Corte-se, em pequenos pedaços, alface, cenoura crua, alho ou cebola e rábano; acrescente-se azeitonas, azeite e água; deixe repousar por uns quinze minutos e… pronto, teremos concluída a salada!
Salada! Eis uma coisa de aparência insignificante e quase amalucada! “E o que virá agora este senhor nos dizer sobre a salada, que não nos faça bocejar e ainda tenha algum interesse?”, perguntará muita gente; o que equivale a dizer: “Se falasse do ovo ou do presunto, das conservas ou do queijo, do lombo ou chouriço, ou mesmo do leite, ainda aceitaríamos, porque tudo isso encerra o seu interesse dietético, é ‘alimento’, mas da salada…”.
Essa atitude mental, que pode ser a de algum leitor, na realidade não tem algo de raro, porque até há bem pouco tempo o que mais preocupava toda a gente era encher o estômago: quanto mais melhor… Basta lembrar as barbaridades alimentícias que, para citar dois casos vulgares, cometiam os tuberculosos e as gestantes.
E tudo isso por quê? Porque, segundo a crença popular, o que nutre são os alimentos “fortes”. O restante, como saladas, hortaliças, legumes etc., considera-se mero adorno da mesa ou então — é o caso das frutas — um vulgar refrigerante ou guloseima sem a menor importância nutritiva. Mesmo assim, ainda há muita gente que, por ignorância ou errôneos hábitos alimentares desde a infância, só os comem nos últimos anos da vida.
“Claro é que tudo isso acontecia dantes”, dirão. Hoje se conhece o valor higiênico-dietético dos alimentos crus. Sim, isso é o que se diz (e é dito muito menos do que o necessário). Mas, deixemos de estatísticas, progresso em conserva e contos chineses, porque a realidade tangível com que cada pessoa tropeça em qualquer parte, o caso vivo desse indivíduo que se senta várias vezes por dia diante da mesa, é muito diferente. Busquemos saber quantos se preocupam com o valor da saúde, a de cada um e não a da pessoa abstrata — isso de comer esclarecidamente e não segundo o paladar, a rotina, o que é vulgar!
Finalmente, não se trata de fazer aqui alarde de erudição nem bonitas demonstrações teóricas. Estamos fartos de saber que a verdade, além de logicamente concebida, deve ser intensamente sentida, se queremos que ela sirva para alguma coisa. E por isso o que interessa a cada pessoa é saber que existe uma iniludível necessidade orgânica de comer alimentos crus — diariamente, não uma ou outra vez! — e que essa necessidade é uma exigência vital e não um sermão de higienista de ofício. Vejamos as razões.
Fala-se e escreve-se impunemente sobre as vitaminas. Inclusive, cita-se em plena rua como a coisa mais natural do mundo. Mas, na hora da verdade, quando mais interessa, exatamente no momento em que se leva à boca a comida, que é de tanto palavreado? Nada ou quase nada se fala do assunto. Isso porque, para a maioria das pessoas, as vitaminas não são outra coisa senão gotas, comprimidos ou injeções. Do mais importante — que é saber onde elas estão e quais as que o corpo necessita — ou seja, alimentar-se racionalmente e não às cegas, disso — que nos tornamos até aborrecidos — não sabemos sequer aquele mínimo considerado indispensável.
Por causa da desnaturalização alimentar (pão branco, açúcar refinado, conservas, etc.), do abuso dos condimentos químicos, dos excitantes tóxicos (bebidas alcoólicas, tabaco e drogas lícitas ou ilícitas) e ainda da desconexão com o ar, a luz, o Sol e a água (eternas fontes de vitalidade), do pouco apreço em que se têm os vegetais crus, esses são cada vez mais indispensáveis para proporcionar as vitaminas diárias de que o organismo imperiosamente necessita. E vitaminas, que é o importante, sem manipulações, na sua própria salada, tal como a fabrica o maravilhoso laboratório da Natureza. Dois pratos diários de salada crua e frutas: eis a melhor receita de saúde e vigor.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro/1977-Fraternidade Rosacruz-SP)
Alguém já disse que “cavamos nossa própria sepultura com os dentes” (James Howeil), e não falta razão a quem assegura: “que à humanidade se assemelha a esses ardentes devotos que desejam ir para o céu e não fazem na vida outra coisa que ganhar o inferno”.
Desejamos viver muito, ser belos, fortes e sadios e não sacrificamos um só de nossos vícios ou de nossos hábitos de vida para conseguir tais coisas, porque ficamos esperando tudo do acaso ou de alguma receita mágica que, de maneira milagrosa, repare as pesadas faltas.
Somos tão incorrigíveis que se estudarmos os métodos de vida de cada enfermo e observarmos como come e bebe, não tardaremos em reconhecer que todos têm estado a cavar sua própria sepultura, no submeter-se a uma alimentação desordenada e caprichosa, amiúde excessiva e defeituosa, porém quase sempre constituída de alimentos preparados e acondicionados pela indústria da alimentação, isto é, por alimentos deliciosamente condimentados e ajustados ao seu paladar, mas destituídos de seus mais valiosos elementos nutritivos, que são as vitaminas naturais.
Claro que na alimentação deles abundam as carnes, os pescados, e toda classe de alimentos enlatados e arrumados de acordo com as mais sábias recomendações da dietética moderna; em troca, faltam-lhes os alimentos vivos, tais como as frutas, os legumes, as hortaliças, etc., que nenhuma empresa industrial tem interesse em popularizar.
Ninguém ignora que a humanidade está positivamente enferma, que cada dia aparecem novas modalidades patológicas e que raro é o indivíduo, aparentemente sadio, que não se sinta profundamente abatido e fatigado ou tenha que se lamentar de alguma deficiencia funcional ou de alguma doença mais ou menos grave.
O mesmo nervosismo de nosso tempo, as deficiências várias, as enfermidades degenerativas, a velhice prematura e outros distúrbios orgânicos são consequência de um estado de coisas cuja causa é mais remota que aquela que suspeitamos.
Claro que não pouca culpa têm, nesse estado de coisas, outras causas, porém as mais imediatas devem imputar-se a nossos errôneos métodos de vida, aos vícios, à libertinagem e até ao atual desequilíbrio terapêutico com que cada qual receita a si mesmo os mais perigosos tratamentos.
Somos enfim, “os artífices de nosso próprio destino”, e até os mais diretos causadores dessa enfermidade do dia aparecem esboçados pelos mais variados sintomas.
São numerosas as causas de nossos erros dietéticos. Claro que ao faltar o controle do alimento, depende de nosso capricho, e a confecção dos variados pratos torna-se, então, uma arte que só atende ao gosto e ao sabor de cada um. Por isso o manjar é preparado tendo mais em conta o deleite e prazer da boa mesa, que as suas condições digestivas ou nutritivas.
Um dos perigos mais graves, sem embargo, se esconde em cada alimento preparado, refinado e envasado pelas indústrias de conserva. Ninguém ignora que, para que sejam belamente apresentados e conservados, requerem o concurso de corantes e antisséticos, que cada industrial emprega com mais ou menos conhecimentos científicos.
É certo que as grandes empresas se valem de técnicos graduados, de verdadeiras eminências químicas, já que o negócio é tão fabuloso que compensa esses gastos, mas nenhum procedimento tem podido evitar o uso desses elementos daninhos, exceto os doces nos quais o açúcar se encarrega de conservá-los. Porém, as carnes, os pescados, sardinhas, salsichas, etc., têm que se valer desses elementos para serem apresentados ao consumidor e preservados de sua decomposição.
Entre os elementos e venenos químicos mais comumente usados, figuram, principalmente, o ácido bórico, o bórax, usado ainda no leite condensado, na carne em lata, margarina, etc.; o formaldeído, que conserva as carnes, e o salitre, que lhes dá a cor rosada; os sulfitos, que evitam o crescimento de cogumelos no envasamento dos vinhos; o fluoreto de sódio que evita a decomposição das margarinas e demais gorduras; os ácidos salicílico e benzóico que se usam para conservar alguns sucos de frutas; o ácido sulfuroso, que dá boa coloração às frutas secas; a formalina, que se usa para conservar e dar bom aspecto ao toucinho; e, finalmente, o sulfato de cobre, o ácido acético, que melhoram a aparência e sustentam a cor verde dos pepinos, azeitonas, etc.
A lista das substâncias mais ou menos perigosas que se usam na fabricação, conservação e apresentação dos alimentos, é interminável: numerosos ácidos, tais como o tartárico, cítrico, cremor de tártaro, as anilinas e demais corantes atacam e dissolvem o estanho das latas em que estão acondicionados os alimentos e este estanho contém também algumas partículas de arsênico.
Ressalte-se que as mais graves dessas manipulações de alimentos são realizadas nos grandes moinhos de arroz, que destituem esse cereal da parte mais importante dele, que é a película fina que o matiza de uma cor pardacenta em que se encontra a vitamina mais imprescindível, o complexo B; ademais, se isso não fosse o bastante, alguns o clareiam ainda mais com gesso francês. A farinha de trigo, por sua vez, é submetida a um processo de clareamento com gases nitrosos, e outros procedimentos químicos a privam de suas vitaminas ao separar a cutícula do grão, em que também se encontra a vitamina, resultando, por isso, ser o pão integral mais nutritivo do que o pão branco.
As manipulações feitas com o trigo nas padarias e confeitarias, com pós de ovo e outras alterações, são um escândalo que se deve dar a conhecer, pelos perigos que encerram.
As bebidas e os licores em forma de refrescos que se vendem em todas as partes, assim como os doces e caramelos, todos sem exceção, estão contaminados.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1969)