Ação: Há alguma coisa a fazer? Se é digna, se é dos “negócios do Senhor”, por que não Eu?

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Ação: Há alguma coisa a fazer? Se é digna, se é dos “negócios do Senhor”, por que não Eu?

Os Filhos do Fogo encontram na ação, o fundamento da vida. Eles não fogem à luta, à dificuldade. Preocupam-se com a ociosidade da inércia. Miram-se na Mãe Natureza e contentam-se com o repouso da noite. Nos fins de semana e nas férias são dinâmicos, também. Apenas fazem coisas diferentes, para higiene mental.

Pode parecer natural que uma pessoa, lutando pela vida, deseje que as dificuldades desapareçam, que acabem os problemas e decepções. Mas, pensando bem, é a vontade do Pai que se deve fazer e não a nossa. Os Anjos Arquivistas (NR: ou Anjos do Destino) já destinaram a cada um e a todos exatamente o de que necessitam para seu desenvolvimento espiritual. Muitas vezes, quando pensamos ajudar nossos filhos, facilitando-lhes todos os passos, erramos redondamente, pois, estamos lhes roubando a experiência e o crescimento anímico decorrente. Podemos, isto sim, orientar inteligentemente. A vida não é “ter resolvido todos os problemas”, senão “buscar resolvê-los”. Cada providência necessária exige força de vontade. E a cada ato, nesse sentido, alguma coisa cresce e fica mais forte dentro de nós. Aquele que luta e vence através da experiência, tem sempre mais autoridade porque viveu e avaliou essas experiências. Muitas vezes não compreendemos o propósito de Deus. Queixamo-nos, resmungamos, esquecendo que muita coisa estava prevista em nossas vidas a fim de nos tornar um pouco melhores, a caminho da perfeição. Cristo disse: “Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt. 5:48) e também: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai” (Jo 14:12). Deduz-se, logicamente, que se não pode atingir a estatura de Deus nem a grandiosidade de Cristo em uma só vida e nestas frases, o renascimento, ensinado pela escola Rosacruz, encontra irrespondíveis argumentos, além de outras existentes na Bíblia.
Aceitemos, pois, o marido ou a mulher que recebemos de Deus, os Egos que vieram morar nas formas que geramos e todas as demais coisas que em nossa vida escolhemos ou não. Todas elas fazem parte de um programa inteligente de redenção. Aproximam-nos mais do que o conforto, dão-nos confiança e valorização. Grandes seres humanos, autênticos líderes de nosso mundo ocidental, consideraram como os maiores e mais felizes momentos de sua vida não os em que foram condecorados, nem quando lograram alcançar o cume de suas carreiras, mas quando perderam tudo e confiantemente recomeçaram. Eis porque, frequentemente, encontramos nos escritórios de grandes companhias o magnífico trabalho poético de Rudyard Kipling “If” (Se)¹: a luta gigantesca que se segue e justamente o que consolida no indivíduo a possibilidade de dirigir seu trabalho futuro com firmeza.

Nos momentos de conforto esses indivíduos esqueceram Deus, mas quando lutavam por sua sobrevivência lembravam-se d’Ele e diziam: “Senhor, dai-me sabedoria para aceitar as dificuldades, e coragem para procurar resolvê-las”.

Neste esforço de encontrar a solução não se contam apenas os grandes momentos, mas, também as pequenas vitórias, os impasses, as esperas e mesmo as derrotas. Os Irmãos Maiores nos observam atentamente as reações para avaliar o grau de entendimento e firmeza, sem os quais não podemos edificar nada de mais edificante em nossas aspirações espirituais. A vida, por esses momentos, corrige o que há de fantasioso em nosso modo de ver.

Aceitemos, pois, caros Amigos, as lutas, não por conformismo, mas como oportunidades para vencermos a nós mesmos. De que valeria resolvermos todos os problemas? Ficaríamos então, como simples espectadores e não como participantes da vida. Poucos foram os seres humanos famosos que desfrutaram em vida o galardão de seus feitos. E estes poucos, no meio de sua segurança e conforto olharam com saudade para os tempos em que eram vulneráveis, inseguros e assustados, porque nesses momentos viviam. Assim, quando perceberem que está invejando alguém que parece “ter resolvido todos os seus problemas”, parem e perguntem a si mesmos: “queremos realmente imunidade contra os desafios da vida”? Queremos realmente isenção das esperanças e desânimos, confusões e esforços, o gélido medo da derrota a gosto do triunfo? Se forem honestos, saberão que não querem. E saberão também que na verdade ninguém chega a ter “todos os problemas resolvidos enquanto houver problemas a solucionar, pessoas a ajudar e amor a partilhar”. O sentimento de participação nos problemas sociais é fraternidade.

Levantemo-nos, pois, que estamos ainda dormindo, despertemo-nos para a ação inteligente e amorosa, de modo a valorizar o talento do tempo que nos deu o Senhor. Há alguma coisa a fazer? Se é digna, se é dos “negócios do Senhor”, porque não Eu? Façamo-la! – malgrado nossas imperfeições, porque através da ação, dos pequenos e grandes embaraços, é que chegaremos a ser o que nos está destinado.

¹ SE (IF)

SE calmo – enfrentas – a turba contrafeita,

que te assedia e acusa: – “FOI VOCÊ!”..

E – confiante em ti próprio – ante a suspeita,

tens o bom senso de saber porque;

SE és capaz de esperar paciente e mudo,

E, em sendo caluniado, refletir,

Sem dar vasas ao ódio e, sobretudo,

sem ostentar bondade nem fingir;

SE sonhas e, dos sonhos despertando,

levas a cabo as múltiplas ações;

SE te manténs inalterável, quando

da derrota ou do triunfo ecoam sons;

SE és capaz de escutar palavras tuas

deturpadas por vil difamador;

Ver por terra, antes mesmo que as concluas,

todas as causas por que deste suor;

SE arriscas entre as mãos da gente astuta,

tudo o que tens – teu último vintém –

E, em perdendo, te lanças para a luta,

sem nunca murmurar palavra a alguém;

SE és capaz de juntar de novo as forças,

para novas empresas empreender,

E, embora exaustas, mortas, tu as torças

a golpes de vontade e de querer;

SE ocupas todo o espaço de um minuto

com sessenta segundos triunfais;

SE pagas aos magnatas o tributo,

sem jamais esquecer os teus iguais;
E ainda – se frequentas o mercado,
conservando ilibado o nome teu;
Terás o mundo inteiro conquistado,
E – mais que isso – és um HOMEM, filho meu!

(Revista Serviço Rosacruz – 8/64 – Fraternidade Rosacruz – SP)

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