Como construir uma Virtude
Existe em nosso vocabulário uma palavra encantadora que reflete um estilo de vida: essa palavra, essa conquista, é a VIRTUDE. Infelizmente, nos instáveis tempos que atravessamos ela quase perdeu seu significado real. Até já é considerada antiquada. No entanto, representa uma expressiva realização para todo aspirante à vida espiritual.
Muitas pessoas admiram mais a inocência do que a virtude. Isso vem de longe. Até pouco tempo atrás, as mulheres eram educadas exclusivamente para a maternidade e o lar. Considerava-se prendada a mulher que ignorasse as malícias do mundo e se conservava em pureza infantil. Quando se casava, submetia-se inteiramente ao marido, chamava-o de “Senhor Fulano” e não se metia em seus negócios. Se ficasse viúva, sua inocência a convertia em presa fácil dos espertalhões, que se valiam de suas assinaturas em endossos avais e procurações para despojá-las.
Hoje em dia, as mulheres partiram para uma autoafirmação extremada. É natural de toda transição. Mas não representa virtude, porque é degradante. A experiência as reconduzirá à virtude pela dor. Então poderão desfrutar retamente a igualdade de direitos que já está quase inteiramente conquistada com o direito ao voto, ao exercício de cargos públicos elevados ou tantos outros. Porém a igualdade terá de respeitar as características de cada sexo.
A inocência ainda é cultivada em muitas crianças e conservada em muitas mulheres. É um estado de inexperiência que ignora algumas necessidades, estando alheio às experiências e provas que amadurecem e consolidam o caráter.
Parsifal, o herói da ópera de Wagner, era inocente quando tropeçou pela primeira vez nos guardiões do Graal, em Monte Salvat. A toda pergunta que fazia Gurnemanz, ele respondia: “Não sei”. Sua inocência era uma pureza imatura que teria de mudar com os impactos e cicatrizes da batalha da vida.
Os neófitos da vida espiritual acreditam que as Forças Superiores devem protegê-los de toda experiência difícil, sem compreender que as adversidades lhes aparecem como efeito de sua conduta egoísta. Cabe aos expositores deixar bem claro a necessidade de eliminar os traços indesejáveis do caráter, de purificar os Corpos e concentrar os esforços em um equilíbrio entre os interesses espirituais e materiais, dando “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.
Espiritualidade não é a busca de fenômenos, não é a tentativa de eliminar as desarmonias físicas ou psíquicas por meio de “passes”, imposição de mãos e “trabalhos espirituais”, partindo da suposição egoísta de que todo mal é mandado pelos outros. Espiritualidade é o cultivo das faculdades latentes do espírito por meio de um reto pensar, um nobre sentir e um correto agir: trabalho incessante, paciente, perseverante e diário de orar e vigiar contra o único adversário (etimologicamente chamado de demônio ou Satanás), dentro de nós, que nos tenta a repetir e consolidar os vícios adquiridos através de muitas vidas de erro…
Vejam como agem as pessoas comuns: quando se tornam conscientes de sua “falta de graça” ou desgraça, tornam-se abrumadas, tristes, pessimistas, revoltadas, inseguras diante dos desafios! Como se abraçam carinhosamente às suas antigas emoções para se autojustificar e defender o direito de ser como são, a regalia de não mudar, decretando com isso sua cristalização, adiando a prova, desistindo de “passar de ano” na Escola da vida!
A tentação é uma necessidade: são os exames da vida por intermédio dos quais mostramos estar, ou não, preparados para adentrar os graus de consciência mais elevados. Ser tentado não significa viver em pecado. Desculpar nossas debilidades e nos comprazer no erro: isso, sim, é pecado. Agindo desse modo, mostramos não ser virtuosos. Virtude é conhecer o bem, o mal e escolher voluntária e gostosamente o bem, sem recalques. Notem que na “Oração do Senhor”, popularmente conhecida como “Pai Nosso”, somos ensinados a pedir: “Não nos deixeis cair em tentação”. A tentação existe, mas devemos superá-la pouco a pouco, até que a atração de repetir um hábito desapareça e já não nos constitua um desejo. Isso nos leva a compreender que a tentação tenha sua raiz em algum hábito errôneo formado no passado. A um beberrão o jogo pode não constituir tentação nem a bebida, ao jogador. Cada um tem seu ponto fraco a superar.
Como espiritualistas, façamos a nós mesmos esta pergunta: qual é o propósito da evolução?
Nossos estudos respondem: é a aquisição e o correto uso do conhecimento aliado ao amor para formarmos a Sabedoria com a qual desenvolveremos nossos poderes latentes rumo à perfeição a que somos chamados — “Sede vós perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito”. Isso corresponde à semente que dilui sua personalidade, ao se desmanchar na terra para converter-se na árvore da qual veio.
Esse processo de evolução é indispensável, como teste, na vida de todos. Precisamos encontrar nossa fortaleza. Nosso Eu Superior não aceita subterfúgios, porque já está cansado dos tormentos que se prolongam vida após vida, sob o domínio da natureza inferior.
Verdade é que muitas vezes cedemos à tentação. É pena. Mas isso não nos impede de alcançar a virtude. “O único fracasso é deixar de lutar.” — diz Max Heindel. O que nos pode distanciar da virtude é a falta de arrependimento. A contrição sincera e positiva lava a transgressão com lágrimas e abre a porta da reforma para se alicerçar um caráter virtuoso sobre o qual podemos edificar uma vida espiritual autêntica e estável. Esse penoso esforço deixa profundas impressões que mais tarde são transmitidas ao Átomo-semente durante a gravação do panorama da vida sobre nosso Corpo Vital. No estágio post-mortem, essas impressões são gravadas no Corpo de Desejos como “consciência” para o crescimento da alma e a firmeza contra as tentações de futuras existências.
Assim, devemos compreender e aceitar os desafios, especialmente as tentações, vendo nelas boas oportunidades de nos livrar de hábitos e atividades retardantes. Ao vencê-los, podemos desarraigar características anticrísticas, tendências adversárias ao nosso crescimento anímico.
O caminho do transgressor é duro. Ele provoca reações da Lei Divina mantenedora da harmonia universal. Tais reações lhe são dolorosas, mas também amorosas, porque advertem: “Retorne ao caminho da retidão. Endireite a sua vereda, antes que lhe ocorram coisas piores”. Por meio da dor compreendemos que ninguém pode fugir de Deus, “em Quem vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”. Ao tomarmos consciência desse Poder passamos a admirá-Lo, não por medo, mas pela alegria de descobrir que o mundo tem um Supremo Diretor que é muito justo e a Quem, prazerosamente, desejamos servir. Daí começamos a ser justos, convictamente. Fazemos o bem pelo amor ao Bem. Então nos tornamos VIRTUOSOS.
Os seres humanos têm o privilégio da liberdade relativa, da escolha e do conhecimento para isso. Tais capacidades são aprimoradas pela experiência. A ave Fênix da Sabedoria, que nasce das cinzas do conhecimento e do amor sempre renovados e melhorados, mostra que vale a pena passar pelo fogo da dor e pelos arranhões da batalha. O diabo (adversário criado pelos maus hábitos da nossa natureza) pode e sempre nos tenta. Contudo, quando escolhemos profundamente o melhor curso de ação, podemos dominar a tentação e agir em harmonia com o bem universal. Desse modo nos tornamos aptos à união final e consciente com os guias Espirituais da humanidade por meio do despertar de nossa Deidade.
Um fato bem estabelecido é este: nossas vidas futuras se decidem AGORA. É certo que neste momento estamos ajustando antigas dívidas e relações. No entanto, não importa quão severos sejam os condicionamentos atuais do destino, sempre contamos com uma margem de livre-arbítrio para criar melhores condições futuras. Os guias espirituais se preocupam demais com essa possibilidade de redenção e tudo fazem para permiti-la. Um ponto importante é o modo como agimos diante das provas. Esse é um dos fatores decisivos da regeneração. Dar-se logo por vencido e buscar uma saída fácil não remedia coisa alguma. Não que sejamos masoquistas, nada disso. Devemos, isto sim, aceitar o desafio e nele ver uma boa oportunidade para exercitar os músculos da alma, dar mais flexibilidade e tolerância ao nosso caráter e testar nossas fibras.
Até o Cristo foi tentado! Quanto Amor tem o excelso Cristo para permitir que Sua Consciência Se deixasse envolver por uma onda de vida manchada de pecados e ritmo evolucionário tão lento! As satânicas promessas de poder sobre todos os reinos do mundo e sua glória jamais poderiam tentar Aquele que já era o mais elevado Iniciado dos Arcanjos. O Cristo submeteu-Se a essa indignidade para mostrar à humanidade que a tentação é uma parte da nossa experiência, aqui na Terra. É claro: um Anjo rebelde nunca poderia tentar um elevado Arcanjo. As tentações de Cristo assumem diferentes significados, quando recordamos que Ele estava usando o Corpo Denso e o Corpo Vital de Jesus de Nazaré. Os corpos humanos estão sujeitos a determinadas características físicas como a fome. Assim, a ideia de converter as pedras em pão, depois de quarenta dias (simbólicos) de jejum, poderia constituir uma tentação à natureza HUMANA do seu corpo. No entanto, converter pedras em pão também encerra outro significado: o de usar os poderes alquímicos de Iniciado para proveito próprio, em todos os assuntos. O Cristo jamais havia passado, em Sua evolução, por condições QUÍMICAS e DURAS como nós. Seu veículo mais inferior é o Corpo formado de matéria emocional, o Corpo de Desejos. Portanto, Ele precisava conhecer as condições terrenas para compreender a consciência humana. Quando foi levado ao pináculo do Templo, recebeu a tentação do poder: “Tudo isso te darei, se prostrado me adorares”. Através dos Átomos-sementes dos Corpos Denso e Vital de Jesus, o Cristo precisava avaliar o impacto dessa tentação: submeter o Espírito ao mundo em troca de um domínio efêmero, a barganha “da progenitura por um prato de lentilhas”. Finalmente, a exibição de poder em que tantos espiritualistas caem! “Lança-Te daqui abaixo e os Anjos designados para proteger-Te virão amparar-Te na queda.” Dessas tentações saiu o Cristo consciente da condição humana, cheio de compaixão para converter-Se, através de Seu sacrifício, no ÚNICO SER A POSSUIR UMA CADEIA COMPLETA DE VEÍCULOS QUE LIGAM “O HOMEM AO PAI CELESTIAL”.
No Velho Testamento, no livro de Jó, vemos que Jó foi tentado por Satanás, com permissão de Deus. Embora fosse Jó “perfeito, reto, temente a Deus, apartado do mal”, foi experimentado o suficiente para bradar a Deus, em meio a sua angústia, não cessando de clamá-Lo até que o Senhor lhe apareceu com perguntas bem interessantes. Se você se interessa, leia os últimos capítulos do Livro de Jó (a humanidade) na Bíblia, em situação bem desvantajosa. Elas conduziram Jó à compreensão e arrependimento que o livraram de sua miséria.
O propósito da tentação é apenas testar se os erros passados foram mesmo vencidos e convertidos em caráter, em virtude. Quando caímos, diante das mesmas provas, é sinal de que não as vencemos ainda. Em tal caso, a dor purgatorial é bem mais profunda para que a consciência a registre mais nitidamente. Só desse modo, ao defrontarmos idênticas provas em seguinte encarnação, teremos força interna para batalhar e vencer. Ninguém pode fugir ao propósito evolutivo sem retrogradar. Se desejamos evitar a dor e a tristeza, cada vez mais aumentadas pela fuga e irresponsabilidade, precisamos nos converter em SENHORES DE NÓS MESMOS. Como está no Livro do Apocalipse: “Há um livro doce ao paladar, mas amargo ao estômago”. As satisfações, o egoísmo e as seduções de nossa natureza inferior são efemeramente gostosas; depois, convertem-se em sofrimento e fel. Quando compreendemos e adquirimos o valor para viver consoante as Leis Divinas, tornamo-nos virtuosos e desfrutamos a paz, harmonia e os demais talentos que lhe são inerentes e se oferecem a “todos os escolhidos”.
A dor purgatorial anterior nos adverte contra a repetição dos abusos e as presentes vitórias só se incorporam em nós como caráter ao serem assimiladas e reunidas no Átomo-semente, no Primeiro Céu, onde desfrutamos as alegrias dessas vitórias. Depois, no Terceiro Céu, nosso espírito as incorpora como Alma, o poder anímico determinante para nossa conduta futura. Que isso nos sirva de estímulo para lutar o bom combate e encarar com decisão hercúlea as características que estorvam este templo que estamos edificando para o ESPÍRITO. Vejam como respiramos aliviados, ao remover um fardo ou uma falta pelo domínio de nós mesmos! Começamos assim, por pequenas vitórias. Ao racionalizar e eliminar os aspectos sutis desses erros, sentimo-nos leves e felizes, desejosos, mais do que nunca, de nos livrar do imã do apego ou vício que nos atrai às provas e afasta de nossa legítima herança de paz.
Pouco a pouco, cresce dentro de nós um forte propósito de purificação. No entanto, lembremos: quanto mais fortes nos tornamos e quanto mais tentações vencemos, tanto mais sutis e manhosas elas se tornam.
Os vizinhos e amigos observam atentamente os Aspirantes da Luz, esperando deles sempre as virtudes de um caráter íntegro. Contudo, as virtudes que ninguém vê, as mais delicadas, internas, que os Aspirantes sinceros e iluminados não mostram, que foram acumulando modestamente com as pequenas vitórias nas lutas interiores, essas constituem o mais valioso material para TECER O DOURADO MANTO NUPCIAL ou O CORPO DO CRISTO INTERNO, o Corpo-Alma.
“Deus dá o fardo segundo as nossas forças.” Praticantes sinceros e iluminados não precisam, todos, de duras experiências físicas ou emocionais. Entretanto, podemos, cada um em seu particular grau de consciência, preparar-nos, em tempos de paz, para vencer a luta, quando ela chegar. Recomendamos o hábito, o exercício de criar imagens mentais, imaginando situações difíceis e criando soluções cristãs para sobrepujá-las. Isso nos prepara para “melhores escolhas e decisões”, principalmente em emergências que possam aparecer em nossa vida. Muitas pessoas que manejam habilmente as situações são as que, amorosa e calmamente, preparam-se para superar problemas, analisando-os como um enxadrista, de vários ângulos, dos seus e dos de outras pessoas. São admiráveis qualidades que atualmente muitos possuem e resultam do trabalho feito em vidas passadas. A virtude é a essência de todo o bem de vidas pregressas: é a percepção de tudo que se constitui em estímulo para o Espírito esforçar-Se cada vez mais ardentemente no caminho evolutivo rumo à Liberdade Espiritual.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de agosto/1973)
Uma Virtude Espiritual
Em primeiro lugar, lembremo-nos da afirmação categórica de Max Heindel: “É parte de nosso trabalho pôr em prática nossas próprias linhas de esforço tanto como indivíduos como associação”. Max Heindel mesmo, mensageiro autorizado da Ordem Rosacruz, disse que depois de ter vivido um curto tempo na Alemanha, quando recebeu as instruções básicas expostas no “Conceito Rosacruz do Cosmos”, recebeu pouca instrução de seu Mestre. Em verdade ele constantemente se perguntava se seria correto chamar de “Mestre” ao irmão Maior, já que este dava unicamente uma palavra ocasional de conselho, e na maior parte das vezes deixava-o resolver seus próprios problemas e à sua maneira. Se aconteceu a Max Heindel, quanto mais então a todos os estudantes!
Ninguém tomará decisões por nós; devemos nós próprios tomá-las, em cada trecho do Caminho. Isto significa que os Irmãos Maiores da Rosacruz deixaram a Max Heindel e aos estudantes a liberdade de levar adiante o trabalho segundo seu melhor juízo e opinião. Mais tarde, na aurora da Era de Aquário, explicou o sr. Heindel: aparecerá publicamente um Mestre para dar um novo impulso à Obra.
Entretanto, nos aproximadamente seiscentos anos que medeiam entre nós e a Era de Aquário propriamente dita, o trabalho preparatório seguirá adiante com as linhas básicas assentadas na Filosofia Rosacruz. É supremamente importante compreender que o estudante Rosacruz não está “sob obediência”, no sentido em que estão os monges da igreja e a maioria dos cultos orientais. Os Irmãos não temem nem condenam a liberdade intelectual, nem os erros que resultam de seu exercício. Por suposto, todos cometemos erros e alguns até sérios. Mas, é muito melhor cometer erros no exercício da divina liberdade do que seguir cegamente os passos do Mestre, ou instrutor – ainda que o Mestre em questão fosse um Irmão Maior da Rosacruz e sublime Hierofante dos Mistérios.
Max Heindel disse que a Fraternidade Rosacruz é uma “escola preparatória”. Obviamente chegará o tempo em que o estudante da escola preparatória se graduará entrando para um colégio ou universidade para o qual esta escola o preparou. No caso, a “universidade” é a Ordem Rosacruz nos planos internos, onde o candidato “cola grau” como lrmão ou Irmã Leiga. O sr. Heindel escreveu que a meta e o propósito do método Rosacruz de desenvolvimento é emancipar o aspirante da dependência dos demais e fortalecê-lo de tal modo que possa confiar em si mesmo e permanecer só; de outra maneira o espírito se converte em presa dos demais tão logo quando entre nos mundo invisíveis e seja abandonado a seus próprios recursos. No processo de chegar a confiar em si mesmo, um grande obstáculo é removido do caminho do progresso, de modo que seja capaz de desenvolver a maior eficiência possível no serviço à humanidade, como colaborador consciente da Ordem Rosacruz, tanto exotérica como esotericamente.
Por que devemos considerar que temos que compartilhar com nossos amigos no Caminho esse fruto espiritual à medida que vá chegando a nós? Os mais fortes têm o dever de ajudar aos que sejam débeis. Os estudantes se convertem em Mestres. Os servidos se convertem em servidores. Note-se, particularmente que o estudante NÃO SE OBRIGA NEM AINDA COM OS IRMÃOS MAIORES DA ROSACRUZ. A razão pela qual não se deve obrigar a si mesmo é para que não reduza sua própria liberdade de pensamento e ação. Se a liberdade é preciosa aos olhos dos Irmãos da Rosacruz, obviamente eles não podem ser um partido para o zelo desviado e a devoção fanática do estudante ignorante que deseja “vender-se a si mesmo” como escravo. A tal estudante o Mestre poderá unicamente responder: “Desejas vender-te a mim como meu escravo? Talvez, mas eu não desejo comprar-te. Sou um objetante consciente de toda sorte de escravidão”.
Porque, pôr-se a si mesmo sob obrigação é, em verdade escravizar-se; e, portanto, os Irmãos da Rosacruz proíbem a qualquer estudante se obrigar com Eles ou qualquer outra pessoa. Nenhum estudante, nem Probacionista ou iniciado está sob obrigação com algum Irmão Maior da Rosacruz individualmente, e nem ainda à Ordem como um todo. Todos são agentes livres. Os Irmãos Maiores nos quereriam ver rebeldes e questionantes do que inquestionavelmente obedientes. Podemos rebelar-nos, questionar; podemos desafiar e acusar. Isto não nos fará perder o amor dos Irmãos Maiores da Rosacruz. Mas, o que com toda certeza nos cortará a linha espirituais de comunicação com a Ordem é a atitude de aderência infantil e submissão irracional à autoridade dogmática. Max Heindel expõe o assunto convincentemente: “Qual é o caminho para as alturas da realização religiosa e onde podemos encontrá-lo? A resposta é: QUE NÃO SE ENCONTRA EM LIVROS. Os livros são úteis na medida que nos subministrem pábulo para a meditação sobre os temas tratados. Podemos chegar ou não às mesmas conclusões que os autores dos livros, mas, contanto que levemos as ideias apresentadas a nosso ser interno e ali as consideremos cuidadosamente e com espírito de oração, o que resultar do processo será completamente nosso, e mais próximo da verdade que qualquer coisa que pudéssemos obter de alguém mais ou em quaisquer outras formas.
Portanto, o caminho para o estudante seria: não aceitar nem desprezar e nem obedecer cegamente a nenhuma autoridade, mas, esforçar-se por estabelecer o tribunal interno da verdade.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 7/72 – Fraternidade Rosacruz – SP)