Arquivo de tag Estrato Ígneo

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

As Nove Sinfonias de Beethoven – Correlacionadas com as Nove Iniciações Menores – Sexta Sinfonia

Por Corinne Heline

CAPÍTULO VI – SEXTA SINFONIA – FÁ MAIOR – OPUS 68

“Existe música no suspiro de um junco,

Existe música no alvoroçar de um riacho,

Existe música em todas as coisas, se o homem tiver ouvidos.

A Terra é somente o eco das esferas.”

Lord Byron[1]

A Sexta Sinfonia é uma das melhores peças musicais em toda classe de música absoluta. Beethoven nem uma vez transgrediu os grandes princípios da forma e do equilíbrio nessa Sinfonia. O movimento de abertura é um verdadeiro retrato campestre cheio de tônicas e dominantes da alegria do verão. O aroma do riacho com seu sonolento e repetido desenho na corrente das cordas é o refrão sempre soando na Natureza.

Romaine Rolland em “Beethoven”.

Beethoven foi um grande poeta que segurou a natureza com uma das mãos e o homem com a outra.

Autor Desconhecido

A Sexta Sinfonia foi terminada em 1808 e primeiramente apresentada em Viena no mesmo ano.

Há um triângulo cósmico composto por Deus, o Ser Humano e a Natureza. O ser humano é o pequeno deus no Grande Indivíduo. Quanto mais próximo o ser humano entra em sintonia com Deus, mais profundamente ele penetra nos mistérios da natureza.

É bastante significativo que, para a Sexta ou Sinfonia da Natureza, Beethoven tenha escolhido o tom de Fá Maior. Fá é a nota-chave musical da Terra e que verde é a sua cor. Estudantes de musicoterapia estão cientes do fato de que o uso de composições musicais nessa tonalidade produzirão efeitos benéficos sobre várias formas de tensão nervosa e sobre nítidos e prolongados efeitos da insônia. Qualquer pessoa que tenha ficado cansada ou debilitada por excesso de tensão e que tenha passado apenas uma só noite numa floresta de pinheiros, respirando sua suave fragrância, não duvida da força curadora da natureza nem dos efeitos rejuvenescedores da cor verde, pois, na verdade, essa é a cor da vida.

Em seu livro “Essais De Technique Et D’Esthetique Musicales”, Elie Poirée[2] observa que a Sinfonia Pastoral de Beethoven que está escrita em Fá Maior tem a “cor-auditiva” correspondente à cor verde. Compreendendo como ele compreendia a profunda importância espiritual das diferentes tonalidades, Beethoven escolheu com o maior cuidado a nota-chave de cada uma das nove Sinfonias.

Também deve-se notar o fato de que a nota-chave da Sexta Sinfonia está correlacionada com Virgem, o sexto Signo do Zodíaco. Virgem é um Signo feminino e pertence à triplicidade da Terra. Está, portanto, afinado com a Mãe Natureza. Seu símbolo é a virgem segurando um feixe de trigo. Entre as notas-chaves espirituais de Virgem, está o “Serviço” por meio do som e da beleza. Esses atributos também caracterizaram os motivos musicais da bela Sexta Sinfonia de Beethoven ou, como é popularmente chamada, a Sinfonia Pastoral.

Nessa Sinfonia, que é verdadeiramente “um Hino sublime à Natureza”, Beethoven procurou transcrever algo das harmonias existentes nas operações do triângulo cósmico de “Deus, Natureza e Ser Humano”. Daí, ela exprimir muito mais que uma viagem através dos bosques ou uma caminhada entre cenas silvestres. Na repentina tempestade de verão, tão graficamente expressa no quarto movimento, Beethoven está descrevendo a batalha pela supremacia entre os Espíritos da Natureza que sempre ocorre numa tempestade. O trovão é a voz do Ar, o relâmpago, do Fogo, e a chuva, da Água, sendo a tempestade a sua luta pelo domínio sobre a Terra. Essa é uma magnífica visão e um som magnífico para aqueles que têm olhos de ver e ouvidos de ouvir. A linda canção no Finale é uma transcrição direta para a percepção humana da música daqueles Seres Celestiais que guiam e dirigem a vida e as atividades de toda a natureza. Como Beethoven mesmo declarou, “Nos campos, parece que eu ouço cada árvore repetindo ‘Sagrado, Sagrado, Sagrado’”.

Do segundo movimento, o Andante, chamado pelo compositor de “Uma Cena perto de um Riacho”, Vincent d´Indy[3] diz: “É a mais admirável expressão da natureza genuína em existência”, acrescentando que “só há algumas poucas passagens em Siegfried e em Parsifal de Wagner que podem ser comparadas com ela”. A propósito da comparação aqui feita, pode ser lembrado que Wagner, em seu trabalho, procurou combinar em seus dramas musicais o que Beethoven procurou expressar em suas Sinfonias, e Shakespeare em seus dramas. Pode ser que Wagner, em suas passagens sobre a natureza, tenha se inspirado na Sinfonia Pastoral de Beethoven.

Ainda citando Vincent d´Indy em seu comentário sobre o segundo movimento: “Enquanto o fluxo do riacho proporciona base para todo o segundo movimento, melodias adoráveis brotam expressivamente e o tema feminino do allegro inicial emerge de novo sozinho, como se estivesse inquieto com a falta de seu companheiro. Cada seção do movimento é completada pela entrada de um tema de algumas notas, puras como uma prece. É o artista que fala, que reza, que ama e que se delicia em coroar as partes de seu trabalho com um tipo de aleluia. Esse tema expressivo termina as exposições sobre os passos do desenvolvimento, no meio dos quais as tonalidades obscuras provocam uma sombra por cima da Terra. Então, seguindo os episódios leves do canto dos pássaros, o tema é repetido três vezes, para concluir com uma afirmação comovente”.

A mensagem dessa Sinfonia, como Beethoven disse, é “Uma aproximação ao conhecimento de Deus através da Natureza”.

Um escritor definiu admiravelmente a fé de Beethoven que era cósmica e não cega, dizendo: “A Natureza era a Divindade para Beethoven; dela, ele tinha aprendido a aceitar todos os fenômenos como reflexões da Mente de Deus. Ele se sentia um ser escolhido de revelação sobrenatural, um herói, um salvador que tinha sofrido e, elevando-se, tinha sentido a vida divina dentro dele… À doutrina da Natureza em Deus e Deus na Natureza, de Deus imanente no universo, ele acrescentou uma mística compreensão de Deus como habitando em um simples indivíduo artístico e criativo”.

Há uma grande Sinfonia soando para sempre através da natureza, uma rara Sinfonia de harmonia e beleza que é inaudível para os ouvidos humanos e invisível para os olhos humanos até que se tenha elevado a consciência ao ponto onde ela possa se comunicar com os poderes que funcionam no lado interno da vida. O som do vento nas árvores, o estrondo da tempestade, o tamborilar da chuva, o melancólico chamado do cuco e o terno som da canção do rouxinol que são tão graficamente transcritos nessa Sinfonia, não são mais do que um aspecto da beleza e da harmonia da natureza. Em sons musicais refinados e Etéricos, o compositor transmite a música rarefeita do brotar da tenra grama, o desdobrar das pétalas das flores, o movimento das novas forças vitais nas folhas que brotam, no movimento rítmico dos Espíritos do Ar e no canto alegre de seres angelicais – todas essas coisas delicadas e intangíveis que pertencem ao lado oculto da natureza, Beethoven expressou no segundo e terceiro movimentos com tal delicadeza e beleza que suas maiores interpretações provavelmente não conseguiram descrever.

Beethoven era um filósofo musical profundo que possuiu não só a faculdade de perceber o lado vital da natureza, mas também teve o incomparável dom de transcrever algo da linguagem espiritual para que todos a ouvissem. Todos, no entanto, não desenvolveram a sensibilidade para perceber os tons superiores espirituais que ele foi capaz de colocar dentro de suas composições divinamente inspiradas. Mas, eles estão lá esperando reconhecimento, enquanto a humanidade se eleva suficientemente em consciência para acompanhar o compositor aos planos dos quais ele retirou sua sublime inspiração. Nesse meio tempo, aqueles que não são ainda capazes de compartilhar completamente em tudo o que o compositor experimentou na criação de seus trabalhos imortais são, no entanto, beneficiários do que eles realmente ouvem num maior sentido vital do que geralmente é reconhecido.

A música origina-se no Mundo celeste e, se o ser humano está ciente do fato ou não, ela serve para preservar nele, embora de maneira muito tênue, alguma recordação das esferas divinas das quais ele veio e para as quais ele está destinado a voltar. Torna-se um fator importante prevenir o ser humano de cair no esquecimento de seu verdadeiro lar.

E assim, ouvindo a Sinfonia Pastoral de Beethoven, o Ego humano é realmente colocado em contato com mais do que impressões de natureza externa qualquer que possa ser o grau de sua percepção consciente do que é então conectado. Lá está; ela colide com seus veículos mais sutis e deixa uma impressão que é refinadora, sensibilizadora, construtiva e redentora.

Portanto, não é somente música da natureza, como esse termo é geralmente compreendido, que Beethoven deu ao mundo em sua Pastoral. Não é uma tentativa de descrever programaticamente cenas físicas e efeitos atmosféricos. Para aqueles que podem perceber as nuances espirituais desta criação sinfônica, melodias alegres de pássaros transportam comunicações angélicas, águas correntes carregam uma paz interior, os campos abertos expandem os horizontes, enquanto florestas são transformadas em grandes catedrais e montanhas em elevadas cidadelas de Deus.

A SEXTA INICIAÇÃO

A nota-chave espiritual da Sexta Sinfonia é “unidade”. Seis é um número que expressa luz, amor e beleza. Esses são os humores musicais prevalecentes da Sexta Sinfonia.

A Sexta Sinfonia está relacionada com a sexta camada da Terra. É o Estrato Ígneo. Nessa conexão, não temos que considerar o fogo no sentido literal, pois esta sexta camada é luminosa. O ocultista entende a diferença entre Fogo e Chama. Fogo é uma força espiritual e Chama é o aspecto material daquela força. Moisés esteve diante da sarça ardente que não era consumida, o que significa que ele esteve na presença do ser espiritual da Luz que queimava, mas não se consumia.

Essa sexta camada da Terra reflete as forças espirituais daquele plano elevado que é conhecido metafisicamente como o Mundo da Consciência Crística. É o plano no qual todo o sentido de separatividade foi transcendido e a verdadeira universalidade de toda a vida é realizada. Aqui, a unidade completa prevalece. Se, em obediência à admoestação de São João, nós andamos na luz como Ele está na luz, teremos fraternidade entre todos. Este é o efeito da música da Sexta Sinfonia que podemos supor que foi escrita sob a inspiração da sublime visão da inclusiva e harmoniosa fraternidade existente nesse plano espiritual elevado.

Beethoven estava sempre nutrindo em seu coração o ideal da fraternidade humana. Era profundo e intenso; isso tocava o incomum e o cósmico. Na Sexta Sinfonia estão projetadas essas qualidades com relação à Natureza, a exteriorização de Deus no qual nós vivemos, nos movemos e temos o nosso ser. É sobre esse mesmo ideal de fraternidade que ele leva o ouvinte nas asas do êxtase para os altos planos da glória no Finale da sua Nona Sinfonia poderosa. É só quando esse estado de consciência está desenvolvido que as glórias internas da Natureza podem ser reveladas e o sublime trabalho da Sexta Iniciação pode ser empreendido com sucesso.

Como foi dito anteriormente, depois da quinta Iniciação, o trabalho se torna tão elevado que pouco pode ser dito sobre ele. Para interpretar algo sobre a Sexta Iniciação, Beethoven invocou o Espírito da Natureza. Ao estudar a natureza com reverência e devoção cada vez mais crescentes, mais seus sublimes mistérios são revelados ao ser humano, e mais próximo ele se afina com Deus. Um sábio mestre advertiu os aspirantes que procuram entrar nos profundos mistérios da vida dizendo que eles “estudassem a natureza, pois ela contém a marca da divindade”.

Beethoven considerava essa admoestação. É como ele expressou sua fé na sabedoria a ser aprendida, um texto que ele copiou de forma a tê-lo sempre com ele e, também, diante dele. Assim: “O ser pode corretamente denominar a Natureza de escola do coração; ela nos mostra claramente nossos deveres para com Deus e nosso vizinho. Portanto, eu desejo me tornar um discípulo dessa escola e oferecer a Ele o meu coração. Desejoso de instrução, eu tentaria obter aquela sabedoria que nenhuma desilusão pode rebater; eu ganharia um conhecimento de Deus e através desse conhecimento, eu obteria um antegozo da felicidade celestial”.

A Sexta Iniciação está relacionada com a Iniciação do Fogo. O segredo da vida está conectado com o fogo e é nessa Sexta Iniciação que a pessoa chega diante dessa poderosa verdade. Aqui, ela aprende a distinguir a chama do fogo. A chama é reconhecida pelos cinco sentidos físicos, enquanto o espírito do fogo é percebido só através das faculdades espirituais. Aquele que conhece os segredos da Iniciação do Fogo pode passar sem se queimar através da chama. Vários exemplos disso estão registrados no mais profundo dos livros ocultos, a Bíblia. Tal é a trasladação de Elias para o céu numa carruagem de fogo, a passagem dos três homens sagrados através do fogo como está escrito no Livro de Daniel e as línguas de fogo que estão colocadas nas cabeças dos Discípulos em Pentecostes. Essas são todas descrições dos vários estágios ou aspectos da Iniciação pelo Fogo, e todas relatam, em certo grau, o Sexto Mistério.

Os ciclos de renascimentos através dos quais o espírito individualizado tem que passar é o processo pelo qual as potencialidades divinas são despertadas e desenvolvidas em chama vivente. Essa é a luz a que São João se referiu quando disse: “Se nós andamos na luz como Ele está na luz, teremos fraternidade uns com os outros”. É só quando o ser humano desperta essa luz em si mesmo que ele pode conhecer o verdadeiro significado da fraternidade. A humanidade não pode oferecer ao Criador maior presente do que aquele de manifestar uma fraternidade universal e um mundo unido.


[1] N.T.: George Gordon Byron (1788-1824), conhecido como Lord Byron, foi um poeta britânico e uma das figuras mais influentes do romantismo.

[2] N.T.: Elie Émile Gabriel Poirée (1850-1925) – compositor e crítico musical francês

[3] N.T.: Paul Marie Théodore Vincent d’Indy (1851-1931) foi um compositor e professor francês.

__________________

*****

Aqui a Sexta Sinfonia em MP3:

Beethoven- Symphony #6 In F, Op. 68, ‘Pastoral’ (Pastoral) in F Op 68
PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Diagrama 18 – A Constituição da Terra

A Terra apresenta-se composta de camadas, à semelhança de uma cebola, cada camada ou estrato cobrindo outra. Há nove estratos e um núcleo central, dez no total. Tais estratos são revelados ao Iniciado gradualmente, um estrato em cada Iniciação, de modo que, ao final das nove Iniciações Menores domina todas as camadas, mas ainda não tem acesso aos segredos do núcleo central.

Observem bem: conhecer os diversos estratos da Terra e as posições relativas dos Planetas no firmamento, e não conhecer seu emprego e significado na vida e sua finalidade no Cosmos são tão inúteis quanto apenas conhecer as posições dos ossos, músculos, nervos etc., e não compreender as funções que desempenham na economia do Corpo.

O Diagrama 18 dá uma ideia da disposição dos estratos terrestres, omitindo informações sobre o núcleo central para mostrar mais claramente a formação de correntes em forma de lemniscata no nono estrato.

No Diagrama 18 os estratos são representados como se tivessem igual espessura, mas em realidade uns são muito mais delgados do que outros. Começando pelo mais externo, aparecem na seguinte ordem:

  1. Terra Mineral: é a crosta pétrea da Terra, com que lida a Geologia no tanto que lhe tem sido possível penetrá-la.
  2. Estrato Fluídico: a matéria desse estrato é mais fluídica que a da crosta exterior, mas não é líquida e sim parecida a uma pasta espessa. Tendo a propriedade da expansão, como a de um gás excessivamente explosivo, é mantida em seu lugar pela enorme pressão da crosta externa de modo que, se esta fosse removida, todo o estrato fluídico desapareceria no espaço com uma tremenda explosão. Esses estratos correspondem às Regiões Químicas e Etérica do Mundo Físico.
  3. Estrato Vaporoso: no primeiro e no segundo estratos não há realmente vida consciente. Já nesse existe uma corrente de vida que flui e pulsa continuamente, como no Mundo do Desejo que rodeia e interpenetra nossa Terra.
  4. Estrato Aquoso: nesse estrato estão as possibilidades germinais de tudo quanto existe na superfície da Terra. Aqui estão as forças arquetípicas que se ocultam atrás dos Espíritos-Grupo, como também as forças arquetípicas dos minerais, porque esta é a expressão física direta da Região do Pensamento Concreto.
  5. Estrato Germinal: os cientistas materialistas têm sido frustrados em seus esforços para descobrir a origem da vida, como surgiram coisas viventes de matéria antes morta.

Na realidade, e de acordo com a explicação oculta da evolução, a questão deveria ser como se originaram as coisas “mortas”. A vida existia antes das formas mortas. Ela construiu seus Corpos de substância vaporosa e sutil, muito antes de se condensar na crosta sólida da Terra. Só quando a Vida abandona as formas, podem estas se cristalizar, tornando-se duras e mortas.

O carvão nada mais é do que Corpo vegetal cristalizado. Os corais são também produtos da cristalização de formas animais. A vida abandona as formas e as formas morrem. A vida nunca penetra numa forma para despertá-la à vida. A vida sai das formas e as formas morrem. Foi assim que surgiram as “coisas mortas”.

Nesse quinto estrato existe a fonte primordial da vida, da qual brotou o impulso que construiu todas as formas da Terra. Corresponde à Região do Pensamento Abstrato.

6.Estrato Ígneo: por estranho que pareça esse estrato possui sensações. O prazer e a dor, a simpatia e a antipatia produzem aqui seu efeito sobre a Terra. Geralmente se supõe que a Terra, em nenhuma circunstância, pode ter qualquer sensação. Contudo, quando o cientista ocultista observa colher o grão maduro, cortar as flores ou, no outono, colher as frutas das árvores, sabe do prazer experimentado pela Terra. É semelhante ao prazer que a vaca sente quando seus úberes cheios são aliviados pelo bezerro sugador. A Terra experimenta o deleite de nutrir sua progênie de Formas, e esse deleite culmina no tempo da colheita.

Por outro lado, quando se arrancam as plantas pela raiz, fica patente ao cientista-ocultista que a Terra sente dor. Por essa razão, ele não come alimentos vegetais que cresçam debaixo da Terra. Em primeiro lugar, porque esses vegetais são plenos de força terrestre e carentes de força solar; segundo, por terem sido extraídos com as raízes, são venenosos. A única exceção a esta regra é a batata, porque em seus primórdios crescia na superfície da terra, e só em tempos relativamente recentes começou a crescer debaixo do solo. Os ocultistas fazem o possível para alimentar seus Corpos com os frutos que crescem ao Sol, pois estes contêm mais força solar, e sua colheita não causa sofrimento algum à Terra.

Poder-se-ia supor que os trabalhos nas minas produzem dor à Terra. Pelo contrário, toda desintegração da crosta dura produz uma sensação de alívio, e toda solidificação é fonte de dor. Quando uma torrente de chuva lava a encosta da montanha, arrastando a terra para os vales, a terra sente-se mais aliviada. Aonde a matéria desintegrada se deposita de novo, como no baixio que se forma na foz de um grande rio, produz-se uma correspondente sensação de opressão.

Assim como a sensação, nos animais e no ser humano, é devida a seus Corpos Vitais separados, assim as sensações da Terra são especialmente ativas no sexto estrato, que corresponde ao Mundo do Espírito de Vida. Para compreender-se o prazer que ela experimenta quando se quebra uma rocha e a dor que lhe produzem as solidificações, devemos recordar que a Terra é o Corpo Denso de um Grande Espírito, o qual, para fornecer-nos um meio em que pudéssemos viver e obter experiência teve de cristalizar seu Corpo até à condição de solidez atual.

Contudo, na medida em que a evolução prossiga e o ser humano aprenda as lições correspondentes aos extremos de concretização, a Terra tornar-se-á mais branda e seu espírito libertar-se-á cada vez mais. Foi isto o que São Paulo quis significar quando disse que toda a criação geme e sofre, esperando o dia da libertação.

7. Estrato Refletor: esta camada da Terra corresponde ao Mundo do Espírito Divino. Para aqueles que não estão familiarizados com o que na Ciência Oculta se conhece como “Os Sete Segredos Indizíveis”, ou que não tenham pelo menos um vislumbre de sua importância, as propriedades desse estrato parecerão particularmente absurdas e grotescas. Nele, todas as forças que conhecemos como “Leis da Natureza” existem como forças morais, ou melhor, imorais. No princípio da existência consciente do ser humano, essas forças eram piores do que agora. Contudo, tudo indica que tais forças melhoram com o progresso moral da humanidade, e que qualquer falha moral tem certa tendência a desencadear essas forças da Natureza produzindo devastações sobre a Terra, enquanto a busca de elevados ideais torna-as menos inimigas do ser humano.

Por conseguinte, as forças desse estrato são, em qualquer época, um reflexo exato do estado moral da humanidade. Do ponto de vista oculto, a “mão de Deus” que se abateu sobre Sodoma e Gomorra[1] não é uma tola superstição, pois, tão certo como há uma responsabilidade individual ante a Lei de Consequência que traz a cada pessoa o justo resultado de suas ações, sejam boas ou más, assim também existe uma responsabilidade coletiva ou nacional, que atrai sobre os grupos humanos resultados equivalentes aos atos efetuados em conjunto. As forças da natureza são, em geral, os agentes de tal justiça retribuidora, causando inundações ou terremotos a um grupo, ou a benéfica formação de óleos ou carvões a outro, de acordo com os seus merecimentos.

8. Estrato Atômico: é o nome dado pelos Rosacruzes ao oitavo estrato da Terra, a expressão do Mundo dos Espíritos Virginais. Parece ter a propriedade de multiplicar as coisas que nele estão, porém, isto se aplica somente às coisas já formadas definitivamente. Uma peça informe de madeira ou uma pedra bruta não tem existência ali, mas qualquer coisa já modelada ou que tenha vida e forma, tal 8. como uma flor ou uma pintura, é multiplicada nesse estrato em grau surpreendente.

9. Expressão Material do Espírito Terrestre: aqui existem correntes em forma lemniscata, intimamente relacionadas com o cérebro, o coração e os órgãos sexuais da Raça humana. Corresponde ao Mundo de Deus.

Centro do Ser do Espírito Terrestre: nada mais pode ser dito presentemente a respeito, salvo que é a semente primeira e última de tudo quanto existe tanto dentro como sobre a Terra, e corresponde ao Absoluto.

Do sexto estrato, o ígneo, até a superfície da Terra, há certo número de orifícios em diferentes lugares. Seus terminais na superfície são chamados “crateras vulcânicas”. Quando as forças da Natureza do sétimo estrato são desencadeadas de modo a poderem se expressar por meio de uma erupção vulcânica, elas ativam o estrato ígneo (o sexto), e então a agitação se exterioriza através da cratera. A maior parte do material é tomada da substância do segundo estrato, por ser esse estrato a contraparte mais densa do sexto estrato, assim como o Corpo Vital, o segundo veículo do ser humano, é a contraparte mais densa do Espírito de Vida, o sexto princípio. Esse estrato fluídico, com sua qualidade expansiva e sumamente explosiva, assegura um suprimento ilimitado de material no local da erupção. O contato com a atmosfera exterior endurece a parte que não se volatiliza no espaço, formando a lava e a poeira vulcânicas. E da mesma maneira que o sangue ao fluir de uma ferida coagula-se e estanca, assim também a lava, ao final da erupção, cerra o caminho às partes internas da Terra.

Como é fácil deduzir-se do fato, a imoralidade refletida e as tendências ante espirituais da humanidade é que despertam a atividade destruidora das forças da Natureza no sétimo estrato. Portanto, geralmente são as pessoas dissolutas e degeneradas que sucumbem nessas catástrofes. Essas pessoas, juntamente com outras cujo destino autogerado sob a Lei da Consequência, por várias razões, implica em morte violenta, são conduzidas desde os mais diversos recantos por forças sobre-humanas até o lugar onde deve ocorrer a erupção. Para aquele que pensa seriamente, as erupções vulcânicas do Vesúvio, por exemplo, servem para corroborar a afirmação acima.

A lista dessas erupções durante os últimos 2.000 anos mostra que sua frequência tem aumentado em proporção direta ao crescimento do materialismo. Especialmente nos últimos sessenta anos, na razão em que a ciência materialista cresceu em sua arrogância na absoluta e ampla negação das coisas espirituais, aumentaram a frequência das erupções vulcânicas. Enquanto nos primeiros mil anos depois de Cristo houve apenas seis erupções, as últimas cinco erupções tiveram lugar num período de 51 anos, como veremos.

A primeira erupção da Era Cristã, no ano 79 D.C., destruiu as cidades de Herculano e Pompéia, em que pereceu Plínio, o Velho. As outras erupções tiveram lugar nos anos de: 203, 472, 512, 652, 982, 1036, 1158, 1500, 1631, 1737, 1794, 1822, 1855, 1872, 1885, 1891 e 1906.

Nos primeiros mil anos ocorreram seis erupções; nos seguintes mil anos aconteceram doze, ocorrendo as últimas cinco num período de 51 anos, como dissemos anteriormente.

Do número total de 18 erupções, as nove primeiras ocorreram na assim chamada “Idade das Trevas”[2], isto é, nos 1.600 anos durante o qual o Mundo Ocidental foi dominado pelos comumente chamados “Bárbaros” pela Igreja Romana. As restantes sucederam-se nos últimos trezentos anos, durante os quais o advento e desenvolvimento da ciência moderna, com suas tendências materialistas, quase apagaram os últimos vestígios de espiritualidade, de modo particular na última metade do Século XIX. Portanto, as erupções desse período compreendem quase um terço do número total das ocorridas em nossa Era.

Para contrabalançar essa influência desmoralizadora, uma grande quantidade de informação oculta foi fornecida, durante todo esse tempo, pelos Irmãos Maiores, que estão sempre trabalhando pelo bem da humanidade. Pensou-se que oferecendo esses conhecimentos e educando os poucos que ainda queriam recebê-los, seria possível deter a maré de materialismo a qual, caso contrário, poderia produzir consequências muito sérias aos seus partidários. Com efeito, tendo negado durante tanto tempo a existência espiritual, poderão não serem capazes de manter seu equilíbrio ao perceberem que, embora tendo sido privados do Corpo Denso pela morte, eles continuam mais vivos do que nunca. Tais pessoas podem ter de suportar um destino demasiado triste para ser contemplado com serenidade. Uma das causas da terrível “peste branca”[3] é esse materialismo, talvez não reconhecível na encarnação atual, mas resultado de crenças e afirmações materialistas anteriores.

Falávamos da morte de Plínio, o Velho, quando da destruição de Pompéia. É interessante seguir o destino de tal cientista, não tanto pelo indivíduo em si, mas para compreendermos como o cientista ocultista lê a Memória da Natureza, de como as coisas nela se imprimem e os efeitos das características passadas sobre nossas tendências atuais.

Quando um ser humano morre, seu Corpo Denso desintegra-se, mas a soma total de suas forças pode ser encontrada no sétimo Estrato da Terra – o Estrato Refletor – o qual se constitui num repositório em que, como forças, as formas passadas são armazenadas. Assim, conhecendo-se o tempo em que ocorreu a morte de um ser humano, é possível encontrar sua forma nesse repositório, se ali o procurarmos. E não somente está ali armazenada, mas é também multiplicada pelo oitavo, ou Estrato Atômico, de modo que qualquer tipo pode ser reproduzido e modificado por outros e empregado repetidas vezes para a formação de outros Corpos. Por conseguinte, as tendências cerebrais de um ser humano tal como Plínio, o Velho, podem ter-se reproduzido milhares de anos depois, e ser, em parte, a causa da atual colheita de cientistas materialistas.

Resta ainda muito a aprender e desaprender, para os atuais cientistas materialistas. Ainda que lutem até o último limite contra o que, escarnecendo, qualificam de “ideias ilusórias” dos cientistas ocultistas, estão sendo obrigados a reconhecer suas verdades, a admiti-las uma a uma. É só uma questão de tempo o serem forçados a aceitá-las.


[1] N.R.: duas cidades que foram destruídas por Deus com fogo e enxofre descido do céu, devido à prática de atos imorais.

[2] N.R.: A “idade das trevas” é uma periodização histórica que enfatiza as deteriorações demográfica, cultural e econômica que ocorreram na Europa consequentes do declínio do Império Romano do Ocidente. O rótulo emprega o tradicional embate visual luz-versus-escuridão para contrastar a “escuridão” deste período com os períodos anteriores e posteriores de “luz”. É caracterizado por uma relativa escassez de registros históricos e outros escritos, pelo menos para algumas áreas da Europa, tornando-o, assim, obscuro para os historiadores. O termo “Era das Trevas” deriva do Latim saeculum obscurum, originalmente aplicado por Caesar Baronius em 1602 a uma época tumultuada entre os séculos V e IX.

[3] N.R.: Também chamada de tísica pulmonar ou ‘doença do peito’ ou tuberculose.

Idiomas