Arquivo de categoria Histórias Aquarianas para Crianças e Adolescentes

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Saco de Ouro Mágico

O Saco de Ouro Mágico

Num lindo e distante país, morava um bondoso e amável rei. Ele tinha muitos filhos e, à medida que cada um deles ia ficando preparado para enfrentar o mundo e buscar sua fortuna, o rei dava-lhe uma sacola cheia de ouro mágico.

Essa hora chegou para o Príncipe Jolly e para a Princesa Prudence. O rei chamou os dois, deu-lhes a sacola de ouro mágico e disse:

— Meus filhos, essa sacola de ouro tem poderes mágicos; se for usada com finalidade boa, a sacola nunca ficará vazia; mas se for usada para coisas erradas ou egoístas, ela logo estará vazia e nunca mais poderá ser preenchida. E aqui está um novelo de fios de prata, que também tem poderes mágicos. Quando vocês estiverem em apuros, é só dar um apertãozinho de leve e terão ajuda imediatamente. Mas, em hipótese alguma, quebrem o fio, pois se não for quebrado, ele os conduzirá de volta para casa. E agora eu os abençoo. Na volta, tragam-me um presente.

— Oh, muito obrigado, papai! Os dois disseram.

Depois pegaram a estrada, conversando alegres e contentes sobre as coisas maravilhosas que iriam fazer e ver. No caminho, Prudence viu um passarinho que havia caído do ninho e quebrado sua asa. Pegou-o cuidadosamente e exclamou:

— Oh, irmão, veja, sua asinha está quebrada. Venha, ajude-me a curá-la.

Sem muita vontade, o príncipe ajudou a preparar uma tala para fixar a asa quebrada. Com alguns galhos e um pouco de grama, Prudence fez um novo ninho e colocou lá a pequenina ave, sem sacudi-la. De quando em quando, ela lhe dava um pouco d’água para beber.

— O que você vai fazer com o passarinho? Perguntou o Príncipe Jolly.

— Cuidar dele até que possa voar. Ele, um dia, encontrará uma companheira para formar um lar, respondeu Prudence.

Dias depois, eles encontraram uma criancinha chorando amargamente.

— Você, pobre queridinha, o que aconteceu? Perguntou a Princesa Prudence.

— Eu estou com fome, soluçou a criança.

— Onde você mora? Perguntou Prudence.

A criança apontou para uma pequena cabana perto dali abandonada numa floresta de árvores enormes.

— Irmão, disse a Princesa, vamos até a cabana. Nós poderemos ajudar as pessoas que estiverem lá; certamente estão com problemas.

— Se você for parar para ajudar todo pássaro, animal ou pessoa que encontrarmos, nunca chegaremos a parte alguma. Eu quero conhecer o mundo e me divertir! Reclamou o Príncipe Jolly.

— Só esta vez, por favor, Jolly, pediu Prudence.

— Oh, está bem, mas esta é a última vez.

Prudente pegou na mão da criança e disse docemente:

— Leve-nos até a sua casa, querida, e nós vamos ver o que podemos arranjar para você comer.

Em poucos minutos, eles chegaram à cabana, que só tinha um cômodo grande e um “puxado” para a cozinha. Havia uma mulher deitada na cama, muito pálida, com um bebê doente nos braços. Prudence chegou perto dela, com os olhos cheios de compaixão.

— O que posso fazer por você? Você está sozinha? Ela perguntou.

— Sim, respondeu a mulher. John, meu marido, foi ao médico ontem e ainda não voltou. O bebê adoeceu e eu estou doente demais para fazer alguma coisa para Jeanette. Ela está com fome, mas é muito pequena para fazer alguma coisa sozinha; ela só tem cinco anos. Deve ter sido Deus que mandou você aqui, eu rezei muito pedindo ajuda. Seus olhos encheram-se de lágrimas.

— Agora, não fale mais nada, disse Prudence. Eu farei alguma coisa para Jeanette.

A menininha seguiu Prudente com os seus grandes olhos castanhos e sentou-se na cama perto da mãe.

Prudence encontrou pão, leite, manteiga, frutas e ovos. Ela fez uma jarra de chá para a mulher e, enquanto a água esquentava para o banho da criança, alimentou Jeanette. Enquanto a mãe estava comendo, Prudence deu banho no bebê. Jeanette assistiu a tudo isso com os olhos arregalados. Depois de entregar o bebê limpinho e cheiroso para sua mãe, Prudence foi até onde o Príncipe estava sentado, com ar carrancudo, e disse-lhe:

— Jolly, eu vou ficar aqui até que essa mulher fique forte o suficiente para poder trabalhar. Você vai para a cidade e tente encontrar o Senhor White e um médico. A mulher está muito doente.

— Eu não vou voltar, pretendo ver o mundo e me divertir, disse Jolly, saindo sem dizer mais uma única palavra.

Prudence olhou tristemente para ele e depois entrou na cabana.

— Jeanette, você quer alimentar o passarinho enquanto eu limpo a casa? Ela perguntou.

— Meus Deus! O que aconteceu com ele? Perguntou Jeanette ao ver a asa enfaixada.

Prudence contou-lhe o que havia acontecido e mostrou-lhe como dar ao pássaro uma gota de água de cada vez, e uma migalha de pão ou uma semente. Quando a casa já estava toda em ordem e a cama da Senhora White arrumada, Prudence sentou-se e elas começaram a conversar.

Levou dois dias para o Senhor White voltar, trazendo o médico e muita comida. Prudence sabia que isso era obra de seu irmão, mas o Príncipe Jolly não voltou e ela só o tornaria a ver novamente muitos anos mais tarde.

Prudence ficou na cabana por três semanas e depois seguiu seu caminho, sempre ajudando os outros, fazendo tudo o que podia para alegrar e confortar as pessoas tristes e alimentar os que tinham fome, e ficava emocionada vendo sua sacola sempre cheia, por muito que gastasse. Ela falava sempre de sua casa e de quando voltaria para lá.

Muitos anos se passaram. Prudence já estava cansada e queria voltar para junto de seu Pai. Como estava contente ao ver seu novelo de prata brilhando intacto, o saco mágico ainda cheio de ouro e o presente que levava para seu Pai. No começo, ela não estava muito satisfeita com o seu presente. Queria ter sido uma grande musicista ou pintora ou escritora de lindos poemas e histórias que alegrariam os corações dos homens, mas seu presente era só uma vida de serviços amorosos. Parecia muito pouco comparado com o dos outros, mas ela sentia que seu Pai ficaria satisfeito.

A Princesa Prudente percorreu seu caminho, sem pressa, quando um dia viu um velhinho andando de bengala, curvado e quase aleijado por causa do reumatismo. Ele parecia tão triste e abandonado que ela correu para ele para consolá-lo e, para sua surpresa, reconheceu nele seu irmão, o Príncipe Jolly.

— Oh, meu irmão, como eu estou contente em vê-lo! Ela exclamou.

— Prudence! É você? Como está jovem e bonita! E a sua sacola ainda está cheia! Exclamou Jolly.

— Sim, duas vezes os ladrões tentaram roubá-la de mim, mas eu dei um puxãozinho no fio de prata e papai mandou-me ajuda imediatamente, contou-lhe a Princesa.

O Príncipe Jolly suspirou tristemente:

— Minha sacola está vazia há muito tempo. Na minha ânsia de me divertir, eu esqueci tudo o que papai nos disse.

— Você aproveitou a vida, Jolly? Perguntou docemente a Princesa, olhando com pena para aquele homem arruinado na sua frente.

— Durante um certo tempo eu aproveitei, mas o ouro acabou tão rápido, que logo eu fiquei sem nada. Procurei trabalhar, mas não tinha saúde e os outros tinham que tomar conta de mim. Lágrimas de autopiedade caíam dos olhos do Príncipe enquanto ele falava.

— Por que você não me avisou, Jolly? Perguntou sua irmã. Eu o teria ajudado com prazer.

Jolly enrubesceu ao responder:

— Eu ouvi dizer muita coisa sobre suas boas ações e fiquei com vergonha.

— Oh, sinto muito. Mas, irmão, estou vendo que seu fio de prata está estragado e aqui há um lugar em que o fio está quase partido. Que aconteceu? Perguntou a Princesa.

O Príncipe Jolly baixou os olhos, envergonhado, sem conseguir encarar a irmã.

— Meu irmão, disse Prudence gentilmente, você não fez isso de propósito?

O Príncipe balançou a cabeça e murmurou:

— Eu estava doente, não tinha para onde ir, não tinha dinheiro nem amigos. Já o tinha quase cortado quando me lembrei da recomendação de papai: “Em hipótese alguma corte o fio; puxe-o devagar e eu atenderei seu pedido”. Então, eu dei um puxãozinho e alguém me achou e me levou para o hospital. Depois de algum tempo, consegui emprego por uma ninharia, mas tentei realmente ajudar os outros e uma vez até impedi que alguém cortasse o fio.

— Estou tão contente. Sei que papai vai perdoá-lo e dar-lhe uma nova oportunidade, disse a Princesa animando-o.

— Mas, irmã, eu não estou levando nenhum presente para ele, suspirou Jolly.

— Oh, sim, você o tem em suas mãos. A vida que você salvou da destruição, a comida e o médico que você mandou para a Senhora White e seu marido. Se não fosse você, querido, ela teria morrido. Lembra-se? Perguntou Prudence.

— Você acha que papai aceitará esse presente? Perguntou o Príncipe ansiosamente, com um novo brilho nos olhos.

— Tenho certeza que sim, respondeu a Princesa.

“Nossos presentes podem parecer pequenos aos nossos próprios olhos, mas não sabemos como eles parecerão aos olhos dele”.

Enquanto os dois viajavam, Prudence ajustou seus passos aos de seu irmão, bem mais lentos e finalmente eles chegaram à casa do Rei, o Pai, que os veio receber.

Para o Príncipe Jolly ele disse, tristemente:

Filho, você não foi muito bem desta vez, mas depois de um longo descanso e uma completa purificação de sua alma, você irá novamente e sei que se sairá melhor. Seu presente lhe rendeu esta oportunidade.

Gentilmente, o pai colocou sua mão sobre os olhos cansados do Príncipe e o fez dormir.

Para Prudence ele disse:

— Filha, você realmente se saiu muito bem e é merecedora de uma tarefa maior. Entre para as alegrias do reino. Seu presente é muito valioso para mim.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. IV – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

No Jardim do Tapete Florido

No Jardim do Tapete Florido

No Jardim do Tapete Florido há uma árvore. Todos os dias meninos e meninas do Reino das Fadas se reúnem em volta dela para estudar, trabalhar e brincar, pois ela é, para eles, a Árvore do Exemplo. É a sua escola. É onde aprendem a diferença entre o certo e o errado, a melhorar seus modos e a prepararem-se para a época em que estarão prontos para a Árvore da Vida.

À Árvore da Vida também está no meio do Jardim do Tapete Florido. Mas ninguém a vê. Está escondida da vista das Fadas crianças, até um certo dia em que elas completem 7 anos do seu crescimento, quando então estarão aptas para a Grande Aventura de aprender o significado das coisas.

A Árvore da Vida é uma árvore etérea, que não pode ser vista à luz do dia, e não pode ser conhecida até que a criança atinja o sétimo ano de sua vida. Somente neste tempo certo, é que ela brilha para as Fadas e a luz é tão brilhante no início, que os meninos e meninas são tomados de surpresa. A luz brilhante e etérea apareceu de repente no Jardim do Tapete Florido em uma noite de junho.

Naquela noite maravilhosa de junho, duas dúzias de meninos e duas dúzias de meninas estavam reunidos sob sua Árvore do Exemplo, estudando suas lições, como fazem todas as boas crianças. Cada uma tinha aprendido a ter bons pensamentos e bons sentimentos extraídos das cores, dos companheiros e dos amigos da Natureza. Cada uma tinha aprendido a deixar de lado todos os maus pensamentos e todos os maus sentimentos que, de alguma forma, cresciam em seus corações e em suas Mentes. Às fadas aprenderam tão bem essa lição que, elas mesmas, se tornaram pequenas luzes brilhantes. E, porque cada menino e cada menina estava brilhando com bons sentimentos e bons pensamentos, certa noite em junho, a luz grande e brilhante da Árvore da Vida chegou direto em suas Mentes e seus Corações. Resplandeceu numa torrente de radiante esplendor.

– O-o-o-o, exclamou um coro de minúsculas vozes, e as Fadas meninas arremessaram-se para o céu carregando a fragrância das flores, enquanto se afastaram assustadas.

Os meninos eram mais destemidos, mas, lá no fundo, eles também estavam um pouco assustados. Eles fingiram que não. Não queriam que as meninas soubessem que estavam tão assustados quanto elas diante daquela luz repentina e brilhante. Então, permaneceram no Jardim, alguns atirando-se ao chão para tirar força da sua Mãe-Terra. Outros seguravam seus joelhos, fechavam suas mãos e apoiavam-se na Árvore do Exemplo para disfarçar seu espanto.

Por um momento, a própria luz das pequenas Fadas tornou-se opaca. O medo fez com que ela se escurecesse. Mas, bem depressa elas perceberam que a Luz radiante, vinha de cima, era amiga e gentil e todos os seus medos se dissiparam e sua luz começou a brilhar novamente.

As fadas meninas saíram das nuvens. Elas flutuavam acima da Árvore do Exemplo, expressando cada uma seu espanto e surpresa. Cinco delas, mais aventureiras do que as outras, deixaram de lado suas asas e desceram para o arco de luz na base da maravilhosa Árvore da Vida que não podiam ver.

Doze dos meninos, ainda mais ousados do que suas cinco irmãs, corajosamente mudaram seus sentimentos e avançaram para se apoderar de doze raios de luz. Com uma velocidade assustadora, eles foram impulsionados para cima, para os galhos etéreos que giravam rapidamente acima do chão. Os outros olhavam, aplaudiam e se perguntavam se ousariam segurar um raio da Resplandecente Árvore da Vida.

Lá em cima nos galhos, alguns dos meninos pareciam estar deliciados com sua nova experiência, enquanto outros sentiam-se assustados, outros riam e alguns apenas fechavam os seus olhos para pensar o que iriam fazer. Apenas um dos meninos foi capaz de flutuar no mesmo instante ao ritmo da extraordinária Árvore. Ele chamou seus irmãos para tentar ajudá-los.

— Veja, ele ria. É fácil. É como se você fosse um pássaro voando, um cardo flutuando no ar ou mesmo um dos nossos bons pensamentos soprando pelos ares.

Os outros meninos lançaram-se na experiência, confusos a princípio, até que, finalmente, todos eles movimentaram-se facilmente no ritmo da vida, como pássaros livres, como semente carregada pelo vento ou como o voo límpido de um bom pensamento.

Um por um, os doze meninos armaram-se de coragem, pesaram os raios de Luz e foram levantados rapidamente no círculo brilhante sobre o Jardim. Uma a uma, as fadas meninas retiraram suas asas e desceram para juntar-se às suas irmãs no arco de Luz que inundava o Tapete Florido, na base da Árvore.

As garotas cresciam parecendo borboletas e pétalas de flores e matizes do arco-íris do orvalho da manhã, à medida que dançavam e brincavam à Luz da Vida. Os meninos cresciam parecendo as mais ativas criaturas do ar, do mar e da terra. E, do sétimo ano de seu crescimento até que se passassem outros sete anos, todas as Fadas meninos e meninas estudaram o significado das coisas na maravilhosa Luz da Árvore da Vida.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. III – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

As Chaves do Céu

As Chaves do Céu

Era uma vez um rei muito poderoso, que governava muitas terras. Todos os tesouros da Terra eram dele e todos os dias ele brincava com pedras preciosas de Ofir[1] e com rosas de Damasco, como se elas fossem ninharias. Todavia, com toda sua riqueza, ele não tinha uma coisa: “As Chaves dos Portões do Céu”.

Ele havia enviado milhares de mensageiros pelo mundo a fim de descobrir as Chaves do Céu, mas ninguém foi capaz de trazê-las. A todos os sábios que vinham à sua corte, ele perguntava onde as Chaves do Céu poderiam ser encontradas, mas ninguém sabia a resposta.

Um deles, um homem que veio da Índia, com olhos estranhos, sorrindo, colocou de lado as pedras preciosas de Ofir e as rosas de Damasco com as quais o rei estava prestes a brincar, e disse-lhe que todos os tesouros da Terra poderiam ser possuídos como um presente, mas, as Chaves do Céu, cada um deveria encontrar por si mesmo.

Então, o rei decidiu encontrar as Chaves do Céu, custasse o que custasse. Esta era uma época em que a humanidade era capaz de ver o lugar onde o céu se encontrava com a Terra e todos conheciam a alta montanha, no cume da qual tinham sido construídos os portões do céu. O rei ordenou que seus cortesãos permanecessem em casa e começou a subir a íngreme montanha, até que alcançou os portões do céu. Diante dos portões, cujas muralhas estavam inundadas pelo brilho do Sol, permanecia o Anjo Gabriel, o guardião do eterno jardim de Deus.

— Ser glorioso, disse o rei, todos os tesouros da Terra são meus. Muitas são as terras que têm que me pagar impostos e eu me divirto brincando com as pedras preciosas de Ofir e com as rosas de Damasco. Porém, não me sentirei feliz até que tenha comigo as Chaves do Céu. Se não for assim, como esses portões poderão se abrir para mim, algum dia?

— Isso é bem verdade – disse o Anjo Gabriel – sem as Chaves do Céu você nunca abrirá seus portões, mesmo que possua todas as artes e tesouros da Terra! Mas, tantas são as Chaves do Céu! Elas podem ser encontradas em cada florzinha, quando é primavera na Terra e na alma de cada criatura.

— O que! Exclamou o rei surpreso. É só isso que tenho que fazer, só juntar essas pequenas flores? Os vales e as florestas estão cheios delas e em todo o lugar que você for, você pisa sobre elas.

— É verdade que as pessoas esmagam muitas dessas lindas flores sob os pés, disse o Anjo. Entretanto, encontrar as Chaves não é tão fácil como pode parecer. Há apenas três chaves que podem abrir os portões do céu e todas as três somente serão suas se brotarem a seus pés — e para você. Todas as outras milhares de prímulas que brotam na Terra e que no reino das Fadas são conhecidas como as Chaves do Céu, servem apenas para relembrar os seres humanos de fazer florescer às verdadeiras Chaves do Céu, pois estas são as flores sobre as quais todos estão pisando.

Neste momento, apareceu uma criança diante dos portões do céu segurando três pequenas chaves em sua mão. As flores exalavam uma fragrância deliciosa nas mãos da criança. Enquanto ela tocava os portões do céu com as três chaves, esses se abriram e o Anjo Gabriel a conduziu para dentro. Mas, os portões fecharam-se novamente e o rei permaneceu sozinho diante dos portões fechados. Então, desceu pensativamente a montanha em direção à Terra e, em todos os lugares, os campos e os prados estavam cheios das mais belas e douradas Chaves do Céu. O rei tomou muito cuidado para não pisar sobre elas, mas nenhuma das flores brotou aos seus pés.

– Será que não conseguirei achar as verdadeiras Chaves do Céu, o rei perguntou a si mesmo, quando uma criança pode encontrá-las?

Mas, ele não as encontrou e muito tempo se passou.

Um dia, quando estava saindo de seu Castelo acompanhado pelos seus cortesãos e em todo seu esplendor, uma criança suja e rejeitada, que não tinha pai nem mãe, estava pedindo esmolas no caminho.

— Ah, mande-a pedir esmolas em outro lugar, disseram os servos, puxando-a de lado quando ela se aproximou do rei com as mãos estendidas.

Mas o rei puxou para si a criança. Todos esses anos desde que havia descido da montanha, ele havia pensado muito sobre as Chaves do Céu. Então, ele levantou a criança e colocou-a diante dele, sobre seu cavalo, e a levou para o castelo. Quando chegou à casa ordenou que a criança fosse alimentada e vestida; ele mesmo a auxiliou e a enfeitou, colocando uma pequena coroa sobre sua cabeça.

De repente, floresceu aos seus pés uma pequena Chave dourada do Céu. Então, o rei proclamou que em todo o seu reino, todos os pobres e todas as crianças seriam seus irmãos.

Muitos anos se passaram. Um dia, o rei cavalgava pela floresta com seus nobres. Vendo um lobo doente e ferido, ele desmontou e descobriu que o animal estava desamparado e impossibilitado de se mover.

— Oh, deixe-o morrer, disseram os cortesãos, pondo-se entre o rei e a miserável criatura.

Mas o rei pegou o pobre animal e o colocou em uma das carruagens e, quando chegou ao seu lar, carregou-o em seus braços para o palácio. Cuidou dele diariamente até que lhe devolveu a saúde e, desde esse dia, o lobo o seguia por todos os lados. Então, brotou a seus pés a segunda Chave Dourada. Daí para frente, o rei declarou todos os animais viventes em seu reino, como seus irmãos mais jovens.

Passaram-se mais alguns anos e um dia, andando pelos jardins do palácio, o rei regozijava-se ao admirar as plantas e flores raras, tão artística e zelosamente cuidadas e nutridas, o que tornava seu jardim o mais belo de toda a nação. Olhando para baixo, o rei viu, à beira do caminho, uma flor de aparência feia, quase murcha pela ação do Sol, suas folhas cheias de pó decaídas, com sede.

– Vou buscar água, disse o rei.

Mas o jardineiro o reteve.

— É feia como erva daninha, ele disse. Deixe-me arrancá-la e queimá-la. Não há lugar para ela em seu jardim, com todas essas flores maravilhosas.

Mas o rei, pegando seu capacete dourado, encheu-o com água fresca da fonte e o levou para a planta. A planta bebeu a água e começou a respirar, a viver e a florescer novamente.

Então, a terceira Chave do Céu floresceu aos pés do rei, enquanto a pequena mendiga e o lobo olhavam para ele. O rei, olhando para a montanha, viu os portões do céu se abrirem amplamente e na luz radiante do Sol estava o Anjo Gabriel e a pequena criança que há muito, muito tempo já havia encontrado o caminho do céu.

As três Chaves do Céu ainda hoje florescem e brilham mais e são mais belas que todas as pedras preciosas de Ofir e todas as rosas de Damasco.

[1] Ouro de Ofir era um tipo de ouro da mais alta qualidade, que podia ser encontrada em uma região chamada Ofir. Esse ouro era muito puro e muito raro. Por isso, o ouro de Ofir se tornou símbolo de raridade e preciosidade.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. III – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Presente de James

O Presente de James

Era a tarde de um dia quente de junho. A Senhorita Spratt estava sentada no seu jardim, à sombra de uma grande mangueira, quando, de repente, o portão se abriu e surgiram seus dois amiguinhos, Bob e Pedro.

– Você tem tempo para nos contar uma história? Perguntou Bob.

– Oh, por favor, conte-nos, suplicou Pedro.

A Senhorita Spratt parecia ter um sortimento infindável de histórias e estava sempre contente por contá-las a Bob e Pedro, pois eles prestavam muita atenção no que ela dizia. Quando os garotos se sentaram na grama, aos pés da Senhorita Spratt, ela começou:

— Vocês dois ouviram a história na Escola Dominical sobre os milagres dos pães e dos peixes, não é?

— Sim, disseram os meninos, em uníssono.

— Bem, essa história é uma que inventei sobre um menino que, a Bíblia menciona, poderia estar lá quando Jesus realizou aquele milagre.

Há muitos, muitos anos atrás, numa terra distante, vivia um rapaz que chamaremos de James. Naqueles dias não havia carros, ônibus, e as pessoas tinham que andar de um lugar para outro. Era comum se juntarem em grupos que andavam quilômetros e quilômetros até o lugar de seu interesse. No tempo dessa história, Jesus andava pela região, falando com as pessoas sobre Deus e curando os enfermos. Muitas pessoas O seguiam; algumas porque O amavam, outras porque queriam aprender com Ele ou serem curadas e outras porque queriam estar entre a multidão.

James tinha ouvido seus pais e vizinhos falarem sobre Jesus e as coisas maravilhosas que Ele fazia, e queria poder ver esse grande homem.

Uma manhã, James estava sentado diante de sua porta, quando algumas pessoas passaram e, de uma forma gentil, disseram ao rapaz:

— Ouvimos dizer que Jesus está por perto e vamos vê-Lo. Você gostaria de vir conosco?

James estava encantado com a perspectiva de uma viagem e com a possibilidade de ver esse homem de quem tanto ouvira falar. Assim, correu à sua mãe e perguntou se podia sair com as pessoas do vilarejo. Sua mãe consentiu e rapidamente embrulhou alguns pedaços de pão e dois peixes pequenos que sobraram do desjejum, colocando-os no bolso de James, sabendo que um jovem rapaz poderia sentir fome antes de voltar para casa.

Com um beijo de despedida e com o coração alegre, James saiu de casa e juntou-se aos outros na rua. Era tão divertido sair para tal aventura!

Pelo caminho, outras pessoas juntaram-se a eles, até que a rua ficou cheia, mas ainda assim elas continuavam chegando de todos os lados. Todas as pessoas falaram sobre Jesus e o que Ele tinha feito. James estava tão emocionado e feliz que nem sentiu cansaço ou fome. À distância, eles viram um grande amontoado de pessoas ao lado da montanha. Eles se apressaram para juntar-se a elas, pois lá estava Jesus falando e ensinando muitas coisas. As palavras de Jesus estavam tão repletas de coisas maravilhosas e interessantes que a multidão se esqueceu do tempo e de comer.

Então, começou a ficar tarde e um dos discípulos de Jesus sugeriu que mandassem as pessoas embora para comer alguma coisa, Jesus disse:

— Eles não precisam ir; suas casas estão longe. Nós os alimentaremos aqui. Procurem entre eles o que há para comer.

Quando James ouviu falar sobre comida sentiu fome e lembrou-se do almoço que sua mãe lhe preparou. Quando o tirou de seu bolso, olho para cima e viu um dos discípulos de Jesus atravessando a multidão e falando a cada um. Parecia que o homem perguntava à multidão se eles tinham alimento, mas todos respondiam negativamente.

Será que James era o único que trouxera alimento? O que deveria fazer — espalhar seus pequenos pedaços de pão e minúsculos peixes e comer diante da multidão? Ele estava com muita fome. Enquanto se questionava sobre o que fazer, o discípulo de Jesus chegou até ele e perguntou-lhe se ele tinha algum alimento par dar a Jesus. James sentiu um imenso desejo de chorar. Ele queria sua refeição e, ao mesmo tempo, queria dá-la, pois, o homem não tinha dito que era para Jesus? Então, sem dizer uma palavra, ele entregou seu pacote de comida ao discípulo e sentiu-se aliviado. Tinha certeza de ter feito o que sua mãe esperava que ele fizesse. Então, ouviu os discípulos dizerem a todos que se sentassem. Quando estavam sentados, em grupos, James viu Jesus pegar os seus pães e os peixes e olhar para o céu.

O que Jesus faria com sua refeição? James olhava ansiosamente. Jesus estava proferindo algumas palavras, enquanto continuava a olhar para cima — palavras que soavam como a prece que a mãe de James fazia às refeições — prece de agradecimento.

Um arrepio passou por James quando percebeu que Jesus estava segurando seus pães e peixes e dando graças por eles, diante da multidão. Oh, como estava feliz por ter dado sua refeição ao discípulo! Nem sentia fome agora, estava tão cheio de contentamento.

Como ele ficou surpreso quando Jesus partiu os pães e os peixes e os deu aos discípulos que, por sua vez, os serviram às pessoas — não apenas a um ou dois, mas a todos. Havia comida suficiente para todos! Como podia ser? James sabia que havia só uns poucos pães e dois pequeninos peixes no seu pacote e agora… cada um dessa multidão estava comendo, e como era gostoso. James estava certo de que nunca um alimento fora tão bom. Ansiava voltar para casa e contar a seus pais o ocorrido.

Quando todos haviam comido o suficiente, ainda havia comida sobrando. Assim sendo, elas a recolheram e a colocaram em seus cestos para não perderem nada.

Então Jesus despediu as pessoas, pois já era tarde e estava na hora de voltarem para suas casas.

James juntou-se ao grupo que ia na mesma direção que ele, mas já não era o mesmo rapaz que saíra de sua casa nessa manhã. Ele sentia-se interiormente mudado – um sentimento confortante e feliz. Tinha a impressão que estava andando no ar e seus pés pareciam que não tocavam o chão. Nunca esqueceria esse dia. Pensar que ele teve algo para dar ao grande homem, Jesus — algo que Jesus pode realmente usar. Apesar de seu presente parecer pequeno, devido a bênção de Jesus, ele havia aumentado fazendo com que todos pudessem compartilhá-lo.

— Que lição maravilhosa e que dia maravilhoso! comentou James. Devo lembrar sempre de agradecer por aquilo que tenho e dividi-lo com os outros.

Assim que disse adeus aos seus amigos e entrou em sua casa, ele disse:

— Mamãe, eu voltei.

Sua mãe apressou-se em cumprimentá-lo. Certamente seu filho deveria estar cansado após essa longa jornada. Mas, ela parou e olhou para ele com surpresa. Como ele estava feliz, como estava revigorado! Uma nova luz brilhava no seu rosto e ao redor dele — a luz parecia encher toda a sala. Quando disse a ela o que aconteceu naquele dia, ela entendeu e ficou satisfeita. Sabia que James estava feliz, pois tinha dado o melhor de si.

Quando a Senhorita Spratt terminou sua história, Pedro disse:

— Como eu gostaria de ter estado lá!

— Eu ficaria muito orgulhoso de dar meu lanche para Jesus, disse Bob.

— Vocês sabem, disse a Senhorita Spratt, que há muitas maneiras que vocês, meninos, podem servir a Jesus e ajudar os outros como fez James? Quando vocês sorriem ou cantam uma alegre canção, ou fazem algo gentil, vocês estão dividindo sua bondade com os outros. Muitas pessoas estão tão famintas de amor e alegria como aquelas estavam de alimento. Quando mamãe pede para vocês fazerem alguma coisa e vocês a fazem com vontade e alegria, vocês estão presenteando Jesus como James o fez. Jesus veio para ensinar a amar-nos uns aos outros e nos darmos livremente. Agora, acho que é hora de vocês dois, rapazinhos, voltarem para suas casas para o jantar.

— Sim, senhorita. Venha, Bob, disse Pedro enquanto levantava-se, e obrigado pela linda história. Lembraremos do que você nos disse sobre como podemos dar também.

— Até logo, disse Bob, enquanto seguia Pedro.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. III – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Que o Mundo todo se Rejubile!

Que o Mundo todo se Rejubile!

Música sempre encantou as Fadas e, por muito tempo, cinco delas permaneciam quietinhas, ajoelhadas próximas a uma janela aberta, ouvindo as crianças cantarem. Nenhum dos meninos e das meninas, que juntos ensaiavam sua canção para o Serviço da Páscoa, sabiam que elas estavam ali.

As vozes claras e jovens fundiam-se no ar, e as Fadas ali permaneciam reverentemente e ouviam cada palavra de louvor enquanto as crianças cantavam:

“Ele ascendeu, Ele ascendeu resplandecente,

Vamos proclamar isto alegremente;

De sua prisão de três dias, Ele se libertou,

E o mundo todo se rejubilou”.

As Fadas pularam para o peitoril da janela, impelidas pela beleza e encantamento da música. Elas permaneciam em fila na borda estreita da janela, suas faces erguidas, em adoração, por encontrar o amoroso poder do Cristo Nascido e, mesmo assim, as crianças não perceberam sua presença. Mesmo quando a música parou e as crianças se prepararam para voltar às suas casas, nenhuma delas notou que as fadinhas as olhavam.

Enquanto as Fadas olhavam, elas também escutavam o que a professora de música dizia às crianças.

— Quando vocês desfilarem amanhã de manhã, ela disse, cada uma de vocês carregará um vasinho com o Lírio da Páscoa.

As crianças bateram palmas de alegria.

— E, continuou a professora, quando vocês chegarem ao tablado, por favor, coloquem ali os seus vasinhos.

Ela dirigiu-se ao tablado e as crianças a seguiram para aprender o que deveriam fazer.

Mas, as Fadas não esperaram para ver ou ouvir mais nada. Elas flutuaram graciosamente para o chão e correram a fim de reunir alguns equipamentos que certamente ajudariam na grande ocasião. Não havia tempo a perder, porque o dia seguinte era Domingo de Páscoa.

Sem qualquer embaraço, as Fadas dirigiram-se a uma árvore e voltaram em um minuto. Uma delas carregava uma vassoura. Era feita de penas, tão suave como a chuva recém caída.

— Eu vou varrer as folhas dos lírios e fazê-las brilhar, ela cantarolou.

A segunda Fada segurava um pano de pó. Era grande e inteiramente tecido de teia de aranha.

— Tirarei o pó das pétalas, uma por uma, ela disse, e elas estarão radiantemente brancas para a manhã da Páscoa.

A líder das Fadas quase caiu do tronco da árvore, tão grande era sua carga. Ela carregava um enorme sabão de aroma de eucalipto, uma escova de cerdas de raios lunares torcidos e uma toalha que se arrastava no chão, debaixo de seus pés, de tão grande que era.

As outras duas Fadas tinham mãos com o poder de cura. Assim, usavam-nas para restaurar as plantas machucadas e descoloridas, devolvendo-lhes a beleza. Elas tinham um coração amoroso e, com o sussurro de suas doces vozes, convidavam os insetos a se retirarem dos botões e das flores onde frequentemente dormiam. Todas as fadas tinham um alegre senso de sua própria responsabilidade para tornar os lírios muito bonitos para o Domingo de Páscoa.

— Alguém sabe onde estão os vasinhos de lírio? – Perguntou a fada com a vassoura. Ninguém sabia!

— O que devemos fazer? – Gritavam as outras, em desespero.

A líder estendeu a toalha no chão e sentou-se nela, cruzando suas pernas enquanto pensava.

— Rápido! Ela gritou finalmente. Vamos voltar para o peitoril da janela antes que seja tarde demais. Talvez devêssemos escutar mais do que a professora de música tem a dizer às crianças.

Numa nuvem de esperança e felicidade, as fadas voltaram à janela para espiar de novo, mas era muito tarde. Não havia ninguém à volta. Mais uma vez, sua líder sentou-se de pernas cruzadas para pensar.

— Há mais janelas!

E lá se foram as Fadas espiar em todas as outras salas. Em frente a uma delas havia uma mesa, um telefone e lá estava a professora de música. As Fadas ouviram atentamente o que ela dizia:

— É da Floricultura Tempo-Feliz? Ela perguntou ao telefone.

E as pequeninas Fadas quase caíram do peitoril da janela de tão excitadas que estavam. E estavam tão excitadas que nem a ouviram perguntar sobre os lírios. Mas, uma outra voz bem longínqua, saiu do aparelho e desta vez as Fadas conseguiram ouvir.

— Os vinte e cinco vasinhos de lírios estarão prontos para as crianças no Domingo pela manhã, disse a voz distante.

As quatro fadinhas não esperaram para ouvir mais nada. Elas pularam para o chão e se aproximaram de sua líder, dizendo-lhe o que tinham ouvido.

— Continuem com seu trabalho normalmente, ela disse, até ao pôr-do-sol. Quando o último raio desaparecer no céu, ao anoitecer, encontremo-nos aqui. Enquanto isso localizarei a Floricultura e voltarei para levar vocês até lá na quietude da noite.

Todas concordaram e quatro Fadas voltaram a seu trabalho costumeiro de formar as folhas e as flores das plantas e das árvores. A fada líder flutuou sobre sua toalha por todo o local, como se estivesse sobre um tapete mágico. Enquanto ela estava fora, as outras não podiam pensar em nada além dos vasinhos de lírios e nas crianças que cantavam. Elas cantarolavam ao ouvido de cada planta sobre a qual trabalhavam, instilando em cada uma delas amor pela vida ressuscitada. Muitas formas lindas surgiam, enquanto elas cantavam suavemente:

“Abençoado Senhor, vamos todos adorar-Te,

Os Santos na Terra e os Santos nos céus juntamente;

Todas as criaturas vão reverenciar-Te,

Por Tua vida ter-lhes dado, amorosamente”.

Os pássaros ouviam e as borboletas ouviam e também ouviam as abelhas e os insetos. Uma por uma, elas elevavam no ar o alegre refrão, enchendo o mundo com sua música. Assim, toda a Terra rejubilava.

Enquanto isso, a Fada líder localizara a Floricultura Tempo-Feliz. Lá dentro, numa fileira suntuosa, estavam vinte e cinco vasinhos de flores. Em cada um deles havia um lírio branco. O Elfo ergueu seus olhos para dizer, “Obrigado” e, quando olhou para o céu, o Sol derramava seu último raio na tarde calma. Rapidamente a Fada líder juntou-se às outras.

— Tudo está pronto, anunciou. Iremos imediatamente à Floricultura.

Durante toda a noite elas trabalharam na Floricultura, escovando, tirando a poeira, limpando, até que todos os vasinhos de lírios brilhassem. Elas abriram os botões para enchê-los de luz e muitos dos insetos, ali alojados, saíram. Suas mãos curadoras, gentilmente, tratavam dos botões que estavam feridos e descoloridos e sussurravam uma prece de bênção para cada um. Quando o primeiro raio de Sol despontou para iluminar a Floricultura na Manhã de Páscoa, cada lírio estava limpo, inteiro e radiantemente branco.

A líder das Fadas sentou-se de pernas cruzadas sobre uma folha para avaliar o trabalho que tinham feito. A vassoura e o pano de pó continuaram a polir, mesmo onde não havia mais necessidade. Outros insetos saíram dos botões: um par de mãos curadoras transformaram o último botão ferido num botão saudável, e as Fadas declararam que seu trabalho estava terminado.

— Está bem, elas disseram, pois agora até os lírios cantarão ao Cristo ressuscitado.

Elas voltaram às suas casas nas árvores e esperaram o soar dos sinos que chamavam as pessoas para o Serviço da Páscoa. Vestidas com seus melhores trajes de festa, as Fadas sentaram-se em silêncio no peitoril da janela para tomar parte na cerimônia. Nenhum dos participantes suspeitou que elas estivessem lá. Todos olhavam para uma coroa de rosas vermelhas colocadas numa cruz branca.

Uma estrela dourada, luminosa, num fundo azul, brilhava como um halo de luz e amor atrás da cruz florida, e as Fadas, com suas bocas minúsculas, sussurravam eloquentes “o-o-o-s”. A música do órgão vibrava pela sala e ressoava em cada coração enquanto as crianças entravam. Os meninos e as meninas, cada qual carregando um brilhante Lírio de Páscoa, cantavam mais triunfalmente do que nunca:

“Aleluia! Aleluia!

Cristo ressuscitou”.

E as Fadas ouviram os lírios cantarem também.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. III – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Melancia de Michel

A Melancia de Michel

Foi sempre a melhor melancia de todo o pomar. Mesmo quando estava pequenina, era tão redondinha e rechonchuda que Michel notou isso e comentou com sua mãe e com seu pai:

– Parece um bebe gordinho, pronto para sorrir.

– Se você gosta dela tanto assim respondeu seu pai, nós a daremos para você. Estará madura pela época de seu aniversário e você poderá comê-la em sua festa.

– Oh, obrigado, papai – exclamou o garotinho satisfeito.

Depois disso, Michel cuidou da melancia de maneira especial e os Espíritos da Natureza e os animaizinhos que eram seus amigos, também dispensaram a ela um cuidado especial. Com tamanha atenção amorosa, a pequena melancia redonda cresceu mais do que todas as outras no pomar até que, alguns dias antes do aniversário de Michel, parecia estar em maravilhosas condições.

Enquanto isso, no lado oposto do jardim, na estrada que cortava a casa de Michel, os animaizinhos continuavam muito ocupados. Shirley, o esquilo, podia ser visto caçando castanhas aqui e ali; Gobi, o ratinho, aparecia de vez em quando na porta de sua casa, a Senhora Pluma, com seus dois gatinhos listados, foi procurar umas guloseimas e os coelhinhos de rabos de algodão estavam saltitando em todo o pomar.

À tarde, dois dias antes do aniversário de Michel, Peralta, o coelhinho e seu avô Pés-Ligeiros, junto com outros parentes, reuniram-se no pomar discutindo um problema de grande importância para eles. Durante muitos dias eles estavam preocupados com umas visitas noturnas que um de seus novos vizinhos, o Senhor Gambá estava fazendo fora do pomar.

– Três noites eu o vi sair, disse Sra. Pés-Ligeiros, e a coruja Oliver disse que o viu também voltando para casa de madrugada.

– Certamente não parece muito respeitável permanecer fora a noite toda, disse a Sra. Pés-Ligeiros.

O vovô Pés-Ligeiros ajeitou seus óculos e disse:

– Bem, minha querida, não devemos julgar tão severamente. Ele pode estar tomando conta de um amigo doente.

– Oh, vovô, você está sempre tentando ver o bem em todo mundo, e naturalmente isto está certo. Mas eu acho que devemos saber para ter certeza, respondeu a Senhora Sra. Pés-Ligeiros.

– Então, um de nós deve segui-lo esta noite e descobrir exatamente aonde ele vai, sugeriu seu prático marido.

Sim, podemos fazer isso, concordou vovô, vocês dois, Sra. Pés-Ligeiros e Robusto, encontrem-me aqui esta noite quando surgir a Lua sobre o topo dos eucaliptos, e verificaremos se ele sai para alguma travessura.

Todos concordaram com isso e, nessa noite, quando a Lua bem redonda iluminou o pomar por cima dos altos eucaliptos, vovô Pés-Ligeiros e seus dois netos encontraram-se debaixo de alguns arbustos perto da árvore onde o Senhor Gambá fizera sua casa. Depois de algum tempo, o Senhor Gambá pôs o nariz fora da porta, olhou cuidadosamente e, então, deu uma corrida para a cerca, em direção ao portão. Os coelhos seguiram-no no maior silêncio possível. No portão, o Senhor Gambá parou para olhar a sua volta e rapidamente dirigiu-se para a estrada e atravessou-a. Lá, parou outra vez por um momento, à vista de um automóvel que surgia com seus faróis altos. Então, correu pela estrada, em direção a casa de Michel.

Enquanto isso, os coelhos saltitavam atrás dele, a uma certa distância, desejando saber para onde ele estava indo. Quando o viram parar na cerca do pomar de melancia, entreolharam-se, sem entender.

– Venham, disse vovô, logo saberemos o que ele vai fazer.

Quietos, eles se esconderam atrás dos arbustos e viram o Gambá muito ocupado cavando a terra perto da cerca.

– Por que ele está fazendo isso, vovô? – perguntou Robusto, filho do Pés-Ligeiros.

– Bem, ele está fazendo um buraco perto da cerca para entrar no pomar, respondeu vovô.

– Mas não entendo como ele pode comer uma melancia, sussurrou Robusto.

A essa altura, o Senhor Gambá acabara de cavar o buraco e estava entrando no pomar. Não muito atrás dele, cuidadosos e curiosos, seguiram os coelhinhos, escondendo-se facilmente entre as folhas da melancia.

O Senhor Gambá olhou fixamente para as melancias e de repente fixou-se na melancia gorda e redonda de Michel. Puxando-a de um lado com seu nariz, começou a arranhá-la do outro lado. Logo havia um buraco na melancia doce e vermelha e o Gambá faminto colocou-a entre suas patas e começou a devorá-la com imenso prazer.

Os olhos dos coelhos quase saltaram de suas faces.

– Não posso acreditar, sussurrou vovô.

Os três sentaram-se quietos sem saber bem o que fazer, enquanto o Senhor Gambá continuava comendo avidamente. Vovô achava que nenhum dos animais do jardim poderia fazer qualquer mal à família de Michel, pois eles amavam os animais e os tratavam quase como seres humanos.

De repente, ele disse em voz alta:

– Aquela é a melancia do aniversário de Michel. Este assalto deve parar imediatamente.

Nesse momento, ouviu-se o latido de um cão. O sr. Gambá saiu correndo de volta para a cerca e atravessou o buraco para o outro lado da estrada. Os coelhos o seguiram o mais rápido possível.

Na manhã seguinte, bem cedinho, Michel, lembrando-se de seu aniversário, correu para acariciar sua melancia antes de ir para a escola. Quando chegou ao pomar, mal pôde acreditar no que via. Lá estava o buracão aberto pelas patas do faminto Senhor Gambá e as sementes estavam jogadas pelo chão.

– Mamãe! Papai! chamou Michel, vendo-os surgir a porta. Venham aqui. A melancia de meu aniversário está estragada. Há um buraco nela e as sementes estão por todos os lados.

– Há pegadas? perguntou seu pai, aproximando-se da cerca.

– Sim, há, respondeu Michael, inclinando-se para ver mais de perto.

Quando o pai de Michel examinou a melancia e viu as pegadas, disse:

– É muito triste, filhinho, mas um gambá fez uma festa com a sua melancia.

– Mas, como ele pôde descascá-la?

– Bem, disse seu pai, as patas dianteiras do gambá são bem parecidas com a mão humana e suas unhas são bem afiadas. Já os vi fazer isso antes, mas há algum tempo não via gambás por aqui.

– Mas, é melhor você ir para a escola agora, querido, disse sua mãe, ou irá atrasar-se. Vamos levar a melancia para dentro e aproveitar o que ainda há de bom para o jantar, acrescentou, enquanto Michel obedientemente ia embora.

Enquanto isso, os coelhos se reuniram no pomar e decidiram chamar a atenção do Senhor Gambá e explicar-lhe que coisa terrível ele tinha feito. Vovô Pés-Ligeiros e toda a família dirigiram-se à casa do Senhor Gambá. Bateram à porta, mas ninguém respondeu. Bateram novamente, dessa vez mais alto.

Finalmente, o Senhor Gambá, piscando seus olhos com sono, atendeu a porta.

– Senhor Gambá, disse vovô, nós precisamos ter uma conversa séria com você e explicar-lhe algumas coisas que você parece não entender.

O Senhor Gambá pareceu surpreso, mas disse educadamente:

– Muito bem. Entre e sentem-se.

Vovô limpou sua garganta um tanto nervosamente, deu uma olhada no círculo de seus parentes e aí disse:

– Sabemos que você é recém-chegado a estas bandas e desconhece nossos costumes, por isso achamos melhor esclarecê-lo. Veja, há certas pessoas que são tão boas para os animais, que nós nunca molestamos suas terras.

O Senhor Gambá piscou seus olhos e pareceu constrangido.

– E aquele pomar de melancias que você entrou a noite passada pertence a um de nossos melhores amigos, disse Sra. Pés-Ligeiros excitadamente.

– Sim, Sra. Pés-Ligeiros está certa, senhor Gambá, continuou vovô. Não queremos ferir seus sentimentos e por isso viemos ver você. Gostamos muito de Michel e aquela era a melancia que ele iria servir em sua festa de aniversário.

O Senhor Gambá olhou nervoso para o seu pé. Começou a sentir-se envergonhado.

– Oh, compreendo, ele disse. Bem, Senhor Coelho, eu gosto mais destas paragens do que aquelas em que vivia antes e ficarei feliz de submeter-me aos seus costumes. E também gostaria de ser um dos amigos de Michel. Conheci garotos que não são tão bons para os animais.

Vovô terminou sua conversa com Senhor Gambá e cumprimentaram-se cordialmente.

– Bem, está tudo certo. Ficaremos felizes de tê-lo por aqui se você agir bem e se sentir bem entre nós.

– Mas o que faremos com a melancia de Michel? Sra. Pés-Ligeiros quis saber.

Nesse momento, veio uma voz alegre de um ramo de uma figueira que estava por perto.

– Penso que nós, os Espíritos da Natureza, poderíamos ajudá-lo, disse a voz. Também gostamos de Michel.

Todos os animaizinhos olharam para a pequena criatura acima deles com indisfarçável reconhecimento.

– Sabemos que você pode, Gnomo, respondeu Sra. Pés-Ligeiros, mas terá que apressar-se. Amanhã é o dia do seu aniversário e não há outra melancia suficientemente madura para ser comida.

– Oh, podemos acertar isso, disse o Espírito da Natureza. Todos nós iremos para o trabalho e faremos com que uma das outras melancias amadureça antes do amanhecer e vocês, pessoal, ficam encarregados de mudá-la até onde estava a melancia de Michel.

E foi isso exatamente o que fizeram!

Na manhã seguinte, Michel levantou-se cedinho, preparou-se e dirigiu-se para o pomar das melancias pensando tristemente como seus amigos gostariam de comê-la! Olhou para o lugar onde ela deveria estar e lá, para sua surpresa, estava outra melancia rechonchuda! Chamou todo excitado:

– Oh, mamãe, papai! Venham aqui rapidamente. Há uma outra melancia igualzinha à minha, no mesmo lugar.

– Isso eu tenho que ver, respondeu seu pai.

Mas, lá estava ela e quando o pai de Michel a examinou, ela estava no ponto certo.

– Como é que ela veio parar aqui? perguntou Michel, com um largo sorriso em seu rosto.

– Oh, suponho que alguns de seus amiguinhos a colocou aí, disse seu pai bem-humorado. De qualquer forma, aí está ela e agora você poderá tê-la para a festa de seu aniversário.

O pai de Michael não sabia que os ‘amiguinhos’ estavam escondidos entre as folhas, olhando. Mas, era isso mesmo que estavam fazendo e todos sorriam ao verem a felicidade no rosto de Michel.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. III – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Colar Coral

O Colar Coral

Todos vocês já fizeram aniversário e sabem como é excitante abrir pacotinhos misteriosos, embrulhados suavemente em papéis brancos e amarrados com alegres fitas coloridas. Assim sendo, caros leitores, vocês sabem como se sentiu Rosália no seu aniversário e como ela abria seus presentes ansiosamente, exclamando diante da surpresa que representava cada pacote.

O último a ser aberto era uma caixinha alongada, diferente dos outros pacotes. E, quando ela abriu a caixa, você precisaria tê-la ouvido exclamar: “Oh, que maravilha!”; pois lá estavam estendidas sobre um tufo de cetim branco, três rosas minúsculas esculpidas no mais delicado coral e presas por uma bela corrente de ouro.

– Oh, Vovô, que lindo colar! Onde você o comprou? Diga-me tudo sobre essas lindas rosas de coral!

Então, Vovô ergueu Rosália e colocou-a sobre seus joelhos e todas as crianças da festa se juntaram ao seu redor, para ouvir a história do colar de coral.

– Há muitos anos – provavelmente milhares de anos, disse Vovô, sobre as mornas águas azuis do Mar Mediterrâneo, flutuavam criaturinhas com um corpo suave como as geleias, parecendo estrelas do mar, somente que bem pequenas. Elas estavam procurando um novo lar e, encontrando rochas firmes no morno e profundo mar, elas agarraram-se lá, com segurança. Não tinham pés nem olhos, mas, através de suas bocas, elas bebiam em gotas a água do mar, absorvendo pequenas quantidades de cal que ajudaram a construir seus corpos e assim formar aquilo que pareciam ser pequenos castelos de pedras de cal. Um número cada vez maior dessa família de corais flutuantes – relacionada com a famosa família dos pólipos – agarravam-se às rochas. Elas se fixavam firmemente nas rochas e com que paciência e tenacidade desempenhavam seu trabalho de construir, fazendo sua parte no jardim do mar em preparação pela Mãe Natureza!

– O sedimento cresceu, cresceu, até que, após algum tempo, formou quase uma grande parede. Quando os corpos das primeiras famílias se fixaram e viraram pedras, então, dessas pedras pareciam crescer pequenos botões – quase como acontece com as pequeninas folhas na primavera. Estas eram as crianças corais e, à semelhança das outras crianças, elas também estavam procurando novos lares, como fizeram os pioneiros. No entanto, outras crianças nunca tentaram desligar-se da família, mas permaneceram em casa ajudando na construção. Assim, essa parede viva cresceu e tornou-se cada vez mais bonita. Ela refletia o azul do céu, o dourado do Sol brilhando, as tonalidades róseas do pôr do Sol e também o escarlate do nascer do Sol. Após algum tempo, apareceram lindas florestas de árvores de coral, delicados arbustos cor-de-rosa e flores de um matiz profundo. Perto das paredes de coral estavam minúsculos lagos, onde peixes de cor brilhante nadavam para lá e para cá, mordiscando os musgos verdes que se agarravam nos ramos de coral.

– Algumas vezes, outros pequenos habitantes do mar importunavam a família coral, dizendo: “Saiam de suas casas e flutuem conosco!”. E os pequenos corais construtores respondiam: “Vão embora e sejam felizes. Não podemos sair de nossas casas – pois as nossas casas somos nós mesmos. Mas, nós nos divertimos com nosso trabalho e somos felizes construtores para a Mãe Natureza!”

– Os pequenos corais construtores não podiam ouvir como nós e, consequentemente, não podiam falar como nós, mas os habitantes do mar têm uma linguagem própria e entendem bem o que as outras famílias do mar lhes dizem, explicou Vovô. Assim, fiel, esperançosa e amorosamente eles constroem um grande cordão de coral. Naturalmente, eles levam anos e anos para construir esse cordão; pois esses minúsculos construtores são muito pequeninos. Os antigos povoadores há muito já deixaram seus castelos, semelhantes a casas de pedra-calcária e sua pequena chama de vida já apagou. Mas, eles deixaram suas casas de pedra com uma sólida fundação para que outros pequeninos corais pudessem construir sobre elas. Esses felizes construtores amavam as arrojadas ondas e as espumas do mar. E, muitas vezes, as ondinas – os espíritos do mar – sussurraram-lhes sobre as outras criaturas do mar, contando-lhes maravilhosas lendas sobre os tesouros do mar da Mãe Natureza. Os bondosos Espíritos da Natureza que trabalham com a grande família dos pólipos ajudaram-nos com suas paredes de coral e os animavam em seu trabalho. Porque na escola da Mãe Natureza há uma regra, que aquele que sabe fazer coisas deve ajudar os que estão aprendendo e deve ter paciência com eles, até que aprendam suas lições. A Mãe Natureza é maravilhosa, e o Pai magnânimo deixou aos seus cuidados carinhosos, todas as crianças da Terra e do Mar. E a Mãe Natureza guia e olha todas as suas criancinhas. Ela as ama com um amor muito compreensivo e sempre recompensa sua fidelidade. Assim, os pequenos corais construtores não se incomodavam quando, numa tempestade ocasional, as ondas fortes quebravam um grande pedaço de sua parede. Não, isso era parte da recompensa que esperavam por serem construtores fiéis. Uma nova experiência estava reservada a eles, pois bondosos pescadores levavam embora esses pedaços quebrados do coral da praia.

– E isso trouxe-me até ao seu colar, Rosália, continuou Vovô. Um adorável pedaço de um raro coral cor-de-rosa foi levado a um joalheiro que, com suas mãos carinhosas, esculpiu essas delicadas rosas. E, por meio de seu fiel serviço à Mãe Natureza, os construtores corais agora trazem felicidade para uma garotinha no dia de seu aniversário.

Vovô colocou a corrente de ouro ao redor do pescoço macio de Rosália, dizendo:

– Estas três rosas cor-de-rosa ajudarão você a lembrar-se das três maiores coisas na vida, Rosália – fé, esperança e amor. no coração compreensivo da Mãe Natureza – esperança em ser útil à medida que você atravessa a escola da vida – e o amor, amor por todas as coisas que vivem. E, da mesma forma que amamos as criaturas do mar, as flores, os animais e os ajudamos a progredir na vida, os Anjos e os Arcanjos nos ajudam a crescer mais forte para que nós também possamos progredir. AMOR é o modo pelo qual crescemos à semelhança do Pai na Terra do Amor.

“O mundo está cheio de rosas,

Rosas cheias de orvalho, você vê.

O orvalho está cheio de amor celestial,

Que goteja para mim e para você”.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. III – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

 

 

 

 

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Rua das Borboletas

A Rua das Borboletas

Uma vez terminado o funeral, o pequeno cemitério situado no fim da rua das Borboletas ficara vazio. O corpo da avozinha de Cecília jazia tranquilamente, mui tranquilamente, no belo caixão cinzento que fora depositado no túmulo especialmente preparado para acolhê-lo. As árvores sussurravam, como numa oração, sobre o lugar em que ela repousava.  Depois que todos se retiraram, o avô e a mãe de Cecília foram para casa, deixando-a atrás com seu pai, a caminhar lentamente, descendo a rua das Borboletas. Cecília chorava baixinho, pois amava muito sua avó e já começava a sentir saudades dela. Seu pai segurou-lhe a mãozinha, percebendo a amargura que reinava em seu coração.

– Você sabia que a rua das Borboletas é o céu das lagartas? – Perguntou ele a Cecília.

Ela olhou para o rosto do pai e através do véu das lágrimas seus olhos se abriram admirados.

– O que quer dizer o senhor, Papai? As lagartas são enterradas aqui?

– Não, minha queridinha. Tampouco as pessoas, como a vovó, são enterradas no céu. Elas vivem lá.

Fez uma pausa e baixou o olhar para o rostinho erguido da criança.

– Olhe, a borboleta é a refulgente parte espiritual da lagarta.

– Certo dia – continuou ele – a lagarta despe seu vestuário mais terreno, da mesma forma como a vovó despojou-se do seu. A lagarta aparece, então, com um vestuário muito mais belo, o vestuário que lhe permite voar. Como borboleta, ela não é mais oprimida pelo pesado corpo físico que anteriormente possuía, pois, como lagarta, naturalmente só podia rastejar sobre o chão, pelas árvores e pelas cercas.

Cecília sorriu entre as lágrimas e até riu um pouquinho.

– Por isso é que a vovó não podia voar com aquele corpo pesado? – Perguntou Cecília. -Ah! – Prosseguiu – eu não ficaria surpresa de que ela estivesse agorinha mesmo voando no céu.

– E eu, de modo algum me surpreenderia – respondeu o pai sorrindo.

Cecília parou de andar e puxou pela mão do pai, obrigando-o a parar também. Depois, vagarosamente, começou a olhar em volta, como se a rua das Borboletas fosse algo inteiramente novo para ela. No entanto, durante seus sete anos de vida, já se havia divertido ali muitas vezes, passeando e brincando com as borboletas que haviam dado nome àquela rua.

Finalmente ergueu de novo o olhar ao rosto do pai. Seus olhos brilhavam com uma nova luz. As lágrimas tinham desaparecido.

– Paizinho. . . – cochichou ela – então é isso que é a Páscoa? Quando a vovó saiu de seu…

Cecília reprimiu uma risada um pouquinho espontânea e olhou em volta por alguns instantes. Deu, então, alguns saltinhos jubilosos, lembrando-se de que ela e sua avó gostavam de rir da espécie de coisas nas quais pensava agora.

Bem. . . saiu de seu corpo lagartal…

O pai de Cecília sorriu encorajando-a, pois sabia o que ela tentava dizer.

– Continue – disse-lhe ele brandamente.

– Bem, quando ela saiu deve ter-se tornado mais leve – como as borboletas. Ela deve ter subido mais alto do que nós o podemos, tal como as borboletas o fazem.

Ela estava ficando agora um pouco excitada.

– Não é isso que o sr. chama de resu. . . ressu?

– Ressurreição – completou o pai.

– Sim, ressurreição, como Jesus, só que Ele estava sobre uma cruz.

– Pois a vovó também estava assim, sobre uma cruz – respondeu o pai – e assim estamos todos, cada um de nós.

– Espere um pouquinho, papai! – Interrompeu Cecília, afastando-se um pouco e encarando-o. – Eu sei o que o senhor quer dizer. Nós aprendemos isso na Escolinha Dominical. É assim (e a garota ficou de corpo ereto, juntando os pés e abrindo os braços em horizontal, como uma cruz) agora eu sou realmente uma cruz –  exclamou ela –  e tenho que crescer nesta cruz e nela viver até morrer. Serei então ressu…

Cecília deixou cair os braços e esperou que seu pai falasse.

– Ressuscitada – acudiu ele.

– Sim! Ressuscitada – como a borboleta que sai da lagarta!

Cecília fez uma pausa e tranquilamente volveu: como Cristo-Jesus quando morreu em Sua Cruz.

Após outra pausa, como que monologando pensativa, terminou:

– Aquilo aconteceu na Páscoa. Agora deve ser a Páscoa para a vovó, não é paizinho?

– Sim, querida – afirmou ele e continuaram a andar.

Durante algum tempo a garota saltitou ao lado do pai, tendo uma expressão séria no rosto. Seu pai também estava circunspecto. Nenhum dos dois disse uma única palavra, até que chegaram a um jardim, cheio de margaridas e esporinhas, onde grande número de borboletas voava silenciosamente, de uma flor a outra.

– Paizinho! – Cantarolou Cecília –  veja estes belos espíritos borboletais. Foi somente a lagarta que morreu. A vovó também não morreu realmente. Ela é uma bela borboleta no céu!

Cecília puxou novamente a mão de seu pai, desta vez porque tinha pressa de chegar a casa.

– Vamos contar à mamãe e ao vovô – pediu ela – de modo que não fiquem mais tristes, por causa da vovó. Quando lhes tivermos contado tudo isso, eles ficarão sabendo que agora é o feliz tempo da Páscoa para a vovó. E é por isso que as pessoas sempre põem flores nos túmulos – porque, quando morremos é, nossa época de Páscoa!

E assim, Cecília e o pai se apressaram para chegar em casa e partilhar estas novas maravilhosas com a mãe e o vovô de Cecília. Eram notícias boas demais para silenciá-las!

(Traduzida da Revista Rays From the Rose Cross e Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/78)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Lago Encantado

O Lago Encantado

Uma vez, há muito, muito tempo atrás, havia um rei que estava sempre em guerra. Ele conquistou seus vizinhos, depois partiu para a conquista de terras mais distantes, até que chegou a governar tantos países e tanta gente que foi chamado “O Grande imperador”.

Todo mundo o adulava. Recebia presentes maravilhosos. Diziam-lhe como era nobre, grande, maravilhoso e, de tal forma, que ele acreditou que era tudo isso e frequentemente dizia para si mesmo: “Ninguém na Terra ou nos Céus é maior do que eu!”

Isso era uma afirmação muito forte para um simples ser humano fazer, pois mesmo a pessoa mais sábia e mais importante nesta Terra não pode saber tudo, nem governar sobre tudo na Terra e nos Céus.

Um dia, esse grande e poderoso Imperador saiu para uma caçada com os membros da corte. Todos estavam soberbamente vestidos e montavam seus belos cavalos que dançavam e saltavam. Os cães também pulavam e latiam alto. As cornetas soavam e assim o alegre grupo saiu para o campo e para a floresta.

O Sol brilhava intensamente e, após algumas horas, todos estavam exaustos com a caçada e exauridos com o calor do dia. Então, o grande e poderoso Imperador disse a seus cortesãos para que descansassem debaixo das árvores, enquanto ele iria banhar-se num belo lago ali perto. Os cortesãos ficaram assustados porque o Imperador ia banhar-se nesse lago. Era um lago encantado e as pessoas não se arriscavam a entrar nele e até mesmo se uma simples gota dessa água mágica caísse sobre elas, ficavam aflitas e apreensivas.

Quando foi avisado dos perigos do lago encantado o grande e poderoso Imperador disse orgulhosamente:

-Sou mais poderoso que qualquer encanto.

Imediatamente dirigiu-se para a bonita margem arenosa. Seu cavalo foi amarrado a uma árvore, sua maravilhosa roupa cuidadosamente arrumada à beira do lago. Então, sob suas ordens, seus guardas o deixaram. Ele mergulhou na água e deliciou-se com o seu frescor. Nadou pelo lago e sentiu-se muito bem. Em nenhum momento, entretanto, esqueceu-se que era o grande e poderoso Imperador.

Enquanto divertia-se, surgiu a beira do lago um homem que se parecia muito com o grande e poderoso Imperador. De fato, ele era quase seu sósia, não somente na aparência, mas também na voz e nos modos. Este homem vestiu-se rapidamente com as roupas do Imperador. Os guardas de Sua Majestade estavam dormindo profundamente na sombra refrescante. Nenhum deles viu esse homem vestir as roupas do Imperador, pegar seu belo cavalo e nem mesmo os cães de caça latiram! Acordou todos, ordenando a volta ao palácio.

Descansado e refeito, o grande e poderoso Imperador nadou até o lugar onde suas roupas foram estendidas em ordem, pomposamente. Mal conseguiu acreditar no que estava vendo! Sua roupa não estava mais lá! Seu cavalo não estava mais lá! Nada de roupa! Nada de cavalo! Que ultraje! Alguém seria punido severamente!

– Meus homens, chamou furioso.

Nenhum som em resposta ao chamado do grande e poderoso Imperador!

A essa altura, o Sol já desaparecia por detrás das montanhas. Estava ficando frio. O Imperador andou pelas margens do lago. Logo escureceu. Não via ninguém. Evidentemente os caçadores foram embora e o deixaram – deixaram o grande e poderoso Imperador! Realmente alguém pagaria por isso. Apenas esperassem até que ele chegasse a seu palácio e sentasse em seu trono!

O grande e poderoso Imperador decidiu que a coisa mais importante, agora, era encontrar roupa e abrigo. Ele lembrou-se que não muito longe do lago morava um cavaleiro.

– Não fui eu que o tornei cavaleiro e lhe dei seu esplêndido castelo? Ele ficará, muito feliz em vestir e servir seu Imperador. Irei até ele.

Antes de se dirigir ao cavaleiro, o Imperador teceu, em forma de esteira, algumas das hastes que cresciam à margem do lago. Amarrou a esteira ao redor de seu corpo. Dirigiu-se ao castelo do cavaleiro. Apesar de ser uma curta jornada, foi muito dolorosa. As pedras pontiagudas cortavam seus pés. As raízes espetavam sua carne. Os galhos das árvores atingiam seus longos cabelos, emaranhando-os. Era uma experiência desagradável para um grande e poderoso Imperador! Muitas vezes, ele jurou que alguém pagaria por isso quando ele estivesse novamente em seu palácio e sentasse em seu trono.

O Imperador chegou ao castelo. Bateu nos portões. Chamou o porteiro que finalmente veio e olhando pela janelinha do grande portão, perguntou:

– Quem está aí?

– Abra o portão, ordenou o Imperador, e você verá logo quem eu sou. E ele encheu-se de orgulho.

Quando o portão se abriu e o porteiro colocou sua cabeça para fora, perguntou:

– Quem é você?

Muito desgostoso, o grande e poderoso Imperador gritou:

– Infeliz! Eu sou seu Imperador!

– Oh! Oh! fez o homem, rindo muito.

– Infeliz! Infeliz! Vá ao seu patrão, ordenou o Imperador. Diga-lhe que me traga roupa. Diga-lhe para vir saudar seu grande Imperador!

– Imperador!, zombou o porteiro. O Imperador esteve aqui com meu patrão há uma hora atrás. Veio da caçada com sua corte. Oh, sim! Chamarei o meu patrão. Mostrarei a ele um grande e poderoso Imperador!

O porteiro bateu o portão na cara de Sua Majestade. Em seguida, ele voltou com o cavaleiro e, apontando para o homem nu, disse:

– Lá está o Imperador, olhe para sua Majestade!

O orgulhoso e poderoso Imperador exclamou em seu tom mais orgulhoso e poderoso:

– Chegue perto e ajoelhe-se diante de seu Imperador, senhor cavaleiro.

 

O cavaleiro pareceu surpreso enquanto o Imperador acrescentou:

– Eu – Eu, o Imperador, o tornei cavaleiro. Eu lhe dei este castelo. Agora eu lhe dou a maior graça de poder vestir o seu Imperador com suas vestimentas.

– Mentiroso! Impostor! Saia! gritou o cavaleiro. Saiba que não faz uma hora que o grande e poderoso Imperador sentou-se à minha mesa.

O cavaleiro ficou cada vez mais enraivecido e ordenou:

– Batam nesse homem! Tirem-no daqui!

Como o porteiro riu enquanto os servos batiam no pobre homem!

– Batam bem! ele mandou. Não é todos os dias que se pode dar uma surra em um Imperador.

O grande e poderoso Imperador saiu coxeando, sentindo-se ferido e sangrando.

– Ingrato! Eu lhe dei tudo o que tem. Veja como ele me retribui! Espere, ah, espere até que eu volte ao meu trono! Ele será severamente punido!

Então, começou a perceber que as circunstâncias eram muito desagradáveis para ele.

– Agora, aonde vou? O que devo fazer? Ah! Irei ao Duque! Eu o conheço há muito tempo. Com ele fui a festas e a caçadas. Sim! O Duque estava na minha comitiva de caça de hoje! Certamente ele reconhecerá o seu Imperador!

Enquanto tropeçava pelo caminho, o Imperador começou a pensar – realmente a pensar. Perguntou-se por que seus súditos não o conheciam. Sua realeza, suas grandezas deveriam ser reconhecidas mesmo se não estivesse em trajes reais.

De repente, ouviu o som de uma voz bem em seu ouvido! O poderoso Imperador assustou-se. Olhou ao seu redor! Não viu ninguém. Mesmo assim a voz lhe dizia:

– A verdadeira grandeza é humilde. Ela não se proclama, mas é como o Sol. Não pode ser coberta. A verdadeira grandeza dá àquele que a possui, uma grande beleza – beleza que nenhum trono, nenhuma coroa, nenhum aparato real pode conferir.

A voz continuou:

Sabedoria e nobreza não podem ser distinguidas pela falta de roupas, nem pela sujeira e ferimentos. Por outro lado, qualquer tolo, com um trono, uma coroa, um palácio e aduladores, pode parecer um príncipe.

O grande e poderoso Imperador dirigiu-se a mansão do Duque. Mas não tinha tanta certeza, como antes teve, de que seria bem recebido quando bateu nos portões. A terceira batida, o portão abriu-se e o porteiro viu um homem vestido somente com uma esteira de galhos, seu cabelo era um emaranhado só e seu corpo estava arranhado e sangrando.

– Chame o Duque, eu lhe rogo. Diga-lhe que o Imperador está aqui. Diga-lhe que roubaram o cavalo e a roupa de seu Imperador. Vá depressa! Eu o ordeno!

O atônito porteiro fechou o portão e correu ao seu patrão.

– Excelência, há um louco nos portões! Ele está nu. Está ferido, sujo e bravo. Ele me ordenou dizer-lhe que é o Imperador.

Os portões se abriram. Sua Excelência, o Duque, não reconheceu o Imperador!

– Você não me conhece? Sou o Imperador. Esta manhã você foi à caça e deve lembrar-se que o deixei para banhar-me no lago. Enquanto eu estava no lago, um miserável roubou minha roupa e meu cavalo. E eu – eu – eu apanhei de um cavaleiro!

Seria possível que a voz do grande e poderoso Imperador estivesse trêmula? Certamente parecia menos soberba do que de costume.

– Ponha esse homem na prisão! Não é seguro deixar livre esse louco, ordenou o Duque ao porteiro e acrescentou: Dê pão, água e um estrado para deitar.

– Estranho, estranho, murmurou o Duque dirigindo-se a seus convidados no grande saguão. Um louco nos portões! Ele deveria estar na floresta esta manhã, enquanto descansávamos, pois disse-me ser o Imperador que nos deixou para banhar-se no lago e que alguém lhe roubou sua roupa e seu cavalo. Mas vocês sabem que o Imperador voltou conosco.

Todos eles falaram sobre esse estranho homem. Alguns murmuraram:

– O lago, o lago encantado!

Ainda assim não parecia possível que algo tivesse acontecido ao Imperador, pois eles o viram há menos de uma hora atrás.

O grande Imperador estava acorrentado numa cela escura. Ele estava magoado e ferido.

– Esperem, esperem, até eu voltar ao meu trono! Darei uma lição a esses velhacos.

No entanto, o poderoso Imperador sequer sonhava que era ele próprio, o grande monarca, que estava aprendendo a mais sublime lição de sua vida.

– Será que estou tão mudado que nem o Duque me conheceu?

Então, seu pensamento dirigiu-se ao palácio.

– Há alguém que me reconhecerá! Vou até ela!

Depois de muito esforço, as correntes afrouxaram-se e o infeliz homem saiu de sua cela e encaminhou-se para o seu próprio palácio. Ao amanhecer, ele estava nos portões do palácio. O grande Imperador ergueu sua mão e bateu – bateu em seus próprios portões!

O porteiro abriu e olhou para aquele homem de aspecto selvagem e que estava nu.

– Quem é você? O que você quer?

– Deixe-me passar! Sou seu Senhor, sou o seu Imperador.

– Você, meu Senhor! Você, o Imperador! Pobre tolo. Olhe ali.

O porteiro abriu os portões e apontou para o saguão. Lá estava o Imperador, sentado no seu trono. A seu lado estava a Rainha – sua amada Rainha! Oh, que agonia ele sofreu!

– Deixe-me ir até ela! Ela me conhecerá!

O barulho feito pelo porteiro e pelo Imperador chegou ao grande saguão onde havia uma festa com muitos convidados. Os nobres vieram ver o que estava acontecendo. Atrás deles vinham a Rainha e o Imperador.

Ao ver aqueles dois, era tanta a sua raiva, medo, ciúme e ansiedade que mal podia falar; mas roucamente gritou:

– Sou seu Senhor e marido, estendendo sua mão para sua amada Rainha. Certamente você me conhece!

A Rainha afastou-se apavorada.

– Senhores, disse o homem que estava com a Rainha, que deve ser feito com esse infeliz?

– Mate-o, disse um.

– Bata-lhe! gritavam outros.

O grande e poderoso Imperador foi escorraçado do palácio; cada um lhe dava uma pancada quando passava. Os portões de seu próprio palácio se fecharam atrás dele. Ele fugiu. Não sabia para onde ir. Vagarosamente dirigiu-se para o lago onde havia se banhado. Tinha frio, fome, estava ferido; queria estar morto. Ajoelhou-se no chão e bateu em seu peito. Colocou sua cabeça no solo e exclamou:

– Eu não sou nenhum grande e poderoso Imperador. Eu não sou nenhum Imperador maravilhoso. Uma vez, pensei que não havia ninguém mais poderoso do que eu na Terra e nos Céus. Agora sei que nada sou – um pobre pecador. Não há ninguém tão pobre, tão humilde quanto eu! Deus me perdoe pelo meu orgulho.

As lágrimas corriam de seus olhos. Ele levantou-se e foi lavar sua face nas águas límpidas do lago encantado. Ele se virou. Lá estavam suas roupas! Lá estava seu belo cavalo, comendo a grama verde e macia!

Sua Majestade vestiu-se rapidamente. Montou seu cavalo e em seguida dirigiu-se ao seu palácio. Quando se aproximou, os portões se abriram de imediato. Os servos chegaram, um segurou seu cavalo, outro ajudou-o a desmontar. O porteiro se curvou, enquanto disse:

– Eu me admiro, Majestade, pois não o vi passar pelos portões.

O grande e Poderoso Imperador entrou. No magnífico saguão, ele viu novamente os nobres, a Rainha com o homem a seu lado, o homem que se intitulara Imperador. Os nobres não olhavam para esse homem, nem a Rainha também. Eles viram apenas o seu Imperador entrar no saguão e foram cumprimentá-lo. O homem também veio. Ele estava vestido de branco, com roupas brilhantes, não em roupas régias.

O Imperador inclinou sua cabeça para esse homem e murmurou:

– Quem é você?

– Sou o seu Anjo da Guarda, respondeu ele. Você era orgulhoso e colocava-se somente nas alturas. Era preciso que você, fosse “trazido para a realidade. Mas o reino, que eu guardei para você, é-lhe devolvido agora, porque aprendeu a ser humilde. Só os humildes são capazes de governar e você, daqui por diante, saberá governar com sabedoria.

O Anjo desapareceu. Ninguém mais ouviu sua voz. O Imperador sentou-se novamente em seu trono, e governou mais sabiamente do que nunca e foi muito amado por seu povo.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. II – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Como não se deve levar a vida à toa: Felícia encontra ‘Cauda Cinza’

Como não se deve levar a vida à toa: Felícia encontra ‘Cauda Cinza’

Perfeito, exclamou o esquilo marrom. Eu mesmo não poderia ter feito melhor.

Felícia, que estava andando na floresta, olhou para cima, com surpresa, ao ouvir a voz alta do esquilinho. Ela teve apenas tempo de vê-lo correr para cumprimentar o esquilo cinza que tinha dado um enorme pulo de uma árvore para outra.

O grande esquilo, que todos chamavam “Cauda Cinza”, inclinou-se de uma maneira zombeteira para o impertinente animalzinho marrom com riscas amarelas, e pensou consigo mesmo:

– Gostaria de ver você fazer isso, amiguinho! Algum dia você se encontrará em tal apuro, que precisará de todos os seus amigos para ajudá-lo.

Entretanto, não disse nada em voz alta, pois, como todos na floresta, ele sabia que Billy, o esquilo, se vangloriava de sua esperteza, apesar de, por mais estranho que possa parecer, ninguém o vira até então fazer qualquer coisa importante.

De repente, do ramo da árvore onde estava, “Cauda Cinza” viu Felícia e, por um momento, parecia que estava pronto para dar um outro salto para ir o mais longe possível. Então, fixou em Felícia um olhar espantado, pois reconheceu-a como a garotinha que ele tinha visto no pequeno vale com as fadas. Ela estava parada muito quieta, uma das mãos cheia de frutos que recolhera debaixo da árvore. Até então ela nunca soubera que as criaturas da floresta podiam falar ou, se falavam, que ela pudesse ouvi-las. (Neste momento, tenho certeza que vocês já perceberam que Felícia era uma garotinha afortunada que viu e aprendeu coisas que muitas pessoas nunca souberam).

Muito silenciosamente, um minúsculo camundongo do campo aproximou-se dela e na voz mais baixinha que você pode imaginar, guinchou:

– Por favor, não faça um mau juízo de Billy. Ele é ainda muito pequeno e não sabe muita coisa, mas realmente gostaríamos que ele não se metesse na vida dos outros.

A Senhora Camundongo suspirou um pouco e continuou:

– Ele mete o nariz em todas as nossas coisas, de maneira que tentamos ficar longe dele. Ele conta para todo mundo quando estou construindo um novo ninho, e oh! Como fofoca quando “Cauda-Cinza” visita a bela senhorita esquilo por aí.

Então, ela olhou para Felícia e perguntou:

– Quem é você? Parece muito grande para caber em nossas casinhas.

A garotinha sorriu e explicou que morava numa grande casa fora da floresta e que estava visitando a floresta com seus amigos.

– Você pode ouvi-los dando risada, acrescentou.

– Oh! Exclamou a Senhora Camundongo, nervosa. Espero que não venham até aqui. São muito barulhentos.

Enquanto isso, “Cauda-Cinza”, que estivera escutando Felícia e a Senhora Camundongo, decidiu juntar-se a elas, desceu da árvore e sentou-se perto. Ele enrolou sua bela cauda farta ao redor de seu dorso e olhou para Felícia com olhos brilhantes. Os olhos escuros de Felícia dirigiram-se a ele, em amigável admiração, enquanto pensava:

– Meu Deus, ele é tão formoso e em voz alta comentou: a Senhora Camundongo me disse o seu nome, tentando fazer com que sua voz fosse tão fraca e gentil quanto possível, de maneira que não assustasse as criaturinhas.

Alguns lagartos passaram sem prestar atenção no que acontecia, e as folhas secas ao pé da árvore sussurravam enquanto eles passavam.

– Eu já sei o seu nome, disse “Cauda-Cinza” para Felícia. Eu estava no vale das fadas, quando Brenda deu seu longo gorro verde para você.

– Eu não o vi; onde você estava? Ela perguntou.

– Oh, em cima de uma árvore, de onde podia ver tudo. Nunca pensei, que alguma vez fosse falar com você aqui, acrescentou o esquilo.

– Você gosta de pinhas? Felícia estendeu para “Cauda-Cinza” a mão cheia dos frutos que juntara.

– Gosto mais de nozes e avelãs, respondeu ele, mas essas também são boas quando se está com fome. E continuou: você sabia que as sequoias são as maiores árvores de folhas perenes e são as que têm os menores frutos? Sim, disse com um sorriso divertido, tamanho é uma coisa muito ilusória. Por exemplo, algumas vezes, os maiores oradores nada dizem.

Felícia e a Senhora Camundongo entreolharam-se como se ambas soubessem que “Cauda-Cinza” estava pensando em Billy.

Enquanto o esquilo, que parecia ser um animal muito esperto, estava falando, outros camundongos aproximaram-se e corriam em volta, cheirando aqui e acolá, mas não se atrevendo a aproximar-se muito. Felícia perguntou à Senhora Camundongo o que eles queriam.

– Eles estão sentindo o cheiro da comida que você tem, ela respondeu.

– Oh, eu não tenho nada aqui para eles comerem, disse a garotinha, muito surpresa.

– Oh, sim, você tem, e eu vou mostrar-lhe onde, respondeu, a Senhora Camundongo, enquanto bravamente subiu no colo de Felícia e entrou no bolso de seu avental, de onde retirou algumas migalhas de pão.

O olhar espantado de Felícia fez a Senhora Camundongo e “Cauda-Cinza” morrerem de rir – à maneira deles, naturalmente.

– Quase esqueci que tinha um sanduiche no meu bolso, mas todos vocês sabiam! Exclamou a garotinha.

– Isso não é novidade para nós, disse ”Cauda-Cinza”, nós temos um senso muito aguçado do olfato, o que nos ajuda a encontrar comida.

Felícia meditou:

– Eu nunca imaginei que uns pedacinhos tão minúsculos de comida pudessem ser úteis para alguém.

Ela prometeu a seus amiguinhos que nunca mais desperdiçaria até mesmo o menor pedaço de comida, e disse-lhes que, no inverno, colocaria comida no seu jardim, para os passarinhos.

– Cuidado para não a colocar onde os gatos possam pular sobre os passarinhos! Lembrou ‘Cauda Cinza’.

– Tudo bem, ela concordou, e antes de ir embora vou esvaziar todas as sobras da cesta de piquenique para vocês.

Os camundongos franziram seus narizes pontudos com satisfação, enquanto o esquilo gentilmente abanou sua cauda, em agradecimento. Felícia disse à Senhora Camundongo que voltaria brevemente para revê-los.

– Tudo bem, Felícia, o esquilo e o camundongo disseram juntos, estaremos aguardando você.

– Mas, como vocês saberão que virei? Ela perguntou.

– Oh, isso é fácil, riram os animais. Billy está sempre por dentro de tudo, você sabe.

Não muito tempo depois, Felícia voltou e aproximou-se da árvore sequoia, trazendo consigo uma sacola grande com restos de alimentos. Para os passarinhos, ela trouxe pão, que eles tanto gostavam.

Ela sentou-se e imediatamente um tímido som perto dela anunciou a presença da Senhora Camundongo.

– Oh, meu Deus! Exclamou Felícia, ela trouxe todos os seus parentes. Bem, de qualquer forma, tenho o suficiente para eles.

Um alegre assobio veio da árvore e “Cauda-Cinza” chegou, seguido por alguns de seus amigos, enquanto um bando de passarinhos já estava esperando nos galhos.

Felícia espalhou parte da comida, guardando alguma para os atrasados. Os pequenos animais e os passarinhos começaram a comer. Por alguns minutos, só se podia ouvir o barulho das mordidas. Então, um pequeno grito agudo os assustou. Os animais pararam de comer, pois todos perceberam que Billy deveria estar em grandes apuros, ali por perto. A garotinha ficou de pé, esparramando o resto da comida e perguntou ansiosamente.

– Onde ele está!

– Lá, respondeu “Cauda-Cinza”, que já estava a meio caminho do esquilo.

Felícia e o resto chegaram a ele num segundo e, com seus olhos atônitos, viram Billy, suspenso numa corda grossa que estava amarrada fortemente em volta de seu corpo, no topo de um fino galho de uma árvore, mais ou menos a meio metro do chão. Lá estava ele pendurado, agitando seu traseiro e sua cauda, desesperadamente, num terrível esforço para libertar-se. Felícia sentiu muita pena do animalzinho que continuava a guinchar na sua vozinha fina, mas “Cauda-Cinza” o advertiu severamente para ficar quieto, que eles o ajudariam.

A garotinha inclinou-se imediatamente com suas mãos já estendidas para afrouxar o laço, mas o “Cauda-Cinza” deu um beliscão na sua perna. Ela parou surpresa, mas imediatamente ele pediu a ela que se abaixasse de maneira que pudesse sussurrar algo em seu ouvido.

– Desculpe-me por mordê-la, Felícia, mas eu precisava detê-la imediatamente. Por favor, não ajude Billy, ele continuou em voz baixa. Todos nós sabemos que você pode livrá-lo, mas ele vai pensar que tudo é muito fácil e não vai aprender esta lição. Nós precisamos fazê-lo entender como ele foi tolo e como isto poderia ter sido muito mais sério e perigoso para ele.

Então, Felícia entendendo que ele estava certo, afastou-se para deixar-lhe o trabalho de libertar Billy. “Cauda-Cinza” ficou apoiado em suas pernas traseiras e começou a roer a corda em torno do esquilo que chorava. Muitos dos camundongos, com seus dentes afiados, começaram a roer o galho da árvore, até que ele caiu ao solo. Então, foi mais fácil para o esquilo roer a corda. De repente, ela cedeu e Billy caiu ofegante, mas livre!

Billy, disse “Cauda-Cinza” numa voz muito severa, o que você andou fazendo para cair na armadilha? Você já foi advertido muitas vezes sobre isso.

Billy tentou dizer alguma coisa, explicando que tinha visto o laço quando se dirigia à festa de Felícia e decidiu dar um salto direto através dele. Mas perdeu o alvo, de maneira que, quando tocou a corda, ela o prendeu e, ao mesmo tempo, o galho subiu.

– O-o-o-h! Estou com uma terrível dor de barriga, lamentou-se.

– Bem, você tem sorte de ter somente uma dor de barriga, resmungou “Cauda-Cinza”, que estava realmente irritado com o esquilo bobo. Levaremos você para casa e lhe daremos comida até que seja capaz de sair sozinho.

Os esquilos ajudaram a carregar Billy, enquanto Felícia se despedia dele; mas ele sentiu-se muito infeliz para responder.

A Senhora Camundongo dirigiu-se à garotinha dizendo:

– Não se preocupe com Billy. Ele estará bom em alguns dias – talvez mais esperto, também. Volto para vê-la novamente.

Ela mexeu seu longo rabinho fino, já que não podia dar as mãos à sua amiguinha, e esgueirou-se atrás de “Cauda-Cinza”, através dos pinheiros.

Felícia parou um momento, até que não mais se ouviu o som dos minúsculos pés se movimentando e, muito pensativa, voltou para casa.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. II – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

 

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