Stonehenge

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Stonehenge

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Os mitos da magia de Merlin e as lendas dos sacrifícios druidas, muito embora sem fundamento, lançaram um encanto sobre Stonehenge que apenas tem anuviado um mistério já grande e intrincado do mundo antigo. A maioria des­sas fantasias foi comprovada como ilusória por técnicas modernas como a do carbono-14, para determinação de datas, confirmando que a construção de Stonehenge começou aproximadamente há quarenta séculos, e a do computa­dor eletrônico, provando que as enormes pedras ou megalitos e os vários círculos ao seu redor não foram colocados arbitrariamente.

Tornou-se evidente que os pla­nejadores de Stonehenge não eram aborígenes curiosos e tradicional­mente incapazes de cultura, mas uma fração sensível e hábil de um povo altamente organizado que possuía suficiente conhecimento da geometria relacionada com o movimento da Lua e do Sol para associá-lo de maneira significativa.

Séculos antes da construção de Stonehenge, pedras enormes esta­vam sendo usadas pelo ser humano neolítico para construir catacum­bas e túmulos para sepultamento coletivo, assim como para cerimô­nias de veneração aos mortos. A migração desses construtores de túmulos megalíticos começou quando grupos de diferentes par­tes da Grécia e da Anatólia coloni­zaram a Espanha e Portugal entre 3400 a. C e 2500 a. C. O principal caminho de debandada da migra­ção nos 1000 anos seguintes es­tendia-se da Espanha e de Portugal, ao longo da costa atlântica da Euro­pa, Ilhas Britânicas e Escandiná­via.

Stonehenge é apenas uma das muitas estruturas megalíticas e centenas de túmulos que se encon­tram dentro de uma área de aproximadamente 40 quilômetros de Wiltshire, Inglaterra, ao longo dos rios Avon e Kennet. Uma das mais notáveis estruturas megalíticas da Europa é o longo túmulo West Kennet, perto do Rio Kennet. Trata-se do maior de to­dos os túmulos pré-históricos divi­didos em compartimentos e exis­tentes na Inglaterra ou País de Ga­les; foi usado, muito antes do ano 2000 a. C., pelo menos durante três séculos. Esse túmulo mede em torno de 107 metros de comprimento e diminui, em largura, em medidas aproximadas, de 23 metros para 15 metros.

Cerca de 24 quilômetros ao sul, perto do rio Avon, há um aterro ao lado de Stonehenge, chamado de Cursus, que se supõe ter servido como uma espécie de alameda ou cercado cerimonial. Cobre uma área de 100 metros de largura por 2800 metros de comprimento. Uma mi­lha para o leste há uma enorme es­trutura circular chamada de Durrington Walls, com cerca de 500 me­tros de diâmetro, e Woodhenge, um tipo de Stonehenge feito de madeira. Woodhenge vir­tualmente desapareceu, porém foi descoberta, do ar, em 1925.

O mais importante local para reuniões de templo antes da cons­trução de Stonehenge parece ter sido Avebury. Esse conjunto con­sistia de dois, possivelmente três, círculos de pedra, cada um com cerca de 97,5 metros, aproximadamente, de diâmetro, uni­dos, por uma avenida com largura por volta de 15 metros, a uma estrutura de pe­dra e madeira chamada O Santuá­rio. A pouca distância, está Silbury Hill, que poderia ser chamada de a grande pirâmide da Europa.

Silbury Hill é um túmulo cônico e inclinado que se eleva a 39,6 metros, aproximadamente, com uma base de mais de 200 me­tros de diâmetro. Embora sua finalidade seja desconhecida, provavelmente fizesse parte do conjunto de Avebury. Presumivelmente, al­gumas das pedras de Avebury fo­ram usadas em Stonehenge. Se­melhante em magnitude a Avebu­ry, é o colossal conjunto de monólitos próximo a Carnac, na Grã-Bretanha, onde mais de 2000 pe­dras aprumadas, chamadas menires, foram alinhadas em uma enor­me extensão de terra.

Stonehenge foi construída du­rante muitas gerações, à semelhan­ça das catedrais góticas, séculos depois. A primeira de três fases foi provavelmente iniciada por caçadores nativos e fazendeiros do con­tinente, após 1900 a. C. Esses cons­trutores de Stonehenge cavaram um grande fosso circular de mais de 91,5 metros, aproximadamente, de diâmetro e amon­toaram a terra como barragem em ambos os lados.

Foi deixada uma entrada no lado noroeste, onde eles colocaram a chamada pedra espigão a uns 30,5 metros, aproximadamente, fora do círculo. Esse megalito de 35 toneladas foi alinhado de modo que o Sol nascente no Solstício de Junho apenas atingisse sua parte superior. Na parte in­terna da barragem, cavaram um anel com 56 covas equidistantes umas das outras, que mais tarde se tornaram conhecidas como as covas de Aubrey, devido ao seu descobridor. Quatro enormes marcos de pedra foram colocados no círculo das covas de Aubrey para formar um retângulo perpendicu­lar ao eixo leste do monumento, durante o Solstício de Junho.

Stonehenge II foi iniciada aproximadamente no ano 1750 a. C., aparentemente por uma raça diferente chamada de os homens de boca larga. Eles alargaram a avenida e a desviaram, em curva, para o rio Avon a 3 quilômetros, aproximadamente, de distância, provavel­mente para que fosse usada como estrada para o transporte de 80 pedras-lispes (um tipo “místico” de pedra) para o recinto cercado. Essas pedras chegavam a pesar cinco toneladas e são encontradas apenas nas Montanhas Prescelly, no País de Gales, o que representa uma viagem de quase 322 quilômetros até Stonehenge, mais da metade através do Canal Bristol. Os círcu­los de pedra eram uma característica desses “homens de boca larga” e eles planejavam formar dois círculos concêntricos com a pedra-lispe, as pedras internas com­binando com as externas e dando a impressão de uma roda com aros. Embora esse período cobrisse duas gerações, os círculos duplos de pedra-lispe jamais foram concluídos.

Cerca de 1700 a. C. teve início a terceira fase da construção de Stonehenge pelos representantes de uma nova geração. Eles demoli­ram o círculo incompleto de pedra-lispe, recolocando-as na mesma área, porém, com uma disposição diferente: 81 enormes blocos de arenito que eram dez vezes maiores do que as pedras-lispes. Esses blocos foram, sem dúvida, trazidos de Marlborough Down, cerca de 32 quilômetros ao norte de Sto­nehenge.

Quase no centro, erigiram uma ferradura com cinco blocos de are­nito, cada grupo constituído de duas colunas cobertas com uma verga. Essas receberam o nome de trílito, palavra grega que significa três pedras e exclusivamente apli­cável a Stonehenge. Em seguida, cercaram esses trílitos com um círculo simples de 30 colunas de arenito ligadas por vergas na ex­tremidade superior.

Aproximadamente cinquenta anos após a montagem dos blocos de arenito, um conjunto de 29 co­vas em formato de Z foi cavado na parte ex­terna e em volta do círculo de blo­cos de arenito, e um de 30 covas em Y, cavado em círculo ao redor das covas em Z. Quase que imediatamente após isso, as pedras-lispes foram novamente erigi­das em um oval dentro do trílito, em forma de ferradura. Um segundo círculo de pedra-lispe foi erigido entre a ferradura e o círculo de blocos de arenito. Com isso, a construção terminou perto do ano 1600 a. C.

De um simples círculo e retângu­lo orientados para o Sol nascente do Solstício de Junho havia surgido, em um período de mais de 300 anos, uma complexa catedral de pedras enormes em forma de círculos e ferraduras abobadados. O maior dos blocos de arenito pesa cerca de 50 toneladas e tornou-se necessária considerá­vel capacidade de organização e planejamento para transportá-lo para Stonehenge, onde muitos de­les ainda podem ser vistos. Toda­via, megalitos muito maiores fo­ram deslocados pelo ser humano primi­tivo em outras partes do mundo.

Um dos maiores obeliscos em existência é um monólito com cerca de 32 metros de altura, pesando mais de 400 toneladas, erigido por Thutmose III. Mesmo algumas, das mais de 600 estátuas na Ilha da Páscoa, são monólitos que pesam mais de 50 toneladas, como uma gigantesca de, aproximadamente, 9,7 metros de altura, que pesa 82 toneladas. O maior bloco de pe­dra lavrada pelo ser humano é um monstro de 1200 toneladas existen­te em uma pedreira em frente ao templo romano em Baalbek.

A maravilha de Stonehenge, por­tanto, não está apenas em seu ta­manho, mas em seus detalhes as­tronômicos e de construção, recen­temente descobertos. Se visuali­zarmos uma linha que parta do cimo da nossa casa e chegue à parte superior de uma árvore alta, ela apontará para algum ponto do céu no qual a Lua, o Sol ou outro corpo celeste poderá aparecer em algu­ma época do ano.

O Dr. Gerald Hawkins, Presiden­te do Departamento de Astronomia da Universidade de Boston, fez algo semelhante e anotou as observações que podem ser feitas entre as várias e enormes pedras de Stonehenge I, assim como as observações através dos arcos formados pelos blocos de arenito de Stonehenge III. Em seguida, colocou essa informação em um computador e descobriu que cada um dos 24 possíveis ali­nhamentos de Stonehenge I apon­tava para a Lua ou para o Sol em posição celeste significativa. Veri­ficou também que os alinhamentos de Stonehenge III, independentemente, proporcionavam mais oito posições.

Ele formou ainda a teoria de que as 29 covas em Z e as 30 em Y representam o mês lunar, quando os intervalos en­tre a Lua cheia resulta a média entre 29 e 30, 29 dias e 1/2. Elas poderiam proporcionar ao povo o meio de contar os dias e, simultaneamente, a possibilidade de predizer o ano de um eclipse.

A localização acidental de Sto­nehenge parece improvável, pois nesse hemisfério está localiza­da onde uma diferença de 48,2 quilômetros, aproximadamente, para o norte ou o sul mo­dificaria a geometria astronômica suficientemente para transformar o retângulo formado pelas quatro pedras-marcos em paralelogramo. Certos requintes de acabamento em pedras são invulgares na Euro­pa setentrional pré-histórica e outra evidência como a dos enta­lhes, recentemente descobertos, de armas na Idade do Bronze, em três dos blocos de arenito, sugere a in­fluência e a comunicação com a grande e contemporânea civiliza­ção mediterrânea da Creta Minotaura, da Grécia Messeniana e do Egito.

Há muita justificativa para se presumir que um grupo de pessoas mais altamente adiantadas ou al­gum arquiteto magistral da área do Mediterrâneo projetou e construiu Stonehenge com a ajuda dos habi­tantes locais e isso é particularmen­te plausível quando, em nossa pró­pria época, nativos que carregavam lanças ajudaram a construir cam­pos de aviação.

A religião e o calendário são a mesma coisa na jovem história do ser humano. Desde que apenas duas pequenas pedras se fazem neces­sárias para marcar os alinhamen­tos celestes, é muito provável que, depois desses alinhamentos ini­ciais estarem estabelecidos, fosse desenvolvido o esforço para que se tornassem mais aperfeiçoados co­mo as catedrais góticas. Essas ca­tedrais medievais nasceram da ex­periência e do labor de gerações e, durante a época em que poucas pessoas sabiam ler, serviam como escolas, museus, igrejas, bibliote­cas, salões para concertos, templos de adoração… Stonehenge pode ter sido tudo isso e mais. Provavelmente, o ser humano primitivo não fazia diferença es­sencial entre a religião, a ciência, as artes e o governo; nossas mo­dernas instituições como igrejas, es­colas e museus simplesmente pareceriam inarmônicas para ele, em seu funcionamento e sua maneira de pensar.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1975)

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