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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Desprendimento é uma das mais necessárias Qualidades da Alma

Nesta época em que as vibrações do Cristo Solar se fazem sentir mais amplamente na esfera pesada da Terra, se formos meditar sobre o Seu imenso sacrifício de Amor renovado em cada Natal, chegaremos infalivelmente ao desprendimento.

Porque é pelo desprendimento de Si mesmo que o Adorável Espírito desce anualmente do Seio do Pai para revitalizar nosso Planeta Terra; e será também pelo desprendimento, que chegaremos um dia, com Ele, ao Trono do Pai. Portanto, nesta época solene será oportuno pensarmos um instante no que seja o desprendimento; será interessante considerarmos que se trata de uma força interna que nos ensina a viver na “carne” uma vida separada, independente, liberta de todas as coisas e de todos os seres.

O desprendimento faz, realmente, nos sentirmos em nós mesmos, mas desapegado de nós mesmos como um ser humano, liberto da nossa própria tirania e da tirania de todas as coisas que nos cercam, das coisas que podem nos escravizar a qualquer sentimento transitório. Poderemos, assim, realizarmos as coisas do mundo sem preocupação com essas mesmas coisas, desligados das decepções, dos desafetos, das traições e das maldades. Viveremos aplicando a Lei de Causa e Efeito – ou Lei de Consequência –, e compreendendo que os efeitos e as causas estão no coração de cada um de nós.

O desprendimento desperta a Individualidade, nos leva à libertação dos apegos a que a Personalidade costuma nos cingir. Na verdade, quando desprendidos não sentimos necessidade de perdoar os males que nos fazem, porque começamos a perceber que o perdão é o resultado do nosso próprio egoísmo, que se perdoamos as ofensas que nos fazem, estamos apenas satisfazendo a nós mesmos, procurando agradar ao nosso “eu inferior”. Isso porque, para chegar ao desejo de perdoar, tivemos que atravessar, em maior ou menor escala, o caminho do ressentimento. Quem não se ressente e não odeia, nada terá a perdoar de ninguém. O próprio Cristo, no momento supremo do Seu martírio, ao ouvir, do alto da cruz, os apupos da multidão, não disse: “Eu vos perdoo!”, mas, “Pai, perdoa-lhes: não sabem o que fazem!” (Lc 23:34). Mesmo na Oração do Senhor, o Pai-Nosso, o perdão aos nossos devedores a que se referiu Cristo-Jesus, quando ensinou a sublime oração a Seus Discípulos, quis significar que não devemos imputar dívidas aos nossos semelhantes, quando nós próprios não estamos livres de contrair essas mesmas dívidas. Se formos mesmo refletir um pouco, veremos que as dívidas dos outros para conosco são realmente nossas próprias dívidas, porque tudo o que nos sucede é sempre fruto do nosso próprio merecimento: que nada teremos que perdoar a outro irmão ou a outra irmã; teremos, sim, que pedir perdão a Deus por merecer ainda que alguém nos ofenda, que a vida nos seja madrasta, que o mal nos persiga na forma de seres ou de acontecimentos adversos.

E, quando chegarmos a viver sob esse entendimento, acabaremos encarando todas as coisas com naturalidade. Nada nos causará espanto ou admiração, nada nos amedrontará ou há de nos assustar jamais. Seremos igualmente equilibrados, tanto na dor, como no prazer, de modo que nada poderá abalar a nossa segurança íntima. Manteremos uma atitude de completa serenidade, porém, não ficaremos alheio ao que se passa em torno de nós. Pelo contrário, a todos procuraremos ajudar com carinho e atenção. Apenas manteremos a nossa aura fechada a qualquer incursão estranha a nossa própria vontade.

Quando desprendidos amamos nosso irmão, nossa irmã, nossa família, nossos amigos, todos ao nosso reder, mas não deixamos de conservar, mesmo dentro desse amor, a nossa própria Individualidade. Seremos capazes de agir e de pensar, de amar e de viver pelos que nos são caros, mas viveremos sem entregas, para os ajudar a viver, para lhes minorar os pesares, para os confortar na mágoa, para lhe dar felicidade. Isso será justamente o que há de importar mais ao nosso coração: dar felicidade, tornando mais fácil e mais bela a vida do nosso semelhante. E não só no ambiente do lar, mas a todos os seres com quem entramos em contato, estenderemos os nossos propósitos de Amizade Fraternal. Seremos bom, amigo ou amiga, correto com todos, compreensivo e tolerante, mas tolerante no sentido mais puro, porque a tolerância mal compreendida pode ser uma espada de dois gumes. Tanto poderá resultar de um sincero desprendimento nosso, como do egoísmo também nosso. Isso porque, muitas vezes, podemos tolerar por medo, ou para nos beneficiar, ou para nos engrandecer aos olhos do mundo, e não por amor ao nosso semelhante e a Deus nele.

Para sabermos tolerar com amor, compreendendo os erros dos outros através da Lei de Causa e Efeito, temos que ser desprendidos, e desprendidos até da nossa própria tolerância. Esse desprendimento tem que vir de dentro, do nosso foro íntimo, da sinceridade dos nos pensamentos, do nosso equilíbrio de sentimentos, desejos e emoções.

Para chegarmos ao desprendimento, devemos procurarmos sentir a todos como irmãos e irmãs em nossos corações, respeitando igualmente tanto uns como outros; eliminando as preferências, procurando ser igualmente gentis com todos, jamais deixando romper a barreira de nosso próprio “eu inferior” diante de nenhuma pessoa, por mais afins que sejamos com ela, por mais que a estimemos ou a prefiramos dentre outras. Respeitaremos a nós mesmos diante de qualquer criatura, evitando a entrega de nossos pensamentos, de nossas ideias, de nossos sentimentos, desejos e/ou emoções. Não externaremos nossos pensamentos com frouxidão de palavra, não diremos de nossas qualidades, nem de nossos defeitos, senão em circunstâncias muito especiais, quando servir para ajudar alguém. Devemos sentir pelos outros o mesmo respeito que sentimos por nós mesmos. Poremos de lado as intimidades, jamais dizendo mais a um do que a outro, procurando não sentir mais de um do que de outro.

Não esqueçamos que o desprendimento é a qualidade anímica necessária para que possamos enfrentar, um dia e com equilíbrio, o nosso Guardião do Umbral. Não esqueçamos que, em qualquer circunstância, para viver na Terra entre os irmãos e as irmãs, em nosso “corpo de carne”, ou para prosseguir na vida além do véu, é o desprendimento a chave mestra que nos abrirá as portas do nosso próprio Céu, permitindo, num futuro grandioso, que atinjamos a glória de nosso Pai Celeste.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1978 – Fraternidade Rosacruz-SP)

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