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O Significado Oculto da Sexta-feira, conhecida como “da Paixão”

O Significado Oculto da Sexta-feira, conhecida como “da Paixão”

Disse São João da Cruz, em um dos seus poemas:
“Oh Deus! Oh Deus meu! Quando será o dia
Que poderei dizer com toda a certeza
Que estou vivendo e vivo, deixando de morrer.”

A resposta a esse poema foi dada por Cristo Jesus, na hora de sua crucificação, há quase dois mil anos. Seguindo os Seus passos, no caminho do Gólgota, encontramos o Caminho da Vida, apesar que, aos nossos olhos, a morte ainda parece o fim de tudo. Mesmo se aparentemente isso é verdade, a morte é o fim, porém verdadeiramente se trata da morte para as ilusões do mundo, que consistem somente na casca, no invólucro de verdades reais. Esse é, realmente, o ponto de libertação almejado por todos os cristãos.

“Ninguém tem maior amor do que este dar a vida pelos seus amigos. Vós sois meus amigos” (Jo 15:13-14). Não há exemplo maior de como vivenciar essas palavras do que a própria vida do Cristo quando habitava o corpo de Jesus. O seu amor era tão forte e tão puro a ponto de permitir que fosse crucificado, provando, assim, em atos, o que pregava. Verdadeiramente, o Cristo é o Senhor do Amor. Esse fogo que queimava em seu interior era tão potente, o Seu amor tão divino, que na hora da Sua libertação do corpo físico, o mundo julgou que o Sol estivesse obscurecido.

Dois mil anos passados desse evento, os nossos corações estão sentindo, em vez de júbilo, os pesares deste mundo efêmero. Isso evoca desespero dentro de algumas pessoas, em vez de Luz. Porque nessas dores há intenso júbilo, gritando para ser libertado, e intenso amor, esperando a sua realização final.

Mostra claramente que o Cristo interno está crescendo e que o evento passado, ainda pode acontecer hoje em cada coração aspirante. Quando reverenciamos a Sua morte, estamos nos preparando para a Sua promessa: Vida.
Quando observamos a natureza, o paradoxo do binômio beleza e dor é evidente. A beleza pertence à natureza, enquanto a dor foi produzida por nós. Chamamos essa Sexta-Feira, a Sexta-Feira da PAIXÃO. Consultando o dicionário, veremos que essa palavra tem dois sentidos: primeiro, de intensa emoção e segundo, de intenso sofrimento. Um sentido é ligado ao outro. O amor que inunda o coração do cristão devoto em relação às dores da humanidade produz grande dor. Não é, porém, o mesmo tipo de sofrimento, como o sofrimento egoísta e carregado de sentimento inferior da humanidade em geral.

Foi dito que quanto mais acentuado o sentimento, tanto a pessoa sente também a realidade do oposto. Isso pode ser dito também sobre a Paixão, porque há, ao mesmo tempo, a realização do júbilo, um júbilo que transcende todo o entendimento, sentimento para o qual não há palavras. É o júbilo da Verdade, a Verdade que liberta o ser humano. É por isso que na Sexta-Feira Santa a natureza veste as suas melhores roupagens e toda a dor do mundo se condensa em imenso regozijo que parte do espírito e farta os nossos corações. O espírito das dores do mundo foi transmutado e liberado como o júbilo do Céu. Nesse ponto a natureza inferior foi vencida e purificada pela dor, e a Verdade afasta o véu de ilusões do mundo, mostrando ao espírito o Caminho de volta a seu lar. Nesse Caminho estamos andando todos nós, procurando observar o mandamento do Cristo, de amar a Deus com todo o nosso coração, com toda a alma e com toda a Mente. Nós, pela virtude de Cristo, temos a oportunidade de continuar com os nossos passos na evolução, deixando para traz os assuntos mundanos, aproximando-nos das regiões espirituais. Como sabemos, os nossos esforços elevam o resto da humanidade e como um balão de hélio levanta uma carga pesada, também podemos erguer o mundo, trazendo, ao mesmo tempo, a sua consciência para pensamentos mais elevados. É uma grande responsabilidade, como bem o sabemos, e não deve haver lentidão em nosso passo evolutivo. Não deve haver paradas quando as frivolidades do mundo nos acenam. Devemos tratar dos negócios de nosso Pai.

Enquanto progredimos, trabalhando e orando sem cessar, sem que o sintamos, sem que nisso pensemos, o dia da libertação se aproxima. Há três dias de manifestação nos esperando, se nos provarmos dignos. Caso contrário, fazemos o papel de Judas, em relação a nós mesmos e a todo o mundo. AGORA é o tempo certo. Amanhã será tarde demais. Esforcemo-nos em VIVER o amor.

Guardemos o Cristo dentro dos nossos corações, empenhando-nos em não magoar ninguém, e cumprir o nosso dever, para o bem da humanidade.

(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/76 – Fraternidade Rosacruz – SP)

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Os Três Graus do Discipulado – Parte II – Grau Fraternidade – São Tomé ou Tomás

Os Três Graus do Discipulado

Parte II – Grau Fraternidade

São Tomé ou Tomás

Diophanes e Rhea eram proprietários prósperos na Síria, cidade de Antioquia. Depois de dez anos, Tiberias se tornou Imperador e tiveram um casal de gêmeos – um menino chamado Tomé e uma menina Lysias. Quando Tomé estava com quatorze anos, ocorreu um incidente que, segundo ele, foi o que determinou em grande parte seu destino. Três Magos, voltando para casa após uma visita a Jerusalém, ficaram dois dias numa pousada. O rapaz ficou profundamente impressionado com a história que contaram sobre a grande Estrela e o Bebê nascido em uma manjedoura. O sábio declarou a Tomé que esse bebê se tornaria o Rei da Luz.

Perplexo na fé, mas puro nas obras,

Enfim, ele tocou sua música.
Lá vive com mais fé nas dúvidas sinceras,
Acredite-me, do que na metade dos credos.

Essas linhas de Tennyson1 são apropriadas para Tomé, o Discípulo duvidoso, de quem foi dito: “Dúvidas eram simplesmente acordes menores em uma vida que produzia emocionante música de órgãos”. Tomé era pessimista e desanimado; mas, também era destemido, leal e constante, tão logo suas dúvidas fossem dissipadas. Ele foi um literalista nos primeiros dias de seu Discipulado. Mais tarde, depois das maravilhosas experiências que chegaram ao Grupo, no interim entre a Ressurreição e a Ascensão, todos os seus questionamentos sombrios foram varridos. Sua dúvida foi transformada em uma realização gloriosa – uma certeza, de primeira mão, nascida do conhecimento que o elevou ao nível espiritual, colocando-o ao lado de Pedro e João.

No oitavo domingo de Páscoa, quando Tomé, adorando ao Cristo ressuscitado, exclamou: “Meu Senhor e meu Deus2 , sua dedicação foi completa. Depois de Pentecostes, Tomé foi para a Índia carregando a mensagem de Cristo. Ainda existe, nos tempos modernos, na costa de Malabar3, uma seita que se chama Os Seguidores de São Tomé. Esse Discípulo era conhecido como um verdadeiro mestre e foi, portanto, denominado o santo padroeiro dos arquitetos. Seu símbolo é o Esquadro do Pedreiro. A Loja Maçônica de Kilwinning, na Escócia, foi dedicada a ele. Como João, Tomé foi um Apóstolo da Gnose, pois ele tipifica o intelectualista tão frequentemente encontrado na sociedade Helenística.

A lenda seguinte está em harmonia com a investigação ocultista. Quando Tomé estava na Índia, o Rei Gundaphorus descobriu que ele era um construtor e lhe deu uma grande soma em dinheiro para usar na construção de um palácio de inverno. Naquele momento, a fome entre os pobres era muito dolorosa, então Tomé empregou todo o dinheiro do rei para aliviar as condições dos pobres. Quando o rei retornou à sua província e descobriu que nenhum prédio havia sido construído, mesmo sabendo que todo o dinheiro havia sido gasto, mandou colocar Tomé na prisão com a ameaça de que ele seria esfolado vivo. Antes que essa sentença pudesse ser realizada, o único irmão do rei veio a falecer subitamente, e reaparecendo diante do rei Gundaphorus, dizendo que os Anjos lhe haviam mostrado um palácio glorioso no céu, construído por Tomé, devido às suas ações de amor e serviço aos seus semelhantes na terra. O rei, dando atenção à mensagem de seu irmão, liberou Tomé da prisão e depois disso se inscreveu para suas boas obras.

Os incidentes descritos nessa lenda são baseados em conhecimentos de primeira mão. Todos estão construindo, nos reinos internos, com precisão, as condições e o ambiente que conhecerão após a morte; o céu reflete a vida que foi vivida na Terra. “Eu mesmo sou o céu e o inferno”. O amor e o serviço derramados na Terra se tornam beleza e fecundidade no céu. O egoísmo e o egotismo são reproduzidos aqui como deficiência e sofrimento. Exato e justo é o funcionamento da Lei de Causa e Efeito em todos os planos do ser.

Nessa história apócrifa de Tomé, possivelmente, tenha sido encontrado a primeira referência ao tema do Palácio Interior, celebrado nos tempos medievais como o Castelo do Santo Graal. Mesmo que tardio, é importante que esta lenda alemã relate que, quando o Graal desapareceu na Europa, foi levado para a Índia e escondido dos olhos dos seres humanos no alto dos Himalaias. Mais uma vez, está registrado que Parsifal tinha um irmão gêmeo, Feirfeis, “no Oriente”, e que aquele que finalmente levou o Graal, partiu para encontrar esse irmão – uma referência às comunidades cristãs orientais do Oriente Médio e Extremo Oriente; toda esta área, nos tempos antigos, pertencia à Índia. O ministério de Tomé incluiu a Pérsia e a região do Bósforo, bem como a Índia propriamente dita. Foi na Índia que Tomé morreu como um mártir.

No decorrer de seu ministério, Tomé realizou muitas obras milagrosas, tratadas como feitiçarias por seus inimigos. Ele foi preso sob pena de morte, mas era tão popular entre as pessoas que as autoridades temiam que pudessem tentar resgatá-lo, então enviou-o para as montanhas sob uma guarda de cinco soldados. Dois caminharam de cada lado e um seguiu em frente. Tomando ciência de sua posição, Tomé exclamou: “Oh, mistérios ocultos da vida! Eis que quatro lideram por guardar-me porque eu harmonizo com os quatro elementos, e um me conduz Àquele a quem pertenço e que sempre vou”.

Enquanto Tomé rezava, os quatro o atingiram imediatamente. O simbolismo numérico aqui é muito bonito. Quatro representa a personalidade e o Espírito. Os quatro o atacam, pois apenas a personalidade é destrutível. O Espírito, Único, é imortal. Os Discípulos de Tomé envolveram seu corpo em xales de linho fino e colocaram-no em um túmulo. Enquanto os guardas o observava no túmulo, ele reapareceu diante deles em seu corpo espiritual e disse: “Eu não estou lá. Por que vocês estão aí sentados? Eu fui elevado para receber as coisas que, eu espero que, depois de algum tempo, vocês também serão conduzidos para o meu lado”.

É um comentário impressionante sobre São Tomé, que na história apócrifa ele é descrito como tendo se tornado a própria imagem de Cristo. Tanto que, quando o Mestre Jesus, no corpo da Ressurreição, apareceu na Índia (uma lenda que não teve a atenção que merecia), os dois não podiam ser separados. Que Tiago, o parente do Mestre, deveria tê-Lo levado a uma semelhança tão estreita que não é de modo algum notável. Mas Tomé parece ter crescido em Sua semelhança através do desenvolvimento do Espírito Cristão.

Os indivíduos verdadeiramente iluminados, ao longo dos tempos, reconheceram a unidade fundamental subjacente aos conceitos espirituais do Oriente e do Ocidente. Essa unidade de doutrina foi expressa por Sábios em muitos aspectos, tanto em parábolas quanto em lendas, durante cada século. O método de abordagem varia de acordo com as diferenças raciais e ambientais, mas a Verdade é Única.

O Supremo Mestre demonstrou esse fato quando foi para o Oriente, levando uma mensagem que tem sido primordial no Ocidente. No Oriente começou, mas no Ocidente, presentemente, encontra seu centro de ação. O curso da sabedoria é uma troca equitativa de valores entre os dois. O Ocidente deve aprender a espiritualizar suas atividades, e o Oriente deve ativar seu poder espiritual latente.

O autor oculto, Dr. Rudolf Steiner, enfatiza a importância dessa amalgamação em seu livro, ‘O Oriente à Luz do Ocidente’. Ele ressalta que esses “dois mundos devem se unir em amor”, e acrescenta que “devemos eventualmente reconhecer que há uma luz do Ocidente, que brilha para tornar tudo o que originou no Oriente mais luminoso do que é, através de seu próprio poder”. Ele conclui que, quando o ser humano chegar ao ponto de conhecer ambos os caminhos, sua unidade fundamental será claramente reconhecível.

O bem conhecido divino, o Dr. E. Stanley Jones, em seu livro, ‘O Cristo da Estrada Indiana’ – que é quase um clássico religioso – também aponta para a mesma Unidade do Espírito entre o Oriente e o Ocidente. E Nicholas Roerich, inspirador, pintor, poeta, filósofo, cujo universalismo de espírito o levou a ser chamado de Walt Whitman da pintura, dedica seu gênio artístico e cultural à serviço dessa unidade. Ele previu que a influência feminina divina, a Madona, criará uma ponte entre os dois mundos, e que sua fusão espiritual dará ao mundo um poder espiritual, e uma cultura estética mais transcendentemente bela do que qualquer coisa anteriormente conhecida.

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[1] N.T.: parte da estrofe XCVI do poema In Memoriam, de Alfred Tennyson, (1809-1892) um poeta inglês.

[2] N.T.: Jo 20:28

[3] N.T.: A costa do Malabar é um trecho de litoral no sudoeste do subcontinente indiano.

(do Livro: New Age Bible Interpretation, Vol VI, Corinne Heline – Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross – 11-12-2002)

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Os Três Graus do Discipulado – Parte II – Grau Fraternidade – Santo André

Os Três Graus do Discipulado

Parte II – Grau Fraternidade

Santo André

O mar da Galileia tem uma localização muito interessante e está sempre associado e intimamente ligado ao Mistério de Cristo. Sua forma quase circular era cercada por doze cidades nos tempos cristãos primitivos e todas proeminentemente ativas na vida do Mestre. O tamanho dessas cidades era de tal maneira que os arredores de uma cidade se fundiam nas divisas com a outra. Ao Norte onde o rio Jordão encontra o mar da Galileia, localizam-se Cafarnaum, Betsaida e Magdala. Da cidade de Cafarnaum saíram quatro dos mais ilustres Discípulos. Desses, André e Pedro foram os primeiros a dedicar lealdade ao Mestre.

André

André foi o primeiro a ser chamado, mas ele nunca foi o primeiro a chegar à liderança. Profundamente humilde e de uma natureza silenciosa e comedida, André revelou sua verdadeira grandeza quando cedeu o primeiro lugar ao seu prestigiado irmão, dando-se por feliz em brilhar na glória de Pedro. André e João parecem ter trabalhado juntos de maneira bem próxima. Um fragmento canônico muito antigo do Novo Testamento indica que André ajudou João a escrever seu Evangelho. Ele foi chamado de santo padroeiro dos objetos pessoais.

Eusébio relata que André foi morto na Grécia, ao comando do governo de Egeas, que reclamou que todas as pessoas estavam abandonando a adoração ao templo para seguir os milagres do novo caminho anunciado por este Discípulo. Foi feito uma exigência para que André fizesse um apelo às pessoas que voltassem a adorar a antiga religião, dedicando aos seus deuses. André, porém, se recusou a fazê-lo. Então, foi ordenado que o Discípulo André deveria transmitir ao povo os segredos de sua magia, do contrário, ele seria pendurado em uma cruz simbolizando a sua fé. André respondeu: “Se você conhecesse as verdades do discipulado, então, você viveria a vida e compreenderia o que está perguntando. A tortura não pode tirar de mim o que é sagrado”.

Quando André foi crucificado, ele disse, com sorriso bonito que irradiava seu rosto: “Eu me alegro de ser pendurado na cruz de Cristo, sendo adornada com os Seus membros como se estivesse com pérolas”. Ao orar, ele se tornou alegre e exultante. Uma grande luz brilhante descia do céu como relâmpago sobre ele, cercando-o com tanto esplendor que os olhos físicos não podiam fixá-lo. Quando ele foi tirado da cruz Maximilia, a esposa do governante, ungiu o corpo de André com especiarias caras e colocou-o em seu próprio túmulo. Essa santa mulher, iluminada pelo amor de Cristo, viveu silenciosamente junto aos cristãos.

(do Livro: New Age Bible Interpretation, Vol VI, Corinne Heline – Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross – 11-12-2002)

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Os Três Graus do Discipulado – Parte II – Grau Fraternidade – São Natanael ou Bartolomeu

Os Três Graus do Discipulado

Parte II – Grau Fraternidade

São Natanael (ou São Bartolomeu)

A lenda diz que Natanael, cujo último nome era Bartolomeu, era um filho do Príncipe de Talmai, uma família conhecida por Josefo1. O Cristo descreveu Natanael para nós quando o declarou ser sem malícia. Natanael era um místico cuja nota-chave era a pureza. Quando Filipe trouxe-o para se encontrar com o Grande Mestre, as primeiras palavras do Mestre para o Seu novo Discípulo foram: “Quando você estava sob a figueira, eu vi você”.

A figueira simboliza a regeneração. Essa saudação significava que Ele conhecia o trabalho de Natanael na sua preparação para o discipulado por meio do processo de regeneração.

A amizade entre Natanael e Filipe pode ser comparada àquela que existia entre David e Jonathan2.

Natanael Bartolomeu foi descrito como “tendo cabelos pretos, pele clara e grandes olhos bonitos”. Ele era de altura média, nem alta nem muito baixa, mas mediana. Ele usava um manto branco bordado de roxo e sobre seus ombros uma capa branca. Sua voz era como o som de uma forte trombeta.

Ele foi acompanhado pelos Anjos de Deus, que nunca permitiram que ele se cansasse, ficasse com fome ou com sede. Seu rosto, sua alma e seu coração estavam sempre felizes e alegres. Ele previu todas as coisas. Ele conhecia e falava as línguas de todas as nações.

Quando os Discípulos se dispersaram após a Ascensão, ele e Filipe viajaram por muitas terras juntos.

Depois da morte de Filipe, Natanael foi para a Etiópia, onde fundou a primeira Igreja cristã. Lá, ele soltou a filha do rei que estava sob o poder de demônios obsessivos. A menina, a qual se tornou uma de suas alunas, disse a seu pai: “Ele conhece todas as coisas, fala todas as línguas e é atendido pelos Anjos de Deus”.

O rei enviou imediatamente até Natanael camelos carregados com presentes de ouro, prata e pedras preciosas.

Naquela noite, ele apareceu no quarto do rei e perguntou: “Por que você me enviou essas coisas terrenas? Meus desejos não são mais carnais, mas, eles estão centrados nas coisas do céu”.

Após a partida de Natanael, o rei e sua filha se tornaram líderes da comunidade cristã na Etiópia, onde conseguiram muitas coisas boas para seu povo.

Conta-se que Natanael sofreu martírio na Armênia sendo esfolado vivo.

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[1] N.T.: Flávio Josefo, ou apenas Josefo (em latim: Flavius Josephus; 37 ou 38-ca. 100 e, após se tornar um cidadão romano, como Tito Flávio Josefo em latim: Titus Flavius Josephus), foi um historiador e apologista judaico-romano, descendente de uma linhagem de importantes sacerdotes e reis.

[2]N.T.: David e Jonathan foram figuras heroicas do Reino de Israel, que formaram uma aliança de amizade registrada nos livros de Samuel.

(do Livro: New Age Bible Interpretation, Vol VI, Corinne Heline – Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross – 11-12-2002)

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Os Três Graus do Discipulado – Parte II – Grau Fraternidade – São Felipe

Estudos Bíblicos da Sabedoria Ocidental

Discipulado
Os Graus da Fraternidade
Parte II – São Filipe

 

Filipe de Betsaida é mencionado sete vezes no Novo Testamento e a cada referência é um indicativo do seu temperamento, que era espiritual e, de fato, era firme, sincero e confiável.

Era alto e esbelto, de aparência dominante, com cabelos escuros e olhos azuis brilhantes.

A lenda relata que sua irmã Marianne também se tornou uma Discípula do novo caminho e acompanhou Filipe e seu amigo Natanael em suas peregrinações missionárias em terras estrangeiras. Filipe foi o primeiro Apóstolo dos samaritanos.

Filipe e Mateus foram convocados por Jesus para alimentar a multidão, mas não conseguiram fazer a demonstração. Assim, o próprio Mestre multiplicou os pães e os peixes para alimentar cinco mil: “Todos comeram e se fartaram. E ainda recolheram doze cestas cheias de pedaços de pão e de peixe. Os que comeram dos pães eram cerca de cinco mil homens” (Mc 6:42-44).

Apesar de seu fracasso nesta ocasião, o simples fato de que o Mestre os convocou para realizar este milagre é indicativo de seus estágios elevados no discipulado.

Após as grandes transformações efetuadas pelo aguaceiro pentecostal, o trabalho particular de Filipe era curar. Em suas viagens pela Ásia, seu ministério de cura era tão notável que grande número de pessoas deixaram a adoração nos templos para segui-lo. Na cidade de Hierápolis, a esposa do procônsul, Nicanora, foi curada e tornou-se seu Discípulo. O procônsul e os sacerdotes do templo juraram vingança contra Filipe e seus companheiros Marianne e Natanael.

O marido de Nicanora, declarando que ela estava cercada por uma luz tão brilhante e estranha que ele não ousou se aproximar dela, atribuindo isto à feitiçaria ordenou que os três fossem presos e arrastados até sua presença.

Eles foram levados à casa de Starchys, um Discípulo. Ao comando dos sacerdotes, eles deveriam ser despidos um a um para encontrar suas ferramentas de encantamento e depois disso seriam penduraram diante do templo.

Multidões provocaram e insultaram a santa donzela Marianne, mas quando tentaram arrancar suas roupas, ela estava envolvida em uma nuvem de luz que obscureceu a multidão. Quando Filipe e Natanael foram amarrados a cruz, o Salvador apareceu. Com Sua mão ele sinalizou uma cruz de luz descendo do céu que tinha a aparência de uma escada. Ao ver isso, as pessoas estavam cheias de admiração e tentaram libertar os prisioneiros.

Filipe sabendo que seu alcance terrestre havia terminado, deu sua benção a Natanael e Marianne e lhes disse para fundar uma igreja naquele lugar para ficar a cargo de Nicanora e ministrada por Starchys. “Onde meu sangue cair sobre a terra, uma videira brotará e produzirá uvas”, continuou ele. Ele estava consciente da presença amparadora de seu amado Mestre durante estas últimas horas. Toda a dor física foi transformada em felicidade espiritual, enquanto ele, por sua vez, confortava os Discípulos reunidos ao seu redor. Ele finalmente passou para os reinos superiores enquanto rezava por seus perseguidores.

Marianne e Natanael escaparam da morte. Eles cuidaram e enterraram seu corpo com a benção dos Anjos.

Enquanto estavam preparando os últimos ritos, uma voz do céu foi ouvida dizendo: “Filipe, o apóstolo, foi coroado com uma coroa incorruptível por Cristo Jesus”.

Depois de três dias, uma planta brotou do sangue sagrado deste Discípulo. Uma igreja foi fundada, sendo Starchys nomeado bispo. Nicanora e todos os fiéis se reuniram e nunca cessaram de glorificar a Deus, e toda a cidade acreditava no nome de Jesus.
Filipe muitas vezes apareceu para abençoá-los, dizendo: “O Paraíso abriu-me e entrei na glória de Jesus”.

O Livro do Atos dos Apóstolos abre com uma descrição da Ascensão. Os Evangelhos contêm a história da vida de Cristo Jesus. O livro dos Atos dos Apóstolos contém o relato da demonstração de poderes do Cristo como se manifestaram na vida de Seus seguidores ou Discípulos individuais.

O Cristo transmitiu Seus ensinamentos à multidão; Ele se mostrou em glória aos quinhentos. Agora, seu último toque íntimo foi com o grupo interno ou esotérico que se qualificou para um conhecimento espiritual mais profundo.

Este grupo incluiu os onze Discípulos restantes; Maria, a mãe; Maria Madalena; as outras mulheres sagradas; Lázaro e suas irmãs, Marta e Maria: “E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água; mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1:4-5).

Esta última aparição do Cristo ocorreu para dar instruções na preparação para a recepção do Espírito Santo.

(do Livro: New Age Bible Interpretation, Vol VI, Corinne Heline – Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross – 11-12-2002)

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Os Três Graus do Discipulado – Parte II – Grau Fraternidade – São Mateus

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Discipulado
Os Graus da Fraternidade
Parte 2
São Mateus

O mestre viu um homem chamado Mateus que estava sentado, coletando impostos e disse-lhe: “Siga-me”. Mateus era um coletor de impostos do governo Romano e fazia coletas de seu próprio povo para tributo estrangeiro; por isso o rejeitaram e lhe deram o nome de “publicano”. Ele deixou uma posição de muita proeminência e de grande riqueza para seguir a Cristo Jesus. Posteriormente, mesmo alcançando um alto poder espiritual, sempre manteve uma profunda humildade de espírito. Ele é citado como Mateus, o publicano, somente em seu próprio Evangelho. O nome Mateus significa “o presente de Deus”. Na Palestina, um cobrador de impostos, ou publicano, empregado do governo Romano era considerado um leproso social. Publicano e pecador eram termos sinônimo nas mentes das pessoas. O “dinheiro contaminado” de homens como Mateus, foi rejeitado no Templo e seu juramento era inválido nos tribunais. Mesmo com tal degradação, Mateus foi chamado para se tornar um dos Doze Discípulos.

Outra lenda do Oriente nos mostra a seguinte repercussão: um grupo de meninos se aglomerou ao redor do corpo de um cão morto em uma sarjeta de Jerusalém. Um deles comentou: “Um dos olhos foi tirado”. Outro disse: “Ele perdeu uma orelha em uma briga”. “Que brutalidade!” – Exclamou um terceiro. “Seus pelos estão sujos e com sangue”.

“Mas observe os seus dentes”, sugeriu um estranho que passava. “Eles são tão brancos e tênues como pérolas”.

“Quem é esse?” – Perguntou um dos meninos; e quem o conhecia respondeu: “É Jesus, o Galileu”.

Um dos principais objetivos do Divino Caminho era ensinar aos seres humanos como manifestarem sua divindade latente. Sim, e a divindade está dentro de nós.

Veja este homem chamado Mateus, sendo um publicano desprezado e depois um dos Doze imortais, aprendeu que esta lição é evidenciada pela proeminência concedida à Regra de Ouro em seu Evangelho. Sabe-se que Mateus escreveu esta Regra em letras de fogo sobre o pergaminho eterno.

Sua transformação da antiga para a nova vida estava completa e detalhada. Todas as parábolas do Evangelho de Mateus mostram o jogo limpo, a distribuição equitativa e a reciprocidade altruísta. Sob o feitiço divino do mestre, ele deixou de ser “Mateus, o publicano”, e tornou-se “Mateus, o santo”. Seu evangelho enfatiza o fato de que o ser humano não pode servir a dois mestres, e ele provou isso em sua própria vida.

Seu ministério centrou-se em grande parte na expulsão de entidades demoníacas (obsessões). Na cidade de Hierápolis, Mateus curou a esposa do rei Fulvanus; seu filho e também a sua esposa que estavam igualmente afligidos.

Por gratidão, todos abraçaram o cristianismo e, depois que Mateus os deixou, continuaram a servir o Cristo.

O seguinte é um antigo registro do martírio de Mateus. “Ele, tendo curado a esposa do rei obsidiada, o demônio apareceu no rei disfarçado de soldado para obter ajuda para conseguir matar Mateus. Toda vez que o (demônio) soldado aparecia, Mateus tornava-se invisível. O rei entrou na igreja dizendo que desejava tornar-se um discípulo de Mateus, mas quando se aproximou do santo, ele ficou cego. Mateus, então, o curou tocando seus olhos. Quando ele tentou discutir com o rei devido as suas maneiras maldosas, o rei o prendeu e pregou na cruz. Seu corpo estava coberto de óleo e uma fogueira se acendeu sobre ele. Mas o fogo se transformou em orvalho e Mateus ficou ileso como se estivesse dormindo. Muitos vieram e tocaram seu corpo e foram curados de enfermidades e obsessões. O rei então colocou o corpo em um caixão de ferro e atirou ao mar. Os discípulos de Mateus levaram pão e vinho à beira do mar e, assim que o Sol nasceu, viram Mateus andando sobre o mar ao lado de dois homens com roupas brilhantes”.
Essa lenda mística refere-se aos ritos iniciáticos de Fogo e Água, em que o discípulo descobre que ele possui a habilidade de passar por meio desses dois elementos e permanecer ileso. A lenda atribui a informação adicional de que o rei juntamente com sua esposa e filho se tornaram cristãos. Mateus os abençoou e o nome do rei mudou de Fulvan para Mateus; o nome da esposa de Ziphazia para Sophia (sabedoria); o nome da esposa de seu filho de Erva para Sinésia (entendimento).
Ao se tornar um Iniciado, o aspirante recebe um novo nome, simbólico devido a certas características espirituais que ele já desenvolveu ou está prestes a adquirir. Um Iniciado, ao conhecer novo nome de outro, é imediatamente informado sobre o seu nível de desenvolvimento espiritual.
Mateus viveu uma vida de extrema austeridade, sobrevivendo de nozes, raízes e uvas. Ele permaneceu em Jerusalém por vários anos após a Crucificação e depois foi para o Egito e Etiópia para ensinar e curar. Seu Evangelho contém o relato de dois milagres, dez parábolas, nove discursos e catorze incidentes que estão relacionados a certas fases de realização iniciática não encontradas nos outros Evangelhos.
O que os primeiros pais da Igreja escrevem sobre Mateus:
“Ele esteve durante quarenta dias rezando e jejuando nas montanhas, quando Cristo Jesus apareceu a ele, dizendo: ‘Pegue essa minha vara, desça e planta-a no portão da igreja fundada por você e André; assim que for plantada, ela se tornará uma árvore, com ramos de trinta côvados de comprimento e cada ramo com um fruto diferente. Do topo deve fluir mel e da raiz surgirá uma grande fonte em que todas as criaturas da Terra se banharão e serão purificadas, se envergonharão de sua nudez e vestirão roupas de ovelhas’. Mateus fez o que lhe pedia e todos os que se banharam ali viram-se mudados à imagem de Mateus. A árvore era linda e florescente como as plantas do paraíso e um rio prosseguia dela que regava toda a terra”.
Tais lendas como estas são interessantes para o cristão esotérico, pois estão repletas de verdades ocultas. Elas produzem sinais familiares a todos que passaram pela mesma situação mística e que, tendo vislumbrado a visão, estão se esforçando para trilhar o caminho da realização.

(do Livro: New Age Bible Interpretation, Vol VI, Corinne Heline – Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross – 11-12-2002)

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Oitava e Nona Bem-Aventuranças

Oitava e Nona Bem-Aventuranças

“Felizes os que forem perseguidos por causa da perfeição, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes sois quando vos injuriarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque é grande vosso prêmio nos céus, pois assim perseguiram aos profetas que existiram antes de vós” (Mt 5:10-12).

“Felizes sois, quando os homens vos odiarem e quando vos excomungarem, vos ultrajarem e rejeitarem vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem: alegrai-vos e exultai nesse dia, pois grande é vosso prêmio no céu, porque assim seus pais (deles) fizeram aos profetas”. “Mas ai de vós quando vos louvarem os homens, porque assim seus pais (deles) fizeram aos falsos profetas” (Lc 6:22,23,26).

As sete primeiras bem-aventuranças, anteriormente expostas, representam sete passos definidos na cristificação do ser humano. São os meios para a criação religar-se à sua Fonte, como disse São Paulo: “Até que todos cheguemos à unidade da convicção e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4:13).

Essas duas últimas, 8ª e 9ª bem-aventuranças, representam as PROVAS indispensáveis para CONFIRMAR as sete primeiras. Serve de TESTE à legitimidade da evolução alcançada nos sete primeiros passos.
Se o candidato falhar nessas duas últimas bem-aventuranças, deverá voltar e REVIVER as sete primeiras, porque será “sinal” inequívoco de fracasso em um ou mais dos sete passos essenciais. Daí a necessidade de analisarmos cuidadosamente o sentido desses dois passos finais.

São Lucas inclui em seu método místico esse arremate, terminando por uma condenação (versículo 26) ou advertência, à tentação da personalidade aceitar falsa honra. O que a maioria aprova, quase sempre não é o melhor.

Confrontemos os dois sinóticos:

São Mateus fala de perseguição, injúria e mentira.

São Lucas refere-se a ódio, excomunhão, ultraje, rejeição e indignidade.

Que significa tudo isso? É preciso ter muito cuidado com as palavras porque podemos atribuir-lhes sentidos falsos. A personalidade falsa, em nós, é multo hábil para justificar-se e guardar o seu prestígio. Há sempre uma grande dificuldade para admitirmos imparcialmente as próprias falhas, justificando-as com eufemismos curiosos, no esforço de “sermos bem vistos pelos seres humanos”. O trecho é claro: o que se faz contra o Eu real, o que fere os interesses superiores da Essência humana. Somos simples aspirantes, pessoas comuns ainda. É preciso cautela para não nos incluir entre os “justos”. As reações desagradáveis que provocamos nos demais têm, quase sempre, uma CAUSA INTERNA. O mal que vemos fora é muitas vezes um espelhismo. Se vemos ou suscitamos algo negativo, é sinal de que essa mesma falha se projetou de nós. Nosso Eu real a vê e chama nossa atenção para ela, convidando-nos a conscientizá-la e não mais a alimentarmos. Nada surge em nossa experiência, de bem ou de mal a não ser que algo semelhante, em nosso íntimo, o atraia. Assim como um imã atrai apenas as coisas de ferro ou aço (que lhe são semelhantes), também nós atraímos o que nos é afim. Somos como um aparelho transmissor e receptor: transmitimos a mensagem silenciosa de nosso modo de ser e captamos do exterior o que nos é semelhante. É a sintonia automática e fiel da “onda” ou “faixa” vibratória que nos corresponde.

As pessoas imaturas (os espiritualmente infantes) sofrem repetidamente pelas mesmas falhas, porque não as conscientizam e nem as sobrepõem. Então, como a Hidra de Lerna de cabeças falsas, aquela deficiência ressurge disfarçada, em nova curva do caminho, desafiando-as outra vez. Estão cegas, e surdas às advertências da vida; aos convites de regeneração. Querem colher o que não plantam. Gostariam de ser tratadas com simpatia e consideração e como não recebem esse tratamento dos outros, queixam-se de que são invejadas e perseguidas, tanto no trabalho como na sociedade. Para suprir a subconsciente falha (que lhes dá complexo de inferioridade) esforçam-se por demonstrar sua superioridade em alguma coisa, alegando esta e outras razões, como causa dessa atitude hostil dos outros, em relação a elas. “É despeito..”- dizem.

Simples camuflagem. Grande ilusão! Benditas desilusões que vêm demolir essas tolas justificativas da personalidade falsa. Não há justificação. Ninguém pode impedir de recebermos o que o destino traz a nosso encontro, como eco de nosso caráter. Tudo é produto do mérito ou demérito. Se desejarmos Deus em nossa vida; se almejarmos paz e harmonia; se aspirarmos “herdar a terra” deveremos exercer conscientemente as bem-aventuranças descobrindo e levando os evangelhos aos pequenos “eus” irregenerados de nosso íntimo, que são as CAUSAS das perseguições, da hostilidade, frustrações, injúrias e calúnias de nossa experiência.

A personalidade é ardilosa no refugiar-se em justificações. Gostamos de nos enganar e nos enfurecemos quando alguém nos desmascara. Podemos perdoar tudo: perda de bens, de amizades etc., mas nunca perdoamos a quem nos desmascare. A psicologia diz que é muito comum uma pessoa ficar inimiga gratuita de outra a quem, num impulso de sinceridade, confessa um segredo importante de sua vida; porque ela se torna depositária de um ponto fraco. Estamos sempre a camuflar nossos vícios, sem coragem de olhá-los de frente e tomar consciência de sua real natureza: uma ilusão. Por isso é que o desmascaramento constitui o maior crime. Por isso condenaram Sócrates a beber cicuta e o Cristo a morrer na cruz.

Soltem Barrabás!

Compreendamos: a origem, a causa de toda adversidade, é INTERNA.

– Mas – dirá o leitor – parece haver contradição em tudo isso! Se o Cristo manifestou Seu Amor e boa vontade em dar-nos o Reino, assegurando-nos, nas sete primeiras bem-aventuranças, que podemos ganhar o Reino dos Céus mediante o esvaziamento da personalidade e aspiração do Eu superior; que por meio da conscientização das falhas seremos consolados, que pela mansidão (não resistência) podemos alcançar a felicidade aqui e agora mesmo; que a ardente aspiração de aprimoramento ser-nos-á atendida; que pela misericórdia exercida em relação aos outros (e a nós mesmos) estabeleceremos um reino do amor, que, pela limpeza interna alcançaremos a união com o Eu Superior; que ao realizarmos a paz, seremos chamados filhos de Deus – por que é que, nessas duas últimas bem-aventuranças Ele considera uma felicidade sermos perseguido, injuriados, caluniados, odiados, excomungados, ultrajados, rejeitados e desprestigiados? Por que é que o próprio Cristo, sendo perfeito, sofreu essas coisas todas, se as causas das perseguições são internas? Esclareçamos essa aparente contradição para que o assunto se torne definidamente lógico. Para isso, dividamos a humanidade em três categorias de pessoas:

1. Os espiritualmente infantis, que se acham no nível de consciência de transgressões ignorantes às leis divinas. Suscitam reações da Lei de Causa e Efeito, sofrem e se revoltam porque não sabem por que sofrem. Para eles, a finalidade da vida é “gozar”, num sentido deturpado. Não compreendem por que não podem “gozar” sem restrições nem dores.

2. Os Aspirantes à vida superior, que compreendem as verdades espirituais e estão procurando realizá-las, conscientes de que a regeneração há de ser conquistada lenta e seguramente pelo conhecimento e superação de suas falhas.

3. Os seres realizados, espiritualmente adultos, que já se libertaram das limitações viciosas da personalidade e a transformaram em serva fiel do Eu superior, trabalhando para libertar os demais de sua escravidão.
Agora, raciocinemos: a violenta resistência da natureza inferior se dá DENTRO DE NÓS, na fase de aprimoramento; e acontece FORA, vinda de outros, quando um ser iluminado procura libertá-los. Portanto, ela sempre nasce da personalidade viciosa.

Entre duas pessoas condicionadas, uma vê e atrai, na outra, aquilo que está em si. E quando ela supera todas as limitações, a resistência vem APENAS como reação da natureza inferior, na pessoa a quem se deseja libertar. Ao mesmo tempo, isso serve de teste para o ser iluminado. Nada, nele, a esta altura, deve identificar-se com o mal dos outros. Ele não se deve entristecer pela ingratidão. Ele atribui tudo ao Eu real: êxitos e fracassos aparentes, pois, em realidade, tudo converge para o bem.

Há duas regras esotéricas que deveríamos guardar e praticar, em nossa espiritualização:

1. Busquemos observar, imparcialmente, nossas reações internas. Mantenhamo-nos livres para receber as palavras e atitudes dos outros, despidas de agressão, analisando em que medida elas se ajustam a nós.

a) Se uma ofensa ou oposição é justificada, não temos razões para nos aborrecermos. Aproveitemo-la em nossa correção.

b) Se uma ofensa ou oposição é injustificada (realmente, pois as justificações e amor-próprio dificultam muito essa apreciação), também não nos devemos magoar, porque não cabem a nós.

As injustiças, a agressividade das atitudes e palavras, os agravantes vários em que a outra pessoa tenha incorrido, ficam por conta dela. Ninguém responde pelos erros dos outros. O destino é individual. “A doçura amansa a ira”- (Salomão). Se aproveitarmos estar com a razão para amesquinhar a outra pessoa, nossa violência e grosseria debilitam nossas razões.

2. “Nada pode ferir-me, senão na medida em que admito a ofensa” – ensina São Bernardo. Eis uma regra importante de psicologia. Se admito a ofensa, ela me fere. Se não a admito, permaneço ileso. Não se trata de superficialidade: sorrir por fora e magoar-me por dentro. Não. É não responder por dentro. Embora nossos “eus” reajam lá dentro à agressão (porque são semelhantes), não nos deixamos envolver por eles; ficamos à parte, observando sua reação sem nos identificarmos com eles. Não é fácil, mas pode e deve ser conseguido.

Também nesse caso é preciso ponderar honestamente se a crítica é fundada ou não. Se de algum modo contribuímos para essa atitude hostil, tenhamos a nobreza de pedir desculpas. Se não temos culpa, esclareçamos a coisa com mansidão e firmeza. Se a pessoa está emocionalmente descontrolada, aguardemos ocasião para esclarecê-la. E se, finalmente, não podemos provar nossa inocência tenhamos confiança de que “nada há em oculto que não venha a ser revelado”. De toda forma, não há motivo de mágoa senão na persona orgulhosa. E se há meios para se ajudar alguém ou esclarecer situações, só pode ser pela verdade AMOROSA.

É interessante observar as reações da personalidade falsa no período de aprimoramento. Ela usa dos mais astuciosos meios e justificações e reclamos, chegando a apelar para reações biológicas: asma, bronquite, diarreias, erupções de pele – de natureza alérgica, como choros e esperneios de uma criança caprichosa e mal educada. Por quê? Porque deseja sobreviver. Quem está no “trono” luta para permanecer.

Enquanto atendemos aos velhos hábitos arraigados, alimentando-os com a repetição, tudo vai bem – exceto nas pessoas elevadas, nas quais a “pequenina e silenciosa voz” reclama por libertação. Por isso, toda mudança de hábitos é difícil. Os “poderes constituídos” resistem, o que é compreensível, conhecendo-se o instinto de conservação. Daí que toda reforma de caráter deva estar claramente delineada nas verdades do ser, usando-se adequadamente os conhecimentos, a observação de si, a não resistência e persistente realização da “nova criatura”. Não se trata de combater – no sentido comum – e matar a natureza inferior, mas, sim, transmutá-la, despindo-a dos condicionamentos e ilusões de que a revestimos com a “falsa luz”. A resistência, o combate, dão forças à ilusão. Quando combatemos algo é porque o julgamos real. Mas a única realidade é o Espirito. Não se trata de resistir, porque isso põe no palco de nossa consciência os chamados males e eles se fortalecem na luz de nossa atenção. Quanto mais pensamos em nossas falhas mais as alimentamos. Mas, se lhes observamos as reações, na convicção de que são apenas realidades transitórias, agindo com a vida que lhes emprestamos, deixamos de alimentá-las e elas vão depauperando pela falta do alimento da repetição e da crença nelas.

A reação dos velhos hábitos é bom sinal. É prova de que estamos nos transformando para melhor; por isso reagem. Mas pode ocorrer o contrário, que bons hábitos reclamem dentro de nós, quando começamos a substituí-los por outros piores, numa queda de caráter ao condescender com uma vida fútil e viciosa. Aí já é outro caso. Devemos discernir. O critério seguro é consultar as verdades espirituais que os Iluminados deixaram, como setas nas encruzilhadas. São guias seguros.

O certo é que, na transformação para melhor começarmos a sentir uma alegria pura. Nosso relacionamento melhora, mas também sentimos prazer em ficar a sós, num desejo de comunhão interna. Tornamo-nos sensíveis a um pôr-do-sol, à beleza singela de uma flor, à simplicidade de uma criança. Compreendemos e aceitamos melhor cada pessoa como ela é sem nos deixarmos afetar por suas expressões negativas.

É o abrir-se à graça: as janelas d’alma estão abertas à luz, esperando até que o Sol nos visite. Fazemos o que nos incumbe, e Deus jamais falha em realizar a Sua parte. Depois vemos que foi só Deus Quem agiu; que não somos dois, mas UM.

Automaticamente vamos deixando velhos hábitos; já não nos apetecem. É um subir gradativo de escala vibratória, onde as consonâncias e dissonâncias vão se alterando. Não são as coisas que mudam; nós é que mudamos.

Antigos amigos já não se comprazem em nossa companhia e novas pessoas surgem à nossa experiência pela lei de atração dos semelhantes. Não nos entristeçamos nem os seguremos. É preciso que se vão. E recebamos os novos amigos e sua contribuição. Cada encontro é um mistério insondável, de resultados imprevisíveis. Deixemos que o “rio da vida” corra. É claro que estamos em estado de oração, cada vez mais conscientes de nós mesmos, sem perder a visão da meta: um olho no presente e outro na eternidade, mas confiantes na lei divina que assegura a cada grau o suprimento exato.

Essa gradativa cristificação do ser vai alterando nossa relação com o destino passado. À medida que conscientizamos e superamos níveis inferiores de consciência, eles deixam de agir sobre nós como limitações Cármicas. Há uma gradual libertação e um conquistar de luz, porque somos como um parêntesis na eternidade, deslocando-nos para frente e acima, guardando uma individualidade, um modo próprio de ser.

Mas se, inversamente, deixamo-nos arrastar e escravizar pela “velha criatura com seus vícios”, as reações da Lei serão muito mais severas, como ensina a parábola do “Credor incompassivo” (Mt 18:23-34).

Fixemos o brocardo: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”.

Finalmente, vamos abordar o caso das perseguições externas. Distingamos as duas razões por que um Iluminado é perseguido pela sociedade.

O nível de ser, o grau de consciência de cada indivíduo, mostra, em menor ou maior grau, suas tendências viciosas e nobres. O Divino, em cada pessoa, sempre invoca um desejo de aprimoramento, ao passo que a natureza inferior, para justificar-se, reage violentamente contra qualquer coisa que ameaça os velhos hábitos. A simples presença de um indivíduo justo, bom, iluminado, brilhante, assume o caráter de uma ofensa. É um contraste entre o que sabemos ser e o que desejamos ser. Reagimos porque desejamos. É como se a presença da pessoa nos lembrasse: “Se você não é, ainda, a culpa é sua”. É claro que não há palavras, senão uma “conversa interior”, a que podemos denominar inveja, “dor de cotovelo” etc. É uma defesa psicológica, por falta de compreensão. É a personalidade que gostaria de ser destacada, de ser bem vista, prestigiada. Uma reação curiosa: anseio de aprimoramento do Divino que a personalidade desvirtua com uma reação de inveja, de agressão, para justificar-se. Então, que faz a persona? Procura um defeito, “arranja” um ponto fraco na outra pessoa e procura diminuí-la. Para que? Para que ela não seja maior que ela. Os pequenos procuram sempre pisar nos grandes para terem a ilusão de que são maiores que eles. Entre os “civilizados” essa reação assume caráter mais sofisticado, mas igualmente violento e egoísta.

Há também a reação positiva que um ser elevado suscita: sentimos o desejo e fazemos o esforço de também sermos elevados, à nossa maneira.

A segunda razão por que um iluminado é perseguido, é esta:

a) Porque abala os fatores “massa” e “tradição” em que se apoia a sociedade.

Essa reação surge em maior grau nos meios religiosos, filosóficos e científicos. É inevitável que, no curso da evolução e dentro do Esquema Divino, de vez em quando surjam luminares para provocar mais um grande avanço. Aparece uma mentalidade brilhante e original, uma “exceção à regra”, um “metido” que se atreve a por em dúvidas os conceitos estabelecidos e fica procurando novidades para dar “panca de gênio”.

Ora, o ser humano comum, comodamente ilhado em sua personalidade, vibrando apenas na esfera de sua percepção, sente-se seguro nos condicionamentos, nos costumes ancestrais. Ao mesmo tempo, como uma criança que se amedronta quando não vê conhecidos, nos sentimos seguros em pertencer à nossa massa social. Os fatores tradição e massa nos dão segurança, porque somos dependentes, porque estamos ligados, subconscientemente, por cordões umbilicais, a esses poderosos fatores.

Por isso, quando um indivíduo liberto mostra não necessitar desses fatores e “começa a inventar moda”, provoca um terremoto em nossa estrutura. É um revolucionário! Todos se voltam contra ele, exceto uma elite menor (elite real) que não ousava externar seus pontos de vista, mas que admira um autêntico líder. Não foi o que sucedeu a todos os grandes inovadores? Muitas vezes as grandes ideias nasceram do sangue desses mártires da evolução, destemidos seres que tiveram a coragem de cumprir desígnios superiores para assegurar à evolução humana a rota prevista. A missão tinha de ser realizada. Agindo pelo Divino permanente, mesmo à custa da personalidade transitória, tais seres constituem (talvez uma centena apenas que renasce de tempos em tempos, segundo a necessidade) as molas da evolução humana.

Todas as coisas deste mundo se sucedem umas às outras, como as ondas do oceano que se desfazem na praia. Nascem, crescem, cumprem seu papel e depois começam a cristalizar-se, porque se conservam e não se renovam. Aí se tornam ultrapassadas. Ficam anacrônicas. Então surgem esses grandes seres para cumprir a demolição do velho e lançar as bases da edificação do novo.

Eles constituem o “Governo Oculto do Mundo”. Quando pensamos neles, nossa alma se reabastece na esperança; nossa fé em Deus se reafirma, e dizemos: “BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO PERSEGUIDOS POR CAUSA DA JUSTIÇA!”.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Sétima Bem-Aventurança: “Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”

A Sétima Bem-Aventurança

“Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” – Mt 5:8.

 

A palavra “pacificadores” tem o sentido de ‘FAZEDORES DE PAZ’.

A tradução: “pacíficos”, em vez de “pacificadores”, que consta de muitas versões portuguesas não corresponde ao sentido do original grego eirênopoioi e tampouco ao latim “pacifici”. Ser pacífico – conforme essas falhas versões induzem a pensar, seria um estado passivo de paz. Mas o significado original indica um processo ATIVO e dinâmico de “exercer a paz”, de manifestar a paz, de “estabelecer a paz”.

Todavia, essa paz dinâmica ativa e INTERNA, consoante o princípio esotérico: “Tudo vai de dentro para fora”. Dai que o Cristo ensine a irmos da causa para o efeito. Ninguém pode dar o que não tem: só comunica paz aquele que a estabeleceu primeiramente dentro de si. O inverso é verdadeiro: todo conflito exterior nasce dos conflitos interiores: “A boca fala do que está cheio o coração”. Sejam os conflitos individuais, sejam os familiares, os regionais, os nacionais como os mundiais, todos eles são filhos de conflitos internos não pacificados. A paz efetiva é assinada no Tribunal da Consciência. Os acordos externos, assinados pela personalidade falsa, são instáveis como ela. São meros armistícios (repouso de armas), tréguas maiores ou menores entre duas guerras.

É comum interpretarem exotericamente esta bem-aventurança, citando-a para exaltar os que se esforçam por estabelecer a paz e concórdia nas relações individuais, na família, no trabalho, numa pendência jurídica e até estender sua influência à Nação e ao Mundo. Nesse pensamento é que se instituiu o Prêmio Nobel da Paz.

Não se pode negar o mérito de alguém procurar conciliar interesses e dissolver desavenças, num sentido externo.

Mas a prática da vida nos tem demonstrado o quão difícil e delicada é essa tarefa. Quase sempre a interferência de terceiros piora as coisas em vez de melhorá-las. Além disso, é humano que o conselheiro se deixe influenciar por seus próprios pontos de vista, levando mais falhas a questão. Melhor seria que, chamados a ajudar, pudéssemos, SEM OPINAR, convencer as partes a sinceramente buscarem um novo ponto de vista. Isso é melhor que convencê-las a um acordo, às vezes com alguma coação; aí a pendência será apenas remendada na superfície; não houve paz; as partes ficaram insatisfeitas e não se perdoarão. Ora, o que vale é o íntimo!

A nosso ver, a ideal atuação do pacificador nessas questões externas é a da ORAÇÃO verdadeira. Se o “conselheiro” tem paz interna poderá aquietar-se, não permitindo que suas próprias opiniões interfiram, não importa o que suceda e malgrado as aparências do caso. Ele pede às partes que se acalmem e orem sinceramente por solução com ele. Essa é a norma: ORAR POR E COM ELAS, para que se estabeleça a regra de Cristo: “Se dois ou três se reunirem EM MEU NOME, ali estarei NELES”. O “pacificador” ergue, então, um silencioso pensamento ao PAI, pedindo-lhe sabedoria às partes. Permanecem alguns minutos no anseio e expectativa da luz, sem permitir que os canais internos fiquem “entupidos” com teimosias, opiniões ou com “ordens a Deus”. Então, o que melhor atenda às partes, manifestar-se-á. Em tal caso, essa pacificação tornar-se-á ATIVA.

Devemos adquirir experiência do poder da oração e da conscientização da Divina Presença. Em muitas situações difíceis, entre discussões desagradáveis, em meio a desarmonias, quase sempre se dissolvem as tensões e se estabelece um clima de concórdia, sem que se proclame qualquer solução nem se pronuncie qualquer opinião. O importante, indispensável é que o “pacificador” seja-o INTERNAMENTE, em boa medida.

Uma boa ajuda que podemos prestar a muitas pessoas carentes de paz e de equilíbrio, que recorrem à nossa oração é mostrar que a única fonte de luz e de paz é o CRISTO INTERNO. Qualquer pessoa pode ter acesso a essa graça, se buscá-la sinceramente, dentro de si. No entanto, até que a pessoa se equilibre, é mister atendê-la e mostrar como, com sua indispensável colaboração, a “coisa funciona”. Depois elas farão isso sozinhas e, com a devida orientação e assistência podem chegar a serem também outras PACIFICADORAS a serviço do Alto.

Infelizmente, a maioria abandona a prática quando se encontra melhor ou vê solucionadas as pendências.

Paciência. Não compreenderam ainda a necessidade de uma pacificação permanente, mediante a regeneração do caráter.

Voltemos à consideração da PAZ interna, referida pelos místicos como “o melhor passaporte para Deus”.

Quem nô-la pode dar? A personalidade? Jamais!

A personalidade é incoerente e egoísta, geradora de conflitos e divisões. Só o Cristo nô-la pode dar. É uma verdadeira GRAÇA. Num momento grave, em vésperas de sua crucifixão, Ele declarou: “A minha paz vos dou: a minha paz vos deixo. Não vo-la dou como o dá o mundo. Portanto, não se inquiete o vosso coração nem se arreceie”. “Dou-vos a minha paz para que a minha alegria esteja em vós e seja perfeita a vossa alegria; e ninguém mais vos tire a vossa alegria”.

Consideremos seriamente essas palavras, embora não as possamos avaliar profundamente, enquanto não as vivermos. É uma “paz que ultrapassa todo o humano entendimento”.

No esoterismo as emoções são representadas pelas águas; e os pensamentos pelos ventos. Todos conhecemos inúmeros casos de pessoas que, num momento difícil, clamaram com toda a alma aos céus e foram assistidas “milagrosamente”. Em qualquer ocasião, como há dois mil anos, o Cristo interno pode erguer-se do fundo da barca de nossos corpos e, estendendo os poderosos braços, comandar: “Ondas, acalmai! Ventos, cessai!”. E, voltando-se, pode recriminar-nos como outrora: “homens de pouca fé!”.

Realmente, aquele que se habitua a buscar silenciosamente o Cristo, várias vezes ao dia, numa serena comunhão, alcança a imperturbável sensação de PAZ.

O Cristo adverte: “Pedis e não recebeis porque pedis mal”. A maioria ora apenas para pedir a satisfação de desejos egoístas. Vivem imersos nas atividades materiais, que constituem a motivação de sua vida. Só se lembram de Deus nos momentos difíceis e oram para livrar-se dos incômodos e provas, não percebendo que são advertências para corrigirem seu modo de viver.

Oremos corretamente. Pratiquemos a conscientização da Presença, acima de instabilidade emocional: relaxando-nos e acalmando-nos para que vibratoriamente nosso elevador nos conduza internamente a Ele. Então, o Cristo se nos manifestará de algum modo, como outrora, andando sobre as águas e dizendo: “Não temas! Sou Eu!”.

Tenhamos a coragem e confiança de também pedir-Lhe para andar sobre as ondas (sobrepor-nos ao humano, ultrapassar a mente concreta) sem vacilar como Pedro.

Até que essa PAZ estável se estabeleça em nós, aqui e agora, devemos tratar de ir conquistando uma paz relativa e crescente, por meio das práticas espirituais recomendadas na parte final do “Conceito Rosacruz do Cosmos”, além das indispensáveis e preciosas práticas devocionais: conscientização da Presença, orações etc. Não importa que durante muito tempo não tenhamos “sinal”. A semente enterrada deve sofrer um período de transformação e de preparação até que assome à superfície para alegrar-nos a visão. Mas durante todo o tempo ela exige nosso cuidado e colaboração. Assim a prece. A natureza divina, como a Terra, jamais deixa de fazer Sua parte. O Cristo nos ouve e age. Isso nos basta. Os “sinais” são muitas vezes prejudiciais porque excitam o Aspirante e prendem-no em curiosidade estéril e até na vaidade.

É preciso considerar igualmente outros fatores de PAZ, nos intervalos das práticas espirituais, todos os dias. Seja no trabalho, seja no lazer, numa roda de conversa, vigiemos para que essa PAZ continue presente em nosso íntimo e possa ajudar silenciosamente, onde estivermos. Isto exige “orai’ e vigiar”, ou seja, uma atitude CONSCIENTE, de observação de si, para não permitir a influência e contaminação de fatores negativos da má leitura, da má TV, do sensacionalismo, das piadas maliciosas, das rodas de crítica, cujas impressões nos invadem os sentidos e vão se acumulando em nosso subconsciente, quase sempre como impressões mal digeridas, mal conscientizadas, em quantidade e qualidade prejudiciais à psique humana. O tempo é um talento divino precioso em nossa evolução: não deve “ser morto” em atividades fúteis e negativas. É preciso aproveitar o tempo sobrante de modo mais legítimo. Higiene mental não é malgastar negativa e indolentemente as folgas, senão “fazer coisas que nos edifiquem”.

À medida que vamos conquistando a PAZ interna, sentimos impulso espontâneo de comunicá-la e, com isso, prestar um valioso SERVIÇO. Mas tenhamos cuidado em não proclamá-la. Estejamos alerta com a personalidade!

Não precisamos buscar oportunidades, porque o Cristo interno atrairá, automaticamente, as pessoas carentes.

Nessas ocasiões devemos deixar que a PAZ do Cristo em nós serene as pessoas. Nem precisamos dizer nada. Só devemos saber que não é a persona quem faz. Não devemos “nos esforçar”. O importante é estar vigilante para que não nos deixemos contaminar pelos aspectos negativos da questão exposta pela pessoa. Não nos devemos identificar com o “caso”. Até é melhor que ela não diga de que se trata. Apenas silenciar e orar conosco. Mas se tem necessidade de “desabafar”, não nos deixemos contaminar, por meio és de nossos “eus” negativos. Nem permitamos que os encontros de ajuda sejam meros desabafos. A pessoa deve colaborar para que haja uma solução.

Se agirmos firmemente dessa maneira, nossa ajuda começa a ser solicitada. Devemos concedê-la amorosa e desinteressadamente, sem permitir, no entanto, que ela nos prejudique as tarefas essenciais. E que nossa humilde alegria seja a de nos sabermos ser “canais conscientes do Cristo, a Quem devemos dirigir todo o mérito”.

A pessoa que se abre internamente à sua videira alcança a paz e esta lhe vem como influxo de GRAÇA, com irresistível tendência para jorrar, transbordando em amoroso SERVIR, não apenas aos parentes e amigos, mas a todos com que se põe em contato, inclusive os animaizinhos e plantas. Ai nos tornamos como o “menino do dedo verde”, de mão abençoada, cuja imposição tira uma dor de cabeça. Mas é preciso que toda nossa vida seja uma expressão de PAZ, pela qual conquistamos tudo e todos, ao contrário da violência, que gera violência e enfraquece uma defesa justa.

O filósofo americano, Emerson, disse certa vez a um homem que falava muito em paz (mas que não a possuía dentro de si): “Não posso ouvir o que dizes, porque aquilo que realmente és, troveja muito alto”. De fato, ninguém nos pode convencer com palavras. É indispensável que nosso viver seja um testemunho e aval do que dizemos. O exemplo é o mudo e convincente argumento.

Ainda mais: todo sentimento personalístico de vaidade, de atribuir o mérito à persona, tem o efeito de fechar os canais da graça interna.

A conquista gradativa da PAZ interna resulta de um vigilante, persistente e bem orientado esforço. Não é a personalidade quem vai conquistá-la. Ao contrário: impede-a. É mister dissolver as nuvens da personalidade para que o sol brilhe.

Embora sejamos aparentemente pequenos e débeis como David; sempre que nos defrontemos com um desafio materialmente maior (gigante Golias), se temos a pedra da realização interna e a arrojamos para dissolver a ilusão, prostraremos os embaraços e alcançaremos a vitória pela paz. Até chegarmos a esse ponto, de conquistar sem violência as injustiças e dissolvê-las, experimentaremos muitos malogros. Não têm importância: “O único fracasso é deixar de lutar”.

Desses embates, os mais árduos são os internos. Trava-se uma luta real entre as duas naturezas opostas do ser humano, tanto mais árdua quanto mais apercebidos estejamos de nossas tendências viciosas. Elas lutam para sobreviver, como se relata na obra ocultista “Baghavad-Gita”. Mas a vitória é alcançada sem violência, como já mostramos na terceira bem-aventurança. Essa batalha interna, pela regeneração do Ser e soberania de nosso Melquisedeque, é o tema constante de todas as religiões e filosofias, porque constitui a medula da evolução e o interesse maior do ser evoluinte. Entre os Maniqueus, o ensinamento principal é a lenda da guerra entre os filhos das trevas e os filhos da Luz. Entre os manuscritos essênios encontrados em 1947, há um que trata do mesmo assunto. No Velho Testamento há diversas passagens simbólicas, de lutas entre os filisteus (filhos das trevas) contra os filhos de Deus. No evangelho de João há o embate entre as trevas e a luz. Esses são alguns exemplos desse tema fundamental.

Encerraremos este passe com uma lição de Paulo, acerca de nosso modo de viver, na conquista gradativa e segura da PAZ:

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que seja verdadeiro; tudo o que seja honesto; tudo o que é justo; tudo o que é puro; tudo o que é amável; tudo o que é de boa fama; se há alguma virtude e se há algum louvor, seja isso o que ocupe os vossos pensamentos. O que também aprendestes e recebestes e ouvistes e vistes em mim (notem o valor do exemplo!) isso fazei, e o DEUS DE PAZ SERÁ CONVOSCO!” – (Fp. 4:8-9).

 

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Lema Rosacruz: “Uma Mente Pura, Um Coração Amoroso e um Corpo São”

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Sexta Bem-Aventurança: “Felizes os limpos de coração, porque eles verão Deus”

Sexta Bem-Aventurança

“Felizes os limpos de coração, porque eles verão Deus” (Mt 5:8).

Outra bem-aventurança omitida por Lucas, cujo método, predominantemente místico, constitui, por si, a limpeza de coração.

Vejamos, inicialmente, o sentido esotérico das palavras-chave desse passo: “puros”; “coração”; e “ver”.

PUROS – Não se trata meramente de pureza no sentido de castidade, de não contato sexual, como querem muitos. O sentido é mais amplo e abrange as manifestações todas do ser. A palavra “Katharós”, do original grego, tem sentido de “puro” por não ter mistura; “puro” porque é limpo ou isento de qualquer agregação.

A expressão “limpos de coração” (Katharoi tèi Kardíai) já aparece no Salmo 24:4. Ali surge a pergunta: “Quem subirá ao monte de YHVW e quem estará no lugar santo?”, ou seja: “Quem obterá a realização do encontro com o Divino interno, ultrapassando o véu da personalidade e permanecendo com Ele na ‘Sancto Sanctorum?”. A resposta diz: “Será aquele que é inocente (sem culpa, limpo) nas mãos (nos atos) e Limpo de Coração”; pureza mental e emocional para não desvirtuar os propósitos do Eu verdadeiro e superior. É o que se sobrepôs aos condicionamentos da personalidade egoísta e a converteu numa serva passiva e fiel do Espírito, tal como Kundry, a serviço dos cavaleiros do Graal, depois que Parsifal dissolveu a ilusão do castelo de Klingsor. Isto só acontecerá quando nos convertermos, de Amfortas em Parsifal, o puro.

CORAÇÃO – Tem o sentido que a psicologia moderna chama de “Mente subconsciente”. Comparando-se o ser humano a um “iceberg”, a Mente consciente é a parte menor, visível sobre as ondas, ao passo que o subconsciente constitui a parte maior, mergulhada no oceano – uns 80% de nossa atividade mental. O Mestre mostra o quão importante é a conscientização e limpeza desses “porões da personalidade”. Ele disse: “Assim como o homem pensa em seu coração, assim ele é”. Chamando a atenção para o mesmo ponto, escreveu Salomão: “Guarda com toda a diligência o teu coração, pois dele procedem às fontes da vida”.

As psicanálises buscam interpretar, nas ações humanas, as poderosas influências do subconsciente. Estão certos os psicólogos ao buscarem “reeducar o subconsciente humano”. No entanto, alcançariam maior êxito se conhecessem e aplicassem os conhecimentos esotéricos do “Sermão da Montanha”. Não basta a mera apreciação intelectual das falhas e o ajustamento da pessoa aos padrões sociais, que estão longe de ser um modelo de vida. Não é suficiente definir as causas subconscientes de nossos erros atuais e indicar soluções. Muito mais do que isso, é preciso VIVER, REALIZAR a “nova criatura em Cristo”; transformar as verdades intelectuais em CARÁTER; iluminar o subconsciente e convergir os hábitos todos na decidida e persistente regeneração do ser.

Sem essa reforma de base não terminarão as angústias, as insatisfações, as neuroses, as frustrações. E o melhor método de reforma é a prática da conscientização da Divina Presença interna, que deve dirigir o exercício retrospectivo noturno, para assegurar-lhe impessoalidade e eficácia.

VERÃO – Futuro do verbo grego “haráô”, que significa “ver”, não no sentido físico, pois, o Espírito é intangível e invisível. O sentido é interno, isto é: sentir; vivenciar, experimentar a Presença do Cristo interno e vislumbrá-lo entre os olhos de cada semelhante.

Não basta crer. Crer é um estágio inicial e insuficiente para liberar o indivíduo de suas limitações e contatá-lo com a divina Presença. Todos os iluminados atingiram essa meta. O testemunho deles é um aval para nosso empenho e persistência no mesmo sentido.

Moisés “viu” o Senhor na montanha – quer dizer, experimentou o influxo da Presença interna, quando se elevava vibracionalmente. Ele foi incumbido de libertar o “povo eleito”. Todos nós, também, quando chegarmos a esse contato, seremos incumbidos de redimir todos os pequenos “eus”, ou hábitos que ainda se encontram sob o jugo da personalidade (Faraó); libertar todos os medos; os apoios nos recursos exteriores; diluir todas as ilusões.

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Como Parsifal em sua primeira visita ao Castelo do Graal, o ser humano era primitivamente puro e inocente. Nada sabia e, por isso, não podia dirigir o Castelo de seu ser. A esse estado de consciência, no início da Época Atlante, a Bíblia chama de Éden ou Paraíso.

Era amorosamente dirigido, de fora, pelas Hierarquias, principalmente os Anjos. Depois foi induzido a transgredir as leis da natureza e comeu da simbólica “árvore do conhecimento, do bem e do mal”. Sob a ilusão da falsa luz luciférica, a consciência humana foi mergulhada em vibrações cada vez mais baixas, até que perdeu a visão primitiva dos mundos espirituais. Perdemos a visão global do Universo e ficamos limitados à grosseira faixa vibratória deste plano material, que passamos a considerar como a única realidade.

Isolados numa personalidade, desenvolvemos a noção falsa do “eu” separado com seu inerente egoísmo e egolatria. Conhecendo as consequências de nossos desvios como um MAL e os prazeres como um BEM, construímos uma cultura baseada nos “pares de opostos”. Estamos sofrendo essas condições e cultivando o discernimento entre “o joio e o trigo”. Essa capacidade de discernimento será o “grande prêmio” que levaremos em nossa libertação final deste período tenebroso. A formação do “eu” personalístico é relatada na Bíblia, pela construção da “Torre de Babel”: o homem tinha a pretensão de forjar os tijolos e edificar uma torre que chegasse ao céu, isto é, a insinuação de Lúcifer de nos igualarmos a Deus com os recursos meramente humanos. Para castigar-nos (castigar significa “tornar casto”, purificar), fez Deus que falássemos individualmente línguas diferentes: a língua do egoísmo que ergue muralhas entre o eu e o tu, entre o meu e o teu.

Essa é a condição ainda prevalecente na grande maioria da humanidade, em graus diversos. A personalidade se tornou ativa e assumiu o comando da ação. Na ilusão de um “eu” separado, julgamos não precisar de Deus, ignorando que somos sustentados nesse “trono” pela ação do Espírito a quem traímos. Assemelhamo-nos a um cego cercado de luz e cores por todos os lados (a ilha da psicologia). E como não vemos a luz nem a cor, negamo-las. O Cristo referiu a essa limitada relação do ser humano comum com o Universo, dizendo: “Tendes olhos e não vedes; tendes ouvidos e não ouvis”. Realmente assim é, embora Deus seja Onipresente, patente em tudo: “mais próximo de nós do que nossos pés e mãos; mais perto do que nossa respiração”. Não o percebemos em nós. Por isso mesmo não o vislumbramos nos demais, nem na Natureza. Ora, para percebê-lo em nós e nos outros, é preciso que tiremos o véu dos olhos, para ver “face a face”. É preciso que sejamos PUROS DE CORAÇÃO, isto é, que nos despojemos de todas as escórias acumuladas em nosso íntimo, através das idades, a fim de revelarmos o brilhante oculto no diamante bruto. Paulo acena a esse renascer, quando diz: “Desperta tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e o Cristo te alumiará”.

Nos primórdios do teatro grego, havia um relator a representar todos os personagens, num púlpito aberto, no meio do salão. Para facilitar a identificação de cada personagem, quando representava um deles, usava a máscara adequada, a entonação de voz indicada, o porte, os trejeitos próprios etc. Se era a rainha a falar, o intérprete punha a máscara da rainha, falava como rainha, assumia porte e atitude de rainha. Se era um vilão, punha a máscara do vilão, falava como vilão, assumia atitudes de vilão etc. E, dentre as máscaras diversas, havia uma espécie de “coringa”, que o relator podia usar para representar qualquer personagem numa dificuldade. Essa máscara era lisa (sem feições) e se chamava HIPÓCRITA.

Atualmente acontece o mesmo. A maioria entra no palco do mundo para representar seu papel e acaba se identificando tanto com ele que esquece sua origem e identidade própria, de Centelha Divina que é. Torna-se uma personalidade (persona significa “máscara”). Muitas vezes assumimos uma máscara especial: a do hipócrita. Etimologicamente, a palavra “hipócrita” quer dizer: “o que está oculto sob”, o que desvirtua os propósitos do Espírito.
Todos estão representando um papel, um estado de consciência, uns níveis evolutivos. Todos têm qualidades boas e más; hábitos nobres e inferiores; impulsos elevados e vis. A tudo isso a psicologia chama de “máscaras”. Cada indivíduo tem muitas máscaras ou “eus” e as usa segundo as circunstâncias e conveniências. Ignoramos ou fingimos ignorar que somos um SER divino, um “Cristo em formação”, que transita por essas aparências ou máscaras. Somos maus artistas porque nos identificamos com o papel; julgamos ser o papel. E cada vez que deixamos o palco (pela chamada morte) e voltamos aos bastidores, tiramos o “traje” e, livres de sua vibração rebaixada percebemos que somos o ARTISTA, bem distinto dos papéis. Infelizmente, quando renascemos e mergulhamos no corpo físico ainda embrutecido, de baixa vibração, esquecemos nossa identidade celestial, como bem exprime Fernando Pessoa, de alguém que pôs a máscara e ela se ajustou tão bem a face que grudou e não mais pode tirá-la.

É mais fácil nos desligarmos do “meu” do que do “eu”. O “meu” a gente vê, administra e, sem muita dificuldade pode renunciar a ele. Mais difícil é deixar o “eu”, renunciar à personalidade, porque nosso sentido humano é muito forte e tal despojamento se nos afigura um aniquilamento, por falta de conhecimento espiritual. Quando vivenciamos a verdade do Ser sabemos que não existem dois (o Espírito e a persona) senão Um – o Espírito atuando por dois polos, como vida (pura) e matéria (vida cristalizada); como Ser e não ser, como Consciência atuando numa personalidade. Religar-se pela renúncia ao humano é, simplesmente, submeter a persona ao Espírito; e mudar a polaridade da persona, tornando-a, de ativa que é atualmente, em passiva serva do Eu verdadeiro e Superior.

Não desanimemos, pensando que essa libertação é superior às nossas forças. Não é o humano quem vai realizá-la, senão o Divino em nós, como bem disse Cristo: “Não eu quem faz as obras, mas o Pai, que habita em mim, Ele é quem faz as obras”. “Eu, de mim mesmo (como humano) nada posso, mas tudo posso n’Aquele que me fortalece”.

Toda grande dificuldade pode e deve ser decomposta, subdividida em pequenas dificuldades, facilmente vencíveis. Essa cristificação do Ser deve basear-se, em primeiro lugar, na confiante e esclarecida ENTREGA ao Divino interno.

“A batalha não é nossa” (do interprete), mas de Deus (o Diretor da peça). Só Ele pode pôr fim à trágica comédia humana, quando não mais prescindirmos dos aplausos do mundo. Em segundo lugar, a espiritualização se realiza através do Corpo Vital, nosso veículo de hábitos, por meio da repetição sistemática de meios adequados (os exercícios diários de retrospecção noturna, a concentração e meditação matinais, os exercícios de conscientização da Divina Presença em nós, o estudo constante das verdades espirituais, as preces, as músicas elevadas etc.).

Devemos aprender a humilhar-nos, a assumir nossa real pequenez humana, MENDIGANDO o Espírito, despojando-nos do sentido de posse e do senso personalístico, até compreendermos e aceitarmos que “Eu e o Pai somos UM” e não dois. Purifiquemo-nos para nos elevarmos vibratoriamente e atingir verdades mais profundas. Se realizamos as “bem-aventuranças”, o Divino, em nós, seguramente faz o resto. O Cristo interno está sempre à porta de nossa consciência e bate. Ele respeita nosso livre arbítrio. A relutância é nossa e não d’Ele. Segundo seja a colaboração, será o resultado. Como a maioria não faz um décimo do que poderia fazer, a realização se protela para outras vidas. Nem os mais esforçados se empenham como deveriam. É pena que negligenciemos tão raras oportunidades!

Todavia, o que fizermos será contado e conservado, para renascermos em melhores condições e reencetarmos a cristificação iniciada.

Em “Parsifal”, Amfortas sofre porque não soube confiar em Deus; porque não soube manter a mansidão da não resistência; porque usou a lança do poder espiritual para vencer uma ilusão. Lembremos que Hércules (o homem realizado) não pôde exterminar a Hidra de Lerna enquanto não lhe atingiu a cabeça verdadeira: a personalidade egoísta. As outras inúmeras cabeças eram falsas, eram as manifestações sem-conta das “máscaras”, das dissimulações.

É mister encarar honestamente nosso íntimo e repetidamente perguntar: “quem sou eu?” Das profundezas do Ser nos chegarão as respostas para libertar-nos da “caverna de Platão” e mostrar-nos as realidades que interpretamos atualmente de modo errado, porque são projeções, reflexos distorcidos, de nossa real natureza. Agora “vemos como por espelhos, em enigmas – mas depois veremos face a face” (I Cor 13).

A magia dos sentidos deve ser quebrada. Estamos como num “vestíbulo de espelhos”, cercados de imagens ilusórias, porque não sabemos ver objetivamente, senão que enxergamos as projeções de nosso íntimo condicionado. É uma hipnose de que nós devemos despertar. Se não dedicamos o devido interesse a essa libertação, continuaremos dormindo, como a “Branca de Neve” em seu caixão de Cristal (o corpo) sob o efeito anestésico da “maça” (materialismo) até que o Cristo interno nos possa despertar com seu contato.

Quando fomos expulsos do “Paraíso” ficou um Querubim guardando a entrada com uma espada flamígera. Agora, para regressarmos conscientemente ao Paraíso (em nosso íntimo), devemos levar a senha da PUREZA, como indica o Templo de Salomão, a cuja entrada de novo aparece o Querubim, não mais com a espada flamígera: agora segura uma FLOR, formoso símbolo da pureza. Tal é o requisito para nossa RE-ligação; para atingirmos conscientemente o “lugar secreto do Altíssimo”, subindo com a força criadora, pela coluna, ao MONTE de nossa cabeça, o “lugar das caveiras”, o “sancto sanctorum” de nosso tabernáculo corporal. Despertaremos a visão espiritual pela união vibratória dos centros espirituais da pineal e pituitária.

Essa iluminação era muito difícil antes de Cristo. Só depois que Ele purificou a Terra, liberando-a para mais alta vibração e permitiu a formação de veículos mais refinados (aos mais adiantados) é que a iniciação foi aberta a todos, indistintamente (rasgou-se o véu do Templo).

Saímos da escravidão da Lei (ouvistes o que foi dito aos antigos) e entramos no reino da Graça e do Amor (porém, eu vos digo…). A Lei se torna colaboradora e poder, que o Amor utilizará no SERVIÇO amoroso e altruísta.
***

Salmo do Bom Pastor
O Senhor é meu pastor: nada me faltará!
Deitar-me faz em verdes pastos;
guia-me mansamente a águas tranquilas;
refrigera a minha alma;
orienta-me pelas veredas da justiça,
por amor de Seu Nome.
Ainda que eu andasse
pelo vale da sombra da morte,
não temeria mal algum,
porque Tu estás comigo!
Tua vara e teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim,
na presença de meus inimigos;
unges a minha cabeça com óleo;
o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia
me seguirão todos os dias da minha vida:
e habitarei na casa do Senhor
por longos dias!

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Quinta Bem-Aventurança: “Felizes os misericordiosos, porque eles obterão misericórdia”

Quinta Bem-Aventurança

“Felizes os misericordiosos, porque eles obterão misericórdia” – Mt 5:7

Também esta bem-aventurança não foi incluída por Lucas, pela mesma razão que seu evangelho, como método iniciático e místico, já a subentende.

Aqui fala Cristo dos misericordiosos, isto é, daqueles que, segundo Paulo “se revestem das entranhas da misericórdia” – (Col 3:12). É o amar, pelo amar espontâneo; é o SERVIÇO altruísta em seu mais amplo sentido. Esta bem-aventurança constitui um sumário da Lei da Vida, que o Cristo apresentou no próprio Sermão do Monte (Mt 7:1-5).

A semelhança das anteriores bem-aventurança, o essencial desta, é a causa, a intenção, o íntimo. Importa que sejamos misericordiosos em PENSAMENTO, em SENTIMENTO, já que o pensar e o sentir precede o agir amoroso: uma Mente Pura e um Coração amoroso, unidos no propósito de SERVIR. Infelizmente, muitas vezes o coração pede misericórdia e compreensão, mas a Mente discorda e impõe pela fria e egoística argumentação, o “olho por olho e dente por dente”. O coração vai à frente, com o novo mandamento do Cristo: “amai os vossos inimigos”!

A Mente fica atrás, no Velho Testamento, na “lei de Talião”. É preciso conciliá-los, estabelecendo uma ponte que os ligue, no abismo que se criou. E essa ponte é a misericórdia, que compreende e aceita cada um, como ele é, fazendo o que pode para edificá-lo.

Cristo deixou bem claro a transição da Lei à Graça: “Ouvistes o que foi dito aos antigos” (Lei mosaica); porém, eu vos digo…” (Cristo). Se ficamos na Lei, recebemos o efeito doloroso da Lei; se vamos para o Amor, para a Graça, então, recebemos a Graça.Não há como fugir: “SÓ OBTÉM MISERICÓRDIA O QUE DÁ MISERICÓRDIA”.
As ações e as atitudes podem ser delicadas e jeitosas; mas, se estiverem ligadas a pensamentos maldosos, hipócritas, ditados pelo medo ou o desejo de ser “bem visto pelos homens”, são falsas e não abençoam ninguém: nem ao que dá, nem ao que recebe. O amar não são palavras, nem atitudes, nem gestos vazios. “Deus é Amor”. Portanto, o amor é divino, é nossa própria Essência. A personalidade não pode ser misericordiosa, senão como canal consciente do Cristo interno.

Sabemos que a personalidade é falha. Humanamente falando, quem é bom? Quem é perfeito? Como disse Cristo: “Por que me chamas bom? Bom é só um, a saber: o Pai celestial”. Ele queria significar justamente isso: só o divino expressa amor.

Estamos todos na escola do mundo, num processo evolutivo, num desdobramento de faculdades latentes e aprendizagem de seu justo uso. Ora, a espiritualização do ser é o atingimento gradativo do amor; a vivência cada vez mais autêntica desse amor, que é o Eu verdadeiro e superior.

Quem julga se julga, porque será fatalmente julgado segundo o julgamento que faz. Devemos manter, vigilantemente, nosso pensamento na verdade do ser: o VERDADEIRO ser é espiritual, é divino, é eterno, imagem e semelhança de Deus e, portanto, é AMOR. Já a personalidade,como explicamos, está presa na ignorância; ofuscada pela falsa luz; condicionada pela ilusão de separatividade – apesar de mantida pela Centelha que a criou: o Espírito interno. A personalidade constitui a Mente concreta, o Corpo de Desejos, o Corpo Físico (Denso e Vital). Ela está se debatendo entre os pares de opostos de bem e de mal, até que se situe no convicto SER que ele é em unidade com o Eu verdadeiro e superior, nem bem nem mal, senão simplesmente a expressão da justiça e do amor.
Todos, sem exceção, podemos e devemos dar e receber misericórdia, na mútua edificação. Para receber é preciso, primeiramente, dar; a causa gera o efeito. Se a misericórdia está na origem, na causa, no pensamento, se continuar nos sentimentos e terminar coerentemente, fielmente, nas palavras e ações, então, é autêntica; não foi desvirtuada pela personalidade. Tal como a recebeu do Espírito, assim a revelou.

Observem o próprio comportamento. Notem quantas vezes somos faltos de misericórdia, sobrecarregando, com a influência de nosso pensar, de nosso sentir, de nossos comentários desamorosos, um pobre semelhante curvado ao peso da tentação, da aflição. Ao contrário, se pelo menos, buscarmos ver o Cristo dentro dele – que o torna nosso irmão – já estaremos contribuindo para que nele se desperte a vontade espiritual de erguimento; ficaremos livres de atrair sobre nós a falta de misericórdia de outras pessoas.

Quando exercemos misericórdia autentica, profunda, nascida de um pensamento de compreensão e de bondade, por certo, colheremos os frutos de misericórdia que plantamos, segundo a lei infalível que diz: “Aquilo que o homem semear, isso mesmo colherá”. Não que exerçamos a misericórdia interesseira, premeditada; fazer PARA receber; PARA parecer bom. Não! Em tal caso ela já está viciada. A personalidade nada tem a reclamar, porque a misericórdia nasce do Espírito. O entregador não tem méritos. Deixemos de lado a motivação interesseira.

Exerçamos espontaneamente a misericórdia como uma fonte que jorra, como incontida manifestação do Divino interno. Que mérito tem o cano por conduzir a água? Foi o cano que a produziu? Deve receber gratidão por isso? Tomemos nítida consciência disto para não cairmos no auto-endeusamento e nem nos revoltarmos “quando o ingrato não soube nos retribuir”. Só a ilusão de separatividade nos pode presumir autores das manifestações do Espírito. À medida que nós vamos RE-ligando ao Divino interno, esse sentido humano vai desaparecendo. Sentimo-nos felizes por agir em unidade com Ele, como canais conscientes de serviço. Nessa atitude somos abençoados. Então, a água viva que conduzimos aos outros,molha-nos PRIMEIRAMENTE, purificando-nos para servirmos cada vez mais fielmente.

Enquanto estivermos agindo como se fôssemos uma persona à parte e separada do Espírito, expressaremos, inevitavelmente, os vícios a ela inerentes.Estaremos de olho nos frutos da colheita, reclamando sempre o que não nos pertence. Mas quando começamos a nos situar como Seres espirituais em evolução, compreendemos o que disse Cristo: “Quando tiverdes feito tudo o que devíeis fazer, dizei: somos servos inúteis, cumprimos apenas nossa obrigação e nenhuma recompensa merecemos por isso”. De fato, estamos dinamizando as faculdades potenciais do Espírito.Disso depende nossa evolução. Assim, quando expressamos misericórdia, estamos dinamizando nosso Amor, para alcançarmos a vivência e a realização do Amor – o Amor que devemos ser como Deus é. Logo, o Amor é a própria recompensa.

Aquele que está buscando compreender as Leis divinas e agir em harmonia com elas, tem responsabilidade maior que as pessoas comuns, que ainda vivem na ignorância delas, sofrendo-lhes as reações. Se nossa personalidade, por seus “eus” viciosos, vê um erro ou nota uma falha em alguém, que isto nos sirva de alerta: é um chamado do Cristo interno, apelando para nossa misericórdia e dizendo mudamente em nós: “aquele que estiver isento de falha que atire a primeira pedra”. Se não exercemos a misericórdia quando ela se faz necessária, quando vamos pô-la em ação? Com nossos amigos e entes queridos? Que mérito há em tolerar, em compreender e aceitar os que agem da mesma forma conosco? “.

Cristo não veio trazer normas de conduta. Sua mensagem é de AJUSTAMENTO ao Divino interno, pelo caminho das BEM-AVENTURANÇAS. Nesta sequência maravilhosa, vemos que não é possível sermos MISERICORDIOSOS se, PRIMEIRAMENTE, não formos MENDIGOS DE ESPÍRITO; FAMINTOS E SEDENTOS DE DEUS; MANSOS, etc. As bem-aventurança constitui uma escada de realização e um degrau pressupõe, necessariamente, o outro. Um se completa com o outro. Não é possível sermos misericordiosos sem que Deus se expresse em e pela personalidade. Deus, na medida em que se expressa COMO ou SENDO nós, é que nos torna bons. E se somos realmente bons, não podemos evitar expressarmo-nos em bem.Relembremos a ética do DAR: se Deus age no que dá e no que recebe, sua unidade de amor se refrata na Trindade da ação; um só Deus é o que dá e oque recebe.

Todos teremos algo para dar, porque, como seres espirituais possuímos uma riqueza conquistada pela evolução.Basta expressá-lo, trazê-lo a atividade.Os talentos de Deus abrangem tudo, não apenas os bens materiais, não só o prestígio, a fama, a inteligência como, principalmente, o AMOR, com seu corolário de bênçãos. A personalidade se restringe às coisas de seu imediato interesse; enquanto não se sente um CANAL desvirtua fatalmente as coisas, com seu egoísmo. Mas quando Deus dá em nós, também recebe através da personalidade tudo o que pode torná-la um meio mais eficaz do Espírito; tal é a razão do ser humano na Terra; tal o sentido de fraternidade.

É uma benção ser um canal divino. No mito musicado por Wagner (A “Tetralogia”), as Valquírias, filhas da verdade, iam buscar com seus corcéis brancos, os heróis que haviam sustentado até o fim o “bom combate da vida”, no propósito de auto-superação constante. Era desonra morrer na cama, isto é, desistir ou fugir desse objetivo essencial. Esses heróis eram levados ao Valhala, a terra da BEM-AVENTURANÇA, onde eram alimentados com a carne do javali SCRIMNER (símbolo da Sabedoria). A cada naco que tiravam do javali, nascia imediatamente outro no lugar, de sorte que ele se mantinha sempre inteiro.

Assim é a misericórdia. Ao expressá-la, em seus inumeráveis matizes, jamais ficamos diminuídos do que saiu. Os dons espirituais se alimentam de si mesmos. Se dermos corretamente, recebemos os juros de uma consciência aumentada. Aqui estamos para crescermos (animicamente). Cada vez que o Espírito desce ao renascimento, deve voltar com uma consciência maior, através da qual possa expressar mais dons divinos. Em espiral menor, cada vez que o Espírito desce à personalidade (em cada dia, em cada ato), é para subir a um nível de consciência um pouco mais alto. Como um carro que aproveita a descida para tomar impulso e alcançar um pico mais alto, assim o Espírito nas atividades cíclicas de inspirar e expirar; de plantar e colher. Ora, não é possível que o Espírito se manifeste sem que, naturalmente, SIRVA, a si mesmo e aos outros, na edificação evolutiva. A vida é um SERVIR, uma expressão de MISERICÓRDIA, quando o Espírito, que é Amor, Se exprime puramente.
Fixemos, pois, este ponto: esta bem-aventurança (como as demais) abrange a totalidade de nosso ser, como ESPÍRITO e como PERSONA, desde que haja a unidade e coerência entre esses dois polos do Espirito encarnado. Como Espíritos, somos necessariamente bons; sendo bons, somos decorrentemente misericordiosos. Como diz São João evangelista: “Quem vive em amor vive em Deus e Deus nele; quem ama Deus, ama também o seu irmão”. E nisto não há mérito; é simplesmente e naturalmente, ser o que somos: Espíritos.

Ora, o que se faz com amor leva o caráter de gratuidade atendendo ao princípio espiritual: “Dai de graça o que de graça recebestes”. Este princípio identifica a verdadeira escola e o verdadeiro instrutor. Não nos referimos à profissão como um médico ou uma enfermeira, podem exercer a sua profissão com ou sem amor. Mas é o amor que valoriza o seu trabalho.Melhor ainda; é o amor que justifica uma atividade qualquer. E toda profissão deve reservar tempo e energia ao SERVIR gratuito, misericordioso que constitui o DÍZIMO, depositado no Banco Divino, a nosso crédito e da humanidade.

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