Pergunta: A minha dúvida basicamente é como acontece estas evoluções no tempo e no espaço? Como era bem no comecinho ser possível a pessoa decidir “evoluir ou se atrasar” se não era imperativo o elemento vontade?
Resposta: Fomos criados com o livre arbítrio desde o início. Ou seja: desde o início temos a prerrogativa de querer ou não querer. E isso é respeitado por todos os seres (e deveria ser também por nós!). É esse mesmo direito que resulta em querer ou não evoluir. O fato de, no comecinho – Período de Saturno –, estarmos em um estado de consciência conhecida como transe profundo, não nos impede de termos o livre arbítrio, pois, como Espíritos Virginais, estamos sempre conscientes! Todos nós, como Espíritos Virginais, desde o Período de Saturno quando éramos guiados pelos Senhores da Mente, já havia seres mais evoluídos que a Humanidade comum hoje que são os Irmãos Maiores e os seres de outros Períodos como: Júpiter, Vênus e Vulcano.
Paciência – um Agente Terapêutico
Em nosso atual mundo doente de tensão, onde a velocidade, o barulho e as diversas pressões são aceitos como a norma quase por todos, a paciência tornou-se mais que uma virtude. Agora, mais do que nunca, é componente vital de saúde.
Muito pode fazer para controlar a tensão, que leva muitos aos sedativos. A tensão nervosa é comumente considerada uma forma de pressão emocional, manifestando-se por dores de cabeça, indigestão, insônia, dores na coluna vertebral, e vertigens e caracterizada por preocupação e irritabilidade. Amiúde torna irascíveis, briguentos, irrequietos, podendo mudar um ser jovial e amigável numa criatura irritada. Produz desarmonia familiar e mau relacionamento. É, por vezes, caracterizada por desabafos emotivos, e permitindo-se que continue pode chegar a provocar a doença. Esta condição parece afligir muitos, pelo menos ocasional e parcialmente tornando-se frequente demais, séria e crônica.
A tensão nervosa, obviamente, pode gerar-se de qualquer coisa desde problemas pessoais e profissionais a vibrações sonoras audíveis ou não.
Com frequência começa na antecipação de alguma calamidade futura – algo que não acontecerá ou provará ser menos grave do que imaginado. Tensões podem surgir de personalidades conflitantes ou do dilema de ter muito a fazer em pouco tempo. Podem originar-se de uma atitude em relação ao trabalho; em vez de uma atitude confiante, o estudante teme pelo exame; em vez de dedicar-se a tornar o lar feliz, a dona de casa revolta-se contra a prosaica rotina; em vez de aceitar a profissão como um desafio e um serviço para a comunidade, o ganha-pão da casa, só anseia pelas férias e os fins de semana.
A tensão, então, parece ser um estado negativo de ser, derivando de reações negativas a situações da vida. Se as reações emocionais se tornassem positivas, assim também se tornaria o estado de ser, por lógica. A paciência é um dos fatores que tem mais probabilidade de realizar isto.
A palavra “paciência” é definida em diversas maneiras. Duas delas são apropriadas para esta nossa discussão:
1º) O ato ou poder de aguardar calmamente por algo.
2º) Indulgência com as faltas dos outros; supostas preocupações; tolerar.
A palavra chave na primeira definição é “calmamente”. Denota serenidade e falta de agitação. Se algo que nos desgasta “for” nos acontecer, acontecerá tanto se esperamos por isto num estado mental excitado ou serenamente. Muito melhor, então, ficarmos calmos. Assim podemos pensar claramente e fazer o que couber; caso contrário, nossas ideias ficarão distorcidas e ficaremos sujeitos ao insucesso perante o problema, antes mesmo de enfrentá-lo. Se estivermos calmos – pacientes – poderemos evitar as tensões que nada fazem, senão intensificar o problema e tornar-nos incapazes fisicamente, mental e emocionalmente de enfrentá-lo.
Também, como dissemos, muitas de nossas tensões nascem simplesmente da antevisão expectativa de que algum mal venha a ocorrer. Preocupamo-nos por doenças em potencial, crises financeiras, dificuldades domésticas e desentendimentos em nossas relações, bem antes que aconteçam. Frequentemente, a própria preocupação nossa atrai o problema. Se pudermos nos concentrar no presente, fazendo de nosso melhor dia a dia e deixando calmamente o futuro acontecer, muitas destas “tensões das possibilidades” desapareceriam. Há trabalho suficiente no mundo para dar-nos, em especial aos aspirantes espirituais, “ao luxo” de preocupar-nos principalmente pelo que é absolutamente incerto que aconteça.
Muitas de nossas tensões originam-se do dar e receber com os demais. Quando suas maneiras, solicitações, ideias, atitudes e comportamento diferem do nosso aparecem diferenças que irritam nossos nervos. Isto é, se nos permitirmos que nos irritem; irritam se ficarmos impacientes.
A segunda definição de paciência indica uma disposição em aceitar os outros como são, tolerando suas idiossincrasias e erros. Implica isto em nossa disposição em trabalhar com eles pela causa comum, ouvir e levar em conta seus pontos de vista, e encará-los com o mesmo respeito e consideração que cremos nos sejam devidos. Particularmente para o estudante espiritual a segunda definição de paciência implica em aceitar a “divina essência interna” de cada ser que ressalta e transcende quaisquer aspectos que nos sejam de objeção.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 02/83 – Fraternidade Rosacruz)
O Irmão do Filho Pródigo
Quando escutamos a parábola do filho pródigo, alegramo-nos com o “final feliz”. O filho pródigo exercitou erradamente seu livre arbítrio e sofreu as consequências, como acontece com todos nós. Quando já tinha, porém, sofrido bastante, arrependeu-se, e voltando ao lar encontrou o perdão e uma acolhida bem mais amorosa da que esperava. E ficamos contentes, pois ele aprendeu suas lições e entrou em sua herança espiritual de direito, e sabemos que o mesmo nos espera.
Mas, e quanto ao irmão dele?
Pouco se diz dele; contudo está entre os indivíduos mais infelizes e sem sorte. Trabalhou duramente e obedeceu a lei, enquanto o irmão se esbaldava. Tomou conta da propriedade, fez seu dever escrupulosamente, e considerou-se digno de louvor por seu trabalho. Quando, pois, o filho pródigo voltou acolhido como um herói, o ressentimento do irmão não teve limites.
Não é isto natural? Todos nós, alguma vez, ressentimo-nos do fato de alguém, aparentemente não merecedor, ter recebido recompensas e favores que não julgamos adequados a seu comportamento. Certamente, dado o presente estado da natureza humana, o comportamento do irmão é suficientemente “natural”, mas longe de ser certo. Sua conduta funda-se na própria retidão e num coração que não perdoa, e com estes impedimentos não poderá nunca chegar a entender ou sentir a chegada triunfal ao lar do pródigo, sobre a qual ele tanto se ressentiu.
O irmão trabalhara e vivera de acordo com a lei do pai, não porque amava ou porque achava esta vida correta, mas porque pensava que teria vantagens. Seus atos basearam-se apenas sobre práticas objetivas: ser bom e ver que a propriedade rendesse lucros. Todo crédito a ele, então, seria devido ou assim ele pensava. Com este fim deixara de ser o filho do próprio pai até mais que o pródigo, tornando-se escravo da propriedade e de seu próprio conceito de retidão.
O amor filial e paternal que deveria ter brotado dentro dele, portanto, não tivera chance. Morrera – se é que já tinha vivido – e com a morte do amor o individuo está perdido. Assim, com a volta do pródigo, o irmão não viu mais lugar para ele. O coração do pai e, naturalmente, suficientemente grande para todas as criaturas, mas o irmão envolvido em seu sentimento egoísta não poderia dar-se conta disto.
O pródigo tornou-se o bem amado, e o irmão, apenas aos seus próprios olhos, tornou-se o repelido. Todo seu trabalho sem recompensa – como é todo trabalho quando feito por motivos errados. Se as motivações para seu trabalho tivessem sido altruístas, teria se alegrado com a volta em segurança do filho pródigo e teria compartilhado na alegria da família reunida. Como estavam, porém, as coisas, ele só sentiu ressentimento e raiva.
A volta do irmão para o pai poderá ser uma jornada mais sofrida e mais demorada do que aquela do pródigo. O pródigo voltou para casa em humildade e amor, ansioso para servir humildemente ao pai. Assim sendo, ganhou o lugar de honra. O irmão precisa, e o será, ser removido de sua posição de superioridade no autoconceito de retidão e começar então, a longa e tortuosa escalada na qual tanto a humildade quanto o amor terão de ser aprendidos com dor.
(Traduzido de Rays from the Rose Cross e publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz – 02/83 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Pergunta: Foi-nos mandado nos preparar para as futuras condições de nossas vidas, mas como tornar-nos privilegiados em saber como são estas condições? Poderei eu como Estudante Rosacruz qualificar-me a aprender tais coisas?
Resposta: Todos nós temos, ou deveríamos ter alguma orientação sobre tendências e situações do futuro de nossas vidas – pelo menos se formos compenetrados e nos dermos ao trabalho de séria autoanálise da retrospecção. Isto nada tem a ver com profecia ou tirar sorte. Intuição, introspecção e o uso apropriado da Astrologia espiritual são úteis sob este aspecto. A intuição e a introspecção podem ser desenvolvidas com a prática. Um conhecimento substancial de Astrologia ajuda-nos a determinar as possibilidades de desenvolvimento do caráter e a força e as fraquezas reveladas em nossos horóscopos. “Conheça a si mesmo” é um dos conselhos mais antigos e importantes dados aos aspirantes espirituais, e quanto mais nos chegamos a conhecer, tanto mais podemos discernir a direção geral que os eventos em nossas vidas são inclinados a tomar.
Isto não significa localizar os mínimos detalhes. Pouco nos beneficia ponderarmos se este ou aquele particular indivíduo irá fazer-nos tal ou qual coisa, ou se, indo nós a tal lugar num certo dia, possamos ter um acidente de carro. Podemos, contudo, beneficiar-nos conhecendo nossas inclinações emocionais ou temperamentais de forma a, se alguém nos hostilizar estarmos preparados a não perder o controle reagindo, isto sim, de maneira construtiva e bondosa. Ajuda-nos saber que certos aspectos, em efeito num determinado dia, tornam imperativo que observemos particularmente nossos hábitos em guiar, naquele dia, para que o que quer que possa acontecer na estrada nos encontre como motoristas seguros.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 03/83 – Fraternidade Rosacruz –SP)
As Chaves do Desenvolvimento Espiritual
Certa vez um estudante enviou uma missiva a Max Heindel criticando as cartas expedidas mensalmente aos membros de THE ROSICRUCIAN FELLOWSHIP, cujo teor, segundo suas palavras, “não passavam de um pequeno agradável sermão”.
Max Heindel, então, abordou o assunto na carta do mês subsequente. Presumindo não ser aquela uma opinião isolada, procurou esclarecer a questão, pois outros estudantes talvez alimentassem idêntico pensamento. Realçou a importância daqueles “pequenos agradáveis sermões” em cujas entrelinhas encontravam-se pérolas do conhecimento oculto. Tornou claro o objetivo daquelas mensagens, cujo valor moral mesclado com os ensinamentos esotéricos indicava um método de desenvolvimento espiritual.
Tal fato ocorreu há uns setenta anos, aproximadamente. Durante todos esses anos a Fraternidade cresceu e cresceu muito. Nossos ensinamentos foram divulgados em grande escala e nessa tarefa se utilizou dos modernos meios de comunicação. No entanto, ainda hoje encontramos estudantes incapazes de perceber o sentido das cartas e lições mensais, pois, as acham por demais repetitivas. Vivem clamando por novos conhecimentos.
Novos conhecimentos? Mas como? Sequer aplica na vida prática aquilo que aprenderam. Não se dão ao trabalho de garimpar as lições, de pesquisar, de meditar. Querem tudo pronto e acabado. Tem a pretensão de evoluir através de esquemas pré estabalecidos ou fórmulas rígidas, como se o desenvolvimento oculto fosse mera equação.
O conhecimento e a experiência são meios de realização espiritual. Mas apenas meios. O conhecimento por si só confere apenas erudição. É apenas verniz, casca. A experiência, por outro lado, sem o conhecimento que a explique, torna-se difícil de ser aproveitada. Embora ambos sejam importantes, se faltar-lhes o calor da devoção não ensejará oportunidade do aspirante realizar-se. A essa tríade cabe o papel de manter equilibrado o desenvolvimento espiritual.
Max Heindel divulgou os ensinamentos rosacruzes sob a orientação dos Irmãos Maiores. E o fez valendo-se de princípios didáticos, compatíveis com as tendências naturais do ser humano ocidental. Em seus livros, cartas e lições empregou uma linguagem simples e definições claras. Porém, determinadas “chaves” só podem ser encontradas mediante certo esforço.
Alguns afirmam, equivocadamente, não passar o Conceito Rosacruz do Cosmos de uma coletânea de temas sem uma interligação mais definida. Ledo engano. Ao observador mais atento e sensível os tópicos da obra básica formam um todo harmonioso e coerente. Aliás, estude-se toda a obra de Max Heindel com interesse superior, e verão todos os assuntos se completando maravilhosamente.
Além disso, esses conhecimentos proporcionam uma visão mais ampla da vida e do mundo, projetando uma nova luz sobre todos os fatos do cotidiano. Os Ensinamentos Rosacruzes descem às raízes do sofrimento humano, explicam a razão última de todas as coisas e indicam perspectivas do nosso futuro desenvolvimento. Enfatizam o aprimoramento do caráter como nosso trabalho mais importante, pois sem ele as “chaves” permanecem inacessíveis e qualquer lição parecerá um “pequeno e agradável sermão”.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 03/83 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Os Pecados Capitais do Mundo Moderno
No livro Ensinamentos de um Iniciado lemos que os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz já concluíram, há tempos atrás, de que o orgulho intelectual, a intolerância e a impaciência com as restrições seriam os pecados do ser humano moderno.
Quando mais criticamente observamos o mundo ao nosso redor e o nosso próprio estado interno, nos admiramos com o prognóstico acurado dos Irmãos Maiores. O intelecto se tornou a ferramenta mais forte para o alcance do poder material. Orgulho intelectual ou amor às próprias conclusões, e próprios ditames é a causa de muita miséria social e muita tristeza e mágoa individual. A intolerância e a impaciência com as restrições também advém do amor ao nosso próprio intelecto, que tomamos como palavra final de sabedoria, equidade e justiça.
A Mente é a nossa mais recente aquisição. Enquanto que o Pai toma conta de nosso Corpo Físico, o Filho de nosso Corpo Vital e o Espírito Santo de nosso Corpo de Desejos nenhum Poder Superior toma conta de nossa Mente. Deverá ser domada e desenvolvida pelo próprio ser humano, sem ajuda exterior.
O intelecto, produto da Mente esplendidamente, fornece condições ao desenvolvimento do egocentrismo, o supremo perigo para o aspirante. Fornece um sentido falso de superioridade que facilmente vira intolerância daquilo de que não aprovamos e que não nos assemelha e que consideramos “abaixo de nossa dignidade”. O intelecto é frio e calculista tentando armazenar mais e mais conhecimento. A Mente avalia as muitas possibilidades de lucro trazidas por um vasto conhecimento ao próprio Ego. Assim o intelecto passa a ser a ferramenta, meta e fonte de motivação do egoísmo poluindo a Mente que se torna egoísta procurando o saber para a glorificação do Ego. A segunda força motivadora, o CORAÇÃO é, por definição, altruísta. Sabemos sobejamente da necessidade de equilibrar essas duas formas de motivação humana, porém, devemos lembrar que um perfeito equilíbrio só será conseguido quando atingido o “status” espiritual de Adepto.
Os que desenvolveram mais o lado do coração não são tão ameaçados pelos “pecados da época” apontados pelos Irmãos Maiores, o orgulho intelectual, a intolerância e a impaciência com as restrições. Servem obediente e eficientemente, sem necessitarem de grandes explicações metafísicas, ou informações científicas super atualizadas; simplesmente seguindo as orientações do Cristo interno, não deixando a sua Mente interferir.
Os que se desenvolvem pelo lado intelectual fazem tudo para servir, para dar vazão ao seu conhecimento, de fato se esforçam ao máximo, porém, enquanto se “esforçam” para servir, ainda não houve progresso de seu lado “coração”. O conhecimento, não cabe dúvida, especialmente hoje, é de grande utilidade. Porém, verifiquemos o uso que as pessoas fazem de seu conhecimento. Pelo uso que a pessoa dá a seu conhecimento que determina se ele está seguindo linhas de desenvolvimento material ou espiritual. Pelo nosso ritual devocional sabemos que a meta do desenvolvimento mental deverá ser a Sabedoria, isso é conhecimento temperado com amor e mesmo o conhecimento oculto de avançada ordem não é Sabedoria, até ser usado em serviço humanitário e num contexto de relacionamento fraternal.
“O conhecimento, a prudência, a discrição e a discriminação são produtos da Mente”. Pois, elas mesmas são armas do mal, e o Cristo nos ensinou a orar ao Pai Nosso para que sejamos guardados. Somente quando essas faculdades nascidas da Mente são temperadas pelo amor é que obteremos a qualidade composta que chamamos de Sabedoria.
Aqui vemos quão importante é desenvolver o amor a Deus e ao semelhante, na mesma proporção que aumentamos o nosso conhecimento. Então, o orgulho intelectual, a intolerância e a impaciência com as restrições não constituirão mais um problema, já que a dádiva espontânea de si mesmo sem reservas, sem amor ao seu pequeno eu, em completa obediência ao poder Superior que nos dirige, destroem o egoísmo. Alguma vez fomos culpados de não aceitar pontos de vista alternativos expressos e que achamos contrários à nossa opinião? Ficamos impacientes com as opiniões manifestadas, estimulados por aquele egoísmo intelectual que não permite questionamento de nossa absoluta competência? Impomos ao nosso grupo que façam as coisas só de nossa maneira?
Usando o nosso lado devocional interno, que está em ligação com Deus através do Cristo Interno, não seremos vencidos pelos perigos apontados pelos Irmãos Maiores e submeteremos a atividade de nossos intelectos ao Ego Superior que a usará no serviço altruísta. A humildade intelectual representará a nossa vitória maior e seremos uma ajuda e não um empecilho à raça humana, exemplos vivos de tolerância que os nossos semelhantes poderão seguir proveitosamente em sua evolução.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 09/82 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Ensino do Mestre
O Mestre, pela boca da solidão, fala muitas vezes à alma cansada da fatuidade do mundo e ansiosa por nova vida. E diz-lhe: “Não escutes as vozes enganosas que vem de fora. Vem para mim no retiro do teu coração e terás o verdadeiro conhecimento. Não penses deste modo: se eu tivesse num ermo, num vale profundo, numa paragem solitária, poderia realmente encontrar-me, poderia conhecer minha verdadeira vocação”.
“Não é preciso que te afaste para me encontrar. Também habito na tua consciência tranquila, na tua mente sossegada, na tua alma desprendida, nos teus sentidos sabiamente dominados. Eu, a perfeita solidão. Se me buscas, podes encontrar-me em tua casa, no teu lugar de trabalho, entre o ruído da cidade, entre a confusão dos indivíduos. E, então, quando recolhida em ti, atingires tua íntima cela ouvirá a Voz Divina. Saberás que teu primeiro dever é transformar-te e esquecer o passado, bom ou mau, deleitoso ou amargurado, seus triunfos e fracassos”.
A alma, ao receber as sugestões destes belos pensamentos, acende-se em entusiasmo. Faz promessas fáceis e precipitadas. A doçura desses momentos já lhe parece o fim do Caminho, quando não é mais que mínima prenda da promessa divina. No seu encanto, clama, suspira, geme e canta. E diz: “Conduze-me, Senhor, por este brilhante caminho de luz. Abre meus olhos para que veja a Tua beleza. Não te ocultes jamais da minha vista. Transforma a minha vida para que me concentre na única vida, a Tua, Senhor. Que se queime este corpo antigo, para vestir um traje de glória. Tenho trocado tantas vezes de bandeira! Quero, agora, esta nova bandeira, a que é feita de castidade, de renúncias e de sacrifícios. Senhor, por Ti desejaria sofrer todas as provas, todas as dores, padecer mil mortes, passar por mil suplícios, conhecer o martírio por que passaram os Teus servidores mais fieis, só para ser digno do Teu amor! Que se acenda já a chama da minha alma e, quando estiver em flama, que abarque todo o meu ser. Senhor não me deixe agora. Não posso estar só e nem a minha vida é vida sem Ti. Não vês, Sumo Bem, que tenho fome e sede de Ti, cada vez mais ardentes? Já comecei a buscar-Te e não posso mais deter-me, como a flecha que foi arremessada. Fala Senhor. Que queres que eu faça? Que queres de mim? Dize-me, para cumprir somente a Tua vontade”.
Pobre alma! Quanto pede e quanto promete! Não sabe como são duros os espinhos e cortantes as pedras que há de encontrar no Caminho! O Divino Mestre, que a observa com suma ternura, cobre os olhos com as santas mãos, compadecidamente, ao ver, no porvir, todas as suas quedas. Quantas vezes terá que levantá-la; quantas vezes terão de curar-lhe as feridas e afastar de sua mente as nuvens de desencanto e do desespero! Então, o Mestre lhe fala: “Não te levantes, ainda, oh alma, em grandes voos. Não prometas maravilhas nem aspires aos altos cumes da santidade. Contenta-te em viver bem o teu dia e em santificar as pequenas obras diárias. Segue-Me com submissão e simplicidade. Modifica a tua vida sem que nada ou ninguém o note e mantém-te exatamente como antes ainda que teu íntimo esteja completamente transformado. Comece a procurar-Me por toda a parte, todo o dia e sempre. Que teus olhos Me vejam no rosto de todos os seres humanos e, como um véu, suspenso ante todas as coisas. Vê-Me no rico e no pobre, na criança e no ancião, no santo e no pecador, na flor e no céu, no dia e na noite, no trabalho que te desgosta e na festa que te alegra. Todas as coisas têm alguma formosura quando são miradas com olhos serenos, desapaixonados, vistas lá do fundo da solidão interior, da secreta morada. Depois, oh alma, quando a compaixão vibrar em ti e te faça doce e mansa, sossegada e discreta, compreensiva e prudente; quando a dor alheia arder em tua própria carne – então, Me verás. Une-te com a dor, une-te ao Amor, une-te ao saber e à ação – e Me encontrarás. Porém, mais uma vez te recomendo: enquanto esperas, simplifica a tua existência, dia a dia, hora a hora; torna-a cada vez mais suave e mais humilde. Nunca digas: ‘dai-me!’. Que a tua palavra de ordem seja sempre: ‘Tome!’. Compreendes meu filho?”.
A alma ficou serena e tranquila. Aos arranques do entusiasmo, sucederam, em seu coração, a serenidade e a paz profunda. Tendo atingido o umbral da solidão e ouvido a voz do Mestre, começa o seu Caminho. Reina o silêncio em volta. Esta é a hora eterna.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 08/82 – Fraternidade Rosacruz – SP)
A Importância da Oração
Seria importante que o ser humano, nas suas inúmeras atividades e ocupações, reservassem um lugar de destaque à oração, ao impulso interior que o anima a invocar a ajuda e o olhar luminoso de Deus. Um esforço sincero por caminharmos com retidão e confiança, por nos tornarmos melhores, pode considerar-se uma forma de oração – uma prática espiritual constante. No entanto, quando penetramos profundamente no conceito espiritual por detrás da oração e das palavras expressas, iluminamos o nosso ser de um significado mais pleno e mais vasto. A oração transporta o ser humano aos mais altos pináculos de harmonia divina; o consciencializa para a presença Divina que o habita, e torna-o capaz de responder profundamente a esse Amor que em nós vibra e nos dá vida. Torna-nos sensíveis à necessidade de “orar constantemente”, com um reconhecimento imenso pela luz com que a Sua Presença e proteção nos envolve.
Os Discípulos de Cristo sentiram também a necessidade desta vivência espiritual, e pediram-Lhe que lhes ensinassem a orar, ávidos por uma forma de expressão que manifestasse o seu sentir. O Pai Nosso, a Prece do Senhor a Deus, liga-nos à Obra do Espírito; o ser humano é invadido por uma corrente de poder Divino que o renova. Cada uma das sete partes em que se divide esta oração tem a sua função, e deverá um dia manifestar-se através do nosso ser. Quando a oração “é ditada por uma devoção pura e não egoísta, contendo em si ideais elevados, é muito mais sublime que a Concentração. A oração nunca pode ser fria; ela transporta o místico à Divindade, nas asas do Amor”.
A obra purificadora e regeneradora do Ego, começa quando o AMOR penetra o coração, e o ser se torna consciente do seu desejo de servir a presença interna de Deus, em si, em todos os seres humanos e em todas as coisas. O poder deste amor Divino nos traz arrependimento, e o nosso coração lança, então, os alicerces para uma vida purificada. A oração é o poder, a energia que afasta os obstáculos que se interpõem à espiritualização da vida.
O pecado e a desarmonia que existe nas nossas vidas, não é mais do que a cadeia de pensamentos e atos em que persistimos, e que nos afastam da harmônia e equilíbrio natural do Universo, obstruindo a presença e o amor de Deus nos nossos corações. Este flui livremente quando o invocamos numa prece sentida, pois encontramo-nos, então, libertos dos problemas não resolvidos, que constantemente dificultam a passagem desse amor purificador que se derrama sobre nós. A oração que emana de um espírito e de uma atitude de perfeito amor, atrai para si uma perfeita saúde física, mental e espiritual; vivemos segundo a maneira como oramos e vice-versa. Nem toda a oração surge do arrependimento que nos consciencializa do pecado e da vida desarmoniosa. Existe a prece que brota da alegria, da inspiração e do bem-estar que atrai e conserva a vida moldada no amor Divino. Neste construímos os templos da nossa alma, e encontramos o impulso que nos encaminha para a perfeição “à Sua semelhança”. O fogo do amor que tudo consome em si, a beleza e a Verdade inspiradas por Deus estão eternamente presentes na oração e fluem através dos nossos atos e das nossas realizações, engrandecendo e tornando presente e pleno o Seu Divino Plano no mundo.
(THE ROSICRUCIAN FELLOWSHIP – Departamento Cura – publicado na Revista “Serviço Rosacruz” – 06/82 – Fraternidade Rosacruz)
O Caminho para a Verdadeira Felicidade
Embora a maior parte da humanidade não pense assim, reiteramos sempre que o propósito da vida é a aquisição de experiências e não a busca da felicidade. O viver em função de algo geralmente circunscrito a posses materiais, status, sensações fugazes, indica com clareza qual o conceito humano de felicidade. Em vão o ser humano almeja ser feliz, desconhecendo a verdadeira e essencial natureza da felicidade. Balzac a define como “um misto de coragem e de trabalho”. Não é o objetivo atingido através da coragem e do trabalho, mas a condição interna realizada quando se labuta corajosamente em prol de uma causa nobre. É, antes de tudo, um estado de alma.
Ser feliz, segundo o pensamento espiritual, é atingir uma condição transcendental a tudo aquilo que se restringe a concepções puramente materiais, decorrentes de impressões captadas pelos nossos sentidos físicos. A felicidade situa-se no campo das conquistas do Espírito. É a consequência natural do aprimoramento interno, do contato com a eterna Fonte da Vida, o “Princípio do Amor Universal”.
Não podemos dissociar felicidade de amor. Nossa plenitude interna depende de nossa capacidade de amar. Esse sentimento, entretanto, na sua mais elevada expressão nada tem a ver com o amor “egoísta” manifesto no quotidiano das pessoas. Irrestrito e universal foi a grande verdade que o Cristo nos legou. A cristificação realiza-se por meio dele.
O amor assim compreendido manifesta-se de diversas formas, e uma delas é o “serviço amoroso e desinteressado” para com os demais. O servir desinteressadamente, o labor canalizado para fins altruístas, é a máxima expressão do ideal cristão. É a realização da verdadeira felicidade. O trabalho assim dirigido aumenta o fulgor da Divina Essência inerente a todas as pessoas, ao passo que a ação egoísta a ofusca. Ser altruísta é conservar-se fiel e alimentar-se da Divina Fonte do Amor.
Num mundo onde o utilitarismo prevalece como denominador comum das atividades humanas, agir com isenção de interesses é contrastar com o “status quo” vigente. É desajustar-se ante a sociedade dos “seres humanos práticos”.
Preceitos éticos são “adaptados” às exigências da sociedade competitiva, liberando e justificando aqueles que anseiam atingir seus objetivos por meio de manobras escusas. Muitos anestesiam a própria consciência para sobreviverem nessa comunidade de “feras”.
O ser humano verdadeiramente cristificado procura romper todas essas barreiras, agindo coerentemente com suas convicções. Talvez nem todos o compreendam, se bem que isso não o desestimule na prática do bem. Reconhece-se como um Espírito, parte integrante da Divindade, imunizado e ileso à toda crítica ferina. Sabe que estas distorções dos sentimentos humanos não podem atingir sua essência.
O ser humano cristificado crê firmemente no valor da virtude, e no poder que o coloca acima dos limitados conceitos humanos. Vivendo em sociedade, não compete. Coopera, discerne e cede quando seu íntimo consente. Conhece-se e trata de gradativamente aprimorar-se. Não procura evidenciar as falhas do próximo, mas salientam as qualidades deles para se fortalecerem. Vislumbra a harmonia na bondade, a perfeição no amor, a beleza na simplicidade. Sua humildade, longe de confundir-se com subserviência, é uma mescla de ternura, energia e justiça.
Pensa sempre no melhor. Almeja sempre o melhor. Procura tornar-se melhor. Dá, aos outros, sempre o melhor. Seu amor não encontra limites, espargindo-se em todas as direções e a todos os seres da Criação. Sabe perfeitamente que nem um só ser poderá ser excluído de seu amor.
A vida torna-se uma sublime e ardente oração quando alguém vive dessa maneira. Não há outro caminho para a verdadeira felicidade.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/82 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Eu sou o Caminho
Antes que o Cristo tenha se manifestado em Corpo Físico em nosso Planeta no corpo de Jesus de Nazaré, as grandes religiões como o Hinduísmo, Budismo, os cultos de mistérios Egípcios e Gregos já indicavam uma crescente influência e revelação ao mundo do Logos solar. O Velho Testamento também é profético do advento do Filho de Deus em forma humana. A última revelação divina para o ser humano está contida nos Evangelhos, contando o cumprimento de todas essas profecias.
Assim sendo, o aspirante moderno não precisa defender hoje essa ou aquela religião oriental pré-cristã. Ao máximo, pode tomar conhecimento, de forma comparada, a todo esse cabedal de sabedoria, em forma de uma recapitulação da sua própria herança espiritual. Pode então, avaliar melhor a sua situação evolutiva presente, e Max Heindel são dois expoentes dessa curta recapitulação.
Até certo ponto, na época pós-Atlante podia se dar, espiritualmente falando, um passo evolutivo para trás num esforço de restaurar uma condição prévia, em que a alma humana podia entrar de maneira negativa em contato com seres espirituais. Geofisicamente, podia orientar-se para o Oriente. Dirigia os seus “orisons” ou orações matutinas ao horizonte oriental, em que a Iuz aparecia primeiramente. O gesto era simbólico e literal. O gesto literal era baseado numa ilusão referente à revolução da Terra no seu próprio eixo, que dava e dá a impressão de que a fonte de luz (Espírito) vem do Oriente.
O aspirante nos dias de hoje, imita o movimento cósmico do Sol que também é ilusório em sua aparência de viajar do Leste para o Oeste, se tratando novamente da rotação axial da Terra. Porém, a identificação do aspirante com o movimento solar já significa progresso.
O Ser solar, Cristo, se encarnou no Planeta Terra em Nazaré, no corpo de Jesus e subsequentemente, no próprio corpo do Planeta Terra por meio do sangue precioso de Jesus. Iluminado pelo seu Cristo interno, o aspirante pode vislumbrar hoje o que ele será amanhã, enquanto que o ser humano pré-cristão fitava nostalgicamente uma condição que ele tinha, em sua infância evolutiva. O ser humano contemporâneo engatinha para o autodomínio e, gradualmente assume a sua real dimensão, saindo das alvoradas de sua inocência infantil. Ele enfrenta em plena consciência, as experiências do mundo material, na clareza ofuscante da luz do meio-dia, e procede para o Oeste acompanhando o pôr do Sol. O acompanha para a sua segunda morada; vida após a morte. As alvoradas da infância humana, o meio-dia de luz ofuscante de luta consciente, com a experiência material e o pôr do Sol, vida após a morte, eis as etapas da caminhada humana.
O peregrino, depois do Gólgota, aprecia o supremo valor da existência encarnada, que Cristo-Jesus glorificou abrindo Caminho. Houve um ponto na história da evolução humana, quando ficou proibido ao ser humano negar a existência de seu Corpo Físico, procurando se refugiar nos Mundos espirituais, para fugir da cruel luta da experiência material. Esse ponto foi atingido no Gólgota. Com a exceção de videntes involuntários anacrônicos, a atenção do ser humano devia se voltar para a caminhada na matéria. As Iniciações pré-cristã e os rituais de mistérios se tornaram obsoletos. Antes, quando esse sistema era usado normalmente, o Corpo Físico se tornava como morto, já que o invólucro etérico e os Corpos mais sutis acompanhavam o Ego, se separando do veículo físico, completamente.
Na nova Iniciação, o Corpo fica vivo, vital. A consciência pode ao mesmo tempo penetrar nos reinos mais elevados, e não perder o contato com a sua parte mineral, já que a forma e a função vital foram revitalizadas por Cristo enquanto andou na Terra como homem, Jesus.
A descida do Cristo solar se processou pelo mesmo modo do Ego encarnante, que desce pelos Mundos do Pensamento e de Desejos. Gravitou para o Mundo do Desejo e foi identificado como “Senhor da Luz” pelos sacerdotes de Zoroastro, os chamados Reis Magos, ao qual o Cristo era conhecido como Ahura Mazdao. Em sua descida para a Terra, Cristo foi percebido pelos Egípcios e nomeado Osíris. Quando entrou na Região Etérica Lunar, a cultura Hebraica percebeu o Cristo como a deidade lunar Jeová (que significa eu era, sou e serei), e que se apresentou à Moisés como EU SOU. Quando Cristo quase alcançou o Mundo Físico, os Gregos e os Hebreus tiveram a premonição do nascimento de um ser especial – Deus no homem. Finalmente, Cristo se encarnou em Jesus. O EU SOU de Abrão, se revestiu de carne. Com a Ressurreição, a humanidade recebeu um novo ímpeto evolutivo, não podendo voltar a uma condição de feliz inocência e negar o Mundo Físico em que ela deve ser ativa, nos moldes evolutivos a ela ensinados pelo Mestre. Não nega o mundo. O abraça. Progride na espiral evolutiva e cresce.
As religiões pré-cristãs ainda indicam que na liberação da roda da vida, o ser humano volta à mesma felicidade Edênica. Sai do Nirvana e volta para o Nirvana. Vidas e vidas de ilusão. Ironicamente, muitas igrejas convencionais Cristãs têm os seus altares voltados para o Leste. Porém, na realidade, o Tabernáculo do Deserto (descrito em grande detalhe no Velho Testamento) era profeticamente alinhado a um eixo cuja entrada era a Leste, e seu santuário mais recôndito era à OESTE. A ênfase direcional mostra a espiritualização e despojamento do ser humano pela encarnação, pelo trabalho e pelo serviço no Mundo material. E, dessa forma, o Filho oferecerá ao Pai, na sua volta aos reinos celestiais, o ouro espiritual do sofrimento, transmutado, às raras essências de suas experiências, e as pedras preciosas de suas lágrimas. Esse será o seu presente ao Pai: o seu próprio ser.
(Revista ‘Serviço Rosacruz – 07/82 – Fraternidade Rosacruz – SP)