Os Bosques da Alegria

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Bosques da Alegria

Os Bosques da Alegria

No onírico, de acordo com nossas visões ocidentais – e muito pouco prático no oriente, onde, em geral, os sentimentos profundamente religiosos das pessoas superam em muito o instinto material – o sonho, às vezes, se materializa da maneira mais surpreendentemente prática.

Por muito tempo e em muitos lugares o mais pesado da viagem era e ainda é realizado de maneira primitiva, a pé ou por animais de carga, que auxiliam no tráfego das trilhas e, frequentemente, ao longo do caminho o viajante cansado encontra um “Bosque da Alegria”; um grupo de árvores com uma pequena casa onde, como um dever religioso, uma refeição gratuita é fornecida para o ser humano ou animal pelas pessoas da vizinhança que, assim, discretamente dão do seu escasso estoque para que seu irmão possa ser revigorado, descansar e se recuperar para começar de novo a próxima etapa da sua jornada. Que sensação deve ser a de gratidão e alegria, de descanso e alívio sentida pelo ser humano e pelos animais, quando entram em tal lugar, após um dia na poeira, na claridade e no calor da estrada e que atmosfera de altruísmo deve haver ali, para incalculável benefício espiritual tanto do doador quanto do receptor, do benfeitor e do beneficiário! Por outro lado, que calamidade seria se a maioria dos viajantes dessas rodovias e atalhos ficasse cega pela poeira da estrada ou pelo brilho do sol, de modo que não pudesse ver esses Bosques da Alegria. Quanto eles perderiam! Quão dura e quão difícil seria sua jornada!

Nossa vida, aqui na Terra, é uma grande jornada do berço ao túmulo e, como Jó diz: “O homem que nasceu da mulher tem poucos dias e tem muitos problemas”. Mesmo aqueles entre nós que vivem em ambiente mais abrigado têm tristeza e sofrimento, às vezes. O que dizer, então, daqueles infelizes que são assediados por provações e tribulações todos os dias de suas vidas? Todos nós temos que suportar aflições físicas em alguma medida; alguns sofrem aflições mentais ou morais; alguns sofrem com a perda ou desgraça de entes queridos; nenhum de nós está livre das cicatrizes da tristeza que, às vezes, marcam a alma até o âmago do nosso ser. Alguns ficam desapontados com suas ambições para si ou para os outros, após uma vida de sacrifício, e partem para a sepultura caindo de decepção; tudo isso porque estamos cegos pela poeira, pelo brilho da clareira e permitimos que o espectro da tristeza obscureça os Bosques da Alegria que estão ao longo da estrada da vida, repletos de altruísmo e prontos para nos receber, removendo dos nossos olhos o brilho e o charme, para encher nossa alma de alegria e nos enviar rejuvenescidos e alegres pelo caminho, deixando claro que não estamos caminhando para a sepultura, mas para Deus, o doador de tudo o que é bom.

A vida é uma corrida; porém não é de forma alguma uma corrida de cem metros que pode ser realizada em um único momento por um jato de energia. É um teste de resistência e, portanto, devemos perceber que seja um erro fatal estabelecer um ritmo mais rápido do que podemos manter. É também uma regra bem estabelecida que em uma corrida devemos deixar de lado todo peso que não seja absolutamente necessário e, se aprendermos a nos apressar lentamente, provavelmente viveremos mais e aprenderemos mais, porque seremos menos prejudicados pela poeira da tristeza e pelo clarão da ilusão. Se pararmos para visitar os Bosques da Alegria — onde a sombra protetora da Religião alivia nossos olhos cansados do brilho gerado pela ilusão daquilo que o mundo valoriza e mostra os verdadeiros padrões de amor e luz, onde podemos viver perto dos riachos de alegria para nos lavar do pó da tristeza que nos oprime, atrapalhando nossa corrida, e lançar nossas preocupações n’Aquele que cuida de nós, conforme mostrado por Seu convite, “Venham todos vocês que estão cansados e sobrecarregados e Eu vou dar-lhes descanso”, — então nos sentiremos, ah, muito mais leves! Nossos pés serão calçados com as asas do vento e caminharemos sustentados pela força adquirida nos Bosques da Alegria. Então seremos capazes de realizar uma obra maior no mundo.

Não é perda de tempo começar o dia com oração, louvor e adoração a Deus, o doador de todo bem, não importa o quão apressados possamos estar. O tempo investido nesse propósito logo será compensado pela suave elevação que levaremos conosco por esta comunhão com nossa Fonte e nossa Meta. Não é necessário recorrer ao nosso Pai quando estivermos cansados, exaustos, fatigados com o trabalho e as preocupações do dia. Devemos dormir mais profundamente, descansar e nos recuperar melhor. Geralmente somos muito religiosos em nossa observância dos momentos em que o alimento é servido para a restauração do ser humano físico; mas “o homem não vive só de pão” e não importa quão suntuosa seja nossa comida, morreremos de fome se não visitarmos o Bosque da Alegria, onde nosso Pai espera pelos errantes, pronto com o pão do estímulo espiritual para banir o cuidado embotado e reavivar o espírito que se afunda. Nossa é a perda, se permitirmos que a poeira e o brilho da estrada da vida nos ceguem e não passemos por essas casas de repouso; nosso é o ganho, se muitas vezes nos afastarmos do caminho da dor para comer o pão da vida nos Bosques da Alegria.

(Publicado na Revista Rays from the Rose Cross de set/1918 e traduzido pela Fraternidade Rosacruz em Campinas-SP-Brasil)

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