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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Considerações sobre a fé: como é a sua?

Considerações sobre a fé: como é a sua?

Muitas pessoas que têm meditado seriamente sobre os problemas da vida superior enveredaram, infelizmente, para a prática de métodos primitivos, abandonando a crença nos ensinos da Igreja com respeito à remissão dos pecados, ao poder salvador da fé, à eficácia da oração e dos dogmas. Se bem que o ponto de vista de tais pessoas, que honesta e sinceramente procuram a verdade, possa fazer-lhes ver essas ideias como destituídas de valor real. Trataremos, entretanto, de examiná-las sob outros pontos de vista, para que, então, possam julgar. Vistas sob outras formas, essas ideias religiosas aparecerão iluminadas por uma luz que provavelmente não se havia percebido antes, oferecendo assim um significado novo, maior e mais satisfatório para o coração, e perfeitamente aceitável pelo intelecto. Muitos de nós nos vimos obrigados a afastar-nos das Igrejas por razões de raciocínio, ainda que sentíssemos o coração a sangrar. As concepções intelectuais de Deus e dos objetivos da vida não podiam satisfazer-nos e vimos, assim, a nossa vida limitada por esse lado. Que essa nova luz torne possível que os que sentem esse desejo em seu coração voltem à Igreja e ocupem de novo o seu posto com redobrado zelo de uma compreensão mais profunda das verdades cósmicas e dos ensinos religiosos, e o desejo mais íntimo do autor, cujos motivos apresentaremos nas instruções seguintes.

Um fato evidente para todo o estudante de religião comparada, é que quanto mais retrocedemos no tempo tanto mais primitiva é a raça e tanto mais inferior é a sua religião. Conforme o ser humano progrediu, desenvolveram-se os seus ideais religiosos. Os investigadores materialistas deduzem desse fato que todas as religiões foram “obras do ser humano”, e que toda a concepção de Deus tem suas raízes na imaginação humana. O engano de tal ideia se perceberá facilmente se considerarmos a tendência que tem toda a vida de preservar-se a si mesma. Quando a lei da sobrevivência dos mais aptos é a que domina, como sucede entre os animais, quando o poder é um direito, então não há religião. E até que um poder superior “estranho” se faça sentir, não se pode revogar essa lei, para que venha então ocupar seu lugar a lei da própria abnegação, que venha agir como fator da vida, lei que em maior ou menor grau se encontra até nas religiões mais inferiores. Huxley reconhece esse fato, quando declarou que enquanto a lei da sobrevivência dos mais aptos marcava a linha animal do progresso, a lei do sacrifício era a base do desenvolvimento humano, impulsionando o forte a cuidar do fraco.

A razão dessa anomalia não pode o materialista encontrar, pois, desde o seu ponto de vista há de enfrentar sempre um enigma insolúvel, porém, uma vez que entendamos que o ser humano é um ser composto de Espírito, Alma e Corpo; que o Espírito se manifesta em pensamentos, a Alma em sentimentos e o Corpo em atos, e que esse tríplice indivíduo é uma imagem do Deus Trino compreenderemos facilmente a aparente anomalia, posto que dada a sua constituição, esse ser composto se encontra, especialmente, preparado para responder tanto às vibrações espirituais como aos impactos físicos.

Quando reparamos quão pouco se ocupa a maioria das pessoas com a vida superior em nossos dias, podemos deduzir que houve um tempo em que o ser humano era quase incapaz de ser afetado pelas vibrações espirituais do universo. Sentia vagamente um poder superior na Natureza, e como era parcialmente dotado de clarividência, reconhecia a existência de poderes que agora, não percebemos, se bem que estejam agindo tão poderosamente como antes.

Era necessário guiar o ser humano para o seu bem futuro, dirigi-lo pelo bom caminho e ajudar sua natureza superior a adquirir domínio sobre a inferior, a Personalidade, e esta última foi, então, subjugada pelo Medo. Se lhe fosse dada uma religião de amor, ou fossem experimentadas orientações morais, teria sido absolutamente inútil, quando o Ego humano se encontrava ainda em sua infância, enquanto a natureza animal da personalidade inferior predominava. O Deus que poderia ajudar a essa humanidade deveria ser “um Deus forte”, um Deus que pudesse dominar o raio e o trovão, e fulminar com eles.

Quando o ser humano alcançou um pouco mais de progresso, foi-lhe ensinado a considerar a Deus como o DADOR de todas as coisas, sendo-lhe inculcada a ideia de que se obedecesse às leis desse Deus “obteria prosperidade material”. A desobediência a essas leis produziria, pelo contrário, toda a espécie de calamidades, fomes, guerras e pestes. Com objetivo de fazer progredir o ser humano, um pouco mais, foi-lhe ensinado logo a “lei do sacrifício”, porém, como neste estado o ser humano estimava muito suas posses materiais, foi-lhe prometido que se sacrificasse suas ovelhas e bois, “com fé”, o Senhor lhe devolveria centuplicados; que aquilo que desse aos pobres “emprestaria a Deus”, que lhe pagaria com superabundância. Todavia não lhe prometeram céu algum, porque isso estava ainda longe da capacidade apreciativa do indivíduo. Foi lhe dito enfaticamente que “os Céus eram do Senhor, porém a Terra havia sido dada por Ele aos filhos dos homens” (Sl 115; 16).

Depois ensinou o ser humano a “sacrificar-se a si mesmo, por uma recompensa que obteria no céu”. Em vez de efetuar o sacrifício ocasional de ovelhas e touros, que o Senhor logo recompensava, pedia-se agora que sacrificasse os seus maus desejos, que se agisse continuamente bem lhe seriam dados tesouros no céu, que não se preocupasse com posses materiais que os ladrões podiam roubar ou que poderiam perder-se.
Qualquer pessoa pode durante pouco tempo pôr-se num estado de exaltação em que lhe seja fácil fazer um supremo ato de renúncia, pois é comparativamente fácil “morrer pela própria fé”, como os mártires, porém isso não é suficiente, e a Religião Cristã pede-nos o valor de viver nossa fé dia após dia, durante toda a vida, tendo confiança numa recompensa futura, em um céu explicado ainda mui confusamente. Em realidade, os trabalhos de Hércules pareceriam, em comparação, menores do que o esforço que se pede ao cristão, e não devemos nos admirar de que as dúvidas nos assaltem, como a Atlas (NT: Na mitologia grega foi o Titan que levantou o céu), roubando-nos a fé que tenhamos no beneficente e sustentador poder de Deus.

Mas, em verdade, saibamo-lo ou não, vivemos pela fé todos os minutos da nossa vida e em proporção a como vivamos seremos felizes ou desgraçados. À noite nos deitamos com fé que nada perturbará nosso sono e que nos despertaremos no dia seguinte e poderemos prosseguir nossas tarefas. Se não fosse por essa fé, se nos assaltassem dúvidas sobre esses pontos, poderíamos descansar tranquilamente nossa cabeça no travesseiro e dormir? Seguramente não; e em pouco tempo estaríamos prostrados mental e fisicamente, assaltados pelo demônio da dúvida. Quando vamos ao armazém comprar provisões, vamos com fé na probidade dos comerciantes, esperando que nos forneçam bons alimentos e não venenos. Se não tivéssemos essa fé, quão miseráveis seriam as nossas vidas! Em lugar de comer com gosto os nossos alimentos, a dúvida nos tiraria o apetite, de maneira que nos seria impossível preparar a nossa alimentação, porque até os bons alimentos seriam envenenados com o nosso estado mental de dúvida e medo, estado que conhecem muito bem os fisiólogos.

É com fé que saímos de casa pela manhã esperando que a lei de gravidade a conserve no mesmo lugar, certos de que a encontraremos no mesmo lugar quando voltarmos à noite. Muito poucos de nós têm observado a sombra que a Terra projeta sobre a Lua nos eclipses lunares e tem compreendido que essa sombra arredondada é a única prova de que a Terra é redonda. Aceitamos isso pela fé que temos nas afirmações de outras pessoas. Assim acontece com o fato de que estamos girando no espaço a uma velocidade de, aproximadamente, mil e seiscentos quilômetros por hora em virtude do movimento da Terra em redor do seu eixo e o mesmo acontece com outro fato, maravilhoso fato científico, de que ainda que a Terra pareça imóvel, está realmente viajando em sua órbita em redor do Sol a uma velocidade de, aproximadamente, dois milhões e seiscentos mil quilômetros, cada vinte e quatro horas. Esses e outros muitos fatos semelhantes que não podemos investigar por nós mesmos aceitamo-los, vivendo todos os dias chamando-os “conhecimentos” e baseamos nosso bem estar neles, em virtude da fé.

Já dissemos que a fé é a força que põe o ser humano em comunicação com Deus, que nos relaciona com a Sua Vida e Poder. A dúvida, pelo contrário, produz um efeito de confusão e perturbação que impossibilita a percepção das vibrações espirituais. Esses são os efeitos da fé e da dúvida que pode-se ver facilmente examinando suas influências na vida diária. Sabemos que as expressões de fé e de esperança nos animam, ao passo que as manifestações de dúvida dos outros sobre a nossa pessoa nos deprimem. Acontece a mesma coisa, quando tratamos das coisas superiores e espirituais.

Vemos, pois, que a dúvida e o ceticismo têm efeito prejudicial sobre o objeto a que se dirigem, enquanto que a fé abre e expande nossa capacidade mental, assim como a luz solar desenvolve a formosura da flor. Podemos, agora, compreender a necessidade a fé, quando queremos nos aproximar dos ensinos espirituais. Considerados dessa forma podemos perceber neles a sua verdadeira luz, enquanto que a dúvida, a crítica ou a descrença destroem a beleza da concepção espiritual, assim como os ventos gelados destroem as flores. Cristo disse: “Todo aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele” (Mc 10; 15). Nesta sentença se oculta à chave da atitude mental necessária. As pessoas mais velhas quando recebem novos ensinos ou novas ideias repelem-nos desde logo, quando encontram algo que não haviam pensado ainda, ou aceitam-nos sem exame nem discussão, se estão de acordo com as suas teorias.

Convertem seus próprios conhecimentos e pontos de vista em medida absoluta da verdade, com que medem todas as ideias que se apresentam e, por mais ampla que possa ser sua visão ela será sempre curta, desde o ponto de vista cósmico.

Um menino não levanta obstáculos não se limita a conhecimentos anteriores; sua Mente está aberta a toda a verdade, e recebe qualquer ensino com fé e sem vacilação. O tempo lhe demonstrará se esses fatos são certos ou não, e essa é a única prova concludente. O discípulo das escolas Ocultistas desenvolve essa atitude mental infantil, pondo de lado tudo quanto já conhece, quando examina um ensinamento novo ou investiga um fenômeno que antes não havia percebido, a fim de desembaraçar a sua Mente de todo obstáculo. Por suposto, não aceita simplesmente que o branco seja preto; porém está sempre pronto a admitir, quando se lhe faz a proposição, que pode existir um ponto de vista do qual não tinha conhecimento, desde o qual o objeto branco possa apresentar-se realmente negro ou vice-versa. Essa é uma atitude mental sumamente vantajosa porque o ser humano que a cultiva é capaz de aprender e de aumentar os seus conhecimentos, da mesma forma como a criança que escuta mais do que argumenta. Desta sorte a atitude mental da criança conduz realmente à obtenção do conhecimento, do qual se fala simbolicamente como o “Reino de Deus” em oposição ao reino da ignorância do atual estado humano. Compreenda-se que a fé requerida não é uma fé “cega”, nem uma fé irracional que se adere a uma crença ou dogma contrários à razão, mas sim a um estado mental aberto e tranquilo, sem prejuízos ou preconceitos, disposto a examinar qualquer proposição até que a investigação completa tenha demonstrado que é insustentável. Dissemos anteriormente que toda Oração era a chave do comutador que permitiria fluir a corrente da Vida e da Luz divina, dentro de nós mesmos. A fé na oração é a força que abre essa “chave”. Sem força muscular não se poderia abrir a chave para obter-se a luz física, e sem fé não se poderá orar, devidamente, para obter a iluminação espiritual.

(Revista Serviço Rosacruz – 06/67 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Razões da Falência Amorosa: examine as razões dessa falência e passe a estudar a significação do amor

Razões da Falência Amorosa: examine as razões dessa falência e passe a estudar a significação do amor

Embora sejamos em realidade espíritos, nossa atual condição humana de seres separados pela insensibilidade de corpos cristalizados pelas transgressões à Lei natural não nos permite manter contato consciente e direto com nossa real natureza. Sentimos uma profunda necessidade de superar essa separação e anular a angústia que ela nos provoca.

A solução é o Amor, o verdadeiro amor, que nos une aos semelhantes, à Criação e a Deus.
As almas amadurecidas buscam o amor e não o encontram no exterior. É quando a religião não se satisfaz mais com as fórmulas simples das religiões populares.

Para dar mais amplo e racional entendimento do amor e da fé surgiu a Fraternidade Rosacruz. Ela preconiza o desenvolvimento paralelo da Mente e do Coração e mostra como isto é possível. O estudo da Filosofia Rosacruz nos previne contra os perigos do intelectualismo frio e pretencioso e nos revela, igualmente, as inconveniências do amor cego.

Em realidade, o amor é algo que deve ser cultivado. Um estudo dos aspectos teóricos e práticos do amor iluminará, em muitos de nós, pontos obscuros e dúbios e ressaltará erros na maneira de pensar e agir, acerca desse fundamental problema.

O amor é uma arte. Porém, a maioria das pessoas tem a convicção de que é uma sensação agradável que se experimenta por acaso, algo em que se “cai” quando se tem sorte.

Vemos que todos o perseguem. Ele é o tema constante dos romances, das canções, dos filmes e das novelas. Está sempre em voga. Mas quase ninguém pensa haver alguma coisa, a respeito do amor, que deva ser aprendida. Por que o povo pensa assim? Se atentarmos bem, há três premissas com que, consciente ou inconscientemente, isoladas ou combinadas buscam sustentar esse sofisma, origem de tantas desilusões.

A primeira premissa é esta: a maioria das pessoas pensa que o amor é mais uma questão de reunirmos recursos pessoais de atração, isto é, sermos requisitados, amáveis, admirados e não propriamente que devamos amar.

Na busca desse alvo, os seres humanos procuram o poder, a fama, a riqueza como meios de atração exterior e transitório. As mulheres buscam tornam-se atraentes. Ambos os sexos cultivam maneiras agradáveis, conversações interessantes, prestativas, modéstia, inofensiva, etc. Bem analisados, tais meios são os mesmos que hoje se empregam para “conquistar amigos e influenciar pessoas”. Isso que a maioria de nossa cultura considera ser amável é, essencialmente, uma mistura de ser popular e despertar atração física. Nada mais.

A segunda premissa, por trás dessa atitude de que nada há a aprender a respeito do amor, é a ideia de que o amor é mais uma questão de termos sorte de achar o ser ideal que nos ame e pelo qual sejamos amados. Não é, pois, uma faculdade que devamos desenvolver em nós. Tal atitude tem muitas razões enraizadas no desenvolvimento da sociedade moderna. Uma dessas razões é a grande mudança ocorrida no século XX, com relação à escolha do “objeto do amor” (o futuro esposo ou esposa). Na época vitoriana, como em muitas culturas tradicionais, o amor não era uma experiência pessoal e espontânea. O casamento era contratado por convenção, pelas famílias respectivas ou por um agente matrimonial. Julgava-se que o amor se desenvolveria depois de efetuado o matrimônio. Nas últimas poucas gerações o amor romântico se tornou quase universal. Grande número de pessoas anda a procura do “amor romântico”, da experiência pessoal de amor que acabe levando ao matrimônio. Mas esse novo conceito de liberdade no amor, na verdade, acentua a importância do “objeto do amor” em detrimento da importância da função, ou seja, da faculdade do verdadeiro amor que se deve cultivar. Os divórcios e desquites aí estão a atestá-lo. Ainda neste parágrafo convém ressaltar outro aspecto da cultura contemporânea: a ideia de um contrato em que se faz uma troca mutuamente favorável. Cada um, em vez de amar, procura tirar um “lucro” na transação matrimonial, ou seja, uma boa soma de qualidades que sejam populares e muito procuradas no mercador da personalidade. O que torna especificamente uma pessoa atraente depende da moda da época, quer física, quer mentalmente. Numa cultura em que prevalece a orientação mercantil, e em que o êxito material é o valor predominante, pouca razão há para surpresa no fato de seguirem as relações de amor humano os mesmos padrões de troca que governam os mercados de utilidades e de trabalho.

A terceira e última premissa que leva a ideia de nada haver para ser aprendido a respeito do amor, consiste na confusão entre a experiência inicial de cair enamorado e o permanecer no amor. Diz bem o provérbio: “a felicidade é facilmente conquistada, o difícil é conservá-la”. Se duas pessoas estranhas uma à outra, como todos somos, subitamente derrubam os muros que as separam e se sentem próximas, se sentem uma só, esse momento de unidade é uma das mais jubilosas e excitantes experiências da vida, para quem tem estado isolado, fechado em si, sem amor. Mas raramente é duradoura. As duas pessoas se tornam bem conhecidas, sua intimidade perde cada vez mais o caráter miraculoso e seu antagonismo, suas decepções, seu mútuo fastio acabam por matar tudo quanto restava da excitação inicial.

Essa atitude – a de que nada é mais fácil do que amar – tem continuado a ser a ideia predominante a respeito do amor, apesar da esmagadora prova em contrário. Dificilmente haverá outra atividade humana que comece com tão tremendas esperanças e expectativas e que, contudo, fracasse com tanta regularidade, quanto o amor. Se isso se desse com qualquer outra atividade, principalmente as que envolvem dinheiro, todos estariam ansiosos para saber das razões do fracasso, por aprender como se poderia fazer melhor. No caso do amor parece haver apenas um meio adequado de superar a falência amorosa: examinar as razões dessa falência e passar a estudar a significação do amor.

(Revista Serviço Rosacruz – 03/67 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Purificação Interna: à base de realizar a obra da evolução de si mesmo, através da autodisciplina, da compreensão fraternal e do espírito de sacrifício

Purificação Interna: à base de realizar a obra da evolução de si mesmo, através da autodisciplina, da compreensão fraternal e do espírito de sacrifício

“Limpai as mãos, pecadores; e vós de duplo ânimo, purificai os corações” – (Tg 4; 8).

Como sabemos, cada ser humano tem a vida exterior, geralmente conhecida e analisada pelos que o rodeiam e, também a vida íntima, da qual somente ele próprio poderá fornecer testemunho.

É, indiscutivelmente, o mundo interior a fonte de todos os princípios bons ou maus, nos quais todas as expressões exteriores guardam seus fundamentos.

Em geral, todos somos portadores de graves deficiências íntimas, que necessitam de laboriosa retificação. Porém não é tão simples o trabalho de purificar.

Fácil será ao ser humano aceitar verdades religiosas, aderir a esta ou àquela ideologia, entretanto, coisa bem diversa é realizar a obra da evolução de si mesmo, através da autodisciplina, da compreensão fraternal e do espírito de sacrifício.

Entendia o apóstolo Tiago, suficientemente, a gravidade do assunto, tanto assim que aconselhava os discípulos no sentido de que limpassem as mãos, quer dizer, retificassem as atividades do plano exterior, renovassem suas ações ao olhar de todos e, apelava, ainda, que efetuassem, igualmente, a purificação do sentimento, no recinto sagrado da consciência, conhecido unicamente pelo aprendiz, na profundidade indevassável de seus pensamentos. Procurar, com entusiasmo, a purificação dos nossos sentimentos, pensamentos e atos é, sem dúvida, tarefa que compete a cada um de nós. Muito ajuda tal realização, a prática dos exercícios de retrospecção e concentração, que se encontram nas últimas páginas da obra básica dos ensinamentos Rosacruzes, denominada “Conceito Rosacruz do Cosmos”.

O apóstolo Tiago, companheiro valoroso do Cristo, contudo, não se esqueceu de afirmar que isto é trabalho para os de duplo ânimo, porque semelhante renovação jamais se fará tão somente à custa de palavras brilhantes.

(Revista Serviço Rosacruz – 11/64 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Um exemplo de como é perigoso nos apegarmos a coisas materiais: a Senhora e o efeito de estar apegada a uma bengala

Um Exemplo de como é Perigoso nos Apegarmos a Coisas Materiais: a Senhora e o Efeito de estar Apegada a uma Bengala

“Há alguns anos, uma senhora idosa, velha conhecida da autora, passou para o Reino dos Céus. Tinha alcançado uma idade avançada e sua vida havia sido pura e altruísta; por causa de um corpo frágil, tinha passado muitos anos sentada tranquilamente em meditação.

Quando veio a falecer poderia ser comparada a um fruto muito maduro, que não pode mais manter-se preso à árvore; portanto, o rompimento do Cordão Prateado, que comumente leva três dias e meio, no seu caso, levou menos de três horas.

Durante sua última doença e no seu delírio, ela pedia uma bengala que tinha pertencido a seu marido, o qual já havia passado a uma vida mais elevada vinte anos antes; ela habituou-se a usar essa bengala, desde então. Morreu com a bengala, segurando-a firmemente com ambas as mãos e os parentes ficaram relutantes em separá-la de algo que tanto tinha amado em vida, de tal modo que a bengala foi cremada com seu corpo. Pouco tempo após seu desaparecimento, ela voltou para uma visita a autora; vê-la, foi, na verdade, uma visão magnífica.

Seu Corpo de Desejos consistia somente dos braços, mãos e a cabeça e ela segurava a bengala (que tinha o aspecto tão natural como qualquer bengala de madeira poderia ter) com ambas as mãos. Ela parecia uma leve pena branca tentando levantar voo, porém, presa por uma pedra. Era tão etérea que, se não fosse pela bengala que segurava firme com as duas mãos e que era como um peso a retê-la, teria passado pela região purgatorial do Mundo do Desejo em poucos dias. Quando pedimos a ela que largasse a bengala, segurou-a com força, dizendo: “Não, eu preciso ficar mais um pouco”. A tristeza de uma de suas filhas mantinha-a presa à Terra.

Ela queria muito consolar a filha, mas depois de cerca de seis semanas tornou-se impossível para ela continuar.

A bengala etérica foi vista depois na sua casa, em seu lugar favorito, quebrada em três pedaços, onde ela a havia deixado antes de passar para os planos superiores.”.

(do Livreto Apegados à Terra – de Augusta Foss Heindel – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pilares do Amor: o cuidado, a responsabilidade, o respeito e o conhecimento

Pilares do Amor: o cuidado, a responsabilidade, o respeito e o conhecimento

Além do elemento de dar, o caráter ativo do amor torna-se evidente no fato de implicar, sempre, certos elementos básicos comuns a todas as formas de amor. São eles: o cuidado, a responsabilidade, o respeito e o conhecimento.

Que o amor implica cuidado é mais do que evidente no amor de mãe pelo filho. Nenhuma afirmativa sobre seu amor nos impressionaria como sincera se a víssemos sem cuidado para com a criança, se se desleixasse em alimentá-la, banhá-la, dar conforto físico; ao passo que seu amor nos impressiona se a vemos cuidar do filho. O caso não difere mesmo quanto ao amor por animais ou flores. Se uma mulher nos diz que ama as flores e vemos que ela se esquece de regá-las, não acreditamos em seu amor pelas flores. Amor é preocupação ativa e positiva pela vida e crescimento daquilo que amamos. Onde falta esse zelo positivo e ativo não há amor.

O cuidado suscita outro aspecto do amor: o da responsabilidade. Hoje em dia, muitas vezes se entende a responsabilidade como denotando dever, algo imposto de fora a alguém. A responsabilidade, porém, em seu verdadeiro sentido é ato inteiramente voluntário; é a resposta que damos as necessidades, expressas ou não expressas, de outro ser humano. Ser “responsável” significa ter de “responder”, estar pronto para isso. Essa responsabilidade, no caso da mãe e do filho, refere-se, principalmente, ao cuidado das necessidades físicas. No amor entre adultos, refere-se principalmente às necessidades psíquicas da outra pessoa.

A responsabilidade poderia facilmente corromper-se em dominação e possessividade se não houvesse um terceiro elemento do amor, o respeito. Respeito não é medo e temor; denota, de acordo com a raiz da palavra (respicere – olhar para), a capacidade de ver uma pessoa tal como ela é, ter conhecimento de sua individualidade singular. Respeito significa a preocupação de que a outra pessoa cresça e se desenvolva como é. Assim, o respeito implica ausência de exploração. Quero que a pessoa amada cresça e se desenvolva por si mesma, por seus próprios modos e não para o fim de servir-me. Se amo outra pessoa, sinto-me um com ela, ou ele, tal como é não como eu necessito que seja para objeto de meu interesse. É claro que o respeito só é possível se eu mesmo alcancei a independência; se puder levantar-me e caminhar sem precisar de muletas, sem ter o dominar e explorar qualquer outro. O respeito só existe na base da liberdade; como diz uma velha canção francesa “l’amour est l’enfant de la liberte”, ou seja: “o amor é filho da liberdade”, nunca da dominação.

Mas não é possível respeitar uma pessoa sem conhecê-la. O cuidado e a responsabilidade seriam cegos, se não fossem guiados pelo conhecimento. O conhecimento, por sua vez, seria vazio se não fosse motivado pelo cuidado e pelo zelo. Há muitas camadas de conhecimento; o conhecimento que é uma camada do amor é aquele que não fica na periferia, mas penetra até o âmago. Só é possível quando podemos transcender o cuidado por nós mesmos e ver a outra pessoa em seus próprios termos. Podemos saber, por exemplo, que uma pessoa está encolerizada, ainda que ela não o mostre abertamente; mas podemos conhecê-la mais profundamente do que isso; sabemos então que ela está ansiosa e preocupada, que se sente só, que se sente culpada. Sabemos então, que sua cólera é apenas a manifestação de algo mais profundo, e vemo-la como ansiosa e preocupada, isto é, como pessoa que sofre em vez de como a que se encoleriza.
O conhecimento tem mais uma relação – mais fundamental – como o problema do amor. A necessidade básica de fusão com outra pessoa de modo a transcender a prisão da própria separação relaciona-se muito de perto com outro desejo especialmente humano, o de conhecer “o segredo do ser humano”. Se a vida em seus aspectos meramente biológicos é um milagre e um segredo, o ser humano, em seus aspectos humanos, é um segredo insondável para si mesmo e para seus semelhantes. Nós nos conhecemos, e, contudo, mesmo apesar de todos os esforços que possamos fazer, não nos conhecemos. Conhecemos nosso semelhante, e, contudo, não o conhecemos, porque não somos uma coisa, nem o nosso semelhante é uma coisa. Quanto mais penetramos nas profundezas de nosso ser, ou do ser de outrem, tanto mais nos escapa o alvo do conhecimento. Não podemos, todavia, evitar o desejo de penetrar no segredo da alma do ser humano, no mais interno núcleo do que “ele” é.

Há um meio passivo de conhecimento desesperado, através do completo poder sobre a outra pessoa. É como a criança que apanha alguma coisa e a quebra a fim de conhecê-la para saber como é dentro. O outro caminho ativo é amar. O amor é penetração ativa na outra pessoa, em que nosso desejo de conhecer é destilado pela união. No ato da fusão a conhecemos, conhecemo-nos também e conhecemos a todos – o conhecimento do que é vivo, pela experiência da união – e não por qualquer conhecimento que nosso pensamento possa dar.

O amor é o único meio completo de conhecimento. No ato de amar, de dar-me, no ato de perscrutar a outra pessoa encontro-me, descubro-me, descubro-nos a ambos, descubro o ser humano.

A ardente aspiração de nos conhecermos e de conhecer nossos semelhantes encontrou a expressão na sentença délfica: “conhece-te a ti mesmo”. Esta é a fonte principal do toda psicologia humana.

(Revista Serviço Rosacruz – 05/65 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Qual o nosso papel no mundo: sejamos candeias que iluminam pelo exemplo

Qual o nosso papel no mundo: sejamos candeias que iluminam pelo exemplo

Os Evangelhos foram escritos há quase dois mil anos. No entanto, estão bem atuais e o estarão ainda por muito tempo, porque, se atentarmos bem, a história de Cristo-Jesus e dos Apóstolos é nossa própria história.
Em que sentido? – perguntarão alguns.

E vos respondo: buscando-lhe o espírito das palavras e não a forma que mata. Nele veremos qual o nosso papel e não um mero relato histórico, um piedoso memorial, uma peregrinação sentimental; nele veremos a Revelação que nos alarga a concepção de Deus e nos revela a nós mesmos, autenticamente. Por esse ângulo, os Evangelhos nos anunciam, nos visam e nos profetizam.

São Tiago nos diz que os Evangelhos são um espelho. Cada um de nós pode ver-se refletido nele, mas “o pior cego é o que não quer ver”; geralmente vislumbramos a imagem dos outros e nos indignamos com sua maldade, cegueira e insensatez.

Max Heindel, utilizando-se da lei de refração espiritual, diz-nos que, via de regra, costumamos ver os outros através de nossa própria aura, matizando os semelhantes com nossas próprias faltas, fantasias e extravagâncias. Citando o nascimento de Jesus: “Estando eles ali, completaram-se, os dias de dar à luz; e teve seu filho primogênito e o enfaixou e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para Ele nas hospedarias” (Lc 11:7). Comenta Max Heindel: “Com que eloquência podemos ampliar o sentido dessa frase: “Não houve lugar para Ele…”.

Na família, na sociedade, na escola, no fundo das almas pecadoras, em nossas próprias almas, haverá digna morada para Cristo nascente? Não será também o nosso coração, ainda hoje, um lugar onde não haja lugar para Cristo?

Há boa intenção, sem dúvida. Procuramos, muitas vezes, agir nobremente, ajudar nossos semelhantes, renunciar a vícios e hábitos danosos etc.

Assim nasce em nós o Cristo. Mas logo depois nossa natureza inferior, personalizada em egoísmo, HERODES, receoso de perder seu poder em nosso reino interno, manda degolar todas as criancinhas: nossos esforços nobres, sentimentos puros, na tentativa de eliminar o futuro REI.

Quando O aceitamos, passando a admitir que somos os “Seus”, para junto dos quais Ele veio, então os Evangelhos nos alumiam. Sabemos por que Ele foi mal recebido, como o seria ainda hoje por muitos que amam as sombras mais que a luz. Sabemos por que lhe recusaram a doutrina, por que se encontrou tão “pobre” ante a oposição e dureza de coração. É a nossa dureza. Sua Vida, Paixão e Morte se repetem como ecos nos indivíduos.

Cristo hospeda-se na casa de Marta e de sua irmã Maria. “Maria, sentada aos pés do Senhor, bebia-lhe os ensinos. Marta, porém, andava preocupada com o seu serviço” (Lc 10; 30-40). Qual das duas representamos? Maria, que escolhia o melhor, que estava sempre em comunhão com o Senhor (não se disse que ela negligenciasse os deveres) ou Marta, que se afunda tanto nos afazeres do mundo e não tem tempo de estar com Ele?

Infelizmente há mais Martas que Marias. Muito mais. Dizendo-se religiosos, a maior parte da humanidade empenha a vida inteira em acumular fortuna, conquistar fama e glória e recreando-se com banalidades, muitas vezes prejudiciais. Não tem tempo. Não se comprazem na presença d’Ele. Embora Ele esteja tão próximo, distanciam-se. Precisam de imagens e cerimoniais simbólicos, não lhe alcançam a essência, tão facilmente despertável em si mesmos.

Quando chega a noite estão cansados. Não se encontraram com o Senhor de dia, não conversaram com Ele, como prazerosamente fazemos com um amigo que estimamos. À noite, esgotados, mais por seus desequilíbrios que propriamente pelo trabalho, buscam distrair-se na televisão, num cinema ou outro divertimento. Afinal, uma reunião sobre filosofia é algo cansativo, um “descer penoso” em que podemos adormecer.

Somam-se, assim o dispêndio de um esforço ambicioso e egoísta, desequilíbrios emocionais oriundos de concorrência mundana, o acúmulo de sensações levianas e tolas, e tardes da noite se deixam adormecer. Não pensam no Cristo menino, dentro de si, que precisa de ALIMENTO; não pensam no esforço dos Irmãos Maiores, todas as noites; não pensam, sequer, no privilégio de servir como Auxiliares Invisíveis, para ajudar os que, tolerantemente, aguardam as almas abnegadas e altruístas que desejam trabalhar com Eles na seara. Não tem tempo. Verdadeiras Martas.

Disse Cristo que devemos “orar e vigiar”, incessantemente. Não significa devamos ficar o tempo todo a orar, desleixando nossos deveres. Ele mesmo, até que entregou seus veículos a Cristo, obedeceu às leis da sociedade em que vivia, sem, contudo, se apegar. Orar sem cessar quer dizer: pensar, sentir e agir sempre em consonância com o Senhor. Não importa a natureza de nosso trabalho. Todos são dignos, desde que os façamos em nome do Senhor. Então somos Maria.

Vejamos outro dos muitos personagens que podem refletir-nos: o pequeno Zaqueu. “Era chefe dos publicanos e rico. Procurou ver quem era Cristo, porém não o conseguia por causa da multidão e porque era de pequena estatura. E correndo adiantou subiu em uma árvore para vê-Lo passar” (Lc 19; 1-4). Enquanto estamos envolvidos nas coisas do mundo somos pequenos. Mas se desejamos algo mais elevado, podemos nos adiantar, esforçando-nos mais que o comum dos seres humanos e subindo com a ajuda de uma filosofia iluminadora, a fim de sentir a presença e ouvir a voz que nos diz: “hoje ficarei em tua casa”. E passaremos a empregar parte de nossos recursos na elevação da humanidade carente, em vez de conservá-los egoisticamente em nosso único proveito (física, emocional, mental e financeiramente).

Os Evangelhos terminam com a morte e paixão de Cristo-Jesus. E São João acrescenta que muitas outras coisas poderiam dizer, mas que por ora não as suportaríamos.

A Paixão recomeça todos os dias. A humanidade, os novos autores, ensaiam seus papéis. Milhões e milhões de indiferentes, dos covardes, dos que “lavam as mãos”; depois os milhões que face aos problemas, e momentos difíceis, negam seus ideais superiores, como São Pedro; os Judas que traem sua consciência com um “beijo” falso, os milhares de carrascos que se comprazem em explorar o fraco, espezinhar o débil, os brutos com seus açoites diversos, o funcionário com seu frio regulamento diante da mesma face dolorosa, infinitamente paciente, infinitamente amorosa que se cala e nos dirige aquele olhar que despedaçou o coração de São Pedro e fê-lo branquear os cabelos numa noite. Aquele olhar de ternura, de interrogação e de espera.

E mais do que nunca há vítimas que sofrem perseguições injustas. Em nossa casa, junto de nós, há alguém que chora, alguém que sofre, alguém sequioso de orientação e conforto, alguém com fome e frio, alguém doente, alguém de luto, alguém na solidão. Estão esperando por nós. Quem é Verônica? Quem é Simão Cirineu? Quem é João, o discípulo amado? Quem é Pedro? Quem é Judas? Quem é José de Arimatea? Quem é Pôncio Pilatos? Quem é sua esposa?

Que oportunidade a nossa! Eternamente presente, Cristo-Jesus nos olha e nos espera: “Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizeste” (Mt 25; 40). Ele vive em nós, sofre em nós. Acompanhamos o drama. Queiramos ou não, somos levados a fazer parte dele. Mas temos a liberdade de escolher o papel, embora seja uma liberdade relativa. Podemos esclarecer e converter alguns da multidão indiferente para que O amem; dos que o odeiam, para que o conheçam pelo menos, porque só a ignorância gera o ódio. Podemos conseguir alguns servos vigilantes, alguns corações amorosos, para que nos ajudem a continuar-lhe a obra de redenção dos que “não sabem o que fazem”.

O teatro está sempre aberto. Uma parte sai e a outra entra em cena. Vivemos repetindo a peça. Variações sobre o mesmo tema. Sabemos nosso papel de cor. Julgamos conhecer o Evangelho. “Estamos prontos” – dizemos ao Grande Diretor.

Mas ficamos ofuscados quando entramos em cena neste mundo, ansiosos de glória, desejosos de aplausos, preocupados demais com os trajes, com os efeitos. Distraímo-nos. Não vivemos o papel despretensiosamente. E perdemos a oportunidade.

Em dado momento cai o pano para a nossa parte no mundo e o Diretor irrompe em nosso camarim: que houve com você? Por que não representou? E o ator confuso e envergonhado, responde: perdi a noção de meu papel, deixei-me levar pela assistência e pelo que podiam pensar de mim, não julguei que fosse assim antes de entrar.

De que valem as escusas? Sim há o infinito pela frente, mas o tempo perdido não volta mais. Temos que enfrentar novamente as mesmas falhas até vencê-las. Repetir a cena. Como há quase dois mil anos, hoje a mesma coisa. Feliz o servidor que o Mestre, à sua chegada, encontra vigilante. “Minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço e elas me conhecem e seguem” – (Joa 10; 27).

Felizes dos que ouvem essa voz e a seguem. “Pois assim como a chuva e a neve descem do céu e não voltam mais para lá, mas embebem a terra, fecundando-a e fazendo-a germinar para que dê semente ao que semeia e pão ao que come, assim será a minha palavra: saída da boca não tornará a Mim vazia, mas fará tudo quanto quero e prosperará onde eu a enviar” (Is 55; 10-11).

A Palavra de Deus é eficaz, é viva. É água viva da qual, alguém bebendo, jamais terá sede, conforme disse Cristo à mulher samaritana. Só podemos oferecer dessa água se primeiramente a tivermos bebido. Não podemos dar a ninguém o que não temos. Não podemos comunicar senão o que temos vivido. Não podemos atrair os outros senão para aquilo que conhecemos.

É a palavra de Deus que deve determinar nosso apostolado, nossa ação.

Saibamos escolher e bem representar nossos papéis no mundo. Sejamos autênticos cristãos, candeias que iluminam pelo exemplo, sais que não deixam a massa corromper e dão sabor à humanidade, sal cuja presença é sentida sem evidenciar-se.

(Revista Serviço Rosacruz – 07/66 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Sua hora chegou: encontrando uma maneira clara e lógica que explica: “de onde você veio, porque está aqui e para onde vai depois da chamada morte”

Sua hora chegou: encontrando uma maneira clara e lógica que explica: “de onde você veio, porque está aqui e para onde vai depois da chamada morte”

 

Caro amigo leitor: você já conhece a Filosofia Rosacruz exposta por Max Heindel – um grande iniciado do século presente? Se esta revista lhe caiu nas mãos, não importa o meio, isto representa uma oportunidade de importância muito grande em sua vida, um aceno para uma vida mais ampla e feliz, somente alcançada por aqueles que atingem o conhecimento de si mesmos e do mundo, de forma superior e espiritualizada e aplicam esses conhecimentos em uma nova maneira de viver.

Em tudo e para tudo, na vida do ser humano existe uma hora e, quando menos esperamos ela chega. O Senhor é o Agricultor e Ele sabe quando os frutos se acham maduros para desprender-se, para trabalhar por si mesmos, para alimentar os outros daquilo que Ele nos deu e depois deixarmos as sementes que germinarão árvores da mesma qualidade, num mesmo mundo profuso de teorias e carente de exemplos.
A Filosofia Rosacruz em sua simplicidade cristalina, é algo tão extraordinário e revolucionador na vida interna do ser humano que, se entendida mesmo e praticada, transforma-lhe radicalmente o caráter e, no dizer de Paulo, o apóstolo, transmuta-o “de um homem velho num homem novo, em novidade de espírito” (Rm 7; 21). Mas o ser humano complicou de tal modo sua vida e necessidades, e se acha tão escravizado em suas obrigações, que não encontra tempo para aquilo que poderia sanar seus males e infelicidade. Ademais, dá tanto valor as apresentações complexas e empoladas que, muitas vezes, menospreza as obras simples, sem pensar que a solução da vida não está nos textos misteriosos, mas na prática pura e simples das virtudes cristãs. De que vale saber definir brilhantemente o amor se não o sentimos em nosso coração e na relação com nossos semelhantes?

À sua hora chegou, irmão; a oportunidade aí está para conhecer a Filosofia Rosacruz, que lhe expõe de maneira clara e lógica, “de onde você veio, porque está aqui no mundo e para onde vai depois da chamada morte”. Dá-lhe conhecimento da obra de evolução para os diversos reinos de modo a, racionalmente, levá-lo a compreender a obra de Deus no Mundo e uma vez satisfeita sua Mente, possa começar a fazer seu Coração numa fé ativa e exemplar. De fato, só o conhecimento superior, aliado ao sentimento, faz o cristão completo. Só a fé não basta; geralmente se desvirtua em fanatismo. Por outro lado, o conhecimento sem o amor mais facilmente ainda degenera em pretensão intelectual.

O amor é uma poderosa força que deve ser orientada pela razão. O frio intelecto deve orientar-se pelo calor do sentimento para que atinja seu objetivo de iluminação exterior. São dois instrumentos que se completam; dois caminhos que se encurtam numa reta de realização, quando harmonizados dentro de nós.

“O Conceito Rosacruz do Cosmos”, obra básica da Filosofia Rosacruz exposta por Max Heindel sob a orientação de elevadíssimos Seres que chamamos de os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, encerra uma valiosíssima mensagem místico ocultista. Nele você encontrará orientação para desenvolver, mediante a prática sincera, as potencialidades que Deus guardou na Arca sagrada de seu ser, em sentimentos e intelectualidade. Ele, o Senhor, vem e bate à porta de seu coração. Mas como naquela pintura de Sallman (N.R.: Warner Sallman (1892-1968), pintor americano), Ele bate, mas não abre, porque o ferrolho está por dentro. Nós, com o sagrado livre arbítrio é que devemos decidir se abrimos ou não ao Senhor que vem convidar-nos para unir ombros com aqueles que já levam a vida a sério.

A Filosofia Rosacruz é uma mensageira Aquariana, uma nova ordem de ideias que predominará na futura Idade Aquariana, a iniciar-se aproximadamente daqui a 600 anos. E como tudo no plano de Deus é preparado, esta mensagem é lançada ao ar. Cada ser humano é comparado a um rádio transmissor e receptor. Se ele estiver afinado com a onda do futuro sentirá um mágico “toque” nas “válvulas” de seu Coração e de sua Mente e abrirá suas portas e virá juntar-se a nós na sementeira.

A mensagem continua no ar para que possa ser captada a qualquer instante por qualquer ser. A liberdade é sagrada. Ademais, num mundo cheio de materialismo são poucos os preparados. Aí está o mérito. Se você sentir, venha e veja, sem compromisso nenhum. Nossa obra é impessoal. Ela objetiva formar caracteres, novos seres humanos que definam o destino do mundo, segundo o plano de amor e sabedoria do Criador. A obra Rosacruz é desinteresseira. Não estipula mensalidades proporcionais. A contribuição é voluntária, dentro das posses de cada um para exclusiva difusão da obra. Na Fraternidade Rosacruz não se dão Iniciações, ainda que se queira pagar bem, porque, honestamente, ali se mostra que elas resultam do preparo interno e dependem quase exclusivamente do esforço individual.

A participação da Rosacruz é orientar cada Aspirante para que alcance a realização interior com segurança, sem perigo no menor tempo possível. Tais preceitos não se guardam como segredos, mas são expostos claramente nas obras de Max Heindel, para que cada um tenha o direito de segui-los. Não nos iludamos com os mistérios. Não julgamos honesto estabelecer atmosfera de mistério, apenas para satisfazer a tendência humana de valorizar o difícil e proibido. Difícil é o que não sabemos, mas todos têm o direito de alcançá-lo. Proibido deve ser apenas o imoral, o que vai contra as leis naturais, mas nossa consciência é que deve repudiá-lo.

Por aí vê o leitor, neste breve esboço, que a Filosofia Rosacruz procura fazer de cada ser humano uma lei em si mesmo, não discordante, senão, uníssona a Lei universal. Uma vontade, uma inteligência, um coração, próprios em sua maneira de expressão, mais coerente com o propósito do Grande Arquiteto. Uma célula de consciência própria no Corpo de Deus. Um detalhe precioso e expressivo do Quadro da Natureza.

Chegou a sua hora, caro amigo leitor. Peça nossos folhetos informativos. Faça os cursos por correspondências (N.R.: ou por e-mail). Talvez aí esteja a chave com que com que você terá acesso aos arcanos de seu ser. Uma vez que se desvende, conhecerá seus semelhantes e o Grande Corpo de que todos fazem parte, a cuja imagem e semelhança fomos feitos.

(Revista Serviço Rosacruz – 03/66 – Fraternidade Rosacruz – SP)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Luz e a Sombra: estertores da Idade de Peixes, caminhando para Aquário

A Luz e a Sombra: estertores da Idade de Peixes, caminhando para Aquário

 

Na literatura Rosacruz encontramos uma frase de Max Heindel que surpreende pela sua atualidade: “Quanto mais intensa é a luz, mais forte é a sombra que ela projeta”. É uma metáfora do que percebemos nos tempos presentes. Esclareçamos, então.

Vivemos um momento especial na história da humanidade. Muitos avanços científicos parecem tornar cada vez mais real a perspectiva da concretização de uma fraternidade universal.

Inovações tecnológicas estão eliminando barreiras que separam as pessoas, ao reduzir distâncias, promover a comunicação em tempo real e globalizar a economia e a cultura. O conceito de “on-line” possibilita agir e saber o que se passa no mundo todo em fração de segundos. Quando acompanhamos pelos meios de comunicação à ocorrência de um conflito no Oriente Médio, de uma catástrofe natural na África ou de uma crise econômica na Europa, podemos imaginar, de imediato, o sofrimento de milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, tomamos conhecimento de que em várias partes do mundo já se registram movimentos solidários de socorro às vítimas e de que essa ajuda poderá chegar rapidamente, graças aos modernos meios de transporte.

Hoje, o conhecimento já não é mais privilégio de poucos. O acesso às redes sociais coloca a informação e a cultura ao alcance de bilhões de seres humanos. A interação em tempo real tende cada vez mais a anular as diferenças sociais, as barreiras linguísticas e a própria distância.

Mas, a luz irradiada por esse admirável mundo novo também projeta suas sombras, seus contrapontos.
Há que empolgar-se menos e refletir mais, com isenção e espírito crítico, pois as sombras projetadas mostram que o retorno ao “paraíso perdido” ainda é um sonho muito distante.

O aperfeiçoamento dos meios de comunicação aproximou os seres humanos, porém não lhes amenizou o individualismo egoísta. As guerras fratricidas por motivos religiosos ou étnicos nos fazem pensar sobre como a influência dos Espíritos de Raça ainda resiste ao impulso unificador do Cristo. A dor e o ódio não foram varridos da face da Terra.

Em resumo, a realização daqueles ideais acalentados pelos Irmãos da Rosacruz depende do esforço abnegado dos homens e mulheres de boa vontade. A caminhada seguramente será muito árdua.
Encontramo-nos em uma fase de transição, nos estertores da Idade de Peixes, caminhando para Aquário. O conflito entre as duas influências é inevitável, provocando toda essa turbulência que observamos no mundo. A onda evolutiva, porém, segue seu caminho, irresistivelmente, e conduzirá a humanidade para uma espiral superior.

Que as rosas floresçam em vossa Cruz

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Carregando nossos Fardos: uma razão lógica para persistirmos

Carregando nossos Fardos: uma razão lógica para persistirmos

Frequentemente somos confrontados internamente com aquilo que se pode parecer que seja mais do que justa a nossa carga de aflições.

Uma vez que nos tornamos conscientes de nossas responsabilidades espirituais, devemos enfrentar e aprender qualquer lição que nos apresente; assim como sublimar os aspectos de nossa natureza inferior que, muitas vezes, sobressai a nossa dianteira; mantendo na liderança com o objetivo de sermos capazes de cumprir com nossas responsabilidades e servir no trabalho mais efetivos na Vinda do Cristo.

De um modo geral, aprendemos mais pelas experiências e observações do que por conselho, uma vez que a natureza inferior é sublimada depois de uma longa batalha. E como aqui é o baluarte da evolução é necessário, para nós, vivenciar muitas e variadas aflições antes que o Cristo Interno desperte por completo.
Lembrando que quaisquer que sejam nossos fardos, não devemos importar o quão doloroso sejam nossas mazelas físicas, mentais e emocionais, pois, sabemos que nada nos é dado além daquilo que conseguimos carregar. O propósito da vida terrestre é a experiência e não o sofrimento, mas, à medida que passamos pelo “sofrimento” devemos aprender a tirar proveito ou lições desta experiência porque sempre nos é dado forças internas e externas de alívio pela lição aprendida.

Se diante das dificuldades, lembrarmos que no Terceiro Céu ao escolhermos o nosso panorama da vida antes de renascermos novamente na Terra estávamos de acordo com o escolhido, certamente, será mais fácil a travessia.

“O nosso horóscopo revela as tendências para características como: gênio forte, procrastinação, ciúmes, melancolia ou uma infinidade de coisas similares que retardam o nosso progresso”. Estas tendências são originadas de condutas de nossas vidas anteriores, mas, cedo ou tarde deveremos transmutá-las. Então, por que não começar a fazê-lo agora?

Não devemos perder nossa paciência ou sermos deprimidos porque simplesmente temos um Aspecto ou um Astro adverso. Na realidade se cedermos a estas adversidades e não procurarmos nos corrigirmos agora, nossa situação será ainda pior nas vidas subsequentes. Lembrando que os Aspectos adversos de hoje podem se tornar: Conjunções benéficas, Sextis ou Trígonos na vida seguinte. E como aspirantes aos ensinamentos rosacruzes é dever nosso transmutar nossos atributos adversos em positivos.

Portanto, quanto mais nos esforçamos para vencer estas tendências, mais rápido deixaremos de ser dominados pelo temor que nos paralisa em nossas ações. E assim, nos fortalecemos para resolver toda dificuldade e aprender as lições colocadas diante de nós.

A ajuda espiritual estará sempre disponível para o estudante sincero. Os Irmãos Maiores estão ansiosos por ajudar a humanidade a livrar-se de todo empecilho para o progresso espiritual.

A maioria de nós tem feito preces em momentos de desespero, suplicando por ajuda, e muitas vezes, tem recebido; mas não é necessário esperar que estejamos aflitos. Quando vislumbramos uma prova ou uma situação que já estejamos passando é legítimo solicitar ajuda; mas também é de grande importância ter nossas orações de gratidão e devoção ao Pai.

Obviamente, é menos doloroso enfrentarmos nossas provas conscientemente sabendo que podemos contar com ajuda Divina, que fazê-lo sem ter a consciência de poder utilizar desta ajuda.

Devemos nos esforçar por passar com coragem pelas aflições e aprender com elas, porém, sempre alertas, já que a tentação estará às espreitas com vários disfarces para que a menor falha sejamos suas vítimas. As tentações resistidas representam progresso; as tentações sucumbidas representam novas provas e aflições e assim será até que tenhamos aprendido a lição e nos purificamos.

“A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” – (Lc 12:48). Esta passagem está em conformidade com a nossa capacidade de superar obstáculos e aprender as lições, e também nos dá a capacidade de compartilhar nosso conhecimento, nossas bênçãos e o amor com os demais.

Se somos parte integrante de um Deus magnífico, misericordioso e de cuja imagem somos feitos; como poderemos permitir-nos, por um só momento, que sejamos abandonados diante de tantas aflições e que não sejamos dignos de suportar tanto sofrimento?

Quais são nossos pesares diante de um sacrifício anual que o Cristo faz por nós?

Sejamos determinados em empregar o melhor de nossa capacidade para viver nossos obstáculos diários conservando nossos corações cheios de amor e gratidão e nossas mentes e emoções concentradas no grande exemplo da mais perfeita vida existente na Terra: Jesus-Cristo.

“Que as rosas floresçam em vossa cruz”

 

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Orgulho: nada nos torna mais duro e mais cego; nada nos é mais funesto ao nosso progresso espiritual

O Orgulho: nada nos torna mais duro e mais cego; nada nos é mais funesto ao nosso progresso espiritual

Dissemos que o tripé em que fundamos a verdadeira renúncia é a: sobriedade, humildade e castidade. Já falamos da sobriedade e hoje abordaremos a questão da humildade, que, por associação, atrai seu antônimo: o ORGULHO.

Paralelamente à gula, o que mais é de recear no ser humano é o orgulho e a sede das riquezas. Nada o torna mais duro e mais cego do que exagerar o seu valor pessoal. Nada lhe é mais funesto ao progresso espiritual e à saúde do que estar de posse de grandes riquezas, a menos que seja um caráter excepcional, capaz de usá-las como quem administra os bens do Senhor.

Nada torna mais impróprio de triunfar numa provação do que viver no luxo e na adulação. Os grandes deste mundo não imaginam quanto mais perto estão do abismo do que os humildes. O seu poder terrestre os embriaga. Uma vez nas alturas, eles não procuram mais do que aumentar o seu campo de domínio, em lugar de se esforçarem unicamente em praticar o bem em face dos pequenos. Mas que quedas estrondosas, quando se realiza a palavra da Escritura: “Depôs do trono os poderosos e elevou os humildes”- (São Lucas, 1:52).

“Quem julgas tu que é o maior no Reino dos Céus? ” – Perguntava a Cristo Jesus os seus discípulos. E, chamando Jesus um menino, o pôs no meio deles e disse: “Na verdade vos digo, que, se vos não converterdes, e vos não fizerdes como meninos, não entrareis no Reino dos Céus”- (São Mateus, 18:1-3).
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas… Ai de vós condutores cegos, porque sois semelhantes aos sepulcros branqueados que, parecem por fora formosos aos homens, e por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de podridão… AqueIe que se elevar, será humilhado e aquele que se humilhar, será elevado” – (São Mateus, 23:27).

“Aquele que quiser ser o maior entre vós esse seja o que vos sirva. E o que entre vós quiser ser a primeiro seja esse vosso servo. Assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir” – (São Mateus, 20: 26-28).

“Mas ai de vós, os que sois ricos, porque tendes a vossa consolação. Ai de vós, os que estais fartos, porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que rides, porque gemereis e chorareis” – (São Lucas, 4:24-25).

“É mais fácil passar um camelo pelo fundo duma agulha do que entrar um rico no Reino dos Céus” – (São Mateus, 19:24).

“De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma? “- (São Mateus, 16:26).

“Amontoai para vós tesouros no céu, onde não os consome a ferrugem nem a traça e onde os ladroes não os desenterram nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, estará também o teu coração” – (São Mateus, 6:20-21).

E para que seus discípulos compreendessem bem a onipotência da pobreza e o exemplo divino que se deve dar, Cristo Jesus dizia-lhe: “As raposas têm covis e as aves do céu ninhos, mas o Filho do homem não tem onde pousar a cabeça” – (São Mateus, 8:20).

Depois, quando ele os enviou a cumprir a sua missão evangélica, fez-lhes a seguinte recomendação: “Dai de graça o que de graça recebestes. Não possuais ouro, nem prata, nem dinheiro nos vossos cintos. Nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem calçado, nem bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento” – (São Mateus, 10:9-10).

Aqueles que erram por orgulho, os que gozam egoisticamente as suas riquezas, preparam para si as piores atribulações e os mais duros sofrimentos.

E quando se trata para eles de vencer uma provação, raro percebem o remédio, isto é, o renunciamento a aplicar, porque o orgulho com os seus satélites: a vaidade, a sede de consideração, a pretensão, o desdém, introduz-se no mais profundo do ser e a cegueira sobre as suas taras de caráter, as suas responsabilidades e os seus erros. Quantas pessoas caem no insucesso e na desgraça, porque entende não deverem reduzir, em coisa alguma as suas ambições e os seus gozos! Como são raras as pessoas, suficientemente clarividentes, que se tornam pequenas diante da provação, que examinam a extensão das suas ignorâncias, de suas incapacidades, numa palavra, que façam ato de humildade!

Depois do amor do próximo, a humildade é a virtude cristã fundamental.

Assim não nos devemos admirar de ver que a humilhação é o grande remédio que a providencia emprega para por a prova os orgulhosos e os ricos, demonstrando-lhes a vaidade de suas vantagens e de seus bens materiais, para conservar a saúde do corpo e a paz da alma. Com efeito, para que servem o dinheiro e a celebridade, quando se avilta o organismo e conspurca o espírito?

“O Senhor guarda aqueles que são simples: fui humilhado, por ele fui salvo” – (Salmos, 114). “Foi bom para mim que vós me tivésseis humilhado para assim conhecer a Vossa justiça” – (Salmos: 118).

A humildade é grande fonte de felicidade, poderoso meio de progresso, remédio heroico contra todos os sofrimentos corporais e as feridas de amor próprio. “A humildade é o unguento que faz fechar todas as feridas” (S. Teresa).

A humildade é, com a oração, o meio mais firme de ser exalçado. “Humildade, humildade, clamava Santa Teresa, é por ela que o Senhor cede a todos os nossos desejos”.

Ser humilde é primeiramente tornarmo-nos muito pequenos, até chegarmos a zero, considerando a insuficiência da nossa inteligência, as lacunas de nosso saber, as faltas que cometemos. É darmos conta em seguida que tudo a que podemos realizar de bem, foi Deus que o realizou por nós e que o nosso papel está limitado a apresentarmo-nos no estado de dóceis instrumentos, porque nada temos de bom que seja nosso e nenhum bem praticamos que o não tenhamos recebido do Pai! “Sim, é uma grande verdade que nada temos de bom que seja nosso, e que a miséria, o nada, são o nosso quinhão. Aquele que isto ignora, caminha na mentira” – (S. Teresa, T. VI, p. 265).

Ser humilde é não procurar quaisquer honras deste mundo, é esforçar-se por passar despercebido, é ficar em último lugar, é conduzir-se como Cristo pediu: “Quando fores convidado para alguma boda, não vás ocupar o primeiro lugar, porque pode ser que esteja ali outra pessoa mais considerada do que tu, convidada pelo dono da casa. E que, vindo este, que te convidou a ti e a ele, te diga: ‘Dá o teu lugar a este’; e tu envergonhado vas ocupar o último lugar. Mas, quando fores convidado, ocupa o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: ‘Amigo, assenta-te mais acima’. Servir-te-á isto, então, de gloria na presença dos que estiverem juntamente assentados a mesa. Porque todo o que se exalta será humilhado, e todo a que se humilha será exaltado” – (São Lucas, 14:8-12).

Ser humilde é abster-se de enumerar os seus méritos e não pensar senão em colocar-se na atitude do pobre pecador: “subiram dois homens ao templo para orar, um fariseu e o outro publicano. O fariseu, de pé, orava assim: ‘Graças te dou, meu Deus, porque não sou como os outros homens, que são uns ladrões, uns injustos, uns adúlteros, como é também este publicano. Jejuo duas vezes por semana; pago o dizimo de tudo o que possuo’. E o publicano, pelo contrário conservando-se afastado, não ousava mesmo levantar os olhos para o Céu; mas batia no peito dizendo: ‘Ó Deus, tende piedade de mim, que sou um pecador’. Digo-vos que este voltou para casa justificado e não o outro; porque todo o que se exalta será humilhado, e todo o que se humilha será exaltado” – (São Lucas, 18:10-15).

Ser humilde é cumprir o seu dever, sem esperança de recompensa, é ajudar os fracos, os ingratos, os pobres, numa palavra: todas as pessoas que são incapazes de dar-vos valor, de recompensar-vos ou de agradecer-vos. “Evitai fazer as vossas boas obras diante dos homens com o fim de serdes vistos por eles; doutro modo, não tereis recompensa de vosso Pai, que está nos Céus” (São Mateus, 6:1). “Quando deres algum banquete, convide os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. E serás bem-aventurado porque esses não têm com que te retribuir, mas ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos” – (São Lucas, 14:13-14).

Ser humilde é tratar de se contentar com coisas simples, no que diz respeito a conforto, a alimentação e a vestuário. “Por amor de Nosso Senhor, eu vos suplico, minhas irmãs e meus padres, evitai sempre as casas grandes e suntuosas. Como é comovente, minhas filhas, construir grandes casas, com os bens dos pobres. Quanto menos houver num convento, mais eu estou tranquila. Procurai sempre contentar-vos com o que há de mais pobre, tanto para o vestuário como para a alimentação. De outra fora, vós tereis muito que sofrer, porque Deus não proveria as vossas necessidades e perdereis a alegria do coração. E tornamo-nos senhores de todos os bens deste mundo, desprezando-os” – (Sta. Tereza).

Ser humilde é recusar-se a submeter à justiça dos seres humanos aqueles que vos perseguem. Se nos humilhamos e se renunciamos a nós mesmos, fazendo o sacrifício da reparação terrestre, maior será a reparação espiritual e mais eficaz será a proteção de que se beneficiará, porque Deus pune duramente os ataques de que os justos são o objeto. “Se for possível e se isso depender de vós, conservai-vos em paz com todos os seres humanos. Não vos vingueis vós mesmos, meus muito amados, mas deixai atuar a justiça de Deus, porque está escrito: ‘Para mim o julgamento; sou eu quem retribuirá’, disse o Senhor. Mas, se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; e se tiver sede, dá-lhe de beber; porque procedendo assim são carvões ardentes que tu amontoarás sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” – (São Paulo aos Romanos, 12:18-21).

Ser humilde é, numa palavra, matar dentro de si todo o germe de satisfação orgulhosa e sensual, de forma a chegar a uma perfeita indiferença perante os elogios ou as calúnias. É assim que adquirimos a liberdade interior e que não nos importamos mais ouvir falar de nós, tanto em mal como em bem, como se tal coisa não nos dissesse respeito. “Um ponto pode aborrecer-vos muito, se não vos acautelais. É o dos louvores. Dizem-vos que sois santas, e serve-se de expressões exageradas, que se diriam sugeridas pelo demônio. Nunca deixeis passar semelhantes palavras sem declarar a vós mesmas uma guerra interna. Lembrai-vos de que maneira o mundo tratou Jesus Cristo Nosso Senhor depois de tanto O ter exaltado no dia de Ramos. Pensei na estima que se concedia a São João Batista, a ponto de considerá-lo o Messias, e vede em seguida como e por que motivo lhe cortaram a cabeça. O mundo nunca exalta senão para rebaixar, quando aqueles que exaltam são filhos de Deus. Lembrai-vos dos vossos pecados e supondo que sobre qualquer ponto se diz verdadeiro, pensai que é um bem que não vos pertence, e que sois obrigadas a muito mais. Excitai o receio em vossa alma, a fim de impedi-la de receber com tranquilidade este beijo de falsa paz que o mundo dá. Crede que este século é o de Judas” – (S. Teresa).

“Quando somos humildes, sofremos por ouvir o seu próprio elogio”- (Teresa, T. VI, p. 157). Para sermos verdadeiramente humildes, é necessário ainda destruir em nos qualquer ambição, limitando-nos ao cumprimento rigoroso do dever presente, e abanando o resto aos cuidados da Providência. É ela quem decidirá da utilidade do nosso bom êxito presente e quem fixará a hora da nossa recompensa aqui ou no Além. E graças a este estado de espírito intimamente vivido que tantos santos realizam obras prodigiosas antes e depois da sua morte. Assim, não devemos ficar surpreendidos em ver os grandes místicos serem atormentados pela necessidade de humilhação e a paixão do renunciamento. S. João da Cruz escrevia: “Desprezai-vos a vós mesmos e desejai que os outros vos desprezem. Para chegardes a possuir tudo, tratai de nada possuirdes. Para chegardes a ser tudo, procurai nada serdes. Porque para alcançar o Todo deveis renunciar completamente a tudo. Neste desprendimento o espírito encontra a sua tranquilidade e o repouso. Profundamente estabelecido no centro de seu nada, não poderia ser oprimido por aquilo que vem debaixo e, nada mais desejando, o que vem de cima não o fatiga; porque os seus desejos são a única causa de seus sofrimentos”.

Na prática, a extinção de todo desejo deve compreender-se como a restrição do esforço ao cumprimento do dever cotidiano. Passar uma vida regrada, simples, reta e útil sem se preocupar nem com o passado, nem tão pouco com o futuro; abandonando-se humildemente a direção da Providência Divina quanto ao restante, tal como o faria um animal de carga, tal é a verdadeira concepção mística da vida.

A humildade, na vida corrente, poderá exercer-se, suportando com paciência as desavenças, as injúrias e os sofrimentos, comportando-se a respeito de todos com benevolência e doçura sem limites. São Francisco de Assis era a doçura, a pobreza e a humildade personificadas. Não teriam fim os inumeráveis exemplos de doçura e de humildade dados pelos Santos, porque todos se esforçavam para realizar o melhor que puderam o grande exemplo de Cristo. “Pois eu estou no meio de vós outros assim como o que serve” – (São Lucas, 22:27). “Eu sou manso e humilde de coração” – (São Mateus, 11:28).

Da humildade decorre ainda outro renunciamento: é aquele que consiste em recusarmo-nos a julgar os outros. O melhor meio de nos exercitarmos, é, primeiramente, obrigarmo-nos a nunca dizer mal do próximo. “Não julgueis, e não sereis julgados; nada condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á; no vosso seio vos meterão uma boa medida de que vós vos servirdes para os outros, tal será a que servirá para nós” – (São Lucas, 5:37-38).

Depois, em presença da nossa indignidade, das nossas fraquezas pessoais e da infinita bondade de Deus, é preciso apagarmos a personalidade e destruirmos em nós todo o germe de ódio, rancor, vingança. Para obtermos o próprio perdão, é necessário começarmos por concedê-lo aos outros. Todas as vezes que a nossa vida está em perigo duma maneira assustadora, é preciso deixarmos a Deus o cuidado de nos proteger e orarmos pelos perseguidores, porque a injúria feita a um justo é sempre motivo para terríveis sanções. Todas as vezes que cometemos um erro, é preciso repararmo-lo e impormo-nos a humilhação de o pagarmos. Todas as vezes que quem ofende sinceramente se arrepende, devemos perdoar-lhe sem hesitar.
“Vós tendes ouvido o que se disse: olho por olho, e dente por dente. EU, porém, digo-vos que não resistais ao que vos fizer mal… E ao que quer demandar-te em juízo e tirar-te a túnica, larga também a tua capa. Dá a quem te pede… Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos têm ódio, e orai pelos que vos perseguem e vos caluniam. Para serdes filhos de vosso Pai que estais nos Céu, que faz nascer o Sol sobre os bons e maus. Sede, então, perfeitos, como também o vosso Pai celestial é perfeito” – (São Mateus, 5:38-48).
“Mas quando vos levantardes para orar, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe, para que também vosso Pai, que estás nos Céus, vos perdoe vossos pecados” – (São Marcos, 11:25).

“Se teu irmão pecou contra ti, repreende-o; e se ele se arrepender perdoa-lhe. Se ele pecar sete vezes no dia contra ti, e que sete vezes no dia te vier buscar dizendo: eu me arrependo; perdoa-lhe” – (São Lucas, 17:3-4).

O apagamento da personalidade a que conduz a humanidade destrói em nós não só o egoísmo, mas faz-nos ainda conhecer melhor a fragilidade dos laços que nos ligam neste mundo a todos aqueles a quem amamos. O perfeito desprendimento, com efeito, não dá mais lugar em nós do que a um pensamento dominante; cumprir a vontade de Deus. Isso não significa, de forma alguma, que seja preciso confinarmo-nos numa reserva egoísta, nem numa insensível frieza. Pelo contrário, devemos trabalhar com a melhor das vontades por nossos pais, sacrificarmo-nos acima de tudo pelos filhos, amarmos o próximo de todo o coração e prestarmos a melhor das atenções aos nossos amigos; mas, conservando o pleno abandono na Providência Divina, isto é, com a ideia sempre presente que a afeição, a estima e a vida dos parentes e dos amigos podem-nos ser retiradas a todo o momento. É preciso chegar, pois, a destruir em nós toda a raiz egoísta de afeição terrestre e aprendermos a amar profundamente com o estado de espírito de renunciamento completo que faz passar os deveres do Céu, à frente das preocupações terrestres. Foi o que Cristo claramente significou quando deixou seus pais para ficar em Jerusalém no Templo, no meio dos doutores, e quando respondeu a sua mãe que se afligia com a sua ausência: “Por que me procurais? Não sabeis que importa ocupar-me das coisas que são do serviço de meu Pai?” – (São Lucas, 2:49).

Quando estamos bem compenetrados desta obrigação do sacrifício de todas as afeições terrestres, a perda das consolações mais ternas e dos seres mais caros não causa tanto as crises de abatimento profundo e de violento desespero que tão facilmente desequilibram o corpo e o espírito das almas presas aos bens deste mundo. Quando se sabe que a morte não é mais do que uma etapa normal para a vida sobrenatural; que a comunhão imaterial dos vivos e dos mortos é uma realidade; que Deus, na sua paternal bondade, nunca nos abandona; que a ressurreição para uma vida nova é uma certeza, então compreende-se que o melhor meio de honrar os mortos, de os ajudar ou ainda de receber úteis inspirações, não é passar o tempo em estéreis lamentações; mas, unicamente, orar por eles e, sobretudo trabalhar por realizar em si e à volta de si o Reino de Deus. E para edificarmos este Reino de Deus, não há outra coisa a fazer senão aceitarmos com fé os renunciamento diários e ligarmo-nos sem demora à execução dos deveres presentes de correção, de bondade e de trabalho. Nenhuma coisa faz nos desviar desta estrita obrigação de prepararmos o futuro, sem nos demorarmos no passado. Ao discípulo que lhe dizia: “Senhor, permite-me ir primeiramente sepultar meu pai” Cristo Jesus respondeu: “Segue-me, e deixa que os mortos sepultem os seus mortos” – (São Mateus, 8:21-22).

“E tu, vais, e anuncia o Reino de Deus” – (São Lucas, 9:60). Outro lhe disse: “Eu Senhor seguir-te-ei, mas, permite-me, primeiramente, dispor dos bens que tenho em minha casa”. Cristo Jesus respondeu-lhe: “Todo aquele que põe a mão ao arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus” – (São Lucas, 9:61-62).

Então, quando se realizar em si estas necessárias amputações do espírito de personalidade, Deus nos poupará as provações e nos acumulará com os seus favores, muitas vezes mesmo já neste mundo. Além disso, tornamo-nos poderosamente fortes, desde que tomamos o nosso único ponto de apoio em Deus e o nosso único auxílio n’Ele, aceitando o pensamento de ficarmos privados, na desgraça do socorro e das afeições de todos os nossos. Foi por isso que Cristo disse ainda: “Aquele que ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim; e aquele que ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim. Aquele que não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. O que acha a sua alma perdê-la-á e o que a perder por mim, achá-la-á” – (São Mateus, 10:37).

(Revista Serviço Rosacruz – 04/65 – fraternidade Rosacruz – SP)

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