O poder interno que está destinado a abrir-lhe um lugar de relevo no mundo

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O poder interno que está destinado a abrir-lhe um lugar de relevo no mundo

O poder interno que está destinado a abrir-lhe um lugar de relevo no mundo

“Os Ensinamentos da Fraternidade têm um poder interno que está destinado a abrir-lhes um lugar de relevo no mundo, mas devemos fazer por merecê-lo, de acordo com a maneira pela qual ajudamos a trazer esses Ensinamentos dos Irmãos Maiores à atenção da humanidade em geral” (Cartas aos Estudantes).
“Bem-Aventurados sãos os mansos, porque herdarão a terra” (Mt 5:4).

As Bem-aventuranças têm sido objeto de muitas e variadas interpretações. Alguns dizem que elas não devem ser encaradas como uma norma de vida, mas antes como uma cápsula de tempo, contendo leis espirituais, e que só será operativa num futuro muito distante. Outros argumentam que Cristo Jesus estava mostrando um padrão de vida que não podemos seguir, a menos que nos retiremos do mundo – que os afazeres do mundo, negócios, comércio e especialmente política, são atividades competitivas, nas quais, certamente, os mansos não conseguirão singrar. A página 321 do Conceito (edição em Inglês) ajuda a compreender as passagens confusas das Escrituras por meio de um ponto de vista mais amplo e claro: “A verdade é múltipla e com diferentes facetas. Cada verdade oculta requer um exame de diferentes pontos de vista; cada ponto apresenta uma certa fase da verdade e todos eles são necessários para adquirir uma concepção definitiva e completa do que quer que seja que esteja sendo estudado”. Assim se passa também com as Bem-aventuranças, especialmente “Bem-aventurados são os mansos, porque eles herdarão a terra”. Por vezes, encontramos pessoas que se deixam espezinhar pelos outros. São, habitualmente, ridicularizadas e muitas vezes alvo de pena e críticas. Há algum tempo, eram publicados quadrinhos na sessão cômica dum jornal sobre Casper Milquetoast, um homenzinho amável, manso, insosso e patético. Uma vez, Casper era mostrado em pé, numa esquina, durante um aguaceiro torrencial. A água transbordava das abas de seu chapéu e ele tiritava miseravelmente, enquanto dizia: “Se aquele moço não aparecer dentro de mais 45 minutos, ele pode ir embora e pedir a outra pessoa que lhe empreste o dinheiro”. Essa caricatura parece exagerada e ridícula – mas será realmente? Manso é definido como “sofredor, paciente, de maneiras suaves, suportando injúrias”. A definição desfavorável é “mole”, “sem fibra”, “fraco”. Todos nós gostaríamos de expressar as qualidades positivas e verdadeiras identificadas com a palavra “manso” e fazemos esforços nesse sentido; mas todos, frequentemente, usamos a expressão desfavorável “fraco”, quando o nosso semelhante não se mostra à altura de nossas expectativas. A definição negativa de mansidão parece estar frequentemente associada com o Cristianismo e com o nosso Salvador em particular. Ouvimos muitas vezes a frase: “o manso e suave Jesus”. O poeta Swinburne chamava-o de “o Galileu pálido, mortiço”.

Inofensivo, fraco, invertebrado, de maneiras suaves, gentil – era isso que Ele queria dizer, quando dizia a Seus Discípulos: “Vós herdareis a terra se fordes mansos – inofensivos”?

Pois se esse era o sentido de suas palavras, elas certamente caíram em ouvidos surdos. Provavelmente, nunca houve outro grupo de homens que tenha de tal maneira desafiado a proverbial definição de manso. Eles argumentaram e combateram, enfrentando, corajosamente aqueles que desafiavam os Ensinamentos de Cristo; um deles apoderou-se duma espada e decepou a orelha de Malchus. Eles desafiaram a autoridade de Roma, “nós devemos obedecer a Deus e não aos homens” bramavam. Foram atirados na prisão, não porque eram mansos e suaves, mas porque eram homens de caráter e convicção.

Se nós rejeitamos os conceitos correntes e uso da palavra manso, o que, então, está a Bem-Aventurança nos dizendo?

A palavra-chave para essa Bem-Aventurança é: “Mansidão ou impessoalidade; a renúncia completa do eu”. A correlação astral é a Lua. A Lua atrai e aumenta à medida que toca cada ponto sensível na sua viagem de 30 dias em torno do círculo mágico, o horóscopo. A correlação bíblica é: “Aquele que perde a sua vida por amor de Mim, salvá-la-á”. Isso dá uma conotação completamente nova a essa Bem-Aventurança, no que concerne à versão popular. “Mansidão” aqui equipara-se com “impessoalidade”. A palavra “manso ” não é usada muito frequentemente na Bíblia, e é usada para descrever só duas pessoas: Moisés e Jesus.

No Livro dos Números, diz-se de Moisés: “Agora o ser humano Moisés era muito manso, mais do que todos os homens que havia na face da terra”. Suave? Sofredor? Essas denominações não se enquadram na personalidade dinâmica do herói do Velho Testamento. Duas imagens de Moisés acodem-nos à lembrança. A primeira, é de Moisés como um jovem, criado na corte do Faraó. Um dia, viu um egípcio bater num escravo. Era demais para esse jovem judeu, que matou o egípcio. Chamem-lhe um acesso de cólera ou um raro momento de paixão, mas não pode ser chamado um ato de mansidão, no sentido popular da palavra. A segunda imagem é o episódio dos 10 mandamentos. Quando Moisés vinha descendo a montanha com as Tábuas de Pedra, viu seu povo dançando em torno dum vitelo dourado: “E Moisés, muito irado, atirou de suas mãos as tábuas e quebrou-as ao pé do monte. E, pegando no bezerro que tinham feito, queimou-o e esmagou-o até o reduzir a pó, que espalhou na água, e deu a beber dele aos filhos de Israel” (Ex 32:19-20). Isso novamente, não pode ser chamado um ato de mansidão. É necessário falar da ira de Nosso Senhor Jesus Cristo? Pode ser necessário para alguns que nunca podem imaginar Nosso Senhor ficando encolerizado. Mas ficou. O que precisamos dizer, e isto ajuda-nos a atingir a compreensão do significado esotérico da palavra “manso”, é que Sua ira foi dirigida contra os erros e as injustiças cometidos contra os outros. Nunca foi uma reação defensiva de sua parte àquilo que estava acontecendo com Ele. Foi espancado, escarnecido, ameaçado, mas nunca respondeu uma palavra, nem retribuiu. Sua cólera era dirigida contra os líderes religiosos e o pesado fardo que colocavam sobre o povo, e contra aqueles que enganavam no troco os frequentadores do Templo. Mesas viradas, pombas soltas de suas gaiolas, os vendilhões correndo apressadamente para fugir à dor aguda do chicote: (Mt 21 :13) “Minha casa deve ser chamada a casa da oração; mas vocês transformaram-na num antro de ladrões”. Uma vez mais, isso não foi um ato de mansidão.

Esses dramáticos incidentes coincidem com a vida na Terra tal como se nos apresenta hoje.

Estamos deixando a Idade de Peixes e entrando na Idade de Aquário. Somos como os filhos de Israel, mantendo-nos fiéis e adorando os dias dourados da indecisão, em vez de olhar para o futuro, onde o vitelo dourado desta dispensação está sendo moído e derramado sobre as águas da espiritualidade? Estamos abrigando dentro de nós os vendilhões, os desejos materialistas, que tem poluído o Templo de Deus, a nossa personalidade? Sim, na verdade, há uma interpretação interna e uma externa de todas essas Escrituras.

Na Bíblia, encontramos alegorias, simbolismos e mitos que foram usados para velar verdades sagradas e que só podem ser interpretadas pelos Espíritos avançados a quem foi dada a chave. Max Heindel era um deles e por seu intermédio os Irmãos Maiores puderam revelar muitas das verdadeiras interpretações dos Ensinamentos Sagrados.
Um mito é um estojo que contém, às vezes, as mais profundas e preciosas joias da verdade espiritual, pérolas de beleza tão raras e etéreas que não podem ficar expostas ao intelecto material. Com a intenção de as proteger e ao mesmo tempo permitir-lhes trabalhar pela humanidade, no sentido da ascensão espiritual dela, os Grandes Mestres que guiam nossa evolução, invisíveis, mas poderosos, deram essas verdades espirituais para o ser humano nascente, encerradas no simbolismo pitoresco dos mitos, para que assim possam trabalhar sobre os seus sentimentos, até chegar o tempo em que o seu nascente intelecto tenha se tornado suficientemente desenvolvido e espiritualizado para que possam senti-las e conhecê-las (do Livro: Cristianismo Rosacruz).

Os poderes espirituais existem adormecidos dentro de cada ser humano, mas só são desenvolvidos por assiduidade paciente e continuidade no fazer o bem, através dos anos. Somente uns poucos têm fé para iniciar na senda até a sua consecução, ou perseverança para prosseguir nessa prova difícil. Se nossas vidas não são impulsionadas pelos motivos mais puros e altruístas, poderemos ser um tormento para a humanidade, pois qualquer poder usado fora da direção dos princípios Crísticos, é destrutivo e suas reações trazem sofrimento.

Portanto, o exercício de qualquer poder implica em responsabilidade perante a Lei Divina.

Um parágrafo no livro “O Desejo das Idades”, de Ellen G. White, explicou isto lindamente: “o Governo sob o qual Jesus viveu era corrupto e opressivo; com todas as pessoas ocorriam abusos gritantes – extorsão, intolerância e dolorosa crueldade. Entretanto, o Salvador não intentava reformas civis. Ele não atacava os abusos nacionais, nem condenava os inimigos da nação. Ele não interferia com a autoridade ou com a Administração dos que estavam no poder. Ele foi o nosso exemplo, mantendo-se afastado dos governos terrenos. Não porque fosse indiferente aos infortúnios dos seres humanos, mas porque o remédio não repousava em medidas meramente humanas e externas. Para ser eficiente, a cura deve atingir o ser humano individualmente e deve regenerar o seu coração.

Atentem bem – Cristo Jesus preocupava-se com as pessoas. Curava suas doenças, alimentava-os quando estavam famintos. Ninguém poderia dizer que era indiferente aos anseios das pessoas.

Ele foi o exemplo personificado do Manso Bem-Aventurado. Há grandes esperanças para aqueles que desejam segui-lo. A história completa da humanidade pode ser resumida nas palavras: “profundo conhecimento” ou “mestria”; ser capaz de submeter aqueles desejos, paixões e instintos que fazem a pessoa censurar, eliminar ou tentar destruir os outros. Os mansos abençoados são os seres humanos de Deus que usam aquela índole e disposição para atingir um propósito e um objetivo. Manso abençoado foi um Gandhi, que conseguiu levar o ex-poderoso Império Britânico a ajustar um acordo, não pela força ou “choques ruidosos da espada”, mas mediante seu próprio poder disciplinado e energia moral. Manso abençoado é um Lincoln, anunciando durante uma eleição: “Sei que existe um Deus a quem repugna a injustiça e a escravidão. Eu vejo a tempestade se aproximando e sei que Sua mão está nela. Se Ele tem um lugar e um trabalho para mim e acredito que tem, eu estou pronto. Não sou nada, mas a Verdade é tudo”. Mansa abençoada é uma Florence Nightingale, lutando como um tigre para a cura de seus doentes. Todos eles eram mansos no sentido cristão da palavra, pois sua cólera era voltada contra as injustiças e maus tratos causados a outros e não a eles próprios.

O ser humano desenvolveu o seu poder sobre o seu meio ambiente. Transformou em desertos, jardins florescentes. Recuperou os desertos, dirigindo as águas para a fertilidade. Usou o fogo e os metais para criar segundo suas necessidades. Usa o ar como via expressa de transportes. O ser humano é um criador. Desenvolveu muitos poderes, mas ainda não é senhor de si próprio. Nos dias de auto maestria, o ser humano dirigirá todos os seus poderes com sabedoria e amor e o reino dos céus manifestar-se-á na terra. É a lei de sua condição divina. O tempo destrói as criações de suas mãos, mas a alma do ser humano progride sempre com as riquezas de suas experiências. Novamente repetimos: “Bem-Aventurados sejam os mansos”. É impossível domá-los, desalojá-los ou destruí-los. Eles herdarão a terra.

(Pulicado na Revista Serviço Rosacruz de mai/78, traduzido da Revista “Rays from the Rose Cross”).

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