Valorizar a Vida
Trabalho dos mais complexos é o que o Ego executa nos planos internos no intervalo entre duas existências objetivas.
Na Região do Pensamento Concreto, também denominada Segundo Céu, a vida é extremamente dinâmica. O Ego, além de assimilar o valor educativo das experiências de sua última manifestação no plano físico, prepara o arcabouço dos veículos a serem utilizados no próximo renascimento. E mais: prepara o ambiente de sua nova manifestação. É lógico, não realiza seu trabalho sozinho, nem a seu bel prazer. Outros Egos também participam desse processo, pois de uma forma ou de outra os destinos dos seres humanos se interligam. O clima, a flora, a fauna, as variadas condições da Terra são alteradas pelo ser humano sob a direção de elevados Seres. O mundo é um reflexo do nosso trabalho individual e coletivo.
Na Região do Pensamento Concreto desenvolve-se todo esse maravilhoso processo que nos desperta a mais profunda reverência. Tudo se desenrola sob a égide da Inteligência Cósmica Criadora.
O ser humano, como microcosmos, é parte integrante dessa Inteligência Cósmica Criadora. Seu destino é converter-se também em Inteligência Criadora. Sendo assim, na Região do Pensamento Concreto ele se ocupa ativamente em aprender a construir um corpo que seja o melhor meio para expressar-se. Ninguém pode habitar um corpo mais eficiente do que aquele que é capaz de construir. Aprende-se primeiramente a construir o corpo, e, depois, aprende-se a viver nele.
Todos os seres humanos durante a vida ante natal trabalham inconscientemente na construção de seus corpos, até chegar o momento em que retida quintessência dos veículos anteriores seja neles amalgamada. Além disso, realiza, também, um pequeno trabalho original, isto é, sempre se acrescenta algo novo.
É importante lembrar que na Região do Pensamento Concreto encontram-se os arquétipos de todas as formas existentes no Mundo Físico. Os arquétipos não são simples modelos ou desenhos das formas que vemos ao nosso redor. São modelos viventes, vibrantes. Preexistem às formas e quaisquer modificações que estas sofram ocorrem primeiramente nos arquétipos.
O Ego, logicamente, antes de renascer forma o arquétipo de seu futuro Corpo Denso. Toda e qualquer deficiência no corpo indica um arquétipo igualmente deficiente. Isto nos traz à Mente um importante ensinamento oculto: é possível prolongar a vida acrescentando vitalidade ao arquétipo.
Todas as nossas ações produzem um efeito direto no arquétipo do nosso corpo. Se pensamos, sentimos e agimos em harmonia com as leis cósmicas; se entendemos os verdadeiros objetivos da vida e procuramos contribuir conscientemente para o avanço da raça humana, os Seres Exaltados que dirigem nossa evolução se interessarão em prolongar nossa vida. Assim, o arquétipo será vitalizado com o consequente prolongamento da nossa existência. Isso é sumamente importante, pois aprenderemos mais e adquiriremos valiosas experiências.
Como estudantes da ciência esotérica cabe-nos viver de acordo com esse ensinamento oculto, valorizando ao máximo nossa vida aqui na Terra.
(Publicado na Revista – Serviço Rosacruz – Set/88)
Pergunta: Por que a aversão da humanidade em relação às serpentes? O Espírito-Grupo da serpente é inimigo do ser humano?
Resposta: Enganamo-nos ao supor que toda a humanidade tem aversão às serpentes. Muitas espécies de serpentes são totalmente inofensivas, e são animais muito úteis. Colocadas nos porões de uma casa, os conservarão perfeitamente livres de insetos e ratos. No jardim, eliminam animais nocivos tais como os ratos do campo e arganazes que causam tantos prejuízos. Por essa razão, o fazendeiro experiente olha-as com bons olhos.
Quanto à aversão, esta não se limita somente às serpentes. Milhões de pessoas ficam assustadas diante de um rato, besouros, aranha e outros animais inofensivos. Trata-se simplesmente de uma questão de temperamento, e nenhum Espírito-Grupo é inimigo da humanidade ou de qualquer outra classe animal. Tudo que parecer indicar tal coisa, é uma visão errônea de examinar o assunto.
(Perg. 158 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)
A Força do Seu Pensamento
O Pensamento é uma força ARQUIPOTENTE.
LIVRA-TE, LIBERTA-TE de sentimentos sombrios.
DEUS, o Supremo Bem, está presente em cada partícula do teu sentimento-pensamento.
Ora sempre com o pensamento aberto, fluindo indistintamente, atingindo o Universo e a todas as criaturas do PAI.
O pensamento é vibração super-etérica, e que pode atingir distâncias sem fim, dependendo tudo, unicamente de ti.
Em ti, está a Força, o Poder e a razão de todas as coisas. Consubstanciado, o PENSAMENTO-FORÇA dirige teus passos, ora certos, ora incertos, de acordo com o que sejas: firme ou tíbio.
“PENSA GRANDE e teus pensamentos levar-te-ão às ALTURAS. PENSA PEQUENO e teus pensamentos levar-te-ão retumbantemente ao chão”.
Necessário se torna que aprendas a pensar: com firmeza, na direção certa, tendo sempre presente o bem, só o bem, o eterno bem.
A DIREÇÃO É INTERNA. A ordem é interna. Do INTERIOR de cada TEMPLO-VIVO, a voz sutil dá a direção, indica a senda. Não penses que é fácil! Três são as exigências: CAPACIDADE, FIRMEZA E CORAGEM. Capacidade adquirida na vivência, no estudo, na meditação e no discernimento. Capacidade adquirida em vidas vividas e na honestidade de propósito na procura.
Viver a verdade, proceder na verdade, desejar acima de tudo a verdade.
“Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida”! Eu Sou!!! Retumba vibrantemente no Universo!
É uma Canção de Força, Poder Arquipotente, Pensamento concentrado em tudo o que há de Bom, Belo, Nobre, Altruístico, Realização do SUBLIME! O pensamento, unicamente, torna-nos capazes, pois é nossa única arma, que devemos aprender a manejar com sabedoria e capacidade. O sofrimento é a Grande Chave. Ele vai nos conscientizando e quando isto acontecer, ele deixa de ser sofrimento e se transforma em EXPERIÊNCIA-GUIA. Não desesperes no sofrimento: faze dele uma Dádiva Sagrada e vai capacitando tua vida para os grandes embates. Eis o Canto do poeta:
“Sonha, mocidade, forte e viril;
Sonha, que teus sonhos são profetas”.
O Pensador não sonha! Pensa! Mas, necessário se torna, que vigies teus pensamentos, porque eles poderão causar grandes males. No meio ambiente, no seio da família, no local de trabalho, no Universo, enfim. Tudo se resume em capacidade. Capacidade de bem pensar. Capacidade de bem vigiar, capacidade de bem concentrar e conscientizar. Firme, encara o Céu e a Terra, e, com limpidez no olhar, observa todas as coisas. A luz que vem de dentro desvenda todos os mistérios, e a prática te exercita a tal ponto que não há matéria densa que teus pensamentos não penetrem. Pensar retamente, orientado pelo PENSADOR INTERNO, transforma rapidamente as condições de qualquer que assim o tente. Tuas vistas tornar-se-ão mais límpidas, penetrantes e firmes. O Sol brilhará com mais fulgor, teus sentimentos para com as criaturas do Pai serão mais harmoniosos, confiantes, amáveis; o trato será mais sincero, e, num átimo, desaparecerão todas as canseiras físicas. O repouso do teu Corpo Denso será mais perfeito, sem necessidade de muitas horas de sono para a reparação. Serão outros os sentimentos para com os teus familiares e o mundo que te rodeia. Tudo é muito sutil! O Espírito da Música perpassa num átimo de segundo, e se estiveres capacitado, sua melodia permanecerá e abençoará tua existência com o glorioso bálsamo da vida, tornando-te capaz de transmitir alegria e bem-estar ao teu redor.
Oh! Quão bela, nobre, digna, venturosa e divina será tua existência. Compartilhando, servindo, dando de ti mesmo, quanta felicidade espalharás, como dádivas dos Céus! Não é fácil viver nesse estado de eterna bem-aventurança.
É uma experiência suprema! É um estado de serenidade superior, que inspira todas as atividades da vida.
O outro atributo é a firmeza. Delinear a direção e dela não se afastar em momento algum. Firmeza e Coragem.
Enfrentar todas as coisas que a vida te impõe, com atitude equânime, confiança plena, só próprio das almas de escol. Não há nisto nenhuma Proteção Divina, nem escolha arbitrária. É um mérito hierárquico, é prática dos conhecimentos adquiridos, é a filosofia aplicada num crescendo infindo, de acordo com a Luz que se vai descortinando. Não esqueças, porém, que a quem muito é dado, muito será exigido. Não podemos esconder nossa agulha no palheiro. Nossa vida precisa ser de ações claras, exemplos edificantes. O que importa tudo o mais se nada te falta? Viver assim, é viver no Eterno Agora, fruindo da Eterna Fonte de todas as coisas e não das migalhas atiradas da “MESA DOS FESTINS”. Senhor e não escravo, não importa a posição que ocupes aos olhos dos demais. Quando compreenderes claramente a Parábola do Cristo: “Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”, saberás que as coisas Divinas não se podem confundir com as coisas mundanas. É necessário que tenhas bem presente esta distinção. Não podes fugir do mundo, mas precisas te desfazer em definitivo das coisas pegajosas. Toma cuidado: o orgulho e a vaidade acompanham o santo, bem como ao ser humano comum. Estes dois impostores transmutam, quando estiveres nas alturas, aparentando virtudes e purezas. É necessário o coração puro de uma criança. “Deixai vir a mim os pequeninos…” O Modelo é o Cristo. Ele, tão e só, no seu Sublime Amor e edificante sacrifício, te serve de modelo. Não podes fugir! Não podes recuar ou estagnar. É preciso caminhar sempre, confiante no destino superior, certo de que, “Na Casa do Pai há muitas moradas” e a todas devemos ir conhecendo paulatinamente. É uma dinâmica, é uma constante, é uma batalha sem quartel. O Poder Criador deve ser exercido com a consciência clara, o conhecimento pleno, a majestade do sereno vencedor!!! No silêncio extraordinário da tua alma, Ele está Ali, no lugar recôndito, Silente, Certo, Inconfundível, Único e Absoluto.
É necessário que haja plena, completa, absoluta firmeza, porque a responsabilidade é só tua, e responderás por todo e qualquer deslize.
Que extraordinário, que estupendo! A ninguém devemos dar contas a não ser ao SILENTE INTERNO e OBSERVADOR! Ao Poder Crístico, ao Pai, enfim.
Caminha, passos firmes, cabeça ereta, despido do mesquinho, cônscio da tua única responsabilidade ante a LUZ INTERNA!
Que a areia do tempo não detenha teus passos, deixando apenas em ti, a consciência, a certeza, da grande escola que é a vida.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – Fraternidade Rosacruz – jan. /76)
Entre a Ilusão e a Realidade
O progresso humano, desde a aurora da manifestação do espírito, desdobra-se em fases denominadas pela Filosofia Rosacruz de Períodos, Revoluções, Épocas e Idades. São etapas específicas na peregrinação do “ser real” em que determinadas e particulares condições implicam em experiências novas e transformações. Assim, a consciência gradualmente se expande, os veículos (corpos) são formados, desenvolvidos e, em um estágio superior, sensibilizados.
A necessidade de adaptar-se a novas situações, as decorrentes experiências, formam a alma, e conduzem o espírito da inconsciência à divina onisciência. Dessa forma, a vida literalmente é uma escola. Rica. Variada.
Uma nova Idade, embora constituindo uma espiral menor dentro das grandes espirais – os Períodos e as Épocas – traz sempre um novo ciclo de ideias e consequentemente uma gama de transformações. Como a natureza não abriga processos repentinos, as mudanças se operam lentamente e têm seu início ao apagar das luzes da Idade anterior. O estertor de um ciclo e a aurora de outro, marcam uma fase de transição, em que a mescla de ideias e valores, uns decaindo, outros nascendo, cria uma atmosfera conturbada. Isto ocorre atualmente.
Vivemos uma era de transição para a Idade Aquária. Entramos em sua órbita de influência, segundo a precessão dos equinócios, em meados do século passado. A conquista do ar e do éter – rádio, telefone, telégrafo, televisão, avião, viagens espaciais – marcam o desabrochar de novos tempos, sob o raio de originalidade e racionalidade de Urano.
Nem todos, porém, encontram-se preparados para as referidas transformações. A maioria permanece inconsciente do que verdadeiramente se passa ao seu redor. Daí esse clima de incerteza e insegurança.
Em meio a essa aparente confusão, só os mais amadurecidos espiritualmente encontram o seu foco, sentindo pisar em solo firme.
A moderna civilização, arraigadamente materialista e imediatista, já não oferece estabilidade ao ser humano, mormente a estabilidade emocional. A competição egoísta, a incompreensão do verdadeiro significado da vida e das mudanças nela ocorridas, geram neuroses. As pessoas buscam desesperadamente algo em que possam apoiar-se. Nem sempre o “apoio” encontrado é digno desse nome. Constituem, as mais das vezes, fugas. Simplesmente fugas. O “escapismo” acaba por atirar os seres humanos, mais cedo ou mais tarde, em um labirinto, de onde com muita dificuldade conseguem sair. Quando conseguem.
Nota-se, também, nos dias que correm, uma tendência à procura de segurança no “desconhecido”. Hoje, as editoras e livrarias, veem nas obras ocultistas, espíritas e orientalistas uma excelente perspectiva de lucro. Esta faixa de mercado livreiro alarga-se cada vez mais. Vivendo como vivemos, sob a comprometedora sombra do materialismo, é mais do que justo o anseio de cultivar o espiritualismo. Todavia, há espiritualismo e “espiritualismo”.
Muitos, movidos por boa-fé, deixam-se iludir, confundindo espiritualismo com psiquismo. Entregam-se à leitura afoita de toda e qualquer obra, praticam exercícios sem conhecer-lhes os fundamentos, frequentam várias Escolas Filosóficas ao mesmo tempo. Na realidade, deslumbra-os o psiquismo. Por este, entendemos a manifestação ou demonstração de faculdades, muitas vezes negativas, assim como a produção interesseira de fenômenos. Deve-se dizer, a bem da verdade, que esta espécie de “espiritualismo” é tão danosa à saúde física, mental e emocional – quando não à formação moral – de um indivíduo, quanto o materialismo crasso.
Nos tempos agitados em que vivemos é fácil alguém cair na cilada preparada pelos falsos “mestres” e “guias”.
Que ninguém se empolgue com a exibição de fenômenos supostamente sobrenaturais. Eles são parte da própria natureza, e não conferem a quem os produz a dignidade de MESTRE. Para ser um MESTRE ESPIRITUAL é necessário muito mais do que isto.
O espiritualismo divulgado pelas Escolas Filosóficas sérias, tais como a Fraternidade Rosacruz, constitui, antes de mais nada, uma orientação para o aperfeiçoamento do caráter. Não há interesse algum em demonstrações ou exterioridades. Explica-se a causa dos fenômenos psíquicos com intuito exclusivamente elucidativo.
Além disso, outro ponto merece ser enfatizado: toda Escola ou corrente espiritualista verdadeira deve divulgar um conjunto de ensinamentos cuja ação, essencialmente regeneradora, possa ser comprovada na prática.
Max Heindel afirmou que nenhum ensinamento terá valor real como lição de vida, se não promover uma transformação interior no ser humano. E essa mudança pode ser notada através de suas manifestações normais.
Em outras palavras: são os frutos que revelam o caráter do indivíduo.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – Fraternidade Rosacruz – fev. /76)
Resposta: Sempre que consideramos as pessoas com deficiências como formando uma classe à parte, devemos compreender que o Espírito não é deficiente .
Ele já teve várias vidas anteriormente, durante as quais semeou certas sementes e delas colheu experiências apropriadas. As experiências que não puderam ser colhidas em uma única vida foram deixadas para a vida seguinte ou para vidas posteriores, quando então foram seus frutos colhidos.
Nenhum de nós, contudo, é capaz de expressar em um único corpo todas as conquistas de nossas inúmeras vidas anteriores.
Portanto, temos anomalias aparentes, trazidas à luz através da investigação dos pesquisadores psíquicos que descobriram que pessoas ignorantes, pertencentes nesta vida à classe dos lavradores, não obstante, quando em estado hipnótico ou em transe, eram capazes de falar grego e hebraico, ou discorrer doutamente sobre assuntos os mais abstrusos. Torna-se, pois, evidente que podemos comparar o espírito a um diamante bruto que está sendo gradualmente polido pelo esmeril da experiência. Em cada vida uma nova faceta permite a entrada da luz e a adiciona à luz já obtida através das facetas esmerilhadas em muitas vidas anteriores. Por meio desse processo atingiremos, eventualmente, a luz perfeita que nos tornará divinos.
Devido à nossa percepção limitada, chamamos de maus a certos atos e de bons a outros, enquanto que de um ponto de vista mais amplo, trata-se simplesmente de uma questão de experiência. Alguns caracteres ou facetas do diamante espiritual parecem perfeitos nesta vida. Pelo menos eles não se afastam do comum o bastante para serem notados e por isso os chamamos de perfeitos.
Outros são diferentes do resto, e por esse motivo, em nossa ignorância, chamamo-los de deficientes. O mesmo acontece aos corpos.
Embora na realidade nenhum de nós possua um corpo perfeito, estabelecemos, contudo, uma média como padrão, e tudo o que não se aproximar desse padrão será por nós chamado de deficiente.
Permitimos às pessoas que mentalmente não são muito diferentes de nós continuarem a viver entre nós sem serem molestadas, mas encaramos todos os que têm mentalidade extremamente diferente, como anormais ou pelo menos, esquisitas. Não damos muita importância às deformidades comuns do corpo, mas chamamos de aleijados àqueles que são radicalmente diferentes do padrão comum. Há pessoas que julgam ter o direito de destruir tudo ou todos os que consideram ser anormais.
Na realidade o corpo normal é o resultado de um certo método de vida que era padrão em existências anteriores.
Mas aqueles de quem dizemos ter mentes ou corpos deficientes são o resultado dos esforços feitos pelo espírito para ter a liberdade de se mover ao longo de linhas de pensamento ou ação que chamaríamos de não-convencionais. Portanto o gênio e a imbecilidade sempre foram irmãos gêmeos, e todo médico que tente ceifar a vida de um ser por julgá-lo deficiente é tão responsável em privar o mundo de um grande gênio quanto de livrá-lo de uma pobre criatura que seria um fardo para si mesma e para os outros, durante sua existência miserável. Portanto, levando em conta esse fato, seria absolutamente contrário aos interesses da sociedade, permitir a quem quer que seja a decisão arbitrária a respeito da vida ou morte de uma criança. Todo médico tem o dever de fazer tudo o que seja possível para prolongar a vida do corpo a fim de que o espírito possa ganhar a experiência para a qual nasceu. Se essa vida deve ser ceifada precocemente a natureza se encarregará de fazê-lo.
A investigação do caso Bollinger mostrou-nos que aquele Ego fora uma freira em sua vida passada, e que morrera queimada no cadafalso. Como resultado disso perdeu o fruto daquela vida, e de acordo com a lei da mortalidade infantil era necessário que o novo corpo morresse logo depois do nascimento. Portanto, nenhuma operação teria salvo aquela Vida; mas isso não afasta o fato de que o médico foi negligente em seu dever ao não se esforçar por preservar a Vida. Esse Espírito já está no Primeiro Céu onde receberá a instrução moral que lhe devolverá os frutos da experiência acumulada durante a vida passada tão infeliz. Portanto, quando renascer dentro de poucos anos terá, provavelmente, um corpo perfeitamente normal.
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[1] N.T.: O bebê Bollinger, nascido de Allen e Anna Bollinger, nasceu com várias anormalidades físicas em 1915. O cirurgião Harry J. Haiselden aconselhou os pais de Bollinger a renunciar à cirurgia que poderia ter salvado a vida do bebê. Haiselden então trouxe este caso para o público através de uma conferência de imprensa e argumentou que uma “morte por misericórdia” era mais humana. Haiselden atraiu apoiantes e críticos através do seu apoio à eutanásia nos Estados Unidos. Ao contrário de Jack Kevorkian, Haiselden não ajudava pacientes que desejavam ser sacrificados. Em vez disso, Haiselden escolheu eutanizar bebês que nasceram com deformidades.
O caso Baby Bollinger trouxe Haiselden à luz pública quando ele começou a defender agressivamente a eutanásia. Haiselden escolheu defender a eutanásia sob a ideia de “assassinatos de misericórdia”. Depois do caso de Bollinger, a Haiselden começou a negar tratamento que salvasse vidas também a outros bebês e defendendo a eutanásia de indivíduos que não podem cuidar de si mesmos.
(Perg. 146 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)
O Diálogo e a Evolução
Toda coexistência é, necessariamente, uma forma de diálogo; de evocação e invocação do íntimo; de recurso ao outro e a si próprio.
É contraditório que, numa época em que os meios de comunicação se aprimoram, aproximando os seres humanos pela eliminação das distâncias – estejamos tão carentes de um autêntico diálogo, que consiste em nos comunicarmos essencialmente, íntimo a íntimo.
A maioria considera que uma pessoa civilizada é a que adquire a habilidade de viver com todos, sem chocar-se com ninguém. Chamam, a isso, a virtude da diplomacia, tacto, “savoir-vivre”, prudência, etc. Examinemos melhor esta atitude.
A experiência da vida nos vai revelando que é perigoso entrar na intimidade de uma pessoa; é delicado tocar numa existência. Uma palavra a mais, uma palavra ocasional mal colocada e sem intenção, basta para desencadear reações surpreendentes, desproporcionadas. Sabemos porquê. O ser vai gravando experiências e cada uma delas constitui uma “máscara” ou um “eu”. Esse “eu” reage sempre, de forma positiva ou negativa, quando ocorre algo semelhante ao fato que ele guarda. É uma associação. Uma interferência do passado.
Contra essa ameaça, a tradição de “bem viver em sociedade” foi catalogando normas para as pessoas “bem-educadas”. São fórmulas pré-fabricadas e temas de conversa sem perigo para ninguém, fala-se do tempo, fatos do dia etc., tal como na peça crítica “Pigmaleão” de Bernard Show, em que se provou que podiam transformar uma moça de baixo nível social numa perfeita “mademoiselle”, mediante a observação cuidadosa de certo verniz convencional.
É corrente que devemos manter a discrição reticente, que permita a cada indivíduo escapar, tanto quanto possível, ao perigo dos outros. E nisto as pessoas estão fugindo também de si mesmas, para evitar a reação de seus “eu’s”, quando se expõem a certas experiências e ultrapassam os limites de seu modo de ser.
Do ponto de vista esotérico, isto é um extremismo inconveniente, que anestesia o desenvolvimento interno.
A fuga à experiência, para assegurar uma vida tranquila e descuidada é, no fundo, acomodação à personalidade viciosa que não quer mudar. O desafio é inevitável, apesar da reação dos “eu’s”, convidando o indivíduo ao mais alto nível de consciência. Toda transformação é uma revolução que instala insegurança no antigo e sua resistência ao novo, que a evolução solicita. O processo de evolução se desenvolve mais rapidamente quando nos abrimos às contribuições dos outros, com seus diferentes e novos ângulos de visão.
Permanecer em torno de suas próprias possibilidades é entrar num círculo vicioso, onde nos cansamos de andar, na ilusão de ir em direção à meta.
Quando um camponês vem à cidade grande, choca-se facilmente na rua com os transeuntes; porque está habituado a muito espaço e não desenvolveu a habilidade de caminhar entre multidões. Já o que mora na cidade, por força do hábito, tem grande maleabilidade e sabe manter distância com os outros, apesar da proximidade e promiscuidade.
É interessante estabelecermos correlação psicológica. O camponês é simples e usa de uma franqueza rude ao morador da cidade. Este, num outro extremo, usa de uma insinceridade falsa, como num esforço de definir uma zona de segurança contra a ameaçada e constante usurpação dos outros.
Para este é uma virtude social a arte da reticência, que permite continuar mascarado e cruzar com os outros, sem pensar em ver neles alguma coisa mais que a máscara.
Assim, torna-se inevitável o choque, antes de haver o autêntico diálogo.
Pela experiência social, ocorre o encontro entre duas existências que se revelam, uma à outra e cada uma a si própria, pelo choque da presença que nos obriga a nos descobrirmos tal como somos – e não como pensamos que somos.
Feliz de quem pode se conhecer, através do diálogo e confronto com outro estado de consciência afim. O destino está sempre atuando pela lei de “atração de semelhantes”, pondo face-a-face dois caracteres afins para que ambos se descubram, através dos defeitos do outro, que são os defeitos de si mesmo – e que por isso mesmo inconscientemente detesta.
Se chegam à essa experiência e sem despertar, têm possibilidades de manter relativa harmonia matrimonial e nos relacionamentos em geral, “conservando a prudência nos justos limites”. Só através de uma vida de atenta auto-observação é que vamos aprendendo a definir os limites da prudência de trato, que varia segundo o meio, a educação, etc.
Regra geral, porém, as pessoas fogem de si mesmas; negam-se ao diálogo e quando a vida as lança numa intimidade obrigatória, os choques culminam em separação, porque dificilmente chegam a admitir suas próprias falhas, para poderem encontrar-se num espaço de harmonia, cada um compreendendo e aceitando a si mesmo e ao outro, tal como é.
No estágio atual, o amor, a amizade, provocam esse desvelar-se e revelar-se, para que cada um chegue à uma consciência de si próprio, que lhe faltava antes. A cada desdobramento o indivíduo se abre e se afirma, dinamizando potencialidades latentes. Mas nesse revelar-se, nesse abrir do íntimo, surgem também à tona da consciência, o melhor e o pior de cada um de nós, num antagonismo chocante, o que faz com que o eu e o tu se liguem e se desliguem, na procura de uma unidade que os englobe, conciliando seu egoísmo maior ou menor. Só a compreensão e aceitação de si mesmo pode fazer nascer o terceiro elemento que concilie os opostos, internamente e na relação com o outro.
O relacionamento social é marcado por um constante religar-se e desligar-se dos outros. Um aborda o outro e se deixa abordar, ensejando uma experiência sempre nova, de tristeza ou de alegria, convidando-nos a atingir mais altos níveis de evolução e de compreensão, no fluxo e refluxo das vicissitudes cotidianas.
Observem a dificuldade que a maioria tem, de participar de um debate que resulte em mútuo proveito e edificação. No debate, cada um se expõe ao perigo do outro, cada um levando seus condicionamentos e complexos, comprometendo a universalidade do tema, a impessoalidade da verdade. Ninguém pode dizer antecipadamente como irá terminar a aventura, de finalidade comum. Raros são os indivíduos que se situam, um e outro, em relação a uma mesma verdade, manifestando fidelidade aos mesmos valores que lhes motiva o trabalho de equipe.
Muita gente, tida por instruída, incorre nessa falha de equipe. É um contrassenso porque o sentido etimológico de instruir (do latim) é construir, edificar. A mesma deficiência ocorre nos meios profanos e religiosos, quando seria de desejar, que os verdadeiramente religiosos (ligados ao Divino interno) estivessem mais vigilantes com sua natureza inferior.
Só o que sinceramente busca a verdade impessoal está preparado para o diálogo. O que justifica o diálogo é a vocação comum que incita duas pessoas a transcenderem a si mesmas. A verdade constitui o terceiro elemento que enseja o diálogo e o converte numa relação a três termos.
Na obra “Timon de Atenas”, Shakespeare desmascara a falácia da usual generosidade. Timon gasta sua fortuna em banquetes com falsos amigos e quando chega à falência, recorre a eles e ninguém o ajuda. Sensibilizado e com mágoas incuráveis contra os homens, condena-se a um exílio voluntário entre animais, como sinal de alienação e confissão de fracasso no diálogo da vida. Ora, a verdadeira generosidade guarda os limites da prudência e discernimento. Sobretudo, compreende e aceita cada qual como ele é sem permitir que o relacionamento exorbite sua integralidade.
Mais que generosidade, o que suscita, justifica e valoriza o diálogo é o AMOR. O amor, com seu impulso de coalizão e no sentido lato, é, no fundo uma forma de pedagogia; e toda pedagogia é uma forma de amor. Sem este fator essencial, qualquer expositor não atinge seu fim.
A educação não tem sentido se não há convergência de vontade de todos os participantes, a um fim mais alto, em que suas intenções se juntam. A despeito das diferenças de níveis, há uma confraternização de almas.
Diz Saint Exupéry que “o diálogo, com amor, em vez de fazer um olhar para o outro, leva os dois a buscarem um ideal comum”. De fato, amar é ajudar-nos mutuamente a alcançar o objetivo comum, razão de nossa existência. Ninguém pode furtar-se a esse dever, uma vez que o sente. Eis a regra de moral kantiana: “Deves, logo, podes”. O sentido amoroso de dever já traz consigo as condições e possibilidades de realização. Ora, onde melhor se pode realizar esse ideal, senão na Fraternidade? Nela, todos devem empenhar-se, através de um diálogo baseado no amor, no desejo de servir, inspirado na verdade que recebemos, para a missão educativa conducente à Universalidade.
O diálogo é o princípio do aprendizado. Ele defronta duas pessoas num propósito definido para que deem mútuo testemunho de suas possibilidades internas.
Pode parecer que o diálogo limite a verdade a um mecanismo de debate entre duas inteligências. Se forem duas personalidades auto afirmativas com pseudo-sentido de superioridade, essa limitação existirá. Mas se for a sinceridade e o amor que motivam o encontro, o diálogo, ao contrário, abre caminho à verdade, pelo circuito da pluralidade de pontos de vista que buscam conciliar-se, alargando os horizontes.
Cada um se ajuda, aceitando provisoriamente não ter razão e ser ignorante nas coisas que o outro expõe. Aceitando todas as coisas como possíveis, pondo de lado conceitos preconcebidos, o diálogo transpõe o monólogo, o monopólio da palavra, dando começo a um processo em que a verdade se expressa, não pela pessoa mesma, senão pela atmosfera indefinível de elevação, na qual é possível cumprir-se a promessa do Cristo: “Onde dois ou três se reunirem em Meu nome, ali estarei neles”. Em tal circunstância, a luz far-se-á, com toda a segurança.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/76 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Feliz Páscoa! – Dizemos todos os anos, trocando cartões, coelhinhos e ovos. Mas, aproveitemos a pausa da semana santa e meditemos seriamente: por que “Feliz Páscoa”? Que sentido tem ela para nós?
Um religioso nos dirá: “Comemoramos gratamente a Páscoa, em homenagem Àquele que se sacrificou por nós; que demonstrou a vitória sobre a morte, ao ressurgir do túmulo, três dias depois da crucifixão, conforme prometera; que, finalmente, ascendeu aos céus, quarenta dias após. Está à direita de Deus-Pai, intercedendo por nós”.
Insatisfeitos, perguntamo-nos: que significa isto para nós?
A Filosofia Rosacruz ensina que as nove Iniciações Menores representam os nove principais passos da vida de Jesus, pois a biografia do Mestre foi tomada para velar, em cada Evangelho, o caminho de iluminação de cada Aspirante. Os nove passos ou mistérios de Jesus, são:
Duas etapas se distinguem nessa luminosa ascese:
A penetração da consciência do Iniciado na obra evolutiva referente aos Períodos de Júpiter, Vênus e Vulcano, dizem respeito às 1ª, 2ª e 3ª Iniciações Maiores. Na 4ª Iniciação Maior, o Iluminado candidato atinge a condição de Libertador, optando entre permanecer ajudando seus irmãos na Terra ou partir para uma evolução mais alta, em Júpiter. A Páscoa trata da segunda etapa. É o processo de libertação do Período Terrestre. É a superação de todo o trabalho deste Período. É o cortar do cordão umbilical que nos condiciona ao Planeta, quando nos conscientizamos de todas as suas leis ou mistérios.
Começa a Páscoa quando o candidato, no plano mental abstrato, na 5ª Iniciação, deve transcender sua personalidade. São Paulo, o Apóstolo que conheceu essa experiência, que dura mais ou menos tempo, conforme o Candidato. Ele se refere a si próprio quando diz “conhecer um homem que foi arrebatado ao 3º céu e lá viu e ouviu coisas que não lhe é lícito contar”. Estava no plano mental abstrato, onde a universalidade do Espírito se limita a uma consciência egóica.
São Paulo sentiu agudamente o Horto da Agonia, nos embates entre a personalidade e o Divino interno. Mas venceu a prova, pois afinal exclama triunfante: “Não mais eu quem vivo, mas o Cristo vive em mim!”.
O próximo passo – a 6ª Iniciação Menor – foi vivenciada por São Francisco de Assis, que apresentou os sinais interiores das estigmatas (dos ferimentos), naqueles pontos físicos em que o Espírito fica preso ou crucificado à cruz do corpo.
Na 7ª Iniciação Menor, o Candidato experimenta o morrer para o sentido humano. Esse processo dura certo período, simbolizado pelos três dias no túmulo. São três etapas em que dissolvemos os traços humanos dos corpos físico, emocional e mental. Então elevamos o grau vibratório de nossa tripla instrumentação e podemos ressurgir para mais alto estado. Não que a gente suba aos céus. Isto é um sentido simbólico. Não subimos para nenhum lugar, senão que experimentamos uma expansão de consciência e alcançamos mais profundamente os mistérios de nosso ser e de nosso Planeta.
Vem a Ressurreição – a 8ª Iniciação – na qual o Candidato adquire a capacidade de sutilização do corpo, a faculdade plena de materializar-se e desmaterializar-se, mediante o domínio da vontade e poder excepcional de concentração. Eis a explicação de o Mestre haver passado através das paredes e entrado na habitação fechada onde se achavam reunidos dez Apóstolos (Tomé estava ausente); e depois aos onze (Tomé junto). Mas ainda remanescem os sinais da estigmata – os últimos vestígios de influência terrena, que devem ser definitivamente dissolvidos, nos simbólicos quarenta dias (período indeterminado de tempo).
Aí vem a última etapa ou 9ª Iniciação Menor, em que estava João Batista: a Ascensão. Seu mesmo espírito havia animado, em anterior encarnação, a expressiva figura de Elias – o profeta – que subiu aos céus num carro de fogo (Ascensão). João Batista, estava a ponto de passar à primeira Iniciação Maior, como Adepto. Por isso foi dito dele, por Cristo: “Dos nascidos de mulher, João Batista é o maior” – isto é, dos que ainda têm de nascer do ventre materno, porque ligado às leis da Terra, João Batista era o mais alto Iniciado. Quando o Iniciado passa à primeira Iniciação Maior, adquire o mistério da Alquimia Espiritual. Ele domina todas as leis da matéria, e pode reunir elementos restantes da assimilação dos alimentos e conservá-los, para ir formando outro corpo, além do que ocupa. Quando ele termina sua missão num certo país e deve começar outra num país diferente, deixa o corpo antigo e toma o novo, para surgir como uma nova pessoa. Então se diz que “fulano morreu”. Esses elevados Iniciados trabalham no mundo, em missão de equilíbrio, para assegurar os rumos do destino evolutivo humano, dentro de certos limites de respeito ao livre arbítrio.
Todos teremos de passar, a nosso modo, por esses estágios.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/76 – Fraternidade Rosacruz – SP)
O Aspecto Cósmico da Páscoa
As quatro estações do ano determinam, desde os mais remotos tempos, os mistérios da relação do ser humano com a Terra (Planeta-mãe) e de ambos com o Sol. Constituem o importante Mistério da Nona Iniciação Menor.
Ademais das influências zodiacais, que levaram os Guias-Iniciados a estabelecer as formas religiosas (religião do Touro, do Cordeiro (judaica), dos Peixes (cristã), etc.), houve, desde recuados tempos, uma tradição esotérica ligada aos equinócios e solstícios. Encontramos essa tradição, velada por mitos, nas várias civilizações que nos precederam.
A passagem pelo Mar Vermelho e a travessia de quarenta anos pelo deserto, na história dos hebreus, relatada na Bíblia, é um simbolismo da evolução através do Signo de Áries, cuja cor é o vermelho e cujo Signo é o Cordeiro, tomado por adoração em lugar do bezerro.
Quando Moisés negociava com o Faraó a libertação de seu povo, este lhe resistiu, e o Senhor fez cair sobre o Egito as famosas pragas, que culminaram na matança dos primogênitos. Para preservar seus lares, os israelitas sacrificaram o Cordeiro e pintaram com sangue as ombreiras das portas. Por essas casas a morte não passou. É um símbolo de que, na transição evolutiva de uma para outra Era, aqueles que resistem acabam se cristalizando e ficando para trás. O cordeiro é o emblema da Dispensação que deveria suceder à do boi Ápis. Na pressa de deixar suas casas, quando o Faraó finalmente cedeu, os israelitas esqueceram o fermento em casa e tiveram que fazer seus pães sem fermento. Daí se originam os pães ázimos, lembrança da libertação do Egito.
Como símbolos, o sangue derramado do cordeiro representa a expiação; e os pães sem fermento, a pureza decorrente dela.
De toda a maneira, antes do êxodo, os solstícios e equinócios já haviam influído na determinação dos principais festejos, em todos os povos. A libertação do Egito ocorreu na Páscoa e a ela está associada, pela razão esotérica já exposta, a transição evolutiva para a Era de Áries. Mais tarde, o sacrifício do Cristo ocorreu na mesma Era, para designar a transição para a Era de Peixes.
Herdeira dos mistérios astrológicos ocultos, a tradição cristã-esotérica nos conserva o Cristo Solar, com seus doze Apóstolos, substituindo a epopeia de Sansão e a história de Jacó e seus filhos.
Desde Seu sacrifício, pelo qual o Cristo se crucificou à cruz da Terra, para redimi-la dos registros negativos dos pecados dos seres humanos. Ele desenvolve uma sublime e penosa missão, em ciclos correspondentes aos equinócios e solstícios.
No cristianismo popular este mistério remanesce como tradição, nos festivais cristãos (Natal, Páscoa, Festas juninas de São João, São Paulo e São Pedro e Imaculada Conceição).
Hoje a Igreja católica volta a considerar, com razão, a Páscoa, como o mais importante acontecimento do ano cristão. Nela o Senhor demonstrou o triunfo do Espírito imortal, levantando-se do túmulo, ressurgindo dos mortos e dando o modelo do que todos nós, ao devido tempo, devemos individualmente alcançar. O fato é relacionado com o dia de Pentecostes, o batismo de fogo prometido, que o Messias interno há de nos dar, para abertura interna e comunhão com todos os seres, além de todas as línguas, limitações e preconceitos.
Os cristãos-esoteristas (Estudantes Rosacruzes) comemoram a Páscoa na entrada no Equinócio de Março, com um ritual adequado que nos relembra a missão do Salvador, e a tarefa individual de libertação, de si e da Terra, em colaboração com o Cristo. Adverte, mais, que Ele, na Páscoa, uma vez mais deixa a cruz do Planeta, onde voluntariamente se cravou, desde o último Natal, a fim de insuflar um renovado impulso de Sua Luz e Amor, que eleve vibracionalmente a Terra em seus nove estratos, além de suscitar o altruísmo de todos os homens e mulheres, na medida da receptividade deles.
Recomendamos aos estudantes estudar e meditar profundamente sobre os mistérios dos Solstícios e Equinócios, em ligação com a missão do Cristo. Por eles, poderão compreender como, desde o dilúvio que abriu os portais do Arco-Íris para a Era Ariana, as estações do ano constituíram os ciclos alternados, em graus maiores e menores, de todos os fatos evolutivos, começando com a festa das primícias (os primeiros frutos), início do ano solar.
Ao conscientizarmos, ainda que em pequeno grau, os ciclos da vida do Cristo, assumimos um dever inegável, prazeroso e caloroso, de colaborar no plano de Salvação do Mundo, começando conosco mesmos – que é de nosso exclusivo interesse, – pois não temos feito tudo o que poderíamos fazer em prol de nossa libertação.
Ao começarmos uma vida nova, o ano também se torna novo para nós – um convite desdobrado em quatro etapas de realização trimestral, nas quais somos desafiados a tomar a nossa cruz, a assumir conscientemente nosso destino e caminhar para a libertação, seguindo a meta do Cristo. Então estaremos atuando em ritmo e harmonia com o Universo. Deixaremos de ser um peso a mais para o Cristo. Ao contrário, converter-nos-emos em Simão Cireneu – aquele que ajudou a carregar a cruz do Senhor. Com isso estaremos abreviando o tempo para nosso interno Pentecostes, cuja abertura e despertar nos traçarão o umbral para uma vida mais ampla. Será o cumprimento: “rasgou-se o véu do Templo de alto abaixo”. Será o romper do ovo da páscoa individual, para que o “novo nascido”, havendo cumprido o período de amadurecimento interno (3×7); havendo realizado o trabalho de dentro para fora, pode nascer como pintinho. Mas será ainda um pintinho, convidado a tornar-se um galo – símbolo da vigilância, do ser realizado – pelas Iniciações que o esperam.
O pintinho não pode abreviar sua gestação de 21 dias, porque está inteiramente sujeito a um trabalho externo. Mas o ser humano pode abreviar seu amadurecimento interno, porque atua de dentro – quando assume
conscientemente a tarefa evolutiva. O tempo de romper o ovo depende de cada um.
Você, agora, está dentro do ovo de seus corpos. Esperamos que aproveite a oportunidade que está recebendo e se esforce devidamente, para abreviar o tempo de maturação e possa romper a casca de seu ovo, nascendo para uma vida nova.
Cada iniciado e mesmo cada estudante sincero que trabalha conscientemente na Missão do Cristo, é um carvão a mais, para aumentar em progressão geométrica, o fogo e a Luz redentora – até que um número suficiente de seres humanos possa manter a Terra na própria levitação.
Será, então, a última Páscoa do Cristo; a consumação dos séculos (tempos profanos); e o definitivo
“CONSUMATUM EST”!
(E ao subir, Ele a todos nos elevará também)
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/76 – Fraternidade Rosacruz – SP)
“Faça-se a Tua vontade e não a minha”: declaremos e a pratiquemos de fato
Em todos os tempos existiram pessoas que procuravam conseguir as suas coisas materiais, através das religiões. Hoje em dia, ainda é grande o número delas que chega a se filiar a esta ou àquela entidade religiosa, com o principal objetivo de conseguir emprego, casamento, moradia, saúde e todas as demais necessidades, sem falar naquelas que usam a religião para fazer mal aos outros.
Toda a oração bem-intencionada é válida. O abuso ou o pedido mal encaminhado, é que constitui o grande perigo.
Porque, além de a pessoa estar se expondo a tornar-se preza de forças que desconhece, seus pedidos mal feitos ou feitos com forçada intensidade, poderão trazer consequências desagradáveis e até funestas.
Não há nenhum exagero no que ensina a Filosofia Rosacruz, especialmente no Ritual de Cura, que todo o pedido encaminhado diretamente a Deus, deve ser enfeixado com estas palavras: “Mas faça-se, Senhor, a Tua vontade e não a minha”.
Esta forma de pedir, aliás, não diminui o valor do pedido, como poderão pensar algumas pessoas. Pelo contrário, até orienta os resultados para que cheguem ao destino de maneira correta, sem nenhum prejuízo. E mesmo que as coisas não aconteçam exatamente como se pediu, podemos ficar tranquilos que o que vier, será a resposta certa do Pai.
Mesmo porque, se não usarmos aquela afirmação no final da oração, a responsabilidade de atingir, bem ou mal este ou aquele desejo, fica toda por nossa conta.
Porque, às vezes, para que se cumpra com exatidão o nosso pedido, poderá haver alguma exigência, alguma necessidade de acomodação que, por seu turno, vai recair em algum sacrifício a fim de que se chegue ao merecimento, do que se quer. Daí, ao transferirmos ao Pai a responsabilidade total no atendimento dos nossos pedidos, ficamos isentos de qualquer necessidade de acerto em nossos valores.
Às vezes, o pedido feito indiscriminadamente, não leva a necessária preocupação em saber se temos ou não, merecimento da dádiva de Deus. Se pensarmos, mesmo, só nos nossos desejos, talvez nem imaginemos se não será preciso, primeiro, fazer alguns ajustes em nós mesmos, em nosso temperamento, em nosso modo de vida, em nossos contatos com as outras pessoas, enfim, em muitos outros assuntos de vital importância, para que Deus possa atender-nos conforme a nossa vontade.
Além do mais, passando para Deus a responsabilidade do acerto, estamos cumprindo um ato de fé, pois confiando n´Ele e na Sua Sabedoria, estamos acreditando que Só Ele, que tudo vê, poderá dar-nos justamente aquilo que é para nós, que será melhor para a nossa vida e o nosso destino divino.
Então, mesmo que muitas vezes a solução pareça demorada e se passem semanas, meses e até anos, para que se cumpra o pedido, podemos estar seguros de que quando vier, será exatamente aquilo que merecemos, além de ter chegado na hora exata, no momento adequado. Nós mesmos, alguma vez podemos ter comprovado que certas coisas que pedimos cegamente e não as conseguimos logo, não teriam dado certo se tivessem vindo antes da hora em que vieram, como, aliás, pretendíamos que ocorresse. É que Deus, para tornar possível a nossa aquisição, esteve o tempo todo acertando os ponteiros do nosso relógio, acomodando certas coisas em torno de nós, inspirando-nos talvez à correção de alguns defeitos, ou acertando outras coisas dependentes de nós mesmos, para que o ambiente se ajuste à realização perfeita do pedido, sem choques nem desarmonias.
E há, também, um particular nesta questão de pedidos: quando a pessoa vai ter necessidade de receber alguma coisa, ou melhor, quando vai chegar ao ponto de merecer alguma dádiva material ou espiritual, ela própria irá se condicionando a querer aquilo, mesmo que, talvez durante muito tempo antes, se tivesse negado, a si mesma, a esse desejo, achando subconscientemente que não o merecia.
O próprio merecimento amadurece o momento, encaminhando as pessoas e preparando-as para receberem tudo aquilo que lhes está reservado pelo destino. Em suma, as pessoas, não raro, começam a querer aquilo que finalmente chegaram à condição de receber.
Por isso, jamais devemos fazer as nossas solicitações com data marcada nem com insistência. Sejamos humildes em nossos pedidos, entregando sempre diretamente a Deus a solução de todos os nossos problemas. Porque aqueles que forçam situações, muitas vezes até acendendo velas e impondo pedidos a entidades, sejam de terceiro ou mesmo dentro do catolicismo, para as almas do Purgatório, por exemplo, estão se expondo a receber, no futuro, talvez até depois da morte – a cobrança das suas imposições. Porque as almas do Purgatório nada mais são do que espíritos sofredores, atrasados, que estão cumprindo pena de seus próprios erros, e que, na sua ignorância e limitações fazem qualquer negócio para saírem da situação em que se encontram, acreditando que as velas em sua intenção, poderão abrir portas, cuja abertura, na verdade, está dependendo da expiação dos erros de cada um.
Assim sendo, antes de fazermos qualquer pedido por nós ou por outrem, abaixemos a cabeça com humildade, expondo a Deus os nossos problemas, dizendo-Lhe tudo o que desejaríamos, mas colocando, no fim, toda a solução em Suas Mãos. Porque, além d’Ele nos conhecer melhor do que nós mesmos, e só Ele sabe das nossas reais necessidades, se assumirmos sozinhos toda a responsabilidade do pedido – como já foi dito – estaremos nos arriscando a sofrer, na pele, a falta dos ajustes necessários, provavelmente até, sendo obrigados a passar algumas dificuldades, sofrer alguma perda, ou enfrentar desarmonias no lar, no trabalho ou seja onde a for, para que a situação consiga equilibrar-se, colocando-nos à altura de receber o que tanto desejávamos antes sem estar preparados pelo merecimento. Seja, pois, o nosso modo de orar, correto, finalizando sempre as nossas petições com a frase salvadora: “Apesar de tudo, Pai, faça-se a Tua vontade e não a minha”.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Pergunta: Na primeira conferência enviada pelo Sr. Heindel, ele diz algo a respeito de estarmos comprometidos com o nosso destino e de sermos capazes de cancelar esse compromisso sob determinadas circunstâncias. Gostaria de saber o seguinte: Quais são essas determinadas circunstâncias? Suponho que agora eu posso construir para o futuro, e que tudo que ocorre dentro da minha própria consciência sou capaz de controlar, de acordo com a intensidade da minha vontade e com o desejo que se manifesta através dessa vontade a fim de tentar agir de forma correta. Mas, que dizer das más influências? O que acontece quando alguém leva uma vida comum e comete um erro crasso, enredando-se no caminho do mal? Não estará dando início a algo do qual lhe será impossível escapar? Ou pode ele, lutando para dominar a natureza inferior e formando um caráter melhor, evitar as consequências de suas más ações? Esta é uma questão sobre a qual tenho discutido muito com uma amiga. Ela defende a ideia de que se um acidente ou uma calamidade de qualquer espécie nos está destinado, podemos evitá-los ficando longe do local onde poderiam acontecer, mas eu não creio que assim possamos escapar ao passado. Se o pudéssemos, não construiríamos nosso caráter fugindo de todas as coisas. Este é um ponto de vista mais ou menos fatalista sobre o assunto, mas acredito que devo receber e tomar o remédio prescrito como um adulto. Embora esteja lutando na medida do possível, se tome ao mesmo tempo desgostoso por ser tão fraco.
Resposta: Há um ponto importante na questão que parece não ter sido levada em consideração na pergunta acima, embora tenha sido clara e enfaticamente explicado em nossa literatura. “Todas as Leis da Natureza, incluindo a Lei de Consequência em suas aplicações na vida humana, estão sob a administração de grandes Seres de sublime espiritualidade e superlativa sabedoria”. Essa Lei não age cegamente seguindo o princípio de olho por olho e dente por dente, mas esses grandes Seres e seus agentes, administram tudo com uma sabedoria que está além da compreensão das nossas mentes finitas. Verificou-se, no entanto, que sempre que houver um desejo, uma tendência ou possibilidade de fugir de uma colheita de sofrimento, advinda de um determinado Destino Maduro, tais planos são sempre dirigidos para uma mudança correspondente feita pelos administradores invisíveis desta Lei.
Há um caso citado no “Conceito Rosacruz do Cosmos”, sobre um conferencista que foi avisado pelo Sr. Heindel de que se saísse de casa em um determinado dia, sofreria um acidente que o atingiria fisicamente. Como ele se esqueceu, pensando que o dia 28 fosse o 29, viajou para outra cidade a fim de dar uma palestra e feriu-se, como fora predito, numa colisão de trens. Talvez, este caso possa ilustrar nossa questão. Esse homem tinha sido prevenido, acreditou no aviso e pretendia evitar o acidente, mas, sem dúvida, o sofrimento decorrente desse acidente, lhe era destinado como uma expiação de determinados erros. Por conseguinte, os agentes da Lei de Causa e Efeito fizeram-no esquecer o dia do mês.
Esse princípio opera também de outro modo. Por vezes, pensamos que não há meios de escapar às consequências do passado, mas há. Enfatizamos, repetidamente, que Deus, a Natureza, ou os agentes desta grande Lei, não pretendem “vingar-se” de nós. Estamos aqui, nesta grande escola da vida, salvaguardados por essas Leis da Natureza. Elas são feitas para nosso benefício e não para prejudicar-nos, embora, de um certo modo, elas limitem-nos exatamente como nós limitamos a liberdade dos nossos filhos para protegê-los dos perigos da imprudência. Devido às nossas ações passadas, acumulamos uma certa reserva de retribuição para nós, à qual deverá ser paga no futuro. Então, percebendo o nosso erro, viramos uma nova página e passamos a viver em harmonia com a Lei anteriormente violada e, com essa ação, passamos uma esponja em tudo que se refere aos nossos pecadilhos anteriores. Os agentes da grande Lei, vendo que paramos de agir de forma incorreta neste ponto em particular, não nos infligiriam sadicamente sofrimento. Devemos ter sempre em mente: todas as Leis da Natureza estão sob semelhante administração divina e inteligente, pois essa é a diferença entre os pontos de vista fatalista e espiritual. A mão de Deus, através de Seus agentes, está em toda a parte, desde as coisas maiores, tal como o percurso de um Planeta em sua órbita, até aos pormenores mais comuns, como a queda de um pardal. É um fato real que em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser.
Estamos sob Sua proteção amorosa em tudo, portanto, nada nos pode acontecer que não esteja em harmonia com o Seu grande plano divino. Esse plano não pode, sem dúvida, ser fatalista!
(Pergunta nº 154 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)