Problemas da Intimidade: Quem se desilude é porque se iludiu primeiro
Apelando para a sabedoria popular, costuma dizer nosso caboclo: “para conhecermos alguém é preciso comermos juntos um saco de feijão”, isto é, conviver durante um tempo razoável com ele. De fato, a convivência traz a intimidade e esta nos revela a pouco e pouco as fraquezas e virtudes de seu caráter. E como ainda os maiores seres humanos estão engatinhando no Cristianismo e “bebendo do leite da doutrina”, tem a tendência inferior de ver e exaltar os defeitos e lembrar-se pouco das virtudes. A Filosofia Rosacruz nos ensina que todos os seres humanos, mesmo os selvagens, têm algo de bom, que deve ser exaltado e cultivado. No livro “Conceito Rosacruz do Cosmos” lemos a passagem em que Cristo e seus discípulos, passando pelo cadáver em putrefação de um cachorro, disse: “as pérolas não são mais brancas que seus dentes”. Num espetáculo que parecia inteiramente nauseabundo e feio encontrou Ele motivo de beleza, porque sabia dos benéficos efeitos que produzia sobre o Mundo do Desejo, ao “procurar o bem em todas as coisas”. E no fim de nosso ofício devocional repetimos sempre: “procuremos esquecer os defeitos e fraquezas de nossos irmãos e ver apenas a divina essência que existe em cada um deles, pois nisso consiste a verdadeira fraternidade”.
Mas verificamos todos os dias que os estudantes se esquecem desses princípios e deixam-se arrastar pelos antigos hábitos de crítica destrutiva. Ora, um hábito com outro se corrige. Não é possível conciliarmos hábitos errados do passado com a formosa Filosofia Rosacruz. “Não se põe remendo novo em vestido velho”, senão, que “devemos morrer todos os dias” nas coisas erradas para formar o novo ser humano.
Aqueles que entram na Fraternidade e dela se afastam quando percebem um defeito noutro irmão, mesmo nos dirigentes (porque ali ninguém é santo), não compreendeu que constituímos uma escola de aperfeiçoamento cristão e, apesar de nossas falhas, procuramos fazer o melhor possível.
Além disso, o que nos deve fixar na Fraternidade não são as pessoas, mas o IDEAL Rosacruz. É verdade que devemos dar o melhor exemplo possível, “dentro de nossas forças”, pois, os principais colaboradores estão de certo modo, como a cidade edificada sobre o monte ou o lampião do velador, algo destacados e mirados pelos principiantes como indivíduos melhores. Daí, muitas vezes, a decepção e afastamento de um novo estudante quando percebe neles algum defeito. Repetimos: busquemos cada um o IDEAL ROSACRUZ, cumprir o programa de aperfeiçoamento interior que por si não dá tempo para reparar nos outros e procurar ver em tudo o que há de bom (que sempre existe). Errar é próprio dos humanos e pelo fato de alguém entrar na Fraternidade não quer dizer que seja um santo ou que, após tantos anos por estar ali, se converta num Iniciado. Quem se desilude é porque se iludiu primeiro. Quem ensina a por pedestais sob dirigentes? Max Heindel nos ensina que o mundo é uma escola e a Fraternidade um estágio superior do cristianismo, em que são dados a todos os meios de se elevarem com suas próprias forças (e não por forças externas) ao domínio de si mesmo e, desse modo, alcançar a possibilidade de cruzar os portais da Iniciação para a Ordem Rosacruz; que até os Iniciados erram e com isso aprendem.
Não estamos a defender fraquezas nem defeitos. Todos devemos esforçar-nos para dar o melhor exemplo possível e se alguém escorrega, o que devemos fazer como cristãos é ajudá-lo de modo inteligente e construtivo e não enterrá-lo mais com as vibrações maléficas de nossos maus pensamentos e palavras de ferina crítica, pois sabemos que “todos colhem conforme semeiam”, tanto os que criticam como os que realmente erram.
(Revista Serviço Rosacruz – 07/64 – Fraternidade Rosacruz – SP)
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