O Lago Encantado

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Lago Encantado

O Lago Encantado

Uma vez, há muito, muito tempo atrás, havia um rei que estava sempre em guerra. Ele conquistou seus vizinhos, depois partiu para a conquista de terras mais distantes, até que chegou a governar tantos países e tanta gente que foi chamado “O Grande imperador”.

Todo mundo o adulava. Recebia presentes maravilhosos. Diziam-lhe como era nobre, grande, maravilhoso e, de tal forma, que ele acreditou que era tudo isso e frequentemente dizia para si mesmo: “Ninguém na Terra ou nos Céus é maior do que eu!”

Isso era uma afirmação muito forte para um simples ser humano fazer, pois mesmo a pessoa mais sábia e mais importante nesta Terra não pode saber tudo, nem governar sobre tudo na Terra e nos Céus.

Um dia, esse grande e poderoso Imperador saiu para uma caçada com os membros da corte. Todos estavam soberbamente vestidos e montavam seus belos cavalos que dançavam e saltavam. Os cães também pulavam e latiam alto. As cornetas soavam e assim o alegre grupo saiu para o campo e para a floresta.

O Sol brilhava intensamente e, após algumas horas, todos estavam exaustos com a caçada e exauridos com o calor do dia. Então, o grande e poderoso Imperador disse a seus cortesãos para que descansassem debaixo das árvores, enquanto ele iria banhar-se num belo lago ali perto. Os cortesãos ficaram assustados porque o Imperador ia banhar-se nesse lago. Era um lago encantado e as pessoas não se arriscavam a entrar nele e até mesmo se uma simples gota dessa água mágica caísse sobre elas, ficavam aflitas e apreensivas.

Quando foi avisado dos perigos do lago encantado o grande e poderoso Imperador disse orgulhosamente:

-Sou mais poderoso que qualquer encanto.

Imediatamente dirigiu-se para a bonita margem arenosa. Seu cavalo foi amarrado a uma árvore, sua maravilhosa roupa cuidadosamente arrumada à beira do lago. Então, sob suas ordens, seus guardas o deixaram. Ele mergulhou na água e deliciou-se com o seu frescor. Nadou pelo lago e sentiu-se muito bem. Em nenhum momento, entretanto, esqueceu-se que era o grande e poderoso Imperador.

Enquanto divertia-se, surgiu a beira do lago um homem que se parecia muito com o grande e poderoso Imperador. De fato, ele era quase seu sósia, não somente na aparência, mas também na voz e nos modos. Este homem vestiu-se rapidamente com as roupas do Imperador. Os guardas de Sua Majestade estavam dormindo profundamente na sombra refrescante. Nenhum deles viu esse homem vestir as roupas do Imperador, pegar seu belo cavalo e nem mesmo os cães de caça latiram! Acordou todos, ordenando a volta ao palácio.

Descansado e refeito, o grande e poderoso Imperador nadou até o lugar onde suas roupas foram estendidas em ordem, pomposamente. Mal conseguiu acreditar no que estava vendo! Sua roupa não estava mais lá! Seu cavalo não estava mais lá! Nada de roupa! Nada de cavalo! Que ultraje! Alguém seria punido severamente!

– Meus homens, chamou furioso.

Nenhum som em resposta ao chamado do grande e poderoso Imperador!

A essa altura, o Sol já desaparecia por detrás das montanhas. Estava ficando frio. O Imperador andou pelas margens do lago. Logo escureceu. Não via ninguém. Evidentemente os caçadores foram embora e o deixaram – deixaram o grande e poderoso Imperador! Realmente alguém pagaria por isso. Apenas esperassem até que ele chegasse a seu palácio e sentasse em seu trono!

O grande e poderoso Imperador decidiu que a coisa mais importante, agora, era encontrar roupa e abrigo. Ele lembrou-se que não muito longe do lago morava um cavaleiro.

– Não fui eu que o tornei cavaleiro e lhe dei seu esplêndido castelo? Ele ficará, muito feliz em vestir e servir seu Imperador. Irei até ele.

Antes de se dirigir ao cavaleiro, o Imperador teceu, em forma de esteira, algumas das hastes que cresciam à margem do lago. Amarrou a esteira ao redor de seu corpo. Dirigiu-se ao castelo do cavaleiro. Apesar de ser uma curta jornada, foi muito dolorosa. As pedras pontiagudas cortavam seus pés. As raízes espetavam sua carne. Os galhos das árvores atingiam seus longos cabelos, emaranhando-os. Era uma experiência desagradável para um grande e poderoso Imperador! Muitas vezes, ele jurou que alguém pagaria por isso quando ele estivesse novamente em seu palácio e sentasse em seu trono.

O Imperador chegou ao castelo. Bateu nos portões. Chamou o porteiro que finalmente veio e olhando pela janelinha do grande portão, perguntou:

– Quem está aí?

– Abra o portão, ordenou o Imperador, e você verá logo quem eu sou. E ele encheu-se de orgulho.

Quando o portão se abriu e o porteiro colocou sua cabeça para fora, perguntou:

– Quem é você?

Muito desgostoso, o grande e poderoso Imperador gritou:

– Infeliz! Eu sou seu Imperador!

– Oh! Oh! fez o homem, rindo muito.

– Infeliz! Infeliz! Vá ao seu patrão, ordenou o Imperador. Diga-lhe que me traga roupa. Diga-lhe para vir saudar seu grande Imperador!

– Imperador!, zombou o porteiro. O Imperador esteve aqui com meu patrão há uma hora atrás. Veio da caçada com sua corte. Oh, sim! Chamarei o meu patrão. Mostrarei a ele um grande e poderoso Imperador!

O porteiro bateu o portão na cara de Sua Majestade. Em seguida, ele voltou com o cavaleiro e, apontando para o homem nu, disse:

– Lá está o Imperador, olhe para sua Majestade!

O orgulhoso e poderoso Imperador exclamou em seu tom mais orgulhoso e poderoso:

– Chegue perto e ajoelhe-se diante de seu Imperador, senhor cavaleiro.

 

O cavaleiro pareceu surpreso enquanto o Imperador acrescentou:

– Eu – Eu, o Imperador, o tornei cavaleiro. Eu lhe dei este castelo. Agora eu lhe dou a maior graça de poder vestir o seu Imperador com suas vestimentas.

– Mentiroso! Impostor! Saia! gritou o cavaleiro. Saiba que não faz uma hora que o grande e poderoso Imperador sentou-se à minha mesa.

O cavaleiro ficou cada vez mais enraivecido e ordenou:

– Batam nesse homem! Tirem-no daqui!

Como o porteiro riu enquanto os servos batiam no pobre homem!

– Batam bem! ele mandou. Não é todos os dias que se pode dar uma surra em um Imperador.

O grande e poderoso Imperador saiu coxeando, sentindo-se ferido e sangrando.

– Ingrato! Eu lhe dei tudo o que tem. Veja como ele me retribui! Espere, ah, espere até que eu volte ao meu trono! Ele será severamente punido!

Então, começou a perceber que as circunstâncias eram muito desagradáveis para ele.

– Agora, aonde vou? O que devo fazer? Ah! Irei ao Duque! Eu o conheço há muito tempo. Com ele fui a festas e a caçadas. Sim! O Duque estava na minha comitiva de caça de hoje! Certamente ele reconhecerá o seu Imperador!

Enquanto tropeçava pelo caminho, o Imperador começou a pensar – realmente a pensar. Perguntou-se por que seus súditos não o conheciam. Sua realeza, suas grandezas deveriam ser reconhecidas mesmo se não estivesse em trajes reais.

De repente, ouviu o som de uma voz bem em seu ouvido! O poderoso Imperador assustou-se. Olhou ao seu redor! Não viu ninguém. Mesmo assim a voz lhe dizia:

– A verdadeira grandeza é humilde. Ela não se proclama, mas é como o Sol. Não pode ser coberta. A verdadeira grandeza dá àquele que a possui, uma grande beleza – beleza que nenhum trono, nenhuma coroa, nenhum aparato real pode conferir.

A voz continuou:

Sabedoria e nobreza não podem ser distinguidas pela falta de roupas, nem pela sujeira e ferimentos. Por outro lado, qualquer tolo, com um trono, uma coroa, um palácio e aduladores, pode parecer um príncipe.

O grande e poderoso Imperador dirigiu-se a mansão do Duque. Mas não tinha tanta certeza, como antes teve, de que seria bem recebido quando bateu nos portões. A terceira batida, o portão abriu-se e o porteiro viu um homem vestido somente com uma esteira de galhos, seu cabelo era um emaranhado só e seu corpo estava arranhado e sangrando.

– Chame o Duque, eu lhe rogo. Diga-lhe que o Imperador está aqui. Diga-lhe que roubaram o cavalo e a roupa de seu Imperador. Vá depressa! Eu o ordeno!

O atônito porteiro fechou o portão e correu ao seu patrão.

– Excelência, há um louco nos portões! Ele está nu. Está ferido, sujo e bravo. Ele me ordenou dizer-lhe que é o Imperador.

Os portões se abriram. Sua Excelência, o Duque, não reconheceu o Imperador!

– Você não me conhece? Sou o Imperador. Esta manhã você foi à caça e deve lembrar-se que o deixei para banhar-me no lago. Enquanto eu estava no lago, um miserável roubou minha roupa e meu cavalo. E eu – eu – eu apanhei de um cavaleiro!

Seria possível que a voz do grande e poderoso Imperador estivesse trêmula? Certamente parecia menos soberba do que de costume.

– Ponha esse homem na prisão! Não é seguro deixar livre esse louco, ordenou o Duque ao porteiro e acrescentou: Dê pão, água e um estrado para deitar.

– Estranho, estranho, murmurou o Duque dirigindo-se a seus convidados no grande saguão. Um louco nos portões! Ele deveria estar na floresta esta manhã, enquanto descansávamos, pois disse-me ser o Imperador que nos deixou para banhar-se no lago e que alguém lhe roubou sua roupa e seu cavalo. Mas vocês sabem que o Imperador voltou conosco.

Todos eles falaram sobre esse estranho homem. Alguns murmuraram:

– O lago, o lago encantado!

Ainda assim não parecia possível que algo tivesse acontecido ao Imperador, pois eles o viram há menos de uma hora atrás.

O grande Imperador estava acorrentado numa cela escura. Ele estava magoado e ferido.

– Esperem, esperem, até eu voltar ao meu trono! Darei uma lição a esses velhacos.

No entanto, o poderoso Imperador sequer sonhava que era ele próprio, o grande monarca, que estava aprendendo a mais sublime lição de sua vida.

– Será que estou tão mudado que nem o Duque me conheceu?

Então, seu pensamento dirigiu-se ao palácio.

– Há alguém que me reconhecerá! Vou até ela!

Depois de muito esforço, as correntes afrouxaram-se e o infeliz homem saiu de sua cela e encaminhou-se para o seu próprio palácio. Ao amanhecer, ele estava nos portões do palácio. O grande Imperador ergueu sua mão e bateu – bateu em seus próprios portões!

O porteiro abriu e olhou para aquele homem de aspecto selvagem e que estava nu.

– Quem é você? O que você quer?

– Deixe-me passar! Sou seu Senhor, sou o seu Imperador.

– Você, meu Senhor! Você, o Imperador! Pobre tolo. Olhe ali.

O porteiro abriu os portões e apontou para o saguão. Lá estava o Imperador, sentado no seu trono. A seu lado estava a Rainha – sua amada Rainha! Oh, que agonia ele sofreu!

– Deixe-me ir até ela! Ela me conhecerá!

O barulho feito pelo porteiro e pelo Imperador chegou ao grande saguão onde havia uma festa com muitos convidados. Os nobres vieram ver o que estava acontecendo. Atrás deles vinham a Rainha e o Imperador.

Ao ver aqueles dois, era tanta a sua raiva, medo, ciúme e ansiedade que mal podia falar; mas roucamente gritou:

– Sou seu Senhor e marido, estendendo sua mão para sua amada Rainha. Certamente você me conhece!

A Rainha afastou-se apavorada.

– Senhores, disse o homem que estava com a Rainha, que deve ser feito com esse infeliz?

– Mate-o, disse um.

– Bata-lhe! gritavam outros.

O grande e poderoso Imperador foi escorraçado do palácio; cada um lhe dava uma pancada quando passava. Os portões de seu próprio palácio se fecharam atrás dele. Ele fugiu. Não sabia para onde ir. Vagarosamente dirigiu-se para o lago onde havia se banhado. Tinha frio, fome, estava ferido; queria estar morto. Ajoelhou-se no chão e bateu em seu peito. Colocou sua cabeça no solo e exclamou:

– Eu não sou nenhum grande e poderoso Imperador. Eu não sou nenhum Imperador maravilhoso. Uma vez, pensei que não havia ninguém mais poderoso do que eu na Terra e nos Céus. Agora sei que nada sou – um pobre pecador. Não há ninguém tão pobre, tão humilde quanto eu! Deus me perdoe pelo meu orgulho.

As lágrimas corriam de seus olhos. Ele levantou-se e foi lavar sua face nas águas límpidas do lago encantado. Ele se virou. Lá estavam suas roupas! Lá estava seu belo cavalo, comendo a grama verde e macia!

Sua Majestade vestiu-se rapidamente. Montou seu cavalo e em seguida dirigiu-se ao seu palácio. Quando se aproximou, os portões se abriram de imediato. Os servos chegaram, um segurou seu cavalo, outro ajudou-o a desmontar. O porteiro se curvou, enquanto disse:

– Eu me admiro, Majestade, pois não o vi passar pelos portões.

O grande e Poderoso Imperador entrou. No magnífico saguão, ele viu novamente os nobres, a Rainha com o homem a seu lado, o homem que se intitulara Imperador. Os nobres não olhavam para esse homem, nem a Rainha também. Eles viram apenas o seu Imperador entrar no saguão e foram cumprimentá-lo. O homem também veio. Ele estava vestido de branco, com roupas brilhantes, não em roupas régias.

O Imperador inclinou sua cabeça para esse homem e murmurou:

– Quem é você?

– Sou o seu Anjo da Guarda, respondeu ele. Você era orgulhoso e colocava-se somente nas alturas. Era preciso que você, fosse “trazido para a realidade. Mas o reino, que eu guardei para você, é-lhe devolvido agora, porque aprendeu a ser humilde. Só os humildes são capazes de governar e você, daqui por diante, saberá governar com sabedoria.

O Anjo desapareceu. Ninguém mais ouviu sua voz. O Imperador sentou-se novamente em seu trono, e governou mais sabiamente do que nunca e foi muito amado por seu povo.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. II – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

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