a consolava:
– Arvorezinha, você completou um ciclo de sua Vida. Você veio aqui para cumprir uma missão.
– Quem fez isso? perguntou a arvorezinha. Nunca ninguém me contou sobre uma missão. Houve partidas, tempos, invernos e primaveras, mas nunca ninguém me falou sobre missão.
Diante disso, a árvore velha sorriu com ternura, através de seus muitos troncos.
– Ouça, ela disse, as coisas que pegaram os seus frutos chamam-se homens. Eles pensam que colocaram você aqui, mas não é bem assim. Deus, que criou você, é que o fez. E Deus lhe deu uma missão a cumprir. Ele quis que você tivesse folhas, após lhe dar galhos vigorosos. Assim, os passarinhos puderam descansar e gozar de sua sombra.
– Quem fez os passarinhos? perguntou a arvorezinha. Eles têm uma missão? E por que não criam sua própria sombra?
– Bem, bem, reprovou a árvore velha, não faça muitas perguntas. Estou falando sobre você, apesar de falar sobre os passarinhos, Deus os criou, como criou as outras coisas.
– Deus é uma árvore como nós? a arvorezinha quis saber.
– Não, respondeu a velha árvore. Agora deixe-me terminar sua história. Depois que suas folhas cresceram, vieram os botões. Isto foi a primeira tarefa para, em seguida, crescerem os frutos. Mas você também foi feita para enfeitar o mundo – e isso é tão importante quanto frutificar – pois você estava muito bela com suas folhas verdes e botões cor-de-rosa.
A arvorezinha aprumou-se. Era bom ser apreciada, pensou.
– Também, continuou a velha árvore, os botões continham alimento para as abelhas que você tanto admirou. Aí vieram os frutos que os homens comerão, pois eles não podem comer a luz solar, como faz você.
– Eu não gosto que eles comam os meus frutos, disse a arvorezinha. Meus pêssegos são tão belos!
– Esse é o motivo de você ser uma árvore, continuou a velha árvore, como se não tivesse sido interrompida. Olhe o que você fez: abrigou os pássaros, alimentou as abelhas, foi uma coisa de grande beleza e agora alimenta os homens. Esta é sua missão. Deus lhe deu uma grande participação no trabalho da vida. No próximo ano, você fará tudo novamente.
– Bem, murmurou a arvorezinha, espero que Deus esteja satisfeito. Quanto ao próximo ano – esperarei e saberei, no devido tempo – talvez.
(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. II – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)
Uma Jornada com as Fadas
O pequeno Tiago parou atrás do alpendre da linda casinha branca onde ele, sua mãe, papai e seu cachorro Jobi estavam passando os belos e quentes dias de verão.
E, à propósito, não podemos deixar de mencionar Anabela.
No entanto, no momento Tiago não estava pensando em guloseimas ou pastéis, estava pensando em algo mais.
Ele tinha ouvido uma amiga de Anabela falar sobre um eco que poderia ser ouvido na praia, perto de casa. Tiago, que gostava de saber sobre tudo, desejava conhecer o que um eco podia ser. Então, aquela noite, quando sua mãe o mandou para cama, ele disse:
– Por favor, mamãe, diga-me o que é um eco?
– Um eco, filhinho, repetiu mamãe. Onde você ouviu falar sobre o eco?
Ouvi alguém falar a Anabela sobre um eco que pode ser ouvido da praia, respondeu Tiago.
– Oh, sim, sorriu sua mãe. Bem, Tiago, um eco é uma fada, e uma fada normalmente vive em uma grande caverna ou numa casa vazia.
– Uma fada. Oh! mamãe, você já viu uma? Como elas são? E o que elas fazem? exclamou Tiago.
– Resposta à primeira pergunta, respondeu mamãe com um sorriso. Não, eu nunca vi um eco. Ninguém pode ver, nós só o ouvimos. O que eles fazem? Quando alguém grita próximo de sua casa, eles sempre respondem,
repetindo o que foi dito.
– Mas isso é falta de educação, observou Tiago.
– Oh, não, respondeu Mamãe seriamente, eles fazem isso de uma maneira gentil e amigável.
– Eu gostaria de saber, Tiago replicou, seus olhos quase fechando. Eu gostaria de saber se eu fosse à praia e me sentasse muito quietinho, se apareceria para mim uma fada do eco.
– Talvez não, querido, disse sua mãe, enquanto apagava a luz do quarto. Agora, durma bem e tenha sonhos agradáveis.
Na manhã seguinte, Tiago e Jobi permaneceram fora de casa.
– Eu acho, Jobi, disse Tiago, que nós devemos ir lá embaixo e procurar uma das fadas do eco. Você não acha? perguntou gravemente.
Jobi respondeu de forma afirmativa abanando seu rabo. Jobi era uma companhia tão agradável que sempre concordava, independente do que lhe fosse proposto. Assim, ambos saíram, quase esquecendo de mencionar seu destino. Logo chegaram à praia, mas não sabiam bem onde poderiam encontrar a fada. Eles andaram sem destino. Finalmente, foi Jobi que a encontrou. Ele parou para latir a um atrevido esquilo vermelho, que imediatamente começou a repreendê-lo com muito barulho. Tiago não percebeu isso, pois à medida que Jobi latia, de algum lugar atrás deles vinha o som de mais latidos.
– É a fada do eco, Jobi, exclamou Tiago. Você a encontrou. Você a encontrou.
Depois, Tiago gritou o mais alto que pôde, e imediatamente o som voltou para ele, doce e claro, como só uma fada seria capaz de o fazer. Tiago continuou gritando, mas a fada, mesmo assim, não parecia ficar cansada ou impaciente.
– Oh! Jobi, disse Tiago, como eu gostaria que ela aparecesse para que pudéssemos vê-la. Talvez se ficarmos bem quietinhos, ela pense que fomos embora e resolva aparecer. Vamos experimentar.
O garotinho e o cachorro esconderam-se sob um salgueiro e esperaram. Eles ficaram muito quietos. Pareceu-lhes um longo tempo; estava muito quente e logo a cabeça do garotinho começou a inclinar-se. Ele não conseguia mais ficar acordado.
Então, algo aconteceu, pois, embaixo das árvores; dirigindo-se a ele estava a mais linda criaturinha que qualquer pessoa gostaria de contemplar. Ela era tão pequenina, não maior do que um dos soldadinhos de brinquedo de Tiago, e estava toda vestida de marrom avermelhado.
Em cada ombro havia asas de um tom delicado de verde, sua cabeça coberta com cachos dourados e em seus pés ela calçava minúsculos chinelinhos dourados.
Tiago estava tão certo de que esta era a fada do eco,que ele não ousou mexer-se de medo que ela pudesse desaparecer. Então, ela chegou mais perto, abanou sua varinha e disse alegremente:
– Bem, Tiago, você e Jobi estavam esperando para me ver. Eu sou a fada do eco.
– Oh! Eu sabia, tinha certeza disso, exclamou Tiago, e nós sabíamos que você viria se nós a esperássemos. Você não se importa, não é? ele perguntou.
– Porque me importaria? Sorriu a fada, quando viu o olhar ansioso no rostinho de Tiago. Eu sabia que você estava aqui; se não quisesse que você me visse, você não me veria.
– Mas, diga-me, disse Tiago, há muitas fadas do eco e todas são tão lindas como você?
Novamente a fada sorriu, e seu sorriso parecia o tilintar de sinos de prata.
– Sim, há muitas de nós, ela respondeu, e somos todas iguais. Se você encontrar qualquer uma das outras, não nos distinguiria.
– Como se chamam as outras fadas? Tiago queria saber.
– Chamam-se Eco; todos nós temos o mesmo nome. Agora vou dar um passeio. Vocês gostariam de vir comigo? Se quiserem podem vir.
– E onde é que você vai? Tiago perguntou.
Em resposta, Eco colocou uma flauta dourada em seus lábios e emitiu uma nota clara, suave.
Os olhos de Tiago estavam grandes e brilhantes de admiração. Como ele estava se divertindo! Então, ele viu uma grande tartaruga nadando em direção a eles através das ondas.
– Oh! Que tartaruga grande, exclamou ele. Nunca vi uma tartaruga tão grande como essa.
A fada sorriu:
– Será o nosso cavalo, disse a ele. Que bonito passeio faremos.
Tiago olhou-a atônito.
– Oh! Eu não posso ir com você. Sou muito grande.
Então, ela tocou suavemente em Jobi e em Tiago com sua varinha, e imediatamente eles começaram a diminuir até que ficaram do tamanho da fada. Como tudo parecia fantástico e a tartaruga, que todo esse tempo ficou quietinha, esperando, parecia maior que nunca. Ela era tão grande que Tiago sentiu um pouco de medo dela, até que viu um alegre brilho em seus olhos.
Eco pegou Tiago pela mão e foi para a água, mas Tiago voltou.
– Ficarei molhado, ele exclamou, eu e Jobi poderemos nos afogar.
Mas a fada sorriu e disse novamente:
– Você deve confiar em mim. Cuidarei para que você e Jobi voltem a salvo.
Então, os três subiram nas costas da tartaruga que vagarosamente saiu nadando para o mar. De repente, a tartaruga mergulhou e Tiago descobriu, para sua surpresa, que tanto Jobi como ele podiam respirar tão facilmente sob as águas, como em cima delas.
Que coisas maravilhosas Tiago viu! Eles passaram por enormes peixes que os olhavam curiosamente, e muitos deles se aproximaram bastante; viram enormes cavernas, todas cobertas com lindas algas marinhas. O chão dessas cavernas estava forrado com pedras de todas as cores e, em volta delas, havia inúmeros peixinhos brincando felizes, como fazem as criancinhas.
Uma vez, passaram por algo que parecia grande e escuro.
-Isso, disse a fada, é um navio naufragado.
Tiago sabia tudo sobre naufrágios, pois o irmão de Anabela era marinheiro e, quando ele vinha visitá-la, frequentemente contava a Tiago maravilhosos contos sobre naufrágios e terras estrangeiras.
Durante todo esse tempo a tartaruga continuou nadando, guiada pela fada que a tocava levemente com sua varinha, quando queria que ela se virasse.
– Seria melhor voltarmos agora, a fada disse a Tiago. Viemos longe demais.
Ela virou a tartaruga e eles começaram a voltar, mas, aí, algo aconteceu. A tartaruga parou e recusou-se a ir mais longe.
– Devo comer algo antes de voltar, disse ela firmemente e, a despeito de tudo o que Eco podia dizer e disse, ela recusou-se a levá-los de volta antes de jantar.
– Oh! Meu Deus, o que poderei fazer? Disse a fada.
Devo chegar à casa cedo e devolver você e Jobi, sãos e salvos. Quanto egoísmo da tartaruga! Nunca mais confiarei nela para trazer-me às águas. Vamos andar e ver se podemos encontrar alguém que nos ajude.
Enquanto andavam pelo fundo do oceano, Tiago disse:
– Por favor, Eco, diga-me como eu e Jobi podemos respirar debaixo d’água? E por que não ficamos molhados?
Eco levantou sua varinha:
– É isto, respondeu. Quando eu os toquei com isto, vocês se tornaram iguais a mim. Assim que retornarmos, farei vocês voltarem a ser o que eram.
Nesse momento, eles estavam andando em volta de uma grande rocha e viram diante deles um enorme castelo.
– Oh! aqui é onde vivem as fadas das ondas, exclamou Eco com alívio. Tenho quase certeza que elas nos ajudarão.
– Quem são as fadas das ondas? perguntou Tiago. Eo que fazem?
– Elas são as que, nos dias calmos, fazem as ondas que você vê na superfície das águas, disse Eco. Vamos ver se tem alguém em casa. Já é tempo de voltarmos.
Ela bateu na porta enquanto falava. Esta foi aberta por uma fada do tamanho de Eco, só que estava vestida toda de verde, e Tiago não sabia qual das duas era a mais linda.
– Oh! Onda, gritou Eco. Estou feliz que você esteja em casa, pois estamos em apuros. Espero que você nos ajude.
– Naturalmente que sim, sorriu Onda, isto é, se puder. Mas, quem são esses que estão com você? ela perguntou, dando a Jobi e a Tiago um sorriso de boas-vindas.
– São dois amiguinhos meus, respondeu Eco. Eu os trouxe para um passeio.
E aí contou como a tartaruga os tratara mal.
– Foi muito perverso da parte dela, respondeu Onda. Contarei às minhas irmãs sobre isso e teremos que a punir.
Mas entre, e eu tentarei encontrar uma forma de ajudá-los.
Tiago, Jobi e Eco entraram e Tiago olhou tudo com admiração; eles estavam numa sala grande e aqui havia mais daquelas pedras coloridas que ele tinha visto nas cavernas. Eles se sentaram numa grande pilha de musgos macios, e olharam com muito interesse o minúsculo peixe dourado que nadava para lá e para cá, pulando de um canto para o outro, espiando curiosamente por detrás das cortinas de algas marinhas, os estranhos visitantes.
Nesse momento, entrou na sala a fada das ondas.
– Nossa carruagem estará pronta em um momento,ela disse. Mas eu gostaria que vocês pudessem ficar mais tempo, pois há muitos lugares maravilhosos aqui que, tenho a certeza, Tiago e Jobi gostariam de ver.
– Sei que há, replicou Eco, mas devo voltar tão logo possível, pois devo devolver Tiago e Jobi antes que notem a falta deles.
Tiago se perguntava como seria a carruagem, quando ela apareceu diante da porta de entrada. Era uma pérola imensa, na forma de um barco, e ligados a ela, por cordas de algas marinhas, estavam seis lindos peixes dourados guiados por uma fada minúscula, da metade do tamanho de Onda. Ela os saudou amigavelmente e desapareceu em seguida.
– Logo você estará em casa, disse Onda.
Ela tinha subido na carruagem com eles e carregava uma varinha com a qual guiava os peixes, que estavam inquietos e ansiosos para iniciar a jornada.
Como esta jornada pareceu curta para Tiago! Ele pensou que apenas tinham começado, quando Onda parou a carruagem em águas rasas, no exato lugar onde tinham embarcado nas costas da tartaruga.
– Bem, Tiago, você e Jobi se divertiram?” a fada do Eco queria saber.
– Sim, replicou Tiago, e tenho certeza que Jobi também se divertiu, não é Jobi?
Jobi pulava para cima e para baixo e latia de um modo muito engraçado; ele estava tão pequenino!
A fada do Eco sorriu, e estendendo sua varinha tocou a ambos e desapareceu rapidamente na direção da caverna onde morava.
(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. II – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)
A Pequena Sombra
A carinha de Betina estava muito vermelha e as lágrimas rolavam de sua face, enquanto ela batia com seu pé no chão iradamente e gritava:
– Eu não me importo! Essa é minha boneca e Maria a pegou. Eu dei umas palmadas nela e não me arrependo!
Ela segurou a boneca desafiadoramente em seus braços e bateu seu pé no chão novamente, ainda soluçando.
Mamãe sacudiu sua cabeça com tristeza e disse:
– Oh! Betina, Maria é apenas uma garotinha. Ela mal completou três anos e você já é uma menina de cinco. Foi muito errado de sua parte bater nela. Você poderia tê-la deixado brincar com sua boneca por um momento, pois sabe que suas coisas sempre voltam para você. Agora, o que devo fazer? Eu quero que entenda e seja gentil. Especialmente gentil com os que são menores que você. As crianças menores não entendem ainda muito bem as coisas que você já entende. Sabe disso e é por esse motivo que deve ser gentil e prestativa até que elas sejam de seu tamanho. Quando Maria tiver a sua idade, ela não pegará as coisas porque ela entenderá melhor.
Betina ficou quieta enquanto sua mãe falava. Ela se envergonhou, mas não quis admitir. Era o que sempre acontecia. Seu temperamento explodia dentro dela como uma grande nuvem negra, e ela se esquecia de ser carinhosa e boa. Ficava realmente brava e magoava as pessoas. Chorava, chorava e batia o pé. Mais tarde, quando pensava sobre isso, não conseguia entender. Era como se houvesse outra menina dentro dela fazendo todas essas coisas más.., pois ela sabia que a verdadeira menininha que ela era não queria fazer isso, absolutamente. E, mesmo assim, acontecia todas as vezes. Não sabia o que fazer sobre isso. Simplesmente esquecia e ficava furiosa novamente.
Mamãe tomou sua mão e a conduziu até o alpendre ensolarado que ficava no fundo do quintal.
– Olhe, disse ela, veja, você tem sua sombra. Veja como é bem maior que você. Veja como ela se dirige para frente, se você estiver de costas para o Sol. Veja também como ela pula para trás e a segue, se você se virar. Às vezes, ela fica até menor que você, mas sempre a segue enquanto você estiver à luz do Sol.
Betina olhou para sua mãe, com surpresa. Ela gostaria de saber o que isso tinha a ver com o fato dela ser uma menina má. Sabia que devia existir algo nisso. Sua mãe não a repreendia com frequência. Em vez disso, costumava contar-lhe histórias que faziam com que ela tentasse ser melhor. A repreensão devia produzir esse mesmo efeito, mas mamãe preferia a história.
Mamãe sentou-se nas escadas do alpendre e colocando Betina gentilmente ao seu lado, começou a falar:
– Vou contar a você uma história sobre uma sombra. Quero que ouça bem atentamente, depois deixarei você aqui sozinha por uns minutos, para que possa pensar sobre ela.
Este era o modo com que mamãe fazia as coisas. Depois da história, você devia pensar sobre ela e saber o que fazer a fim de adaptar a história à realidade de sua vida. Algumas histórias podem ajudá-la, como essa.
A voz suave de mamãe continuou:
– Era uma vez uma menininha bonita e que tinha uma bela casa. Tinha tudo o que uma menininha necessitava para ser feliz. Às vezes, algumas meninas não têm tudo o que necessitam. É difícil a vida para essas garotinhas, mas isto não era desculpa para a menininha da qual estamos falando. Ela tinha tudo o que precisava – só que não tinha beleza dentro dela. Quando queria ela sabia ser muito educada, mas, às vezes, tinha um gênio muito ruim. Quando ficava nervosa fazia coisas terríveis. Chegava a ser cruel. Com muita frequência tornava as outras pessoas muito infelizes. Depois, quando conseguia controlar o seu temperamento ruim, sentia-se infeliz. Mesmo assim, continuava com o mesmo temperamento. Mas, um dia, algo muito estranho lhe aconteceu. Ela estava terrivelmente nervosa, tinha dado um tapa na sua melhor amiga. Depois bateu seu pé no chão, gritou e chorou tanto que feriu o ouvido de quem a ouvisse. Ninguém queria se aproximar dela. Iam embora e a deixavam sozinha, e foi aí que essa coisa estranha aconteceu.
– Você, Betina, pode adivinhar o que foi?
– Bem, deixaram-na sozinha no jardim. O Sol estava se pondo e sua sombra pulava para cima e para baixo, do mesmo jeito que ela fazia. De repente, e muito simplesmente, sua sombra se afastou dela e disse-lhe: “Garotinha, estou cansada de a seguir. Não vou mais ficar com você. Será a única menina no mundo que não terá uma sombra.
E não voltarei até que pare de fazer com que os outros sofram. Olhe o jeito que você está me sacudindo, para cima e para baixo, cada vez que tem um desses seus acessos de mau humor. Nenhuma sombra gosta disso. A sombra gosta de seguir as pessoas boas. Só voltarei quando você se tornar boa. Até logo!”. E a sombra foi-se embora.
– Ela começou logo a sentir-se muito só. Não queria nem gostava mais de andar ao Sol, porque todos perceberam que ela não tinha sombra e ninguém se aproximava mais dela. Eles a apontavam à distância e diziam: “Olhem que menina estranha. Ela não tem sombra! Ela deve ser muito má, pois nem sua sombra quis segui-la mais! “. Isto tornou a menina muito infeliz, e ela começou a lastimar a maneira pela qual tratava as outras pessoas. Assim, começou a tentar ser mais gentil e considerar seus sentimentos em relação aos outros, bem como se descontrolar. Ela tentou tanto, que logo não teve mais acessos de mau humor. Descontrolar-se é um mau hábito realmente, e as pessoas podem aprender a formar o bom hábito de NÃO perder o controle se tentarem. A garotinha estava um tanto surpresa ao perceber que isso era realmente verdade, apesar de sua mãe já lhe ter dito. Agora, sua sombra voltara e seus amigos voltaram também. Ela era novamente uma adorável companheira.
Mamãe se levantou.
– Por favor, pense sobre essa história, Betina. Eu acho que ela ajudará você a controlar seu mau temperamento.
Betina ouviu a porta fechar-se atrás dela, silenciosamente, pois mamãe tinha entrado na casa para preparar o jantar. Era apenas um conto de fadas naturalmente – ela sabia disso. Ninguém neste mundo ouviu contar tal coisa, que uma sombra não acompanhasse alguém. Mas ela sabia o significado da história. Ela sabia como a garotinha devia se sentir. Se essas coisas pudessem acontecer, seria terrível. Para ela seria o mesmo que estar sem o vestido, se não tivesse consigo a sua sombra. Ela sabia que a história serviria para lembrá-la que não deveria mais ficar zangada. Cada vez que olhasse para sua sombra, deveria lembrar-se disso.
Ela saiu do alpendre e sua sombra a seguiu alegremente. Atravessou o quintal e se dirigiu à casa de Maria. Sentiu-se muito mal quando viu no rosto de Maria uma acentuada marca vermelha, no lugar onde, pouco antes, havia lhe dado um tapa. Ela sentou-se e entregou a boneca à Maria dizendo:
– Aqui está, Maria, você pode brincar com ela. Eu sinto muito.
Maria sorriu feliz, o perdão estampado nos seus olhos. Querendo fazer as pazes, Betina disse a Maria:
– Vou contar-lhe uma história.
E falou sobre a história da sombra que sua mãe acabara de lhe contar. Elas estavam sentadas juntas, felizes, quando Betina ouviu sua mãe chamando-a para jantar.
Ela foi saltitando para casa, com sua sombra saltitando atrás dela. Atirando-se nos braços da sua mãe, disse:
– Mamãe, minha sombra me seguiu. É divertido olhar para ela e tentarei lembrar-me de não ficar sacudindo-a para cima e para baixo, procurando não me zangar mais.
Mamãe, deu-lhe um beijo e respondeu:
– É isso mesmo que espero que você faça, querida. Eu quero vê-la tão bonita por dentro, como você é por fora.
Betina sorriu feliz, pois tudo agora estava bem. Ela também queria ser linda por dentro como mamãe lhe dissera. Era tão melhor ser assim!
(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. II – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)
NA TERRA DO ARQUEIRO
Os meninos estavam muito contentes diante dos portões da terra seguinte, pois mesmo de fora, pareciam agradáveis e acolhedores. Lembraram os meninos o fogo que sua mãe acendia na lareira, no inverno, porque lançavam chamas azuis e depois esverdeadas.
Havia figuras em movimento sobre estes portões, como os primeiros que eles visitaram, mas não puderam vê-las bem, devido às luzes cintilantes que saíam da sua superfície. A única coisa que eles puderam ver claramente foi um rolo de papel com letras prateadas perto da parte superior dos portões. Depois de observá-lo cuidadosamente durante algum tempo, os meninos viram que lá estava escrito:
“APONTA PARA A ESTRELA E ACERTA NA LUA”
– “Que quer dizer isso? Perguntou Rex.
– “Tem algo a ver com atirar”, respondeu Zendah, “devemos procurar alguma coisa para atirar”.
Procuraram em redor e logo acharam um arco muito pequenino pendurado de um lado do portão, e também uma pequena bolsa de setas ao lado.
– “Não podemos, ambos, usá-lo ao mesmo tempo”, explicou Rex. “Eu, penso que sou melhor atirador”.
Apanhou o arco e apontou uma seta para o portão, mas errou e acertou no pilar da esquerda. Apontou novamente e acertou o pilar da direita.
– “Pensei que você fosse melhor atirador”, riu Zendah. “Experimente apontar mais alto”.
Rex apontou para um lugar acima do portão e acertou num pequeno escudo bem abaixo do rolo de papel que ele não havia percebido antes.
Imediatamente todo o portão ficou iluminado, podendo- ver-se ao centro uma seta grande, de fogo. De cada lado estava um personagem, metade homem e metade cavalo; um deles estava vestido com linda armadura e o outro com peles grosseiras como um selvagem.
Uma voz pediu a senha e os meninos responderam: “Liberdade”.
– “Entre livremente, Rex e Zendah, na terra do Arqueiro”, ouviu-se em resposta. Como nas outras terras, os portões abriram-se imediatamente.
Um jovem vestido com uma pequena túnica azul, pernas nuas e sandálias como os antigos gregos, correu ao encontro dos meninos. Segurava, com uma correia dois elegantes galgos. Levantando sua mão direita num gesto de saudação, deu-lhes as boas vindas e convidou-os a segui-lo.
Era uma terra linda com planícies onduladas, cobertas de grama e cercadas de pequenas cadeias de montanhas.
Aqui e ali, graciosos templos com pilares resplandecentes de diferentes pedras coloridas, como aqueles que ainda se podem ver na Grécia ou em Roma. Levando um apito de prata aos lábios, o guia fez soar uma nota limpa e imediatamente surgiram quatro magníficos cavalos.
– “Sabem montar?”, perguntou ele.
– “Sim”, gritaram as crianças.
Porque já haviam passeado a cavalo nos campos próximos de sua casa. Rex montou num cavalo preto; Zendah, num cavalo branco e o guia ficou de pé, com um pé sobre um cavalo baio e o outro num tordilho. Com as rédeas nas mãos, ele dirigia os quatro cavalos. Partiram e com alegres gritos de animação os cavalos voavam como o vento pelos caminhos. Os cavalos, não estavam encilhados e os meninos seguravam nas crinas dos cavalos, porque estes iam tão velozes que era necessária toda atenção para não caírem.
Por toda parte viam quantidade de cavalos de todas as cores e tipos perseguindo caça e correndo, alguns com cavaleiros, outros com cabeça de homem e corpo de cavalo da cintura para baixo. Havia também muitos cães ajudando na brincadeira. Pararam repentinamente defronte de um pátio pavimentado com pedras quadradas, brancas e pretas. Desmontando, o jovem amarrou as rédeas dos cavalos em um anel em um dos postes do portão.
Os meninos seguiram-no do centro do pátio até uma curiosa construção feita de metal branco brilhante, com nove lados e nove janelas, uma em cada lado. Não parecia haver caminho de entrada, a não ser voando através de uma janela!
Em torno de cada janela havia uma guarnição de pedra, entalhada com folhas e sinais fantásticos, e em cima de cada uma, uma espécie de pássaro surgindo de chamas.
Seu guia fez um som baixo, interessante, e de súbito toda a frente do edifício abriu-se, e eles se encontraram olhando para dentro de um estábulo feito inteiramente de pedra purpúrea, polida como espelho.
– “Veja, Rex, veja!”, gritou Zendah, “É Pégaso, o cavalo voador”.
Na verdade, vindo em direção dos meninos, estava o mais bonito cavalo branco que eles jamais viram. Seu pelo era brilhante como seda, e logo atrás dos seus ombros haviam duas grandes asas prateadas que ele mantinha dobradas ao longo do seu dorso enquanto não voava. Zendah chegou-se perto dele e fez-lhe uma carícia no focinho.
– “Podemos dar um passeio nele?”, perguntou ela.
– “Não creio que vocês possam dirigi-lo”, disse-lhes o guia sacudindo a cabeça, “‘ e se vocês não puderem, como ele pode voar por toda parte, até mesmo para as estrelas que vocês têm dificuldades para ver, poderá levá-los para uma delas de onde será muito difícil vocês voltarem.
Quando tiverem aprendido todas as senhas das terras do Zodíaco, talvez então estejam aptos a montá-lo e a darem um passeio pela via Láctea. Nosso Rei dará a vocês um apito de estanho; não será fácil soprar a nota exata para chamar Pégaso, mas quando vocês conseguirem, ele virá e vocês poderão montá-lo.
Depois de deixarem o estábulo, desceram uma planície coberta da mais linda grama curta e musgo; um verdadeiro tapete de relva, por toda a parte havia bancos cobertos de relva uns diante dos outros como se fossem degraus de uma escada.
Homens, mulheres e crianças estavam sentados nessas ondulações, olhando outros que estavam no espaço central, tomando parte em toda a espécie de corrida e de jogos.
– “Como parecem alegres e bem-humorados”, disse Rex depois de ter observado uma das corridas. “Parece que não se preocupam nada com o que percam ou ganham”.
Mal foram pronunciadas essas palavras, os meninos viram dois outros que acabavam de terminar uma corrida, ao mesmo tempo, empatados, e estavam discutindo para ver a quem cabia a coroa de folhas de figueira, que era o prêmio da corrida.
O jovem que acompanhava Rex e Zendah foi até eles e disse: “Se vocês não chegam a um acordo terão de ir à presença do Rei”.
Chamando mais dois cavalos para aqueles meninos, todos eles montaram e saíram percorrendo as verdes campinas até chegarem a um castelo que tinha nove torres com espirais agudos. Homens vestidos com longas túnicas e capacetes brancos vieram ao seu encontro, e os acompanharam desde a entrada até a sala principal. Aí eles viram sentado no seu trono, o mais alegre Rei jamais visto, com face rosada e olhos azuis e pestanejantes.
– “Com certeza esse rei tem algum parentesco com o velho Rei Repolhudo”, pensaram as crianças, pois parecia que ele estava pronto para rir, mesmo quando estava sério! Não era possível a ninguém ficar triste olhando para ele; tinha que se sentir feliz”.
Os pajens que estavam de serviço, mostraram a Rex e Zendah algumas almofadas nos degraus próximos do trono, e depois de se curvarem para o Rei que lhes deu um dos seus alegres sorrisos, eles se sentaram.
Dois outros pajens trouxeram os dois contendores à presença do Rei Júpiter (pois esse era o seu nome), que pareceu sério por alguns minutos, enquanto ouvia a história.
– “Que malucos são vocês”, disse ele, “Não tem a mínima importância quem chegou primeiro, pois que ambos vocês correram o mais que puderam. Vocês conhecem o ditado que está por cima da entrada, desta terra: TODOS PODEM APONTAR PARA A ESTRELA, MAS ENQUANTO NÃO TIVEREM PRÁTICA, NÃO ESPEREM ALCANÇÁ-LA”.
Então Júpiter dividiu a coroa entre os dois que ficaram muito satisfeitos. Júpiter levantou-se do trono e bateu palmas.
“Tragam o banquete, e que meus alegres músicos toquem suas melhores músicas para mostrarem a Rex e Zendah como os súditos do Rei Júpiter podem ser alegres e felizes”.
Em poucos minutos apareceram mesas e grandes pratos com frutas, bolos e doces que foram colocados diante deles. Havia abundância de tudo, todos procuraram fazer com que os meninos se sentissem em casa, e encheram-nos de presentes de figos e abricós para que os levassem consigo.
Eles não sabiam o que fazer primeiro: se agradecer a todos, se comer as frutas ou se ouvir a música que era muito bonita. Nesse momento, um homem idoso que estava sentado no extremo da mesa levantou-se e ergueu sua mão.
Todos silenciaram e ele disse: “Cantemos nossa canção de gratidão aos Anjos; por nos terem auxiliado a cultivar todas estas lindas frutas”.
Um glorioso hino de agradecimento foi cantado por todos. Terminado o hino as crianças foram levadas de novo diante do trono de Júpiter.
Aí, Rex recebeu o prometido apito, e Zendah recebeu uma estrela de nove pontas feita de carbúnculo; e para seu desapontamento, disseram-lhe que era tempo de partirem.
Jamais eles estiveram antes em um lugar onde todos fossem tão generosos, nem de onde ficassem tão tristes por terem de sair. Seus guias trouxeram seus cavalos até a porta do palácio e eles montaram. Desta vez permitiram que eles mesmos dirigissem os cavalos de volta ao portão de entrada. Centenas de pessoas acompanhavam os meninos para se despedirem. Quando chegaram do lado de fora dessa terra maravilhosa e os portões aos poucos se fecharam, eles ouviram vozes gritando:
– “Adeus, adeus; voltem em breve; ficamos muito contentes em ver vocês”.
– “Eu amo essa terra do Arqueiro”, disse Zendah.
– “Por certo”, replicou Rex. “É o seu Signo!
(The Adventures of Rex and Zendah In The Zodiac – por Esme Swainson – publicado pela The Rosicrucian Fellowship – publicado na revista Rays from the Rose Cross nos anos 1960-61; As Aventuras de Rex e Zenda no Zodíaco (as Ilustrações são originais da publicação) –Fraternidade Rosacruz – SP – publicado na revista Serviço Rosacruz de 1980-81)