Sob o Império Romano, muitos astrólogos eram apenas “adivinhos”. No entanto, os imperadores tinham, em sua maioria, seu astrólogo designado.
Augusto (63 a.C.- 14 d.C.) cunhou moedas de prata com o Signo de Capricórnio sob o qual nasceu (Signo Solar ou Lunar?).
Tibério (42 a.C.- 37 d.C.) jogou no mar do topo de uma rocha os astrólogos cujas previsões lhe pareciam suspeitas.
Diocleciano (245 – 313) proibiu qualquer tipo de adivinhação.
Constantino (280-337), que o sucedeu, suavizou essa proibição condenando apenas os abusos.
O grande teórico da Astrologia foi Cláudio Ptolomeu, astrônomo-astrólogo e matemático do século II d.C., nascido em Ptolemaida no Alto Egito e que fez suas pesquisas em Alexandria. Seu trabalho, o Tetrabiblos (4 livros), é uma compilação de todo o conhecimento astrológico de seu tempo.
Escreve também um livro de Astronomia, o Almagesto, em que a Terra está fixa, no centro do mundo e o Sol e a Lua giram em torno dela em órbitas circulares.
A grande originalidade de Ptolomeu é ter conseguido explicar as principais irregularidades dos movimentos dos diferentes Planetas, vistos da Terra (Retrogradações), na sua teoria dos epiciclos, que será dogma durante 14 séculos, até Copérnico.
Adota o sistema de Casas que divide cada um dos quatro ângulos: AS-MC, MC-DS, DS-FC, FC-AS em três partes iguais (AS = Ascendente; DS = Descendente; MC = Meio do Céu; FC = Fundo do Céu).
Mas, sem dúvida, a diferença com o outro sistema antigo do qual falamos anteriormente não é muito grande, faz com que a influência de uma Casa comece cinco graus antes e termine cinco graus antes da seguinte.
É, em parte, a noção de uma Órbita de Influência de uma Casa astrológica que ainda é usada hoje.
A Religião Cristã dos primeiros séculos era totalmente contra a Astrologia?
Sabemos que há condenações de “adivinhação” no Antigo Testamento (Dt 18:10-11[1]; ISm 28:7[2]; Is 8:19[3]), mas a palavra “astrologia” é uma tradução incorreta de uma palavra hebraica que significa “conjecturador” (veja: Bíblia de Chouraqui[4]).
Além disso, os cabalistas a praticavam tão bem quanto os essênios. Referências astrológicas muito claras foram encontradas nos Manuscritos do Mar Morto (Manuscrito 4Q186).
Nossos futuristas modernos também seriam condenados?
A Religião Cristã tem usado símbolos astrológicos desde o seu início:
– A Era de Áries estava chegando ao fim, quando Jesus Cristo veio à nossa Terra. Cristo foi o “Bom Pastor” (Jo 10:11[5]).
– Ele, frequentemente, compara seus Discípulos a ovelhas e se torna Ele mesmo o Cordeiro de Deus oferecido pelos pecados do mundo.
– Mas ele também anuncia a Era de Peixes quando diz: “Eu vos farei pescadores de homens” (Lc 5:10[6]).
– O sinal de união dos primeiros Cristãos nas catacumbas era formado por dois peixes cruzados (ichthus) e a mitra dos bispos em forma de cabeça de peixe.
– O nascimento de Jesus foi colocado em 24 de dezembro à meia-noite, quando o Signo de Virgem está no Ascendente e o Sol no Solstício de Dezembro vai “nascer” para nos salvar do frio (é claro que essa data é essencialmente simbólica porque faz muito frio nessa época do ano, mesmo em Israel, para encontrar ali pastores com suas ovelhas, lá fora no meio da noite…).
– Quem são os Magos, senão astrólogos?
– A Páscoa é fixada no domingo (dia do Sol) que segue a Lua Cheia do Equinócio de Março, quando o Sol está na cruz formada pela eclíptica e pelo equador celeste.
Entre os primeiros eclesiásticos, alguns se interessaram muito pela Astrologia, tanto que três concílios sucessivos em 381, 431, 451 reiteraram a proibição de praticar a Astrologia considerada, apesar do que acabamos de ver, contrária à doutrina da Religião Cristã.
São Jerônimo (347-420) respeitou essa proibição, mas escreveu: “Sou silencioso sobre filósofos, astrônomos, astrólogos, cuja ciência, muito útil aos seres humanos, é afirmada por dogmas, é explicada pelo método, é justificada pela experiência.
Santo Agostinho (354-430) é conhecido como opositor da Astrologia, após sua conversão. Ele já havia sido atraído pelo maniqueísmo e admite, em suas Confissões, ter estudado Astrologia. Ele escreve mesmo assim: “Não seria totalmente absurdo dizer que certas influências astrais não são destituídas de poder sobre as variações do corpo, mas que as vontades da alma dependem da situação das estrelas, não vemos isso” (parece-me que Max Heindel não discordaria totalmente dessa afirmação que é sobretudo a do livre arbítrio do ser humano).
Por fim, citemos a obra do pseudo Dionísio, o Areopagita, composta por 4 tratados de teologia mística em que a Astrologia está presente e que terão uma influência grande no Ocidente a partir do século XIII, como veremos mais adiante.
Essa obra é considerada datada do século V, tanto pelo caráter neoplatônico do conteúdo quanto pelo fato de nunca ter sido mencionada antes dessa época, embora seu autor afirme em seus escritos ser o Dionísio convertido por São Paulo durante sua visita ao Areópago (At 17:16[7] a 34[8]) e que teria sido o primeiro bispo de Atenas. A partir do século V e até o século XI, o Ocidente praticamente deixou de se interessar pela Astrologia, como também por várias outras ciências, salvo alguns religiosos cultos.
Sabemos, por exemplo, que Papas como Leão III (750-816) e Silvestre II, o Papa do ano 1000 (938-1003), se interessaram por ela.
(De: Introduction: L’astrologie Selon Les Enseignements Rosicruciens : L’Astrologie Rosicrucien, da Association Rosicrucienne Max Heindel, Centre de Paris – Texte inspiré de l’enseignement rosicrucien légué à Max Heindel par les Frères Aînés de la Rose-Croix – Traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)
[1] N.T.: Que em teu meio não se encontre alguém que queime seu filho ou sua filha, nem que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou ainda que invoque os mortos;
[2] N.T.: Saul disse então aos seus servos: “Buscai-me uma necromante para que eu lhe fale e a consulte”. E os servos lhe responderam: “Há uma em Endor”.
[3] N.T.: Se vos disserem: “Ide consultar os espíritos e os adivinhos, cochichadores e balbuciadores”, não consultará o povo os seus deuses, e os mortos a favor dos vivos?
[4] N.T.: André Chouraqui, famoso tradutor francês.
[5] N.T.: Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas.
[6] N.T.: Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! Doravante serás pescador de homens”.
[7] N.T.: Enquanto os esperava em Atenas, seu espírito inflamava-se dentro dele, ao ver cheia de ídolos a cidade.
[8] N.T.: Alguns homens, porém, aderiram a ele e abraçaram a fé. Entre esses achava-se Dionísio, o Areopagita.
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