Diálogos do Silêncio

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Diálogos do Silêncio

Diálogos do Silêncio

– Conta-me, anjinho, por que esse ar feliz?

– Ainda não sabes, estrela amiga? Eu vou nascer. Deus já escolheu a minha família. Oh, estou tão feliz! O milagre da vida já aconteceu e eu nascerei do amor de meu pai e de minha mãe.

– Que bom! E quando será?

– Daqui a nove meses. O amor já fez o encontro sagrado das Sementes da Vida. Já existe o pequeno ser que será meu corpo. Estou tão impaciente! Não vejo a hora de nascer.

– E agora, conta-me, anjinho, por que estás sorrindo?

– É de felicidade. Deus deixou que eu conhecesse meu pai e minha mãe. Ele é forte e bonito e ela… oh, ela é maravilhosa! Conheci também meus dois irmãozinhos. São alegres e brincam muito. Não vejo a hora de nascer para brincar com eles. Estou tão orgulhoso da minha família!

– Isso vai ser logo.

– Vai, sim. Sabe? Meu corpinho já está crescendo. Mas ainda não dá para ver como serei. Você acha, estrela, que eu vou ser bonito?

– Claro que sim. Mas por que preocupas com isso?

– Não sei. É o único medo que eu tenho, mas é um grande medo. Se eu não nascer bonito, talvez não gostem de mim. Tenho tanto medo de não ser amado!

– Que bobagem, anjinho! Não percebeste como teus pais gostam de teus irmãozinhos? Pois, então gostarão também de ti.

– É. Acho que sim. Eles são muito bons e eu já começo a amá-los.

– O que é isso, anjinho? Por que estás tremendo? Por que esse ar tão triste e aflito?

– Estou com medo. Começo a não entender as coisas. Minha mãe descobriu que vou nascer e quando eu esperava grande alegria, houve grande tristeza. Eu estava ansioso para que ela contasse a meus irmãozinhos, porque precisava saber se eles ficariam contentes. Mas ela nem lhes deu a notícia. Falou só com meu pai e os dois discutiram muito.

– Não entendi bem o que disseram, mas acho que não me querem.

– Não diga isso, anjinho. Eles devem ter problemas, mas por certo não deixarão de querê-lo.

– Não entendo. Eu fiquei tão feliz por ser filho deles e eles não estão contentes por serem meus pais.

– Não fique triste! Não tenha medo!

– Impossível. Já não posso afastar a tristeza e o medo. Eu estou preso. Eu já os amo.

– Meu Deus, o que foi?! O que te fizeram? Calma! O que foi?

– Não compreendo! Não compreendo mais nada! Minha mãe matou o meu corpinho. Ela impediu que eu nascesse.

– Como?! Não é possível!

– Ela era tão bonita e gostava tanto dos meus irmãozinhos! Estou certo de que não seria capaz de matar um deles. No entanto a mim ela matou sem pena, dentro do seu próprio corpo. E eu a queria tanto, precisava tanto do seu amor!

– Acalma-te! Talvez ela não entendesse bem. Talvez as circunstâncias.

– Não. As mães têm que entender tudo. Eu já era seu filho. Eu já tinha vida dentro dela. Nenhuma circunstância a obrigaria a matar um dos meus irmãozinhos. E, no entanto, comigo ela foi mais cruel. Muito mais. Ela não me deu nenhuma chance! Por que não esperou ao menos que eu nascesse? Não saberia falar, mas olharia para ela, poderia até sorrir. Talvez ela começasse a gostar de mim. Então, eu poderia tentar ser amado.

(Publicado na Revista Rosacruz de fevereiro de 1976)

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